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DIVERSOS

OS PAIS E OS CASTIGOS (*)


EVA GIBERTI, com a colaboração de ALICIA CASULLO(")

"Em geral, só se fazem observações sôbre algo


que desperte um interêsse ou expectativa - por muito
obscuro, inexpressivo ou não manifesto que possa ser,
e as expectativas são tais que se fôssem verbalizadas
seriam expressões de hipóteses". - JOHN OULTON
WISDOM - A explicação hipotética-dedutiva (1)
"A cultura não é um sistema super-humano, supremo
e imutável, fóra do alcance e contrôle do homem;
também mostra que podemos mudar a cultura modi-
ficando o que pensamos, fazemos, sentimos, o que

II ensinamos e o modo como educamos nossos filhos ...


O homem e seus semelhantes criam a cultura e, ao
mesmo tempo, são responsáveis por ela". LA WRENCE
K. FRANK - Nature and Human Nature, citado por
1 T. Brameld (4).

tste trabalho se baseia na opinião de dois autores, talvez muito


diversos. A afirmação de OULTON WISDOM nos apresenta um esquema
descritivo, mas, como entendemos que a atualmente não será possível de-
I
I
linear objetivamente realidades culturais e psicológicas, iniciamos nossa
posição por meio da citação de L. FRANK, teórico da cultura, cujas palavras
supõem uma direção e um compromisso no âmbito cultural e psicológico.
I Nosso interêsse em tôrno dêste tema deve-se a muitas razões, mas
nossa expectativa teve uma dupla origem. Por um lado, a experiência
dos psicanalistas nos havia mostrado que dar à mãe indicações sôbre
castigos, não cumpridas, produzia nela uma grande ansiedade. Por outro
I lado, a experiência pessoal através de conversas e conferências com grupos
numerosos de pais nos havia mostrado que cada vez que êsse tema surgia,
1 uma grande porcentagem de perguntas se orientava para a administra-
ção do castigo. Com notável freqüência os pais perguntavam: "Se não
batemos nas crianças, o que devemos fazer?" Era evidente que se tratava
de deslocar o conflito, para que fôsse resolvido por quem orientava o
grupo (além da preocupação real pelo tema). Via-se claro a necessidade
de "pôr fora" dêles o que acabavam de perceber como perigoso, através
das palavras do conferencista.

(*) Contribuição livre para o VIII Congresso Interamericano de Psicologia,


Mar deI Plata, 1 a 6 de abril de 1963.
(**) Tradução do espanhol por Beatriz Repetto. i I
72 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTtCNICA

Sendo de interêsse imediato conseguir uma melhor e mais efetiva


divulgação daqueles temas que pudessem melhorar a relação pais---filhos,
encontramo-nos diante de um dilema: se através dos contatos pessoais,
tal como informa a entrevista psicoanalítica, conhecíamos a ansiedade que
pode produzir o não cumprimento de uma recomendação (no caso de ser
utilizada essa técnica); se havíamos podido observar, por outro lado, a
inquietação que essa mesma recomendação produzia em numerosos grupos,
que assistiam a conferências ou liam certos artigos de divulgação, preci-
sávamos saber como e o que respondiam êsses pais, quando se perguntava
qual era seu comportamento: se castigavam ou não a seus filhos.

Necessitávamos saber, não os motivos profundos que os levavam a


castigar, mas como se viam a si mesmos, enquanto castigavam e de que
maneira o verbalizavam. Precisávamos conhecer o que pensavam sôbre
o castigo e, sobretudo, qual seria a expressão cultural dêste pensamento e
de sua conduta.

Isso nos seria imprescindível para realizar uma divulgação positiva


e concreta sôbre a situação, castigo entre pais e filhos. Precisávamos ter
informações sôbre o que se diz usualmente sôbre os castigos ministrados
aos filhos, para sabermos que variáveis culturais poderiam interferir na
motivação profunda, que determine ou não o castigo.

Na situação mãe que bate, filho que apanha (a qual é muito com-
plexa), precisávamos atingir o exterior dessa relação - o permitido e o
censurado, culturalmente, que acompanham a dinâmica profunda, tal as-
pecto não pode ser subestimado ou descuidado, numa tarefa de divulgação
e ensino.

SENTIDO DA PALAVRA "CASTIGO"

o tipo de castigo de que tratamos neste trabalho, é o que corres-


ponde à sanção incoerente, não funcional com relação aos fins, como
reação física, por exemplo, no caso de desobediência.

