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LOGÍSTICA REVERSA

Gisele Lozada
Fundamentos de
logística reversa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir no que consiste a logística reversa.


„„ Descrever conceitos correlatos e áreas de aplicação.
„„ Analisar a logística reversa como parte dos processos da cadeia de
suprimentos.

Introdução
A logística existe há muito mais tempo do que muitos podem pensar,
estando presente na história da civilização desde quando o homem deu
início às operações produtivas organizadas que iam além da subsistência,
viabilizando trocas entre produtores próximos. Iniciaram-se, assim, os
movimentos de mercadorias, e os conceitos de logística começaram a
tomar forma. Essas operações foram sendo aperfeiçoadas e passaram a
permitir transações entre localidades cada vez mais distantes, envolvendo
diferentes elementos.
Então, a logística foi levada ao contexto empresarial, no qual se tornou
uma área vital para o sucesso dos negócios, assumindo papel de destaque
no planejamento e no controle do fluxo de materiais e produtos, desde
sua entrada na empresa, como matéria-prima, até sua saída dela, já como
produto acabado. Após consolidada nesse papel, a logística evolui ainda
mais, incorporando novas responsabilidades a seu escopo: passou a atuar
também na captura do valor ainda contido nos bens após sua venda ou
consumo, por meio de um fluxo em sentido contrário daquele praticado
na logística convencional. Surge, então, o conceito de logística reversa,
que concede à logística uma posição de destaque ainda maior no cenário
empresarial, passando a integrar a cadeia de suprimentos como um de
seus mais importantes processos.
2 Fundamentos de logística reversa

Neste capítulo, você vai ler sobre a logística reversa, iniciando por
um breve histórico, que apresenta a evolução da logística empresarial
à logística reversa, incluindo, ainda, o estudo sobre o que é a logística
reversa, bem como conceitos a ela correlacionados e áreas de aplicação.
Por fim, você vai ler sobre a análise da logística reversa como parte dos
processos da cadeia de suprimentos.

1 A logística reversa
A logística existe desde o começo da civilização, quando o homem deu início
às operações produtivas organizadas que iam além da subsistência. Antes da
logística, aspectos como transporte de produtos eram limitados e estruturas
de armazenagem eram precárias, o que fazia os povos terem de produzir
aquilo de que precisavam, e as opções de consumo se restringiam ao que
era produzido pela comunidade local e seu entorno. Com o passar do tempo,
os produtores começaram a se dar conta da possibilidade de trocas entre pro-
dutores próximos: aquilo que sobrava na produção de uma localidade poderia
ser trocado por algo que lhe faltava e que, por outro lado, sobrava na produção
de outra. Iniciaram-se, assim, os movimentos de mercadorias, e os conceitos
de logística começaram a tomar forma — operações que depois foram sendo
aperfeiçoadas, permitindo transações entre localidades cada vez mais distantes
e envolvendo diferentes elementos (BALLOU, 2006).
Uma etapa marcante na história da logística ocorreu no contexto militar, em
que o termo era associado ao transporte, abastecimento e alojamento de tropas.
Ela era aí compreendida como um ramo da ciência militar que era responsável
por lidar com a obtenção, a manutenção e o transporte de material, pessoas e
instalações, com foco nos objetivos e na estratégia de cada missão. Depois,
o conceito de logística foi levado para os contextos industrial e empresarial, nos
quais ela pôde contar com a contribuição de episódios marcantes da história
para seu desenvolvimento, tais como a Revolução Industrial e a Segunda Guerra
Mundial. Inicialmente, a logística estava voltada ao trânsito de mercadorias
e produtos; depois, passou a ser focada na satisfação do cliente, o que lhe
permitiu evoluir de uma simples área de estocagem de materiais a uma área
estratégica no atual cenário empresarial, marcado pela forte concorrência
(BALLOU, 2006; LEITE, 2017).
O destaque da logística como atividade empresarial teve como pano de
fundo a evolução dos sistemas de produção, com especial contribuição de
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filosofias como o just-in-time e a qualidade total, que fomentaram significativas


mudanças nas formas de pensar e agir no contexto da produção, promovendo
a substituição da antecipação pela reação à demanda. Ou seja, a produção,
que antes era empurrada, passou a ser uma produção puxada, requerendo
alta velocidade de resposta e tornando o equacionamento logístico dos fluxos
de materiais ao longo de toda a cadeia produtiva um aspecto fundamental.
Nesse cenário, passam a ter maior importância fatores como posicionamento
logístico dos fornecedores, controle e transporte de suprimentos com maior
frequência e em menores quantidades (operações com reduzidos estoques),
além de maior rigor no cumprimento de prazos, quantidades e qualidade dos
itens movimentados. Segundo Leite (2017), isso fez surgirem novas técnicas
operacionais e novas formas de relacionamento da empresa com outros agentes
(em especial os fornecedores), exigindo planejamento, operação e controle
logístico de alto desempenho nos níveis estratégico, tático e operacional, dando
início ao que hoje se conhece como supply chain management — gerenciamento
da cadeia de suprimentos.
Com isso, a logística passa a ser compreendida no contexto empresarial
como o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo de mer-
cadorias, serviços e informações, desde o ponto de origem até o ponto de
consumo, tudo sendo feito de forma eficiente e eficaz, com o propósito de
atender às exigências dos clientes. Ou seja, a logística empresarial torna-se
uma área vital para o sucesso de empresas, assumindo papel de destaque no
planejamento e controle do fluxo de materiais e produtos, desde sua entrada
na empresa, como matéria-prima, até sua saída dela, já como produto acabado
(BALLOU, 2006; LEITE, 2017).
O fato é que, desde seu surgimento, a logística evoluiu muito, principal-
mente em função das modificações nas relações de consumo, que levaram as
empresas a ter uma maior preocupação com o atendimento às expectativas
dos clientes, fomentando a busca pela qualidade total no oferecimento de
produtos e serviços. Nesse cenário, a logística empresarial tornou-se essencial,
sendo lastreada pelos avanços da tecnologia da informação e pelo estabele-
cimento de sistemas de produção capazes de melhor adequar o desempenho
das organizações às necessidades e aos desejos de seus clientes. Ao mesmo
tempo, a logística vem participando ativamente do desenvolvimento desses
sistemas (como é o caso do MRP), permitindo o adequado gerenciamento das
necessidades das empresas durante suas operações. Leite (2017) afirma que
isso reforça o fato de que a logística assumiu papel de grande relevância no
planejamento e controle do fluxo de materiais e produtos.
4 Fundamentos de logística reversa

