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LOGÍSTICA III

Gisele Lozada
Histórico e conceituação
da logística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer a contribuição da logística para a melhora nas condições


de bem-estar das pessoas e o comércio internacional.
„„ Identificar os principais conceitos sobre logística integrada e gestão
da cadeia de suprimentos.
„„ Definir as funções do composto de atividades logísticas.

Introdução
A logística empresarial evoluiu muito nas últimas décadas, desempe-
nhando função fundamental nas relações entre parceiros comerciais
nacionais e internacionais, o que fez com que alcançasse um papel central
na economia moderna. Atualmente, a logística é responsável por levar
bens e serviços aos mais diversos lugares do mundo, até mesmo aqueles
antes desassistidos. Com isso, vem contribuindo de forma expressiva
para ganhos de competitividade empresarial, oportunizando melhores
resultados para as organizações e promovendo o bem-estar da sociedade
em geral.
Neste capítulo, você estudará sobre o histórico da logística e seus
principais aspectos , bem como conhecerá as funções dos seus com-
postos de atividades.

Contribuições da logística
Segundo Ballou (2006), a logística surgiu há muito tempo — talvez antes do
que você imagine —, quando o homem deu início às operações produtivas
organizadas, que iam além da subsistência. Porém, a expansão da logística
é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade. Por muito
2 Histórico e conceituação da logística

tempo, a inexistência de sistemas desenvolvidos de transporte e armazenamento


impactou diretamente e significativamente a vida das pessoas. Os povos mais
antigos produziam aquilo que precisavam para seu consumo, o transporte de
produtos era limitado, e estruturas de armazenagem eram precárias, restrin-
gindo as opções de consumo aos produtos produzidos pela comunidade local e
seu entorno. Isso fazia com que eles tivessem de ser consumidos com rapidez
em seus lugares de origem, já que não havia alternativas de armazenamento
para produtos perecíveis por um prazo mais longo. Com o passar do tempo,
os produtores começaram a se dar conta da possibilidade de trocas entre
produtores próximos, permitindo que aquilo que sobrasse na produção de um
pudesse ser trocado por algo que lhe faltasse, mas que sobrava na produção
de outro. Iniciaram-se, assim, os movimentos de mercadorias, e os conceitos
de logística começaram a tomar forma.
O tempo foi passando, e essas operações foram sendo aperfeiçoadas, per-
mitindo transações entre localidades cada vez mais distantes e envolvendo
diferentes elementos. Diferentes acontecimentos ao longo da história demons-
tram tal evolução, como a construção das pirâmides do Egito.

A construção das pirâmides do Egito é um exemplo das primeiras utilizações da logística,


quando os egípcios trouxeram materiais de locais distintos daquele onde a produção
estava acontecendo, havendo pessoas envolvidas cujas atribuições eram focadas
em garantir o abastecimento dos produtos para que a produção pudesse acontecer.

Porém, o principal personagem na história da logística foi, sem dúvida,


a guerra. O cenário militar foi o ambiente no qual a logística teve seu maior
desenvolvimento. Podemos vincular a palavra logística ao termo loger — em
francês, que significa alojar —, associado ao transporte, abastecimento e
alojamento de tropas. Depois, esse conceito foi sendo adaptado a outras rea-
lidades, sendo levado ao cenário da indústria, principalmente em função da
Revolução Industrial, inicialmente focada no trânsito dos produtos e, depois,
na satisfação do cliente.
Histórico e conceituação da logística 3

Durante a Segunda Guerra Mundial, o conceito de logística foi utilizado pelas forças
armadas, consistindo no processo de aquisição e fornecimento de materiais para
atender aos objetivos de combate.
A importância da logística pode ser percebida até mesmo em episódios ocorridos na
época em que ela ainda estava iniciando seu desenvolvimento: a falta de suprimentos ao
exército alemão foi um fator muito impactante na derrota sofrida pelo exército alemão.

