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 Objeto do Direito da Família

O Direito da Família regula essencialmente três relações jurídicas:


1. Relação Jurídica Familiar (art. 1576º CC): tem como fontes o Parentesco, a
Afinidade, a Adoção e o Casamento. Todavia, o objeto de Direito da Família não se
esgota aqui, tem um âmbito de abrangência maior:
2. Relação Jurídica para Familiares: relação jurídica que, embora não possam ser
qualificados como familiares, mantem com estas uma conexão tao grande que a lei, em
determinados efeitos aplica o mesmo regime jurídico: união de facto e vida em
economia comum. Estas relações embora não sejam iguais equiparam-se em
determinados aspetos.
3. Relação Jurídica de natureza penal e obrigacional: que embora, não tenham a
qualidade das outras vêm o seu regime afetado por força de uma existência prévia de
relações familiares ou para familiares.

 Princípios constitucionais (art. 36º CRP)


Nº1/ 2ª parte: direito de contrair casamento. Implica o direito de decidir se quer casar
ou não e o direito de escolher o cônjuge. O legislador não pode estabelecer
impedimentos/ restrições à celebração do casamento (por motivos públicos) ou
impedimentos injustificáveis, por exemplo: impedir casamentos de religiões diferentes.

Nº1/ 1ª parte: direito de constituir família (conjugal, filiação, natural, adotiva). A


CRP estabelece o direito fundamental de procriar, ter filhos. Mas este direito pode ser
restringido ou o legislador pode tentar restringir, por exemplo: casal pode ter filhos com
uma doença genética. O legislador pode tentar restringir dependendo do princípio da
proporcionalidade. Este artigo abrange a filiação biológica como a jurídica e impede a
discriminação entre filhos do casamento e filhos bastardos, assim como abrange o
direito de adoção.

Nº2/1: competência da lei civil para regular os requisitos e os efeitos do casamento (seja
religiosamente ou civilmente) e a sua dissolução. Os requisitos relativos à capacidade
matrimonial são regulados pela competência da lei civil (art. 1625º CC) – qualquer
invalidade do casamento religioso é reservada aos Tribunais Eclesiásticos competentes e
não da competência dos Tribunais Civis. Tem-se aqui uma norma aparentemente
inconstitucional, enquanto a CRP diz uma coisa, o Código Civil diz outra, isto é, estão
contrárias (art. 36º, nº2 CRP). Mas, a nível histórico, quando se fez a CRP estava-se a
renegociar com a Santa Sé, pelo que, a norma do CC não é inconstitucional, pois as
pessoas podem se divorciar, extinguir os efeitos cíveis mas não os efeitos canónicos.

Nº2/2: Princípio da admissibilidade do divórcio para qualquer casamento: o


casamento religioso extingue-se civilmente mas não à luz do direito canónico.

Nº3: igualdade dos cônjuges quanto à sua capacidade civil e manutenção da educação
dos filhos (1671º CC - no nº2 fala dos deveres dos cônjuges. Antigamente, o poder
paternal pertencia ao pai exclusivamente. Hoje, art. 1901º, as responsabilidades
parentais pertence a ambos os pais. Para os casais juntos por união de facto, desde que
tenham as três comunhões, exercem o mesmo poder.

Nº4: não discriminação dos filhos, independentemente, dos pais estarem ou não
casados. Tem de ser desfavorável, pelo que se tem presente o princípio da
proporcionalidade. Isto tem a ver com as classes sucessórias, já que filhos bastardos não
herdavam.

Nº5: dever dos pais na educação e manutenção dos filhos. Significa poder sobre os
filhos (art. 1878º CC – conteúdo das responsabilidades parentais) e (art. 1874º CC –
deveres de pais e filhos: deve-se assistir aos pais), (art. 1871º, 1885º, 1886º, 1887º -
abandono do lar). O art. 67º/2/c é também um poder do Estado, uma cooperação (art.
43º/2 – forma de cooperação).

Nº6: inseparabilidade dos filhos dos seus progenitores (art. 1915º e 1918º CC –
situações em que os filhos podem ser retirados aos pais).

Nº7: proteção da adoção, prevista no art. 1973º CC. Os requisitos da ação estão
previstos no art. 1974º CC. A adoção é plena ou restrita (art. 1977º/1). A plena está no
art. 1979º e a restrita no 1992º. Os efeitos da plena estão previstos no art. 1986º, já os da
restrita estão no art. 1999º e 2000º.
 Parentesco

È uma relação jurídica familiar de natureza consanguínea. No fundo, é a relação jurídica


que existe entre pessoas que descendem uma das outras ou que tem um progenitor
comum. A circunstância do vínculo de parentesco não é irrelevante para a intensidade
dos efeitos que a lei atribui ao Parentesco. Tem de ser obviamente objeto de conto à
linha e ao grau. Existe a linha reta (descendem umas das outras) e colateral (têm
progenitor comum).
Como se faz a contagem do Parentesco? Contabilizando os intervenientes e
descontando o progenitor. Por exemplo:

A
B e C são parentes (irmãos) na linha
colateral no 2º grau. Desconta-se A por
B C
ser o progenitor comum.

A relação entre A e C: são parentes (avô e

B neto) na linha reta no 2º grau. Desconta-


se B por ser o progenitor comum.

O Artigo 1582º é o regime que estabelece, em regra, o parentesco em linha reta produz
sempre efeitos jurídicos ao passo que na linha colateral só produz até ao 6º grau. Assim,
os efeitos relevantes do parentesco são:
1. Efeitos sucessórios (art. 2133º), isto é, classes de sucessíveis. Os parentes que
herdam independentemente da vontade do falecido são os de linha reta. Pode ser ao
nível ascendente e descendente. Em regra, só os descendentes com os cônjuges é que
herdam. Em questões de herança só vai até o 4º grau.
2. Impedimentos Matrimonias (art. 1602º): os parentes em determinado grau e linha
reta não podem casar, pois o cruzamento sanguíneo entre parentes tem mais
probabilidade de ter filhos doentes mentais. Os impedimentos podem ser dirimentes
porque caso se casem o casamento é anulável, mas também podem ser relativos pois as
pessoas têm o direito de casar só que não com parentes de linha reta. Também parentes
em linha colateral no 2º grau (irmãos) não podem casar. No artigo 1604º/c refere que na
linha colateral no 3º grau (tio-sobrinho) não podem casar. Já não é um impedimento
dirimente mas impediente, isto é, o casamento não será anulável. Os impedientes são
suscetiveis de dispensa por parte do conservador.
3. Obrigação de prestação de alimentos (art. 2009º): é um efeito menos importante e
estabelece que as pessoas podem ser obrigadas a dar alimentos a parentes se tiver
preenchido determinados requisitos.
4. Obrigação de estabelecer tutela (art. 1931º/1).
5. Obrigação de participação do conselho de família (art. 1952º/1).

 Afinidade
È a relação jurídica que se estabelece entre alguém e os parentes do seu cônjuge. É uma
relação jurídica famélico familiar que depende de outra. Quem não for casado não tem
afins, ou se algum parente for, depende de um casamento.
Como se faz o conto? Da mesma forma do parentesco, por exemplo: eu sou cunhada do
irmão do meu marido, sou afim no 2º grau da linha colateral. Eu sou à minha enteada
afim no 1º grau da linha reta. Já na União de Facto não produz afinidade.
Os efeitos da afinidade: são substancialmente inferiores ao parentesco. Não tem efeitos
sucessórios, não herdam nada, Mas ao nível dos impedimentos (1602º/c) já tem efeitos.
É impedido casamento entre afins na linha reta, por motivos sociais (enteados e
padrastos). A afinidade extingue-se se o casamento se dissolver por divórcio, todavia,
não se extinguem se o casamento se dissolver por morte de um dos cônjuges. É uma
solução relativamente recente, até à pouco tempo o divorcio não extinguia a afinidade.

 Relação jurídica para familiar


Como relação jurídica para familiar temos a união de facto, vida em economia comum,
relação ex. cônjuges, relação entre tutor e tutelado e ainda, relação de pessoa a cargo de
outra.
 União de Facto
Aponta para uma realidade substancialmente similar a do casamento. Têm uma vida
idêntica à dos cônjuges: tripla comunhão – mesa, leito e habitação. Tem de existir as
três senão não se prevê união de facto. Não há união de facto se alguém tem uma
relação sexual com uma pessoa enquanto vive com outra. Também se viverem juntos e
comerem juntos mas não tem relações sexuais não é união de facto mas vida em
economia comum. Segundo a Lei 7/2001 – 11 de Maio, para ser considerado união de
facto, a vida em comum tem de ter a durabilidade de dois anos. Em função desta
condição há um problema: tem que se provar que vivem em conjunto durante esse
tempo. Segundo o art. 1º da Lei 7/2001: é válido como prova da existência de uma
união de facto qualquer meio de prova tido como válido em processo civil. Neste
contexto assume muita importância a declaração específica da união de facto. A
entidade responsável pode ou não aceitar a declaração. A prova que decorre da
declaração é não fidedigna e pode ser contestada. No art. 2º encontram-se as exceções,
isto é, os impedimentos da união de facto, tais como: a menoridade, demência notória,
um dos indivíduos ser casado, parentesco na linha reta, e na linha colateral no 2º grau e
afinidade na linha reta.
Quanto aos efeitos: a união de facto se dissolve com a morte do parceiro. O que
acontece se quem morre é dono da casa onde viviam? O unido de facto que ainda vive
tem direito à casa da família num período mínimo de 5 anos. Por exemplo: um casal
viveu em união de facto durante 30 anos, o dono da casa morre. O unido de facto vivo
tem direito a viver na casa durante 30 anos. Como efeito tem-se também o problema das
prestações sociais que podem ser atribuídas. Quanto ao direito de adotar: esta
prerrogativa é apenas permitida para os casais unidos por união de facto heterossexuais.
Esta ideia é absurda pois os homossexuais podem adotar individualmente e mais tarde
caso casem ou se juntem, irá verificar-se o que tanto se temia.

