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DIREITO DA FAMÍLIA E DOS


MENORES
Dr. Francisco Pereira Coelho

Cristiana Correia
2023/2024
DFM

Noção de família e fontes de relações jurídicas familiares.

Noção de família art 1576º CC


Este artigo tem como epigrafe as fontes das relações jurídicas familiares. O código civil
não dá uma noção certa de família. Família são todas as relações que resultem destas
fontes.

Fontes de relações jurídicas familiares


As fontes das relações jurídicas familiares são: o casamento, o parentesco, a afinidade e
a adoção

Casamento/matrimónio (art 1577º CC)


O casamento vai ser o objeto principal da nossa cadeira. Sendo que o casamento é o
contrato (relação jurídica bilateral), celebrado entre duas pessoas que pretendem
constituir família mediante uma plena comunhão de vida.
Trata-se da relação que liga os cônjuges entre si, afetando os mesmos de maneira
profunda e duradoura, e que influencia no seu regime a generalidade das relações
jurídicas obrigacionais ou reais que eles sejam titulares.

Parentesco/consanguinidade (art 1578º CC)


São as relações entre pessoas que tem o mesmo sangue, porque descendem umas das
outras ou porque provem de um progenitor comum.
É o vínculo que une duas pessoas em consequência de:

➢ Quando um dos parentes descende do outro: parentesco em linha reta; (art 1580
º primeira parte)
✓ Linha reta ascendente: quando se considera como partindo descendente
para o progenitor
✓ Linha reta descendente: quando se considera como partindo do
ascendente para o que dele procede.
➢ Quando ambos os parentes descendem de um progenitor comum: parentesco na
linha colateral/transversal; (art 1580º segunda parte).
Portanto são parentes as pessoas que descendem uma das outras ou procedem de
progenitor comum.
Quais os limites do parentesco?
Segundo o art 1582º do CC, diz nos que salvo disposição da lei em contrário, os efeitos
do parentesco produzem-se em qualquer grau da linha reta e até ao sexto grau da linha
colateral.

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NOTA: a única disposição legal que dá relevância às relações de


parentesco na linha colateral para além do 6º grau é a que ocorre no
art 2042º do CC, segundo o qual, a representação tem sempre lugar,
na linha colateral em benefício dos descendentes de irmão falecido,
qualquer que seja o grau de parentesco.

Porém, são ainda muito numerosos os casos em que a lei restringe


ainda mais, a relevância jurídica do parentesco. P.e. os colaterais que
não sejam descendentes de irmãos só têm direitos sucessórios até ao
4º grau (art 2133º nº1 d)).

Contagem
As relações de parentesco são muito numerosas e na realidade muito diversas. E é
mediante a contagem do parentesco que se torna possível definir, ordenar e estabelecer
uma hierarquia entre elas. E, portanto, o parentesco conta-se por linhas e graus.
➢ Grau:
✓ Cada geração forma um grau. (art 1579º CC)
✓ Na linha reta há tantos graus quantas pessoas que formam a linha de
parentesco exceto o progenitor (Art 1581º CC)
P.e. o meu pai e o meu filho são meus parentes em primeiro grau. Já os
meus avós e netos são parentes em segundo grau.
✓ Na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma subindo um dos
ramos e descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum.
P.e. o meu irmão é meu parente em segundo grau, pois para chegar ao
meu irmão eu tenho que subir até ao meu pai (1 grau) e descer até
encontrar o meu irmão (outro grau). O meu tio é meu parente em terceiro
grau, porque tenho que subir um grau até ao meu pai, outro grau até ao
meu avô que é o progenitor comum, e descer um grau até ao meu tio.
Portanto é meu parente em terceiro grau. No caso de um primo. Tenho
que subir para o meu pai (1 grau), depois para meu avô (progenitor
comum e mais um grau), descer para o meu tio (mais um grau) e por fim
é que chego ao meu primo. Ou seja, é meu parente em quarto grau.
➢ Linha: a serie dos graus constitui a linha de parentesco.

Efeitos do parentesco
Os efeitos da relação de parentesco variam consoante a relação de parentesco que se
considere:
➢ Sucessório (art 2133º)
O efeito sucessório é um dos principais efeitos do parentesco.
Os descendentes, os ascendentes, os irmãos e os seus descendentes e os outros
colaterais até ao 4º grau, integram, respetivamente a 1º, 2º,3º e a 4º classes de
sucessíveis na ordem da sucessão legitima. Nota: remeter para o art 2157º do
CC.

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É de notar que os parentes na linha reta descendente ou ascendente, que ocupam,


ao lado do cônjuge, as duas primeiras classes sucessórias do nº1 do art 2133º,
são herdeiros legitimários. (nota: embora se trate de um efeito comum às
diversas relações de parentesco aqui estabelecidas, é notório que a lei estabelece
sob este aspeto uma hierarquia entre elas).

➢ Obrigação de alimentos (art 2003º e ss)


A lei impõe a determinados parentes (descendentes, ascendentes, irmãos, tios,
padrasto e madrasta, art 2009º do CC) a obrigação de alimentos.
Por alimentos entende-se tudo o que é indispensável ao sustento, habitação e
vestuário, compreendendo também a instrução e educação do alimentado no
caso de este ser menor.
Se algum deles não puder prestar os alimentos ou não tiver possibilidade
económica de saldar integralmente a sua responsabilidade, o encargo recairá
sobre os onerados subsequentes (art 2009º, nº3).

➢ Direito ao arrendamento (art 1106º CC)


Por morte do arrendatário, e na falta de cônjuge com residência no locado ou
pessoa que com o arrendatário vivesse no locado em união de facto há mais de
um ano, o direito ao arrendamento para habitação se transmite aos seus parentes
que com ele residiam há mais de um ano em economia comum, e o direito ao
arrendamento rural aos seus parentes na linha reta que viviam com ele em
comunhão de mesa e habitação ou em economia comum há mais de um ano
consecutivo (art 20º nº2 a) do decreto-lei nº294/2009, de 13 de outubro).

➢ Conselho de família (art 1931º, nº1 e 1952º nº1 do CC)


Da qualidade de parente pode derivar a obrigação de exercer a tutela ou fazer
parte do conselho de família.

Limitações ou restrições à capacidade jurídica


➢ Não podem contrair casamento entre si os parentes na linha reta, nem os
parentes em 2º grau na linha colateral (irmãos). (art 1602º a) e b).
➢ Os parentes em 3º grau na linha colateral (tio e sobrinha, tia e sobrinho), não
podem casar. (art 1604º c)).
➢ Existindo perfilhação, a pretensa mãe e o perfilhante forem parentes em linha
reta ou no 2º grau da linha colateral, não é admitida averiguação oficiosa da
maternidade (art 1809º al a);
➢ Não é admitida a averiguação oficiosa da paternidade se a mãe e o pretenso pai
estiverem ligados por iguais relações de parentesco.(art 1866º a).

Afinidade (art 1584 º CC)


Trata-se do vínculo que existe entre um cônjuge e os parentes do outro. P.e. sogra,
sogro, cunhado, enteado, madrasta. Sendo que esta relação não é uma relação de sangue.
A fonte da afinidade é, portanto, o casamento, sendo, portanto, ela mesma um dos
efeitos da relação matrimonial, e esta determina-se pelos mesmos graus e linhas que
definem o parentesco.
Esta só começa com a celebração do casamento.

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Se um casamento acabar as relações de afinidade mantêm-se?


A resposta encontra-se no art 1585º do CC, ou seja, se a dissolução do casamento for
por morte então a afinidade não cessa, porém se a dissolução for por divorcio então a
afinidade cessa.

Efeitos
Em comparação com os efeitos do parentesco, os efeitos da afinidade são muito menos
extensos.
Os afins não têm efeitos sucessórios, e no que toca à obrigação de alimentos a lei só
impõe ao padrasto e à madrasta.
Também pode suceder e no direito ao arrendamento rural no caso de falecimento do
arrendatário, quanto à obrigação de exercer a tutela ou fazer parte do conselho de
família pode recair sobre os afins.
Também há efeitos da afinidade que traduzem em restrições à capacidade e
incompatibilidades de vária natureza:
✓ Na afinidade em linha reta há um impedimento relativo à celebração do
casamento (artº1809 a) e artº1866ºa).
✓ Proíbem a averiguação oficiosa da maternidade e a da paternidade,
quando a pretensa mãe e o perfilhante, no 1º caso, ou a mãe e o pretenso
pai, no 2º caso, estiverem ligados de afinidade em linha reta.

Adoção (art 1586º CC)


Trata-se do vínculo que se constitui à semelhança da filiação natural, mas
independentemente dos laços de sangue, se estabelece entre duas pessoas nos termos
dos art 1973º e ss.
Existe uma revitalização deste instituto da adoção, que teve esquecido em tempos, mas
existiu uma mudança de ideias.
Antigamente tínhamos adoção plena (a criança tornava-se plenamente filha dos pais
adotivos, o adotado ao mesmo tempo que entrava plenamente na família dos pais
adotivos desligava-se plenamente da família dos pais biológicos ) e restrita (o filho
adotado por um lado era “menos” filho que os outros, designadamente para efeitos
sucessórios, mas por outro lado mantinha relação com os pais biológicos).
A adoção restrita acabou em 2015, houve não temos adoção nem plena nem restrita,
temos só uma adoção.
Temos dois tipos de adoção:
1. Adoção conjunta: que é realizada por duas pessoas (casal) que sejam casadas ou
que vivam em união de facto.
2. Adoção singular: realizada por uma só pessoa.

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Para concluir, o nosso art 1576º diz que são fontes de relações jurídicas familiares, o
casamento, a afinidade, o parentesco e a adoção, isto dá nos uma ideia de taxatividade,
ou seja, família é isto e só isto, não havendo outras fontes.
De facto, foi isto que se entendeu. Porém o que é facto, é que temos no nosso sistema
outras relações que a lei atribui efeitos tipicamente familiares, que é a relação de união
de facto.
Na união de facto temos duas pessoas que vivem como se fossem casadas, mas não são.
A união de facto é regulada pela lei, e em termos materiais com relação familiar, ou
seja, não há razão para excluir a união de facto desta lista de relações familiares.
A família jurídica e família sociológica são distintas. A família sociológica corresponde
à célula familiar/núcleo, familiar.

NOTA: Em face do art 1576ºCC, pode entender-se que além das que foram
mencionadas, não haja outras relações familiares e, portanto, pode se considerar que à
família de uma pessoa pertencem não só o seu cônjuge como ainda os seus parentes,
afins, adotantes e adotados.
Porém pode haver quem desvalorize o elenco expresso, incorretamente, e julgue que
devam ser acrescentadas as relações emergentes da união de facto, ou o apadrinhamento
civil e a paternidade não biológica consentida no quadro da procriação medicamente
assistida.

União de facto

Noção
A noção de união de facto cobria apenas a relação entre pessoas de sexo diferente, que
viviam como marido e mulher. Até à lei nº7/2001, era esta a noção de união de facto no
direito português. Porém a lei nº7/2021 veio dar ainda relevância jurídica à união de
facto entre pessoas do mesmo sexo.
Assim a lei da união de facto define logo no art 1º nº2 que a união de facto é a situação
de vida em que duas pessoas independentemente do sexo vivem em condições análogas
à dos cônjuges há mais de 2 anos.

O que é isto de vivem em condições análogas às dos cônjuges?


Trata-se de viver numa tripla comunhão, isto é, comunhão de leito, mesa (há uma
economia comum) e habitação (vivem na mesma casa). A estas três notas deve se
acrescentar que tem de estar em condições de puridade e exclusividade.

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História legislativa
Lei 7/2001 de 11 de maio não foi a primeira lei a regular a união de facto.
A primeira lei foi a 135/99 de 28 de agosto. A única alteração da lei foi o
reconhecimento da relação de união de facto entre pessoas do mesmo sexo.
➢ A união de facto está reconhecida na CRP?
A primeira observação a fazer é que a Constituição não fala em união de facto
nem dispõe diretamente sobre ela.
No art 36º nº1 da CRP, refere que “todos têm o direito de constituir família e de
contrair casamento em condições de plena igualdade” artigo este que está
inteiramente relacionado com os direitos liberdades e garantias, e segundo o qual
o Dr. Gomes Canotilho e Vital Moreira, defendem que o direito de constituir
família trata-se de uma abertura constitucional, para conferir o devido relevo às
uniões familiares de facto. A expressão constituir família tem a ver sobretudo
com o direito de ter filhos e uma vez tendo filhos desenvolver as suas relações,
de paternidade e etc. é este sentido usual de constituir família e também sempre
foi com este sentido que esta expressão foi interpretada em relação a outros
textos, nomeadamente de direito internacional.
A união de facto também está abrangida no “direito ao desenvolvimento da
personalidade” que se encontra no art 26º nº1 da CRP. Visto que estabelecer uma
união de facto é certamente uma manifestação ou forma de exercício desse
direito. Isto porque a legislação que proibisse a união de facto, ou a penalizasse,
impedindo o direito de as pessoas viverem em união de facto, seria, portanto,
inconstitucional.
Como é que se constitui uma união de facto?
A união de facto constitui-se quando os sujeitos da relação de “juntam”. Ou seja,
constitui-se quando esse facto que é a União de facto, passa a existir.
Podemos dizer que a união de facto se constitui quando os sujeitos passam a viver em
comunhão de leito, mesa e habitação.
Como é que se prova a união de facto?
Não sendo objeto de registo civil, nem de registo administrativo, não se torna fácil saber
quando a união de facto se inicia. Mas é importante sabe-lo, pois só a partir dessa data e
contam os dois anos que devem decorrer para que a união de facto produza os efeitos
previstos no art 3º da lei nº7/2001.
A questão de saber como se prova a união de facto e a data em que a mesma começou
reveste-se de grande interesse e importância, quer a união de facto seja invocada pelos
sujeitos da relação (ou por um deles contra o outro), quer seja invocada por eles.
Assim…
A prova da união de facto é normalmente testemunhal, mas a possibilidade de prova
documental não deve excluir-se. (o art 2-A da Lei da União de Facto, diz nos que a
união de facto se prova por qualquer meio legalmente admissível).
As juntas de freguesia devem passar atestados/certificados de residência, vida e situação
económica dos cidadãos, e pode admitir-se que a junta de freguesia da residência dos
interessados passe atestado comprovativo de que uma pessoa vive em união de facto

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com a outra. Nota: o documento não faz prova plena, podendo provar-se que o facto não
é verdadeiro, pois a união de facto não existiu ou não existiu durante determinado
período. O documento apenas prova que os interessados fizeram perante o funcionário a
afirmação de que conviviam maritalmente desde certa data, mas não prova que seja
verdadeira afirmação.
A verdade é que não se adotando um “registo” oficial da união de facto, as alternativas
são raras:
➢ Ou se exige que a prova dos factos fosse feita nos tribunais.
➢ Ou aceita-se a prova por qualquer meio, incluindo a declaração emitida pela
Junta de Freguesia.
A primeira hipótese significaria jurisdicionalizar todos os diferendos e todas as
pretensões. Enquanto que a segunda hipótese que foi sempre adotada tem a consistência
que resulta das incriminações penais e das boas praticas, segundo as regras comuns que
valem para muitas áreas da vida social.

Conteúdo da relação: efeitos pessoais e patrimoniais


Os efeitos da União de facto podem considerar-se efeitos pessoais e patrimoniais, no
direito civil e não civil, durante a vida da relação e após a extinção desta, por rotura da
relação ou em consequência da morte de algum dos seus membros.
É de realçar que a união de facto só tem os efeitos que a lei lhe atribuir, em particular, e
pelas razões já expostas
1. Efeitos pessoais
➢ Art 1672º fixa uma lista de deveres dos cônjuges. Em que os cônjuges
estão obrigados a cumprir. No caso do casamento. Visto que há um
compromisso afirmado. Porém como é logico os membros da união de
facto não assumindo nenhum compromisso não estão vinculados por
qualquer um dos deveres pessoais que os art 1671º e 1672º impõe aos
cônjuges. E nenhum deles pode acrescentar aos seus apelidos os do
outro. (art 1677º CC).
➢ A lei permite aos membros da união de facto, adotar, nos termos
previstos para os cônjuges no art 1979 CC, isto é, se a relação durar há
mais de quatro anos e ambos tiverem mais de 25 anos de idade,
aplicando-se a pessoas do mesmo sexo ou pessoas de sexos diferentes,
➢ A união de facto é relevante para efeitos de aquisição da nacionalidade.
O estrangeiro que viva em união de facto com nacional português há
mais de 3 anos pode adquirir a nacionalidade portuguesa mediante
declaração de vontade, desde que tenha obtido o reconhecimento judicial
da situação.

2. Efeitos patrimoniais
➢ As relações patrimoniais entre os cônjuges entre estes e terceiros estão
sujeitas a um estatuto particular, a que se chama “regime de bens do
casamento”. Não acontece assim na união de facto. Não há aqui um
regime de bens nem têm aplicação as regras que disciplinam os efeitos
patrimoniais do casamento.

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➢ Os membros da união de facto vivem em comunhão de leito, mesa e


habitação, como se fossem casados, o que cria uma aparência de vida
matrimonial, que pode suscitar a confiança de terceiros que contratem
com os membros da relação ou com um deles. Parece assim razoável
estender à união de facto o art 1691º b) do CC entendendo que os
sujeitos da relação são solidariamente responsáveis (art 1695 nº1), pelas
dividas contraídas por qualquer deles para ocorrer aos encargos normais
da vida comum.
➢ A questão que se apõe é se uma pessoa que vivem em união de facto com
outra pode exigir alimentos ao ex-cônjuge de quem se divorciou, se tiver
necessidade deles e o Ex cônjuge tiver possibilidade de lhos prestar?
Ora, se a pessoa que estava a receber uma pensão de sobrevivência por
morte do cônjuge, ou uma pensão de alimentos dos Ex cônjuge de quem
se divorciara, perde o direito à pensão se passar a viver em união de
facto.
Ex. vamos supor que uma pessoa foi casada e divorciou-se dessa pessoa
ficou a receber pensão de alimentos do ex-marido. E vamos supor que
mais tarde ela começa a viver em união de facto com outra pessoa. A lei
defende que se tivesse casado com essa pessoa, deixava de receber
alimentos do Ex marido. O que é que acontece no caso da união de
facto? Esta questão foi resolvida no art 2019º que sofreu uma alteração
em 2010, que nos diz que a obrigação de alimentos cessa se o alimentado
contrair novo casamento ou passar a viver em união de facto.
Noutro exemplo, suponhamos que houve um casamento e um dos
cônjuges morre, o cônjuge que sobrevive tem direito a receber uma
pensão de sobrevivência. Se esse cônjuge casasse novamente deixava de
receber essa pensão. E se passasse a viver em união de facto? A lei diz
nos que caso o viúvo case ou passe a viver em união de facto deixa de
receber a pensão de sobrevivência.
Condições de eficácia
1. A união de facto só produz efeitos se durar há mais de 2 ano (art 1 da Lei
nº7/2001) (o Dr. acha que é muito tempo).
2. A lei estabelece certos impedimentos para o matrimonio, compreende-se que tal
como pessoas com 10 anos por exemplo não pode casar também não lhe pode
ser reconhecida a união de facto. Isto é, se a lei não permite que as pessoas se
casem também não pode permitir que lhe seja reconhecida juridicamente a união
de facto. É dentro desta logica de fazer valer os impedimentos para o casamento
faze los também valer para a união de facto. Diferenças em relação ao
casamento: é impedimento ter idade inferior a 18 anos para lhe ser reconhecida a
união de facto e no casamento é aos 16. Há outra diferença, temos o
impedimento de casamento anterior não dissolvido (A quer casar com B, mas A
é casado com outra pessoa, mas está separado dessa pessoa de pessoas e bens,
ora a separação de pessoas e bens não dissolveu o casamento, portanto não pode
casar, no entanto pode desenvolver uma união de facto juridicamente protegida
com B).
(art 2 da lei nº7/2001)

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Extinção da relação de união de facto


A extinção da relação pode extinguir-se por?
➢ Morte
➢ Rutura da relação por mútuo consentimento
➢ Rutura da relação por iniciativa de um dos seus membros
➢ Dissolução pelo casamento de qualquer dos membros da união de facto (é
pouco verosímil que um dos membros desta união de facto contraia casamento
com outra pessoa sem que previamente tenha manifestado a vontade de romper a
relação).
Que efeitos é que se produzem quando cessa a união de facto?
A união de facto é apenas um facto não tem um estatuto jurídico. Não havendo regime
específico para disciplinar as regras da união de facto aplica-se então as regras gerais de
direito.
Se não houver um contrato de coabitação, aplicam-se as regras do direito comum das
relações reais e obrigacionais.
Nota: enriquecimento sem causa importante para orais e caso pratico.

Rotura da união de facto


Destino da casa de família
Qualquer um dos membros da união de facto pode romper a relação quando quiser
livremente e sem formalidades. E uma questão que levanta muito interesse pratico é
qual é o destino da morada de família no caso da rotura da relação?
Para responder a esta questão é importante fazer a distinção entre: casa própria comum,
ou casa própria de um dos membros da relação ou de casa tomada de arrendamento.
➢ Casa própria comum: o art nº4 da lei nº7/2001 manda aplicar o caso ao art 1793º
do CC. Assim se a casa própria pertencer em compropriedade a ambos os
membros da união de facto, qualquer um deles pode pedir ao tribunal que lhe dê
de arrendamento a casa, verificadas as condições.
➢ Casa própria de um dos membros da relação: se a casa for propriedade de um
dos membros da relação pode o outro fazer pedido idêntico.
➢ Casa tomada de arrendamento: se os membros da união de facto vivam em casa
tomada de arrendamento (remeter o art 4 da lei nº7/2003 para o art 1105º CC),
podem os dois acordar que o arrendamento se transmita ao não arrendatário, ou
se o arrendamento tinha sido feito pelos dois, se concentre a favor de um deles.
Sendo que na falta de acordo cabe ao tribunal decidir.
Morte
➢ o sobrevivido tem direito a exigir alimentos da herança do falecido. (art 2020º
do CC).
➢ O sobrevivo tem direito real de habitação da casa de morada da família pelo
prazo de 5 anos (art 3 a) e 5º nº1 da lei 7/2001). O sobrevivo tem direito
atualmente a uma proteção superior à que tinha, pois, estas disposições que o
reconhecem aplicam-se mesmo que ao falecido sobrevivam descendentes com

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menos de um ano ou que com ele vivam há mais de um ano e pretendam


continuar a viver na casa, ou ainda que haja disposição testamentária em
contrário.
Esta nova versão garante ao sobrevivo um direito de uso dos bens móveis
utilizados por ambos na vida familiar. E quando a união de facto durou mais de
5 anos, os direitos de habitação do imóvel e o direito e uso do recheio não
conferidos pelo tempo que a união de facto durou seja, 6,7,8,10,20 anos
➢ Depois de terminado o período em que o membro sobrevivo tem o direito de
habitação, a lei confere lhe um direito de arrendamento. (art 5 nº7 e 8)
➢ O sobrevivo tem direito de preferência na venda da casa, que dura por todo o
tempo em que o membro sobrevivo tenha o direito de permanecer no imóvel, a
qualquer título, seja como titular de um direito de habitação, como arrendatário,
ou enquanto espera a celebração do contrato de arrendamento.
➢ No caso de lesão que proveio à morte de um dos membros da união de facto o
sobrevivo pode exigir ao autor da lesão uma indemnização pelos prejuízos
sofridos? Art 496º CC quando uma pessoa mata outra, além de consequências
penais, tem consequências civis, o autor desse facto ilícito tem uma obrigação de
indemnizar e de reparar esse dano, a indemnização é atribuída a certas pessoas a
conviventes com essa pessoa (não é uma norma clara). A partir de 2010 esta lei
passou a incluir o companheiro que vivia em união de facto com o membro
falecido. Art nº3 do 496.
➢ A lei dá ainda ao sobrevivo direito ao subsídio por morte e pensão de
sobrevivência, tanto no caso de o falecido ser funcionário ou agente da
Administração Publica ou da Administração Regional ou Local. Para estes casos
há uma equiparação com o casamento à união de facto. Antes da reforma de
2010 o companheiro se quisesse uma pensão de sobrevivência tinha de intentar
uma ação contra a segurança social e tinha que provar que necessitava desse
valor para sobreviver.
➢ A lei dá direito às prestações por morte resultante de acidente de trabalho ou
doença profissional e às pensões de preço de sangue e por serviços excecionais e
relevantes prestados ao país.

