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No final do ano de 2023, além da publicação da Reforma Tributária, uma série de outras

medidas fiscais foram divulgadas. Confira abaixo um resumo do que você precisa saber sobre
as principais novidades, com breves considerações a respeito dos efeitos e das medidas
disponíveis aos contribuintes.

União Federal

1. Emenda Constitucional n. 132/2023 – Reforma Tributária. Promulgada a PEC n. 45/2019,


também conhecida como a Reforma Tributária, que possui como objetivo alterar o modelo
brasileiro de tributação de bens e serviços. Confira as principais mudanças em relação ao
modelo vigente.

2. Lei n. 14.754/2023 e Instrução Normativa RFB n. 2.166/2023 – Tributação das offshores e


fundos exclusivos. Publicada lei que estabelece a incidência de IRRF, sob a alíquota de
15%, sobre os ganhos provenientes de offshores (investimentos feitos por pessoas físicas
ou jurídicas brasileiras em empresas estrangeiras), que deverão ser declarados
separadamente dos demais rendimentos e ganhos de capital na Declaração de Ajuste
Anual.

No que concerne aos fundos exclusivos (carteiras destinadas a investidores qualificados e


constituídas para receber aplicações de um único cotista, exigindo um investimento
mínimo de R$ 10 milhões e com um custo de manutenção estimado de até R$ 150 mil por
ano), instituiu-se, da mesma forma, a exigência de IRRF, sob a alíquota de 15%, duas vezes
ao ano (“come-cotas”), em maio e novembro. Saiba mais.

3. Medida Provisória n. 1.202/2023 – Reoneração da folha de salários, revogação dos


benefícios concedidos no âmbito do PERSE, limitação das compensações tributárias
de indébitos reconhecidos por decisões judiciais transitadas em julgado e revogação
do adicional de 1% da COFINS-Importação.

● Reoneração da folha de salários: revogada a medida originariamente instituída pela


Lei n. 14.784/2023, que havia possibilitado, para diversos setores da atividade econômica,
o recolhimento da contribuição previdenciária com base na receita bruta.
A fim de reduzir o impacto econômico da revogação, promoveu-se a redução das
alíquotas aplicáveis sobre a folha de salários da contribuição, que será progressivamente
reduzida, até que se reestabeleça integralmente a alíquota de 20% originariamente
aplicável.
A medida possui impactos relevantes aos contribuintes e revoga um benefício
prorrogado, originariamente, até 2027, de maneira que é passível de discussão judicial
perante os princípios da proteção à confiança do contribuinte e da segurança jurídica.

● Limite mensal para compensação: atribuído ao Ministério da Economia a competência


para estabelecer limites temporais para aproveitamento de créditos oriundos de
decisões judiciais acima de R$ 10 milhões de reais.
Poucos dias após a publicação da MP, foi divulgada a Portaria Normativa MF n. 14/2024
que estabeleceu as seguintes faixas e limites temporais:
Dentre as inúmeras possíveis irregularidades dessa medida, destacam-se a (i)
inexistência de previsão acerca da aplicabilidade das limitações apenas para os
indébitos que venham a ser reconhecidos posteriormente à entrada em vigor do ato
normativo; (ii) violação aos princípios da legalidade tributária e da separação de
poderes, uma vez que atribuiu ao Ministério da Economia a possibilidade de limitar a
reparação de suas próprias cobranças indevidas; (iii) inexistência de previsão acerca da
ampliação do prazo previsto no art. 106 da IN RFB n. 2.055/2021, que estabelece o prazo
de 5 anos para aproveitamento dos créditos, a partir da data do trânsito em julgado ou
homologação da desistência de execução judicial do título.

● Revogação do PERSE: o benefício, originariamente, esgotaria apenas em 2027, porém,


com a nova previsão, as alíquotas de IRPJ serão reestabelecidas a partir de 2025 e as
contribuições ao PIS, COFINS e CSLL serão exigidas a partir de abril de 2024.
O programa vem sendo objeto de inúmeras discussões judiciais desde a sua
implementação, em razão das limitações progressivamente impostas por atos
infralegais e contrários a princípios constitucionais como a isonomia tributária e a
neutralidade fiscal. Soma-se a isso, agora, a possibilidade de que os contribuintes que
faziam jus aos benefícios, preenchendo as condições impostas pela legislação, discutam
a revogação com base no art. 178 do CTN, que impossibilita a revogação de benefícios
fiscais condicionados de prazo determinado.

● Adicional de 1% da COFINS-Importação: revogada a Lei n. 14.784/2023, que estendia a


exigência do adicional até 31 de dezembro de 2027. A medida, para que mantenha seus
efeitos, precisará ser ratificada pelo Congresso Nacional.

4. Lei n. 14.789/2023 (conversão da MP no 1.185/2023) e IN RFB n. 2.180/2024 - Tributação


e regulamentação dos créditos relativos à subvenção para expansão de
empreendimento.

A Lei n. 14.789/2023 revoga o art. 30 da Lei n. 12.973/2014 e concede, em substituição, um


“crédito fiscal de subvenção”, prevendo a necessidade de que o valor dos incentivos
outorgados esteja relacionado à implantação ou expansão de empreendimento
econômico, precedidas de pedido de habilitação formulado pela pessoa jurídica, dentre
outros requisitos.

Entre os possíveis questionamentos originados pela alteração normativa, destacam-se (i) a


sujeição dos créditos presumidos de ICMS ao novo regime, na medida em que, nos termos
do já referido entendimento do STJ, imposições constitucionais afetas ao pacto federativo
e à impossibilidade de instituição de isenções heterônomas impossibilitariam sua inclusão
na base de cálculo do IRPJ e da CSLL; (ii) a violação à legalidade tributária,
considerando-se a omissão da lei em relação à CSLL, PIS e COFINS e que a medida implica
considerável aumento na carga tributária.