 Vida em economia comum


(6/2001: 11 de Maio), tem alguma semelhança à união de facto. Aqui trata-se de uma
situação de facto em que duas ou mais pessoas partilham a casa e as questões
subsidiárias. Porém, também tem a durabilidade de dois anos. Segundo o art. 5º da lei
tem direito real do imóvel e do recheio e o direito de preferência na sua venda. A
morada comum desta situação também tem o prazo mínimo de 5 anos. Mas a esta não se
aplica se o proprietário da casa tiver deixado um herdeiro e esse herdeiro viver com ele
à mais de um ano e também se tiver deixado em testamento que não queria que os
colegas continuassem na casa.

 Características dos Direitos Familiares

1. Natureza de Poderes Funcionais ou Direitos – Deveres: há uma comparação com


os típicos direitos subjetivos, só que os de família não tem nada a ver, isto porque são
direitos pessoais. Afastam-se dos direitos subjetivos típicos porque ao contrário
daqueles, o exercício não se destina a promover interesses do titular, mas sim do
destinatário do poder. Os direitos de família típicos são irrenunciáveis.

2. Fragilidade da garantia: característica relacionada com a anterior, os direitos da


família enquanto direitos pessoais não permitem quando violados um direito a uma
indemnização. Por exemplo: antigamente o divórcio litigioso era só para o caso de um
dos cônjuges ter violado um dos deveres pessoais. A questão não era só o divórcio mas
também se deveria ser indemnizado. Artigo 483º: violação dos direitos.

3. Carácter duradouro: direitos que tendem a vigorarem durante um período


relativamente longo. Isto porque estão associados a um Estado de Família.

4. Carácter relativo: não tem eficácia erga omnes, mas sim inter partes, ou seja, diz
respeito a duas partes.

5. Sujeitos ao princípio da tipicidade: ou seja, existem direitos familiares e negócios


familiares que a lei prevê. A lei procura restringir enquanto pode estes aspetos, evita que
a disciplina das razões familiares fique na vontade das partes.

 Casamento
A legislação portuguesa tem uma definição para casamento no art. 1577º: “casamento é
o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma
plena comunhão de vida”. Na definição legal, o casamento é apresentado como um
contrato, que regula a constituição da família uma vila plena. É uma definição muito
discutível porque o contrato é um instrumento típico da liberdade contratual, há um
sentido em que duas pessoas encontram um consenso jurídico mas na maioria dos casos
já estabelecido na lei e de forma imperativa. É de facto um contrato, mas um contrato
pessoal e não de crédito. Tem em conta o Estado Civil de duas pessoas (art. 1699º) e o
património de duas pessoas.
Todavia, a circunstância de que as pessoas não são obrigadas a casar não obsta de
considerar o casamento como um contrato. A Figura Promessa de casamento é possível
ser celebrada como contrato? Sim, é, tem um conjunto de especificidades que torna
possível mas só para quem quer (art. 1591º: a promessa não é invalida mas
relativamente ao objeto é ineficaz). Não só a promessa não garante o casamento como
não garante uma indemnização, só para o ressarcimento de gastos com o casamento.
Para o caso invoca-se uma execução específica: invoca-se o incumprimento, mas é
difícil obter uma declaração judicial.

 Casamento Civil
Tem requisitos de fundo, nomeadamente o consentimento e a perfeição.
Começando pelo consentimento: tem algumas especificidades, nomeadamente:
natureza pessoal (probabilidade dos contratos serem ou não outorgados por procuração
(art. 1619º). Este principio comporta uma exceção: art. 1620º: prevê a possibilidade do
casamento por procuração mas só um dos noivos pode ser representado por procurador
no dia do casamento. Se pudessem os dois estaria-se a retirar o caracter pessoal que o
casamento tem de ter. Segundo o nº2 do 1620º tem de ser uma procuração
especialíssima, tem que ter poderes especiais e apresenta caducidades no art. 1621º.
O consentimento tem um caracter puro e simples: as partes não podem opor ao contrato
nem condições nem termos. Não pode ser susceptivel a um prazo nem condicional
(art.1618º).
Quanto á perfeição, o mútuo consenso tem de ter uma perfeição redobrada. Há uma
preocupação do legislador em garantir que a vontade declarada das partes corresponda à
vontade real. Esta preocupação é tao grande que o legislador prevê a perfeição do
consentimento (art. 1634º - 1627º “as hipóteses da falta de vontade são as previstas na
lei. Pretende-se preservar a subsistência da relação matrimonial e deve-se ter em conta
desde o momento da celebração do casamento até ao momento do vicio”. Há
determinados casos em que é possível mostrar que a vontade declarada não
corresponde à real (art. 1635º): o casamento é anulável por falta de vontade. A
primeira hipótese é por consumo de qualquer substancia, pois não tinham consciência
da declaração emitida, mas o comportamento tinha de ser adequado. Na alínea a),
quando o nubente estava em erro acerca da identidade física do outro. Na c) quando a
declaração de vontade tenha sido extorquida por coação física (conservador assistiu,
logo alinhou). Por último, hipótese do casamento simulado: é muito frequente para
enganar terceiros, muitas vezes para adquirir a nacionalidade. Só há simulação se as
partes não assumirem a comunhão do casamento após a sua celebração. Criam apenas
essa aparência.
 Hipóteses de falta de vontade
Aqui nestes casos não se está perante uma situação de falta de vontade, a pessoa queria
de facto casar, mas acontece algo que o leva a cometer um erro, ou seja, deixa de querer
casar. São as situações do erro que vicia a vontade e da coação moral.

1. Erro que vicia a vontade (1636º):


Para que o casamento possa ser anulável, é necessário que o erro cumpra com certos
requisitos:
 O erro tem que recair sobre qualidades essenciais do outro conjugue.
 O erro tem que ser próprio
 O erro tem que ser desculpável, tem que se aceitar que o conjugue enganado não
pudesse se ter apercebido do erro que invoca e que levou á existência do vício.
 O erro tem que ser determinante, e neste contexto tem que ser essencial do ponto
de vista objetivo (segundo a consciência social dominante) e do ponto de vista
subjetivo (tem que ser determinante para aquela pessoa).

2. Coação Moral (1638º)


Para que o casamento possa ser anulável é necessário cumprir requisitos:
 Cominação do mal
 Intenção de extorquir a declaração
 Ilicitude da ameaça
 Seja grave o mal
 Justificado receio da sua consumação

 Impedimentos Matrimoniais

No fundo, falar em impedimentos é o mesmo que falar em circunstâncias que impedem


as pessoas de contrair casamento, nomeadamente:
1. Impedimentos dirimentes e impedientes: os dirimentes são aqueles que, uma vez
violados geram a anulabilidade do casamento. Os impedientes são aqueles que uma vez
violados não geram a anulabilidade, podendo apenas gerar consequências de ordem
patrimonial previstos nos artigos 1649º e 1650º. Quer um quer outro são verdadeiros
impedimentos, pelo que reconhecidos não permitem a celebração do casamento. Isto,
sem prejuízo dos impedientes que podem ser objeto de dispensa. Quer um quer outro
podem ser absolutos ou relativos. Os absolutos são verdadeiras incapacidades de gozo,
ou seja, quem sofre deste impedimento, pura e simplesmente, não pode casar. Os
relativos são ilegitimidades, porque quem sofre, em abstrato, não pode casar mas não
pode casar com determinada pessoa. Não é uma verdadeira incapacidade de gozo, é uma
mera ilegitimidade.

2. Impedimentos dirimentes absolutos e relativos: os absolutos abrangem pessoas


que não podem casar com ninguém nomeadamente: pessoas com idade inferior a
dezasseis anos, pessoas com demência notória e pessoas com o casamento anterior não
dissolvido. Os relativos contam com situações que impedem que alguém se case com
outra, nomeadamente: parentes na linha reta; parentes no 2º grau da linha colateral;
afins na linha reta e pessoas condenadas por homicídio doloso contra o cônjuge do
outro.

3. Impedimentos Impedientes: presentes no artigo 1604º e tem em conta: a falta de


autorização dos pais, prazo inter nupcial e parentesco.
f) Pronuncia do nubente pelo crime de homicídio doloso contra o cônjuge do outro.
a) Excecionalmente, permite-se que os menores casam, mas para isso, precisam da
autorização dos pais. Estabelece-se o artigo 1649º para este impedimento: no fundo, o
menor que casa é emancipado, se casar sem a autorização dos pais continua a ser menor
quanto à administração dos bens.
b) Período de nojo, de luto. A lei não permite que alguém se divorcie num dia e amanha
se case com outro. Para isso estabelece o período de 300 dias para as mulheres e o
período de 180 dias para os homens. Esta diferença assenta na presunção da
paternidade. No entanto, é possível que o prazo das mulheres diminua para 180 dias
desde que mostre uma declaração médica que prove que não está grávida (art. 1605º).