Princípios constitucionais do direito da família

Há normas de direito da Família na nossa Constituição da República Portuguesa.


O artigo fundamental da constituição é o art 36 da CRP. Este artigo tem como epigrafe
família, casamento e filiação.
1. Princípio: direito à celebração do casamento
Este princípio está expresso no art 36 nº1 e 2 da CRP, e afirma que “todos têm
direito a contrair casamento em igualdade de condições”
O que se discute mais em relação a este direito de constituir casamento, está
implicada uma garantia institucional, isto é, há certas instituições que parece que
a constituição quer que existam, não deixando que sejam suprimidas.

Se deste direito de constituir casamento resulta uma garantia do casamento, com


a consequência de que o legislador ordinário não poderia extinguir o casamento.
Se a lei da o direito de casamento é logico que tem de haver um contrato de

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casamento que as pessoas possam celebrar. E a lei quer garantir que as pessoas
tenham o direito de contrair casamento. A questão mais importante é saber que
casamento é esse que a constituição quer garantir?
Qual é o casamento que é garantido pela constituição?
Antigamente no livro antigo havia 5 características fundamentais do casamento.
1. Contratualidade- é um contrato livremente celebrado pelos sujeitos.
2. Monogamia- é um contrato celebrado a dois.
3. Exogamia- uma pessoa casa com pessoas que não são da sua família próxima.
Pelo menos a nossa cultura é essa.
4. Heterossexualidade: entre pessoas de sexo diferentes. Já foi ultrapassada esta
característica
5. Perpetuidade tendencial: o casamento deve ser um contrato tendencialmente
perpetuo. (atualmente é fácil dissolver o casamento)
Atualmente temos apenas 3 características.:
1. Contrato
2. Monogamia
3. Exogamia

2. Princípio: Direito a constituir família.


Apesar de se considerar que a formulação do direito a constituir família presente
na CRP, contém um direito a procriar e a estabelecer as correspondentes relações
de paternidade e de maternidade, deve reconhecer-se que este preceito reproduz
no seu essencial os art 16º nº1 da Declaração Universal dos Direitos do Homem,
12º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem e 9º da Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia, e este art 9º afirma que tinha como pretensão
abranger os casos em que as legislações nacionais reconhecem outras formas de
constituir família além do casamento, o que aponta no sentido do
reconhecimento da união de facto como relação de família.

3. Princípio: competência da lei civil para regular os requisitos e efeitos do


casamento e da sua dissolução, independentemente da forma de celebração
Compete à lei ordinária regular os requisitos e os efeitos do casamento e da
dissolução seja por divorcio ou morte, independente da forma de celebração
(seja casamento celebrado de forma civil ou religiosa) em qualquer dos casos
compete à lei civil a sua regulação.

4. Princípio: admissibilidade do divórcio para quaisquer casamentos


Seria inconstitucional, a norma que proibisse, o divorcio, em geral, ou mesmo só
quanto aos casamentos católicos

5. Princípio: da igualdade dos cônjuges


Este princípio é o princípio que tem maior interesse prático, sendo relevante para
o direito matrimonial como no direito da filiação.
✓ No que toca ao direito matrimonial o princípio da igualdade dos cônjuges
feriu de inconstitucionalidade as normas do Código Civil que colocavam
a mulher cada em situação de desfavor relativamente ao marido. (p.e. a

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proibição da mulher exercer o comércio sem o consentimento do


marido).
✓ No âmbito do direito da filiação, o princípio assume relevo sobretudo
quanto às responsabilidades parentais que são exercidas por ambos os
pais (art 1901 nº1, 1911 e 1912), ao contrário do que o antigo Código de
1966, em que o poder paternal era exercido pelo pai e a mãe apenas tinha
o direito de ser ouvida. Outra relação importante deste princípio é a de
que a impugnação de paternidade deverá ser concedida tanto ao marido
da mãe como à própria mãe (art 1839º nº1).

6. Princípio: atribuição aos pais do poder-dever de educação dos filhos


Este princípio trata-se de um poder em relação aos filhos, cuja educação é
dirigida pelos pais (art 1878º nº1 CC), embora com respeito da personalidade
dos filhos (art 1878º).
Por outro lado, trata-se igualmente de um poder em relação ao Estado, ao qual
pertence “cooperar com os pais na educação dos filhos (art 67º nº2 CRP), mas
que não poderá programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes
filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.

7. Princípio: inseparabilidade dos filhos e dos seus progenitores


Os filhos não podem ser separados dos pais, salvo quando estes não cumpram os
seus deveres fundamentais para com eles e sempre mediante decisão judicial.
Assim os filhos podem ser separados dos pais, por decisão judicial, sempre que
se verifique o condicionalismo previsto no art 1915º nº1 do CC, ou seja, quando
qualquer um dos pais infrinja culposamente os deveres para com os filhos, com
grave prejuízo destes.

8. Princípio: não discriminação entre filhos nascidos do casamento e fora do


casamento
Não é permitido o uso de designações discriminatórias como as de filho
“ilegítimo”, “bastardo” ou outras que não se limitem a mencionar o puro facto
do nascimento fora do casamento dos progenitores.

9. Princípio: proteção da adoção


A adoção é regulada e protegida nos termos da lei, a qual deve estabelecer
formas céleres para a respetiva tramitação.
A adoção como instituição é garantida pela Constituição, que assegura a sua
existência e a sua estrutura fundamental, não podendo, pois, o legislador
ordinário suprimi-la nem tão pouco desfigurá-la ou descaracteriza-la. P.e. seria
inconstitucional uma lei que extinguisse a adoção, ou que deixasse de considerar
o adotado como filho do adotante.

10. Princípio: proteção da família


Trata-se da definição de família assente no casamento ou união de facto, natural
ou efetiva.

11. Princípio: proteção da paternidade e da maternidade


O art 68º da CRP considera a paternidade e a maternidade “valores sociais
eminentes” e concede aos pais e às mães, nesta qualidade, sejam ou não unidos

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pelo matrimonio, um direito à proteção da sociedade e do Estado na realização


da sua ação em relação aos filhos, nomeadamente quanto à educação destes, para
que a maternidade e a paternidade não o impeçam de se realizarem
profissionalmente e de participarem na vida cívica do país.

12. Princípio: proteção da infância


Este princípio atribui às crianças um direito à proteção da sociedade e do Estado,
com vista ao seu desenvolvimento integral . Concede também especial proteção
às crianças contra o exercício abusivo da autoridade na família, devem ter-se em
conta as disposições respeitantes à inibição de responsabilidades parentais (art
1915º CC), às providencias limitativas dessas responsabilidades (art 1918º )e,
naturalmente, todas as disposições que integram o sistema de proteção de
crianças e jovens em perigo.

Direito Matrimonial

É de notar que as características do casamento são de tal modo conhecidas que não será
possível confundi-lo com a união de facto.
Não havendo um conceito universal de casamento até há pouco tempo parecia possível
descobrir uma ideia comum aos sistemas jurídicos que se inserem no mesmo espaço
cultural do nosso: a ideia de casamento como um acordo entre um homem e uma mulher
feito segundo as determinações da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena
comunhão de vida entre eles. No entanto, a permissão de casamentos entre pessoas do
mesmo sexo dentro do nosso espaço cultural leva-nos a reformular a frase em questão
para o casamento como um acordo entre duas pessoas feito segundo as determinações
da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena comunhão de vida entre eles.
NOTA: esta comunhão de vida deverá ser exclusiva, isto é, nenhum dos cônjuges pode
fazer igual acordo com terceira pessoa enquanto o anterior vigorar, e não deverá ser
livremente dissolúvel.

Estas características (comunhão exclusiva e não livremente dissolúvel) são consideradas


características fundamentais do casamento em vários sistemas jurídicos.

Casamento civil art 1577º


O código civil define o casamento como: o contrato celebrado entre duas pessoas que
pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das
disposições do Código Civil.
A lei não especifica o significado concreto desta plena comunhão de vida, mas a noção
infere-se de outras disposições do código. Posto isto, trata-se de uma comunhão de
vida em que os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de:

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➢ Respeito;
➢ Fidelidade;
➢ Coabitação; Art 1672º
➢ Cooperação;
➢ Assistência
➢ Comunhão de vida exclusiva (art 1601º c)
➢ Não livremente dissolúvel (art 1773º)
IMPORTANTE: a procriação sendo um fim normal ou natural não é de todo, um fim
absolutamente essencial do casamento civil, pelo que não deve entrar na respetiva
definição.

Casamento católico
O casamento católico que é regulado, no direito canónico corresponde
fundamentalmente à noção geral de casamento , que define o casamento como ato de
vontade pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem
mutuamente a fim de constituírem matrimonio.
A consumação continua atualmente tem no casamento católico um relevo que não
possui no casamento civil. Não significa que seja necessária para a perfeição do ato,
visto que o casamento é um contrato consensual e não real. Mas a consumação torna o
ato mais estável, pois só depois de consumado é que o casamento católico goza de
indissolubilidade.
✓ Noção de consumação: realização de relações sexuais após a celebração do
casamento.
NOTA: o casamento não consumado pode ser dissolvido por graça ou dispensa
pontifica.
➢ Características do casamento católico:
o Exclusividade
o Indissolubilidade
A ideia de perpetuidade do casamento é muito mais forte no casamento católico do que
no casamento civil, uma vez que são extremamente raros os casos previstos que o
direito canónico permite a dissolução do vínculo matrimonial.
É importante realçar que o conhecimento das causas respeitantes à nulidade do
casamento católico e à dispensa do casamento rato e não consumado é reservado aos
tribunais e às repartições eclesiásticas.
Os tribunais eclesiásticos decidem de acordo com o direito canónico. Há certas matérias
que contra o que está na constituição são reguladas pelo direito canónico e não civil.

Sistemas matrimoniais
➢ Sistema de casamento religioso obrigatório:
Trata-se de um sistema em que não se admite o casamento civil.
Este sistema vigorou na Grécia até 1982, em que a forma religiosa do casamento
segundo os ritos da igreja ortodoxa grega era a única permitida,
independentemente da nacionalidade e da religião dos nubentes.

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➢ Sistema de casamento civil obrigatório:


O Estado não admite outra forma de casamento senão o casamento civil.
Celebrado segundo as suas leis e regulado por elas.
O direito matrimonial do Estado é obrigatório para todos os cidadãos,
independentemente da religião que professem, não reconhece então o Estado à
Igreja Católica o direito de disciplinar o casamento dos seus membros. É claro
que segundo o princípio da liberdade de culto as pessoas são livres de se
casarem segundo as normas da sua confissão religiosa, porém não atribuirá à
respetiva celebração efeitos jurídicos. Apenas o casamento civil é que será
válido e dotado de efeitos jurídicos.
Assim se as pessoas querem que o seu casamento produza efeitos jurídicos têm
que se casar através do casamento civil.

Crítica: este sistema força a dupla celebração, para os nubentes que professem
qualquer tipo de confissão religiosa e queiram que o seu casamento produza
efeitos jurídicos. P.e. um casal de católico, para que a sua união seja válida tanto
para o Estado como para a Igreja, terão que celebrar sucessivamente, casamento
civil e casamento católico.

➢ Sistema de casamento civil facultativo


Este sistema resolve o inconveniente apresentado pelo sistema de casamento
civil obrigatório.
Neste sistema os nubentes podem escolher livremente entre o casamento civil e
o casamento católico ou celebrado segundo os ritos de outra, atribuindo o Estado
efeitos civis em qualquer caso.
Assim em Portugal o casamento civil é facultativo não só para os católicos,
como também para os que celebram casamento perante ministro de culto de
igreja ou comunidade religiosa radicada no país.
O sistema em questão abrange duas modalidades distintas:
o Sistema de casamento civil facultativo na primeira modalidade:
O Estado permite que os seus nacionais celebrem casamento católico e
dá a esse casamento efeitos legais, mas dá lhe os mesmos efeitos e
sujeita-o ao mesmo regime do casamento laico ou civil.
A lei permite que as atribuições do funcionário do registo civil sejam
desempenhadas pelo respetivo ministro de culto.
o Sistema de casamento civil facultativo na segunda modalidade:
Quando o Estado admite como válido e eficaz o casamento católico,
admite-o como tal, ou seja, como é regulado pelo direito da igreja.
Portanto o Estado não reconhece só a forma como o casamento é
celebrado, mas também a própria legislação eclesiástica sobre o
casamento.
➢ Sistema de casamento civil subsidiário
O Estado subordina-se inteiramente à Igreja. Por isso o casamento católico é o
único que o Estado reconhece.
Assim o casamento civil só é admitido para os casos em que é considerado
legitimo pelo próprio direito canónico. (este instituto não é muito importante).

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Evolução do direito português

➢ No Código Civil de 1867, o sistema matrimonial era o sistema de casamento


civil facultativo, na sua segunda modalidade.
➢ Com o clericalismo da 1ª República, suprimiu-se o casamento civil facultativo e
institui-se o casamento civil obrigatório.
➢ Em 1940 foi assinada uma Convenção Internacional com a Santa Sé, no
Vaticano (Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa) que admitiu o
regresso do sistema de casamento civil facultativo, na sua segunda modalidade.
Na Concordata estabeleceu-se que o regime da dissolução de casamento católico
era regulado pelo código de direito canónico, estabelecendo que não haveria
dissolução do casamento com o divórcio, assentando no princípio da
indissolubilidade do casamento (os casamentos católicos eram indissolúveis,
mesmo face ao Estado porque este se demitia desta responsabilidade, então
muitas pessoas continuavam casadas, mas não viviam com os cônjuges).
➢ A 15 de fevereiro de 1975, foi assinada, no Vaticano, uma revisão da Concordata
de 1940, o Protocolo Adicional à Concordata e o Estado Português deixou de
estabelecer esse princípio do direito canónico da indissolubilidade. Assim, os
cônjuges casados canonicamente passaram a poder divorciarem-se. Neste
sentido, passou a aplicar-se a lei civil, mas quanto aos aspetos regulados no
artigo 1625º do CC ainda vale a lei canónica. Podemos dizer que são dois
institutos diferentes, dois tipos de casamentos diferentes.
➢ Em 2001 foi aprovada a Lei nº 16/2001, de 22 de junho, conhecida como a Lei
da Liberdade Religiosa. Até 2001, o único casamento religioso que era
reconhecido era o casamento católico. Pela verificação da existência de
desigualdades de tratamento por parte do Estado às restantes religiões, estas
formaram um movimento reivindicativo e consequentemente foi aprovada a lei
em questão.
Com esta lei, passaram a ser reconhecidos também os casamentos celebrados de
acordo com outras religiões que não a católica. Quais as religiões reconhecidas
para este efeito? São as religiões consideradas como radicadas em Portugal.
Assim o grupo religioso que pretende ser considerado radicado, dirige um
requerimento ao Ministério da Justiça, mas o requerimento só pode ser
apresentado passados, pelo menos, 30 anos de presença social organizada em
Portugal ou 60 anos no estrangeiro, sendo considerado um requisito temporal.
Uma vez apresentado o requerimento ao Ministério da Justiça, tendo em conta a
sua história e o número de crentes, o Ministério da Justiça considera a religião
radicada ou não. Se considerar radicada, a mesma é inscrita num registo de
pessoas coletivas religiosas, sendo considerado um registo das religiões. Estes
casamentos religiosos celebrados com rituais de outras religiões são regulados
pelo direito civil. O próprio ritual é regulado pela religião, mas todos os outros
aspetos do casamento são regulados pelo direito civil por inteiro.
➢ A alteração mais recente é a nova Concordata entre a República Portuguesa e a
Santa Sé, assinada no Vaticano, em 2004. A Nova Concordata veio substituir a
velha Concordata de 1940. Quais as diferenças em face da velha Concordata?
Enquanto na velha Concordata, o Estado português obrigava-se perante a Santa
Sé a reservar aos tribunais e repartições eclesiásticas o conhecimento e
julgamento de certas matérias relativas ao direito canónico, atualmente o Estado
Português deixou de estar obrigado a reservar para a competência da lei

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canónica o conhecimento dos aspetos do artigo 1625º do CC. O Estado


português já não é obrigado a deixar o direito canónico regular certas matérias.
Antes da nova Concordata, no caso da existência de uma sentença proferida
pelos tribunais eclesiásticos, esta era automaticamente recebida na ordem
jurídica civil e produzia igualmente efeitos automáticos. Até 2004, verificou-se a
existência de um processo de receção automática das sentenças, mas deixou de
ser assim. As sentenças para terem efeitos na ordem jurídica civil portuguesa
teriam de passar por um processo próprio de revisão e confirmação, através de
requerimento por parte dos interessados, no sentido de a sentença ser revista e
confirmada. É algo meramente formal, que atende a quatro requisitos: sentença
autêntica, provém de tribunal competente, respeito pelos princípios processuais e
não ofensa dos princípios de ordem pública internacional. Só assim é que a
sentença é confirmada e passa a produzir efeitos.

Caracterização do sistema atual


Tendo em conta a Lei da Liberdade Religiosa e as alterações introduzidas no Código do
Registo Civil pelo decreto-lei nº324/2007 de 28 de setembro, o sistema matrimonial do
nosso direito pode caracterizar-se assim:
➢ Para os católicos: sistema de casamento civil facultativo na segunda modalidade.
(o casamento católico não é apenas outra forma de celebração do casamento,
mas um instituto diferente, disciplinado em vários aspetos por normas diversas
das que regem o casamento civil)
➢ Para os que pertençam a igrejas e comunidades religiosas que se considerem ou
venham a considerar radicadas no pais: trata-se do casamento civil facultativo,
mas na primeira modalidade (um sistema em que o casamento religioso é apenas
uma forma de celebração do casamento o qual à parte a forma, fica sujeito em
todos os aspetos às mesmas normas porque se rege o casamento civil)
➢ Para os que pertençam a outra igreja ou comunidades religiosas não radicadas no
Pais: é um sistema de casamento civil obrigatório, pois a lei não dá qualquer
valor à respetiva cerimónia religiosa.
Quando falamos em requisitos do casamento, falamos de requisitos de fundo
(consentimento), e requisitos de forma , e depois falamos dos efeitos do casamento e da
dissolução do casamento.

Requisitos de fundo do casamento católico


➢ Consentimento: tratando-se aqui de divergências intencionais e não
intencionais entre a vontade e a declaração , vícios da vontade, casamento sob
condição ou a termo. Nestes casos é o direito canónico que se aplica. Segundo
ao art 1625º do CC e enquanto este não for revogado, os tribunais civis não
podem pronunciar-se sobre a validade ou nulidade do casamento católico, esta
matéria é reservada aos tribunais eclesiásticos que naturalmente só aplicam o
próprio direito.
➢ Capacidade: isto é, quanto aos impedimentos matrimoniais, aplicam se as duas
ordens jurídicas. É claro que o casamento católico está sujeito em primeiro lugar
ao sistema de impedimentos do direito canónico, mas também está ao sistema de
impedimentos do direito civil (art 1596º CC).

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➢ Forma: é regida pelo direito civil e pelo direito canónico.


o Formalidades preliminares: há ao mesmo tempo formalidades canónicas
e formalidades civis a cumprir.
o Celebração: não há formalidades.
o Registo: o Direito Civil e o direito canónico têm os dois intervenção. O
Código de Registo Civil regula até o modo como o pároco deve lavrar o
assento paroquial.
➢ Causas de nulidade: só o Direito eclesiástico é competente para declarar a
nulidade de um casamento. Mas é ao direito civil que pertence, uma vez
declarada a nulidade do casamento católico pelo tribunal eclesiástico, regular os
efeitos da nulidade e a eventual aplicação ao caso do instituto do casamento
putativo. (art 1647º e 1648º).

Casamento como negócio jurídico


Um negócio jurídico trata-se de uma declaração de vontade dirigida a certos efeitos,
sendo que a ordem jurídica lhe atribui efeitos jurídicos correspondentes aos fins que o
declarante ou declarantes têm em vista.
Os cônjuges devem acordar sobre a orientação da vida em comum (art 1671º nº2), além
disso não os cônjuges que escolhem de comum acordo a residência da família (art
1673º) e a forma como cada um cumpre o dever de contribuir para os encargos da vida
familiar, optando pelas várias possibilidades que o art 1676º permite.

Casamento e diversidade de sexo


Até há pouco tempo a heterossexualidade era uma característica indiscutível do
casamento, tanto do casamento civil como do casamento católico.
A heterossexualidade continua a ser um requisito de validade na maior parte das
legislações, no entanto o casamento entre pessoas do mesmo sexo é atualmente
admitido em diversos países, nomeadamente Portugal.
Quando foi acrescentada a “orientação sexual” às circunstâncias referidas no art 13 nº2
da CRP, ou seja, “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça,
língua, território de origem, religião, convicção politica ou ideológica, instrução ,
situação económica, condição social, ou orientação sexual”, a lei Constitucional
nº1/2004, de 24 de julho, levantou a dúvida sobre se a heterossexualidade teria deixado
de ser condição de validade. Concluímos que a dúvida não tinha razão de ser visto que o
acrescentamento apenas visava esclarecer que os homossexuais não podem ser
discriminados em relação aos outros cidadãos ou privados de quaisquer direitos por
motivos da sua homossexualidade.
Seria inconstitucional uma lei que vedasse ou dificultasse aos homossexuais o acesso à
função pública, à universidade entre outros… do mesmo modo no âmbito do direito da
família seria inconstitucional uma lei que não permitisse ao homossexual casar-se,
perfilhar ou declarar a maternidade ou adotar, ou que lhe recusasse só por ser
homossexual o exercício das responsabilidades parentais ou o direito a visita.