Desdobramos esta categoria de castigo em dois itens: 1) violências


físicas (golpes, pauladas, puxões de cabelo, etc.); 2) ameaças não fun ..
ç~on~is! i~to é~ incoerentes (prisão, privação de jogos e divertimentos, etc.).
OS PAIS E OS CASTIGOS 73

Não consideraremos o castigo coerentemente relacionado com a


incorreção cometida, visto que exclui o golpe físico.

o INTERRSSE ESTATtSTICO

Um dos elementos mais importantes, dentro das técnicas de divul-


gação, é a parte referente aos números, às cifras, às percentagens, que
permitem ao público comprovar que não se está isolado, mas sim partici-
pando de um problema comum.
O que desconhecíamos, estatisticamente, era o que os pais verba-
lizariam, postos em situação de declarar se batiam em seus filhos ou não,
e, se os castigavam, de que maneira o faziam. Estávamos em face do que
BUNGE (2) assinalava para caracterizar um problema: "Preencher um vazio
existente em nosso equipamento biopsíquico ou cultural".
Nossa primeira hipótese foi esta: A maioria dos pais que castigasse
seus filhos negaria tal fato; ou, pelo menos, seriam pouco explícitos em
suas respostas. Essa hipótese não se confirmou: 89% dos pais declararam
bater em seus filhos. Somos agora levados a crer que não havíamos feito
uma hipótese, mas seguido um preconceito. Além do mais, através dos
primeiros interrogatórios encontramos o que POPPER (3) denomina um "ho-
rizonte de expectativas", para designar a soma de expectativas na qual
não se pode traçar uma linha divisória entre as noções pré-científicas, ou
do sentido comum, e as hipóteses, propriamente ditas.
Interessava saber também o que responderiam as crianças quando
se lhes perguntasse se os adultos tinham o direito de bater-lhes, e em que
circunstâncias. E o que responderiam os pais com relação 8' suas próprias
lembranças sôbre os castigos recebidos.
Necessitávamos ter informações, além do conhecimento dos motivos
profundos inconscientes que levam ao castigo, e, além da influência da
agressividade implicada, de que forma se viam os pais como responsáveis
por castigos físicos; e, enfim, se essa visão de si mesmo seria resultante
de uma norma social referente ao castigo. Daí, a necessidade de infor-
mações estatísticas.
Neste trabalho não damos destaque à função e importância da culpa
para ambas as partes da relação pais-filhos, dado que êsse aspecto foi,
E' continua sendo, aprofundado pela psicanálise, razão por que e~capa aºª
pbjetivos desta exposição,
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OBTENÇAO E ORDENAÇAO DO MATERIAL

As tentativas, explorações e conclusões que a seguir ser ao expostas,


fazem parte de um trabalho maior, em preparação. O que se segue é
uma exploração prévia do material observado, e de domínios ainda não
sistematizados.
Utilizamo-nos de um questionário cuja finalidade seria essa tarefa
exploratória, inicial, como base de trabalho posterior. Buscaria, assim,
infórmações descritivas.

CARACTER1STICAS DAS PERGUNTAS

1) Dirigidas à mãe:
1.1 - Bate, ou não, em seu filho?
1.2 - Onde, como, e com que, bate na criança?
1.3 - Bate na presença de outros?
2) De referência à reação emocional materna, no momento de bater,
foi tal a estereotipia das respostas, que poderemos resumir as perguntas
em dois itens, ainda que correndo o risco de prejulgar:
2.1 - Bate em seu filho quando êle a deixa nervosa?
2.2 - Bate quando está com raiva?
3) A respeito do que pensa a mãe sôbre os castigos físicos:
.
3.1 - Crê serem educativas as pancadas?
3.2 - Julga que são elas necessárias?