4. Impedimentos insuscetíveis de dispensa e suscetíveis de dispensa: estão previstos


no artigo 1609º e transmitem a ideia de que estes impedimentos têm um grau menor e
em determinadas situações podem ser dispensados (questões sociais – ter filhos não
obsta o casamento). São situações em que o que se tenta obstar foi ultrapassado e por isso,
permitem o casamento. Por exemplo: tio e sobrinha moram juntos e já têm filhos, o que se
tentava evitar já foi verificado logo, não há motivos para manter o impedimento.

No artigo 1633º: considera-se sanável a anulabilidade do casamento, desde o momento


da celebração, se antes de transitar em julgado a sentença de anulação ocorrer um destes
factos:
a) Casamento de menor: deixa de ser anulável e passa a ser válido desde que
confirme a sua vontade depois de atingir a maioridade.
b) Casamento de interdito ou inabilitado por anomalia psíquica: também pode
tornar-se válido quando a demência desaparecer. A pessoa em causa tem de confirmar a
sua vontade.
c) Casamento nulo ou anulado do bígamo: alguém casado em segundas núpcias pode
requerer a anulação do primeiro casamento e caso consiga, é como se esse casamento
não tivesse sido celebrado e a pessoa deixa de ser bígamo.

 Casamento Urgente
O Art. 1628º diz-nos que o casamento civil só pode ser nulo ou inexistente. A
inexistência é a consequência jurídica mais grave no direito, o ato é tao desconexo que
não tem qualquer reconhecimento. É juridicamente inexistente um casamento que não
seja celebrado por conservadores (art. 1628º/a). Também é inexistente o casamento em
que tenha faltado a declaração de vontade de um ou de ambos os nubentes (art. 1628º/c).
Ainda é inexistente o casamento urgente (art. 1628º/d). Entende-se por casamento
urgente, o casamento que não observa os procedimentos preliminares que a lei prevê,
nomeadamente o código do registro civil, e que é celebrado sem a intervenção do
competente funcionário do registro civil. A lei prevê possibilidades em duas
circunstâncias: receio fundado da morte de algum dos nubentes ou a iminência de parto.
Nestes casos excecionais, como não há tempo para os anúncios preliminares, a lei
permite um casamento urgente, sendo que, posteriormente, essas formalidades são
cumpridas – amolgação. Se não for objeto de amolgação será considerado inexistente.
Por fim, é inexistente o casamento contraído por procurador quando os efeitos da
procuração já tenham sido cessados.
O legislador procura sempre proteger a subsistência do casamento e tanto é assim que,
quando o casamento for considerado invalido, há um regime que protege alguns dos
seus efeitos, que são considerados relevantes (art. 1647º).

 Casamento Putativo (art. 1647º - 1648º)


A anulação importa que todos os efeitos jurídicos que o negócio tenha produzido sejam
retroativamente destruídos. O art.1632º dá o intuito que vem salvaguardar alguns dos
efeitos do casamento posteriormente anulado. Para que exista um casamento putativo é
preciso que se verifique três requisitos nomeadamente:
1. É necessário que o casamento exista (não pode aplicar-se o art. 1628º).
2. Tem de ser declarado inválido (o casamento católico será nulo e o civil será
anulável).
3. É necessário que os cônjuges estejam de boa-fé (ambos ou pelo menos um deles) só
quem está de boa-fé pode aproveitar os efeitos do casamento. Por exemplo: eram irmãos
e não sabiam.
Há uma exceção (art. 1827º: em relação aos filhos há sempre casamento putativo,
mesmo estando os dois de má-fé).

 Casamento enquanto estado


O casamento é consequência desse ato e pode ter dois tipos de efeitos essenciais:
pessoais ou patrimoniais. Os efeitos pessoais delimitam a essência da relação conjugal
(art. 1671º - Princípio da Igualdade entre os cônjuges e Principio da direção conjunta da
família). Esta equiparação sobrevém da CRP de 1966. Todavia, com o princípio da
igualdade da CRP decidiram consagrá-lo no código civil. Os efeitos pessoais (art.
1672º) abrangem: dever de respeito, dever de fidelidade, de co habitação, assistência e o
dever de cooperação.
NOTA: Esta matéria é de grande importância e já teve uma importância ainda maior,
uma vez que, estes deveres eram as causas do divórcio sem acordo das partes. Só
quando a vítima da falha de um destes deveres quisesse o divórcio, é que ele acontecia.
A violação destes deveres impõe a obrigação de indemnizar o outro.

 Efeitos Pessoais do Casamento


1. Dever de respeito: tem carácter residual, no sentido de que a violação de qualquer
dos outros deveres sempre se converteria numa violação do dever de respeito se os
outros não fossem objeto de previsão autónoma. Tem uma componente negativa
essencial mas também uma componente positiva. É negativa porque traduz-se
essencialmente na obrigatoriedade dos cônjuges se coibirem de adotar comportamentos
que se traduzem numa ofensa moral ou física do outro cônjuge. É a vertente essencial
do dever de respeito. No entanto, é uma componente positiva, na medida que, atribui ao
cônjuge a obrigação de adotar comportamentos de afeto em relação ao outro e
preocupação em relação à família nascida da contração do matrimónio. Este dever
impõe aos cônjuges a recusa de comportamentos negativos e também impõe a obrigação
de comportamentos positivos.

2. Dever de fidelidade: é estritamente negativo por se traduzir num dever de abstenção


de manutenção de relacionamento sexual com terceiro. Sendo evidente que o terceiro
pode ser do sexo oposto ou do mesmo sexo. O relacionamento sexual que constitui a
violação do dever envolve qualquer tipo de sexo (sexo propriamente dito, sexo oral e
sexo anal), embora haja outros meios de violação como: correspondência por cartas, e-
mail, entre outros que constitui a violação do dever de fidelidade. A manutenção do
relacionamento sexual entre os cônjuges não constitui o dever de fidelidade mas sim, o
dever de co – habitação.

3. Dever de co – habitação: dever que se traduz na tríplice comunhão que revela a


essência da relação matrimonial: mesa, leito e habitação propriamente dita. Não há
muito a adiantar sobre o conteúdo destas comunhões apenas em relação à mesa, cabe
aos cônjuges contribuir financeiramente para as despesas da casa. Em relação ao leito
tem que se manter um relacionamento sexual para que não haja uma violação. Já em
relação à co – habitação, os cônjuges têm que viver juntos.

4. Dever de cooperação e assistência (art. 1674º e 1675º): o dever de cooperação


importa para os cônjuges a obrigação de socorro e auxílio mútuos e a de assumirem em
conjunto as responsabilidades inerentes à vida da família que fundaram. Portanto, dever
de cariz particularmente genérica. Em determinadas circunstancias, o que devia ser
violação de cooperação corresponde à violação de co – habitação. O dever de
assistência, por sua vez, compreende a obrigação de prestar alimentos e a de contribuir
para os encargos da vida familiar. Excecionalmente, se houver um cônjuge que
necessite de ajuda após o divórcio, o legislador permite que o outro o ajude (art. 1676º).

 Efeitos Patrimoniais do Casamento


O casamento é causador de muitos efeitos curiosos, nomeadamente de propriedade que
pode ser de ambos ou apenas de um dos cônjuges. Assim, há bens que são comuns no
matrimónio e outros bens próprios. Mas para além destes há bens tidos por ambos os
cônjuges (co – propriedade). As circunstâncias do casamento levam a um diferente
tratamento dos bens, pelo que, a lei dá aos cônjuges a liberdade de escolha do regime de
bens e assim, surgem os vários regimes de bens.
 Efeitos Patrimoniais que se produzem independentemente do regime de
bens (art. 1678º)
Este artigo começa com uma regra óbvia: administração dos bens próprios confirma a
regra geral. À partida, cada cônjuge tem a administração dos seus bens. Todavia há
exceções, nomeadamente no artigo 1678º/2/e/f/g.
Na alínea e), cada um dos cônjuges tem direito aos móveis, próprios do outro cônjuge
ou comuns, por ele utilizados. Na alínea f), cada um dos cônjuges tem direito aos bens
do outro cônjuge, se este se encontrar impossibilitado de exercer a administração. Na
alínea g), cada um dos cônjuges tem direito aos bens próprios do outro cônjuge se este
lhe conferir uma procuração.
No número 3, refere que, “cada um dos cônjuges tem legitimidade para a prática de atos
de administração ordinária relativamente aos bens comuns do casal, os restantes atos de
administração só podem ser praticados com o consentimento de ambos os cônjuges”.
Em regra, em relação aos bens comuns, a administração é comum, todavia, verificam-se
algumas exceções: atos de administração ordinária. Ainda no número 2 do art. 1678º
refere outros, nomeadamente:
Na alínea a), cada um dos cônjuges tem direito aos proventos que receba pelo seu
trabalho (art. 1724º). O mesmo acontece com a alínea b), cada um dos cônjuges tem
direito aos seus direitos de autor. Já na alínea c), refere que, cada um dos cônjuges tem
direito aos bens comuns por ele levados para o casamento ou adquiridos a título gratuito
depois do casamento. Já na alínea d) refere que, cada um dos cônjuges tem direito aos
bens que tenham sido doados a ambos os cônjuges com exclusão da administração do
outro cônjuge.
A alínea e)/f)/g) também se aplica aos bens comuns, embora não o refira expressamente,
aplicam-se por maioria da razão.
O art. 1682º diz respeito à alienação ou oneração de móveis e acresce no número 2 que
cada um dos cônjuges tem legitimidade para alienar ou onerar os móveis próprios ou
comuns de que tenha a administração, ou seja, o que tem a administração não precisa do
consentimento do outro cônjuge.
 Ilegitimidades Conjugais
Existe no casamento um outro efeito patrimonial que, se encontra no contraposto dos
anteriores: trata-se de incapacidades/ ilegitimidades (art. 1682º/3/a/b).
Na alínea a) refere que “carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação ou
oneração de móveis utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na vida do lar ou
como instrumento de trabalho” – esta norma estabelece, independentemente do regime
de bens estabelecidos que, os bens em questão não podem ser alienados ou onerados
sem o consentimento de ambos os cônjuges. Na alínea b) menciona que “carece do
consentimento de ambos os cônjuges a alienação ou oneração de móveis pertencentes
exclusivamente ao cônjuge que não os administra”. Estas ilegitimidades não estão
condicionadas ao regime de bens, isto é, aplicam-se independentemente dos regimes.