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A Assembleia da República não se sentiu limitada pelo texto Constitucional e adotou a


Lei nº9/2010 de 31 de maio, que alterou o art 1577º do CC, suprimindo as palavras “ de
sexo diferentes” e revogou a al e) do art 1628º que determina a inexistência de
casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em suma… se é verdade que o casamento católico continua a ter como característica a
homossexualidade mesmo não pode dizer-se do casamento civil.

Casamento como negócio pessoal


Negócio pessoal: dizem-se pessoais os negócios que não se destinam a constituir,
modificar, ou extinguir as relações de caracter patrimonial, mas a influir no estado das
pessoas, familiar ou de outra ordem.
O casamento trata-se de um negócio pessoal por duas razões:
1. Estes negócios são regidos em grande parte por normas imperativas.
2. Os negócios pessoais só podem ser concluídos ou celebrados pessoalmente, não
admitindo representação propriamente dita, e o mesmo acontece no casamento.

Casamento como negócio solene


O casamento é um daqueles negócios em que a vontade dos contraentes não pode
manifestar-se ou exprimir-se de qualquer modo (de acordo com o princípio da liberdade
de forme), mas só através de determinada forma determinada pela lei.
O casamento em si apresenta características particulares. Enquanto a forma exigida para
os outros negócios solenes consiste no documento escrito a que as respetivas
declarações de vontade devem ser reduzidas, a forma requerida para a validade do
casamento consiste na cerimónia da celebração do ato.

Características do casamento como estado


Unidade/exclusividade
Uma pessoa não pode estar casada ao mesmo tempo com duas ou mais pessoas.( art
1601º CC).
Perpetuidade
A doutrina tradicional falava em perpetuidade do casamento para exprimir a ideia de
que este só se dissolve quando algum dos cônjuges falecer.
Até à lei do divorcio de 1910 o casamento era mesmo perpétuo, pois o Código de
Seabra não admitia o divorcio para além da separação judicial de pessoas e de bens.
O casamento passou a ser presuntivamente perpétuo com a legislação da 1ª república,
que veio permitir o divórcio em termos muito amplos para a época.
Com a reforma de 1977 o divórcio foi, porém, facilitado. Embora condicionado à
homologação de certos acordos, por mútuo consentimento passou a poder ser pedido
diretamente, sem a medicação da separação de pessoas e bens.

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A lei nº47/98 de 10 de agosto, facilitou ainda mais o divorcio por mútuo consentimento,
permitindo que este fosse pedido “a todo o tempo”.
A lei nº61/2008, admitiu o divorcio por mútuo consentimento ainda que os cônjuges não
consigam resolver as questões enunciadas no art 1755º nº1, que eliminou a importância
da culpa que alargou os fundamentos relevantes da rutura do matrimonio.
Fará sentido falar em perpetuidade em face da legislação atual? Quanto ao direito
civil/casamento, civil fará mais sentido falar se em dissolubilidade condicionada e não
livre, no sentido em que não possam ser apostos ao casamento condições ou termo
resolutivos.

Requisitos de fundo
Consentimento
1. Consentimento pessoal (art 1619º):
O consentimento deve ser pessoal, isto é, há de ser expresso pelos próprios
nubentes, pessoalmente, no ato da celebração.
Segundo o artigo 1619º “a vontade de contrair casamento é estritamente pessoal
em relação a cada um dos nubentes.

Casamento por procuração


A lei admite o chamado casamento por procuração (art 1620º CC).
➢ Limitações de caracter formal: a procuração deve ser outorgada por documento assinado pelo
representado, com reconhecimento presencial da assinatura, por documento autenticado ou por instrumento
publico.
➢ Limitações de caracter substancial:
Só um dos nubentes pode fazer representar-se por procurador (art 1620º CC);
Tem de se tratar de uma procuração em que se confiram poderes especiais para o ato, se individualize a
pessoa do outro nubente e se indique a modalidade do casamento (art 1620 nº2 CC)
O casamento por procuração é INEXISTENTE (art 1628º d)), quando é celebrado depois de terem cessado os efeitos
da procuração, quando esta não tenha sido outorgada por quem nela figura como constituinte ou quando seja nula
por falta de concessão de poderes especiais para o ato ou de designação expressa do outro contraente.

2. Consentimento puro e simples


O consentimento deve ser puro e simples, o que quer dizer nomeadamente que
não podem/devem ser apostos ao casamento uma condição ou um termo. (art
1618 nº2) este artigo proíbe ainda que os efeitos do casamento fiquem
submetidos à preexistência de algum facto.

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3. Consentimento perfeito
O consentimento deve ser perfeito não só no sentido de devem ser concordes
uma com a outra as declarações de vontade que o integram, como também no
sentido de que em cada uma dessas declarações de vontade deve haver
concordância entre a vontade e a declaração.

Divergências entre a vontade e a declaração

o Casamento simulado
Será que o casamento será invalido como os restantes negócios jurídicos
simulados?
Simulam-se casamentos para adquirir uma nacionalidade estrageira, para
obter uma autorização de residência entre outros…, porém se embora
determinados por um desses motivos os nubentes têm a disposição de
fazer e fazem realmente vida comum, não há simulação e o casamento é
válido. Mas se apenas pretendem prosseguir o fim visado e recusam a
comunhão de vida que constitui a essência do casamento este considera-
se então simulado, visto que a declaração que prestam perante o
conservador do registo civil de que querem casar não corresponde à sua
vontade real.
- Segundo o art 1640º nº1 do CC, a anulação pode ser requerida pelos
próprios cônjuges e por quaisquer pessoas prejudicadas com o
casamento, dentro dos 3 anos subsequentes ou, o use o casamento era
ignorado do requerente nos 6 meses à dará em que dele teve
conhecimento (art 1644º).
- Os cônjuges simuladores têm legitimidade para arguir a anulação do
casamento simulado. Não podem, porém, provar por testemunhas (art
394º nº2) ou por presunções (art 351º) o acordo simulatório
- A anulação do casamento simulado como, em geral, a nulidade
proveniente de simulação e pelas mesmas razões não poderá ser oposta a
terceiros que acreditaram, de boa-fé na validade do casamento (art 243º).

o Erro na declaração
As hipóteses de erro na declaração são diferentes umas das outras, e
podem distinguir-se entre os casos em que falta ao declarante a própria
vontade da ação e os casos em que lhe falta a vontade da ação como
declaração e os casos de simples desvio na vontade negocial.
- Se falta ao declarante a própria vontade da ação, ou até a vontade da
declaração, o casamento é anulável (art 1635º a))
- Quando existe um simples desvio na vontade negocial, em que o sujeito
executa voluntariamente o comportamento declarativo e tem vontade de
realizar o negócio jurídico, mas não o negócio jurídico de conteúdo
correspondente ao significado exterior da declaração. Como o casamento
é o negócio de conteúdo fixo, são aqui, todavia dificilmente concebíveis
estes casos de erro na declaração.
- Erro acerca da identidade física do outro nubente, sendo que esta
hipótese só parece verosímil nos casos de casamento por procuração e
que a lei especificamente referiu na lista dos casos em que o casamento é
anulável por falta de vontade (art 1635, b).

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- A anulação só pode ser requerida pelo cônjuge cuja vontade faltou (art
1640 nº2), dentro dos 3 anos subsequentes à celebração do casamento ou
, se este era ignorado do requerente, nos 6 meses seguintes à data em que
dele teve conhecimento (art 1644º ), mas pode ser continuada pelos seus
parentes, afins na linha reta, adotantes ou Herdeiros e o autor falecer na
pendencia da causa.
4. Consentimento livre
O consentimento deve ser livre (art 1634º)
Para que o consentimento seja verdadeiramente livre é preciso que a vontade dos
nubentes, em primeiro lugar tenha sido esclarecida, ou seja, formada com exato
conhecimento das coisas, e, em segundo lugar, se tenha sido formada com liberdade
exterior , isto é, sem a pressão de violências ou ameaças.
o Erro
O erro tal como expressa o art 1636º, deve recair sobre a pessoa com
quem se realiza o casamento e versar sobre uma qualidade essencial
dessa pessoa.
É necessário que o erro recaia sobre uma qualidade essencial da pessoa
do outro cônjuge, que seja próprio, que seja desculpável e que a
circunstância sobre a qual o erro versou tenha sido determinante da
vontade de contrair casamento, tanto subjetiva como objetivamente.
Erro próprio: isto é não há de recair sobre qualquer requisito legal de
existência de casamento. Assim, se um dos cônjuges supunha
erradamente que o outro já atingira a idade nupcial, ou que o outro era
divorciado quando ainda era casado, o erro será improprio. O casamento
será anulável, não propriamente por erro, mas sim independentemente do
erro, por falta do requisito legal a que o erro diz respeito.
Erro desculpável: o erro indesculpável ou grosseiro, em que não teria
caído uma pessoa normal perante as circunstâncias do caso, não pode ser
invocável como motivo de invalidade do casamento.
o Coação
O casamento também pode ser anulado com fundamento na coação (art
1638º).
Enquanto vicio da vontade a coação corresponde ao receio ou temor
ocasionado no declarante pela cominação de um mal, dirigido à sua
própria pessoa, honra ou fazenda ou de um terceiro.
É importante referir que o mal que se receia há de ter sido cominado
precisamente com a intenção de extorquir o consentimento do declarante
para o negócio de que se trata.
Quando o consentimento for prestado por erro ou por coação e se verifiquem as
respetivas condições de relevância, o casamento é anulável (art 1631º b)).
A ação de anulação só pode ser intentada pelo cônjuge que foi enganado ou coagido,
dentro dos 6 meses subsequentes à cessação do vicio (art 1645º), ou seja, subsequentes à
data em que o cônjuge teve conhecimento da circunstância sobre que versou o erro ou
em que cessou a coação, podem prosseguir nela os seus parentes, afins na linha reta,
herdeiros ou adotantes se o autor falecer na pendencia da causa (art 1641º).

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Capacidade
As incapacidades nupciais não são de facto, mas mesmas que lei admite para os
negócios jurídicos em geral.
O casamento pressupõe uma capacidade natural e contende com interesses eugénicos,
morais e sociais muito importantes. E a tutela destes interesses é capaz de justificar
especiais incapacidade.
Como é caso do art 1601º c), 1602º a),b), c), e d) que se tratam de incapacidades que
não têm correspondência na generalidade dos negócios jurídicos.
Esta distinção entre incapacidades diversas no casamento e nos negócios jurídicos é
ainda mais nítida quando nos referimos à legislação anterior ao Código de 1966, na qual
p.e. o casamento de um interdito por anomalia psíquica era nulo, enquanto eram
simplesmente anuláveis a venda ou o arrendamento que ele fizesse.
O casamento também organiza a lei uma previa averiguação da capacidade matrimonial
que não tem paralelo nos demais negócios jurídicos. Quanto aos outros negócios
jurídicos a lei estabelece as incapacidades e, depois, se algum incapaz conclui
determinado negócio, faculta ao interessado a respetiva ação de anulação.
Impedimento matrimonial: as circunstâncias que de qualquer modo, impedem a
celebração do casamento, as circunstâncias verificadas as quais o casamento não pode
celebrar-se, sob pena de anulabilidade do ato, ou de sanções de outra natureza. É sobre a
designação técnica dos impedimentos que se estufam tradicionalmente as incapacidades
matrimoniais.

Classificação dos impedimentos matrimoniais


Dos impedimentos matrimoniais podem fazer-se várias classificações.
A mais importante é a que a lei faz nos art 1601º, 1602º e 1604º distinguindo entre
impedimentos dirimente e simplesmente impedientes.
No caso dos impedimentos dirimentes é anulável o casamento que for contraído não
obstante a existência do impedimento (art 1631 a).
No caso dos impedimentos simplesmente impedientes, o casamento só é anulável se
aplicando outras sanções daquelas a que fazemos referência.

Distinção entre impedimentos absolutos e impedimentos relativos:


➢ Impedimentos absolutos: são verdadeiras incapacidades , filiam-se numa
qualidade (ou numa deficiência) da pessoa e impedem-na de casar seja com
quem for. (art 1601º)
➢ Impedimentos relativos: tratam-se mais propriamente de ilegitimidades que se
fundam numa relação da pessoa de que se trata com outra ou outras e só lhe
proíbem o casamento com essa ou essas pessoas. (art 1602º).

Distinção entre impedimentos dispensáveis e não dispensáveis:

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➢ Impedimentos dispensáveis: admitem dispensa, isto é uma autoridade


atendendo às circunstâncias do caso concreto autoriza o casamento.
➢ Impedimentos não dispensáveis: são aquele que não admitem dispensa.

Impedimentos dirimentes
➢ Falta de idade nupcial;
➢ Demência;
➢ Vínculo matrimonial anterior não dissolvido;
➢ Parentesco e afinidade;
➢ Relação anterior de responsabilidades parentais;
➢ Condenação por homicídio;

Falta de idade nupcial (art 1601º a))


O casamento é anulável se algum dos nubentes não tinha atingido ao concluir o
matrimonio a idade nupcial.
Noção de idade nupcial: a idade mínima que indicia suficiente maturidade física e
psíquica e que a lei exige para que se possa celebrar casamento válido.
Segundo o art 1601 a) é impedimento dirimente absoluto a idade inferior a 16 anos seja
qual for o sexo do nubente.

Legitimidade para a ação de anulação:


(art 1639º) tem legitimidade para a propor a ação ou prosseguir nela os cônjuges ou
qualquer parente deles na linha reta ou até ao 4º grau da linha colateral, bem como os
herdeiros e adotantes dos cônjuges e o Ministério Publico; o tutor do menor também
pode intentar a ação de anulação ou continua.la.

Prazos: ( art 1643º)


o Se a ação for proposta pelo menor: o menor deve propor a ação até seis
meses depois de atingir a maioridade;
o Se a ação for proposta por outras pessoas: a anulação deve ser requerida
nos 3 anos seguintes à celebração do casamento, mas nunca depois da
maioridade.

NOTA: A anulabilidade considera-se sanada se o antes de transitar em julgado a


sentença de anulação o menor confirmar o casamento perante o funcionário do registo
civil e duas testemunhas, depois de atingir a maioridade (art 1633º nº1 a)).

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Demência (art 1601º b)


Segundo o art 1601º b) a demência notória, mesmo durante intervalos lúcidos e a
interdição ou inabilitação por anomalia psíquica são impedimentos dirimentes
absolutos.
NOTA: O conceito jurídico de demência não coincide com o conceito psiquiátrico, ou
seja, demência para o direito civil é o mesmo que anomalia mental ou psíquica. Não se
trata, apenas daquela doença mental que se chama “demência” no foro psiquiátrico,
mas de qualquer anomalia que se projete no domínio da inteligência quer no da vontade,
que impeça o individuo de reger convenientemente a sua pessoa e os seus bens.

Razões:
A lei não visa, a proteção do interesse particular do próprio cônjuge psiquicamente
anormal, os interesses que se querem proteger com o impedimento da doença são os
interesses públicos. Pretende-se evitar que as doenças se transmitam para os filhos e
defender sob este aspeto a própria sociedade.
➢ Este impedimento tanto abrange a demência de direito, reconhecida em sentença
de interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, como a simples demência de
facto.
O impedimento de interdição ou inabilitação por anomalia psíquica só existe
desde a data do transito em julgado da respetiva sentença (porém a sentença
deve indicar sempre que possível a data do começo da incapacidade ) e,
portanto, o casamento que tenha sido celebrado posteriormente a essa data
poderá ser anulado, sem que o requerente tenha que fazer prova da anomalia
psíquica invocada.
No caso da demência de facto o que importa fazer prova não é apenas a
demência, mas também da data em que ela se manifestou, e só é relevante e esta
já existia à data da celebração do casamento, visto que se a demência apenas se
manifestar posteriormente à celebração do casamento não é um impedimento
nem pode fundar uma ação de anulação, sendo só aceitável uma ação de divorcio
ou então separação judicial de pessoas e bens.
O importante para a lei é que a demência seja certa, inequívoca, não duvidosa,
sendo este o sentido que tendemos a dar à notoriedade exigida no art 1601º b).

➢ A questão dos intervalos lúcidos era muito discutida na legislação anterior do


Código, porém atualmente esta questão já se encontra esclarecida, no sentido em
que a demência constitui impedimento à celebração do casamento mesmo
durante esses intervalos de lucidez

➢ Haja ou não sentença de interdição ou inabilitação, concebe a demência como


um estado permanente ou habitual, não abrangendo, portanto, os casos de
demência acidental.

Se o nubente no momento da celebração não tinha consciência do ato que


praticava o casamento é anulável por falta de vontade. (neste caso a anulação
apenas poderia ser requerida pelo cônjuge cuja vontade faltou).

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Legitimidade
A ação de anulação pode ser proposta ou continuada por qualquer dos cônjuges ou pelos
seus parentes na linha reta ou até ao 4º grau da linha colateral, herdeiros ou adotantes
dos cônjuges ou pelo Ministério Publico , assim como pelo tutor ou curador do interdito
ou inabilitado (art 1639º nº2).

Prazos (art 1633º nº1 )


o ação proposta pelo demente: seis meses depois de lhe ter sido levantada a
interdição ou inabilitação ou de a demência ter cessado.
o Ação proposta por outras pessoas: nos três anos subsequentes à celebração do
casamento, mas nunca depois do levantamento da incapacidade ou da cessação
da demência.
Nota: a lei admite a convalidação do casamento se antes de transitar em julgado a
sentença de anulação, o casamento for confirmado pelo demente perante o funcionário
do registo civil e duas testemunhas, depois de lhe ter sido levantada a interdição ou
inabilitação ou tratando-se de demência notória, depois de ter feito verificar
judicialmente o seu estado de sanidade mental (art 1633 nº1 b)).

Vínculo matrimonial anterior não dissolvido (art 1601º c)


Constitui impedimento dirimente absoluto o casamento anterior não dissolvido, católico
ou civil, ainda que o respetivo assento não tenha sido lavrado no registo do estado civil.
O objetivo deste impedimento é evitar a bigamia (casal com uma pessoa enquanto ainda
se é legitimamente casada com outro).
Quem for casado na pode, pois, contrair matrimonio sem que se ache dissolvido,
declarado nulo ou anulado o seu casamento anterior. Não importando que o assento do
casamento anterior não esteja lavrado no registo do estado civil.

Em relação à morte presumida…


A morte presumida não dissolve o casamento (art 115º).
Decorrido um ano sobre a data das últimas notícias, o cônjuge do
ausente pode, todavia, pedir o divórcio com fundamento no art 1781º
c) , e, portanto, se não usar esta faculdade o casamento manter-se-á.
Declarada a morte presumida o cônjuge do ausente pode contrair novo
casamento e dissolve-se então a o primeiro casamento com a
celebração do segundo.
Se o ausente regressar e houver notícia de que era vivo quando foram
celebradas novas núpcias considera-se o primeiro matrimonio
dissolvido por divorcio à data da declaração de morte presumida (art
116º).

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Legitimidade
A ação de anulação com fundamento em impedimento de vínculo pode ser intentada
pelos cônjuges ou por qualquer parente deles na linha reta ou até ao 4º grau da linha
colateral, pelos herdeiros e adotantes dos cônjuges e pelo Ministério Publico (art 1639º
nº1) e bem assim pelo 1º cônjuge do bígamo.

Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento (art 1643º nº1)
Nota : não pode ser instaurada a ação nem prosseguir se estiver pendente a ação de
declaração da nulidade ou anulação do 1º casamento bígamo, convalidando-se se o 2º
casamento e o 1º vier a ser declarado nulo ou anulado (art 1633 nº1 c).

Parentesco e afinidade (art 1602º)


São impedimento dirimentes relativos o parentesco na linha reta e no segundo grau da
linha colateral, assim como a afinidade na linha reta.
Aplica-se também com impedimento dirimente relativo a adoção, quer a relação entre
adotante e adotado e as relações entre os descendentes do adotado e o adotante ou entre
os ascendentes do adotante e o adotado, quer as relações entre o adotado e os outros
filhos do adotante.
Esta impedimento baseia-se no princípio da proibição do incesto.
É importante referir que estes impedimentos valem mesmo que a maternidade ou a
paternidade não se encontrem estabelecida (art 1603), sendo que a lei admite que a
respetiva prova se faça no processo de impedimento do casamento.

Legitimidade
A ação de anulabilidade pode ser intentada por qualquer um dos cônjuges ou por
quaisquer parentes deles na linha reta ou até ao 4º grau na linha colateral, pelos
herdeiros e adotantes dos conjunges ou pelo Ministério Publico (art 1639º)

Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento.

NOTA: A relação de afinidade cessa com a dissolução por divorcio, e, portanto,


deste modo cessa o impedimento.

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Relação anterior de responsabilidades parentais (art 1602º b)


É impedimento dirimente relativo a relação anterior de responsabilidades parentais. Isto
é o cônjuge de um pai ou mãe, ou unido de facto com estes que, nos termos daquela lei,
tenha assumido responsabilidades parentais relativamente ao filho desse pai ou mãe,
fica impedido de casar com esse filho.

Legitimidade
A ação de anulação pode ser intentada pelos cônjuges ou porque quaisquer parentes
deles na linha reta ou até ao 4ºgrau da linha colateral, pelos herdeiros e adotantes dos
cônjuges ou pelo Ministério Publico. (art 1639º)

Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento.

Condenação por homicídio (art 1602º d)


Trata-se de um impedimento dirimente relativo a condenação anterior de um dos
nubentes, como autor ou cúmplice por homicídio doloso, ainda que não consumado,
contra o cônjuge do outro.
Isto trata-se de uma sanção imposta ao autor ou cúmplice do homicídio, embora não
consumado, homicídio que a lei suspeita que tenha sido cometido com a intenção de
permitir o casamento do agente com o cônjuge da vítima, porém a lei só exige que o
homicídio seja doloso não requer que tenha sido praticado com a intenção especifica de
posterior casamento com o cônjuge da vítima.
É de salientar que o impedimento de condenação por homicídio só existe a partir da data
do transito em julgado do respetivo acórdão condenatório.
A condenação por homicídio negligente não constitui impedimento.

Legitimidade
A ação de anulação com fundamento em impedimento de condenação por homicídio
pode ser intentada pelos cônjuges ou por qualquer parente na linha reta ou até ao 4º grau
da linha colateral, pelos herdeiros e adotantes dos cônjuges e pelo Ministério Publico
(art 1639º).

Prazos
A ação pode ser intentada nos 3 anos subsequentes à celebração do casamento (art 1642º
nº1 b).

