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Referêncía Capítulo 2

FONTANA, R.; CR
UZ, N. psicologia e
pedagógico. São pau trabalho
lo: Atual, L997.

A abordagem
in atis t a-matu raci onis ta

Todos nós já ouvimos ou dissemos coisas como: ..Ele ainda não


tem maturidade para aprender a ler"; "Meu filho tem uma aptidão incí-
vel para a matemática"; "A Marina é tão interigente! puxoü ao pai!',.
Maturidade, aptidão, inteligência são temas trâdicionarmenie abor-
dados pelapsicologia numa perspectiva que atribui um papel central a
fatores biológicos no desenvorvimenro àa criança. Essa perspectiva,
que estamos denominando' iìzatis ta- maturac ionista, part" do pàncípio
de que fatores hereditiírios ou de rnaturação são mais importantes p*'u
o
desenvolvimento da criança e pÍÌra a determinação de sias capacidades
do que os fatores relacionados à aprendizagem e à experiêricia.
Mas o que são esses fatores hereditiírios ou de mãturação?
A hereditariedade pode ser entendida como um conSunto de quali_
dades ou caracteísticas que estão fixadas nacnança,já,áo nascirnento.
ou seja, quando falamos em hereditariedade estamos nos referindo à
herança genética individual que a criança recebe de seus pais. Todos
sabemos que traços como, por exemplo, a cor dos olhos e áo cabero, o
tipo sanguíneo, o formato da orelha e da boca já estão determinados
geneticamente quando nascemos.
A idéia de maturação refere-se a um padrão de mudanças comum a
todos os membros de determinada espéõie, que se verifióa durante a
vida de cada indivíduo. o crescimento do feto dentro do útero da mãe,
por exemplo, segue um padrão de mudanças biologicamente determi_
nado. As transformações do corpo, o crescimento dos órgãos, etc. acon_
tecem de acordo com uma seqüência predeterminada, qire, a princípio,
não dependeria de fatores extemos.
você pode estar se perguntando o que essa história de cor dos olhos
ou do desenvolvimento do feto tem a vèr com uma abordagem psicoló-
gica da mahrridade, das aptidões e da inteligência.
E que,.na .psicologia, teóricos da perspectiva inatista_maturacio_
nista supõem que, do mesmo modo que ã coidos olhos, aptidões indivi-
duais e inteligência são características herdadas dos pais e, portanto, já ensinada. Do mesmo modo, crianças brancas e negras apresentam clife-
estão determinadas biologicamente quando a criança nasce. Ou então re!ç4g no desempenho de determinadas tarefas em razão da herança ge-
que, à inaneila do cresciillento das partes do coipo, o desenvolvimento irética de suas raças, e irão de diÍ'eleilças cultilrais ou de oportunidaCes.
do comportamento e das habilidades da criança é governado por um Foi nessa linha da preocupação com âs diferenças individuais que
processo de maturação biológica, independentemente da aprendizagem se desenvolveram os prirneiros estudos psicológicos com o objetivo de
e da experiência. avaliar a inteligência. Um dos pioneiros desses estudos, o pesquisador
São essas concepções que estudaremos no decorrer deste capítulo. francês Alfred Binet, interessou-se especialmente pela mensuração da
inteligência através de testes.

A questão das diferenças indiúduais e a hereditariedade


da inteligência: 6frlho de peixe, peixinho é?" Quenz foi Einet?

Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Por que algu- Alfred. Binet nasceu em 1857 e viveu até lgLl. Formou-se em
ma--s.-c1ianças parecem mais inclinadas para atividades artísticas, en- Medicina, mas desde cedo interessou-se pela psicologia da crian-
quanto outras se saem melhor com os nú- ça e do defi.cíente, área ein que se tornou conhecido.
meros? Foram perguntas desse tipo que Em 1904, quando era diretor do Labora-- - -
orientaram, no começo do século, as pri- tóüo de Psicologirt Fìsiológica da, Universi-
meiras investigações psicológicas sobre o dnde de Sorbonne, partícipou de uma comis-
problema da natureza hereditária das apti- são de médicos, educadores e cíentistas, no- :..1 :l:. :. : ,i
dões e da inteligência. meados pelo minístro da Instrução Públìca da
6 ' : :..:
Interessados em saber por qué uma pes- França, que tinhn como objetivo estabelecer
''''''',1'
soa é diferente da outrã quãnto ã traços de métodos e formular recomendações para o
-
personalidade, de_ habilidades, de desempe- ensino de crianças deficientes mentais. Bìnet
nho intelectual, etc,-:, pesquisadores pro---.-- - -- .. inc umbii.o,. d.a, tar-efa.. dp.. d,e s qn.u 0 li e r . am... . .

curaram obter dados que permitissem esta- instrumento que permitisse idenrtficar as crian-
belecer comparações errtre pessoas. ças mentalmente defic ientes.
Eles constataram, então, que pessoas Como resultado de seu trabalho nessa
com uma aptidão especial (um artista, por comissão e de suas pesquisas anteriores, èle
exemplo) normalmente tinham familiares publicou em 1905, com a colaboração de
qUê apresentavam o mesmo tipo de aptidão. Théodore Simon, a primeira escala para:a
Ou, ainda, que gêmeos idênticos apresenta- medida da inteligência geral- Essa escala,
vam aptidões e nível intelectual com um que se tornou conhecida como escala Bínet-
grau de semelhança maior do que o encon- Símon, passou por duas revisões: a primeira,
trado entre irmãos não gêmeos. Por outro em 1908, e a segunda, em 19ll, pouco antes da morie de Binet.
lado, identificaram diferenças de aptidões e Pode-se dizer que o desenvolvimento dessa escLtltt mãrcou o
de traços mentais entre homens e muìheres início da medida da inteligência, tal como a conhecemos hoje.
ou entre raças diferentes. Os testes de Binet e Simon foram Íraduzidos e utilizados também
Essas constatações foram interpretadas como indicadoras de que os em muitos outros países e deran't orìg'em'a inúmeras revisões,
Gêmeos: centrc
de inleresse nos
fatores inatos são mais poderosos na determinação das aptidões indivi- realizadas por outros pesquisadores, bem cbmo inspiraram a
estudos sobre duais e do grau em que estas podem se desenvolver do que a experiên- elaboração de outros testes de inteligência.
hereclüariedade. cia, o meio social e a educação. O papel do meio social, segundo essa No Brasil, seus estudos e testes foram introduzidos em 1916
Ì:,1i::i':tiì:::f ììliiiÌìï r:Ìrltì ;. perspectiva inatista, se restringe a impedir ou a permitir que essas apti- por educadores ligados ao Inboratórío de Psicologia Pedagógi-
