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Nº2/1: competência da lei civil para regular os requisitos e os efeitos do casamento (seja
religiosamente ou civilmente) e a sua dissolução. Os requisitos relativos à capacidade
matrimonial são regulados pela competência da lei civil (art. 1625º CC) – qualquer
invalidade do casamento religioso é reservada aos Tribunais Eclesiásticos competentes e
não da competência dos Tribunais Civis. Tem-se aqui uma norma aparentemente
inconstitucional, enquanto a CRP diz uma coisa, o Código Civil diz outra, isto é, estão
contrárias (art. 36º, nº2 CRP). Mas, a nível histórico, quando se fez a CRP estava-se a
renegociar com a Santa Sé, pelo que, a norma do CC não é inconstitucional, pois as
pessoas podem se divorciar, extinguir os efeitos cíveis mas não os efeitos canónicos.
Nº3: igualdade dos cônjuges quanto à sua capacidade civil e manutenção da educação
dos filhos (1671º CC - no nº2 fala dos deveres dos cônjuges. Antigamente, o poder
paternal pertencia ao pai exclusivamente. Hoje, art. 1901º, as responsabilidades
parentais pertence a ambos os pais. Para os casais juntos por união de facto, desde que
tenham as três comunhões, exercem o mesmo poder.
Nº4: não discriminação dos filhos, independentemente, dos pais estarem ou não
casados. Tem de ser desfavorável, pelo que se tem presente o princípio da
proporcionalidade. Isto tem a ver com as classes sucessórias, já que filhos bastardos não
herdavam.
Nº5: dever dos pais na educação e manutenção dos filhos. Significa poder sobre os
filhos (art. 1878º CC – conteúdo das responsabilidades parentais) e (art. 1874º CC –
deveres de pais e filhos: deve-se assistir aos pais), (art. 1871º, 1885º, 1886º, 1887º -
abandono do lar). O art. 67º/2/c é também um poder do Estado, uma cooperação (art.
43º/2 – forma de cooperação).
Nº6: inseparabilidade dos filhos dos seus progenitores (art. 1915º e 1918º CC –
situações em que os filhos podem ser retirados aos pais).
Nº7: proteção da adoção, prevista no art. 1973º CC. Os requisitos da ação estão
previstos no art. 1974º CC. A adoção é plena ou restrita (art. 1977º/1). A plena está no
art. 1979º e a restrita no 1992º. Os efeitos da plena estão previstos no art. 1986º, já os da
restrita estão no art. 1999º e 2000º.
Parentesco
A
B e C são parentes (irmãos) na linha
colateral no 2º grau. Desconta-se A por
B C
ser o progenitor comum.
O Artigo 1582º é o regime que estabelece, em regra, o parentesco em linha reta produz
sempre efeitos jurídicos ao passo que na linha colateral só produz até ao 6º grau. Assim,
os efeitos relevantes do parentesco são:
1. Efeitos sucessórios (art. 2133º), isto é, classes de sucessíveis. Os parentes que
herdam independentemente da vontade do falecido são os de linha reta. Pode ser ao
nível ascendente e descendente. Em regra, só os descendentes com os cônjuges é que
herdam. Em questões de herança só vai até o 4º grau.
2. Impedimentos Matrimonias (art. 1602º): os parentes em determinado grau e linha
reta não podem casar, pois o cruzamento sanguíneo entre parentes tem mais
probabilidade de ter filhos doentes mentais. Os impedimentos podem ser dirimentes
porque caso se casem o casamento é anulável, mas também podem ser relativos pois as
pessoas têm o direito de casar só que não com parentes de linha reta. Também parentes
em linha colateral no 2º grau (irmãos) não podem casar. No artigo 1604º/c refere que na
linha colateral no 3º grau (tio-sobrinho) não podem casar. Já não é um impedimento
dirimente mas impediente, isto é, o casamento não será anulável. Os impedientes são
suscetiveis de dispensa por parte do conservador.
3. Obrigação de prestação de alimentos (art. 2009º): é um efeito menos importante e
estabelece que as pessoas podem ser obrigadas a dar alimentos a parentes se tiver
preenchido determinados requisitos.