Não desconhecemos que essas perguntas podem alterar a dinâmica


do interrogatório, levando a mãe a perceber que haja uma crítica implí-
cita em relação a seus atos.
4) Outros tipos de castigos: ameaças, incluindo sustos?
5) Que outras pessoas batem na criança?
Outras perguntas foram feitas, excluídas porém, desta expOSlçao,
dada a dificuldade que oferecem a um tratamento estatístico. Entre elas:
Como reage a çriança em face do castigo?
OS PAIS E OS CASTIGOS 75

6) Dirigidas ao filho:
6.1 - Sua mãe pode castigá-lo fisicamente? (esclarecendo que
se tratava do direito de fazê-lo) .
6.2 - Quando e por quê?
6.3 - Quem mais pode bater em você?
Estas perguntas, que não respondem ao propósito central da ques-
tão, foram incluídas intuitivamente (valorizando-se a intuição como subs-
tância psicológica). Posteriormente surgiram os resultados referentes às
respostas das crianças, os quais exporemos mais adiante.

T:eCNICA DO QUESTION ARIO

1!::sse questionário foi aplicado no consultório da Cadeira de Pe-


diatria do Hospital Infantil e nos consultórios particulares dos Drs. J.
SALZMAN e F. ESCARDo. No Hospital Infantil estêve a cargo do Professor
ESCARDO e das autoras dêste trabalho. Nos consultórios particulares, a
cargo dos profissionais que nêles trabalhavam. Apesar dos resultados não
terem sido obtidos através de uma amostra aleatória, podemos afirmar
que, dada a diversidade do público que acorre a êstes consultórios, estão
incluídos pais pertencentes a diferentes níveis socioculturais e econômicos.
Mães e filhos responderam às perguntas separadamente. Foram
excluídas as crianças que, por sua idade, não podiam falar e aquelas em
que a comunicação era impossível.

A idade das crianças entrevistadas oscila entre os dois anos e meio


e os doze anos.
De 100 questionários, 87 foram separados para tratamento estatís-
tico.

DESCRIÇAO DOS RESULTADOS OBTIDOS

A pergunta: Bate em seu filho? 89% dos interrogados deram res-


posta positiva: sim, bato.
O resto declarava não bater nos filhos.
76 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Bate em seu filho?


Sim ........... 88,5%
Não ........... 11,5%

Gráfico 1

60%

50%

30%
24%
20%

10%
6%
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Gráfico 11

Para a pergunta: em que parte do corpo, castiga fisicamente a


criança (utilizamo-nos da nomenclatura usada pelos pais):

- nas nádegas, 60%;

- onde quer que pegue, 21 % . (Estas são as porcentagens signi-


ficativas, se bem que tenhamos obtido outras respostas: nas mãos, na
cabeça) .
Em que parte do' .corpo
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o castiga?
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Gráfico III Gráfico IV


Como bate em seu filho? Com que bate em seu filho?

80%

70%

60%

50% 50%

40% 40%

30% 30%

20% 20%

10% 10%

51,4% 27% 14% 1,3% 1,3%


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78 ARQUIVOS BRASILEiROS DE PSiCOTÊCNtCA

Gráfico V
Ameaça-o ou assusta-o?

.. Sim ............ 75%


Não ............ 20%
As vêzes . ....... 5%

Com o que o ameaça ou assusta?


A - Em tirar-lhe a liberdade física e prendê-lo 30%
B - Com figuras que causam dor ................... 24%
C - Em abandoná-lo ................................ 10%
D - Em negar-lhe o que mais deseja. ... ............ 18%
E - Em agredi-lo fisicamente ...................... 18%

Gráfico VI
30%

20%

10%

A B C D E

Bate em seu filho na presença dos outros?


Sim, 81,7% Não, 12,7% As vêzes 5,6%
OS PAIS E oS CASTIGOS 79

Quando a criança a põe nervosa?


Sim, 91,5% Não, 7 % As vêzes 1,5%
Bate em seu filho com raiva?
Sim, 82 % Não, 18 % As vêzes 0%
Está segura de que não age bem, assim fazendo?
Sim, 80 % Não, 20 %
Crê que as pancadas sejam educativas?
Sim, 20 % Não, 80 %
Julga que as pancadas são necessárias?
Sim, 43 % Não, 54 % Não sabe 3%
Quanto às crianças enumeramos algumas respostas significativas:
- Sua mãe pode bater em você? (seis anos, menino):
"Sim, mas eu me defendo e luto."
(8 anos e 9 meses - menino):
"Pode bater-me quando ela quiser."
(8 anos e 7 meses - menino) :
"Pode bater-me porque é maior."
(9 anos - menino):
"Pode bater-me quando não tomo sôpa."
(4 anos, 9 meses):
"Pode bater-me porque tem uma fôrça bárbara."
Enumeramos algumas respostas das mães sôbre a forma com que
castigam seus filhos:
(Menino de oito anos e meio):
"Amarro-o ao pé da cama com um colête especial."
(Menino de oito anos):
"Ponho pimenta em sua língua."
80 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

Diferentes idades, meninos e meninas: "Bato com a correia", "Bato


com um chinelo".