 Ilegitimidades condicionantes ao regime de bens (art. 1682º/A/B):


No art. 1682º/A/a) refere que, “carece de consentimento de ambos os cônjuges a
alienação, oneração, arrendamento ou constituição de outros direitos pessoais de gozo
sobre imoveis próprios ou comuns”. Esta norma não se aplica ao regime de separação
de bens.
Na alínea b) do mesmo artigo, menciona que, “carece de consentimento de ambos os
cônjuges a alienação, a oneração ou locação de estabelecimento comercial, próprio ou
comum. Esta norma também não se aplica ao regime de separação de bens.
Já o art. 1682º/B é relativo à casa de morada de família e está nele descrito os vários
atos que estão sujeitos ao consentimento de ambos os cônjuges.

 Forma do consentimento conjugal


A forma específica do consentimento é a procuração que tem de ser escrita (art. 1684º).

 O que acontece nos casos de existir alienação ou oneração sem


consentimento?
São aplicadas sanções (art. 1687º). Geralmente, a consequência desses atos leva à
anulabilidade dos atos. O prazo para a arguir está presente no número 2. Esse direito de
anulação pode ser exercido no prazo de 6 meses após a tomada de conhecimento do ato
mas nunca depois de decorridos 3 anos sobre a sua celebração.

 Dívidas conjugais ou responsabilidade pelas


dívidas
Qualquer um dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento
do outro. Esta é a circunstância de alguém ser responsável por uma divida que não é
sua. Cada um, geralmente, é responsável pelas suas dívidas mas, o casamento prevê que
alguém pode ser responsável por uma divida que não é sua mas do seu cônjuge. Assim:
O art. 1691º estabelece as dívidas de ambos os cônjuges.
O art. 1692º estabelece as dívidas de um dos cônjuges.
É certo que os bens respondem pelas dívidas, assim, para as dívidas de responsabilidade
de ambos os cônjuges estabelece-se o artigo 1695º que menciona que respondem os
bens comuns e no caso de insuficiência deles, os bens próprios de qualquer dos
cônjuges. Para as dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges estabelece-
se o artigo 1696º que refere que respondem os bens próprios do cônjuge devedor e só
depois os bens comuns, mas nunca os bens próprios do outro cônjuge.
 Dividas que responsabilizam ambos os
cônjuges (art. 1691º)
a) Dividas contraídas antes ou depois da celebração do casamento, pelos dois cônjuges,
ou por um deles com o consentimento do outro.
b) Dividas contraídas por qualquer dos cônjuges, antes ou depois da celebração do
casamento, para ocorrer aos encargos normais da vida familiar.
c) Dividas contraídas pelo cônjuge administrador, em proveito comum do casal e nos
limites dos seus poderes de administração.
d) Dividas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se não
foram contraídas em proveito do casal ou se vigore o regime de separação de bens.

 Responsabilidade das dívidas para ambos os


cônjuges
Na lógica estrita das consequências, os efeitos são intensos. Nas alíneas a) e b) do artigo
1691º está presente a lógica da comunicabilidade, já a alínea c) tem uma natureza mais
específica pelo que, o cônjuge administrador pode contrair uma divida para manutenção
do seu bem, se o outro cônjuge também usufruir dele, também pode ser responsável pela
dívida, independentemente do regime.
A alínea d) é a mais importante, uma vez que, ocorre para estabelecimentos comerciais
e será da responsabilidade de ambos exceto se não forem contraídos para proveito
comum ou se vigorar o regime da separação de bens. Por exemplo: se um dos cônjuges
contrair um divida e for comercial, o credor pode intentar uma ação contra o
comerciante e o seu cônjuge, desde que se prove que foi para o domínio do comércio e
que foi para proveito comum. Mas em relação ao exercício do comércio, o credor está
livre nos termos do art. 15º do Código Comercial – a lei presume que foi contraída uma
divida no domínio comercial. Sendo que, se porventura falhar a cláusula, pode ser
aplicada a alínea c) uma vez que não fala do proveito comum.
 Responsabilidade das dívidas para só um
cônjuge
Encontram-se estabelecidas no art. 1692º e faz-se por exclusão de partes. Na alínea a)
refere que é da responsabilidade de apenas um dos cônjuges, as dividas que não se
verificar no art. 1691º.
Se a origem de indemnizar não vier da prática de um crime admite-se que a divida seja
dos dois cônjuges. No art. 1693º e 1694º fala de dividas para ambos os cônjuges e deve-
se conjugar esses artigos com o 1691º, 1692º e ainda, 1695º, 1696º.

 Convenções antinupciais
É um negócio jurídico que corresponde a um instrumento, através do qual, os esposos
podem estabelecer o regime jurídico de bens do seu casamento. A convenção
antinupcial não é obrigatória, uma vez que, a lei tem um regime supletivo. Todavia, a lei
permite a liberdade contratual e com isso, pode afastar o regime supletivo e fixar um
dos outros regimes típicos ou ainda elaborar um atípico (particular aos cônjuges com os
aspetos que lhes interessam).
Esta ampla liberdade contratual não é absoluta, ela pode ser quartada, mas há duas
situações em que é total, nomeadamente:
1. Imperatividade absoluta (art. 1720º: quando o casamento é celebrado sem
precedência do processo preliminar de casamento ou quando um dos cônjuges tenha 60
anos de idade, o regime obrigatório é o da separação de bens a menos que façam uma
convenção antinupcial. A primeira hipótese faz todo o sentido porque promove a cautela
que o regime de separação de bens tem em conta mas a segunda não faz qualquer
sentido, é absurda, na medida que, uma pessoa com 60 anos pode escolher um regime
de bens. Para além deste, há o artigo 1699º/2 em que, não havendo a hipótese de
imperatividade absoluta há uma hipótese de:
2. Limitação da liberdade contratual: “se o casamento for celebrado por quem tenha
filhos, não poderá ser convencionado o regime da comunhão geral” – não é permitido
tal regime para proteger os interesses patrimoniais dos filhos. Tirando estas duas
limitações, os cônjuges gozam de liberdade contratual.
 Características das convenções antinupciais:
 Capacidade para a celebração da convenção: é um negócio jurídico que vive na
estrita dependência de outro. O art. 1708º/1 estabelece que “têm capacidade para
celebrar convenções aqueles que têm capacidade para contrair casamento”. No nº2 do
mesmo estabelece que, aos menores, interditos ou inabilitados só é permitido celebrar
convenções antinupciais com a autorização dos pais, caso contrário gera a anulabilidade
do contrato. É uma exigência maior à da celebração do casamento e é compreensível
porque a convenção antinupcial pode ter consequências muito perigosas.
 Forma: a convenção antinupcial tem de ser feita por escritura pública ou por
declaração testada perante um funcionário do registro civil (art. 1710º).
 Registo: para ter eficácia perante terceiros, a convenção antinupcial depende de
registro na conservatória do registro civil (art. 1711º).
 Imutabilidade: as convenções antinupciais e os regimes de bens que vigorarem são
imutáveis, no entanto, há exceções: separação judicial de bens e separação judicial de
pessoas e bens (art. 1715º). Permite-se que o regime de bens seja alterado.
 Casamento válido: é condição de eficácia da convenção antinupcial. Se o casamento
não for celebrado no prazo de um ano a contar da celebração da convenção ou se o
casamento for declarado nulo ou anulado, a convenção caduca (art. 1716º).

 Regime de Bens
Entre o artigo 1717º e o artigo 1720º está um conjunto de regras gerais e,
posteriormente, um conjunto de regras especiais.