Em colaboração a Ballou (2006), Bowersox et al. (2014) comenta que o


processo logístico envolvido na cadeia de suprimentos vem evoluindo muito
nos últimos tempos. Até a década de 1990, o processamento de um pedido
envolvia, na grande maioria das vezes, tecnologias como telefone e fax e, até
mesmo, os correios. Nessa época, o processamento e a entrega de um pedido
costumavam levar entre 15 e 30 dias — o que, para os dias atuais, é um prazo
impraticável na esmagadora maioria dos casos. Esse prazo longo devia-se
às etapas envolvidas no processo e na forma como eram desempenhadas. O
pedido era criado pelo cliente e transmitido ao fornecedor, que o processava por
meio de sistemas manuais ou computadorizados e o destinava a um depósito
para separação e entrega ao cliente. O prazo, que já era longo quando todas
essas operações ocorriam como planejadas, ficava ainda maior se algo desse
errado, como falta do produto em estoque, pedido de compra extraviado ou
processado com erro, entrega no local errado, entre outros.
Para tentar contornar esse tipo de problema, muitas empresas mantinham
altos níveis de estoques, gerando elevados custos, sem levar a uma solução
efetiva para os problemas mencionados. Contudo, essa prática, assim como
a estrutura de canais de distribuição utilizados, foi aos poucos mostrando-se
ineficaz. Afinal, aquele cenário dos tempos da Revolução Industrial, marcado
pela escassez (maior procura da oferta de produtos), há muito deixou de ser
uma realidade. Atualmente, os consumidores (sejam eles pessoas ou empresas)
demandam uma ampla gama de opções de bens e serviços, cuja variedade é
cada vez maior por ser associada a especificações individuais. E isso levou a
uma considerável mudança no projeto e na entrega de bens e serviços.
4 Histórico e conceituação da logística

Hoje, a capacidade de transporte e o desempenho operacional são cada


vez mais econômicos e confiáveis, apoiados por sistemas de informação
sofisticados que viabilizam entregas previsíveis e precisas. Além disso, é
possível acompanhar continuamente as cargas e receber notificações quase
instantâneas sobre eventuais atrasos nas entregas. Isso se deve às significativas
mudanças promovidas pela tecnologia da informação, iniciadas pelo advento
dos computadores, da internet e de uma série de possibilidades acessíveis de
transmissão de informações que passaram a ser realidade a partir da década
de 1990. Neste novo cenário, a informação passou a ser mais veloz, acessí-
vel, acurada e relevante, e a internet se transformou em um modo comum e
econômico de realizar transações, tornando os consumidores cada vez mais
ligados de forma direta às empresas, o que é ainda mais expressivo no caso
das operações entre essas (o chamado B2B — business-to-business).

Você pode saber mais sobre a história da logística na obra Gestão logística da cadeia
de suprimentos (BOWERSOX et al., 2014).

Em continuidade, Ballou (2006) relata que a logística tem, inclusive, a


capacidade de promover mudanças estratégicas nas organizações, como a alte-
ração na configuração das vendas, passando de lojas físicas para virtuais. Isso
garante não somente melhores resultados para as empresas, mas, até mesmo,
permite que negócios continuem existindo. Atualmente, a logística facilita
a aquisição de bens e serviços, atendendo às necessidades das pessoas, com
compras pela internet, cujas entregas são cada vez mais rápidas, com produtos
vindos de todas as partes do mundo, e com a possibilidade de monitoramento.

O comércio é um cenário que permite demonstrar a adaptação estratégica promovida


pela logística: negócios que inicialmente focavam em vendas apenas em lojas físicas
passaram por forte estagnação, e muitos conseguiram contornar o problema aderindo
às práticas de venda pela internet, em que a logística é fundamental.
Histórico e conceituação da logística 5

O fato é que o surgimento e o desenvolvimento da logística trouxeram a


possibilidade do consumo de produtos de diferentes localidades, até mesmo de
países distantes, como China, Japão e Estados Unidos, promovendo a expansão
do comércio internacional, que foi potencializado pela evolução dos canais
logísticos. Com isso, a logística no contexto empresarial transformou-se em uma
premissa para o comércio internacional, englobando eficiência, planejamento
e manutenção de suprimentos. Como reflexo, a partir do surgimento e avanço
da logística e da expansão do comércio internacional, as trocas culturais foram
ampliadas, possibilitando um conhecimento maior sobre diferentes culturas,
comportamentos e tradições.