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Impedimentos impedientes

➢ Falta de autorização dos pais ou tutor para o casamento de menores;


➢ Prazo internupcial;
➢ Parentesco no 3º grau da linha colateral;
➢ Tutela, curatela e administração legal de bens;
➢ Vínculo de adoção restrita;
➢ Vínculo por apadrinhamento civil;
➢ Pronúncia por homicídio;
Os impedimentos impedientes são circunstâncias que apenas impedem o casamento,
mas não o tornam anulável se ele chegar a celebrar-se, isto é, são simples proibições
legais de contrair casamento sob pena de sanções distintas da anulabilidade e menos
severas do que ela.

Falta de autorização dos pais ou do tutor para o casamento de menores (art 1604º
a))
Constitui impedimento impediente a falta de autorização dos pais ou do tutor para o
casamento do nubente menor, quando não suprida pelo conservador do registo civil.
Este impedimento refere-se aos menores de 18 anos e maiores de 16 anos.
Os menores de 16 anos estão feridos de incapacidade de gozo em relação ao casamento,
constituindo a falta de idade impedimento dirimente que constitui por sua vez causa
para arguir a anulabilidade do mesmo.
A autorização para o casamento deve ser concedida pelos progenitores que exerçam as
responsabilidades parentais ou pelo tuto, antes da celebração do casamento ou no
próprio ato da celebração.

O documento deve identificar o outro nubente


e indicar a modalidade de casamento, se o
menor já tiver obtido o consentimento dos pais
ou do tutor à data da instauração do processo
preliminar de casamento, o documento
comprovativo da autorização ou do seu
suprimento é junto ao processo (art 149º nº2)

Não tendo sido prestado o consentimento dos pais ou do tutor até à celebração do
casamento nem tendo sido suprido esse consentimento pelo conservador do registo
civil, deve o conservador interpelar para o efeito as pessoas que o devem prestar, as
quais poderão conceder no próprio ato a autorização exigida, pessoalmente ou através
de procurador, o que deve ser mencionado no assento do casamento.
Pedido de suprimento: é formado em petição dirigida ao conservador do registo civil e
apresentado em qualquer conservatória. Autuada a petição com os documentos que lhe
respeitem, o conservador faz citar os pais ou o tutor para responderem no prazo de 8

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dias, e concluída a instrução, decide sobre o pedido, suprindo a autorização dos pais ou
do tutor se verificar que o menor tem suficiente maturidade física e psíquica e há razões
ponderosas que justifiquem a celebração do casamento, a decisão que é da exclusiva
competência do conservador, deve ser notificada aos interessados e dela cabe o recurso
para o juiz da comarca.

Quando o menor constitui casamento sem autorização dos pais ou do tutor ou sem o
respetivo suprimento: o menor caso isto aconteça não fica plenamente emancipado.
Continua a ser considerado menor quanto à administração dos bens que tenha levado
para o casal ou que lhe advenham por título gratuito até à maioridade, bens cuja
administração não é confiada ao outro cônjuge como seria segundo as regras gerais e
que se mantém até à maioridade sob administração dos pais, do tutor ou do
administrador legal.

Prazo internupcial (art 1605º nº1)


O prazo internupcial é outro impedimento impediente.
O impedimento do prazo internupcial obsta ao casamento daquele cujo matrimonio
anterior foi dissolvido, declarado nulo ou anulado, enquanto não decorrem sobre a
dissolução, declaração de nulidade ou anulação, cento e oitenta ou trezentos dias
conforme se trate de homem ou mulher respetivamente.
Em relação à mulher…
O maior prazo internupcial pretende evitar a turbatio sanguinis , ou seja, as dúvidas que
poderiam suscitar-se sobre a paternidade do filho nascido depois do 2º casamento.
NOTA: aquele que contrair novo casamento sem respeitar o prazo internupcial perde
todos os bens que tenha recebido por doação ou testamento do seu primeiro cônjuge (art
1650º nº1) .

Parentesco no 3º grau da linha colateral (art 1604º c))


É impedimento impediente o parentesco no terceiro grau da linha colateral, não
podendo casar, portanto, os tios com as sobrinhas nem as tias com os sobrinhos.
No entanto este impedimento é dispensável (art 1609 nº1 a)). O processo de dispensa de
impedimento pode ser instaurado em qualquer conservatória do registo civil. Na petição
dirigida ao conservador os interessados devem justificar os motivos da pretensão.
Organizado e instruído o processo, o conservador profere decisão fundamentada sobre a
concessão ou denegação dispensa, e se algum dos nubentes for menor, são ouvidos os
pais, ou o tutor, sempre que possível. A decisão do conservador é notificada aos
interessados e dela cabe recurso para o juiz da comarca.

NOTA: Se não houver dispensa e o casamento se celebrar (art 1650º nº2) comina a
sanção aplicável e o tio ou tia não poderá receber qualquer benefício por doação ou
testamento do seu consorte.

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Tutela, curatela e administração legal de bens (art 1604º d))


É impedimento impediente o vínculo de tutela curatela ou administração legal de bens
enquanto não houver decorrido um ano sobre o termo da incapacidade e não estiverem
aprovadas as respetivas contas se houver lugar a elas.
p.e. uma ex-tutor que quer casar com a sua ex-pupila (pessoa sujeita à tutela).
A sanção legal para a violação do impedimento de tutela, curatela ou administração
legal de bens é a incapacidade para o tutor, curador ou administrador e seus familiares
de receber qualquer benefício por doação ou testamento do consorte (art 1650º)

Vínculo da adoção restritiva


A adoção restritiva foi eliminada pelo art 9º da Lei nº 143/2015 de 8 de setembro.

Vínculo do apadrinhamento civil


Noção de apadrinhamento civil: O Apadrinhamento Civil é uma relação jurídica do tipo
familiar que se constitui entre uma criança ou jovem com menos de 18 anos e uma
pessoa singular ou família, a quem são atribuídas as responsabilidades parentais, e entre
quem se estabelecem vínculos afetivos
A lei nº103/2009 de 11 de setembro, criou a figura do apadrinhamento civil e
determinou que esta relação constitui impedimento impediente à celebração do
casamento entre padrinhos e afilhados.
O impedimento vigora relativamente ao casamento entre algum dos padrinhos e o
afilhado, não sendo extensível a outros familiares deles.
É claro que o impedimento é dispensável pelo conservador do registo civil, sempre que
haja motivos sérios que justifiquem a celebração do casamento ouvindo sempre que
possível, quando um dos nubentes for menor, os pais.

Nota: a desconsideração do impedimento e a celebração do casamento importam, para o


padrinho ou a madrinha, a capacidade de receber qualquer benefício por doação ou
testamento, do seu Ex -afilhado, agora cônjuge (art 1650º).

Pronuncia por homicídio (art 1604 f)-9


Para que seja considerado impedimento dirimente é necessário que o agente tenha sido
condenado por acórdão condenatório transitado em julgado.
Para que seja considerado impedimento impediente conta-se a partir da data da
pronúncia do nubente pelo respetivo crime, impedimento este que se manterá enquanto
não houver despronuncia ou absolvição por decisão passada em julgado .

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Formalidades do casamento

Processo preliminar de casamento


1. Declaração (art 135 do Código de Registo Civil)
Quem pretenda contrair casamento deve declara-lo pessoalmente ou por intermédio
de procurados numa conservatória do registo civil e requerer a instauração do
processo de casamento.
A declaração deve constar de documento com aposição do nome do funcionário do
registo civil ou de documento assinado pelos nubentes e apresentado pessoalmente
pelo correio ou por via eletrónica.
A declaração deve conter os elementos referidos nas várias alíneas do art 136º nº2. E
na sequência da declaração inicial é imediata e oficiosamente consultada a base de
dados do registo civil, sendo integrados na base de dados os documentos que se
mostrem necessários para comprovar os factos referidos nas alíneas a), b) e c) do
nº4 do art 137º.
Compete ao conservador verificar a identidade e capacidade matrimonial dos
nubentes, podendo colher informações junto de autoridades, exigir prova
testemunhal e documental complementar e convocar os nubentes ou os seus
representantes legais quando tal for necessário.

2. Despacho
Feitas todas as diligencias o conservador deve no prazo de um dia a contar a última
diligencia efetuada proferir despacho a autorizar os nubentes a celebrar o casamento
ou a mandar arquivar o processo, despacho em que devem ser identificados os
nubentes, feita referência à existência ou inexistência de impedimentos ao
casamento e apreciada a capacidade matrimonial dos nubentes (art 144 nº1 CRC).
O despacho desfavorável à celebração do casamento é notificado aos nubentes, que
dele podem recorrer nos 8 dias seguintes à data da notificação.
Há necessidade de considerar algumas hipóteses:
➢ Se os nubentes tiverem manifestado a intenção de celebrar casamento
católico ou casamento civil sob forma religiosa o conservador deve passar,
dentro de o prazo de um dia a contar da data do despacho ou daquela em que
os nubentes se tenham manifestado nesse sentido, um certificado em que
declare que os nubentes podem contrair casamento, certificado que deve
remeter, oficiosamente e sempre que possível por via eletrónica, ao pároco
competente ou ao ministro de culto indicado pelos nubentes.
➢ Pode ser necessário a dispensa de impedimentos impedientes. A concessão
da dispensa pode ser requerida em qualquer conservatória do registo civil.
Os interessados devem expor os motivos que justificam a pretensão. O

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conservador estando organizado e instruído o processo profere decisão


fundamentada sobre a concessão ou denegação da dispensa.
A decisão do conservador e notificada aos interessados e dela cabe recurso
para o juiz da comarca.
➢ Podem ser denunciados impedimentos.
A existência de impedimentos pode ser declarada por qualquer pessoa até ao
momento da celebração, sendo a declaração obrigatória para o Ministério
Publico e para os funcionários do registo civil logo que tenham
conhecimento do impedimento.
Feita a declaração ou se a existência de impedimento chegar por qualquer
forma ao conhecimento do conservador, este deve faze-lo constar do
processo de casamento, cujo andamento é suspenso até que o impedimento
cesse, seja dispensado ou julgado improcedente por decisão judicial.
Em face da declaração de impedimento, apresentada instruída, o conservador
faz citar os nubentes para no prazo de 20 dias, impugnar o impedimento sob
cominação e este se ter por confessado.
Se os nubentes não impugnarem o impedimento ou confessarem a sua
existência o conservador profere despacho a considerar o impedimento
procedente e manda arquivar o processo de casamento. Havendo
impugnação deve remeter o processo no prazo de dois dias ao juiz da
comarca, o qual profere sentença nos dois dias seguintes à conclusão do
processo. Se os documentos juntos não habilitarem o juiz a decidir, o juiz faz
baixar o processo à conservatória para ser instruído com a inquirição de
testemunhas e a produção das restantes provas oferecidas pelas partes,
terminada a instrução, o processo regressa ao juiz para decisão final, que
deve ser proferida nos dois dias seguintes.

Celebração do casamento
Se o despacho final for favorável o casamento deverá celebra-se dentro dos seis meses
seguintes.
O processo pode ser revalidado se o casamento não for celebrado nesse prazo, mediante
a junção dos documentos que tenham excedido o prazo de validade, mas a revalidação
só pode ter lugar dentro do prazo de um ano contado da data do despacho final.
O dia, hora e local da celebração são acordados entre os nubentes e o conservador.
Qualquer conservador do registo civil é competente para a celebração do casamento,
independentemente da freguesia e do concelho onde aquele deva ser celebrado.
Devem estar presentes no ato de celebração:
➢ Ambos os nubentes ou um deles e o procurador do outro;
➢ O conservador;
➢ Duas testemunhas quando a identidade de qualquer dos nubentes ou do
procurador não possa ser verificada;

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Registo
As modalidades do registo são as mencionadas nos art 50º e 51º do Código de Registo
Civil.
O registo civil dos factos a ele sujeitos é lavrado por meio de assento ou averbamento,
podendo os assentos, por sua vez ser lavrados por inscrição ou transcrição.
Há também o caso em que o registo é efetuado por menção no assento de outro ato. P.e.
a convenção antenupcial, que é registada mediante a sua menção no texto do assento de
casamento quando o auto seja lavrado ou a certidão da respetiva escritura seja
apresentada até à celebração do casamento.
Posto isto, o registo do casamento pode ser lavrado por inscrição ou por transcrição
havendo ainda o caso de se for o caso de um casamento católico celebrado entre
cônjuges já vinculados entre si por casamento civil anterior não dissolvido, que é
averbado no assento deste.

NOTA: Depois de lavrados, pelo conservador ou pelo oficial de registos, os assentos,


quaisquer que sejam, devem ser lidos na presença de todos os intervenientes e o
conservador ou o oficial de registos apõem neles o seu nome, nenhuma alteração pode
ser introduzida no texto depois da aposição do nome do conservador ou do oficial de
registo. Este modo de atuação baseia-se no princípio da inalterabilidade que não exclui,
porém, a possibilidade de o registo ser retificado.

Inscrição

Assento

Registo civil Transcrição

Averbamento

É de ressalvar que o registo é relativo a existência, nem validade nem mesmo de


eficácia do ato, estando apenas relacionado com a prova do mesmo, ou seja, o registo é
a única prova legalmente admitida do casamento, o qual enquanto não for registado não

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pode ser invocado, quer pelas pessoas a quem respeita, seus herdeiros ou representantes,
quer por terceiros (art 1669º).

Inscrição
O registo é lavrado por inscrição em suporte informático.
O assento do casamento é lavrado e lido em voz alta pelo funcionário, que nele apõe o
seu nome, logo apos a celebração do casamento.
É importante ter em conta o princípio da retroatividade, isto é, os efeitos do casamento
não se produzem só ex nunc (deste momento em diante) , desde a data do registo, mas
também ex tunc (desde então/desde o início), desde a data de celebração do ato.

Princípio da retroatividade:
Está expresso no art 1670º nº1 CC, segundo o qual efetuando o registo e ainda que este
venha a perder-se, os efeitos civis do casamento se retrotraem à data da sua celebração.
No entanto se levássemos até ao fim a lógica da retroatividade as expetativas de
terceiros que tiveram contratado com os cônjuges sobre a base quem que confiaram de o
casamento não existir estariam desprotegidas e, portanto, o art 1670º nº2 ressalva os
direitos de terceiros, compatíveis com os direitos e deveres de natureza pessoal dos
cônjuges e dos filhos que tenham sio adquiridos anteriormente ao registo.
P.e. é o caso de o registo ter sido lavrado depois da morte de um dos cônjuges a cuja
sucessão foram chamados os parentes na linha colateral.
Exceção
Esta ressalva não se aplica se, tratando-se de registo por transcrição, esta tenha sido feita
dentro dos sete dias subsequentes à celebração do casamento, o registo tem efeitos
retroativos, neste caso mesmo em relação a terceiros.

Formas especiais de casamento


➢ Casamentos urgentes
➢ Casamento civil celebrado sob forma religiosa (para as outras religiões
radicadas em Portugal)
Casamentos urgentes (art 1622ºnº1 CC)
Quando haja um receito de morte próxima de algum dos nubentes, ou iminência de
parto, o casamento pode celebrar-se independentemente de processo preliminar e sem
intervenção do funcionário do registo civil.
Formalidades
➢ Proclamação oral ou escrita feita à porta da casa onde se encontram os nubentes,
pelo funcionário do registo civil, ou na sua falta, por qualquer das pessoas
presentes, de que vai celebrar-se o casamento.

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Celebração
➢ Exige uma declaração expressa do consentimento de cada um dos nubentes
perante quatro testemunhas, duas das quais não podem ser parentes sucessíveis
dos nubentes.
Registo
➢ Deve redigir-se uma ata do casamento por documento escrito e sem
formalidades especiais, assinado por todos os intervenientes que saibam e
possam faze-lo.
➢ Organizado o processo final do conservador é proferido no prazo de 3 dias a
contar da data da última diligencia do processo.
Caso contrário, o conservador organiza oficiosamente, com base na ata, o
processo preliminar de casamento, sendo que o processo deve estar concluído no
prazo de 30 dias a contar da data do casamento.
O casamento urgente fica sujeito a homologação (reconhecer oficialmente) do
conservador, que no despacho final deve fixar expressamente todos os elementos que
devem constar de assento.
O casamento não deve ser homologado se:
➢ Não se verificarem os requisitos exigidos por lei;
➢ Não tiverem sido observadas as formalidades prescritas para a celebração do
casamento urgente;
➢ Se houver indícios sérios de serem supostos ou falsos esses requisitos ou
formalidades;
➢ Se o casamento tiver sido contraído com algum impedimento dirimente;
➢ Se o casamento tiver sido considerado como católico pelas autoridades
eclesiásticas e como tal se encontrar transcrito.
O CASAMENTO HOMOLGADO É JURIDICAMENTE INEXISTENTE.

Casamento civil sob forma religiosa


A lei da liberdade religiosa reconheceu efeitos civis aos casamentos celebrados por
forma religiosa perante ministro de culto de igreja ou comunidade religiosa radicada no
Pais, ministro de culto que deve ter a nacionalidade portuguesa, ser nacional de Estado
Membro da UE, ou não sendo nacional de Estado Membro da União Europeia, ter
autorização de residência permanente ou temporária em Portugal.

Processo
➢ A declaração de casamento deve conter a indicação do ministro de culto
credenciado para o ato. ( a qualidade do ministro de culto que presidirá à
celebração do casamento e a sua credenciação para a prática do ato devem ser
oficiosamente comprovadas pelo conservador, através de comunicação com a
igreja ou comunidade religiosa)
➢ A conservatória deve comprovar, junto do registo de pessoas coletivas religiosas,
a radicação da igreja ou comunidade religiosa no país e a competência dos
órgãos para a emissão daqueles documentos.

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➢ O conservador deve efetuar as diligências necessárias para assegurar que os


nubentes têm conhecimento no disposto nos art 1577º, 1600º, 1671º e 1672º do
CC e, dentro do prazo de um dia a contar da última diligência, proferir despacho
a autorizar os nubentes a celebrar o casamento ou mandar arquivar o processo.
o Em caso de autorizar o casamento: o conservador depois de se assegurar
que os nubentes têm conhecimento das aludidas disposições do Código
Civil passa certificado para casamento e remete-o oficiosamente ao
ministro do culto indicado pelos nubentes.
➢ É indispensável para a celebração do casamento a presença dos nubentes ou de
um deles e o procurador do outro, do ministro de culto, devidamente
credenciado e ainda duas testemunhas.
➢ O assento do casamento civil sob forma religiosa é lavrado em duplicado no
livro de registo ou arquivo eletrónico da igreja ou da comunidade religiosa, logo
após a celebração do matrimónio.
➢ O ministro de culto que tiver oficiado no casamento deve enviar no prazo de três
dias a uma conservatória do registo civil o duplicado assento a fim de ser
transcrito.
➢ O conservador a quem tenha sido remetido o duplicado do assento deve efetuar
a transcrição no prazo de um dia e comunica-la ao ministro de culto até ao termo
do dia imediato àquele em que foi feita.

Invalidade do casamento
Existem 3 graus de invalidade do casamento
➢ Inexistência
➢ Nulidade
➢ Anulabilidade
É importante fazer-se a distinção entre nulidade e inexistência.
Nulidade: o negócio não produz os efeitos a que é dirigido segundo a vontade das
partes, mas a lei reconhece a sua existência como facto jurídico, a que liga determinados
efeitos.
Inexistência: a lei não reconhece sequer a existência do negócio, que não produz efeitos
nem como negócio nem como facto jurídico.
NÃO HÁ CASAMENTOS NULOS, MAS SIM ANULÁVEIS.

Inexistência do casamento
Os casos de inexistência estão previstos no art 1628º do CC e são:
➢ Os casamentos celebrados perante quem não tinha competência funcional para o
ato.
➢ Os casamentos em que falte a declaração de vontade dos nubentes ou de um
deles.
É de notar, que não é, porém, inexistente, nem sequer anulável, o casamento celebrado
perante funcionário de facto (art 1629º). (funcionário de facto trata-se daquele que sem
ter competência funcional para o ato, exercia publicamente as correspondentes funções,

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salvo se ambos os nubentes, no momento da celebração, conheciam a falta daquela


competência).
Regime da inexistência
Quanto ao regime da inexistência basta dizer que o casamento inexistente não produz
efeitos e a inexistência do casamento pode ser invocada a todo o tempo, e por qualquer
interessado, independentemente de declaração judicial (art 1630º).

Casos de anulabilidade
Os casos de anulabilidade são exclusivamente os do art 1631º do CC.
São anuláveis:
a) Os casamentos contraídos com impedimento dirimente (falta de idade nupcial,
demência notória, interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, casamento
anterior não dissolvido, parentesco na linha reta, parentesco no 2º grau da linha
colateral, afinidade na linha reta e condenação por homicídio).
b) Casamentos celebrados com falta de vontade por parte de um ou de ambos os
nubentes (incapacidade acidental ou outra causa que determine a falta de
consciência do ato, erro acerca da identidade física do outro contraente, coação
física e simulação).
c) Os casamentos em que tenha havido vício da vontade juridicamente relevante
(erro-vicio e coação moral).
d) Os casamentos celebrados sem a presença das testemunhas exigidas por lei.

Regime da anulabilidade
A anulabilidade não é invocável para qualquer efeito, judicial ou extrajudicial, enquanto
não for reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim (art
1632º), além disso a ação de anulação só pode ser proposta por certas pessoas (art
1639º-1642º) e dentro de certos prazos (art 1643º- 1646º)
Pode dizer-se que na lei há três tipos ou regimes diferentes de anulabilidade, consoante
os interesses em vistas dos quais a anulabilidade é estatuída.
1. Há casos em que a lei prescreve a anulabilidade do casamento no interesse dos
cônjuges e as suas famílias e também no interesse publico.
São os casos em que o casamento é contraído com impedimento dirimente. O
círculo das pessoas que podem propor a ação de anulação é aqui muito amplo.
o Casos em que o motivo da anulabilidade é temporário, aqui admite a lei
que a anulabilidade seja sanada e marca um curto prazo, em princípio
para a propositura da ação, ou não permite que a anulação seja requerida
depois do motivo da anulabilidade ter cessado.
Casos de demência notória, interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica e casamento anterior não dissolvido.
o Casos em que o motivo da anulabilidade é permanente, agora a lei não
permite que seja sanada a anulabilidade e esta pode ser arguida em prazo
muito mais longo. Inserem-se aqui os casos de o casamento ter sido

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contraído com os impedimentos de parentesco ou afinidade na linha reta,


parentesco no 2º grau da linha colateral e condenação por homicídio.
2. A anulabilidade pode ser estatuída só no interesse público. É o caso de o
casamento ser celebrado sem a presença das testemunhas. A ação de anulação só
pode ser proposta neste caso pelo Ministério Publico.
3. Há casos em que a anulabilidade é estatuída no interesse particular de um dos
cônjuges, e só esse cônjuge pode requerer a anulação. É o que se passa nos casos
de incapacidade acidental ou outra causa que determine a falta de consciência no
ato, erro sobre a identidade física do outro cônjuge, coação física, erro-vicio e
coação moral. A ação só pode ser pedida pelo cônjuge enganado, coato ou cuja
vontade faltou e dentro de prazo muito curto, valendo, pois, aqui um regime de
anulabilidade idêntico ao que vale quanto aos negócios jurídicos em geral.