dões se manifestem. ca do Rio de Janeiro.
Assim, uma criança filha, neta ou sobrinha de músicos apre-
- para aprender música porque herdou
senta inclinação e facilidade - de
seus familiares a aptidão, o "dom" para a música, e não porque foi Binet concebia a inteligência como uma aptidão geral que não de-
'ffidffiffiffiffi4 educada num ambiente em que, provavelmente, a música é valorizada e pende das informações ou das experiências adquiridas no decorrer da :fllffiffiffiffffiffi
vida do indivíduo. Segundo ele, as principais características da inteli-
Quem foi Gesell?
gência seriam as capacidades de atenção, dejulgamento e de adaptação
do comportamento a objetivos: PesEtísar)or norte-americano qiLè vívett erúre 1880 e 1961,
GeseII foi o princípal expoente das teorias do desenvolvimento
Parece-nos qLre na inteLigência hcí uma facuLdacle fundamen- que dão maior ênfase ao papel dnmaturação. Desde
tal... Esta facuLclade é o juLgamento, também chamado bom senso muito cedo, logo queformado na Escola Normal (Ma-
prcítico, ínicicLtiva, afaculdcLcle de adaptar-se às circunstâncias. Jul- gistério), dedícou-se à carreíra de prdessot: Foi dire-
gar conxpteendey e raciocinar bem; estas são cLs atividades essen- tor de colégìo e escreveu sua primeira tese sobre um
ciais da inteligêncÌa. assunto ligado à pedagogict. Depois cLe doutorar-se
ent psicologia, Gesell retomoLr o sett trabalho como '..##
(Binct e Sinlon. O tlesettvolvinenlo da ìtilelígêtlci.t nus crianças professor em uma escola primciria. Alguns anos de-
Apud Bee. Fl.)
pois, decidiu-se porfazer o curso de Medícina e assim
que o concluiu foí nomeado professor de Higiene da
É importante compreender que, nessa perspectiva, a idéia de inteli- Criança na Escola de Medicina de YaIe, carSo que
gência não.se confunde com os conhecimentos adquiridos pelo indiví- ocupou até a sua aposentadoría.
dufânte sua vida..Habitualmente,..consideramos como muito inteli- Em 1915, Gesell passou a empregar a psicologia
gente uma pessoa que demonstra-ter um vasto conhecimento; ou seja, com vistas em proporcionar ajuda pedagógica às A
dizemos que os mais inteligentes (entre nossos colegas, por exemplo) j
crianças desadaptadas. EIe é, por isso, considerado o
"&
são os que sabem mais. primëìro psicólo go escolar norte-americano.
No entanto, o que define a inteligência de um indivíduo não é a quan- Preocupado com a críação de uma ciência do desenvolvimento
tidade de conhecimentos que ele possui, mas sua capacidade de julgar' humano que íntegrasse todos os recursos da psicologia experimen-
compreender e raciocinar. Essas capacidades, segundo Binet, não podem tal, dabiologia evolutiva e daneurofisiologia, de 1920 a l96lGesell
ser aprendidas, mas, ao contrário, são bioÌogicamente determinadas. As- dedicou-se à pesEúsa cíentifica e à publicaçõo de livros e anigol-
sim, a inteligênciaé vista como um atributo do indivíduo fixado pela he-
reditariedadç -e-, çemg tê|, Yaçiáyqt dq gm? Pe9-99? PaI? 9uf1:
Pode.se dizer que Gesell foi o primeiro teórico da rnaturaçao, unta vez '