A logística ocupa papel de destaque nas relações de consumo, promovendo a operação


das empresas e, até mesmo, a expansão do comércio a níveis internacionais, gerando
resultados que muito contribuem para a satisfação e o bem-estar das pessoas.

Ballou (2006) ainda chama atenção para a importância e os benefícios


da logística, destacando que ela permite operações com estoques reduzidos,
uma vez que as empresas não precisam mais adquirir grandes quantidades
de produtos de seus fornecedores para garantir seus níveis de operação. Isso
resulta na redução dos custos relativos aos estoques, permitindo investimento
em outras frentes, como pesquisa e desenvolvimento e novas tecnologias.
Além disso, a integração logística permite o monitoramento de pedidos, tanto
pelo fornecedor quanto pelo cliente, viabilizando experiências positivas que
promovem a atividade econômica, uma vez que todos têm a oportunidade de
desfrutar de um sistema de entregas mais rápido e confiável.
A logística existe desde o começo da civilização, com desenvolvimento
mais marcante no contexto militar, cujos conceitos depois foram levados para
indústria, principalmente em função da Revolução Industrial. Inicialmente,
estava voltada ao trânsito dos produtos e, depois, passa a ser focada na satis-
fação do cliente. Mas esse cenário continua em constante evolução ainda no
século XXI, onde a implementação das melhores práticas é o foco de uma das
áreas operacionais mais estimulantes e desafiadoras da gestão da cadeia de
suprimentos. E tudo isso deu origem ao desenvolvimento de novos conceitos
ligados à logística, o que será visto a seguir.
6 Histórico e conceituação da logística

Logística integrada e gestão da cadeia de


suprimentos
Como já destacado por Ballou (2006), um dos primeiros conceitos de logís-
tica que pode ser mencionado é aquele derivado do contexto militar, em que
a logística era compreendida como um ramo da ciência militar responsável
por lidar com a obtenção, manutenção e o transporte de material, pessoas e
instalações. Adaptado ao contexto empresarial, esse conceito ganha novos
elementos, devido à distinção entre objetivos e atividades desses dois con-
textos. No cenário empresarial, uma boa definição de logística é dada pelo
Council of Logistics Management (CLM — Conselho de Gestão Logística,
entidade americana de profissionais de logística), que diz que a logística é o
processo de planejamento, implantação e controle do fluxo de mercadorias,
serviços e informações, desde o ponto de origem até o consumo, tudo sendo
feito de forma eficiente e eficaz, com o propósito de atender às exigências
dos clientes. Tal definição engloba a noção de que a logística abrange todas
as atividades inerentes ao fluxo de mercadorias, desde a matéria-prima até o
ponto de consumo. Ou seja, ela não contempla apenas as atividades de trans-
porte, ainda que elas sejam muito importantes no processo, mas, também, as
de armazenamento e os processos administrativos de controle.
Até os anos de 1960, as atividades administrativas caracterizavam-se por
uma grande fragmentação, pois as empresas administravam suas diferentes
áreas de forma separada, cada uma lidando com suas metas e seus desafios
individuais. Porém, com o passar dos anos, as empresas começaram a per-
ceber que isso não era benéfico para a organização como um todo, pois seus
objetivos dependiam de esforços oriundos de todas as áreas, sendo que cada
uma impactava no desempenho da outra. Então se iniciou um movimento
de gestão integrada, em que áreas tradicionais, como finanças, marketing e
produção, passaram a ser observadas por uma ótica sistêmica, promovendo
um conceito de gestão coordenada de atividades inter-relacionadas. O Quadro
1, a seguir, resume a evolução da logística.
Histórico e conceituação da logística 7

Quadro 1. Surgimento e evolução da logística

Características e contribuições
Época ou contexto
para a evolução da logística

Coleta e caça As atividades logísticas ainda não existiam.