4. Obrigação de estabelecer tutela (art. 1931º/1).
5. Obrigação de participação do conselho de família (art. 1952º/1).
Afinidade
È a relação jurídica que se estabelece entre alguém e os parentes do seu cônjuge. É uma
relação jurídica famélico familiar que depende de outra. Quem não for casado não tem
afins, ou se algum parente for, depende de um casamento.
Como se faz o conto? Da mesma forma do parentesco, por exemplo: eu sou cunhada do
irmão do meu marido, sou afim no 2º grau da linha colateral. Eu sou à minha enteada
afim no 1º grau da linha reta. Já na União de Facto não produz afinidade.
Os efeitos da afinidade: são substancialmente inferiores ao parentesco. Não tem efeitos
sucessórios, não herdam nada, Mas ao nível dos impedimentos (1602º/c) já tem efeitos.
É impedido casamento entre afins na linha reta, por motivos sociais (enteados e
padrastos). A afinidade extingue-se se o casamento se dissolver por divórcio, todavia,
não se extinguem se o casamento se dissolver por morte de um dos cônjuges. É uma
solução relativamente recente, até à pouco tempo o divorcio não extinguia a afinidade.
4. Carácter relativo: não tem eficácia erga omnes, mas sim inter partes, ou seja, diz
respeito a duas partes.
Casamento
A legislação portuguesa tem uma definição para casamento no art. 1577º: “casamento é
o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma
plena comunhão de vida”. Na definição legal, o casamento é apresentado como um
contrato, que regula a constituição da família uma vila plena. É uma definição muito
discutível porque o contrato é um instrumento típico da liberdade contratual, há um
sentido em que duas pessoas encontram um consenso jurídico mas na maioria dos casos
já estabelecido na lei e de forma imperativa. É de facto um contrato, mas um contrato
pessoal e não de crédito. Tem em conta o Estado Civil de duas pessoas (art. 1699º) e o
património de duas pessoas.
Todavia, a circunstância de que as pessoas não são obrigadas a casar não obsta de
considerar o casamento como um contrato. A Figura Promessa de casamento é possível
ser celebrada como contrato? Sim, é, tem um conjunto de especificidades que torna
possível mas só para quem quer (art. 1591º: a promessa não é invalida mas
relativamente ao objeto é ineficaz). Não só a promessa não garante o casamento como
não garante uma indemnização, só para o ressarcimento de gastos com o casamento.
Para o caso invoca-se uma execução específica: invoca-se o incumprimento, mas é
difícil obter uma declaração judicial.
Casamento Civil
Tem requisitos de fundo, nomeadamente o consentimento e a perfeição.
Começando pelo consentimento: tem algumas especificidades, nomeadamente:
natureza pessoal (probabilidade dos contratos serem ou não outorgados por procuração
(art. 1619º). Este principio comporta uma exceção: art. 1620º: prevê a possibilidade do
casamento por procuração mas só um dos noivos pode ser representado por procurador
no dia do casamento. Se pudessem os dois estaria-se a retirar o caracter pessoal que o
casamento tem de ter. Segundo o nº2 do 1620º tem de ser uma procuração
especialíssima, tem que ter poderes especiais e apresenta caducidades no art. 1621º.
O consentimento tem um caracter puro e simples: as partes não podem opor ao contrato
nem condições nem termos. Não pode ser susceptivel a um prazo nem condicional
(art.1618º).
Quanto á perfeição, o mútuo consenso tem de ter uma perfeição redobrada. Há uma
preocupação do legislador em garantir que a vontade declarada das partes corresponda à
vontade real. Esta preocupação é tao grande que o legislador prevê a perfeição do
consentimento (art. 1634º - 1627º “as hipóteses da falta de vontade são as previstas na
lei. Pretende-se preservar a subsistência da relação matrimonial e deve-se ter em conta
desde o momento da celebração do casamento até ao momento do vicio”. Há
determinados casos em que é possível mostrar que a vontade declarada não
corresponde à real (art. 1635º): o casamento é anulável por falta de vontade. A
primeira hipótese é por consumo de qualquer substancia, pois não tinham consciência
da declaração emitida, mas o comportamento tinha de ser adequado. Na alínea a),
quando o nubente estava em erro acerca da identidade física do outro. Na c) quando a
declaração de vontade tenha sido extorquida por coação física (conservador assistiu,
logo alinhou). Por último, hipótese do casamento simulado: é muito frequente para
enganar terceiros, muitas vezes para adquirir a nacionalidade. Só há simulação se as
partes não assumirem a comunhão do casamento após a sua celebração. Criam apenas
essa aparência.