Casamento putativo (art 1647º e 1648º)

Noção
Declarado nulo ou anulado o casamento, os efeitos que este produziu até à data da
declaração de nulidade ou da anulação podem manter-se quando certos pressupostos se
verifiquem. É o que se chama casamento putativo.
A lei atribui, pelo casamento putativo, eficácia a uma materialidade tornando-a
produtora de consequências jurídicas, é forçoso dar a esse instituto foros de inteira
autonomia. O casamento putativo é o facto material que se revela pela aparência dum
casamento, e a que lei atribui efeitos análogos aos desse ato segundo Pires de Lima.

Pressupostos
➢ É necessária a existência do casamento. ( se o casamento é inexistente, por se
verificar alguma das situações previstas no art 1628º, não tem efeitos putativos).
➢ É preciso que o casamento tenha sido declarado nulo ou anulado (art 1647º nº1 e
3): a invalidade do casamento não opera ipsu iure (art 1632º) e, enquanto não for
reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim o
casamento produz todos os seus efeitos.
➢ A boa- fé dos cônjuges ou pelo menos de algum deles, mas não pode colocar-se
no mesmo plano dos anteriores. A boa-fé dos cônjuges ou de algum deles é
necessária para que o casamento produza efeitos em relação aos cônjuges ou os
efeitos favoráveis ao cônjuge de boa fé, e reflexamente produza afeitos em
relação a terceiros. A eficácia putativa em relação dos filhos não depende, porém
da boa fé dos cônjuges, como resulta o art 1827º essa eficácia produz-se ainda
que ambos tenham contraído o casamento de boa-fé.
A boa fé dos cônjuges consiste na ignorância desculpável do vicio causador da
nulidade ou anulabilidade (art 1648º nº 1). A boa fé dos cônjuges deve existir no
momento da celebração do casamento e só nele.

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Efeitos
Quanto aos efeitos do casamento, este mantém-se para o futuro, até à data do transito
em julgado da sentença de anulação do casamento civil (art 1647º nº1) ou até ao
averbamento da sentença do tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento
católico (art 1647º nº3), os efeitos do casamento já produzidos, mas não se produzem
novos efeitos.
Deste modo a declaração de nulidade e anulação só operam ex nunc.

Efeitos em relação aos cônjuges


➢ Se ambos os cônjuges estavam de boa-fé: o casamento produz todos os efeitos
entre eles até à data da declaração de nulidade ou da anulação (art 1647º nº1).
P.e. se A, casado com B, faleceu, sendo B herdeiro de A, e depois o casamento
entre A e B é declarado nulo ou anulado, o efeito sucessório já produzido
mantém-se.
➢ Se só um estava de boa-fé: o casamento inválido produz os efeitos que forem
favoráveis ao cônjuge de boa fé (art 1647º nº2).
P.e. se A casado com B, faleceu, e B foi herdeiro de A, o efeito sucessório
mantém-se se B era o cônjuge de boa-fé, a convenção antinupcial terá efeitos se
o regime estipulado beneficiar o cônjuge de boa-fé (art 1716º).
➢ Se ambos os cônjuges estavam de má fé: o casamento não tem eficácia putativa
em relação a eles.

Efeitos em relação aos filhos


Quando estamos a falar de efeitos do casamento putativo em relação aos filhos não há
aqui que distinguir entre boa e má fé. Mesmo que estes tenham contraído o casamento
de má-fé, a presunção pater is est (pai é aquele que o casamento indica) aplica-se aos
filhos nascidos do casamento nos termos do art 1827º.

Efeitos em relação a terceiros


O instituto do casamento putativo visa também a proteger terceiros pelo que a eficácia
putativa deve estender-se igualmente a estes.
➢ Ambos os cônjuges estavam de boa-fé: o casamento invalido produz todos os
seus efeitos, também em relação a terceiros, até ao transito em jugado da
sentença de anulação do casamento civil ou ao averbamento da decisão do
tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento.
➢ Só um dos cônjuges estava de boa-fé:
o Tratando-se de relações que estabelecendo-se entre os próprios cônjuges,
vão afetar terceiros nos seus interesses (alienação de imoveis feita por
um dos cônjuges sem o consentimento do outro), os respetivos efeitos de
mero reflexo, relativamente a terceiros, das relações havidas entre os
cônjuges, reproduzem-se ou não conforme forem favoráveis ou
desfavoráveis ao cônjuge de boa-fé.

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o Tratando-se de relações que se estabelecem diretamente entre cada um


dos cônjuges e terceiros, mas que estejam dependentes do estado pessoal
de casado (relação de afinidade) a solução já é diferente.
Não se estabelecendo agora relação entre os próprios cônjuges, não se
justificaria que fosse aqui decisiva a distinção entre cônjuge de boa-fé e
cônjuge de má fé, só se produzindo efeitos favoráveis àquele. O terceiro
não merece mais ou menos proteção porque esteja má fé ou de boa-fé o
cônjuge com quem contratou.
➢ Se ambos os cônjuges estavam de má fé o casamento não produz efeitos em
relação a eles, e, por conseguinte, também não os produz em relação a terceiro.

Efeitos do casamento
Princípios fundamentais
O art 1671º enuncia os dois princípios fundamentais por que se rege a matéria dos
efeitos pessoais do casamento:
➢ Princípio da igualdade dos cônjuges;
➢ Princípio da direção conjunta da família;

Princípio da igualdade dos cônjuges


Este princípio trata-se de um dos princípios constitucionais do direito da família.
Dispondo que os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e
política e à manutenção da educação dos filhos. (art 36º nº3 da CRP).
O art 36º nº3 é mero corolário do princípio geral do art 13 nº2, que proíbe qualquer
discriminação em razão do sexo.
Princípio da direção conjunta da família
Este princípio encontra-se no art 1671 nº2 e diz se que é i, corolário da igualdade dos
cônjuges enunciado no nº anterior. Se os cônjuges são iguais, a direção da família deve
pertencer aos dois e não exclusivamente a um deles.
➢ Este preceito é um preceito imperativo. A direção da família cabe a ambos os
cônjuges, pelo que seria nulo o contrato em que estes acordassem em que essa
direção ficasse a pertencer a um deles, ou até, em que essa decisão ficasse a
pertencer a um deles, ou até em que a decisão de todos os atos da vida conjugal
comum caberia a um dos cônjuges, o qual, porém teria de ouvir o outro
relativamente a certos atos.
➢ A lei impõe aos cônjuges o dever de acordar sobre a orientação da vida em
comum tendo em conta o bem da família e os interesses de um e de outro. Claro
que os cônjuges podem não chegar a acordo sobre certo ato ou assunto da vida
conjugal comum, mas devem ter disponibilidade para procurarem um acordo.
➢ Devemos considerar o objeto do acordo. O acordo entre ambos os cônjuges deve
versar sobre:
o Orientação da vida em comum;
o Planeamento familiar;
o Repartição de funções ou tarefas;

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o Residência da família.
Nota: fica de fora a vida pessoal, vida privada do marido e da mulher.

Deveres dos cônjuges (art 1672º)


Os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade,
coabitação, cooperação e assistência. Tratam-se de deveres recíprocos, como exige o
princípio da igualdade dos cônjuges. Não há atualmente deveres próprios do marido ou
da mulher.
A violação dos deveres enunciados não é causa de divorcio. Na verdade, a violação
daqueles deveres não vale por si mesma ela dilui-se na rotura do matrimónio e que
eventualmente provocar.
➢ Dever de respeito
O dever de respeito que o art 1672º, enuncia em primeiro lugar, foi introduzido
no Código Civil pela Reforma de 1977. Trata-se naturalmente de um dever
residual.
O dever de respeito é um dever ao mesmo tempo negativo e positivo.
o Dever negativo: é em primeiro lugar , o dever que incumbe a cada um
dos cônjuges de não ofender a integridade física ou moral do outro,
compreendendo-se na “integridade moral” todos os bens ou valores da
personalidade cuja violação ainda constituía “injuria” em face da honra,
a consideração social, o amor próprio a sensibilidade e ainda a
suscetibilidade pessoal.
Infringe o dever de respeito o cônjuge que maltrata ou injuria o outro, o
cônjuge que reiteradamente, ridiculariza a religião que o outro pratica ou
a formação política de que ele é fervoroso militante, o cônjuge que sem o
consentimento do outro, induz no lar conjugal filho concebido fora do
matrimónio entre outros exemplos.
o Dever positivo: não se trata de dever de cada um dos cônjuges amar o
outro, pois a lei não impõe nem pode impor sentimento. Mas o cônjuge
que não fala ao outro, que não mantém com o outro qualquer comunhão
espiritual, não respeita a personalidade do outro cônjuge e infringe o
correspondente dever.

➢ Dever de fidelidade
O dever de fidelidade obriga cada um dos cônjuges, em primeiro lugar, a não ter
relações sexuais consumadas com outra pessoa que não seja o seu cônjuge.
Quando falamos em relações sexuais consumadas abrangemos a copula e ainda
o coito anal e oral.
Não é só a relações consumadas que constituem violação do dever de fidelidade,
uma tentativa de adultério constitui uma violação do mesmo dever.
São ainda violações do dever de fidelidade a conduta licenciosa ou desagrada de
um dos cônjuges nas suas relações com terceiro, a ligação sentimental e a
correspondência amorosa que mantém com ele etc…

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➢ Dever de coabitação
A palavra “coabitar” tem um sentido próprio e mais amplo no direito
matrimonial.
“Coabitar” não quer dizer apenas habitar em conjunto na mesma casa, mas viver
em comunhão de leito, mesa e habitação tori, mensae et habitationis.
o Comunhão de leito
O casamento obriga os cônjuges ao chamado “débito conjugal”. Isto é, o
casamento obriga a uma limitação licita do direito à liberdade sexual, no
duplo sentido de que a pessoa casada fica obrigada a ter relações sexuais
com o seu cônjuge e a não ter essas relações com terceiros.
A recusa de consumar o casamento ou de manter relações sexuais com o
outro cônjuge constitui violação do dever de coabitação.
o Comunhão de mesa
A comunhão de mesa, a vida em economia comum é o segundo aspeto
em que se analisa o dever de coabitação.
o Comunhão de habitação
De acordo com o princípio da igualdade dos cônjuges, são estes que
devem escolher de comum acordo a residência familiar, ou seja, a terra e
o local onde vão viver, nos termos da lei , devem os cônjuges atender
nomeadamente às exigências da sua vida profissional, ao interesse dos
filhos e à salvaguarda da unidade familiar.
A residência da família é o lugar do cumprimento do dever de
coabitação, falando linguagem do direito das obrigações, escolhida a
residência da família, ambos os cônjuges têm a obrigação de viver aí,
salvo motivos ponderosos em contrário.

➢ Dever de cooperação
O art 1672º menciona o dever de cooperação, que importa para os cônjuges.
o Obrigação de socorro e de auxílio mútuo: a primeira obriga os cônjuges
nas horas boas e a nas horas más, na felicidade como na provação.
o Obrigação de assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes à
vida da família que fundaram (art 1674): obriga os cônjuges a assumirem
em conjunto as responsabilidades inerentes à vida da família.
➢ Dever de assistência
O dever de assistência compreende a obrigação de prestação de alimentos e a de
contribuição para os encargos da vida familiar.
o Dever de prestação de alimentos
O dever de alimentos no caso de separação de pessoas e bens está regulado
no art 2016º
A quem incumbe a obrigação de alimentos?
Segundo o art 1675º, esta obrigação assente no apuramento do cônjuge
culpado ou principal culpado na separação, fazendo assim resistir no direito
português a relevância da culpa.
Qual o objeto da obrigação de alimentos?
Segundo o art 2004º segundo o qual o montante dos alimentos depende das
necessidades de quem os pede e das possibilidades de quem os presta.
o Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar

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Como dispõe o art 1676º, o dever de contribuição para os encargos da vida


familiar incumbe a ambos os cônjuges nos mesmos termos e pode ser
cumprido por qualquer deles de duas formas: pela afetação dos seus recursos
àqueles encargos e através do trabalho despendido no lar ou na manutenção e
educação dos filhos.
O acordo sobre a repartição de funções ou tarefas é um dos mais importantes
acordos sobre a orientação da vida em comum a que os cônjuges estão
obrigados.
O art 1676º foi introduzido pela Reforma de 1977 e tem importante
significado, no entanto não podemos dizer que tem uma grande importância
prática, pois mal se imagina que os cônjuges contabilizem as contribuições
de casa um para os encargos da vida familiar. Porém o legislador pretendeu
afirmar deste modo que o trabalho prestado por um dos cônjuges no governo
da casa, na educação dos filhos tem valor económico, como o trabalho
profissional. P.e. imaginemos que os encargos da vida familiar são de 2500
euros mensais e a mulher é “dona de casa”, estimando-se em 500 euros
mensais o valor do seu trabalho. A contribuição do marido para as despesas
da casa deve ser de 1250 euros e a da mulher apenas de 750 pois já
contribuiu para os encargos da vida familiar com o trabalho que presta como
dona de casa.
- Se estiverem casados em regime de comunhão de adquiridos: a
contribuição excessiva de um dos cônjuges não diminui o património próprio
do cônjuge que a faz. Nestes casos as contribuições são sempre feitas com os
rendimentos e proventos (bens comuns do casal) e no fundo estarão sempre
os dois, tecnicamente a contribuir com valores comuns.
-Se estiverem casados em regime de separação de bens: tudo que um dos
cônjuges gastar em excesso redunda em prejuízo ilegítimo para si próprio,
sem correção natural na partilha.
Casos de excesso manifesto de uma contribuição
Segundo o art 1676º nº2 haverá excesso manifesto quando um cônjuge
renunciou de forma excessiva à satisfação dos seus interesses em favor da
vida comum.
Haverá um crédito de compensação quando um cônjuge excedeu
manifestamente o seu investimento na vida em comum, designadamente à
sua vida profissional, quando um cônjuge desinvestiu na sua vida pessoal em
favor do casamento mais do que seria exigível.
Casos de um dos cônjuges contribuir com menos do que devia
O outro cônjuge pode exigir ao faltoso o que for devido, e se este é
trabalhador por conta de outrem e contribui para os encargos da vida do lar
com o produto do seu trabalho, aquele que pode exigir que lhe seja
diretamente entregue a importância a que tenha direito.

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Nome
Os efeitos do casamento quanto ao nome patronímico, ou seja, aos apelidos dos
cônjuges estão regulados nos art 1677º a 1677º-C, os quais se encontram em
conformidade com o princípio da igualdade.
A regra fundamental é a do art 1677º segundo a qual cada um dos cônjuges conserva os
seus próprios apelidos, mas pode acrescentar-lhes apelidos do outro, até ao máximo de
dois.
É de ressalvar que nenhum dos cônjuges tem a obrigação de juntar apelidos do outro
cônjuge aos seus, podendo, inclusivamente, renunciar em qualquer momento aos
apelidos adotados.
A pretensão para adotar o apelido do outro cônjuge deve ser formulada em requerimento
dirigido ao funcionário da conservatória detentora do assento de nascimento do cônjuge,
ao qual é averbada a alteração dos apelidos.

Separação de pessoas e bens (art 1794º a 1795ºD)


A separação de pessoas e bens não afeta simplesmente os bens, mas as próprias pessoas
dos cônjuges.
Separados de pessoas e bens os cônjuges continuam, não obstante a ser casados. Posto
isto, se são casados não podem nenhum deles contrair casamento sob pena de bigamia.
Para além disso independentemente da separação de pessoas e bens subsistem, no plano
das pessoas, o dever de fidelidade conjugal e ainda os deveres de cooperação e respeito
(art 1795º -A).
Na legislação atual a separação de pessoas e bens é a antecâmara do divorcia, em que
pode ser convertida a requerimento de ambos os cônjuges ou de um deles.
Podemos ter duas modalidades de separação de pessoas e bens: a separação de pessoas e
bens sem consentimento de um dos cônjuges e a separação de pessoas e bens por mútuo
consentimento.
➢ Separação de pessoas e bens sem consentimento se um dos cônjuges:
Este tipo de separação supõe um litígio, ou seja, é pedida por um dos cônjuges
contra o outro e funda-se numa determinada causa.
➢ Separação de pessoas e bens por mútuo consentimento
Este tipo de separação não implica litígio algum, sendo requerida pelos dois
cônjuges em comum e sem indicação da causa porque é pedida. Esta separação
pode ser judicial ou administrativa, conforme é decretada pelo tribunal ou pela
conservatória do registo civil, exceto no caso de acordo obtido no âmbito do
processo de separação litigiosa e quando os cônjuges não conseguirem formar
algum dos acordos exigidos pelo art 1775º nº1 ou atingiram um acordo que não
mereceu homologação,
Separação de pessoas e bens e o divórcio
A separação de pessoas e bens e o divorcio são os dois remédios que as leis oferecem
para as crises da vida conjugal que, pela sua gravidade, justificam a extinção da relação
matrimonial ou a sua modificação no sentido de um relaxamento do vínculo.

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Separação por mútuo consentimento


No que se refere aos requisitos como ao processo de separação por mútuo
consentimento, o regime aplicável a esta modalidade de separação administrativa ou
judicial é o mesmo do divórcio por mútuo consentimento.

Separação sem consentimento de um dos cônjuges


Também aqui, as causas da separação sem consentimento de um dos cônjuges são as
mesmas do divórcio sem consentimento de um dos cônjuges. Aplicando a remissão do
art 1794º os princípios expressos no art 1781º.
É de notar que apenas estes princípios devem aplicar-se ao divórcio e à separação nos
mesmos termos. Tendência para rejeitar seria a de, vendo na separação um diminutivo
do divórcio, o juiz ser mais indulgente quando de separação se trate, contentando-se
aqui com motivos menos importantes.
O art 1795º é de extrema importância nesta matéria visto que tutela o interesse
particular de cada cônjuge que pode querer pedir o divórcio ou antes a separação
judicial de pessoas e bens. No entanto esta tutela não pode chegar ao ponto de,
procedendo os dois pedidos, um dos cônjuges ficar divorciado e o outro simplesmente
ficar separado de pessoas e bens.

Efeitos da separação
Ora, em primeiro lugar, não pode esquecer-se que a separação se destina a solucionar
uma crise de vida matrimonial e que, portanto, é preciso que o vínculo conjugal se
relaxe o suficiente para que a crise matrimonial seja resolvida através da separação. Mas
em segundo lugar não pode esquecer-se que a separação não é o divórcio e, portanto,
não pode autorizar os cônjuges a exercer antecipadamente direitos dependentes da
dissolução do matrimónio.
Portanto, se o vínculo conjugal se mantém e os cônjuges mantêm esse estado (art 1795º-
A), hão de manter-se todos os efeitos do casamento que lhe são absolutamente
essenciais, de tal forma que o casamento não possa conceber-se sem eles. P.e. os
cônjuges separados não podem contrair um novo e válido matrimónio, sob pena de
bigamia.
Efeitos pessoais/plano das pessoas
Mantém -se…
➢ Dever de fidelidade conjugal (art 1795º-A e 1795ºd) nº3): trata-se de um dos
deveres essenciais do matrimónio, uma vez que um casamento em que os
cônjuges não estivessem obrigados a guardar fidelidade conjugal e o adultério
fosse, portanto, lícito, seria algo que não poderia conceber-se.
➢ Dever de respeito e cooperação: este dever também se mantém embora o seu
conteúdo se altere em consequência da separação. No que toca ao dever de
respeito, mantém-se o lado negativo, portanto, cada um dos cônjuges continua
obrigado, designadamente, a não ofender a integridade física ou moral do outro,

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porém não será exigível a cada um dos cônjuges, depois da separação o interesse
pela pessoa e pela vida do outro a que se reconduz o lado positivo do dever de
respeito.
➢ Dever de alimentos
Cessa
➢ Dever de coabitação (art 1795º-A)
➢ Dever de assistência (na parte de contribuir para os encargos da vida familiar)

ATENÇÃO: O CASAMENTO NÃO SE DISSOLVE, PORTANTO CADA UM DOS


CONJUGES CONSERVA, MESMO DEPOIS DA SEPRAÇÃO OS APELIDOS DO
OUTRO QUE PORVENTURA TENHA ADOTADO.

Efeitos patrimoniais/ Plano dos bens


No plano dos bens o casamento, teoricamente é compatível com a mais absoluta
separação de bens entre os cônjuges. Com a separação, pode dizer-se que termina o
regime matrimonial em vigor, qualquer que ele seja, e deixa de haver propriamente um
“regime de bens do casamento”. Como dispõe o art 1795ºA “relativamente aos bens, a
separação produz os efeitos que produziria a dissolução do casamento”.

Reconciliação dos cônjuges separados de pessoas e bens art 1795º-D


A lei encoraja e protege a reconciliação dos cônjuges separados.
O art 1795ºC refere-se à reconciliação.
Nos termos deste preceito os cônjuges podem a todo o tempo restabelecer a vida em
comum e o exercício pleno dos direitos e deveres conjugais.
O procedimento de reconciliação é de competência exclusiva dos conservadores do
registo civil. E os cônjuges que pretendam reconciliar-se devem formular o pedido,
devidamente fundamentado, em requerimento entregue em qualquer conservatória. A
reconciliação que pode ser requerida a todo o tempo, efetua-se por acordo dos cônjuges,
que o conservador deve homologar se verificar que estão preenchidos os pressupostos
legais, para o que pode determinar a prática de atos e a produção de prova.
A decisão que homologue a reconciliação deve ser oficiosamente registada por
averbamento aos assentos do nascimento e ao assento de casamento, sendo que os
efeitos da reconciliação só se produzem a partir da homologação ou, em relação a
terceiros, a partir do registo.

Então e o regime de bens que fica em vigor entre os cônjuges depois da reconciliação?
O que se entende e que a reconciliação dos cônjuges repõe em vigor o mesmo regime
de bens que vigorava antes da separação. Mas não deverá permitir-se aos cônjuges
escolher livremente o regime de bens do casamento.

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Conversão da separação em divórcio art 1795º-D


Se no prazo de um ano a contar do trânsito em julgado da sentença ou da decisão do
conservador que decretou a separação dos cônjuges não se reconciliarem, pode qualquer
um deles pedir que a separação, litigiosa ou por mútuo consentimento, seja convertida
em divórcio. E se a conversão for requerida por ambos os cônjuges nem é necessário o
decurso daquele prazo.
Quanto ao processo da conversão há que distinguir conforme a separação de pessoas e
bens for sem consentimento de um dos cônjuges ou por mútuo consentimento e, neste
caso conforme a separação for decretada pelo tribunal ou decidida na conservatória do
registo civil.
➢ Separação sem o consentimento de um dos cônjuges
O requerimento de conversão é autuado por apenso ao processo de separação.
o Conversão requerida por ambos os cônjuges: é logo proferida a sentença;
o Conversão requerida por apenas um dos cônjuges: o outro cônjuge é
notificado para no prazo de 15 dias deduzir oposição, a qual só pode
fundamentar.se em reconciliação acordada, não sendo deduzida oposição
é proferida sentença.
➢ Separação por mútuo consentimento
o Decretada em tribunal: segue os termos do art 993º do Código de
Procedimento Civil.
o Decidida na conservatória do registo civil: aplica-se o procedimento
tendente à formação de acordo das partes.