 Regime de Bens Adquiridos (art. 1717º - art. 1731º)


É também o regime supletivo presente nos artigos 1717º a 1720º. Este regime tem um
princípio genérico muti simples que refere que mantêm a qualidade de bens próprios os
bens que os cônjuges levam para o casamentos e os que adquirem, na constância do
casamento, a título gratuito (sucessão e doação – art. 1722º).
Todavia, para além deste princípio, existe um conjunto de consequências que não o
respeitam, nomeadamente: no art. 1722º/c que refere ainda mais bens próprios. Esta
alínea prevê a possibilidade de um bem adquirido a título oneroso ter caracter de bem
próprio após a celebração do casamento. Este artigo adianta um conjunto de situações
exemplificativas para o caso da alínea c). Outra situação de bens próprios está presente
no art. 1723º. Por exemplo: Ana comprou um relógio em solteira e depois trocou-o, esse
relógio mantém o carácter de bem próprio (art. 1723º/a). Se o bem é próprio, o dinheiro
da venda também o será (art. 1723º/b). Se um dos cônjuges tem dinheiro próprio, ele
será um bem próprio, no entanto, se com ele comprar uma casa, ela será comum exceto
se ambos os cônjuges assinarem uma declaração a mencionar que a casa é um bem
próprio. No art. 1724º estão presentes os bens que integram a comunhão e no art. 1725º
estabelece que os bens são comuns quando há dúvidas sobre a comunicabilidade dos
bens móveis. Já o art. 1726º estabelece casos em que os bens são comuns e próprios sem
prejuízo da compensação do património.

 Regime Jurídico da Comunhão Geral de Bens


Deixa de haver bens próprios exceto os presentes no art. 1733º.

 Regime Jurídico da Separação Geral de Bens


Os cônjuges mantem integralmente a titularidade dos bens: só há bens próprios. No
entanto, podem ser coproprietários.

Separação Judicial dos Bens: pode decorrer de celebração da convenção antenupcial


(art. 1767º e 1772º). Tem carácter necessariamente litigioso e tem de ser decretado por
ação judicial e ter por motivo o perigo patrimonial que o autor pensa que corre sobre o
outro. A separação, uma vez determinada judicialmente, é irrevogável. A partir daqui,
entre os cônjuges passa a vigorar as regras próprias do regime da separação de bens.

Figura da Separação de Pessoas e Bens (art. 1794º e 1795º/d): é ligeiramente


diferente da figura anterior e é uma espécie de antecâmara do divórcio, já não está em
causa a modificação do regime jurídico de bens mas a suspensão de alguns deveres
conjugais: co habitação e assistência. Os restantes deveres mantêm-se.
Como é uma figura que está na linha do casamento como do divórcio pode resultar em
reconciliação (recupera o status anterior – art. 1795º/c) ou em divórcio (efetiva
dissolução do casamento) assim que decorrer o prazo de um ano ou se as partes o
requerer (art. 1795º/d).

 Divórcio (art. 1773º - 1793º)


A lei atual prevê duas modalidades distintas de divórcio: divorcio por mútuo
consentimento e divorcio sem o consentimento de ambos os cônjuges (divorcio
litigioso). O primeiro, em regra, deve ser requerido na conservatória do registro civil e
para tal, o requerimento tem que ser construído por um número diversificado de
acórdãos (art. 1775º). Pode acontecer uma situação peculiar: os cônjuges estão de
acordo quanto ao divórcio mas não quanto aos acórdãos e se assim acontecer,
conseguem o divórcio não na conservatória mas no Tribunal Competente. É o juiz que
fixa o conteúdo dos acórdãos. Há ainda outra situação: os cônjuges requerem o divórcio
com todos os acórdãos mas, o legislador entende que um acórdão não beneficia um dos
cônjuges. E ainda: o casal tem filhos menores e o Ministério Público entende que o
acórdão não acautela os interesses do menor. Quando assim acontece, as partes tem de
corrigir o conteúdo dos acórdãos e caso não o façam com regularidade, o conservador
reencaminha para o Tribunal Competente.
Se as partes não chegarem a acordo quanto ao divórcio, segue o litigioso. Ele pode ser
requerido com base nos fundamentos do art. 1781º. Basta que se invoque qualquer um
deles para o divórcio ser decretado, mas primeiro, as partes têm a obrigatoriedade de
prever a conciliação e se esta não for possível, devem tentar transformar o divórcio
litigioso em divórcio por mútuo consentimento (art. 1779º). Antigamente, a violação de
um dever matrimonial era culposa e podia dar origem a uma indemnização (art. 1792º).
Como é evidente, os efeitos do divórcio produzem-se a partir do trânsito em julgado da
respetiva sentença, mas retroagem-se à data da proposição da ação (art. 1789º). Caso se
confirme a existência de separação de facto, os efeitos cessam a essa data, ou seja,
mesmo antes da propositura da ação.

 Filiação (só sai nas orais- 1796º e ss)


Existe filiação da maternidade e filiação da paternidade. Tem diferenças quanto á
natureza das coisas, uma vez que a lógica da paternidade é mais formal.
A filiação da maternidade decorre do nascimento, quanto á filiação da paternidade
decorre de duas formas: presunção de paternidade e reconhecimento. A forma mais
habitual de estabelecimento da maternidade é a declaração, separando a lei duas
situações:
 A dos nascimentos ocorridos a menos de um ano, a filiação fica estabelecida
com a declaração de nascimento na conservatória do registo civil, onde tem que
indicar o nome da mãe
 A dos nascimentos ocorridos a mais de um ano, a declaração é sempre
comunicada á mãe que deve ser notificada e tem o prazo de 15 dias para se
pronunciar, se nada dizer a filiação considera-se estabelecida
Em relação á paternidade temos duas possibilidades, a presunção (1826º\1) sempre que
a mãe é casada presume-se que o marido da mãe como sendo o pai da criança, se
porventura antes de dissolvido o 1º casamento a mãe voltar a casar e tiver um filho
temos o problema da dupla presunção e nesse sentido presume-se que o pai da criança é
o segundo marido (1834º). Outra possibilidade é a do reconhecimento (1847º) pode
ocorrer por duas vias, ou pela perfilhação (ato voluntario unilateral pelo qual alguém se
declara pai de outrem) ou por reconhecimento judicial. A perfilhação pode fazer-se de
quatro formas:
 Declaração prestada perante o funcionário do registo civil
 Testamento
 Escritura pública
 Termo lavrado em juízo (1853º)
Como é evidente há um conjunto de regras quanto á prova de paternidade.
As consequências do estabelecimento da filiação, é que ela importa deveres para os pais
e para os filhos, que se devem mutuamente respeito, auxílio, assistência. Os pais implica
a assunção das responsabilidades parentais, que funcionam no interesse dos filhos.

 Matéria importante para a frequência


 Parentesco
 Afinidade
 Casamento
 Impedimentos Matrimoniais
 Deveres pessoais do casamento
 Deveres patrimoniais do casamento
 Vícios da vontade
 Dívidas
 Administração dos bens
 Regime dos bens
 Convenções antenupciais

Caso Prático 1:
Diana, de 16 anos, contrai casamento civil com Eduardo, maior, em Janeiro de
2012. Diana apenas pretendia casar-se, unicamente, para ser livre da tutela dos
pais e obter a emancipação, ao passo que Eduardo visava, através do casamento,
obter um prometido emprego na empresa dos pais de Diana. Eduardo teve, aliás,
conhecimento das intenções de Diana, ainda antes do casamento, mas, interessado
como estava nas vantagens materiais que contava retirar do casamento, não
procurou explicar-se com Diana.
Esta veio a saber, no principio de 2015, que seu marido, ao contrario do que fazia
supor não era uma, mas sim duas vezes divorciado e sempre por culpa exclusiva
sua, uma vez que, em qualquer dos anteriores casamentos, sempre se mostrara
muito violento e agressivo, devido, em parte ao seu alcoolismo, o que, por todos os
meios, sempre ocultava a Diana e aos seus pais. Tendo já obtido aquilo que
desejava quando contraíra matrimónio. Diana pretende socorrer-se deste pretexto
para invalidar o casamento. Comente as probabilidades de Diana nesta ação e
pronuncie-se sobre a validade do seu casamento.
Diana casa com 16 anos de idade. Neste contexto está-se perante um impedimento
impediente (art. 1604º/a). Como consequência tem-se o art. 1649º que é uma sanção de
caracter patrimonial para os nubentes e de caracter disciplinar para o celebrador. Mas
esta consequência não invalida o casamento. O casamento não teve “acordo
simulatório” logo não houve simulação. A reserva mental é a figura mais próxima da
simulação e é o que aqui está presente: reserva mental bilateral (art. 244º). A reserva
mental de Diana é conhecida pelo outro, logo tem os mesmos efeitos da simulação (art.
244º/). Agora já se passaram mais de 3 anos desde a celebração do casamento e Diana
pretende anular o casamento, poderia faze-lo alegando erro vício (art. 1636º)? É preciso
verificar se é uma qualidade essencial, se é desculpável, se é próprio (não recai sobre
uma condição da validade ou existência do casamento), e se é um erro essencialmente
determinante da vontade (subjetivamente e objetivamente). Objetivamente era mas
subjetivamente não, isto porque, o facto determinante de Diana para casar foi a
emancipação, ou seja, para ela este facto não seria relevante. Portanto, por este caminho
não poderia anular o casamento.

