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Fichamento do texto:

VICISSITUDES E PERSPECTIVAS DO DIREITO À EDUCAÇÃO NO BRASIL:


ABORDAGEM HISTÓRICA E SITUAÇÃO ATUAL
Demerval Salviani

ASSUNTO: Direito à educação como direito social, os conflitos entre o direito à


educação e o dever de educar na história da educação brasileira e por fim a persistência
do referido conflito na situação atual.

Educação: direito proclamado versus direito real

O direito à educação é parte de um conjunto chamado de direitos sociais, que


têm como inspiração o valor da igualdade entre as pessoas. No Brasil, esse direito foi
reconhecido, apenas, na Constituição Federal de 1988, uma vez que, antes disso, o
Estado não tinha a obrigação formal de garantir educação de qualidade a todos os
brasileiros e o ensino público era tratado como uma assistência social. No entanto, ainda
permanece a dissonância entre o que prega a legislação e o que, de fato, acontece na
prática. Esta é a questão principal da problemática que provoca nossa reflexão. É clara a
preocupação das diretrizes em evidenciar que seus objetivos educacionais estejam
pautados nos interesses sociais e na formação da cidadania. No entanto, o que
encontramos é um sistema escolar público deficitário, resultado de uma sociedade
absurdamente desigual, na qual muitos não têm garantido, sequer, seu direito à vida,
sobrevivendo em condições subumanas. Distancia-se cada vez mais o discurso oficial da
realidade, marcada por contradições vividas na escola pública que é, ao mesmo tempo,
coletiva (direito de todos) e seletiva (local em que o fracasso escolar passa de exceção à
regra) Precisamos de um intenso debate político-educacional que não somente exija que
as leis sejam cumpridas, mas que também consolide uma visão política em defesa da
escola, que propicie aprendizagem para todos e que considere a criança na sua dimensão
de cidadã de direitos O dever com a educação constitui responsabilidade comum da
união, do Distrito Federal e dos municípios. Deste modo, cabe ao Estado oferecer a
educação e escola pública, sendo a norma que a prescreve de eficácia plena e imediata
apenas a partir do ensino fundamental. Tornam-se necessárias algumas considerações
sobre a Legislação Educacional Brasileira, a fim de melhor situarmos a condição do
Ensino Fundamental no Brasil.

O conflito entre o direito à educação e o dever de educar na história do Brasil


Seguindo atribuições diretas do rei Dom João III, o governador-geral, Tomé de
Sousa, chegou ao Brasil em 1549 trazendo quatro padres jesuítas que deveriam propagar
a fé católica. Fundando colégios e missões pelo litoral e interior do Brasil, os jesuítas
passaram a não só tratar da conversão dos nativos, bem como a administrar as principais
instituições de ensino da época e auxiliar os mais importantes órgãos de administração e
controle da metrópole. Segunda metade do século XVIII, a presença dos jesuítas no
Brasil sofreu um duro golpe. Nessa época, o influente ministro Marquês de Pombal
decidiu que os jesuítas deveriam ser expulsos do Brasil por conta da grande autonomia
política e econômica que conseguiam com a catequese. A justificativa para tal ação
adveio da ocorrência das Guerras Guaraníticas, onde os padres das missões do sul
armaram os índios contra as autoridades portuguesas em uma sangrenta guerra.
Apesar desse episódio, a herança religiosa dos jesuítas ainda se encontra manifesta em
vários setores da nossa sociedade. Muitas escolas tradicionais do país, bem como várias
instituições de ensino superior espalhadas nos mais diversos pontos do território
brasileiro, ainda são administradas por setores dirigentes da Igreja Católica. Somente no
século XIX, foi que as escolas laicas passaram a ganhar maior espaço no cenário
educacional brasileiro.

Persistência do conflito na situação atual


O Brasil chegou ao final do século XX sem conseguir a universalização do ensino
fundamental com a erradicação do analfabetismo. Pare resolver este problema, a
Constituição de 1988 prometeu uma transição nas três instancias União, estado e
municípios, que deveriam enviar 50% de seu orçamento para a educação, o que não foi
feito. O governo criou então a partir daí vários programas, o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) que
vigorou de 1997 a 2006, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) janeiro de 2007 até
2020, e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Vê-se, pois, que o direito à
educação segue sendo proclamado, mas o dever de garantir esse direito continua sendo
protelado.
Conclusão: o Sistema Nacional de Educação como garantia do direito à educação
A educação pública de qualidade é um direito fundamental pautado na
Constituição Federal de República de 1988 e, portanto, faz parte do patrimônio jurídico
da cada cidadão brasileiro, além de, e principalmente, ser um dever objetivo do Estado.
É obrigação de o Estado garantir esse direito, inclusive quando o assunto é qualidade.
Portanto, a qualidade da Educação Básica é um direito que requer uma ação positiva do
Estado. Não basta garantir o direito à educação, se fazem necessárias ações paralelas
que permitam à sociedade as condições de chegar até a escola e manter-se nela, bem
como a asseguração de sua qualidade pelo Estado. Não se pode enveredar por disputas
localistas, se afastando do objetivo principal que é o da educação de qualidade para
todos. A qualidade da educação ainda que compreendida como um conceito dinâmico
deve ter sua efetivação garantida pelo Estado. Medidas precisam ser tomadas para que
as novas gerações tenham acesso a uma formação adequada, como o objetivo de um
futuro melhor para todos.

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