Cultivo e pecuária Necessidade de estocar produtos.

Contexto militar Idade média, cruzadas, navegações,


transporte e manutenção de tropas.

Revolução Industrial Aumento do número de produtos,


urbanização europeia e novos mercados.

Antes de 1950 Atividades logísticas desmembradas.

Entre 1950 e 1970 Desenvolvimento da logística, com a mudança


de foco do produto para o cliente; surgimento do
marketing; e aumento do uso do transporte aéreo.

A partir de 1970 Internacionalização da economia, integração


da logística, gestão da informação digital.

Fonte: Adaptado de Ballou (2006).

Tal cenário destaca as interações que ocorrem entre as funções de


marketing, logística e produção de uma empresa, sendo que cada área envolve
determinadas atividades e responsabilidades para o bom desempenho do
conjunto — como a comunicação da empresa com o mercado, que é uma
atribuição atrelada majoritariamente ao marketing. A partir disso, surgem
novas importantes definições relevantes no contexto da logística, como logística
empresarial, logística integrada, cadeia de suprimentos e gerenciamento da
cadeia de suprimentos.

O surgimento e a evolução da logística levaram à formulação de importantes conceitos,


como logística empresarial, logística integrada, cadeia de suprimentos e gerenciamento
da cadeia de suprimentos.
8 Histórico e conceituação da logística

Nesse contexto, a logística ganha destaque, e surge a concepção de logís-


tica empresarial, derivada da percepção de que a logística agrega valor aos
produtos e serviços, o que é essencial para a satisfação dos clientes, podendo,
assim, promover aumento das vendas e dos lucros da organização.
Na sequência evolutiva de percepções, a logística passa a receber mais
atenção, e surge o conceito de logística integrada, em que as diferentes faces
da logística, como administração de materiais, movimentação de materiais e
distribuição física, passam a ser tratadas de forma conjunta. Atividades como
previsão de demanda, compras, planejamento de necessidades e da produção
são agrupadas em um único setor chamado compras e gestão de materiais, que
passa a realizar de forma conjunta essas diversas funções anteriormente depar-
tamentalizadas. Em contrapartida, outros setores assumem responsabilidades
de forma mais clara, como o setor de distribuição, responsável por atividades
de processamento de pedidos, transporte e estocagem de produtos acabados,
e setor de estoque, que cuida dos itens disponíveis para comercialização por
parte da empresa. Com isso, forma-se a área de logística, que agrupa e coor-
dena esses diferentes setores, sendo responsável pela logística como um todo
e tendo uma visão macro da mesma e sua importância para a organização.
A logística esteve presente em vários modelos de produção, onde de-
sempenhava importante papel, como a produção em massa da Ford (peças
intercambiáveis, especialização das atividades de produção e montagem) e a
produção enxuta da Toyota (estoques mínimos, maior qualidade, redução de
desperdícios). Essas preocupações foram sendo adaptadas e consolidadas ao
longo do tempo, sendo levadas para a produção em seus diferentes estágios,
colaborando para o surgimento do conceito de cadeia de suprimentos (supply
chain). Esta consiste em um conjunto de atividades funcionais que se repetem
diversas vezes ao longo do processo pelo qual matérias-primas são transfor-
madas em produtos acabados, que têm valor agregado para o consumidor,
conforme apresentado na Figura 1. Essas atividades são desempenhadas por
diferentes agentes integrantes da cadeia de suprimentos, como fornecedores de
matérias-primas, fábricas, pontos de distribuição e de vendas, que geralmente
estão em localizações distintas, o que é viável graças aos avanços da logística
e ao contexto da cadeia de suprimentos.
Histórico e conceituação da logística 9

Uma empresa destinada à fabricação de um determinado produto pode ter seus


projetos desenvolvidos na Europa, peças vindas da África, montagem realizada na
Ásia, e produtos vendidos no Brasil, tudo isso contando com apoio da logística e da
cadeia de suprimentos.

