Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cristiana Correia
2023/2024
DFM
➢ Quando um dos parentes descende do outro: parentesco em linha reta; (art 1580
º primeira parte)
✓ Linha reta ascendente: quando se considera como partindo descendente
para o progenitor
✓ Linha reta descendente: quando se considera como partindo do
ascendente para o que dele procede.
➢ Quando ambos os parentes descendem de um progenitor comum: parentesco na
linha colateral/transversal; (art 1580º segunda parte).
Portanto são parentes as pessoas que descendem uma das outras ou procedem de
progenitor comum.
Quais os limites do parentesco?
Segundo o art 1582º do CC, diz nos que salvo disposição da lei em contrário, os efeitos
do parentesco produzem-se em qualquer grau da linha reta e até ao sexto grau da linha
colateral.
Página 1 de 75
DFM
Contagem
As relações de parentesco são muito numerosas e na realidade muito diversas. E é
mediante a contagem do parentesco que se torna possível definir, ordenar e estabelecer
uma hierarquia entre elas. E, portanto, o parentesco conta-se por linhas e graus.
➢ Grau:
✓ Cada geração forma um grau. (art 1579º CC)
✓ Na linha reta há tantos graus quantas pessoas que formam a linha de
parentesco exceto o progenitor (Art 1581º CC)
P.e. o meu pai e o meu filho são meus parentes em primeiro grau. Já os
meus avós e netos são parentes em segundo grau.
✓ Na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma subindo um dos
ramos e descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum.
P.e. o meu irmão é meu parente em segundo grau, pois para chegar ao
meu irmão eu tenho que subir até ao meu pai (1 grau) e descer até
encontrar o meu irmão (outro grau). O meu tio é meu parente em terceiro
grau, porque tenho que subir um grau até ao meu pai, outro grau até ao
meu avô que é o progenitor comum, e descer um grau até ao meu tio.
Portanto é meu parente em terceiro grau. No caso de um primo. Tenho
que subir para o meu pai (1 grau), depois para meu avô (progenitor
comum e mais um grau), descer para o meu tio (mais um grau) e por fim
é que chego ao meu primo. Ou seja, é meu parente em quarto grau.
➢ Linha: a serie dos graus constitui a linha de parentesco.
Efeitos do parentesco
Os efeitos da relação de parentesco variam consoante a relação de parentesco que se
considere:
➢ Sucessório (art 2133º)
O efeito sucessório é um dos principais efeitos do parentesco.
Os descendentes, os ascendentes, os irmãos e os seus descendentes e os outros
colaterais até ao 4º grau, integram, respetivamente a 1º, 2º,3º e a 4º classes de
sucessíveis na ordem da sucessão legitima. Nota: remeter para o art 2157º do
CC.
Página 2 de 75
DFM
Página 3 de 75
DFM
Efeitos
Em comparação com os efeitos do parentesco, os efeitos da afinidade são muito menos
extensos.
Os afins não têm efeitos sucessórios, e no que toca à obrigação de alimentos a lei só
impõe ao padrasto e à madrasta.
Também pode suceder e no direito ao arrendamento rural no caso de falecimento do
arrendatário, quanto à obrigação de exercer a tutela ou fazer parte do conselho de
família pode recair sobre os afins.
Também há efeitos da afinidade que traduzem em restrições à capacidade e
incompatibilidades de vária natureza:
✓ Na afinidade em linha reta há um impedimento relativo à celebração do
casamento (artº1809 a) e artº1866ºa).
✓ Proíbem a averiguação oficiosa da maternidade e a da paternidade,
quando a pretensa mãe e o perfilhante, no 1º caso, ou a mãe e o pretenso
pai, no 2º caso, estiverem ligados de afinidade em linha reta.
Página 4 de 75
DFM
Para concluir, o nosso art 1576º diz que são fontes de relações jurídicas familiares, o
casamento, a afinidade, o parentesco e a adoção, isto dá nos uma ideia de taxatividade,
ou seja, família é isto e só isto, não havendo outras fontes.
