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A OCUPAÇÃO DAS ÁREAS DE MANGUEZAIS AMBIENTALMENTE

PROTEGIDAS EM SÃO LUÍS E O DIREITO À MORADIA


Daniella Danna Soares da Silva1
Débora Danna Soares da Silva2
RESUMO
O presente trabalho faz uma análise acerca dos atuais conflitos no que tange o direito a
moradia e o ambiente ecologicamente equilibrado. Para abordar esta questão, é realizada uma
abordagem acerca do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado sob o aspecto de
direito fundamental, sobre a importância da preservação do meio ambiente urbano para a
sustentabilidade das cidades, bem como sobre as ocupações irregulares em áreas
especialmente protegidas pela legislação ambiental.
Palavras-chave: moradia; ambiente; mangue.
INTRODUÇÃO
A preservação ambiental toma contornos cada vez mais preocupantes e alarmantes,
pois constata-se diuturnamente a deterioração do ambiente natural, resultante principalmente
da exploração intensa e irracional do solo urbano (ANDREOLA; CENCI, 2011). Implicando
em diversos impactos negativos tais como a pobreza, a poluição, a marginalização, a elevada
concentração populacional e a precária estrutura, a hipervalorizarão do solo e o consequente
elevado déficit habitacional (HENKES, 2006).
Por isso, é de suma importância assegurar que todos os cidadãos tenham garantido o
direito à moradia em um ambiente ecologicamente equilibrado a fim de assegurar uma sadia
qualidade de vida. No entanto, a tentativa de satisfazer tal direito torna-se cada vez mais
difícil, pois a falta de acesso a moradias leva algumas famílias a se instalarem em áreas de
proteção ambiental, que juridicamente devem ter o uso e a ocupação restrita e sob a tutela de
um manejo sustentável.
Na ilha de São Luís é constante a construção de habitações nas áreas de manguezais,
com intenção de satisfazer o déficit habitacional sempre crescente, assim faz-se necessário a
utilização de medidas pelo poder público que garantam a preservação no mínimo parcial
dessas áreas, para que as gerações futuras tenham acesso a um meio ambiente de qualidade.
Os impactos ambientais da construção de moradias nas áreas de manguezais podem
trazer consequências irreversíveis ao meio ambiente e não apenas isso, á saúde humana é
posta em risco, uma vez que em decorrência da falta de infraestrutura e saneamento, em que o
esgoto produzido desemboca diretamente nas águas do mangue, o surgimento de doenças é
elevado. A qualidade de vida proposta pelo governo torna-se desconfigurada.
1 Graduanda do curso de Direito da Universidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
2
OBJETIVOS
Estudar embate entre direito à moradia e o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado em áreas de mangues de São Luís, Maranhão.
METODOLOGIA
Este trabalho caracteriza-se como uma discussão teórica, delineada
predominantemente a partir da pesquisa bibliográfica envolvendo o tema abordado. A
pesquisa bibliográfica foi programada procurando descrever e analisar os seguintes aspectos:
impactos do uso e ocupação do solo desordenado, vulnerabilidade dos ecossistemas de
mangues, conflito entre direitos fundamentais, entre outros.
RESULTADOS
Conflito entre direitos fundamentais: Direito a moradia e o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e os impactos ambientais da ocupação de áreas de
manguezais em São Luís.
Segundo o art. 6º da Constituição Federal/88, são direitos sociais: a educação, a saúde,
o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Portanto, o direito à
moradia é, então, direito social de 2° dimensão que devem ser assegurados pelo Estado
(HENKES, 2006) (grifo nosso).
Em virtude desta garantia estatal, o Estado passou a ter um status positivo que se
afigura aos direitos de prestação, ou seja, existe a “exigência perante o Estado para que este
haja para minorar as desigualdades” (SOARES, 2011). Essa ação positiva do Estado se
concretiza por meio de políticas públicas que se destinam para dissolver mazelas que assolam
o desenvolvimento social, no caso em especial, políticas públicas que visam melhorar
questões urbano-habitacionais (MENDES et al., 2015).
Porém, o direito a moradia que deveria ser assegurado a todos os cidadãos, não o é.
Hoje, nota-se um grande problema acerca da ocupação e uso do solo, que se dar de forma
desordenada e aliada aos altos custos imobiliários impossibilita o acesso a habitação, a
famílias de baixa renda, aumentando o processo de periferização. O resultado é a ocupação
indevida de áreas protegidas, causando inúmeros impactos ambientais negativos (MENDES
et al., 2015) (grifo nosso).
Confrontando então o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado que é de
suma importância. No que diz respeito esse direito a CF/88 dispõe no art. 225 o direito ao
meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Preceitua o art.
225, caput, da Constituição da República que:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Visto isso, nota-se que há um conflito para assegurar tais direitos. “Haverá autêntica
colisão de direitos quando o exercício de um direito fundamental por parte do seu titular
colide com o exercício do direito fundamental por parte de outro titular” (AZEVEDO et al.
apud VIEGAS, 2004).
Cumpri salientar que a habitação em áreas ambientais protegidas é um fenômeno de
imensurável gravidade, em razão da sua importância para o equilíbrio ambiental, seja por
serem ecossistemas frágeis ou áreas que abrigam espécies em extinção. Portanto, áreas
ambientais protegidas têm uma tutela legal em decorrência das suas especificidades e quanto à
efetivação do direito à moradia nessas áreas, ressalva-se que tais colisões sejam resolvidas a
partir da proporcionalidade dos valores em confronto, lembrando que o direito ao meio
ambiente equilibrado pertencente às presentes e futuras gerações, número indeterminado de
pessoas, deve prevalecer sobre o direito dos moradores da área protegida, número
determinado de pessoas (HENKES, 2006).
Em São Luís a realidade atual é a construção de habitações em margens de mangues, uma
vez que as politicas públicas do município não asseguram o direito à moradia, motivo que
leva a destruição dessas áreas. A construção de casas em áreas de mangues contribui
significativamente para o assoreamento do mesmo e consequentemente morte desse tipo de
ecossistema.
CONCLUSÃO
É visto que tanto o direito à moradia quanto o direito a um meio ambiente
ecologicamente equilibrado são de extrema importância para uma vida saudável, assim como
é visível que esses direitos muitas vezes entram em colisão, haja vista o ser humano ter
recursos limitados e necessidades ilimitadas.
Portanto, no caso de colisão entre direitos fundamentais o magistrado invocado deve
solucionar a lide aplicando o princípio da proporcionalidade ponderando acerca da primazia
dos direitos e valores lesados, a fim de pôr justa equação à lide. Nesse sentido, salienta-se que
a efetuação do direito à moradia não pode acontecer em áreas protegidas, exceto se estas
perderam sua função ecológica e as áreas sejam habitáveis. Contudo, se possível e viável a
reparação das áreas protegidas ocupadas estas devem ser oportunizadas, retirando-se os
ocupantes e assegurando-se o direito à moradia em outro local.
REFERÊNCIAS
ANDEROLA, Patrícia; CENCI, Daniel Rubens. O direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e os conflitos socioambientais urbanos: desafios para a
sustentabilidade nas cidades. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul - UNIJUÍ, Ijuí, 2011.