Caso Prático 2:
Ana, de 17 anos, que espera um filho de Bento, de 20 anos, sabe que este não deseja
contrair casamento com ela. Vem a saber, entretanto, que seus pais, emigrantes em
França e pessoas de princípios morais rígidos e severos, se aprestam a voltar a
Portugal. Temerosa da reação dos pais e não querendo desgostá-los, procura
Bento, e coloca-o a par da situação. Concordam então em celebrar casamento civil
com o único fito de conferir ao filho que Ana esperar, o estatuto de “nascido
dentro do casamento”. O casamento vem a realizar-se em Maio de 2013, tendo o
filho de Ana e Bento nascido quatro meses depois.
Conhecedores da situação, os pais de Ana, desejam invalidar o casamento da filha.
Comente os fundamentos que possam servir à sua pretensão.
Ana é menor e contraiu casamento com Bento. Está-se perante um impedimento
impediente (art. 1604º/1) com eficácia impeditiva. Está presente um casamento
simulado, sem autorização dos pais, pelo que, Ana não pode casar. Deste impedimento
surge uma eficácia sancionatória: sanções de caracter patrimonial (art. 1650º). Estes
impedimentos são dispensáveis (art. 1609º). Os impedimentos absolutos são sanáveis
(1633º/a/b/c) mediante confirmação.
Então Ana não pode casar e casou sem autorização dos pais e ainda, esse casamento foi
um pacto simulatório com a intenção de enganar terceiros para beneficiarem do art.
1826º. Esse casamento poderá ser anulável nos termos do art. 1640º/1. Mas será que os
pais são vítimas do casamento? Tal é discutível, pelo que, se fossem teriam o prazo de 3
anos (art. 1644º) para a anulação.

Caso Prático 3:
António, emigrante na Venezuela, principia a namorar por carta, Beatriz,
residente em Trás-os-Montes, por indicação de uns seus parentes, residentes na
mesma região.
Em virtude de conhecer uma antiga rixa existente entre a sua família e a família de
António, Beatriz sempre assinou as suas cartas com o nome de sua amiga Carlota
(que era aliás filha não reconhecida do avo materno de António), embora, por
diversas vezes, tivesse enviado a António fotografias suas.
Pessoa volúvel, Beatriz rapidamente se desinteressa do seu namoro com António,
passando este então a corresponder-se com a verdadeira Carlota, sem que esta, no
entanto, desfizesse o engano. António e Carlota contraem casamento civil por
procuração em Maio de 2010. António regressou definitivamente a Portugal em
Abril de 2014 e só então verificou que não casara com a pessoa com quem
namorara. Ao mesmo tempo, o avô materno de António reconheceu Carlota como
sua filha, o que só veio piorar o estado das coisas. Pergunta-se: pode hoje António
invalidar o seu casamento com Carlota?
António casou-se com Carlota, mas a Carlota era a Beatriz e só mais tarde passou a falar
com a verdadeira Carlota. Apesar do nome, Beatriz mandava fotos suas. António foi
induzido em erro em relação à identidade de Carlota (art. 1635º/b).
Mais tarde, sabe-se que Carlota é filha não reconhecida do avo de António. Constituiria
alguma circunstância? Não, nos termos do artigo 1603º. Este casamento poderia ser
anulado? Por quem? Sim, podia, pelo António que é cônjuge, nos termos do art. 1640º,
no prazo de 6 meses apos o conhecimento deste vício (art. 1644º).

Caso Prático 4:
Joaquina e Gustavo, ela de 15 anos e ele de 18 anos, casaram civilmente em Abril
de 2013. Gustavo ignorava a verdadeira idade de Joaquina uma vez que esta, com
uma aparência física desenvolvida para a idade, aparentava os 18 anos que
afirmava ter. Em Maio de 2014 Gustavo descobriu a verdadeira idade de Joaquina
e desgostoso com a sua mentira resolveu invalidar o casamento. Mas o tempo foi
passando e só hoje o vem consultar a si para o livrar daquele casamento que
contraiu enganado. Resolva o problema de Gustavo.
Está-se perante um impedimento dirimente absoluto nos termos do art. 1601º/a).
Joaquina tem 15 anos, logo, tem idade inferior a 16 anos. De acordo com o art. 1631º/a)
é anulável o casamento contraído por algum impedimento dirimente. Quem pode
anular? As pessoas mencionadas no art. 1639º, tem uma legitimidade alargada por ser
de interesse público. Qual o prazo para arguir a anulabilidade? Três anos seguintes a
celebração do casamento, nos termos do art. 1643º/1/a). Mas, se for o Ministério
Público já se aplica o nº2, que refere que, tem o prazo de 6 meses depois da dissolução
do casamento e ele só se dissolve com a morte.
Outra forma de resolver o problema seria alegando erro que vicia a vontade (art. 1636º),
em que teria de preencher determinados requisitos: recair sobre qualidades essenciais,
erro seja desculpável, erro seja próprio, erro tenha sido fulcral na decisão de casamento
e que subjetivamente e objetivamente seja um facto importante. Com base no erro que
vicia a vontade o casamento não seria anulável por não se verificar o requisito da
propriedade do erro.

Caso Prático 5:
António ameaça Bento de que se não casar com a sua irmã Cristina lançara fogo a
uma propriedade de Daniel, grande amigo de Bento. Este sabe que tal propriedade
é a única fonte de rendimento de Daniel e com receio da concretização da ameaça
casa com Cristina em Abril de 2011. Dois anos depois, cai, ao descer as escadas de
sua casa, e entra em coma, vindo a morrer passado um ano. Poderá Bento
invalidar o seu casamento com Cristina?
Está aqui presente coação moral (art. 1638º - 255º + 256º) que tem determinado
requisitos, nomeadamente: ilicitude da ameaça (255º e 1638º), gravidade do mal (256º e
1638º), justificação do receio da consumação (256º e 1638º), cominação do mal (255º) e
intenção de obter a declaração (255º). Estes requisitos foram verificados.
Quem tem legitimidade para arguir a anulação? O cônjuge que foi vítima da coação
(Bento – art. 1641º) no prazo de 6 meses subsequentes à cessação do vício (art. 1645º).
Quando cessão o vício? Quando deixa de estar sob coação, isto é, quando faltam os
requisitos da coação (quando A entra em coma ou quando A morre. Estas duas
hipóteses são aceites desde que justificadas, os advogados escolhem a mais vantajosa.

Caso Prático 6:
Em 1998 António contraiu casamento com Belarmina viúva de seu irmão Carlos.
Em 2002 adotaram plenamente Deolinda. Em Abril de 2008, Deolinda casa
catolicamente com Ernesto, filho não reconhecido de António. O Conservador do
Registo Civil recusou a transcrição do casamento. Em 2010 Deolinda e Ernesto
separam-se de facto.
Em Maio de 2011 Deolinda casa civilmente com Fernando sem convenção
antenupcial e sob ameaça de que caso ela se recusasse a casar ele denunciaria um
crime cometido por António.
Em 2012 António morre e Deolinda pretende agora casar catolicamente com
Guilherme.
Existiam impedimentos ao casamento de António com Belarmina e de Deolinda
com Ernesto? Poderá Deolinda anular os seus 2 casamentos? Com que
fundamentos?
A e B são afins: art. 1585º e a morte não faz cessar a afinidade. São afins no 2º grau na
linha colateral (art. 1602º: não se aplica, não há nenhum impedimento). Está presente
uma adoção plena (art. 1986º): passa a ser considerada como filha. O filho não estando
reconhecido não se estabelece a filiação (art. 1603º + 1602º/b). Se não se fizer isto, o
casamento por aqui não é inválido.
Registro por transcrição: o padre inscreve o assento do casamento. Este vai ser
transcrito para o registro civil – registro por “cópia”, neste caso do assento católico.
D e F, o conservador não transcreveu, logo não estava casado. D não é bígamo. O art.
1669º: a única forma de provar o casamento é através da certidão/ assento de casamento
civil. Na parte final deste artigo fala em exceções: art. 1601º/c, logo havia impedimento
e D é bígamo (1601º). Portanto, A e B não é anulável, D e E não é anulável e D e F é
anulável. Verificado o Impedimento Dirimente Absoluto, o casamento será anulável nos
termos do art. 1631º e 1639º, no prazo de até 6 meses depois da dissolução do
casamento (art. 1643º/1/c). A coação moral preenche todos os requisitos? Não, falta a
ilicitude da ameaça, pelo que, já não podia ser anulável.

Caso Prático 7:
António contraiu casamento em Agosto de 2006 com Berta, viúva de seu irmão
Carlos. Dois anos depois Berta morre num acidente de viação e em Setembro de
2009, António contrai novo casamento com Filipa, filha do anterior casamento de
Berta.
Em Abril de 2011 António sofre um acidente vascular - cerebral que lhe é fatal,
tendo deixado testamento, em que dispunha de algumas peças de arte em favor de
sua mulher Filipa, revogando um anterior testamento a favor de sua irmã, Joana.
Em Agosto de 2012, Filipa, contrai novo casamento com José, seu antigo
namorado.
a) Existem impedimentos aos casamentos de António com Filipa e desta com José?
Em caso afirmativo, indique quais e classifique-os.
No primeiro casamento, são afins na linha colateral no 2º grau, logo não há
impedimento e podiam casar. Em 2008, António casou com Filipa, filha de Berta,
poderia fazê-lo? Não. Trata-se de um impedimento dirimente relativo (art. 1602º/c).
Podia ser anulável nos termos do artigo 1631º.

b) Joana, que sempre contara receber as peças de arte de António, pretende evitar
que Filipa as receba, invocando a invalidade do casamento desta com o seu irmão.
Pode fazê-lo? Joana nada podia fazer, pois a sanção patrimonial seria apenas para
António e não para a Filipa (art. 1650º). Seria válido porque Filipa é que era a
beneficiária na relação entre os dois.

c) Terá Filipa direito à deixa testamentária do seu marido António?