De facto, foi isto que se entendeu. Porém o que é facto, é que temos no nosso sistema
outras relações que a lei atribui efeitos tipicamente familiares, que é a relação de união
de facto.
Na união de facto temos duas pessoas que vivem como se fossem casadas, mas não são.
A união de facto é regulada pela lei, e em termos materiais com relação familiar, ou
seja, não há razão para excluir a união de facto desta lista de relações familiares.
A família jurídica e família sociológica são distintas. A família sociológica corresponde
à célula familiar/núcleo, familiar.
NOTA: Em face do art 1576ºCC, pode entender-se que além das que foram
mencionadas, não haja outras relações familiares e, portanto, pode se considerar que à
família de uma pessoa pertencem não só o seu cônjuge como ainda os seus parentes,
afins, adotantes e adotados.
Porém pode haver quem desvalorize o elenco expresso, incorretamente, e julgue que
devam ser acrescentadas as relações emergentes da união de facto, ou o apadrinhamento
civil e a paternidade não biológica consentida no quadro da procriação medicamente
assistida.
União de facto
Noção
A noção de união de facto cobria apenas a relação entre pessoas de sexo diferente, que
viviam como marido e mulher. Até à lei nº7/2001, era esta a noção de união de facto no
direito português. Porém a lei nº7/2021 veio dar ainda relevância jurídica à união de
facto entre pessoas do mesmo sexo.
Assim a lei da união de facto define logo no art 1º nº2 que a união de facto é a situação
de vida em que duas pessoas independentemente do sexo vivem em condições análogas
à dos cônjuges há mais de 2 anos.
Página 5 de 75
DFM
História legislativa
Lei 7/2001 de 11 de maio não foi a primeira lei a regular a união de facto.
A primeira lei foi a 135/99 de 28 de agosto. A única alteração da lei foi o
reconhecimento da relação de união de facto entre pessoas do mesmo sexo.
➢ A união de facto está reconhecida na CRP?
A primeira observação a fazer é que a Constituição não fala em união de facto
nem dispõe diretamente sobre ela.
No art 36º nº1 da CRP, refere que “todos têm o direito de constituir família e de
contrair casamento em condições de plena igualdade” artigo este que está
inteiramente relacionado com os direitos liberdades e garantias, e segundo o qual
o Dr. Gomes Canotilho e Vital Moreira, defendem que o direito de constituir
família trata-se de uma abertura constitucional, para conferir o devido relevo às
uniões familiares de facto. A expressão constituir família tem a ver sobretudo
com o direito de ter filhos e uma vez tendo filhos desenvolver as suas relações,
de paternidade e etc. é este sentido usual de constituir família e também sempre
foi com este sentido que esta expressão foi interpretada em relação a outros
textos, nomeadamente de direito internacional.
A união de facto também está abrangida no “direito ao desenvolvimento da
personalidade” que se encontra no art 26º nº1 da CRP. Visto que estabelecer uma
união de facto é certamente uma manifestação ou forma de exercício desse
direito. Isto porque a legislação que proibisse a união de facto, ou a penalizasse,
impedindo o direito de as pessoas viverem em união de facto, seria, portanto,
inconstitucional.
Como é que se constitui uma união de facto?
A união de facto constitui-se quando os sujeitos da relação de “juntam”. Ou seja,
constitui-se quando esse facto que é a União de facto, passa a existir.
Podemos dizer que a união de facto se constitui quando os sujeitos passam a viver em
comunhão de leito, mesa e habitação.
Como é que se prova a união de facto?
Não sendo objeto de registo civil, nem de registo administrativo, não se torna fácil saber
quando a união de facto se inicia. Mas é importante sabe-lo, pois só a partir dessa data e
contam os dois anos que devem decorrer para que a união de facto produza os efeitos
previstos no art 3º da lei nº7/2001.
A questão de saber como se prova a união de facto e a data em que a mesma começou
reveste-se de grande interesse e importância, quer a união de facto seja invocada pelos
sujeitos da relação (ou por um deles contra o outro), quer seja invocada por eles.