Divórcio
Noção: já vimos que o divórcio e a separação e bens são os dois remédios que o nosso
direito oferece para as situações de crise matrimonial que, pela sua gravidade, justificam
uma modificação do regime normal do casamento. Na separação esta modificação
traduz-se em um relaxamento ou afrouxamento da relação matrimonial, no divórcio
consiste em uma inteira rutura da mesma relação da qual os cônjuges ficam
desvinculados. Entende-se por divórcio justamente a dissolução do casamento decretada
pelo tribunal ou pelo conservador do registo civil, a requerimento de um dos cônjuges
ou dos dois, nos termos autorizados por lei.

Modalidades de divórcio
O divórcio pode revestir duas modalidades:
➢ Sem consentimento de um dos cônjuges: é pedido por um dos cônjuges contra o
outro e com fundamento em determinada causa;
➢ Por mútuo consentimento : é pedido por ambos os cônjuges por comum acordo e
sem indicação da causa porque é pedido.
o Judicial: quando é decidido em tribunal.
o Administrativo: quando é decidido em conservatória do registo civil.
Para além do caso já conhecido de os cônjuges, em processo de divórcio sem
consentimento de um cônjuge, acordarem em se divorciar por mutuo consentimento, os
tribunais também são agora competentes quando os cônjuges estiverem de acordo

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acerca do divórcio, mas não conseguirem fazer acordo sobre algum dos temas previstos
no art 1755º, ou quando o acordo apresentado não for considerado razoável e não poder
ser homologado, o processo é apresentado no tribunal ou é enviado para o tribunal
respetivamente. O juiz decretará o divórcio por mútuo consentimento, depois de ter
determinado as consequências do divórcio que os cônjuges não conseguiram
combinar/acordar entre eles.

Características do direito ao divórcio


O direito ao divórcio é um direto potestativo, pois não se traduz no poder de exigir
qualquer prestação ou comportamento de outrem, mas no poder de produzir
determinado efeito jurídico, a dissolução do vínculo matrimonial.
Trata-se de um direito pessoal, que a lei atribui exclusivamente aos cônjuges ou a um
deles, uma ideia que tem no regime do instituto manifestações muito importantes. Uma
primeira manifestação do caracter pessoal do direito ao divórcio é a sua
intransmissibilidade, quer inter vivos quer mortis causa. Neste segundo aspeto, o da
intransmissibilidade por morte, há, porém, que ter em conta a doutrina do art 1785º nº3.
Se os herdeiros do cônjuge titular do direito ao divórcio não podem intentar a ação e
esta não pode ser proposta contra os herdeiros do cônjuge falecido o art 1785º nº3,
permite, porém que a ação seja continuada pelos herdeiros do autor ou contra os
herdeiros do réu para efeitos patrimoniais.
O direito ao divórcio é um direito irrenunciável. Irrenunciável porque a lei quer que o
cônjuge a quem pertença esse direito tenha, sempre, a faculdade de decidir, com inteira
liberdade e em face das circunstâncias atuais, sobre a oportunidade do divorcio, a lei
quer defender os cônjuges contra a sua precipitação que poderia leva-los a renunciar ou
a exercer livremente o seu direito ao divorcio.

Divórcio por mútuo consentimento


O divórcio por mútuo consentimento não é pedido por um dos cônjuges contra o outro,
mas pelos dois, de comum acordo e, os cônjuges não têm de revelar a causa ou as
causas porque pretendem o divorcio. É esta modalidade de divórcio que lei regula nos
art 1775º -1778ºA e, nos seus aspetos processuais, quanto ao divorcio judicial nos art
931º e 932º Código de processo civil e, quanto ao divorcio administrativo nos art 271-
274º Código de registo Civil.
O divórcio por mútuo consentimento mais que um divorcio sem causa é um divorcio
sem causa revelada, uma vez que lei permite que os cônjuges mantenham em secreta a
causa pela qual decidiram separar-se.

Pressupostos do divorcio por mútuo consentimento


De acordo com Lei nº61/2008, o acordo dos cônjuges para a dissolução do casamento é
o único pressuposto que subsiste para o divórcio por mútuo consentimento. A
celebração de acordos complementares sobre alimentos, responsabilidades parentais e
sobre o destino da casa de morada da família deixou de ser um verdadeiro pressuposto
do divórcio.

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É certo que a necessidade de os cônjuges deixarem resolvidos aqueles assuntos


principais continuou presente na lei nº61/2008. A diferença que se introduziu está
apenas no valor dos acordos: enquanto no regime anterior a falta de algum dos acordos
ou a não homologação de algum deles conduzia necessariamente ao indeferimento do
pedido de divórcio, na lei nº61/2008 estas circunstâncias justificam somente que o
processo corra no tribunal, para que seja o juiz a definir o regime que os cônjuges não
conseguiram estabelecer entre si. Desde modo salva-se o acordo principal que diz
respeito à própria dissolução do casamento, ou seja, o casamento acabará por ser
dissolvido por mútuo consentimento, embora corra no tribunal e algum daqueles
assuntos importantes seja regulado por decisão do juiz. O acordo sobre os temas
mencionados deixou de poder considerar-se um pressuposto do divorcio, pressuposto é
o acordo sobre o próprio divorcio.

Divórcio administrativo
O processo de divórcio só é judicial nos casos em que os cônjuges não apresentam
algum dos acordos a que se refere o art 1775º nº1 do CC.
O processo pode ser instaurado em qualquer conservatória do registo civil mediante
requerimento assinado pelos cônjuges ou pelos seus procuradores, o pedido é instruído
com os documentos mencionados no art 272º do Código de Registo Civil e ainda com o
acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais se houver filhos menores e
esse exercício não estiver já regulado judicialmente.
Recebido o requerimento, e se não for caso de indeferimento liminar por o pedido não
vir devidamente instruído, para vermos quais são os termos ulteriores do processo temos
de distinguir duas hipóteses:
1. Não haver filhos menores/ havendo filhos menores o exercício das
responsabilidades parentas já estar judicialmente regulado:
Nesta situação o conservador deve convocar os cônjuges para uma conferencia
em que informa os cônjuges da existência de serviços de mediação familiar. Se
os cônjuges, ou algum deles, desistirem do pedido, o conservador fará consignar
em ata a desistência e homologá-la-á.
Se os cônjuges mantiverem o propósito de se divorciar deve verificar-se se estão
preenchidos os pressupostos legais do divorcio e apreciar designadamente, os
acordos sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que deles carece e o destino
da casa de morada de família, para o efeito pode determinar a prática de atos e a
produção da prova eventualmente necessária.
2. Haver filhos menores e ia ainda não estar não estar regulado o exercício das
responsabilidades parentais já estar judicialmente regulado:
Nesta hipótese o art14º nº2 do decreto-lei nº272/2001 manda acrescentar aos
documentos referidos no art 272º nº1 do Código de Registo Civil o acordo dos
cônjuges sobre o exercício das responsabilidades parentais.
No caso, antes de marcar dia para a conferencia deve o conservador enviar o
processo de divorcio ao Ministério Publico, junto da secção de competência
especializada do tribunal de comarca, para que o MP se pronuncie, no prazo de
30 dias, sobre o acordo dos cônjuges acerca do exercício das responsabilidades
parentais.
Se o MP, entender que o acordo não acautela suficientemente os interesses dos
menores e que lhe devem ser feitas determinadas alterações, o processo baixa à

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conservatória e o conservador notifica os cônjuges de que no prazo de 10 dias,


devem alterar o acordo em conformidade ou apresentar outro acordo, do qual é
dada nova vista ao Ministério Publico para que sobre ele se pronuncie,
igualmente no prazo de 30 dias.
Se o MP puser o visto no acordo inicial ou entender que o acordo já alterado nos
termos por ele indicados, ou o novo acordo, já acautela devidamente os
interesses dos menores, o conservador marca dia para a conferência em que
informa os cônjuges da existência de serviços de mediação familiar, verificando
que estão preenchidos os outros “pressupostos legais” do divórcio,
designadamente que os acordos dos requerentes sobre a prestação de alimentos e
o destino da casa de morda de família acautelam suficientemente os interesses
dos cônjuges e dos filhos, decreta o divórcio e ordena o averbamento da decisão
dos assentos de nascimento e aos assento de casamento.
Caso contrário, ou seja, se os cônjuges não alterarem o acordo nos termos
indicados pelo ministério publico e mantiverem o propósito de se divorciar o
conservador deve remeter o processo à secção de competência especializada do
tribunal da comarca a que pertença a conservatória.
Sempre que o conservador remete o processo de divorcio para o tribunal
competente, seguem se os termos previstos no art 1778º com as necessárias
adaptações.

Divórcio judicial
O divórcio por mútuo consentimento reveste caracter judicial quando, em processo de
divorcio sem consentimento de um dos cônjuges, estes acordarem em se divorciar por
mútuo consentimento, correspondendo a iniciativa do juiz nesse sentido ou por
iniciativa própria.
Este era o único caso previsto na lei anterior a 2008.
Ao divorcio litigioso convertido em divorcio por mútuo consentimento são aplicáveis
aos art 1775 a 1778-A CC e os art 994º a 999º Código de Processo Civil.
O art 931º nº3 do Código de Processo Civil dispõe que na tentativa de conciliação ou
em qualquer outra altura do processo os cônjuges podem acordar no divórcio por mútuo
consentimento “quando se verifiquem os necessários pressupostos” e o nº4 que
estabelecido esse acordo, se seguem no próprio processo os termos dos art 994º e ss
“com as necessárias adaptações”, ou seja, com as adaptações resultantes do facto de já
terem corrido alguns termos do processo de divórcio litigioso.
A lei permitiu em qualquer altura do processo a conversão do divórcio litigioso em
divorcio por mútuo consentimento, conversão que, para verdadeiramente o ser, exige
que não se inicie novo processo, o que sempre seria permitido aos cônjuges mesmo que
a lei não o dissesse, mas que se aproveitem o mais possível os atos já praticados no
âmbito do processo litigioso.
Assim se já tiver obtido o acordo dos cônjuges quanto aos alimentos e à regulação do
exercício das responsabilidades parentais, e ainda, o seu acordo quanto à utilização da
casa de morada de família no período da pendência do processo, não deve o juiz
desconsiderar os acordos estabelecidos, ainda que não possa dispensar-se de apreciar se
tal acordo acautela, suficientemente os interesses dos cônjuges e dos filhos, pois esse é
um dos pressupostos legais do divorcio por mútuo conhecimento
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Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges (divorcio litigioso)


Litigioso diz-se o divorcio pedido por um dos cônjuges contra o outro e com
fundamento em determinada causa.
O divorcio litigioso é sempre judicial.

➢ Divórcio-sanção: o divórcio pressupõe um ato ou procedimento culposo de


algum dos cônjuges em que se aplique uma sanção contra esse ato ou
procedimento. Este sistema não é hoje aceite na lei. Em primeiro lugar não se
percebia que a lei, se se tratasse só de castigar o culpado, recorresse à sanção do
divórcio. Sendo um divórcio um mal, um mal em si mesmo, para que havia a lei
de escolher esta sanção quando podia dispor de tantas outras? Por outro lado, o
cônjuge culpado pode ser precisamente o que mais deseja o divorcio. A lei que
ao facultar o divórcio quisesse castigar o culpado correria assim i risco de errar o
seu alvo dando ao culpado um prémio em vez de um castigo.
➢ Divórcio-remédio: o divórcio pressupõe apenas uma situação de crise do
matrimónio, um estado de vida conjugal intolerável, e quer ser o remédio para
um tal estado ou situação. Concebe-se agora que se julguem carecidas do
remedio do divórcio não só situações em que a crise do matrimónio provém da
culpa de algum dos cônjuges, mas também situações em que se vida conjugal se
tenha tornado intolerável por causas puramente objetivas, por caso furtuito: de
qualquer modo e mesmo no primeiro caso, o divorcio não quererá castigar o
culpado ma apenas remediar ou prover àquela situação de crise objetivamente
considerada.
➢ Divorcio- constatação de rotura do casamento: como remédio para uma
situação de crise em que a vida matrimonial se tornou intolerável, o divorcio
visará sempre libertar dessa situação um cônjuge inocente, embora não se
requeira que tal situação de crise seja imputável ao outro cônjuge a título de
culpa.
Podemos dizer que a partir de 2008 o direito português consagra um sistema de
divórcio-constatação da rotura do casamento, em que a causa do divórcio é a
própria rotura em si, independentemente das razões que a tenham determinado.

Noção e causa do divórcio e seu valor


O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges é um divórcio com causa, o que
quer dizer que um dos cônjuges só pode pedir o divórcio contra o outro desde que
alegue e prove uma circunstância que seja fundamento para o divórcio.
O critério geral a partir do qual as causas do divórcio devem ser definidas enuncia-se
facilmente. Sendo o divórcio um remédio para as situações em que a vida conjugal se
tornou impossível ou intolerável.

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Classificação das causas do divórcio


➢ Causas determinadas vs. causas indeterminadas
o Causa determinada: uma causa é determinada se a lei individualiza e
especifica com precisão o facto que pode fundamentar o pedido de
divórcio. P.e. art 1781º a),b) e c).
o Causa indeterminada: uma causa é indeterminada se esse facto não está
concretamente especificado, mas cabe numa clausula geral, a que a lei
recorreu para definir as causas do divorcio. P.e. alínea d) do art 1781º.

➢ Causa perentórias ou absolutas vs. causas facultativas ou relativas


o Causa perentória ou absoluta: o juiz apurados os factos que as integram,
tem de decretar o divorcio sem qualquer apreciação sobre a gravidade
desses factos, ou seja, sem qualquer averiguação sobre se eles
determinaram, no caso concreto, um estado de vida intolerável.
o Causa facultativa ou relativa: o juiz tem de averiguar, uma vez apurados
os factos que as integram, se eles turvaram a harmonia conjugal em
termos de passar a ser “impossível” ou “intolerável” a vida em comum.

➢ Causas subjetivas vs. causas objetivas


o Causa subjetiva: culposa
o Causa objetiva: não culposa

➢ Causa unilaterais vs. causas bilaterais


o Causa unilateral: podem ser invocadas por apenas um dos cônjuges (art
1785º nº1 e 2º)
o Causa bilateral: podem ser invocadas por ambos os cônjuges (art 1781º
a) e d).

Divórcio fundamentado em rotura da vida comum


Separação de facto
A separação de facto por um ano consecutivo é a primeira das causas de divórcio
objetivas previstas no art 1781º CC.
Esta possibilidade trata-se de uma providência análoga à conversão da separação de
pessoas e bens em divórcio, assim como a lei permite a conversão de pessoas e bens por
julgar preferível o divórcio à separação de pessoas e bens, assim permite a qualquer um
deles pedir, a conversão da separação de facto em divórcio, por achar preferível o
divórcio à separação de facto

A separação exige em primeiro lugar a separação de facto dos cônjuges, integrada por
dois elementos:
1. Elemento objetivo: divisão do habitat, a falta de vida em comum dos cônjuges,
que passam a ter residências diferentes.

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2. Elemento subjetivo: disposição interior/ propósito como diz o art 1782º da parte
de ambos ou de um deles, de não restabelecer a comunhão de vida matrimonial.
NOTA: é por causa deste elemento que não haverá separação de facto se por
exemplos os cônjuges estão separados por exemplo por causa da prisão de um
eles.
Portanto podemos concluir que, só quando não exista comunhão de vida entre os
cônjuges e haja da parte de ambos ou de um deles, o proposto de não restabelecer a
comunhão de vida, e quando aquela situação e este propósito se mantenham durante
determinado prazo (1 ANO NA NOSSA LEI), é que a esperança de reconciliação se
torna remota e o legislador deixa de acreditar nela, permitindo a qualquer um dos
cônjuges pedir o divorcio com fundamento nas alíneas a) do art 1781º.

Deve ter-se em atenção que o prazo não admite interrupção.


A separação também não tem de ser consentida, não tem de ser acordada entre os
cônjuges, nem a lei exige que o cônjuge requerido a tenha aceite ou se tenha
conformado com ela.

Alteração das facultades mentais


O art 1781º al c) refere o condicionalismo exigido para que o divórcio possa ser pedido
por um dos cônjuges com fundamento em alteração das faculdades mentais do outro.
➢ Alteração das faculdades mentais;
➢ A alteração deve ser grave e durar há mais de um ano (o que terá de ser provado
por peritos);
➢ A alteração das faculdades mentais terá de comprometer a possibilidade da voda
em comum.
Ausência sem notícias
O cônjuge do ausente pode, decorrido um ano sobre a data das últimas noticias, pedir o
divórcio com fundamento na própria ausência e passar a segundas núpcias se assim o
desejar. Se esta causa do divorcio não fosse admitida, poderia pedir o divorcio com base
em separação de facto , provando a existência do elemento subjetivo correspondente. E
se não conseguisse fazer prova teria de aguardar 10 anos sobre a data das últimas
notificas do ausente, ou cinco de este tivesse completado 80 anos de idade, para
declarada a morte presumida, poder declarar segundas núpcias.

Qualquer outro facto que mostre a rotura do casamento


A dissolução do casamento pode sempre fundar-se na rotura definitiva do matrimónio, e
de que a rotura pode ser demonstrada através da prova de quaisquer factos (alínea d).

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Processo art 931º e 932º do Cpc


A ação de divórcio deve ser proposta na secção de família e menores, onde a haja.
➢ O tribunal deve informar os cônjuges sobre a existência de serviços de mediação
familiar.
➢ Apresentada a petição inicia, em que o autor formula o pedido e indica a causa
de pedir, ou seja, o facto ou os factos essenciais e concretos que lhe servem de
fundamento, e se a petição estiver em condições de ser recebida, deve o juiz
designar dia para uma tentativa de conciliação, sendo o autor notificado e o réu
citado para nela comparecerem.
➢ Estando presentes ambos os cônjuges, o juiz deve procurar conciliá-los e, não
sendo isso possível, obter o seu acordo para o divorcio por mútuo
consentimento.
➢ Se na tentativa de conciliação o juiz não conseguir conciliar os cônjuges, mas
obtiver o seu acordo para o divorcio por mútuo consentimento, seguem-se no
próprio processo os termos dos art 994º com as necessárias adaptações. O juiz
deve advertir os cônjuges de que, caso mantenham a disposição de se
divorciarem, devem apresentar os seus projetos de acordo sobre as matérias a
que se refere o art 1775º nº2. O mesmo regime vale se, depois da tentativa de
reconciliação dos cônjuges, estes acordarem no divórcio por mútuo
consentimento, o que a lei lhes permite a qualquer altura do processo.
➢ Se na tentativa de conciliação o juiz não conseguir conciliar os cônjuges nem tão
pouco o seu acordo para o divórcio por mútuo conhecimento, deve procurar que
cheguem a acordo quanto à prestação de alimentos e ao exercício das
responsabilidades parentais relativamente aos filhos menores, e ainda quanto à
utilização prestação de alimentos e ao exercício das responsabilidades parentais,
e quanto à utilização da casa de morada da família na pendencia do processo. Se
não for possível obter acordo dos cônjuges quanto a estes pontos a ação
prossegue, e por iniciativa própria ou a requerimento de alguma das partes, pode
o juiz se o achar conveniente, fixar um regime provisório quanto aquelas três
sequelas do divorcio, para o que a lei lhe permite ordenar a previa realização das
diligencias.
➢ Prosseguindo processo de divórcio sem consentimento de um dos cônjuges os
seus termos, o juiz ordena a notificação do réu para contestar o pedido no prazo
de 30 dias. Se o réu contestar, seguem-se os termos normais do processo
comum, podendo o réu deduzir pedido reconvencional de divorcio ou separação
de pessoas e bens.

Conteúdo da sentença
A sentença que julga procedente o pedido em ação de divorcio sem consentimento
de um dos cônjuges não se limita muitas vezes a decretar o divorcio, pode ainda
decidir sobre o destino da casa da morada da família, própria ou tomada de
arrendamento, condenar um dos ex-cônjuges a prestar alimentos ao outo, autorizar o
cônjuge que adotou apelidos do outro a conservar esses apelidos entre outras.

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Efeitos do divórcio
O divórcio dissolve o casamento, ou seja, extingue a relação matrimonial e faz cessar,
para o futuro. Os efeitos da relação , mantendo-se, porém, os efeitos já produzidos.
O divorcio só opera ex nunc (deste momento em diante) e não ex tunc (desde início).
P.e. o cônjuge que ficou emancipado pelo casamento não volta a ser menor.
A partir do momento do divórcio:
➢ Extinguem-se:
o Dever de fidelidade;
o Dever de coabitação;
o Dever de cooperação;
o Dever de respeito;
o Dever de não cometer injurias indiretas;
o Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar;
Data em que se produzem os efeitos do divórcio
Os efeitos do divórcio produzem se em regra, a partir do trânsito em julgado da sentença
(art 1789º nº1 CC)
No entanto há duas exceções à regra geral:
1. Os efeitos do divórcio retrotraem-se à data da propositura da ação quanto às
relações patrimoniais entre os cônjuges. P.e. Sendo os cônjuges casados no
regime de comunhão geral e um deles recebe uma herança na pendencia de ação
de divórcio, os bens deixados não e comunicam ao outro cônjuge, graças ao
princípio da retroatividade. (art 1789º nº1, 2ªparte)
2. Se a coabitação entre os cônjuges tiver cessado antes da propositura da ação e a
falta de coabitação estiver provada no processo, pode qualquer dos cônjuges
requerer que a sentença fixe a data em que a coabitação cessou, retrotraindo-se
os efeitos patrimoniais do divorcio a essa data. (art 1789º nº2 do CC).
A prova de que a coabitação cessou em determinada data faz-se em regra quando
o pedido de divórcio sem consentimento de um do cônjuge se funda em
separação de facto dos cônjuges. P.e. suponhamos que a mulher, casada em
comunhão de adquiridos, pede o divórcio contra o marido, em ação de
reconvenção, com fundamento na alínea a) do art 1781º, o tribunal tem de apurar
neste caso se a separação de facto já dura há muito mais tempo e pedir ao
tribunal que fixe a dará em que cessou a coabitação, para que sejam
considerados próprios deles e não entrem na partilha os bens que tenha
adquirido a titulo oneroso depois da data do termo da coabitação, por se
considerar divorciada para efeitos patrimoniais, desde essa data.
Termo da comunhão (partilha) (art 1688ºCC)
Com a dissolução do casamento cessam as relações entre os cônjuges e pode proceder-
se à partilha do casal.
A partilha faz-se extrajudicialmente.
No caso de divórcio a partilha pode também fazer-se no próprio processo de divórcio ou
separação de pessoas e bens por mútuo consentimento, desde que havendo no
património bens imóveis, moveis ou participações sociais sujeitas a registo, estejam

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verificados os pressupostos, o acordo sobre a partilha é homologado pela decisão que


decreta o divórcio ou a separação.
A partilha faz-se de acordo com o regime de bens estipulado, recebendo cada um dos
cônjuges os seus bens próprios e a sua menção no património comum. No entanto se o
casamento terminar por divórcio, é necessário ter em conta a limitação prevista no art
1790º do CC.
A lei não impõe que na partilha cada cônjuge seja encabeçado nos bens que lhe
pertenciam se tivesse vigorado o regime da comunhão de adquiridos, só quer que cada
outro cônjuge que não receba na partilha mais que receberia se tivesse sido
convencionado o regime de comunhão de adquiridos.