MRP é a sigla para Material Requirement Planning, ou, em português, Planejamento


das Necessidades de Materiais. Esses materiais são aqueles envolvidos na produção,
correspondendo a MRP a uma abordagem que calcula a quantidade, o tipo e o mo-
mento adequado para a disponibilização dos diferentes tipos de peças ou materiais
necessários à operação.

Hoje em dia, a satisfação dos clientes é um fator fundamental para as


organizações, cada vez mais preocupadas em manter um bom relacionamento
com eles. Nesse contexto, a logística se apresenta como elemento capaz de
oferecer importante contribuição para o sucesso das organizações, uma vez
que está diretamente relacionada à capacidade da empresa em se relacionar e
atender às expectativas de seus clientes. Essas expectativas podem envolver
diferentes aspectos, como requisitos relativos aos produtos e serviços, dis-
ponibilidade de estoque, agilidade e precisão de entrega (produto certo, na
quantidade necessária e no momento esperado), entre tantos outros. Desse
modo, é possível considerar o cliente como o ponto focal da logística, a força
impulsionadora que determina as necessidades de desempenho logístico de
uma organização (BOWERSOX et al., 2014).

Para obter sucesso, as organizações precisam se relacionar bem com seus clientes e aten-
der às suas expectativas, demandas nas quais a logística tem importante participação.

Contudo, por maior que seja a preocupação de uma empresa em atender bem
a seus clientes e por maior que seja o nível de integração de suas operações
logísticas, falhas sempre podem ocorrer, como um pedido incompleto, uma
entrega no local errado ou fora do prazo, o envio de quantidades incorretas,
de produtos trocados, danificados ou com defeitos, entre tantos outros poten-
ciais problemas. Logicamente, o ideal seria que a empresa fizesse tudo certo
da primeira vez, mas, como isso não acontece em todas as vezes, a empresa
precisa estar preparada para lidar com eventuais problemas, solucionando-os o
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mais rapidamente possível, de modo a minimizar os impactos negativos deles na


percepção do cliente sobre a empresa e preservar o bom relacionamento entre
as partes. Ou seja, a empresa precisa apresentar uma boa performance tanto
ao levar seus produtos e serviços até os clientes, quanto no caso de precisar
promover um movimento contrário, em que o produto ou serviço retorna do
cliente para a empresa, para que essa última possa reparar uma eventual falha.
Em ambas as situações, o papel da logística é fundamental. Sendo assim,
a logística desempenha a importante missão de garantir à empresa a capacidade
de disponibilizar bens e serviços nos locais, no tempo, nas quantidades e na
qualidade desejados por aqueles a quem se destinam (BOWERSOX et al.,
2014; LEITE, 2017).
E é nesse contexto que surge o conceito da logística reversa, uma vertente
muito importante da logística. Surgida nas últimas décadas do século XX,
quando o fenômeno da globalização, somado ao advento dos computadores
pessoais, dos sistemas de comunicação e da digitalização das informações,
criou um cenário de comunicação facilitada por meio de espaços virtuais,
o que resultou no rompimento das barreiras geográficas e na aceleração do
ritmo empresarial. Com isso, muitas empresas passaram a operar em nível
mundial, e os hábitos de consumo foram drasticamente modificados, tendo
como consequência um aumento significativo da quantidade e da variedade
de produtos disponíveis. Afinal, essa era a forma de as empresas atenderem a
diversos segmentos de mercado, em função de aspectos como diferentes etnias
e costumes, além de fatores como idade, preferências e restrições, entre tantos
outros. Além disso, os produtos também se modificaram, passando a apresentar
uma quantidade de modelos cada vez maior, com ciclo de vida cada vez menor,
seja por características do produto (maior tendência a descartabilidade), seja
por questões mercadológicas (lançamento de novos produtos e a consequente
obsolescência dos anteriores). Isso levou as empresas a demandar meios para
promover, além da rápida movimentação de seus estoques de produtos aca-
bados, também a circulação de produtos usados, de modo a viabilizar seu
retorno e reaproveitamento inteligente. Tudo isso fez que a logística reversa
se destacasse no mundo empresarial, transformando-se em uma relevante área
da logística empresarial (LEITE, 2017; PEREIRA et al., 2012).
Outro aspecto desse cenário que ofereceu significativa colaboração para
o desponte da logística reversa no mundo dos negócios foi a massificação
dos mercados digitais e do comércio eletrônico. Com eles, as compras sem o
apoio de lojas físicas tornaram necessário o desenvolvimento de um canal para
devolução dos produtos que não atendessem à expectativa do cliente, garantindo
sua satisfação. Isso evidencia que a busca pela satisfação do cliente, que já
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era um ponto focal da logística, ganha ainda mais destaque, sendo um dos
principais motivos para o desenvolvimento da logística reversa (LEITE, 2017).
A logística reversa consiste, atualmente, em uma área da logística empre-
sarial. Ela é responsável pelo planejamento, operação e controle dos fluxos
reversos de diversas naturezas, por meio dos quais uma parcela dos produtos
retorna à sua fonte produtora, sendo readmitido no ciclo produtivo ou de
negócios. Isso permite que os produtos readquiram valor, seja no mercado
original ao qual se destinaram, seja em mercados secundários, mediante reapro-
veitamentos do produto ou partes dele (LEITE, 2017; VALLE; SOUZA, 2014).