Assim…
A prova da união de facto é normalmente testemunhal, mas a possibilidade de prova
documental não deve excluir-se. (o art 2-A da Lei da União de Facto, diz nos que a
união de facto se prova por qualquer meio legalmente admissível).
As juntas de freguesia devem passar atestados/certificados de residência, vida e situação
económica dos cidadãos, e pode admitir-se que a junta de freguesia da residência dos
interessados passe atestado comprovativo de que uma pessoa vive em união de facto
Página 6 de 75
DFM
com a outra. Nota: o documento não faz prova plena, podendo provar-se que o facto não
é verdadeiro, pois a união de facto não existiu ou não existiu durante determinado
período. O documento apenas prova que os interessados fizeram perante o funcionário a
afirmação de que conviviam maritalmente desde certa data, mas não prova que seja
verdadeira afirmação.
A verdade é que não se adotando um “registo” oficial da união de facto, as alternativas
são raras:
➢ Ou se exige que a prova dos factos fosse feita nos tribunais.
➢ Ou aceita-se a prova por qualquer meio, incluindo a declaração emitida pela
Junta de Freguesia.
A primeira hipótese significaria jurisdicionalizar todos os diferendos e todas as
pretensões. Enquanto que a segunda hipótese que foi sempre adotada tem a consistência
que resulta das incriminações penais e das boas praticas, segundo as regras comuns que
valem para muitas áreas da vida social.
2. Efeitos patrimoniais
➢ As relações patrimoniais entre os cônjuges entre estes e terceiros estão
sujeitas a um estatuto particular, a que se chama “regime de bens do
casamento”. Não acontece assim na união de facto. Não há aqui um
regime de bens nem têm aplicação as regras que disciplinam os efeitos
patrimoniais do casamento.
Página 7 de 75
DFM
Página 8 de 75
DFM
Página 9 de 75
DFM
Página 10 de 75
DFM
casamento que as pessoas possam celebrar. E a lei quer garantir que as pessoas
tenham o direito de contrair casamento. A questão mais importante é saber que
casamento é esse que a constituição quer garantir?
Qual é o casamento que é garantido pela constituição?
Antigamente no livro antigo havia 5 características fundamentais do casamento.
1. Contratualidade- é um contrato livremente celebrado pelos sujeitos.
2. Monogamia- é um contrato celebrado a dois.
3. Exogamia- uma pessoa casa com pessoas que não são da sua família próxima.
Pelo menos a nossa cultura é essa.
4. Heterossexualidade: entre pessoas de sexo diferentes. Já foi ultrapassada esta
característica
5. Perpetuidade tendencial: o casamento deve ser um contrato tendencialmente
perpetuo. (atualmente é fácil dissolver o casamento)
Atualmente temos apenas 3 características.:
1. Contrato
2. Monogamia
3. Exogamia
Página 11 de 75
DFM
Página 12 de 75
DFM
Direito Matrimonial
É de notar que as características do casamento são de tal modo conhecidas que não será
possível confundi-lo com a união de facto.
Não havendo um conceito universal de casamento até há pouco tempo parecia possível
descobrir uma ideia comum aos sistemas jurídicos que se inserem no mesmo espaço
cultural do nosso: a ideia de casamento como um acordo entre um homem e uma mulher
feito segundo as determinações da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena
comunhão de vida entre eles. No entanto, a permissão de casamentos entre pessoas do
mesmo sexo dentro do nosso espaço cultural leva-nos a reformular a frase em questão
para o casamento como um acordo entre duas pessoas feito segundo as determinações
da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena comunhão de vida entre eles.
NOTA: esta comunhão de vida deverá ser exclusiva, isto é, nenhum dos cônjuges pode
fazer igual acordo com terceira pessoa enquanto o anterior vigorar, e não deverá ser
livremente dissolúvel.