Hipóteses de falta de vontade
Aqui nestes casos não se está perante uma situação de falta de vontade, a pessoa queria
de facto casar, mas acontece algo que o leva a cometer um erro, ou seja, deixa de querer
casar. São as situações do erro que vicia a vontade e da coação moral.
Impedimentos Matrimoniais
Casamento Urgente
O Art. 1628º diz-nos que o casamento civil só pode ser nulo ou inexistente. A
inexistência é a consequência jurídica mais grave no direito, o ato é tao desconexo que
não tem qualquer reconhecimento. É juridicamente inexistente um casamento que não
seja celebrado por conservadores (art. 1628º/a). Também é inexistente o casamento em
que tenha faltado a declaração de vontade de um ou de ambos os nubentes (art. 1628º/c).
Ainda é inexistente o casamento urgente (art. 1628º/d). Entende-se por casamento
urgente, o casamento que não observa os procedimentos preliminares que a lei prevê,
nomeadamente o código do registro civil, e que é celebrado sem a intervenção do
competente funcionário do registro civil. A lei prevê possibilidades em duas
circunstâncias: receio fundado da morte de algum dos nubentes ou a iminência de parto.
Nestes casos excecionais, como não há tempo para os anúncios preliminares, a lei
permite um casamento urgente, sendo que, posteriormente, essas formalidades são
cumpridas – amolgação. Se não for objeto de amolgação será considerado inexistente.
Por fim, é inexistente o casamento contraído por procurador quando os efeitos da
procuração já tenham sido cessados.
O legislador procura sempre proteger a subsistência do casamento e tanto é assim que,
quando o casamento for considerado invalido, há um regime que protege alguns dos
seus efeitos, que são considerados relevantes (art. 1647º).
Convenções antinupciais
É um negócio jurídico que corresponde a um instrumento, através do qual, os esposos
podem estabelecer o regime jurídico de bens do seu casamento. A convenção
antinupcial não é obrigatória, uma vez que, a lei tem um regime supletivo. Todavia, a lei
permite a liberdade contratual e com isso, pode afastar o regime supletivo e fixar um
dos outros regimes típicos ou ainda elaborar um atípico (particular aos cônjuges com os
aspetos que lhes interessam).
Esta ampla liberdade contratual não é absoluta, ela pode ser quartada, mas há duas
situações em que é total, nomeadamente:
1. Imperatividade absoluta (art. 1720º: quando o casamento é celebrado sem
precedência do processo preliminar de casamento ou quando um dos cônjuges tenha 60
anos de idade, o regime obrigatório é o da separação de bens a menos que façam uma
convenção antinupcial. A primeira hipótese faz todo o sentido porque promove a cautela
que o regime de separação de bens tem em conta mas a segunda não faz qualquer
sentido, é absurda, na medida que, uma pessoa com 60 anos pode escolher um regime
de bens. Para além deste, há o artigo 1699º/2 em que, não havendo a hipótese de
imperatividade absoluta há uma hipótese de:
2. Limitação da liberdade contratual: “se o casamento for celebrado por quem tenha
filhos, não poderá ser convencionado o regime da comunhão geral” – não é permitido
tal regime para proteger os interesses patrimoniais dos filhos. Tirando estas duas
limitações, os cônjuges gozam de liberdade contratual.
Características das convenções antinupciais:
Capacidade para a celebração da convenção: é um negócio jurídico que vive na
estrita dependência de outro. O art. 1708º/1 estabelece que “têm capacidade para
celebrar convenções aqueles que têm capacidade para contrair casamento”. No nº2 do
mesmo estabelece que, aos menores, interditos ou inabilitados só é permitido celebrar
convenções antinupciais com a autorização dos pais, caso contrário gera a anulabilidade
do contrato. É uma exigência maior à da celebração do casamento e é compreensível
porque a convenção antinupcial pode ter consequências muito perigosas.