que defendia a prioridade dos fatores de maturação sobre os fatores de


áprendizagem, ãu de experiência, na evolução do comportamento da
criança. Para ele, o que explica a existência de um padrão de desenvolvi-
Padiões de desenvolvimento: o que é próprio de mento comum à maioria das crianças é o processo de maturação biológica
cada idade? inerente às transformações por que passa o comportamento da criança.
Assim, a evolução psicológica da criança seria determinada biolo-
Mas, se as pessoas são diferentes umas das outras nas suas apti- gicamente, do mesmo modo que o crescimento do feto no útero mater-
dões, traços de personalidade ou de inteligência, existem também mui- no. Seus comportamentos e formas de pensar tornam-se mais comple-
tas semelhanças entre elas. A maioria dos bebês, por exemplo, torna-se
xos à medida que ela cresce, que seu sistema nervoso, sua estrutura
muscular, etc. se desenvolvem. O ambiente social e as influências exter-
capaz de se sentar antes que possa se affastar, engatinhar e depois andar.
nas, de modo geral, limitam-se a facilitar ou dificultar o processo de
Do mesmo modo, quando começa afalar, a criança primeiro diz apenas
maturação. Por exemplo, uma criança que raramente é tirada do berço e
palavras isoladas, e só depois junta duas ou mais palavras, formando
deixada à vontade no chão, certamente vai demorar mais para enga-
frases. Ou, então, antes de desenhar casas, animais ou calïos, a criança
tinhar ou andar. Em condições adequadas, seu desenvolvimento se pro-
rabisca traços e círcuÌos. cessaria no ritmo e na seqüência determinados pela maturação.
Essas seqüências parecem se repetir sempre em relação à maioria
Tanto Binet quanto Gesell, acreditando que a inteligência e o desenvolvi-
das crianças, o que sugere a existência de certo padrão de desenvolvi- mento psíquico da criança são biologicamente determinados, preocuparam-
mento humano. Esse fato tem chamado a atenção de muitos pesquisa- se em descrever comportamentos e habilidades típicos de cadafaixaetána.
dores desde as primeiras décadas deste século. Um dos primeiros psicó- Binet estava interessado, comq já dissemos, em medir e comparar a
logos a se interessarem por essa questão foi Arnold Gesell, nos Estados inteligência das pessoas. Mas, se podemos medir a altura ou o tamanho
Unidos. Ele se preocupou com a evolução da criança, do nascimento
ffi ffili:J#tr.íÍ;i{ìlì:r?ÍÍ\:4!!r"! j
. aos 16 anos, e
ffitr$W,H#'-{fi*ffiffi$ .... no dqc-orrer dessa evolução.
estudou as formas que seu comportamento vai tomando
do dedo de uma criança simplesmente usando uma fita métrica, medir a
inteligência é bem mais complicado. Enquanto aptidão geral do indiví-
duo, a inteligência não pode ser medida diretamente, mas apenas atra-
ffiffi
vés de algumas de suas realizações. Por isso, para construir um teste de
.inteligência, Binet precisava conhecer o que criarças .são capazes de VocêsabeoqueéoQI?
lãzer em cada idacie.
Essa tarnbém foi uma necessidade experimentada por Gesell. Preo- Embora confundido por nuita gente com a própria intelìgên'
cupado em compreender a evolução da criança, ele procurou estabele- cía, o QI (quociente intelectual) é basicamente uma comparação
cer escalas de desenvolvimento que permitissem comparar os compor- entre a ídade mental e a ídade real da criança (idade cronológica).
tamentos de uma criança com aqueles que eram esperados, ou conside- A idade mental é deïenninada pelo número de tarefas de um tes-
rados "normais", para sua faixa etária. te que a criança consegLle ,esolver corretamente. Por exemplo, se ela
Mas como foram criados os testes de inteligência e estabelecidas as acertatodas as tarefos atfibuídas ao grupo de l0 anos, diz-se que ela
escalas de desenvolvimento? tenz idnde mental de ]0 anos, seja qualfor sua idade crcnolóçica.
Essa é uma pergunta importante, porque sua resposta nos mostra um O QI é obticto quando se d.itide a idade mental de uma criança
pouco como o conhecimento é produzido na área da psicologia. Partindo pela sua ídade cronológíca.-Suponhantos que uma criança de I
do princípio de que a hereditariedade e a maturação são os fatores mais anos consiga res.olver todos os problemas propostos para a idade
decisivos na determinação da inteligência e na evolução do comporta- de I0 anos, mas nada além desse nível. Diremos que suaidade men-
mento da criança, tanto Binet quanto Gesell dedicaÍam-se a pesquisas. ts.] é-de- IQ qUQ-l ç, parp calculaì o seu QI, dividiremos l0 por 8, o
' que dã um tesultaìlo de 1,25. Por convenção;-esse resultado é mul-
tiplicado por 100, para que'o QI possa ser ücpresso em números
Pesquisando a criança: a construção dos testes de
inteiros. Isso significa que, em nosso exemplo, a críança tem um QI
inteligência de 125, que é consíderadò acimadarnédia.

Binet partiu da experimentação e da observação do que as crianças


^Ì idade mental x 100
eram capazes de fazer em idades variadas. Ele procurou selecionar proble- vt = idud. .;nológi"a
mas ou questões cuja solução envolvesse os efeitos combinados da aten-
ção, dojuízo e do raciocínio e não dependesse de aprendizagens anteriores. Assim, a quando a'idqde mentàl e a idade cronológicaforem
Essas,,questões..eram organi-zadas gm grupas par idadg, dc 4qordo as mestnas, o.QI .serd.semitre lAA- Se a.idade.mentaLfor inferíor .