Página 13 de 75
DFM
➢ Respeito;
➢ Fidelidade;
➢ Coabitação; Art 1672º
➢ Cooperação;
➢ Assistência
➢ Comunhão de vida exclusiva (art 1601º c)
➢ Não livremente dissolúvel (art 1773º)
IMPORTANTE: a procriação sendo um fim normal ou natural não é de todo, um fim
absolutamente essencial do casamento civil, pelo que não deve entrar na respetiva
definição.
Casamento católico
O casamento católico que é regulado, no direito canónico corresponde
fundamentalmente à noção geral de casamento , que define o casamento como ato de
vontade pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável, se entregam e recebem
mutuamente a fim de constituírem matrimonio.
A consumação continua atualmente tem no casamento católico um relevo que não
possui no casamento civil. Não significa que seja necessária para a perfeição do ato,
visto que o casamento é um contrato consensual e não real. Mas a consumação torna o
ato mais estável, pois só depois de consumado é que o casamento católico goza de
indissolubilidade.
✓ Noção de consumação: realização de relações sexuais após a celebração do
casamento.
NOTA: o casamento não consumado pode ser dissolvido por graça ou dispensa
pontifica.
➢ Características do casamento católico:
o Exclusividade
o Indissolubilidade
A ideia de perpetuidade do casamento é muito mais forte no casamento católico do que
no casamento civil, uma vez que são extremamente raros os casos previstos que o
direito canónico permite a dissolução do vínculo matrimonial.
É importante realçar que o conhecimento das causas respeitantes à nulidade do
casamento católico e à dispensa do casamento rato e não consumado é reservado aos
tribunais e às repartições eclesiásticas.
Os tribunais eclesiásticos decidem de acordo com o direito canónico. Há certas matérias
que contra o que está na constituição são reguladas pelo direito canónico e não civil.
Sistemas matrimoniais
➢ Sistema de casamento religioso obrigatório:
Trata-se de um sistema em que não se admite o casamento civil.
Este sistema vigorou na Grécia até 1982, em que a forma religiosa do casamento
segundo os ritos da igreja ortodoxa grega era a única permitida,
independentemente da nacionalidade e da religião dos nubentes.
Página 14 de 75
DFM
Crítica: este sistema força a dupla celebração, para os nubentes que professem
qualquer tipo de confissão religiosa e queiram que o seu casamento produza
efeitos jurídicos. P.e. um casal de católico, para que a sua união seja válida tanto
para o Estado como para a Igreja, terão que celebrar sucessivamente, casamento
civil e casamento católico.
Página 15 de 75
DFM
Página 16 de 75
DFM
Página 17 de 75
DFM
Página 18 de 75
DFM
Página 19 de 75
DFM
A lei nº47/98 de 10 de agosto, facilitou ainda mais o divorcio por mútuo consentimento,
permitindo que este fosse pedido “a todo o tempo”.
A lei nº61/2008, admitiu o divorcio por mútuo consentimento ainda que os cônjuges não
consigam resolver as questões enunciadas no art 1755º nº1, que eliminou a importância
da culpa que alargou os fundamentos relevantes da rutura do matrimonio.
Fará sentido falar em perpetuidade em face da legislação atual? Quanto ao direito
civil/casamento, civil fará mais sentido falar se em dissolubilidade condicionada e não
livre, no sentido em que não possam ser apostos ao casamento condições ou termo
resolutivos.
Requisitos de fundo
Consentimento
1. Consentimento pessoal (art 1619º):
O consentimento deve ser pessoal, isto é, há de ser expresso pelos próprios
nubentes, pessoalmente, no ato da celebração.
Segundo o artigo 1619º “a vontade de contrair casamento é estritamente pessoal
em relação a cada um dos nubentes.
Página 20 de 75
DFM
3. Consentimento perfeito
O consentimento deve ser perfeito não só no sentido de devem ser concordes
uma com a outra as declarações de vontade que o integram, como também no
sentido de que em cada uma dessas declarações de vontade deve haver
concordância entre a vontade e a declaração.
o Casamento simulado
Será que o casamento será invalido como os restantes negócios jurídicos
simulados?