Figura 1. A cadeia de suprimentos.


Fonte: Ballou (2006, p. 30).

Bowersox et al. (2014) comenta que essa mudança toma mais corpo na
última década do século XX, que correspondeu ao início de uma expansão
que levou à era da informação (ou era digital), em que a conectividade de ne-
gócios deu origem a uma nova ordem de relacionamentos, chamada gestão da
cadeia de suprimentos (supply chain management — SCM). Nesse contexto,
10 Histórico e conceituação da logística

a associação de novas práticas de marketing, manufatura, compras e logística


leva a produtos que são fabricados atendendo a especificações e entregues com
rapidez em vários pontos do mundo — com casos em que o tempo transcorrido
entre o pedido e a entrega pode corresponder a algumas horas. Isso levou a um
ganho de desempenho geral, envolvendo os vários aspectos que antes eram
considerados problemas (variedade, agilidade, ausência de erros e defeitos),
que ainda é alcançado a um custo total mais baixo, ou seja, um conjunto de
condições impulsionado principalmente pela tecnologia da informação.

Os avanços da tecnologia da informação levaram a significativas mudanças no cenário


dos negócios e, como consequência, a uma nova forma de relacionamento: a cadeia
de suprimentos, cuja gestão passa a ser fundamental para as organizações.

Ballou (2006) ainda relata que, no contexto da gestão da cadeia de supri-


mentos, a logística é compreendida como um processo (conjunto de atividades)
que faz parte de outro ainda maior, que é a cadeia de suprimentos. Nela,
embora compreendida como uma parte do todo, a logística é tida como peça
fundamental, que promove importante interação entre os vários agentes da
cadeia de suprimentos. Esta passa a ser vista como uma entidade única, que
requer uma nova abordagem sistêmica, cuja chave é a integração entre os
diversos agentes. Desse modo, assim como a logística integrada é uma evolução
da logística em seu conceito inicial, a gestão da cadeia de suprimentos é, de
certa forma, uma evolução da logística integrada, porém indo além dos limites
das instalações das empresas, integrando fábrica, fornecedores, atacadistas,
varejistas e consumidor final. O conjunto das atividades envolvidas com a
logística e a evolução de sua organização para o conceito da gestão da cadeia
de suprimentos é apresentado na Figura 2, a seguir.
Histórico e conceituação da logística 11

Figura 2. A evolução da logística para a gestão da cadeia de suprimentos.


Fonte: Ballou (2006, p. 30).

Nesse cenário, podemos considerar que outras áreas organizacionais


também participam da gestão da cadeia de suprimentos, como é o caso dos
departamentos financeiro e de planejamento estratégico, que buscam garantir
a assertividade das decisões de planejamento e orçamentárias. Além disso,
com a popularização da gestão pela qualidade total, outras áreas e funções
surgiram e passaram a fazer parte do cenário, como o controle de qualidade,
que inicialmente focava em auditoria e controle de processos, e a assessoria
de planejamento, que, embora não esteja atrelada diretamente à logística, é
demandada pela qualidade total.
Para que se possa compreender ainda melhor os conceitos envolvidos
no contexto da gestão da cadeia de suprimentos, convém uma verificação
detalhada do composto de atividades envolvidas com a logística.
12 Histórico e conceituação da logística