Forma: a convenção antinupcial tem de ser feita por escritura pública ou por
declaração testada perante um funcionário do registro civil (art. 1710º).
Registo: para ter eficácia perante terceiros, a convenção antinupcial depende de
registro na conservatória do registro civil (art. 1711º).
Imutabilidade: as convenções antinupciais e os regimes de bens que vigorarem são
imutáveis, no entanto, há exceções: separação judicial de bens e separação judicial de
pessoas e bens (art. 1715º). Permite-se que o regime de bens seja alterado.
Casamento válido: é condição de eficácia da convenção antinupcial. Se o casamento
não for celebrado no prazo de um ano a contar da celebração da convenção ou se o
casamento for declarado nulo ou anulado, a convenção caduca (art. 1716º).
Regime de Bens
Entre o artigo 1717º e o artigo 1720º está um conjunto de regras gerais e,
posteriormente, um conjunto de regras especiais.
Caso Prático 1:
Diana, de 16 anos, contrai casamento civil com Eduardo, maior, em Janeiro de
2012. Diana apenas pretendia casar-se, unicamente, para ser livre da tutela dos
pais e obter a emancipação, ao passo que Eduardo visava, através do casamento,
obter um prometido emprego na empresa dos pais de Diana. Eduardo teve, aliás,
conhecimento das intenções de Diana, ainda antes do casamento, mas, interessado
como estava nas vantagens materiais que contava retirar do casamento, não
procurou explicar-se com Diana.
Esta veio a saber, no principio de 2015, que seu marido, ao contrario do que fazia
supor não era uma, mas sim duas vezes divorciado e sempre por culpa exclusiva
sua, uma vez que, em qualquer dos anteriores casamentos, sempre se mostrara
muito violento e agressivo, devido, em parte ao seu alcoolismo, o que, por todos os
meios, sempre ocultava a Diana e aos seus pais. Tendo já obtido aquilo que
desejava quando contraíra matrimónio. Diana pretende socorrer-se deste pretexto
para invalidar o casamento. Comente as probabilidades de Diana nesta ação e
pronuncie-se sobre a validade do seu casamento.
Diana casa com 16 anos de idade. Neste contexto está-se perante um impedimento
impediente (art. 1604º/a). Como consequência tem-se o art. 1649º que é uma sanção de
caracter patrimonial para os nubentes e de caracter disciplinar para o celebrador. Mas
esta consequência não invalida o casamento. O casamento não teve “acordo
simulatório” logo não houve simulação. A reserva mental é a figura mais próxima da
simulação e é o que aqui está presente: reserva mental bilateral (art. 244º). A reserva
mental de Diana é conhecida pelo outro, logo tem os mesmos efeitos da simulação (art.
244º/). Agora já se passaram mais de 3 anos desde a celebração do casamento e Diana
pretende anular o casamento, poderia faze-lo alegando erro vício (art. 1636º)? É preciso
verificar se é uma qualidade essencial, se é desculpável, se é próprio (não recai sobre
uma condição da validade ou existência do casamento), e se é um erro essencialmente
determinante da vontade (subjetivamente e objetivamente). Objetivamente era mas
subjetivamente não, isto porque, o facto determinante de Diana para casar foi a
emancipação, ou seja, para ela este facto não seria relevante. Portanto, por este caminho
não poderia anular o casamento.
Caso Prático 2:
Ana, de 17 anos, que espera um filho de Bento, de 20 anos, sabe que este não deseja
contrair casamento com ela. Vem a saber, entretanto, que seus pais, emigrantes em
França e pessoas de princípios morais rígidos e severos, se aprestam a voltar a
Portugal. Temerosa da reação dos pais e não querendo desgostá-los, procura
Bento, e coloca-o a par da situação. Concordam então em celebrar casamento civil
com o único fito de conferir ao filho que Ana esperar, o estatuto de “nascido
dentro do casamento”. O casamento vem a realizar-se em Maio de 2013, tendo o
filho de Ana e Bento nascido quatro meses depois.
