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Gisele Lozada
Fundamentos de
logística reversa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A logística existe há muito mais tempo do que muitos podem pensar,
estando presente na história da civilização desde quando o homem deu
início às operações produtivas organizadas que iam além da subsistência,
viabilizando trocas entre produtores próximos. Iniciaram-se, assim, os
movimentos de mercadorias, e os conceitos de logística começaram a
tomar forma. Essas operações foram sendo aperfeiçoadas e passaram a
permitir transações entre localidades cada vez mais distantes, envolvendo
diferentes elementos.
Então, a logística foi levada ao contexto empresarial, no qual se tornou
uma área vital para o sucesso dos negócios, assumindo papel de destaque
no planejamento e no controle do fluxo de materiais e produtos, desde
sua entrada na empresa, como matéria-prima, até sua saída dela, já como
produto acabado. Após consolidada nesse papel, a logística evolui ainda
mais, incorporando novas responsabilidades a seu escopo: passou a atuar
também na captura do valor ainda contido nos bens após sua venda ou
consumo, por meio de um fluxo em sentido contrário daquele praticado
na logística convencional. Surge, então, o conceito de logística reversa,
que concede à logística uma posição de destaque ainda maior no cenário
empresarial, passando a integrar a cadeia de suprimentos como um de
seus mais importantes processos.
2 Fundamentos de logística reversa
Neste capítulo, você vai ler sobre a logística reversa, iniciando por
um breve histórico, que apresenta a evolução da logística empresarial
à logística reversa, incluindo, ainda, o estudo sobre o que é a logística
reversa, bem como conceitos a ela correlacionados e áreas de aplicação.
Por fim, você vai ler sobre a análise da logística reversa como parte dos
processos da cadeia de suprimentos.
1 A logística reversa
A logística existe desde o começo da civilização, quando o homem deu início
às operações produtivas organizadas que iam além da subsistência. Antes da
logística, aspectos como transporte de produtos eram limitados e estruturas
de armazenagem eram precárias, o que fazia os povos terem de produzir
aquilo de que precisavam, e as opções de consumo se restringiam ao que
era produzido pela comunidade local e seu entorno. Com o passar do tempo,
os produtores começaram a se dar conta da possibilidade de trocas entre pro-
dutores próximos: aquilo que sobrava na produção de uma localidade poderia
ser trocado por algo que lhe faltava e que, por outro lado, sobrava na produção
de outra. Iniciaram-se, assim, os movimentos de mercadorias, e os conceitos
de logística começaram a tomar forma — operações que depois foram sendo
aperfeiçoadas, permitindo transações entre localidades cada vez mais distantes
e envolvendo diferentes elementos (BALLOU, 2006).
Uma etapa marcante na história da logística ocorreu no contexto militar, em
que o termo era associado ao transporte, abastecimento e alojamento de tropas.
Ela era aí compreendida como um ramo da ciência militar que era responsável
por lidar com a obtenção, a manutenção e o transporte de material, pessoas e
instalações, com foco nos objetivos e na estratégia de cada missão. Depois,
o conceito de logística foi levado para os contextos industrial e empresarial, nos
quais ela pôde contar com a contribuição de episódios marcantes da história
para seu desenvolvimento, tais como a Revolução Industrial e a Segunda Guerra
Mundial. Inicialmente, a logística estava voltada ao trânsito de mercadorias
e produtos; depois, passou a ser focada na satisfação do cliente, o que lhe
permitiu evoluir de uma simples área de estocagem de materiais a uma área
estratégica no atual cenário empresarial, marcado pela forte concorrência
(BALLOU, 2006; LEITE, 2017).
O destaque da logística como atividade empresarial teve como pano de
fundo a evolução dos sistemas de produção, com especial contribuição de
Fundamentos de logística reversa 3
Para obter sucesso, as organizações precisam se relacionar bem com seus clientes e aten-
der às suas expectativas, demandas nas quais a logística tem importante participação.