A logística reversa consiste em uma área da logística empresarial, responsável pelo


planejamento, operação e controle dos fluxos reversos que permitem o retorno dos
produtos ao ciclo produtivo ou de negócios, para que readquiram valor.

Assim, a logística reversa, também conhecida como logística integral e


logística inversa, por ser uma área da logística empresarial, engloba o conceito
tradicional de logística, mas agrega a ele um conjunto de ações e operações
voltadas a questões que vão desde a redução do uso de matérias-primas até a
destinação final adequada dos produtos e materiais (como resíduos e embala-
gens) por meio de canais de distribuição reversos, permitindo que possam ser
reutilizados, remanufaturados ou reciclados (PEREIRA et al., 2012).
Cabe destacar que a logística empresarial é composta por duas principais
fases: a logística direta e a logística reversa. Para que se possam compreender
adequadamente os objetivos de cada uma e suas consequentes aplicações,
é importante apontar as suas características. Ambas correspondem a um
processo que engloba o planejamento, a implementação e o controle do fluxo
eficiente de matérias-primas, produtos em processo, produtos acabados e
informações relacionadas, entre dois pontos que representam origem e destino.
A diferença essencial entre elas está, então, no sentido do fluxo e em quem
será a origem e quem será o destino da movimentação realizada, conforme
descrito a seguir e representado na Figura 1 (VALLE; SOUZA, 2014; LEITE,
2017; LUZ; BOOSTEL, 2018).
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„„ Logística direta: fluxo do ponto de origem para o ponto de consumo,


ou seja, na direção do cliente (que pode ser uma empresa ou cliente/
consumidor final). Tem foco em levar o produto ou serviço até o cliente,
visando a atender às suas necessidades. Nela, os elementos materiais
encontram-se concentrados e, à medida que são transformados em
produtos, comercializados e consumidos, vão se dissipando e se espa-
lhando geograficamente.
„„ Logística reversa: fluxo do ponto de consumo para o ponto de origem,
ou seja, na direção da empresa (que pode ser a empresa fabricante ou
os fornecedores dela). Tem foco em trazer de volta ao ciclo produtivo
tudo o que for possível, como forma de recuperar valor. Concentra-se
em reordenar e reunir o que foi dissipado ou “espalhado” pelo fluxo
anterior, visando a buscar aquilo que está disperso e fazê-lo voltar ao
longo da cadeia.

Figura 1. Os fluxos da logística direta e logística reversa.


Fonte: Valle e Souza (2014, p. 20).
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Essa é possivelmente a diferença mais básica e visível, mas não é a única.


A logística direta tem o objetivo de atender às expectativas dos clientes,
e em função disso se preocupa com questões como aumento da velocidade do
fluxo logístico, para viabilizar agilidade na resposta aos clientes, bem como a
redução dos custos totais de operação, semelhante ao que buscam filosofias
como a qualidade total e o just-in-time. Já a logística reversa, embora também
se preocupe com o atendimento às expectativas dos clientes, tem seu objetivo
mais voltado à garantia do retorno de produtos, materiais e peças a um novo
processo de produção ou a um novo uso. Segundo Valle e Souza (2014) e Leite
(2017), isso faz que a logística reversa apresente preocupações mais abrangentes
do que aquelas verificadas no caso da logística direta, e daí surgem diversos
outros conceitos correlacionados a ela, os quais é importante conhecer melhor.
Pode-se começar pela consideração de que a logística reversa, no desempe-
nho de seu papel, tenha o objetivo de promover o retorno de uma parcela dos
produtos à sua fonte produtora, para que seja readmitida no ciclo produtivo
e, assim, readquira valor; isso é feito por canais de distribuição reversos, que
dividem a logística reversa em duas grandes áreas, voltadas aos bens de pós-
-venda e pós-consumo (VALLE; SOUZA, 2014; LEITE, 2017).