Ameaças habituais:
"Vou interná-lo num colégio."
"Não permitirei que você assista à televisão."
"Eu o abandonarei na rua."
-"Eu o levarei ao médico para que êle lhe aplique uma injeção."
- "Você vai ficar doente e morrer."
- "O diabo (ou velho com um saco) irá levá-lo."

PRESENÇA DAS RESPOSTAS INFANTIS

Por meio delas confirmamos o realismo moral de que nos fala


PIAGET (7), assim como a diferença de reação diante do castigo, segundo
as diferentes idades: (8) " ... uma espécie de realismo moral em que a
norma em formação é sentida como exterior ao indivíduo, como existente
por si mesma"; e, mais adiante: " ... encontramos uma diferença de atitu-
de bem nítida entre as crianças pequenas e as grandes. Estas últimas
têm freqüentemente uma atitude combinada, por volta dos 7 aos 8 anos.
Dizem, não somente que o castigo menos pesado será sempre o melhor,
mas também que, em muitos casos, é melhor não castigar... Pelo con-
trário, os pequenos, sentindo sem dúvida algo análogo, que não sabem
explicar, são levados a considerar a sanção como justa; e, quando se lhes
permite escolher entre duas sanções, indicam a mais severa dizendo ser
a mais justa, como se uma espécie de realismo moral da norma determi-
nasse que êle fizesse um balanço exato entre a violação da regra, por
um lado, e a reparação, por outro".
Nossas respostas coincidem com essas observações. O realismo,
com um de seus componentes, o dever heterogêneo, respeita a norma mais
por si mesma que pelo seu valor, e o respeito objetivo se confirma pela
porcentagem de crianças, de cinco e seis anos, que respondem: "Sim,
minha mãe pode bater-me" .. , Parece que a criança aceita o castigo como
algo expiatório, em um momento em que o respeito é unilateral. (O único
respeitável seria o adulto.)
os PAIS E OS CASTIGOS 81

Mas é interessante observar que êsse tipo de conduta perdura em


crianças maiores, de modo que podemos suspeitar que, em alguns casos,
a aceitação passiva do castigo poderia estar relacionada com a gênesis de
um estereótipo que posteriormente se expressará na vigência da norma,
uma vez que a criança se transforme em adulto.
Para elaborar essa idéia, talvez fôsse conveniente admitir a carac-
terização que ALLPoRT faz, do prejulgamento: "Recurso seletivo, ou tela
que assegura a manutenção da simplicidade na percepção e no julga-
mento." (11)
Esta proposição poderia vincular-se com os cânones autoritários que
regem a educação de nossas crianças e sua relação com o desenvolvi-
mento da personalidade na cultura (10), tal como assinala KLUCKHOHN,
referindo-se à opinião de PETrr: "O castigo corporal é raro entre os pri-
mitivos, e não é devido a uma bondade congênita, mas sim a que não
sintoniza com o desenvolvimento do tipo de personalidade individual,
considerado como ideal."

DEDUÇOES POSStVEIS ATRAVÉS DO MATERIAL OBTIDO

Podemos dizer que, quando sugerimos ou recomendamos que a


educação infantil se realize sem recorrer a pancadas, ou a qualquer forma
de violência física, estamos atuando contra uma pauta cultural; sem falar
no montante de ansiedade que esta recomendação pode provocar em cada
pai (ou não). Esta é outra questão, que se refere a aspecto estritamente
individual e que, por conseguinte, ultrapassa os limites de qualquer afir-
mação (li).
Pela avaliação estatística estamos de posse de dados concretos, que
deverão ser confirmados na pesquisa definitiva. Contudo, êste primeiro
trabalho exploratório já parece significativo. Temos confirmado pelos fatos
certas suposições e afastadas outras.
Podemos agora aventurar uma hipótese: O castigo corporal, entre
nós, faria parte de uma norma cultural internalizada, transmitida de pais
a filhos, apoiada pela necessidade adulta de expressar a agressividade, e
que é aceita, comunitàriamente, como forma de educação (entendida esta
última em sua função exclusivamente adaptativa).
Se esta hipótese fôr confirmada, deveremos rever nossa técnica de
divulgação, mas o que até agora conhecemos, concretamente, é o que pen-
82 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