Contudo, por maior que seja a preocupação de uma empresa em atender bem
a seus clientes e por maior que seja o nível de integração de suas operações
logísticas, falhas sempre podem ocorrer, como um pedido incompleto, uma
entrega no local errado ou fora do prazo, o envio de quantidades incorretas,
de produtos trocados, danificados ou com defeitos, entre tantos outros poten-
ciais problemas. Logicamente, o ideal seria que a empresa fizesse tudo certo
da primeira vez, mas, como isso não acontece em todas as vezes, a empresa
precisa estar preparada para lidar com eventuais problemas, solucionando-os o
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era um ponto focal da logística, ganha ainda mais destaque, sendo um dos
principais motivos para o desenvolvimento da logística reversa (LEITE, 2017).
A logística reversa consiste, atualmente, em uma área da logística empre-
sarial. Ela é responsável pelo planejamento, operação e controle dos fluxos
reversos de diversas naturezas, por meio dos quais uma parcela dos produtos
retorna à sua fonte produtora, sendo readmitido no ciclo produtivo ou de
negócios. Isso permite que os produtos readquiram valor, seja no mercado
original ao qual se destinaram, seja em mercados secundários, mediante reapro-
veitamentos do produto ou partes dele (LEITE, 2017; VALLE; SOUZA, 2014).
Bens de pós-venda: são aqueles bens com pouco ou nenhum uso que
transitam pelo canal reverso em função de aspectos relativos à garantia
e qualidade (produtos com defeitos de fabricação ou danificados durante
a distribuição), de aspectos comerciais (inclui situações como erro de
expedição, excesso de estoque, mercadorias em consignação, prazo
de validade expirado) ou de aspectos relacionados à substituição de
componentes (bens duráveis ou semiduráveis, danificados ao longo da
sua vida útil e que passaram por um processo de manutenção).
Bens de pós-consumo: correspondem aos produtos e materiais que se
encontram no estágio de fim de uso (não servem mais ao proprietário
anterior, mas ainda estão em condições de uso, podendo ser reparados
e revendidos no mercado de bens de segunda mão) ou que atingiram o
fim de sua vida útil (sem condições de serem reutilizados, e por isso são
encaminhados ao desmanche: alguns componentes são remanufaturados
e utilizados na fabricação de novos produtos; o que não puder ser rema-
nufaturado é reciclado e vira matéria-prima para o mercado secundário;
o que não puder ser reciclado é encaminhado para destinação final).
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Hoje em dia, existe consciência de que o lucro não é o único fator a ser almejado
pelas empresas: além de interesses econômicos, é preciso também tratar de interesses
sociais, ambientais e governamentais.
O mercado de automóveis nos fornece uma boa ilustração de algumas das transações
comerciais que ocorrem após a venda de um bem: um carro pode ser revendido
em uma loja de carros usados (o chamado mercado de segunda mão); antes de ser
revendido, o carro pode ser reparado; as peças danificadas podem ser substituídas
por novas, e as usadas, encaminhadas para remanufatura e, depois, vendidas no
mercado de peças usadas.
16 Fundamentos de logística reversa
Então, essas duas fases da logística passam a ser exercidas de forma si-
multânea, em uma cadeia de suprimentos integrada, na qual melhorias em
materiais, tecnologias e processos são promovidas pensando-se em ambos os
fluxos ao mesmo tempo, por meio de articulação e parceria. Ou seja, logística
direta e reversa não são compreendidas como coisas separadas, mas como
elementos fortemente relacionados que integram algo maior, que é a cadeia
de suprimentos. E essa atuação conjunta permite uma maior visibilidade e
controle de processos, o que aumenta a performance da logística e o desem-
penho empresarial.
A cadeia de suprimentos envolve processos como fornecimento, fabricação,
distribuição, venda e consumo, todos eles demandando operações logísti-
cas, tanto diretas quanto reversas. Quando a logística direta está ocorrendo,
o fluxo dos materiais entre esses processos ocorre na direção do fornecedor
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