„„ Bens de pós-venda: são aqueles bens com pouco ou nenhum uso que
transitam pelo canal reverso em função de aspectos relativos à garantia
e qualidade (produtos com defeitos de fabricação ou danificados durante
a distribuição), de aspectos comerciais (inclui situações como erro de
expedição, excesso de estoque, mercadorias em consignação, prazo
de validade expirado) ou de aspectos relacionados à substituição de
componentes (bens duráveis ou semiduráveis, danificados ao longo da
sua vida útil e que passaram por um processo de manutenção).
„„ Bens de pós-consumo: correspondem aos produtos e materiais que se
encontram no estágio de fim de uso (não servem mais ao proprietário
anterior, mas ainda estão em condições de uso, podendo ser reparados
e revendidos no mercado de bens de segunda mão) ou que atingiram o
fim de sua vida útil (sem condições de serem reutilizados, e por isso são
encaminhados ao desmanche: alguns componentes são remanufaturados
e utilizados na fabricação de novos produtos; o que não puder ser rema-
nufaturado é reciclado e vira matéria-prima para o mercado secundário;
o que não puder ser reciclado é encaminhado para destinação final).
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Frente ao exposto, é possível chegar à seguinte síntese: a logística empre-


sarial atualmente tem aplicação em dois principais fluxos, que são o direto e o
reverso; a logística reversa, por sua vez, tem atuação em dois principais fluxos,
voltados aos bens de pós-venda e pós-consumo, que visam a oportunizar a
recuperação de valor por meio do retorno de produtos e materiais para reuso,
da remanufatura e reciclagem ou, ainda, da promoção à destinação final
daquilo que não mais servir.

2 Conceitos correlatos e áreas de aplicação


O campo da logística empresarial, do qual faz parte a logística reversa,
é povoado por uma série de conceitos e definições que se complementam e cor-
relacionam, apresentando detalhes que permitem compreender a abrangência e
as aplicações da área. A logística reversa, com sua preocupação em recuperar
valor mediante o retorno de produtos e materiais ao ciclo produtivo, acaba
promovendo a agregação de valor de diversas naturezas, como ecológico, legal,
logístico, de imagem corporativa, entre outros, fomentando o desenvolvimento
em diversas esferas. Isso inclui a formação de uma cultura de consumo mais
consciente, que conduz a uma mudança nos hábitos de consumo, privilegiando
a redução do consumo em favor do desenvolvimento sustentável (VALLE;
SOUZA, 2014; LEITE, 2017).
Nesse ponto, surge mais um conceito frequentemente associado à logística
reversa, que é a sustentabilidade. Em uma definição ampla, a sustentabilidade
consiste em promover o atendimento às necessidades atuais de recursos para
o progresso técnico e econômico e, ao mesmo tempo, garantir condições
para que as gerações futuras também possam satisfazer as suas necessidades,
viabilizando o desenvolvimento sustentável. Quando levado ao contexto em-
presarial, a sustentabilidade diz respeito à consciência de que o lucro não deve
ser o único fator a ser considerado para direcionar o sucesso das empresas e da
economia. O lucro permanece sendo necessário para o futuro da organização,
mas, juntamente com essa questão, está a preocupação com o futuro das pessoas
e do planeta — afinal, esses são aspectos que afetam diretamente o resultado
das organizações. Assim, atinge a sustentabilidade empresarial a organização
cuja operação cria lucro aceitável para seus proprietários e acionistas e, ao
mesmo tempo, minimiza os danos ao meio ambiente e aprimora a existência
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das pessoas que se relacionam com a empresa de alguma forma. Em outras


palavras, um negócio sustentável é aquele que equilibra interesses econômicos,
ambientais e sociais, tendo chances potencialmente maiores de permanecer
bem-sucedido no longo prazo do que outro que foca apenas em metas econô-
micas (CORRÊA; CORRÊA, 2019; LUZ; BOOSTEL, 2018; LEITE, 2017).

Hoje em dia, existe consciência de que o lucro não é o único fator a ser almejado
pelas empresas: além de interesses econômicos, é preciso também tratar de interesses
sociais, ambientais e governamentais.

Nesse contexto da busca pelo desenvolvimento sustentável, a logística


reversa desempenha papel fundamental, em especial no que diz respeito
aos canais reversos de bens de pós-consumo, mediante os quais as empresas
tornam-se capazes de equilibrar interesses econômicos, ambientais e sociais.
Afinal, as práticas promovidas por esse canal, que incluem reutilização,
remanufatura, reciclagem, e o descarte final apropriado daquilo que não tem
mais serventia, promovem o prolongamento da vida útil dos bens e os tornam
acessíveis a um maior número de pessoas (como por meio dos mercados de
segunda mão), além de levar a uma redução do consumo de matérias-primas
e do impacto das operações produtivas sobre o meio ambiente (PEREIRA
et al., 2012; LEITE, 2017; BOWERSOX et al., 2014).

Em uma concepção mais moderna, a logística, agora contando com o reforço da


logística reversa, torna-se capaz de colaborar de forma significativa para o desenvol-
vimento sustentável.

A sustentabilidade, por sua vez, ainda leva a outros conceitos correlacio-


nados ao contexto da logística reversa. Esse é o caso da “logística verde”, que
representa a busca pela ampliação do desenvolvimento sustentável mediante a
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promoção de cuidados com o processo de saída, transporte, armazenamento