Funções do composto de atividades logísticas


De acordo com Ballou (2006), a gestão da cadeia de suprimentos é um conceito
central para a logística moderna, uma vez que essa cadeia abrange todas as
atividades relacionadas ao fluxo e à transformação de mercadorias, desde o
estágio da matéria-prima até o usuário final, bem como os respectivos fluxos
de informação. Dessa forma, podemos dizer que o principal objetivo, ou a
missão, da gestão da cadeia de suprimentos é colocar os produtos ou serviços
certos no lugar certo, no momento certo e nas condições desejadas, dando,
ao mesmo tempo, a melhor contribuição possível para a empresa. Para tanto,
a cadeia de suprimentos tem uma visão sistêmica da operação empresarial,
buscando otimizar todas as relações entre as partes. Além dessa atribuição
principal, a gestão da cadeia de suprimentos também tem outras importantes
responsabilidades, como a integração dos processos de marketing e comu-
nicação, a escolha das melhores opções de transporte e o cuidado com a
estocagem, garantindo a utilização otimizada dos sistemas de armazenagem.
Desse modo, segundo o autor, o propósito central da logística é fazer com
que os produtos sejam movimentados e cheguem na hora certa, no local certo
e nas condições adequadas. Em colaboração, Bowersox et al. (2014) comenta
que, para isso, utiliza um conjunto de atividades relacionadas ao transporte e
armazenamento de materiais, que vai desde a aquisição das matérias-primas,
passa pelas movimentações relacionadas aos diferentes estágios da produção,
até a entrega dos produtos para o consumidor final. Assim, ao pensar na
logística integrada, podemos considerar que ela agrupa as diferentes faces da
logística, compreendendo o importante papel desempenhado por cada uma e
tratando-as de forma conjunta.

„„ Administração de materiais: trata das operações relacionadas ao fluxo


de insumos, compreendendo o processo que vai da captação de matérias-
-primas à fábrica, o que inclui negociar a aquisição, providenciar o
transporte, garantir o controle de qualidade, gerir o armazenamento,
etc., com o objetivo de reduzir custos, estabelecer bons vínculos com
fornecedores e outros parceiros e agilizar a produção.
„„ Movimentação de materiais: trata do transporte dos insumos para
garantir o abastecimento eficiente da linha de produção (sem faltas
ou excessos), bem como dos materiais em processamento, o que inclui
encaixotar, armazenar e administrar o estoque de maneira eficiente (do
ponto de vista do tempo e do espaço físico).
Histórico e conceituação da logística 13

„„ Distribuição física: trata de levar os produtos aos seus pontos de distri-


buição ou de venda ao consumidor final, garantindo qualidade, agilidade
e preço baixo.

Segundo Ballou (2006), no contexto da gestão da cadeia de suprimentos,


a logística existe para transportar e posicionar estoques com o objetivo de
conquistar benefícios relacionados ao tempo, ao local e à propriedade desejados
pelo menor custo total. Desse modo, olhando para a logística sob a ótica da
gestão da cadeia de suprimentos, podemos considerar que a logística empre-
sarial é formada por um composto de atividades que variarão entre diferentes
tipos de negócio, mas que geralmente compõe dois grandes grupos, que são
as atividades-chave e as atividades de suporte, conforme detalhado a seguir.

Atividades-chave

„„ Serviços ao cliente em cooperação com o marketing: busca determinar


as necessidades e expectativas dos clientes em relação à logística,
visando a determinar a reação dos clientes ao serviço e estabelecer os
níveis de serviço ao cliente.
„„ Transporte: é uma das principais atribuições da logística, incluindo
responsabilidades de seleção dos modais e serviços de transporte,
consolidação dos fretes, determinação dos roteiros, programação de
veículos, seleção de equipamentos, entre outras.
„„ Gerência de estoque: define as políticas de estocagem de matérias-
-primas e produtos acabados, bem como a previsão de vendas em curto
prazo e variedade de produtos nos pontos de estocagem, determinação
dos pontos de estocagem (número, tamanho e localização), e ainda
participa da definição de estratégias de produção (como just in time,
puxada e empurrada).
„„ Fluxo de informação: cada vez mais relevantes nos sistemas logísticos
modernos, inclui o processamento de pedidos, a interface entre pedidos
de compras e estoques, a transmissão de pedidos e os métodos como
isso será realizado, entre outras regras de comunicação das informações.
14 Histórico e conceituação da logística