Conhecedores da situação, os pais de Ana, desejam invalidar o casamento da filha.
Comente os fundamentos que possam servir à sua pretensão.
Ana é menor e contraiu casamento com Bento. Está-se perante um impedimento
impediente (art. 1604º/1) com eficácia impeditiva. Está presente um casamento
simulado, sem autorização dos pais, pelo que, Ana não pode casar. Deste impedimento
surge uma eficácia sancionatória: sanções de caracter patrimonial (art. 1650º). Estes
impedimentos são dispensáveis (art. 1609º). Os impedimentos absolutos são sanáveis
(1633º/a/b/c) mediante confirmação.
Então Ana não pode casar e casou sem autorização dos pais e ainda, esse casamento foi
um pacto simulatório com a intenção de enganar terceiros para beneficiarem do art.
1826º. Esse casamento poderá ser anulável nos termos do art. 1640º/1. Mas será que os
pais são vítimas do casamento? Tal é discutível, pelo que, se fossem teriam o prazo de 3
anos (art. 1644º) para a anulação.
Caso Prático 3:
António, emigrante na Venezuela, principia a namorar por carta, Beatriz,
residente em Trás-os-Montes, por indicação de uns seus parentes, residentes na
mesma região.
Em virtude de conhecer uma antiga rixa existente entre a sua família e a família de
António, Beatriz sempre assinou as suas cartas com o nome de sua amiga Carlota
(que era aliás filha não reconhecida do avo materno de António), embora, por
diversas vezes, tivesse enviado a António fotografias suas.
Pessoa volúvel, Beatriz rapidamente se desinteressa do seu namoro com António,
passando este então a corresponder-se com a verdadeira Carlota, sem que esta, no
entanto, desfizesse o engano. António e Carlota contraem casamento civil por
procuração em Maio de 2010. António regressou definitivamente a Portugal em
Abril de 2014 e só então verificou que não casara com a pessoa com quem
namorara. Ao mesmo tempo, o avô materno de António reconheceu Carlota como
sua filha, o que só veio piorar o estado das coisas. Pergunta-se: pode hoje António
invalidar o seu casamento com Carlota?
António casou-se com Carlota, mas a Carlota era a Beatriz e só mais tarde passou a falar
com a verdadeira Carlota. Apesar do nome, Beatriz mandava fotos suas. António foi
induzido em erro em relação à identidade de Carlota (art. 1635º/b).
Mais tarde, sabe-se que Carlota é filha não reconhecida do avo de António. Constituiria
alguma circunstância? Não, nos termos do artigo 1603º. Este casamento poderia ser
anulado? Por quem? Sim, podia, pelo António que é cônjuge, nos termos do art. 1640º,
no prazo de 6 meses apos o conhecimento deste vício (art. 1644º).
Caso Prático 4:
Joaquina e Gustavo, ela de 15 anos e ele de 18 anos, casaram civilmente em Abril
de 2013. Gustavo ignorava a verdadeira idade de Joaquina uma vez que esta, com
uma aparência física desenvolvida para a idade, aparentava os 18 anos que
afirmava ter. Em Maio de 2014 Gustavo descobriu a verdadeira idade de Joaquina
e desgostoso com a sua mentira resolveu invalidar o casamento. Mas o tempo foi
passando e só hoje o vem consultar a si para o livrar daquele casamento que
contraiu enganado. Resolva o problema de Gustavo.
Está-se perante um impedimento dirimente absoluto nos termos do art. 1601º/a).
Joaquina tem 15 anos, logo, tem idade inferior a 16 anos. De acordo com o art. 1631º/a)
é anulável o casamento contraído por algum impedimento dirimente. Quem pode
anular? As pessoas mencionadas no art. 1639º, tem uma legitimidade alargada por ser
de interesse público. Qual o prazo para arguir a anulabilidade? Três anos seguintes a
celebração do casamento, nos termos do art. 1643º/1/a). Mas, se for o Ministério
Público já se aplica o nº2, que refere que, tem o prazo de 6 meses depois da dissolução
do casamento e ele só se dissolve com a morte.