sam e dizem os pais sôbre os castigos corporais, não só porque possuam


razões profundas e inconscientes para isso, mas também porque se en-
contram num meio ambiente que aceita êsse tipo de castigo.
Colocado assim o problema, são duas as alternativas:
1) respeitar a pauta cultural e acatar a dinâmica social que influi
sôbre ela, adotando um comportamento adulto, que é estatisti-
camente significativo, ou
2) atuar sistemàticamente contra a pauta, promovendo sua revi-
são, ou substituição por outra, que cremos mais recomendável.
Dessa forma, defrontamos um cadente problema das ciências do
homem: adaptação ao meio, ou adaptação juntamente com a possibilidade
de transformar o cultural pela ação do indivíduo-pessoa? ..
Como expusemos de início, participamos da segunda posição. Nosso
estilo de divulgação não visa apenas atuar sôbre o individual, mas através
de informações procuramos atingir pautas socialmente aceitas, que se-
gundo nosso julgamento devem ser revistas e reorientadas. Cremos, como
BIDNEY (6), que o indivíduo não é apenas um transmissor passivo da cul-
tura social, mas também o elemento ativo, que dá origem e modifica sua
cultura.
tste questionário nos conduziu ao esclarecimento de dois pontos que,
evidentemente, devem ser utilizados em separado respeitadas as técnicas
próprias:

1) com referência ao castigo na situação interpessoal, terapeuta-e-


-mãe de um paciente, o primeiro atuará como julgar conve-
niente, advertindo ou não, quanto aos riscos decorrentes do
castigo físico;
2) com relação à informação ao público a conclusão é diversa.
Assim como obtivemos a formação de uma consciência geral em
tôrno do psicológico e de sua vigência nos parâmetros saúde-enfermidade,
modificando esquemas tradicionais, normalmente aceitos, também, no
tipicamente cultural compete-nos agir sôbre o que seja culturalmente
estabelecido, procurando melhorá-lo. Sabemos, desde já, que a resistência
à mudança será poderosa, uma vez que o castigar fisicamente uma criança
responde não apenas a uma permissão cultural, mas a motivos incons-
cientes do adulto, entre os quais se salienta a agressividade.
OS PAIS E OS CASTIGOS 83

Deslindadas assim as duas questões, podemos ordenar as variáveis


para o trabalho posterior, redigir a pesquisa definitiva e planejar a expe-
rimentação e observação necessárias.

BIBLIOGRAFIA ESPECIAL
1 JOHN OULTON WISDOM, ceEI método hipotético deductivo", Cuadernoc de
Epistemolog1J, Universidad de Buenos Aires, 1962.
2 MARIO BUNGE, Que es un problema científico? Ibid, 1961.
3 POPPER KARL, Algunos problemas fundamentales de la lógica de la ciencia,
Citação de Oulton Wisdom, en los Cuadernos de Epirtemología, Universidad
de Buenos Aires.
4 THEODORE BRAMELD, Las bases culturales de la educación, Eudeba, 1962.
5 ARMINDA ABERASTURY, Teoría y práctica deI psicoanálisis de ninos,
Paidos, 1962.
6 BIDNEY, citado por Brameld, en 4.
7 JEAN PIAGET, Le jugement moral chez l'enfant, Librairie Felix Lalcan,
1932, Paris.
8 JEAN PIAGET, Les relations entre l'affectivité et l'intelligence dans le de-
veloppement mental de l'enfant, Centre de Documentation Universitaire, Paris
(traducción de Snrta. Giberti).
9 GORDON W. ALLPORT, La naturaIeza deI prejuicio, Eudeba, 1962.
10 C. KLUCKHOHN, Antropología, F. C. B., 1962.

BIBLIOGRAFIA DE CONSULTA
MARGARET MEAD, Adolescencia y Cultura en Samoa, Paidos, 1959.
COMPA YRÉ GABRIEL, Los castigos en ta educación intelectual y moral, capítulo
de "La educación intelectual y moral".
C. WRIGHT MILLS, La imaginación sociológica, B. de C. B. 1961.
S. FREUD, Pegan a un nino, Obras completas, VoI. lI, Biblioteca Nueva, Ma-
drid, 1948.

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