com o seguinte critério: se um teste era resolvido satisfatoriamente por à idade cronológica, os resultados serão sempre ìnferìores a 100,
607o a9OVo das crianças de determinada idade estudadas, ele era consi-
o que indicará um QI abaixo da média. Se, ao contnirio, a idade
derado adequado para aquela idade.
mental for superior à ídade çronológíca, o QI será sempre supe-
Um exemplo: se todas ou quase todas as crianças de 6 anos fossem
capazes de comparar dois pesos, essa tarefa era considerada muito fácil
rior a 100, ou acimn da média.
para essa idade; se 6OVo a90Vo das crianças de 5 anos estudadas resol-
vessem o problema de maneira correta, ele era aceito como adequado
para essa fàixa etária. Do mesmo modo, se quase nenhuma das crianças
de 4 anos estudadas conseguisse copiar um quadrado, essa tarefa era Pesquisando a criança: a elaboração das escalas de
considerada difícil demais para essa idade. desenvolümento
Seguindo esse procedimento, Binet selecionava um número deter-
minado de tarefas, em ordem crescente de dificuldade, para cada idade. À semelhança de Binet, Gesell também se utilizou da observação e
Assim, o seu teste de inteligência geral, destinado a avaliar pessoas dos
da experimentação com crianças para elaborar suas escalas de desen-
3 anos até a idade adulta, era composto por vários conjuntos de proble-
volvimento. No entanto, ele introduziu uma importante inovação técni-
mas: um para as crianças de 3 anos, outro para as de 4 anos, outro para
ca na observação e no registro do comportamento da criança: as câme-
as de 5 anos, e assim sucessivamente.
ras cinematográficas.
Por meio desses testes, a inteligência é avaliada pelo desempenho
nas tarefas. O número de testes que a criança consegue resolver determi-
Na Clínica do Desenvolvimento da Criança, criada por ele em
na a sua idade mental ou o seu quociente de inteligência (QI). Se ela con- 1930 na Universidade de Yale, Gesell montou um observatório fotográ-
seguir resolver todos os testes propostos para a sua idade, sua inteligên- fico, que era um hemisfério de 4 metros de diâmetro e 2,5 metros de
cia será considerada normal. Se ela também resolver corretamente al- altura, equipado no alto e nas paredes laterais com câmeras cinemato-
guns dos testes propostos para crianças mais velhas, seu QI estàrá acima gráficas. Enquanto Gesell submetia as crianças a vários testes sem-
da média. E se, ao contrário, elaacertar apenas questões propostas para
- as
pre voltados â descobrir o que são capazes defazer em cada idade
,*#dÍjfi,l$#J$#ffffi -
câmeras.rodavam, registrando todas as reações que elas apresentavam. #,ffi4ffi-wiltttïdi
crianças mais novas, sua inteligência será consideradaabaixo da média.
Os fihnes obtidos elarn posterioÌmente anaÌisados. Gesell prccura- aumento do controie da cabeça: gradativamente as costas do bebê (que.
va. então. destacar diversos aspectos cla evoÌr-rção do comportamento no recém-nascido, são aredondadas) ficam mais alinhadas, e a criança
da criança. A postura, a iocomoção, a ação de agarrar. os Jogos, as con- iorna-se capaz de manter a cabeça levairtaria, potlendo, enião, pelmane-
dutas sociais, etc. eram minuciosamente analisados e descritos com o cer sentada sem apoio.
objetivo de captar as formas que esses com-
poftamentos tomam no deconer do desenvoi-
vimento da criança.
..-sS,
A partir dessas análises, tomava-se possí- lwË.. ,
vel estabelecer que comportamentos eram típi- (Ã.
Printeiras I "./
cos de cada faixa etária, como, por exemplo, senunts cle vida:
r .. ' Entre I e 6
começar a engatinhar, colocar-se de pé e andar . sentanas o behê
o dorso tlo bebê
'qà ".i/
Ìenr o dor.ro
com apoio, subir em cadeilas ou sofás e cami- é unifontrctltetlle
uneclortLrtlo, arredorttlutlo e a
nhar sozinha. havencks cle cubeça é erguitltt
falta
cotttmle tkt por algutts
nT0ntetrtos.