e recolhimento de produtos ao final de sua vida útil, buscando evitar emissão
de poluentes e os impactos negativos ao meio ambiente. Ou seja, a logística
verde consiste na preocupação com os impactos das atividades de uma empresa
sobre o meio que a cerca (LUZ; BOOSTEL, 2018).
Contudo, cabe destacar que a logística verde e a logística reversa, embora
direta e fortemente relacionadas, não são a mesma coisa. Primeiro surgiu a
logística reversa, destinada ao retorno de bens no pós-venda e pós-consumo,
devolvendo-os à fonte produtora, e depois surgiu a logística verde, voltada para
a preocupação com a destinação dos resíduos de produção, buscando avaliar
e minimizar os impactos ambientais decorrentes da atividade empresarial,
em especial as atividades logísticas direta e reversa (como as emissões gera-
das pelos meios de transporte, o consumo de energia, o uso de embalagens,
a reciclagem e a destinação de resíduos). Então, a logística verde se associou
à logística reversa, buscando meios para que os resíduos pós-consumo fos-
sem levados de volta à fonte produtora para que ela se responsabilizasse por
eles, minimizando seu impacto sobre o meio ambiente. É possível destacar
a diferença entre elas pela consideração de que logística verde refere-se ao
modo de pensar e agir mais responsável, ao passo que a logística reversa
consiste nas práticas logísticas que viabilizam a logística verde. Desse modo,
logística verde e logística reversa podem ser realizadas em conjunto, e ambas
compartilham a preocupação e o cuidado com o meio ambiente. Porém, elas
divergem em relação aos motivos para isso: enquanto a logística reversa visa
a gerar vantagem competitiva por meio das práticas sustentáveis, a logística
verde se preocupa mais com o tratamento dos resíduos do que com a questão
financeira (LUZ; BOOSTEL, 2018; VALLE; SOUZA, 2014).
Existem ainda outros conceitos relevantes e correlacionados a esse contexto,
como é o caso da filosofia denominada 3Rs da sustentabilidade. Essa filosofia
consiste em uma cultura ambientalista voltada para a busca por reduzir, reuti-
lizar e reciclar, em contraposição à cultura do consumo, que defende a ideia de
comprar, consumir e dispor. Ou seja, a filosofia dos 3Rs visa a fomentar ações
que minimizam os efeitos da vida moderna sobre o meio ambiente, por meio
de práticas que promovem questões como o menor consumo de recursos e o
combate ao desperdício, o melhor aproveitamento dos produtos e a redução do
volume de lixo gerado, favorecendo o desenvolvimento sustentável (LEITE,
2017; LUZ; BOOSTEL, 2018).
Por fim, cabe comentar que questões ligadas à logística reversa, como o
desenvolvimento sustentável e a logística verde, muitas vezes são apoiadas
por instituições e órgãos reguladores, mediante a instituição de boas práticas
12 Fundamentos de logística reversa

que regulamentam tais atividades, como é o caso das certificações específicas


desse contexto, ou até mesmo do estabelecimento de legislações voltadas a
tal finalidade (PEREIRA et al., 2012).

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10), instituída pelo Ministério do


Meio Ambiente (MMA), é um exemplo de regulamentação que apoia a logística verde,
tendo o intuito de potencializar e melhorar o ciclo de reciclagem do país no que diz
respeito a produtos como eletrônicos, remédios, embalagens de óleos lubrificantes
e agrotóxicos, lâmpadas fluorescentes, entre outros.
A norma ISO 14001, desenvolvida pela International Organization for Standardization,
consiste em um conjunto de boas práticas desenvolvidas com vistas a estabelecer
diretrizes que servem de guia para a formação e o desenvolvimento da área de gestão
ambiental dentro de empresas, oferecendo importante apoio ao estabelecimento do
desenvolvimento sustentável.

Além disso, é oportuno mencionar que a logística reversa integra o campo


da logística empresarial com considerável destaque, sendo considerada a quarta
e mais nova área operacional da logística empresarial, conforme detalhado a
seguir. Nesse sentido, cabe destacar que a logística reversa não apenas integra
a logística empresarial, mas também participa, de alguma maneira, das demais
áreas operacionais que a constituem, conforme apresentado na Figura 2.
Ou seja, de certa forma, as áreas operacionais da logística são também áreas
de aplicação da logística reversa (LEITE, 2017).

„„ Logística de suprimentos: é responsável pelas ações por meio das quais


a empresa é suprida com os insumos materiais necessários para sua
operação.
„„ Logística de apoio à manufatura: é responsável pelo planejamento,
armazenamento e controle dos fluxos internos.
„„ Logística de distribuição: é responsável pela movimentação dos mate-
riais e produtos envolvidos na operação.
„„ Logística reversa: é responsável pelo retorno dos produtos de pós-
-venda e de pós-consumo, permitindo que sejam reintegrados ao ciclo
de negócio ou produtivo.
Fundamentos de logística reversa 13

Figura 2. Áreas operacionais da logística empresarial.


Fonte: Leite, 2017 (p. 31).

Assim, a logística reversa atua em frentes como a movimentação de produtos


e materiais, encaminhando-os a diversos destinos, bem como no planejamento,
armazenamento e controle dos fluxos e, até mesmo, em ações para suprir
a empresa com os insumos materiais necessários para sua operação (o que
ocorre, por exemplo, nos casos em que a reciclagem gera matéria-prima para
novos processos produtivos).
A partir do que foi exposto, pode-se chegar à seguinte síntese. O campo
da logística empresarial, do qual faz parte a logística reversa, é formado
por diversos conceitos e definições correlacionadas e complementares.
O surgimento e o desenvolvimento da logística reversa trouxeram consigo
uma parte importante desses conceitos e aplicações ligados à logística, dentre
os quais cabe destacar a concepção da sustentabilidade e do desenvolvimento
sustentável, da logística verde e dos 3Rs da sustentabilidade, entre outros
existentes. Tais conceitos ampliam a abrangência e as aplicações da logística
empresarial (tanto direta quanto reversa), que na verdade está em constante
evolução, buscando desenvolver cada vez mais a logística e ampliar a importante
contribuição que ela oferece ao contexto dos negócios.