Destino da casa de morada de família


➢ No divórcio por mútuo consentimento: os cônjuges devem acordar sobre o
destino da casa de morada de família (art 1775 nº1 d) , assim como sobre a sua
utilização na pendência do processo, caso pretendam solução diferente para este
período .
➢ No divórcio sem consentimento de um dos cônjuges: a lei não exige que o
destino da casa de morada de família seja fixado na sentença que decreta o
divórcio. Nem marca o prazo para cônjuge interessado na atribuição do direito
ao arrendamento da casa de morada de família requerer essa atribuição. (art
1793º e 1105º CC).
o Quando a casa de morada da família é bem comum do casal, pertence aos
dois cônjuges em compropriedade ou pertence da um deles (art 1793º
CC) : permite ao tribunal dar de arrendamento a qualquer dos cônjuges, a
seu pedido, a casa de morada de família própria ou do outro. Permitindo
ao tribunal expropriar sem indemnização o uso da casa ao cônjuge a
quem é imposto o arrendamento.
Nesta decisão o juiz deve considerar nomeadamente as necessidades de
cada um dos cônjuges e interesse dos filhos do casal.
o Quando os cônjuges viverem em casa tomada de arrendamento (art 1105º
CC): incidindo o arrendamento sobre casa de morada da família, o seu
destino é, em caso de divórcio ou separação judicial de pessoas e bens,
decidido por acordo dos cônjuges, podendo estes optar pela transmissão
ou pela concentração a favor de um deles e o arrendamento tiver sido
feito pelos dois cônjuges, estes podem acordar em que o arrendamento se
concentre em um deles, só esse ficando a ser o arrendatário, e se tiver
sido feito por só um dos cônjuges podem acordar em que o arrendamento
se transmita ao cônjuge não arrendatário.
Na falta de acordo cabe ao tribunal decidir, tendo em conta as
necessidades de cada um, os interesses dos filhos e outros fatores
relevantes.
Perda de direitos sucessórios (art 2133º nº3 CC)
Os direitos sucessórios do cônjuge, a sucessão legal, também cessam com o divórcio.
Como dispõe o art 2133º nº3 o cônjuge não é chamado à herança se à data da morte do
autor da sucessão se encontrar divorciado por sentença que já tenha transitado ou venha

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a transitar em julgado, ou se a sentença do divorcio vier a ser proferida posteriormente a


essa data nos termos do art 1785º nº3).
Um regime idêntico vale na sucessão testamentária, por a instituição de herdeiro e o
legado caducam se o chamado à sucessão era cônjuge do testador e à data da morte
deste se encontravam divorciados por sentença já transitada em julgado ou que venha a
ser transitada em julgado, ou ainda se posteriormente a essa data for proferida sentença
de divorcio (art 2317º d) CC).

Perda de benefícios (art 1791º CC)


Cada cônjuge perde todos os benefícios recebidos ou que haja de receber do outro
cônjuge ou de terceiro, em vista do casamento ou em consideração do estado de casado,
quer tenham sido estipulados antes do casamento quer posteriormente.

Obrigação de alimentos
A obrigação de alimentos é um prolongamento do dever de assistência conjugal.
Quem tem direito a alimentos?
Os cônjuges que pretendam divorciar-se ou os ex-cônjuges têm o direito de
convencionar acerca da prestação de uma pensão de alimentos art 2014º CC.
Mas nem sempre os cônjuges que pretendem divorciar-se, ou os Ex- cônjuges,
conseguem pôr-se de acordo acerca deste assunto. É então que tem sentido perguntar
quem tem o direito de pedir alimentos.
Depois de 2008, abandonada a relevância da culpa, qualquer dos ex-cônjuges tem
direito a alimentos e, portanto, não há um verdadeiro regime especial.
Pode , excecionalmente, o tribunal por motivos de equidade, negar alimentos. P.e. um
Ex- cônjuge que delapidou sistematicamente o património conjugal, desprezou
oportunidades de emprego, praticou todos os factos que violaram direitos fundamentais
do outro e que contribuíram ostensivamente para a rotura definitiva do casamento e,
agora, pede os alimentos que o outro cônjuge terá dificuldade em pagar.
Modo de estabelecer a obrigação de alimentos
➢ Alimentos provisórios: são alimentos que fixados liminarmente para suprir as
necessidades urgentes do alimentário durante o tramite da ação.

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Alimentos
provisórios

No caso de divórcio sem


No caso de divórcio por
consentimento de um dos
mútuo consentimento.
conjuges

Os alimentos provisórios A lei manda que os conjuges


podem ser requeridos, ou acordem sobre os alimentos
fixados pelo juiz, por sua provisórios, para que o juiz
iniciativa em qualquer homolgue o acordo (art 1776º
altura do processo. nº1 CC)

Podem ser requeridos


como proviência cautelar
especificada, depois da
sentença o divórcio.

➢ Alimentos definitivos

Alimentos definitivos

No caso de divórcio
Acordo entre os por mutuo
cônjuges consentimento

Acordo entre os
conjuges homolgado
pelo juiz

Acordo estimulado
pelo juiz, em processo
de divorcio litigioso

É importante ressalvar, que a obrigação alimentar resultará de uma decisão do tribunal,


sobre um pedido acessório do pedido de divórcio sem consentimento de um dos
cônjuges, ou em processo comum autónomo, quando a necessidade de alimentos surgiu
posteriormente à dissolução do casamento.

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Obrigação de indemnizar
No divórcio não se procura um culpado nem um principal culpado, nem um inocente,
que possa ser considerado lesado, e, portanto, o titular de um direito de indemnização
pela violação dos deveres conjugais.
O art 1792º vigente, porém prevê que possa haver lugar a responsabilidade civil nos
termos gerais. Ou seja, é verosímil que certos factos, praticados por um cônjuge
constituam ilícitos civis, violações dos direitos de personalidade do outro cônjuge,
dignos de tutela do direito.
As pretensões de indeminizações devem ser apresentadas nos tribunais próprios,
apreciadas e decididas com os critérios próprios da responsabilidade civil
extracontratual entre cidadãos.
Os ilícitos que podem fundamentar uma obrigação de indemnizar, portanto, não
resultam da mera violação de deveres especificamente conjugais, o ilícito resulta da
violação de deveres gerais de respeito, de ofensas a direitos de personalidade e a direitos
fundamentais.

Direito da filiação
Princípios fundamentais
➢ Direito de constituir família: todos têm o direito de ver reconhecidos os
vínculos de parentesco;
➢ Princípio da não discriminação entre filhos nascidos do casamento e fora
do casamento: a leis ordinária não pode dificultar o estabelecimento da
filiação fora do casamento;
➢ Princípio de proteção da adoção: a adoção é também uma forma de
estabelecimento da filiação;
➢ Princípio de proteção da família: a realização pessoal dos membros da
família impõe a constituição de vínculos de parentesco (importa aqui, por ex.,
a regulação da procriação medicamente assistida);
➢ Princípio da proteção da maternidade e paternidade: os pais são
insubstituíveis, pelo que têm legitimidade para promover, em nome dos
filhos, as diligências necessárias ao estabelecimento da filiação
➢ Princípio da proteção da infância: a lei deve assegurar o desenvolvimento
integral das crianças.

Importa referir também outros princípios constitucionais que, embora não se ocupem
diretamente das relações familiares, podem tem incidência importante na discussão
de alguns temas do direito da filiação:
➢ Direito à identidade pessoal (art. 26º CRP): este direito constitucional
comporta duas vertentes essenciais:
1. Direito a ter um nome;
2. Direito a historicidade pessoal;
➢ Direito ao desenvolvimento da personalidade (art. 26º CRP): a todos os
indivíduos é reconhecida autonomia e autodeterminação individuais,
conferindo-se especial proteção às crianças e jovens (art. 69º e 70º CRP).

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Princípios de Ordem Publica do Direito da Filiação

Princípio da verdade biológica


O sistema de filiação pretende que os vínculos biológicos tenham uma tradução
jurídica fiel, isto é, pretende que a mãe juridicamente reconhecida e o pai
juridicamente reconhecido sejam realmente os progenitores, os pais biológicos do
filho.
Como salvaguarda deste princípio, a lei prevê instrumentos jurídicos de correção, a
aplicar aos casos em que a aplicação das normas respeitantes ao estabelecimento da
filiação conduziram a um resultado falso. Permite-se, portanto, a impugnação da
paternidade e maternidade estabelecidas.
O nosso sistema jurídico reconhece tal importância a este princípio que faz
prevalecer em face de outros interesses, como o interesse concreto do filho, a paz das
famílias, a estabilidade sócia afetiva, entre outros.
Princípio da taxatividade dos meios para o estabelecimento da filiação
O princípio da taxatividade dos meios para o estabelecimento da filiação significa
que os vínculos de filiação se estabelecem apenas através dos modos previstos
imperativamente na lei, não sendo admissíveis quaisquer acordos privados. Em
termos simplistas, o que se quer afirmar é que não vale aqui o princípio da autonomia
privada.

Estabelecimento da maternidade (art 1803º do CC)


São concebíveis, no contexto do nosso espaço cultural, 2 modelos de regime para o
estabelecimento da maternidade:
➢ A maternidade é decorrência simples do puro facto biológico que é o
parto : a maternidade impõe-se à mãe, na medida em que ela não pode deixar
de assumir esse estatuto jurídico.
➢ A maternidade depende de um ato jurídico autónomo de
reconhecimento do filho: abre-se a possibilidade de, por não praticar esse ato,
a progenitora rejeitar o estatuto de mãe.

O direito português consagra o primeiro modelo referido, um modelo “biologista”:


entre nós, a maternidade resulta do facto do nascimento, tanto para os filhos das
mulheres casadas como das mulheres solteiras (art. 1796º/1 CC).
Em virtude de ser este o sistema adotado entre nós, suscitam-se avultadas
dificuldades no que diz respeito à denominada “maternidade de substituição” (e que a
gestação é levada a termo por uma mulher “hospedeira”, que se oferece para
posteriormente entregar a criança à mulher que pretende o filho, mas que, por alguma
razão não é capaz de desenvolver uma gestação). No nosso país, atualmente, não é
admissível um “contrato de gestação” válido, por meio do qual alguém se obriga a
entregar uma criança por si gerada a outrem.
Entende-se que um contrato com este conteúdo será contrário à ordem pública (art.
280º/2 CC), bem como ao princípio da taxatividade dos meios de estabelecer a
filiação. Para este entendimento concorre ainda o disposto no art. 1982º/3 CC, nos

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termos do qual a mulher que queira entregar o filho para adoção só o pode fazer 6
semanas após o parto.

Estabelecimento por indicação ou por declaração no registo civil


➢ Estabelecimento da maternidade por indicação
Refira-se, desde logo, que todos os atos que conduzam ao “reconhecimento
administrativo” da maternidade estão vedados se constar do registo civil um
registo de maternidade contraditório – o primeiro registo goza de prevalência
sobre os registos subsequentes (art. 124ºnº1 CRC).
O estabelecimento da maternidade rege-se pelos art. 1803º e ss. CC. Os casos
normais são aqueles em que a maternidade é estabelecida por ocasião da
feitura do registo de nascimento: a pessoa que fizer a declaração de
nascimento deve identificar a mãe, sendo essa identificação suficiente para
que o conservador faça menção do nome da mãe no assento de nascimento
(art. 1803º CC). Não obstante, convém referir as duas possibilidades referidas
pela lei quanto ao estabelecimento da maternidade por mera indicação:
o O nascimento ocorreu há menos de 1 ano: a maternidade considera-se
estabelecida pela simples indicação, devendo a mãe ser notificada (se
não tiver sido ela ou o marido a fazer a declaração). Art 1804º CC.
o O nascimento ocorreu há mais de 1 ano:
1. A mãe é a declarante, estava presente no ato de declaração ou é
representada por procurador com poderes especiais a maternidade
é considerada estabelecida. Art 1805º nº1 CC.
2. A mãe não é a declarante, nem estava presente no ato de
declaração: notifica-se a pretensa mãe para que ela tenha a
oportunidade de se opor (ainda que o silêncio valha como
concordância); caso a mulher indicada como mulher negar a
maternidade ou não poder ter sido notificada, não chega a
estabelecer-se a maternidade . Art. 1805º nº2 e 3 CC.

➢ Estabelecimento da maternidade por declaração


Em determinadas situações excecionais, a maternidade pode ser estabelecida num
momento posterior ao registo do nascimento. O meio técnico para desencadear o
estabelecimento da maternidade nestas situações é a declaração de maternidade, feita
pela própria mãe ,art. 1806º nº1 CC ou a identificação da mãe feita por outra pessoa –
art. 1806º nº2 CC. Também aqui o legislador entendeu ser preponderante distinguir as
hipóteses:
o Maternidade declarada pela mãe: passa a constar do registo de
nascimento a menção à mãe;
o Maternidade indicada por terceiro: também aqui importa o período
decorrido deste o nascimento:
1. O nascimento ocorreu há menos de 1 ano: passa a constar o
registo de nascimento a menção à mãe;
2. O nascimento ocorreu há mais de 1 ano: aplicar-se-á o regime
dos nºs 2 e 3 do art. 1805º CC.

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Capacidade para indicar ou declarar a maternidade


A lei não dispõe sobre a capacidade para fazer a indicação ou declaração de
maternidade. Poderia pensar-se que, no silêncio da lei, seria de exigir a capacidade
negocial comum. Porém, parece excessivo exigir-se capacidade jurídica plena neste
contexto.
Com efeito, para assumir a qualidade de pai, através de perfilhação, basta a
capacidade de um maior de 16 anos que não seja interdito por anomalia psíquica ou
demente notório (art. 1850º CC). Consequentemente, carece de justificação qualquer
exigência maior no que respeita à capacidade para fazer a indicação ou declaração de
maternidade. Aliás, parece até defensável exigir menor capacidade para indicar ou
declarar a maternidade do que aquela que é exigida para perfilhar: é mais simples
fazer um juízo sobre a autoria do parto e identificação da mãe do que formas a
consciência da paternidade biológica (que é bem mais obscura e incerta). Assim,
entende-se que para indicar ou declarar a maternidade basta a capacidade natural
suficiente para entender o nascimento e identificar a mãe.
Uma crítica que é passível de ser apontada à lei consiste na excessiva facilidade com
que, em situações normais, se estabelece a maternidade. Avulta, talvez, a falta de
controlo sobre a veracidade das declarações prestadas, designadamente quando são
prestadas por terceiro. Essa falta de controlo permitirá até a falsa indicação da
maternidade, já que qualquer terceiro o poderá fazer. ~
Evidentemente, exigir-se a comprovação científica do vínculo biológico entre mãe e
filho em todos os casos seria desproporcionado, já que implicaria avultados recursos
humanos e financeiros.
Uma versão moderada deste controlo prévio é o feito pelas conservatórias que
exigem a exibição de um documento comprovativo de que a mulher apresentada
como mãe teve, realmente, um parto, documento esse passado pela unidade de saúde
onde se deu o parto. Evidentemente, esta solução não permite obviar a todas as
situações de falsificação (por ex.: quando o parto não se dá numa unidade de saúde,
ou quando há troca de crianças na unidade de saúde).
Também a lei impõe um obstáculo ao estabelecimento da maternidade que visa
obviar a algumas das situações acima descritas: está vedada a inscrição tardia do
nome da mãe, quer através de declaração da própria quer através de declaração de
terceiro, quando o registo já realizado é omisso quanto à maternidade, mas contém a
menção à paternidade, sendo a mulher que se pretender declarar como mãe casada
com um homem diferente daquele que figura no registo como perfilhante (art. 1806º
nº1 in fine CC). Nestas hipóteses, haverá que recorrer à via judicial (art. 1824º CC).
Esta solução compreende-se uma vez que ao estabelecer-se a maternidade, teria de se
estabelecer automaticamente a paternidade em relação ao marido da mãe (presunção
de paternidade – art.1826º nº1 CC), gerando-se um conflito de paternidades.
Impugnação da maternidade registada
A veracidade do estabelecimento da maternidade está sujeita a um controlo posterior,
através da ação de impugnação da maternidade ( art. 1807º CC).
➢ Imprescritibilidade
O facto de o direito de impugnar a maternidade não caducar demonstra claramente a
prevalência do interesse na coincidência entre a verdade jurídica e a verdade

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biológica sobre o interesse de estabilidade das situações jurídicas familiares


adquiridos,
➢ Legitimidade ativa
Têm legitimidade ativa para a proposição da ação de impugnação da maternidade
(art. 1807º CC):
o Pessoa declarada como mãe: mesmo na hipótese de ser sido ela a declarar
falsamente a maternidade);
o Registado (filho);
o Ministério Público: está aqui patente o interesse do Estado no estabelecimento
da filiação biológica;
o Demais pessoas com interesse moral ou patrimonial na procedência da ação:
estes sujeitos deverão fazer prova das circunstâncias de que se infere o seu
interesse moral ou patrimonial.
➢ Legitimidade passiva

A lei não define quem tem legitimidade passiva para esta ação, o que recomendaria,
a aplicação da regra geral do art. 26º CPC: seria demandada a pessoa declarada como
mãe, bem como o filho, enquanto titulares da relação material controvertida.
Contudo, esta solução deixaria de fora o pai. A entender-se que os vínculos de
filiação são sempre trilaterais, talvez seja justificada a mobilização do art. 1846º nº1
CC, relativo à ação de impugnação da paternidade, o qual manda “demandar a mãe, o
filho e o presumido pai”.

➢ Averiguação oficiosa
A averiguação oficiosa está regulada nos art 1808º a 1813º CC, quanto à maternidade,
e nos art. 1864º e 1865º CC, quanto à paternidade. Este regime será exposto no
enquadramento da matéria do estabelecimento da paternidade.

Reconhecimento judicial
A ação comum de investigação da maternidade
No caso raro de não ter havido estabelecimento administrativo da maternidade, é
possível promover uma ação judicial destinada a obter uma sentença que declare a
maternidade. Nesta matéria importa, desde logo, referir os pressupostos impostos na
lei para que seja possível o recurso a esta ação:
1. Pressuposto negativo – art. 1815º CC: havendo prévio registo de maternidade,
a ação idónea é a ação de impugnação da maternidade, e não a ação de
investigação;
2. Pressuposto positivo – art. 1814º CC: não havendo registo prévio, o
estabelecimento da maternidade tem de resultar de ação especialmente
intentada pelo filho para esse efeito (portanto, a investigação da maternidade
não poderá ser suscitada como incidente processual no âmbito de uma outra
ação).
➢ Legitimidade ativa
Nos termos já acima desvelados, a ação que nos ocupa pode ser intentada:
o Pelo filho, em nome próprio (se já dispuser de capacidade judiciária para
tal) – art. 1814º CC;

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o Pelo Ministério Público, em representação do filho (que não tenha


capacidade judiciária) – art. 1808º nº4 CC.
➢ Legitimidade passiva, prossecução e
transmissão da ação e prazo
O art. 1873º CC manda aplicar os art. 1817º, 1818º e 1819º CC a esta última ação.
➢ Prova da maternidade
A doutrina comum afirma que a prova da maternidade resulta da prova do parto e da
identidade do filho: o autor tem de provar que a pretensa mãe teve um parto e que o
pretenso filho é o indivíduo que nasceu desse parto. Como se compreende, a prova do
parto é relativamente fácil, na medida em que é um ato habitualmente testemunhado
por técnicos ou vizinhos. Já a prova da identidade é mais difícil, porque nem sempre
é possível testemunhar o crescimento do pretenso filho de tal modo que se possa
garantir que o adolescente ou adulto de hoje é o indivíduo que nasceu no parto que
está provado. O tribunal poderá, então, socorrer-se de presunções ou indícios que o
ajudem a formar uma convicção séria acerca da identidade do filho. É seguramente
possível demonstrar o vínculo biológico através de exames científicos que,
independentemente da prova do parto e de demais tentativas de fazer prova da
identidade do filho, podem convencer facilmente o tribunal acerca da presença ou
ausência do vínculo de maternidade. De facto, hoje não há qualquer razão para
considerar a prova do parto e da identidade do filho como necessária, se for possível
provar a maternidade diretamente, por meio de testes científicos.
O art. 1806º nº2 CC, com o intuito de facilitar a prova aqui exigida, estabelece duas
presunções:
a) O autor presume-se filho se demonstrar que viveu em estado de filho, sendo
reputado como tal pelo público;
b) O autor presume-se filho se apresentar um escrito no qual a pretensa mãe
declare a maternidade.

Ação especial de investigação da maternidade


Os art. 1822º e ss. CC regulam a ação (especial) de investigação nas hipóteses em
que a pretensa mãe é casada. Estas normas consagram algumas especificidades em
face do regime geral apresentado.
➢ Legitimidade ativa
Nos termos dos art. 1822º/2, 1824º/1 e 1810º CC, têm legitimidade ativa para
intentar esta ação especial:
o O marido da pretensa
mãe(durante a menoridade
do filho);
o A pretensa mãe ;
o Ministério Público.
A lei manifesta aqui a preocupação em trazer a juízo todos os interessados no
esclarecimento global dos vínculos de filiação materna e paterna, criando-se assim as
condições para o estabelecimento da paternidade verdadeira, além da fixação da
maternidade.