Sim, Filipa teria direito à deixa testamentária de António, na medida que, ela é sobrinha
e beneficiária. Ao contrário já não seria possível (art. 1650º).

Caso Prático 8:
Ana e Bento, casaram em 2010 na cidade do Porto. Bento, porém, encontrava-se a
essa data casado com Carolina, Canadiana. O casamento tinha sido celebrado em
2000 no Estado da Califórnia. O auto não constava do Livro de Registo da
Conservatória de Matosinhos, onde Bento estava registado. Bento, tinha intentado
uma acção anulatória do primeiro casamento com fundamento na alínea b) do Artº
1601º. Até à data ainda não foi proferida qualquer decisão.
Hoje, Bento, pretende propor uma acção anulatória do seu segundo casamento
com base na alínea c) do Artº 1601º. Quid Iuris?
Está aqui presente um impedimento dirimente absoluto e Bento pretende anular o
casamento e ele tem legitimidade nos termos do artigo 1639º no prazo de 6 meses
depois da dissolução do casamento. Embora, Bento já tinha pendente uma anulação do
casamento anterior, ele intenta outra contra o segundo casamento. Assim, com base no
art. 1633º, o casamento seria declarado nulo ou anulado.

Caso Prático 9:
Ana e Bento casaram e Janeiro de 1995, tendo anteriormente estipulado que o
regime de bens seria o de comunhão geral. Ana praticou sucessivamente os
seguintes atos sem autorização do marido:
Em Janeiro de 2012, comprou, com proventos do seu trabalho, um automóvel.
Em Novembro de 2013, vendeu um valioso conjunto de livros que recebera por
herança de sua mãe.
Em Julho de 2014, emprestou a um casal amigo uma vivenda recebida por
sucessão de um familiar.
Diga se tais atos são validos e, caso não o sejam, o que pode Bento fazer. Justifique.
Ana e Bernardo casaram sob o regime da comunhão geral de bens (art. 1732º). O
automóvel comprado em Janeiro de 2012 é um bem comum mas a sua administração é
singular e Ana comprou sem o consentimento do marido, pode faze-lo? O dinheiro é um
bem móvel pelo que, se aplica o artigo 1682º porque ela está a alienar o dinheiro, e ela
como é administradora dele pode aliena-lo sem o consentimento do outro.
Os livros que recebera de sua mãe é um bem comum mas a administração é singular.
Ela será unicamente de Ana (art. 1678º/c). Então cabe novamente o nº 2 do 1682º e Ana
pode alienar sem o consentimento do marido.
Já a vivenda é um bem comum por causa do art. 1632º e a administração é exclusiva de
Ana (1678º/2/c), mas será que pode dispor dele? É um direito pessoal, mas de acordo
com o 1678º/A/1/a, não podia arrendar, pelo que, será aplicada uma sanção do art.
1687º: o negócio era anulável pelo Bento, uma vez que, não deu o seu consentimento.

Caso prático 10:


António e Beatriz, ambos maiores, casaram civilmente em Dezembro de 2009, apos
haverem celebrado convenção antenupcial em que determinaram a
comunicabilidade dos bens que ambos possuíam à data do casamento.
António e Beatriz foram habitar um apartamento que esta última havia adquirido
em 2007. Em finais de 2013, António pretendeu mandar alcatifar a residência do
casal, mas Beatriz opôs-se, justificando-se com o facto de ser alérgica a alcatifas.
Em Março de 2014, António herdou um automóvel, que Beatriz vende, dois meses
depois, sem conhecimento do marido, a fim de comprar um modelo mais recente.
a) Em que regime de bens são casados António e Beatriz?
Determinaram a comunicabilidade dos bens que ambos possuíam à data do casamento.
Assim, celebraram um regime atípico nos termos do artigo 1698º.

b) Pode António mandar alcatifar a residência do casal contra a vontade de


Beatriz?
É um bem comum por força da convenção, mas a quem cabe a sua administração? A
administração é exclusiva de Beatriz (art. 1678º/2/c), pelo que, António não pode fazer
nada quanto à administração do bem.

c) É a venda do automóvel, feita por Beatriz, válida? Se não o é, o que pode


António fazer?
O automóvel pertence a António, que foi adquirido a título gratuito, pelo que é um bem
próprio e António é quem tem a administração exclusiva, logo, Beatriz não pode alienar
(art. 1682º à contrário) com uma sanção: art. 1687º/4 – António pode anular o negócio,
uma vez que se trata de um negócio de bens alheios nos termos do art. 892º.

Caso Prático 11:


Cláudio e Diana, ambos maiores, contraíram casamento civil, em Maio de 2008,
tendo celebrado anteriormente convenção antenupcial em que se estipulava a
comunicabilidade dos bens, adquiridos a título gratuito, antes e depois do
casamento. Cláudio e Diana foram habitar o andar onde Cláudio já residia com
Eduardo, filho do seu anterior casamento.
Em Janeiro de 2014, Diana herdou uma aparelhagem estereofónica que colocou na
sala de estar da residência do casal. Pretendendo adquirir um modelo mais
sofisticado, Diana vende a aparelhagem, passados cinco meses.
Em Dezembro de 2014, Cláudio herda uma casa de praia, em que pretende
mandar fazer obras, dado o seu estado de degradação. Todavia, Diana opõe-se.
a) Qual o regime de bens em que estão casados Cláudio e Diana?
Cláudio e Diana casaram sob o regime de bens adquiridos (art. 1717º), uma vez que, nos
termos do artigo 1699º/2 a convenção nupcial era nula e por isso, aplica-se o regime
supletivo.

b)Tinha Diana poderes para vender sozinha a aparelhagem estereofónica? Se não


podia quais as consequências?
A aparelhagem foi um bem herdado por parte de Diana, logo é um bem de título
gratuito, que pertence a Diana uma vez que, recebeu por doação (art. 1722º/b). Mas
quem tem a legitimidade para administrar o bem? A Diana (art. 1678º/1). Ela pode
vender sem o consentimento do seu marido? De acordo com o artigo 1682º/3/a não
podia, gerando a anulabilidade nos termos do artigo 1687º/3.
c) Pode Cláudio mandar efetuar obras na casa que herdou, contra a vontade de
Diana?
O bem pertence a Cláudio (art. 1722º/b) e é ele que o pode administrar (art. 1678º/1)
porque não se encontra em nenhuma das exceções. Ele pretende fazer obras mas Diana
não concorda, será que ele pode fazer sem o seu consentimento? Quer atos de
administração ordinária quer atos de administração extraordinária cabe, apenas, a
Cláudio, logo ele podia fazer as obras sem o consentimento de Diana.

Caso Prático 12:


Suponha que Eduardo, casado com Joana, no regime supletivo, recebeu uma
determinada quantia a título de tornas na partilha da herança dos seus pais.
Eduardo aplicou integralmente esse dinheiro na aquisição de um veículo todo-o-
terreno, que utiliza na sua actividade profissional. Sucede que, há um mês,
Eduardo vendeu o veículo todo-o-terreno a Rui, sem o consentimento de Joana.
Com o produto dessa venda comprou (novamente sem o consentimento de Joana
um automóvel ligeiro de passageiros, que utiliza no seu trabalho.
a) Poderá Joana, hoje, reagir relativamente à alienação do veículo todo-o-terreno?
Justifique legal e doutrinalmente.
As partilhas da herança são bens de título gratuito e Eduardo comprou com esse
dinheiro um veículo de todo-o-terreno e como são casados no regime supletivo, é um
bem próprio, logo pertence a Eduardo (art. 1723º/c). Era preciso que Joana num
documento equivalente aceitasse a aquisição do veículo se não o bem seria oneroso (art.
1724º) e seria de ambos os cônjuges e se era de ambos, era preciso o consentimento. Se
o bem fosse utilizado exclusivamente para o trabalho, a administração seria apenas de
Eduardo (art. 1678º/2/e). Caso não fosse a a administração era conjunta. Se Eduardo
tivesse exclusiva administração podia alienar o bem, se fosse conjunta não podia e era
anulável nos termos do artigo 1687º/2.
b) E terá Joana direito a metade do valor do automóvel ligeiro de passageiros?
Justifique legal e doutrinalmente.
Se o bem fosse comum, Joana teria direito à metade, caso contrário, não teria.