3 Logística reversa e a cadeia de suprimentos


As empresas fazem parte de um ambiente onde interagem com diversos agentes.
Logicamente, os clientes ocupam uma posição de destaque nessas interações,
mas a empresa também tem importantes relacionamentos com outras empresas
(fornecedores, parceiros e outros), formando uma rede chamada cadeia de
suprimentos. Nessa rede, o relacionamento entre os agentes é um fator funda-
14 Fundamentos de logística reversa

mental, cujos fortalecimento e adequada gestão são indispensáveis para o bom


desempenho das operações que ocorrem ao longo da cadeia. Tal condição se
tornou ainda mais premente a partir da década de 1980, quando a globalização
e os avanços da tecnologia expandiram drasticamente os mercados, tornando
a cadeia de suprimentos algo ainda mais valioso. Afinal, nesse momento
praticamente não existiam mais barreiras físicas, com as relações de negócio
ocorrendo entre agentes do mundo inteiro, impulsionadas pela internet e as
facilidades promovidas por dela. Isso afetou também a logística empresarial,
que atingiu um novo status nas organizações e passou a desempenhar papel
estratégico no planejamento das redes operacionais em todas as regiões do
globo, colaborando para a gestão dos fluxos de materiais e informações em
todas as diversas fases da cadeia de suprimentos. Com isso, empresas líderes
de segmentos, pressionadas principalmente pelo aumento da concorrência em
seus mercados mundo afora e pela complexidade acrescida em suas operações
logísticas, passam a buscar novas formas de melhorar sua competitividade. Para
tanto, passam a atuar de forma mais estratégica na gestão do relacionamento
entre as organizações, praticando o gerenciamento da cadeia de suprimentos,
em que as operações logísticas têm importante papel (LEITE, 2017).
A preocupação com a satisfação do cliente, que já era algo de reconhecida
importância para toda e qualquer empresa, passa a receber ainda mais atenção,
pois, como a grande maioria das empresas se relaciona com outros diversos
agentes ao longo da cadeia de suprimentos, a busca pela satisfação do cliente
precisa ser um aspecto considerado e adequadamente atendido por cada um
dos agentes da rede, ao longo de toda a sua extensão — o que é tratado pela
gestão da cadeia de suprimentos. Nesse contexto, embora a logística seja
compreendida como um processo (conjunto de atividades) que faz parte de um
outro processo ainda maior (a cadeia de suprimentos), ela é percebida como
peça essencial, que promove a fundamental interação entre os vários agentes
da cadeia de suprimentos (BALLOU, 2006).
Para que isso de fato funcione, os canais de distribuição, que antes
se preocupavam em levar o produto da operação em uma única direção
(da empresa para o cliente), agora precisam ser capazes de viabilizar também
o movimento em sentido contrário. Com operações em um volume cada vez
maior, envolvendo agentes de nível mundial em um ambiente cada vez mais
digital, passaram a ser fundamentais canais para devoluções, trocas, assistência
no caso de defeitos ou outros problemas, o que tornou a logística capaz de
fazer os produtos fluírem por toda a rede, em várias direções. Isso não só fez
Fundamentos de logística reversa 15

surgir o conceito da logística reversa, mas também a consolidou como algo de


extrema importância no contexto da cadeia de suprimentos. Afinal, a partir
desse momento a logística empresarial se mostrava algo mais complexo do que
quando pensado de forma individual, na relação de uma empresa com seus
clientes; e a logística reversa chega a esse cenário como um desdobramento
da logística empresarial que visa a atender a essas novas características das
relações comerciais e produtivas. Ou seja, a logística reversa, além de ser
parte da logística empresarial, é também parte dos processos da cadeia de
suprimentos.
A introdução da logística reversa na cadeia de suprimentos trouxe impor-
tantes mudanças ao seu contexto. A perspectiva da cadeia de suprimentos
convencional contempla um conjunto de processos que são estimulados pela
demanda, impulsionando a transferência de bens e serviços ao longo da ca-
deia na direção do cliente final: dos fornecedores aos fabricantes, desses aos
distribuidores e varejistas (o que geralmente ocorre com produtos fabricados
em maior volume), até chegar aos clientes finais. Contudo, mesmo após chegar
ao cliente, o produto e seu valor não se esgotam, isto é, os bens físicos em si
e o valor a eles associado não são totalmente consumidos após alcançarem o
cliente. Muitos produtos, após serem vendidos ou consumidos, ainda podem
desencadear transações comerciais adicionais, tais como venda de produtos
usados em mercados secundários, atualização de produtos para que atendam
às normas mais recentes, reparação de componentes avariados para que sirvam
como peças de reposição, recuperação de estoques não vendidos, retorno de
embalagens reutilizáveis para que sejam recarregadas, reciclagem de produtos
utilizados para que sejam transformados em matérias-primas novamente
(VALLE; SOUZA, 2014).

O mercado de automóveis nos fornece uma boa ilustração de algumas das transações
comerciais que ocorrem após a venda de um bem: um carro pode ser revendido
em uma loja de carros usados (o chamado mercado de segunda mão); antes de ser
revendido, o carro pode ser reparado; as peças danificadas podem ser substituídas
por novas, e as usadas, encaminhadas para remanufatura e, depois, vendidas no
mercado de peças usadas.
16 Fundamentos de logística reversa

A percepção dessas potenciais e importantes transações pós-venda e pós-


-consumo destacou a existência de uma demanda não atendida pela cadeia de
suprimentos convencional, revelando a necessidade de se expandir o horizonte
da rede de forma a alargar a responsabilidade de seus integrantes, o que viabiliza
o fluxo em sentido inverso a fim de permitir a captura dos valores econômico
e ambiental ainda contidos no produto após a venda ou o consumo. Isso deu
origem a um novo conjunto de processos logísticos, voltados ao retorno dos
produtos a partir do cliente, que foi incorporado à cadeia de suprimentos
convencional, formando uma rede mais estruturada, na qual são desenvolvidas
estratégias conjuntas de logística direta e reversa.