Outra forma de resolver o problema seria alegando erro que vicia a vontade (art. 1636º),
em que teria de preencher determinados requisitos: recair sobre qualidades essenciais,
erro seja desculpável, erro seja próprio, erro tenha sido fulcral na decisão de casamento
e que subjetivamente e objetivamente seja um facto importante. Com base no erro que
vicia a vontade o casamento não seria anulável por não se verificar o requisito da
propriedade do erro.
Caso Prático 5:
António ameaça Bento de que se não casar com a sua irmã Cristina lançara fogo a
uma propriedade de Daniel, grande amigo de Bento. Este sabe que tal propriedade
é a única fonte de rendimento de Daniel e com receio da concretização da ameaça
casa com Cristina em Abril de 2011. Dois anos depois, cai, ao descer as escadas de
sua casa, e entra em coma, vindo a morrer passado um ano. Poderá Bento
invalidar o seu casamento com Cristina?
Está aqui presente coação moral (art. 1638º - 255º + 256º) que tem determinado
requisitos, nomeadamente: ilicitude da ameaça (255º e 1638º), gravidade do mal (256º e
1638º), justificação do receio da consumação (256º e 1638º), cominação do mal (255º) e
intenção de obter a declaração (255º). Estes requisitos foram verificados.
Quem tem legitimidade para arguir a anulação? O cônjuge que foi vítima da coação
(Bento – art. 1641º) no prazo de 6 meses subsequentes à cessação do vício (art. 1645º).
Quando cessão o vício? Quando deixa de estar sob coação, isto é, quando faltam os
requisitos da coação (quando A entra em coma ou quando A morre. Estas duas
hipóteses são aceites desde que justificadas, os advogados escolhem a mais vantajosa.
Caso Prático 6:
Em 1998 António contraiu casamento com Belarmina viúva de seu irmão Carlos.
Em 2002 adotaram plenamente Deolinda. Em Abril de 2008, Deolinda casa
catolicamente com Ernesto, filho não reconhecido de António. O Conservador do
Registo Civil recusou a transcrição do casamento. Em 2010 Deolinda e Ernesto
separam-se de facto.
Em Maio de 2011 Deolinda casa civilmente com Fernando sem convenção
antenupcial e sob ameaça de que caso ela se recusasse a casar ele denunciaria um
crime cometido por António.
Em 2012 António morre e Deolinda pretende agora casar catolicamente com
Guilherme.
Existiam impedimentos ao casamento de António com Belarmina e de Deolinda
com Ernesto? Poderá Deolinda anular os seus 2 casamentos? Com que
fundamentos?
A e B são afins: art. 1585º e a morte não faz cessar a afinidade. São afins no 2º grau na
linha colateral (art. 1602º: não se aplica, não há nenhum impedimento). Está presente
uma adoção plena (art. 1986º): passa a ser considerada como filha. O filho não estando
reconhecido não se estabelece a filiação (art. 1603º + 1602º/b). Se não se fizer isto, o
casamento por aqui não é inválido.
Registro por transcrição: o padre inscreve o assento do casamento. Este vai ser
transcrito para o registro civil – registro por “cópia”, neste caso do assento católico.
D e F, o conservador não transcreveu, logo não estava casado. D não é bígamo. O art.
1669º: a única forma de provar o casamento é através da certidão/ assento de casamento
civil. Na parte final deste artigo fala em exceções: art. 1601º/c, logo havia impedimento
e D é bígamo (1601º). Portanto, A e B não é anulável, D e E não é anulável e D e F é
anulável. Verificado o Impedimento Dirimente Absoluto, o casamento será anulável nos
termos do art. 1631º e 1639º, no prazo de até 6 meses depois da dissolução do
casamento (art. 1643º/1/c). A coação moral preenche todos os requisitos? Não, falta a
ilicitude da ameaça, pelo que, já não podia ser anulável.
Caso Prático 7:
António contraiu casamento em Agosto de 2006 com Berta, viúva de seu irmão
Carlos. Dois anos depois Berta morre num acidente de viação e em Setembro de
2009, António contrai novo casamento com Filipa, filha do anterior casamento de
Berta.