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➢ Legitimidade passiva
No que respeita à legitimidade passiva, deve ser demanda a pretensa mãe, bem como
o marido da investigada (art. 1822º/1 CC), o que possibilitará o estabelecimento da
paternidade em relação a este último ou, sendo caso disso, a impugnação da
paternidade presumida (art. 1823º CC).
Pode acrescer ainda que o filho tenha sido perfilhado por pessoa diversa do marido
da mãe. De facto, sendo omisso o registo quanto à maternidade, não opera a
presunção de paternidade (art. 1826º CC), pelo que era possível um terceiro, que não
o marido da investigada, declarar-se como pai. Em tais circunstâncias, a posterior
ação de investigação da maternidade deverá ainda ser dirigida contra o perfilhante, na
medida em que o eventual estabelecimento da maternidade que daí advier irá influir
sobre a paternidade também.
➢ Impugnação da paternidade do marido
A primeira nota a apontar é a de que a esta impugnação, permitida pelo art. 1823º
CC, são aplicáveis as regras previstas para a autónoma ação de impugnação da
paternidade (art. 1838º e ss. CC). No fundo, é como se o pedido de impugnação da
paternidade fosse enxertado na ação de investigação da maternidade, mas sem que as
suas regras fundamentais se modifiquem.
Segundo o art 1823º pode ser sempre impugnada a presunção de paternidade do
marido da mãe.

Conflitos de maternidade
Não é de esperar que se verifiquem conflitos de maternidade, não só pelo caráter
ostensivo do parto, mas também porque a maternidade resulta do facto do
nascimento. Os conflitos que eventualmente possam vir a surgir reconduzem-se a três
hipóteses:
➢ Alguém declara o nascimento e indica a maternidade e, posteriormente, uma
outra mulher pretende fazer uma declaração de maternidade em seu favor em
relação ao mesmo filho;
➢ Após o estabelecimento normal da maternidade, o filho pretende intentar uma
ação de investigação da maternidade contra uma mulher diferente da que
consta como sua mãe;
➢ Estando em curso uma ação de investigação contra uma mulher, uma outra
pretende fazer declaração de maternidade em seu favor.
O art. 1815º CC impede qualquer ação de investigação da maternidade em
contradição com um registo anterior. Depois, parece ser de aplicar analogicamente a
estas situações o disposto nos art. 1848º/2 e 1863º CC.

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Estabelecimento da paternidade (art 1826º do CC)


O estabelecimento da paternidade pode ser feito por presunção ou por
reconhecimento voluntário ou judicial.

Presunção
Apesar do disposto no art 1826º do CC, a Lei nº7/2001, de 11 de maio não estendeu a
presunção da paternidade àquele que viva em união de fato com a mãe do filho.
Assim o estabelecimento da paternidade seguirá ouros modos, como a perfilhação, a
averiguação oficiosa e o reconhecimento judicial
Nos termos do art. 1826º/1 CC: “presume-se que o filho nascido ou concebido na
constância do matrimónio da mãe tem como pai o marido”.
Esta presunção, tradicional do âmbito do direito da filiação, assenta na probabilidade
forte de o marido da mãe ser o autor da fecundação, de acordo com as regras da
normalidade e experiência.
A presunção de paternidade expedida funciona relativamente:
o Ao filho concebido antes do casamento e nascido durante o matrimónio;
o Ao filho nascido e concebido durante o matrimónio;
o Ao filho concebido durante o matrimónio e nascido após a sua dissolução.

A presunção de paternidade cessa nos seguintes termos:


o Relativamente ao filho nascido dentro dos 180 dias posteriores à
celebração do casamento, se a mãe ou o marido declararem no ato de
registo que o marido não é o pai (art. 1828º CC). Isto significa que, se o
filho nascer após 180 dias a contar da data da celebração do casamento,
mesmo que tenha sido concebido antes do casamento, a presunção de
paternidade tem aplicação.
o Relativamente ao filho nascido passados 300 dias da cessação da
coabitação dos (Ex-)cônjuges, sendo que o momento da cessão da
habitação é identificado de acordo com o nº 2 do art. 1829º CC.
Consequentemente, a presunção continuará a aplicar-se se o filho,
concebido na constância do matrimónio, nascer dentro dos 300 dias
subsequentes à cessação da coabitação.

o O nascimento deu-se 300 dias após as últimas notícias do marido ausente


(art. 1829º/1/c) CC): esta possibilidade pressupõe que esteja em curso:
I. Processo de normação de curador provisório (art. 89º e ss. CC);
II. Processo de justificação de ausência (art. 99º e ss. CC);
III. Processo de declaração de morte presumida (art. 114º e ss. CC).
o A mãe, na declaração de nascimento, menciona não ser o marido o pai do
filho: esta situação verifica-se, frequentemente, quando cônjuges se
encontram separados de facto (art. 1832º CC).

NOTA: ao filho que não seja concebido nem nasça durante o casamento, ainda que
entre um e outro momento e mãe tenha sido casada, não se aplicará a presunção de
paternidade.

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A presunção legal que nos ocupa, assenta num juízo de probabilidade: o legislador
resolve um facto desconhecido (saber quem é o pai) a partir de circunstâncias
conhecidas (os nascimentos de mãe casada), recorrendo aos princípios de
normalidade patentes.
Como é evidente, esta é uma presunção ilidível. Admite-se, de facto, uma zona de
erro possível, a qual abrange as situações (menos prováveis) em que o marido da mãe
não é o pai. Nesses casos, admite-se a correção do erro, mediante prova em contrário.

A paternidade do marido da mãe é a paternidade verdadeira, para todos os efeitos,


enquanto não for provado o contrário. Daí que, mesmo antes de constar do registo, já
os serviços do registo estão obrigados a fazer a respetiva menção, pelo que se devem
negar a aceitar a declaração de que o pai é incógnito, ou aceitar uma perfilhação
incompatível (art. 1835º/1 CC 1ª parte).
As exceções que libertam o funcionário do Registo do dever de inscrever no assento
de nascimento a paternidade do marido têm de estar previstas na lei. Concretamente,
a parte final do nº 1 do art. 1835º CC refere duas exceções: as hipóteses reguladas nos
art. 1828º e 1832º CC. Em tais casos, o funcionário do Registo deixa de estar
obrigado a fazer menção ao marido da mãe como pai. Além destas hipóteses, outras
há reguladas na lei. Faltando o conhecimento de que a mãe é casada, a lei comete ao
funcionário do registo a obrigação de proceder, oficiosamente, à menção da
paternidade do marido, logo que o casamento da mãe ingresse no registo (art. 1835º/2
CC). Nos demais casos em que a menção da paternidade do marido não seja efetuada
por lapso, tanto o Ministério Público, como o funcionário do Registo, como ainda
qualquer outro interessado, podem requerer que se mencione a paternidade do marido
(art. 1836º CC).

Renascimento da presunção de paternidade


A lei prevê meios de reestabelecer a presunção de paternidade, reconhecendo que,
apesar dos motivos que fundam o seu afastamento, o marido da mãe sempre poderá,
ainda assim, ser o pai. O chamado “renascimento da presunção” não se destina,
então, a provar que o marido é o pai; o que se pretende é, isso sim, demonstrar que,
apesar das circunstâncias, há suporte bastante para o funcionamento normal da
presunção de paternidade.
Segundo o art. 1831º CC, a legitimidade para intentar a ação de renascimento da
presunção cabe a qualquer dos cônjuges ou ao filho. Quanto ao lado passivo da ação,
o legislador não definiu uma regra. Parece ser de aplicar analogicamente o art. 1846º
CC: devem ser chamados a responder a mãe, o filho e o marido da mãe, quando não
figurem como autores.
No que diz respeito aos factos considerados pela lei como relevantes para fazer
renascer a presunção de paternidade, refere-se à comprovação de que:
✓ existiram relações entre os cônjuges, no período legal de conceção, que
tornem verosímil a paternidade do marido.
Do que foi dito a doutrina tem vindo a retirar duas importantes conclusões:

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➢ Só relevam as relações íntimas entre os cônjuges que se tenham


traduzido em encontros sexuais (pois o que se pretende resolver é a
questão da procriação);
➢ Bastam as relações sexuais, não sendo necessária uma verdadeira
reconciliação dos cônjuges (porquanto a procriação não depende da
reconciliação).
A verosimilhança da paternidade é o elemento cuja prova se pode tornar mais difícil.
Os próprios termos da lei excluem que baste a simples possibilidade de o marido ser
o pai. Parece ser necessária a convicção relativamente segura acerca do provável
estabelecimento de um nexo causal entre as relações sexuais demonstradas e a
paternidade. Nos termos da lei, além da prova das relações e da verosimilhança da
paternidade, impõe-se ainda a demonstração de que aquelas relações ocorreram no
período legal de conceção.
Pode estranhar-se não ter sido definido um prazo para se intentar a ação de
“renascimento da presunção de paternidade”. Esta é uma, de facto, uma falha a
apontar ao legislador – por uma razão de coerência do sistema, deveria ter sido
previsto um prazo para a proposição desta ação.
A ação de impugnação da paternidade
A ação de impugnação da paternidade supõe que a presunção da paternidade do marido,
constando o nome do marido a mãe como pai, no registo de nascimento do filho.
Legitimidade ativa (art 1839º CC)
Para que a presunção possa vir a ser impugnada, é necessário que se prove que a
paternidade é manifestamente improvável. Para que a família permaneça estável, basta
que eles nada façam uma vez que o verdadeiro pai da criança nunca terá assim a
paternidade era restabelecia. Tem legitimidade ativa:
➢ Mãe;
➢ Marido da mãe;
➢ Filho
➢ Ministério publico: o legislador permite ao ministério publico, instaurar a ação
de impugnação nas situações em que a mãe detém relações com duas pessoas.

Prazos de impugnação (art 1842º CC)


Estes dependem da verdade biológica. Se os prazos não forem cumpridos, não será
possível impugnar a presunção de paternidade.

Reconhecimento voluntário (art 1849º e ss do CC)


Consiste numa manifestação de um individuo que se apresenta como progenitor de um
filho que ainda não tem paternidade estabelecida. Esta manifestação passa a constar do
registo civil e a paternidade considera-se estabelecida com efeito retroativo até à data do
nascimento do filho.
Este ato voluntário é considerado um ato jurídico unilateral, uma declaração negocial
pessoal, em que alguém diz ser o pai. A perfilhação corresponde à verdade biológica e
sempre que assim não o seja pode ser impugnada

Neste reconhecimento, vigora o Princípio da unidade do Estatuto de filho, ou seja, quem


é considerado filho, é assim considerado para todos os efeitos. Segundo o dr. Francisco

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Pereira Coelho existem muitas dúvidas relativamente ao facto de a perfilhação ser


considerada um ato livre.

➢ Considera um ato livre porque deve ser praticada por quem tiver uma vontade
esclarecida, devendo ser formada com liberdade exterior, sem pressão de
violências ou ameaças. Em Portugal, corresponde a um ato que o progenitor
pratica sem ter de pedir o consentimento ou a ausência de outrem.
➢ Se não houver reconhecimento voluntário, existe reconhecimento judicial.
Assim, dizer que o reconhecimento da paternidade é livre não é totalmente
correto, uma vez que alguém que não queira ser pai e não o reconheça
voluntariamente, levará a que se siga para o reconhecimento judicial.
Guilherme Oliveira considera que a perfilhação tem de corresponder à verdade
biológica, sendo que para perfilhar não é necessário que haja mãe. É uma relação
unilateral que abrange a ligação mãe e filho e pai e filho, independentemente de serem
ou não serem casados.

Quanto à forma (artigo 1853º do CC), a perfilhação corresponde a uma declaração


prestada perante o funcionário do registo civil, por testamento, escritura pública e por
termo lavrado em juízo no tribunal. Pode ser feita a todo o tempo (artigo 1854º do
CC), salvo se se tratar de perfilhação de maiores (artigo 1857º do CC), que só produz
efeitos se os maiores derem o seu assentimento.
A perfilhação pode ainda ser impugnada e anulada, tendo a impugnação como
fundamento a falta de correspondência com a verdade biológica, mas pode não ser este
o único vício de perfilhação, uma vez que pode também ser anulada em situações em
que, quem perfilhou, encontrava-se numa situação de erro, tivesse sido coagido ou não
tenha tido capacidade para perfilhar e o tenha feito. Posto isto, existem determinados
factos a ter em conta relativamente à legitimidade, fundamento e prazos para a
impugnação e anulação da perfilhação (artigos 1859º, 1860º e 1861º do CC).

Reconhecimento Judicial (artigo 1869º do CC)


O reconhecimento judicial tem o nome de ação de investigação, porque nesta ação o
que o tribunal vai fazer é verdadeiramente investigar a paternidade da criança.

➢ Legitimidade Ativa (artigo 1839º do CC)


o Intentada pelo filho contra o pai
o Se o filho for menor, a mãe possui legitimidade para intentar a ação em
representação do filho
o Ministério Público
o Caso a mãe seja menor → artigo 1870º do CC

➢ Prazos (artigo 1817º do CC)


A ação de investigação pode ser proposta durante a menoridade do investigante
ou nos 10 anos posteriores à sua maioridade ou emancipação.

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Exceção (artigo 1817º nº3 do CC): estabelece o prazo de 3 anos nos seguintes casos
especiais:
o Ter sido impugnada por terceiro, com sucesso, a maternidade do investigante.
o Quando o investigante tenha tido conhecimento, após o decurso do prazo do
artigo 1817º/1 do CC, de factos ou circunstâncias que justifiquem a
investigação, designadamente quando cesse o tratamento como filho pela
pretensa mãe.
o Em caso de inexistência de maternidade determinada, quando o investigante
tenha tido conhecimento superveniente de factos ou circunstâncias que
possibilitem e justifiquem a investigação.

➢ Legitimidade Passiva (artigo 1819º do CC)


Contra o pretenso pai (artigo 1973º do CC → artigo 1819º do CC)

Alimentos Provisórios (artigo 1821º do CC)


O tribunal irá decidir após uma apreciação inicial e considerar uma probabilidade. No
regime geral (artigo 2007º do CC) diz-se que os alimentos provisórios nunca são
restituídos. Todavia, uma ação pode durar 2 ou 3 anos e aquele pretenso pai pode,
efetivamente, não ser estabelecido como pai e estar a pagar alimentos a um filho que
não é seu.

Prova da Paternidade
A prova da paternidade pode ser uma prova direta, sendo que são admitidos os testes de
ADN para que o filho prove ao juiz que aquela pessoa é o seu pai, mas se o pretenso pai
não quiser fazer o teste, pode legitimamente recusar-se, pois o teste de ADN é sempre
de realização voluntária. Esta recusa é valorada, pois se o pretenso pai não faz o teste de
ADN, porque possui uma objeção religiosa, o tribunal aprecia de uma maneira, mas se
se recusa porque é sucessivamente convocado e refere sempre que não o faz, então o
tribunal considera de outra maneira.
Todavia, a prova pode ser indireta, caso consiga provar que a sua mãe teve relações
sexuais com determinado investigado naquele período de conceção e, provando que a
sua mãe não teve relações com mais ninguém, prova-se a paternidade.
O nosso legislador criou variadas presunções judiciais (artigo 1871º do CC) que têm a
função de inverter o ónus da prova (não se confunde com a presunção do artigo 1826º
do CC). No artigo 1871ºnº1 do CC, o legislador presume que o sujeito é considerado pai
em diversas situações. A presunção considera-se ilidida quando existam sérias
dúvidas sobre a paternidade do investigado, assente no artigo 1871ºnº2 do CC.

Averiguação Oficiosa da Paternidade (artigos 1864º e 1865º do CC)


Este instituto tem lugar apenas quando a criança nasce e não se sabe quem é o pai. A
intenção do legislador foi a de eliminar os casos de progenitura incógnita, no sentido de
proporcionar às crianças, logo a seguir ao nascimento, o seu lugar no sistema de
parentesco. Sempre que a conservatória tenha um registo em que haja o nome da mãe e
o nome do pai esteja em branco, o conservador envia o processo para o Ministério
Público. Se possível, o tribunal ouvirá a mãe acerca da paternidade que atribuiu e se a
mãe indicar quem é o pai ou por outro meio se chegar ao conhecimento da identidade do
pretenso progenitor, será este também ouvido (artigo 1865º do CC).

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Assim, o tribunal obrigará à realização de um teste de ADN. Se o pai não quiser


perfilhar o filho, o Ministério Público vai indicar o tribunal competente para intentar a
ação de investigação, assente no reconhecimento judicial.

Responsabilidades Parentais
Os pais têm um conjunto complexo de poderes-deveres que têm de exercer durante o
período em que o filho é menor. Anteriormente à reforma de 2008, a expressão que se
utilizava era ‘’poder paternal’’: pater potestas.

Qual a duração das responsabilidades parentais? (artigos 1877º, 1879º e 1880º do


CC)
As responsabilidades parentais duram até à maioridade do filho ou até à sua
emancipação (artigo 1877º do CC). Todavia, existem casos em que as
responsabilidades parentais duram quando já se tenha atingido a maioridade e pode até
cessar antes da mesma.
o Após a maioridade (artigo 1880º do CC): fala-se de situações em que o filho
tenha atingido a maioridade, mas ainda não tenha completado a sua formação
profissional. Contudo, trata-se de situações em que existe a obrigação de os pais
suportarem as despesas com os encargos para o sustento, segurança, saúde e
educação. Tudo o resto cessou com os 18 anos. Todavia, esta obrigação não será
eterna, sendo que terminará por volta dos 25 anos.
o Cessar antes da maioridade: casos em que o filho já detém possibilidades
económicas e os pais ficam dispensados de pagar as despesas.

Como são exercidas as responsabilidades parentais?


Quem manda na relação entre pais e filhos são precisamente os pais, mas as
responsabilidades existem no interesse do filho. Os filhos devem obediência aos pais,
sendo que os pais devem ter em conta a opinião dos filhos nos assuntos familiares
importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida, de acordo com
o artigo 1878º/1/2 do CC. Quanto à educação, tal está previsto no artigo 1885º do CC.
Quando se trata das responsabilidades a nível religioso, os filhos ganham a sua
independência a partir dos 16 anos, de acordo com o artigo 1886º do CC.

Quais as finalidades das responsabilidades parentais?


➢ Proteção do menor.
➢ Os pais devem preparar o filho para a independência, a promoção da sua
autonomia pessoal.

Qual o conteúdo das responsabilidades parentais? (artigo 1878º/1 do CC)


➢ Responsabilidades associadas com a pessoa do filho (responsabilidades do tipo
pessoal): velar pela segurança e saúde, prover ao sustento e dirigir a educação
(artigo 1885º e 1886º do CC).

➢ Responsabilidades associadas com os bens do filho (responsabilidades do tipo


patrimonial):

Representar os filhos (artigo 1881º do CC)

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Os pais têm competência de representação uma vez que os filhos menores não têm
capacidade de exercício de direitos. Todavia, existem certas situações em que os pais
não têm competência representativa:
➢ Atos puramente pessoais (casamento, perfilhação).
➢ Atos em que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente (artigo 127º
do CC).
➢ Atos respeitantes a bens cuja administração não pertence aos pais (artigo 1888º
do CC).

Administrar os seus bens


Compete aos pais administrarem um património alheio, sendo este o património do filho
(artigo 1895º e seguintes do CC).
➢ Qual o padrão de diligência que os pais devem adotar no exercício desta
administração? Estabelece-se o critério do homem médio para efeitos de
responsabilidade civil (artigo 487º/2 do CC).

➢ Mas é este o padrão para este efeito? Os pais devem administrar os bens dos
filhos com o mesmo cuidado com que administram os seus bens, de acordo com
o artigo 1897º do CC.

Nos casos em que haja efetivamente dois progenitores, ambos têm de exercer as
responsabilidades parentais de igual forma. Assim, questiona-se de que forma se
articulam as suas competências e quem toma as decisões incluídas neste âmbito.

➢ Pais Casados (artigos 1901º e 1902º do CC). O exercício das responsabilidades


parentais pertence a ambos os pais, que terão de exercê-las em consenso. Em
caso de desacordo dos pais e se se tratar de uma questão particular importante,
existe a possibilidade de recurso ao tribunal e este tomará uma decisão. Existe
uma presunção de acordo quando um dos pais pratique um ato relativamente ao
filho de ambos (artigo 1902º do CC), sendo que esta presunção não existirá nos
casos em que a lei exige expressamente um acordo entre os progenitores e se
trate de situações de particular importância para o filho de ambos.
➢ Pais Divorciados. Nas situações em que os pais se encontram divorciados,
surgem três problemas fundamentais:

o Quem paga as despesas? Ambos os pais pagam as despesas. Ao


progenitor com quem o filho não reside, será imposto um montante de
alimentos/encargos. Em caso de desacordo, recorrer-se-á a uma decisão
judicial.

o Com quem é que o menor fica a viver? Normalmente, o menor ficará a


viver com um dos progenitores e o outro progenitor possui o direito de
visita do filho. É necessário considerar o artigo 1906º/5/7 do CC uma vez
que o menor deverá manter uma relação de proximidade com ambos os

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progenitores. Importa relevar que a residência ou guarda alternada não


está desenvolvida por lei.

o Quem toma decisões relativas ao menor? (artigo 1906º do CC) Do artigo


1906º/1/2 do CC faz-se remissão para o artigo 1901º do CC. São
questões de particular importância para o filho, que são decididas por
acordo dos progenitores e, na falta de acordo, poderá recorrer-se ao
tribunal, salvo quando se trate de casos de urgência manifesta e casos em
que a exigência de acordo for contrária aos interesses do menor. No
artigo 1906º/3 do CC estão presentes questões relativas aos atos da vida
corrente. Aqui, cabe ao progenitor com quem o menor resida
habitualmente ou ao progenitor com que ele se encontre
temporariamente. Aquele com quem ele não reside não deve contrariar as
orientações educativas relevantes assim como as definidas pelo
progenitor com que o menor reside.

➢ Existem outras situações

o Separação de Facto (artigo 1909º do CC). São situações em que


progenitores são casados, mas não vivem um com o outro, devendo
aplicar-se as regras referentes a uma situação de divórcio.

o União de Facto (artigo 1911º do CC): aplicam-se as regras que se


aplicariam caso os progenitores estivessem casados.

o Progenitores não estão nem estiveram casados, não vivem nem viveram
em união de facto, simplesmente tiveram um filho (artigo 1912º do CC):
aplicam-se as regras que valem para o divórcio.

Com o surgimento da Lei nº 137/2015, de 7 de setembro acrescentaram-se hipóteses de


alargamento do exercício das responsabilidades parentais a pessoas que não são os
progenitores (artigo 1903º, 1904º e 1904º-A do CC).

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Todavia, posteriormente a tudo isto, releva-se ainda a existência de inibição das


responsabilidades parentais nas situações em que o progenitor que exerce as
responsabilidades parentais é afastado dessa responsabilidade, como é o caso do
consagrado nos artigos 1913º e 1915º CC.

➢ Artigo 1913º do CC: inibição do pleno direito, sendo uma inibição automática.

➢ Artigo 1915º do CC: inibição por decisão judicial, não sendo uma inibição
automática.

Quando cessarem as específicas razões que levaram à inibição, a inibição pode ser
levantada (artigo 1914º do CC). Existe, ainda, uma limitação do exercício das
responsabilidades parentais a nível de natureza pessoal (artigos 1918º e 1919º do
CC) e de natureza patrimonial (artigo 1920º do CC).

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