- -...Binet, por sua vez, preocupava-se


J
com aqueles compoÍtamentos que, numa
determinada idade, pudessem ser tomados Ertrc I e 12
como indicadores do nível de inteligência semanas o drirso

da criança. A evolução ou o desenvolvi- uintlcr é


urrctloncltulo e a
mento dos comportamentos considerados cobeçtt jd se
típicos não o interessaram de modo espe- ì,1
levcutlct ntttis,

. j. ..... .::j.. . . .i..;....


cial, mas sim a capâcidâde da criança de Porenr o DeDe
uinda te rule ct
Engalinhar e and.ar sozìnho: est.iSios realizá-los na idade tida como adequada-
pender o corpo
diJererttes tlo desenvoLvimento ínfantil. Mas, apesar das diferenças, Podemos para afrente.
dizer que Binet e Gesell estabeleceram pa-
drões de comportamento com a finalidade
Essas pesquisas, baseadas na análise dos filmes,'foram denomina- de avaliar a inteligência ou o desenvolvi-
das por Gesell pesquisas normativas, já que visavam à apreensão do mento da criança. O pressuposto de que os
ritmo e da seqüência "normais" do desenvolvimento. Assim, ao enumè- fatores biológicos (hereditariedade e
rar os comportamentos considerados típicos de cada faixa etária, é esse maturação) são os mais decisivos na deter-
:ìIr_ rJ''.i; .11.:
ritmo e essa seqüência que as escalas de desenvolvimento expressam. minação da inteligência e do desenvolvi-
Entre ló e 20
mento leva a supor que tais padrões de
semtums o bebê
comportamento são independentes de fa- lem o dorso nzdis
A questão dos comportamentos típicos tores externos ou do contexto social em alinhutlo e a
que as crianças vivem. Desse modo, não cabeça é mantitla
ereta senx
Tânto Binet quanto Gesell ocuparam-se em definir os comportamen- importa o lugar e a época em que a criança
vacilação.
tos típicos de cada faixa etáia, embora a partir de perspectivas diferentes. viva ou as condições materiais e as possi- .,ì..r,.:i. : -\
" i.