5. Instrução Normativa RFB n. 2.161/2023 – Novas regras de preços de transferência. Fruto


da Lei n. 14.596/2023, a nova legislação dispõe sobre as regras de controle de preços de
transferência praticados nas transações efetuadas por pessoa jurídica domiciliada no Brasil
com partes relacionadas no exterior. As novas regras são obrigatórias a partir de 01.01.2024.
Saiba mais.

6. Lei Complementar n. 204/2023 - Afasta a incidência do ICMS nas operações de


transferência de mercadoria entre estabelecimentos do mesmo contribuinte. Sobre a
manutenção de créditos no caso de remessas interestaduais, restou estabelecido que (i)
será assegurado o crédito, pela unidade federativa de destino, limitado ao percentual da
respectiva alíquota interestadual, aplicado sobre o valor atribuído à transferência; e, (ii)
pela entidade de origem, quando o valor atribuído à transferência não possibilitar a
utilização integral dos créditos respectivos, de maneira a sobrar um resíduo positivo a ser
assegurado ao contribuinte. A possibilidade de opção pela tributação regular do ICMS
nessas operações foi afastada por veto presidencial, razão pela qual o contribuinte não
terá essa faculdade.

Lei n. 14.787/2023 - Prorrogação do REPORTO até o final de 2028. Empresas que


exploram portos, trilhos de ferrovias sob concessão, dragagem, instalações alfandegadas
de zona secundária e até mesmo o Órgão de Gestão de Mão de Obra do Trabalho
Portuário, em sua faceta de centro de capacitação, ganharam a prerrogativa de
permanecerem usufruindo, até 31.12.2028, da suspensão do II (contanto que não exista
equivalente nacional), IPI, PIS e COFINS nas aquisições domésticas e importações de bens
para o ativo imobilizado.

7. Edital PGDAU 1/2024 – Transação de créditos inscritos em dívida ativa. A PGFN


publicou edital veiculando propostas de transação de débitos inscritos em dívida ativa,
mesmo em fase de execução fiscal ou objeto de parcelamento anterior rescindido, com
exigibilidade suspensa ou não, cujo valor consolidado a ser objeto da negociação seja
igual ou inferior a R$ 45 milhões. Dentre os benefícios, destaca-se a entrada facilitada,
descontos, prazo alongado para pagamento, uso de precatórios para amortizar ou liquidar
o saldo devedor, dentre outros. A adesão está disponível no Portal Regularize desde
08.01.2024 até às 19h de 30.04.2024.
8. Portaria MF n. 1.584/2023 – Regulamentada a transação no contencioso tributário de
relevante e disseminada controvérsia jurídica e de pequeno valor. Dentre as
alterações, há a previsão do novo limite de desconto de 65% (inclusive sobre o principal) e
o prazo máximo de 120 meses para quitação. Para pessoa física ou micro e pequena
empresa, os benefícios são ainda maiores: desconto de até 70% e possibilidade de
pagamento em até 145 prestações.

9. Instrução Normativa RFB n. 2.167/2023 – Programa de regularização de débitos


mantidos por voto de qualidade em decisões proferidas pelo Conselho Administrativo
de Recursos Fiscal (CARF) contra o contribuinte. Os créditos tributários poderão ser
pagos em até 12 parcelas, mensais e sucessivas, com redução de até 100% dos juros de
mora e o requerimento deverá ser formalizado no prazo de 90 dias, contados da ciência
do resultado do julgamento definitivo.
Além disso, há a possibilidade de amortização de dívida consolidada mediante a
utilização de créditos de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa de CSLL ou
precatórios.

10. Lei n. 14.740/2023 e Instrução Normativa RFB n. 2.168/2023 - Autorregularização


incentivada de débitos administrados pela Receita Federal do Brasil. Possibilidade de
liquidação de créditos tributários não constituídos até 30.11.2023, com redução de até
100% das multas, inclusive em relação aos quais já tenha sido iniciado o procedimento de
fiscalização. Foram admitidas a utilização de precatórios, próprios ou de terceiros, além da
utilização de prejuízo fiscal ou saldo negativo de CSLL para fins de abatimento dos valores
devidos, encerrando-se o prazo para adesão até 01.04.2024, por meio do sistema e-CAC.

11. Lei n. 14.788/2023 - Benefício ZFM. Altera a Lei n. 9.532/1997, para aplicar o prazo
constitucional de vigência dos benefícios fiscais da Zona Franca de Manaus e de áreas da
Amazônia Ocidental, até 2074.

Estado de Santa Catarina

1. Lei n. 18.819/2024 – Programa de Recuperação de Créditos Ampliado (Recupera+).


Programa destinado a promover a regularização de débitos de ICMS cujos fatos geradores
tenham ocorrido até 31.12.2022, constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa,
inclusive àqueles em fase de execução fiscal, com descontos de até 95% sobre multa e
juros. Estão excluídos do âmbito do programa os seguintes débitos: (i) parcelados; (ii)
objeto de contrato celebrado sob a égide do PRODEC; e (iii) apurados no regime do
Simples Nacional ainda não inscritos em dívida ativa.

Estado de Paraná

1. Lei Estadual n. 21.860/2023 – Parcelamento de débitos estaduais. Transação tributária


oferece possibilidades para regularização de débitos de natureza tributária ou não
tributária, desde que ainda não inscritos em dívida ativa. Os débitos poderão ser
parcelados em até 120 vezes, ao passo que o valor principal a ser pago não poderá ser
reduzido e nem implicar redução de mais de 65% do débito total original.

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Enviado por Menezes Niebuhr


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