Caso prático 13:


Pedro e Joaquina são casados no regime de comunhão geral de bens.
Um tio de Joaquina deixa-lhe, em testamento, uma quinta no Minho.
Pedro, agindo sozinho e sem consentimento da mulher, decidiu transformar uma
vacaria existente na quinta numa estufa para cultivo de flores de espécies raras.
Para o efeito pediu a um amigo a quantia de 10.000.00 que se obrigou a pagar ao
fim de um ano.
Como não pagou o empréstimo na data acordada, o credor veio exigir do casal o
pagamento do 10.000.00 em dívida.
Entretanto venceu-se o IMI relativo á quinta que não foi pago, tendo a fazenda
pública vindo demandar o casal pelo pagamento dessa dívida fiscal.
Pergunta-se: quem é responsável pela dívida resultante do empréstimo dos
10.000.00? Que bens respondem por essa dívida? E de quem é a responsabilidade
da dívida fiscal?
São casados em regime de comunhão geral de bens (1732º). O cônjuge administrador é
Joaquina (1678º\c) apesar de o bem ser comum, quem administra é Joaquina. Pedro e o
responsável pela dívida do empréstimo 1692\a, e respondem por essa dívida os bens
próprios de Pedro (1696º\1\2), quanto á dívida fiscal, o imposto é um ônus logo
respondem os dois (1694º\1).

Caso prático 14:


A e B contraíram casamento civil urgente, em Abril de 2005, face á iminência de
parto de B. O casamento foi homologado, após a celebração do processo de
publicações.
Em Março de 2006, A herdou um pequeno automóvel que B passou a utilizar
exclusivamente uma vez que A não possuía carta de condução. Em Março do
presente ano B decidiu trocar de automóvel por um modelo mais recente, troca
que efetuou no mesmo mês, contra a vontade de A, que entende pertencer-lhe o
automóvel.
a) Em que regime de bens são casados A e B
Foi um casamento urgente (1622º), logo não podem escolher o regime, por isso
estão casados por separação de bens (1720º e 1735º)
b) Aprecie o argumento de A e validade do ato praticado por B.
O automóvel é de A porque estão casados em separação de bens (1735º), quem
administra? É o A (1678º\1) mas há exceções e neste caso aplica-se a alínea c do 1678º
mas não sabemos se o B utiliza exclusivamente como instrumento de trabalho, se
utilizasse seria o B o administrador. Qualquer das formas encaixa-se também na
situação da alínea g do 1678º, ou seja, mandato tácito. Se a administração fosse de B,
poderia praticar o ato. Supondo que a administração era de A, é um bem próprio
(1682º\3) e o negócio seria anulável, pois seria venda de bens alheios (1687º\4).

Caso Prático 15:


Abel estabelece com Beatriz o regime de separação de bens por meio de uma
convenção antenupcial celebrada no escritório do advogado daquele que,
entretanto, devido aos seus inúmeros afazeres, se esquece de a registrar.
Abel, dono de uma mercearia, traz para o casamento um automóvel que utiliza
com a mulher, uma tapeçaria, em uso na sala comum, e uma máquina de costura
utilizada exclusivamente por Beatriz para arranjar as roupas do lar. Suponha que:
a) Abel compra uma caixa de garrafas de champanhe para oferecer a um velho
amigo seu da tropa. Quem responde pelos 1.500,00€ em divida ao fornecedor?
A convenção antenupcial é nula por ter sido celebrada no escritório do advogado (art.
1710º) e como posteriormente, o advogado se esqueceu de a registrar, ela tornou-se
ineficaz (art. 1711º). Por isso, Abel e Beatriz casaram sob o regime da comunhão de
adquiridos. A dívida deveria ser comunicada a Beatriz (art. 1691º/d). Respondem os
bens comuns (art. 1695º) e solidariamente os bens próprios de cada um.

b) Abel troca a tapeçaria da sala comum por outra de Carlos, caixeiro-viajante,


que se encontrava de passagem pela cidade e vende a máquina de costura. Quid
Iuris?
Abel troca a tapeçaria, trata-se de uma permuta (art. 939º). O bem é um bem próprio de
Abel (art. 1722º/1/a) e cabe-lhe a sua administração (art. 1678º/1) mas para alienar,
carecia do consentimento de Beatriz (art. 1682º/3/a).

c) Beatriz pretende arranjar o automóvel por ter detetado ferrugem por baixo da
carroçaria do mesmo. Pode fazê-lo? Quem responde pela dívida?
Beatriz não o pode fazer (art. 1678º/1). A dívida será exclusiva do administrador e
corresponderam os seus bens (art. 1692º/a e 1696º).

Caso Prático 16:


Carlos e Deolinda em convenção antenupcial, feita em 2 de Janeiro de 2010,
estabeleceram o regime de separação. Contudo não registaram a dita convenção.
Em 3 de Janeiro de 2011 casaram-se. Em 1 de Outubro foi intentada uma acção de
condenação com processo comum, sob forma única, contra ambos, na qual se
reclamava uma dívida de Deolinda, proveniente da compra de um automóvel,
compra essa efetuada em 7 de Janeiro de 2011.
Coloque-se na posição de Advogado do Autor da acção e explique as razões
determinantes que o levaram a intentar a referida acção contra Carlos e Deolinda
tendo em conta somente o direito positivo.
Como não registraram a dita convenção, ela é inexistente, ou seja, constituía uma
condição de eficácia mas como não foi registrada é ineficaz perante terceiros mas eficaz
entre os cônjuges. Portanto, entre os cônjuges vigora o regime de separação de bens mas
perante terceiros já vigora o regime supletivo (art. 1711º).
No entanto, mesmo que a convenção tivesse sido registrada, ela caducou, uma vez que,
desde a data da sua celebração à data do casamento passou um ano e um dia e ela só tem
o prazo de um ano (art. 1716º) pelo que se aplica o regime de comunhão de bens
adquiridos.
A divida é da responsabilidade de ambos os cônjuges se houvesse o consentimento do
seu cônjuge (art. 1691º/1/a). Caso não houvesse o consentimento podia propor a ação
através da alínea d) do mesmo artigo.

Caso Prático 17:


Abel, comerciante, e Berta, médica radiologista de grande nomeada e clientela,
casaram em Outubro de 2008, segundo o regime de comunhão de adquiridos.
Berta possuía, desde 2006, um consultório totalmente equipado com a
aparelhagem necessária ao exercício da sua profissão.
Em Dezembro de 2009, Abel herdou um prédio de rendimento e, após nele ter
efetuado algumas obras, arrendou alguns andares, em Novembro de 2014, a uma
empresa, sem o conhecimento de Berta.
a) Necessitando adquirir um novo aparelho de Raios-X, Berta vende o que já
possuía e, como o preço dessa venda não fosse suficiente para a nova aquisição,
pede emprestados € 7.482,00 que se obriga a pagar num determinado prazo. Essa
dívida é própria ou comum? Quais os bens responsáveis por ela?
O consultório é um bem próprio de Berta (art. 1722º/1/a) e cabe-lhe a sua administração
(art. 1678º/1) e nomeadamente os bens que se encontram dentro, pelo que, pode ser
alienado. O dinheiro da venda mantem o caracter de bem próprio (art. 1723º/1/b). A
divida será de ambos porque foi no exercício do comércio (art. 1691º/1/d) ou também
porque preenche todos os requisitos da alínea c) e por isso, esta era suscetivel de ser
aplicada. Assim, respondem os bens de ambos os cônjuges e na falta deles os bens
próprios de qualquer um dos cônjuges.

b) Em Dezembro de 2014, Berta tem conhecimento dos arrendamentos feitos pelo


marido. Indignada por não ter sido consultada, pretende invalidar tal acto. É-lhe
tal possível?
É um bem próprio (art. 1722º/1//b) e será da sua administração (art. 1678º/1). Berta não
foi consultada, pelo que podia anular (art. 1682º/A e 1687º/1), tendo o prazo de 6 meses
a partir da data de conhecimento.

Caso prático 19:


Diana casa com Fernando, em 2005, tendo celebrado, por documento particular, uma
convenção antenupcial onde se estabelecia o regime de comunhão geral de bens. Por
esquecimento de Fernando, porém, a convenção não é registada.
Fernando herda uma quinta de seu pai que vende para com o produto dessa alienação
comprar um andar no Porto. Pouco antes de casar Diana tinha celebrado um contrato de
compra e venda com reserva de propriedade, com pagamento em 36 prestações mensais de
um automóvel que o casal usa para se deslocar para os seus empregos na Câmara de
Gondomar.
Pergunta-se:
a) A quem pertence o andar? Poderia Diana durante um fim de semana em que
Fernando tinha partido para a caça, mandar colocar uma fechadura nova por o
andar ter sido assaltado? Quem respondia por essa dívida no valor de 100.00 €?
Foi celebrada uma convenção antenupcial (1710º) que tem que cumprir requisitos formais, não
foi cumprida a forma, pois foi por documento particular e não deveria ser, logo a convenção é
nula. Aplica-se o 1717º, logo o regime é o da comunhão de adquiridos (1721º).
Fernando herda uma quinta de seu pai, 1722º alínea b, quem administra é ele 1678º\1, não podia
vender 1682ºA alínea a), mas vendeu. Se considerarmos que o bem é comum Diana pode entrar
na administração 1678º\f e 1679º, logo a administração seria de proveito comum (1691º\c)
ambos respondiam pela dívida.
b) A quem pertence o automóvel? Quem responde pelo pagamento das prestações?
O automóvel é de Diana 1722º\1\c, e 1722º\2\c, no entanto se as prestações forem pagas com
dinheiro comum depois tem que se fazer as recompensações.

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