Como já apontamos, Gesell não apenas destacava quais são os bilidades educacionais a que tenha acesso:
comportamentos infantis comuns a determinada idade, mas também a criança "normal" deve apresentar tais
procurava retratar a maneira como esses comportamentos evoluem, comportamentos.
transformam-se. E o caso, por exemplo, da capacidade da criança de No entanto, é importante lembrar que eles chegaram à def,rnição
manter-se sentada sem apoio. dos padrões de compoÍtamento de cada fuxa etána a partir de pesqui-
ri n!;i: ri:lìittij:i, i't :. i,u ìl: ri:rii: :.
É possível observar, nas figuras a seguir, que a evolução desse sas realizadas nas primeiras décadas do sécúlo, com determinados gru-
;+ld_gúiË,t#,,iir}ffi
*'"4tl#:ürrÌ3[iir';rili,aitr] comportamento deve-se ao progresso do alinhamento das costas e do pos de crianças (francesas e norte-americ4nas)r Logo, os comporta-
menios considerados típicos forarn aqueles apresentados pela maiotia A idéia de que a criança é portadora dos atributos nniversais (bioló-
das crianças que eÌes estudaram, e foi a partir daí que se definiu o que do gênero humano produz ou jr"rstifica a crenca de que caberia à
-gicos)
é normal ou não. educação fazer aflorar esses atribütòs naturais. desenvolvendo as
Esse procedimento é bastante coerente com os princípìos teóricos potencialidades do educando de modo harmonioso. Tal concepção teve
pelos quais Binet e Gesell se orientaram. Se o ritmo e a seqüência do o mérito de chamar a atenção para as especificidades da criança, para as
desenvolvimento são biologicamente determinados, espera-se que cer- características, habilidades e capacidades dos educandos, colocando
tos comportamentos apareçam sempre na mesma seqüência e na mesma em destaque noções como prontidão, rnaturidade, aptidão.
idade, quer se trate de crianças européias de classe média, quer de crian- Mas, ao mesmo tempo que atribuem à escola o papel de "cultivar"
ças do interior do Nordeste brasileiro.
o indivíduo, de possibilitar o seu desenvolvimento harmonioso, as pro-
postas pedagógicas orientadas por essa perspectiva consideram que
para aprender os conteúdos escolares a criança precisariajá ter desen-
As relações entre desenvolvimento e aprendizagem e voivido determinadas capacidades. Isso acaba gerando a idéia de que
existe uma idade bem precisa para aprender certos conteúdos. Ou, ain-
as inÍluências do inatismo-maturacionismo na escola da, que o proveito que a criança tira das situações de aprendizagem
depende de seu nível de prontidão ou maturidade.
Se o ntmo ê a leqüência dô deienïôivimento são biologicamente F.ssas noções, além de circularem entre os agentes do processo
determinados, qual á-sua ielâçãò õom os processos de aprendizagem? educacional, influenciando, muitas vezes, o cotidiano da escola, tam-
Antes de responder a essa pergunta, é importante lembrar que os pes- bém dão sustentação à prática de utilização de testes psicológicos para
quisadores da abordagem inatista-maturacionista não tinham como ob- avaliar as possibilidades educacionais da criança.
jetivo o estudo da aprendizagem. No entanto, ao destacar o papel de E fato bem conhecido que testes de prontidão (para a leitura, por
fatores internos na determinação da inteligência e do desenvolvimento, exemplo) e testes de inteligência têm sido amplamente utilizados para a
essa abordagem considera que aquilo que a criança aprende no decorrer avaliação de crianças em idade escolar, penalizando muitas delas. Os
da vida não interfere no processo de desenvolvimento. resultados de tais testes têm, historicamente, impedido que inúmeras
De acordo .o.n a peisp"ctiva inatista-maturacionista,'a aprendiza- .crianças tenham acesso ao conhecimento e à própria escolarização, ao
$em é Çuë depënde dõ desênvolvimentô: Ou sejâ, o que a criança é foinecêrèm indidãdôiés dë suâ "imatüiidâdë' ôü'de'sëüs "déficits" de
capaz ou não de aprender é determinado peìo nível de maturação de inteligência. Há crianças, por exemplo, que são retidas na pré-escola ou
suas habilidades e do seu pensamento ou, ainda, pelo seu nível de permanecem nos exercícios preparatórios, às vezes um ano inteko, por-
inteligência. que "não estão prontas" para aprender a ler e escrever; outras são envi-
Essa concepção tem tido bastante influência na escola, desde sua adas às classes especiais porque "não têm condições" intelectuais de
elaboração. Pode-se dizer que o inatismo-maturacionismo.marca. o. co- seguir o curso normal da escolaridade.
meço da relação entre a psicologia científica e a educação. Como vi-
mos, a construção dos primeiros testes de inteligência Ce Binet e
Simon foi resultado de uma necessidade emergente nos meios educa-
cionais franceses da época: a de identificar as crianças mentalmente
dehcientes-e estabelecer métodos que tornassem o ensino acessível a
elas. O trabalho de Gesell também foi orientado por fins ligados à
educação, especialmente a de crianças consideradas desadaptadas.
No Brasil, as principais pesquisas psicológicas sobre crianças da-
tam do início do século. Educadores, geralmente vinculados às Escolas
Normais (antigo nome dos cursos de Magistéiio), implantaram na déca-
dade20, em suas escolas, laboratórios de Psicologia Experimental e de
Psicologia Pedagógica. Nesses laboratórios, as crianças eram submeti-
das a exames destinados a medir suas reações psicofísicas (discrimina-
ções visuais, auditivas, etc.), e foi através deles que se introduziram no
país_ os primeiros testes psicológicos. O primeiro teste para avaliar a
prontidão de crianças para a alfabetização foi desenvolvido por um edu-
tuwffifiïffiffiffiiffi cador, Lourenço Filho. f#,ffiffiffiw

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