A captura do valor residual pós-venda e pós-consumo demanda um alargamento da


cadeia de suprimentos mediante a inclusão de novos processos que fazem parte da
logística reversa, com seus vários ciclos de tratamento inter-relacionados, formando
uma nova rede de relacionamentos dentro da cadeia de suprimentos.

Então, essas duas fases da logística passam a ser exercidas de forma si-
multânea, em uma cadeia de suprimentos integrada, na qual melhorias em
materiais, tecnologias e processos são promovidas pensando-se em ambos os
fluxos ao mesmo tempo, por meio de articulação e parceria. Ou seja, logística
direta e reversa não são compreendidas como coisas separadas, mas como
elementos fortemente relacionados que integram algo maior, que é a cadeia
de suprimentos. E essa atuação conjunta permite uma maior visibilidade e
controle de processos, o que aumenta a performance da logística e o desem-
penho empresarial.
A cadeia de suprimentos envolve processos como fornecimento, fabricação,
distribuição, venda e consumo, todos eles demandando operações logísti-
cas, tanto diretas quanto reversas. Quando a logística direta está ocorrendo,
o fluxo dos materiais entre esses processos ocorre na direção do fornecedor
Fundamentos de logística reversa 17

para o cliente; na logística reversa, o fluxo é no sentido oposto, do cliente


para o fornecedor. Assim, embora sejam conduzidas em sentidos opostos,
as atividades envolvidas na cadeia de suprimentos direta são também demanda-
das pela cadeia de suprimentos reversa. Emissão e processamento de pedidos,
processos produtivos e de negócios, emissão de documentos (como notas
fiscais), separação e embalagem, transporte entre agentes (fornecedor, fabri-
cante, distribuidor, varejista, cliente), recebimento, conferência, armazenagem,
todos ocorrem nos dois fluxos, direto e reverso, um desencadeando o outro.

No fluxo direto, emitem-se um pedido de compra e uma respectiva nota de venda,


enquanto no fluxo reverso emitem-se um pedido de retorno e uma correspondente
nota de devolução. O fluxo direto de produção de um bem envolve um processo de
fabricação, e seu fluxo reverso envolve processos como reuso, revenda, remanufatura,
reciclagem, entre outros.

No fluxo direto, há emissão e processamento de um pedido de compra,


que dispara a fabricação de um bem, o qual, depois de pronto, é separado
e embalado; é emitida uma nota fiscal, e o produto segue para transporte
(o que pode ocorrer do fabricante para o consumidor final ou, ainda, passar
por agentes, como distribuidor e varejista); quando chega ao seu destino,
o pedido é recebido, conferido e armazenado; o produto é então vendido e/ou
consumido. No fluxo reverso, ocorrem as mesmas atividades, mas em sentido
contrário: após a venda e/ou consumo de um produto, é emitido e processado
um pedido de retorno (do produto ou de parte dele, como sua embalagem);
é emitida uma nota fiscal de retorno, e o produto é embalado e transportado;
chegando ao seu destino, o produto é conferido e armazenado; então, o produto
é destinado para uma operação produtiva ou de negócio (como remanufatura,
reciclagem ou revenda, entre outras alternativas).
18 Fundamentos de logística reversa

Você pode visualizar esse encadeamento de atividades ocorridas na cadeia de su-


primento, em seus fluxos logísticos direto e reverso, ao pensar em casos como o
dos refrigerantes vendidos em embalagens retornáveis (seja de plástico ou vidro):
um supermercado emite um pedido ao fabricante, que recebe e processa o pedido
e, então, produz e envaza o refrigerante (em muitos casos, haverá estoques do pro-
duto, mas, para colaborar na ilustração, pense na produção sob demanda); depois é
emitida uma nota de venda, e o pedido é separado e despachado para transporte;
chegando ao supermercado, o pedido é conferido e armazenado e, depois, é colocado
nas gôndolas da loja, onde é comprado pelos clientes e, então, consumido. Após o
consumo, o cliente leva a embalagem de volta ao supermercado, que armazena várias
embalagens e emite um pedido de retorno delas; esse pedido é recebido e processado
pelo fabricante do refrigerante; é emitida uma nota de devolução dos vasilhames, que
são separados, embalados e transportados; chegando ao fabricante, os vasilhames são
conferidos e encaminhados para reutilização ou reciclagem (dependendo do material
do qual é composta a embalagem), retornando ao processo produtivo, dando início
a um novo ciclo.

Embora as atividades relacionadas ao fluxo reverso sejam capazes de viabi-


lizar a captura do valor ainda contido no produto após sua venda ou consumo,
o que traz benefícios para os diversos integrantes da cadeia de suprimentos,
é importante pensar no seguinte: alguns dos processos envolvidos no fluxo
reverso demandam considerável nível de especialização, como é o caso da
reciclagem e da disposição final de resíduos. Isso significa que, em muitos
casos, as empresas não conseguem dar conta de realizar sozinhas todos os
processos envolvidos na logística reversa, seja por uma questão de capacidade
técnica, seja pela preocupação com a manutenção do foco na atividade-fim da
empresa. Afinal, para que a empresa possa aumentar suas chances de sucesso
na busca pela satisfação dos clientes, ela precisa manter-se concentrada em
sua atividade-fim.
Para resolver essa situação, muitas empresas optam por delegar as operações
logísticas demandadas por sua operação a outras empresas especializadas
nesse serviço, ocasionando a terceirização dos serviços logísticos. Isso pode
ocorrer tanto com a logística direta (da empresa para o cliente) quanto, e talvez
até mais, nos casos de logística reversa (do cliente para a empresa).
Fundamentos de logística reversa 19