Em Abril de 2011 António sofre um acidente vascular - cerebral que lhe é fatal,
tendo deixado testamento, em que dispunha de algumas peças de arte em favor de
sua mulher Filipa, revogando um anterior testamento a favor de sua irmã, Joana.
Em Agosto de 2012, Filipa, contrai novo casamento com José, seu antigo
namorado.
a) Existem impedimentos aos casamentos de António com Filipa e desta com José?
Em caso afirmativo, indique quais e classifique-os.
No primeiro casamento, são afins na linha colateral no 2º grau, logo não há
impedimento e podiam casar. Em 2008, António casou com Filipa, filha de Berta,
poderia fazê-lo? Não. Trata-se de um impedimento dirimente relativo (art. 1602º/c).
Podia ser anulável nos termos do artigo 1631º.
b) Joana, que sempre contara receber as peças de arte de António, pretende evitar
que Filipa as receba, invocando a invalidade do casamento desta com o seu irmão.
Pode fazê-lo? Joana nada podia fazer, pois a sanção patrimonial seria apenas para
António e não para a Filipa (art. 1650º). Seria válido porque Filipa é que era a
beneficiária na relação entre os dois.
Caso Prático 8:
Ana e Bento, casaram em 2010 na cidade do Porto. Bento, porém, encontrava-se a
essa data casado com Carolina, Canadiana. O casamento tinha sido celebrado em
2000 no Estado da Califórnia. O auto não constava do Livro de Registo da
Conservatória de Matosinhos, onde Bento estava registado. Bento, tinha intentado
uma acção anulatória do primeiro casamento com fundamento na alínea b) do Artº
1601º. Até à data ainda não foi proferida qualquer decisão.
Hoje, Bento, pretende propor uma acção anulatória do seu segundo casamento
com base na alínea c) do Artº 1601º. Quid Iuris?
Está aqui presente um impedimento dirimente absoluto e Bento pretende anular o
casamento e ele tem legitimidade nos termos do artigo 1639º no prazo de 6 meses
depois da dissolução do casamento. Embora, Bento já tinha pendente uma anulação do
casamento anterior, ele intenta outra contra o segundo casamento. Assim, com base no
art. 1633º, o casamento seria declarado nulo ou anulado.
Caso Prático 9:
Ana e Bento casaram e Janeiro de 1995, tendo anteriormente estipulado que o
regime de bens seria o de comunhão geral. Ana praticou sucessivamente os
seguintes atos sem autorização do marido:
Em Janeiro de 2012, comprou, com proventos do seu trabalho, um automóvel.
Em Novembro de 2013, vendeu um valioso conjunto de livros que recebera por
herança de sua mãe.
Em Julho de 2014, emprestou a um casal amigo uma vivenda recebida por
sucessão de um familiar.
Diga se tais atos são validos e, caso não o sejam, o que pode Bento fazer. Justifique.
Ana e Bernardo casaram sob o regime da comunhão geral de bens (art. 1732º). O
automóvel comprado em Janeiro de 2012 é um bem comum mas a sua administração é
singular e Ana comprou sem o consentimento do marido, pode faze-lo? O dinheiro é um
bem móvel pelo que, se aplica o artigo 1682º porque ela está a alienar o dinheiro, e ela
como é administradora dele pode aliena-lo sem o consentimento do outro.
Os livros que recebera de sua mãe é um bem comum mas a administração é singular.
Ela será unicamente de Ana (art. 1678º/c). Então cabe novamente o nº 2 do 1682º e Ana
pode alienar sem o consentimento do marido.
Já a vivenda é um bem comum por causa do art. 1632º e a administração é exclusiva de
Ana (1678º/2/c), mas será que pode dispor dele? É um direito pessoal, mas de acordo
com o 1678º/A/1/a, não podia arrendar, pelo que, será aplicada uma sanção do art.
1687º: o negócio era anulável pelo Bento, uma vez que, não deu o seu consentimento.
c) Beatriz pretende arranjar o automóvel por ter detetado ferrugem por baixo da
carroçaria do mesmo. Pode fazê-lo? Quem responde pela dívida?
Beatriz não o pode fazer (art. 1678º/1). A dívida será exclusiva do administrador e
corresponderam os seus bens (art. 1692º/a e 1696º).