Atividades de suporte

„„ Armazenagem: inclui determinação do espaço e layout do estoque,


configuração de armazéns e localização do estoque.
„„ Manuseio dos materiais: inclui a seleção de equipamentos e normas de
substituição dos mesmos e, ainda, procedimentos para separação de
pedidos, alocação e recuperação de materiais.
„„ Compras: envolve a seleção das fontes de suprimentos, bem como a
definição do momento e da quantidade das compras.
„„ Embalagem: tem a função de embalar os materiais de modo a promover o
manuseio e a estocagem de maneira protegida, evitando perdas e dados.
„„ Cooperação com produção e operações: visa a especificar as quantidades
agregadas, a sequência e os prazos do volume de produção e, ainda, a
programação de suprimentos para a produção/operação.
„„ Manutenção e informações: inclui coleta, armazenamento e manipulação
de informações, bem como análise de dados e procedimentos de controle.

No contexto da gestão da cadeia de suprimentos, a logística é composta por um


conjunto de atividades que se dividem em atividades-chave e de suporte.
„„ Atividades-chave: serviços ao cliente, transporte, gerência de estoques e fluxo de
informações.
„„ Atividades de suporte: armazenagem, manuseio de materiais, compras, embala-
gem e outras.

As atividades-chave integram o caminho crítico do canal de distribuição


física imediato de uma empresa, que diz respeito à transmissão do pedido
pelo cliente, o processamento desse pela empresa e a entrega do pedido ao
cliente. São essenciais para a coordenação e conclusão eficiente da logística
e geralmente correspondem à maior parte dos custos. Já as atividades de
suporte, embora sejam tão importantes quanto as chave, são consideradas
coadjuvantes, por contribuírem para a logística em segundo plano, ocupando
posição de apoio.
Histórico e conceituação da logística 15

Cabe ainda comentar que as atividades logísticas (chave e de suporte)


podem também ser agrupadas de outra forma, partindo da segmentação de
suas responsabilidades em partes menores, que podem ser associadas a duas
grandes demandas: o abastecimento físico e a distribuição física, conforme
apresentado na Figura 3, a seguir.

Figura 3. Atividades logísticas na cadeira de suprimentos.


Fonte: Ballou (2006, p. 31).

Existem, ainda, outros modelos de gestão integrada que tratam os processos envolvidos
na gestão da cadeia de suprimentos de maneira diferenciada da apresentada até aqui.
Você pode saber mais sobre um deles na obra Gestão logística da cadeia de suprimentos
(BOWERSOX et al., 2014).

Em síntese, podemos concluir que a logística evoluiu muito desde seus


primórdios. Surgiu como uma mera atividade facilitadora de trocas entre
aldeias, depois, passou pelo contexto da estratégia militar e, finalmente,
despontou no ambiente organizacional como uma condição essencial ao de-
16 Histórico e conceituação da logística

senvolvimento competitivo, onde continua evoluindo constantemente. Tendo


em vista esse papel de destaque, sua gestão é fundamental, podendo trazer
incontáveis benefícios para as empresas, a economia mundial e a sociedade
em geral, permitindo cada vez mais a satisfação e melhor qualidade de vida
para as pessoas.

BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos/logística empresarial. 5. ed. Porto


Alegre: Bookman, 2006.
BOWERSOX, D. J. et al. Gestão logística da cadeia de suprimentos. 4. ed. Porto Alegre:
AMGH, 2014.

Leituras recomendadas
FITZSIMMONS, J. A.; FITZSIMMONS, M. J. Administração de serviços: operações, estratégia
e tecnologia da informação. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
IZIDORO, C. Gestão de tecnologia e informação em logística. São Paulo: Pearson, 2016.
JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração de operações e da cadeia de suprimentos. 13.
ed. Porto Alegre: AMGH, 2012.
REIS, J. G. M. Gestão estratégica de armazenamento. Curitiba: InterSaberes, 2015.

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