Tais questões, somadas à intensa globalização anteriormente mencionada,


tornou o mercado mundial de prestação de serviços logísticos mais atrativo,
conduzindo algumas empresas à decisão de focar suas atividades em serviços
de transportes, armazenagem e afins, dando origem a organizações especiali-
zadas na prestação de serviços logísticos, bem como ao desenvolvimento de
tecnologias voltadas a essas operações, o que dá início a uma fase de intensa
terceirização das tarefas logísticas (BOWERSOX et al., 2014; LEITE, 2017).
A terceirização é um artifício muito utilizado no ramo da logística, corres-
pondendo a uma decisão que pode ter diferentes motivações: algumas empresas
entendem a terceirização da logística como uma forma de promover a redução
de custos, enquanto outras a percebem como uma ferramenta que auxilia na
gestão de riscos. Com a terceirização da logística, a empresa acaba reduzindo
seu investimento em estoques e ativos fixos logísticos, e ainda pode destinar tal
investimento para outras frentes. Além disso, com a terceirização da logística,
tal atividade é delegada a um parceiro que pode aproveitar as economias de
escala, de escopo ou de especialização. Isso tudo acaba impactando tanto
sobre os custos quanto sobre os riscos envolvidos. Afinal, uma empresa que
concentra sua atuação em uma determinada atividade — como é o caso da
operação logística — tende a ter maior conhecimento técnico e experiência
em processos, podendo concluir a tarefa com menos risco e a um custo menor.
Assim, a terceirização da logística promove a maior integração dos serviços
logísticos, o que gera inúmeros benefícios para a empresa que terceiriza suas
atividades logísticas e reduz os riscos associados à incerteza, à capacidade,
aos processos e à especialização (BOWERSOX et al., 2014).

A terceirização da logística promove a maior integração dos serviços logísticos na cadeia


de suprimentos, gerando inúmeros benefícios para seus integrantes, especialmente
para a empresa que tomou tal decisão.

Além das motivações acima mencionadas, ligadas à redução de custos e à


gestão de riscos, existem ainda outros fatores que podem ser favorecidos com
a terceirização da logística, como a redução do ciclo de pedido, o aumento da
taxa de atendimento de pedidos e o aumento da acurácia dos pedidos.
20 Fundamentos de logística reversa

„„ Redução do ciclo de pedido: o ciclo de pedido consiste no tempo trans-


corrido desde o momento em que o produto ou serviço é solicitado
até a entrega do pedido ao cliente. Com a terceirização das atividades
logísticas, a empresa passa a contar com a estrutura e a expertise do
parceiro logístico, que consegue realizar entregas com maior agilidade.
Um dos reflexos disso é diretamente sentido nos prazos de entrega, que
acabam sendo menores, reduzindo o tempo total do ciclo de pedido.
„„ Aumento da taxa de atendimento de pedidos: esta é uma medida que visa
a verificar a relação entre o número de pedidos que uma empresa recebe
e o número de pedidos que ela entrega/atende. Com a terceirização das
atividades logísticas, a empresa consegue aumentar sua efetividade
na entrega de pedidos, uma vez que o parceiro logístico tem maior
capacidade para realizar entregas com mais agilidade e segurança, e
isso acaba colaborando para que a empresa consiga de fato entregar os
pedidos que recebeu.
„„ Aumento da acurácia dos pedidos: acurácia diz respeito a precisão e
exatidão, o que ocorre quando não há erros ou equívocos. No caso da
logística, isso pode ser entendido como a entrega de pedidos em per-
feitas condições aos clientes, gerando estatísticas sobre a velocidade e
confiabilidade. Com a terceirização das atividades logísticas, a empresa
tem a oportunidade de focar seus esforços em sua atividade-fim, o que
acaba por gerar produtos e serviços de melhor qualidade, ao mesmo
tempo em que ela pode contar com a expertise do parceiro logístico
nas atividades a ele confiadas. Esse conjunto permite que os pedidos
correspondam à entrega dos produtos certos, no tempo acordado, ou
seja, sem erros e falhas no conteúdo do pedido e em um menor prazo
de entrega, permitindo que aquilo que foi prometido ao cliente seja de
fato entregue, o que o deixa mais satisfeito.

Todas essas condições proporcionadas pela terceirização das atividades


logísticas acabam gerando maior e melhor integração entre os agentes atuantes
na cadeia de suprimentos, o que acaba por ocasionar benefícios para a empresa
e se refletir também como vantagens para seus clientes, que usufruem de
serviços logísticos otimizados e mais seguros.
Fundamentos de logística reversa 21

BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto


Alegre: Bookman, 2006.
BOWERSOX, D. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4 ed. Porto Alegre: AMGH,
2014.
CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações: manufatura e
serviços: uma abordagem estratégica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
LEITE, P. R. Logística reversa. São Paulo: Saraiva, 2017.
LUZ, C. B. S.; BOOSTEL, I. Logística reversa. Porto Alegre: SAGAH, 2018.
PEREIRA, A. L. et al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
VALLE, R.; SOUZA, R. G. de. (org.). Logística reversa: processo a processo. São Paulo:
Atlas, 2014.

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