AZEVEDO, Gustavo José Gomes; JUNIOR, João Alves Bezerra; VIEGAS, Thaís Emília de
Sousa. O Direito à Moradia em face da Preservação Ambiental: O caso das famílias instaladas
na Área Leste 2 do Grande Santuário Ecológico do Sítio do Rangedor em São Luís/MA.
CEDS: Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB, [São
Luís], v. 1, n. 2, abr. 2015.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro


de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acessado em: 14 set. 2016.

HENKES, Silviana L. Colisão de direitos fundamentais: Meio ambiente ecologicamente


equilibrado e acesso à moradia em áreas protegidas. 2006. v.2. Tese (Graduação em
Direito Ambiental) - Universidade Federal de Santa Catarina, [s.l.], 2006.

MENDES, Carlos Hélder Carvalho Furtado; CASTRO, Maíra Lopes de; VIEGAS, Thaís
Emília de Sousa. Direito à moradia e ocupação de espaços ambientalmente protegidos: O
Programa de Aceleração de Crescimento na Bacia do Rio Anil (São Luís - MA) e os impactos
ao ecossistema manguezal. CEDS: Periódico do Centro de Estudos em Desenvolvimento
Sustentável da UNDB, [São Luís], v. 1, n. 2, abr. 2015.

SOARES, Lucas. Direito Constitucional II. 2011. Disponível em:


<http://pt.scribd.com/doc/56061924/3/Teoria-dos-quatro-status-de-Jellinek>. Acessado: em
12 de set. de 2016.

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