Simulam-se casamentos para adquirir uma nacionalidade estrageira, para
obter uma autorização de residência entre outros…, porém se embora
determinados por um desses motivos os nubentes têm a disposição de
fazer e fazem realmente vida comum, não há simulação e o casamento é
válido. Mas se apenas pretendem prosseguir o fim visado e recusam a
comunhão de vida que constitui a essência do casamento este considera-
se então simulado, visto que a declaração que prestam perante o
conservador do registo civil de que querem casar não corresponde à sua
vontade real.
- Segundo o art 1640º nº1 do CC, a anulação pode ser requerida pelos
próprios cônjuges e por quaisquer pessoas prejudicadas com o
casamento, dentro dos 3 anos subsequentes ou, o use o casamento era
ignorado do requerente nos 6 meses à dará em que dele teve
conhecimento (art 1644º).
- Os cônjuges simuladores têm legitimidade para arguir a anulação do
casamento simulado. Não podem, porém, provar por testemunhas (art
394º nº2) ou por presunções (art 351º) o acordo simulatório
- A anulação do casamento simulado como, em geral, a nulidade
proveniente de simulação e pelas mesmas razões não poderá ser oposta a
terceiros que acreditaram, de boa-fé na validade do casamento (art 243º).
o Erro na declaração
As hipóteses de erro na declaração são diferentes umas das outras, e
podem distinguir-se entre os casos em que falta ao declarante a própria
vontade da ação e os casos em que lhe falta a vontade da ação como
declaração e os casos de simples desvio na vontade negocial.
- Se falta ao declarante a própria vontade da ação, ou até a vontade da
declaração, o casamento é anulável (art 1635º a))
- Quando existe um simples desvio na vontade negocial, em que o sujeito
executa voluntariamente o comportamento declarativo e tem vontade de
realizar o negócio jurídico, mas não o negócio jurídico de conteúdo
correspondente ao significado exterior da declaração. Como o casamento
é o negócio de conteúdo fixo, são aqui, todavia dificilmente concebíveis
estes casos de erro na declaração.
- Erro acerca da identidade física do outro nubente, sendo que esta
hipótese só parece verosímil nos casos de casamento por procuração e
que a lei especificamente referiu na lista dos casos em que o casamento é
anulável por falta de vontade (art 1635, b).
Página 21 de 75
DFM
- A anulação só pode ser requerida pelo cônjuge cuja vontade faltou (art
1640 nº2), dentro dos 3 anos subsequentes à celebração do casamento ou
, se este era ignorado do requerente, nos 6 meses seguintes à data em que
dele teve conhecimento (art 1644º ), mas pode ser continuada pelos seus
parentes, afins na linha reta, adotantes ou Herdeiros e o autor falecer na
pendencia da causa.
4. Consentimento livre
O consentimento deve ser livre (art 1634º)
Para que o consentimento seja verdadeiramente livre é preciso que a vontade dos
nubentes, em primeiro lugar tenha sido esclarecida, ou seja, formada com exato
conhecimento das coisas, e, em segundo lugar, se tenha sido formada com liberdade
exterior , isto é, sem a pressão de violências ou ameaças.
o Erro
O erro tal como expressa o art 1636º, deve recair sobre a pessoa com
quem se realiza o casamento e versar sobre uma qualidade essencial
dessa pessoa.
É necessário que o erro recaia sobre uma qualidade essencial da pessoa
do outro cônjuge, que seja próprio, que seja desculpável e que a
circunstância sobre a qual o erro versou tenha sido determinante da
vontade de contrair casamento, tanto subjetiva como objetivamente.
Erro próprio: isto é não há de recair sobre qualquer requisito legal de
existência de casamento. Assim, se um dos cônjuges supunha
erradamente que o outro já atingira a idade nupcial, ou que o outro era
divorciado quando ainda era casado, o erro será improprio. O casamento
será anulável, não propriamente por erro, mas sim independentemente do
erro, por falta do requisito legal a que o erro diz respeito.
Erro desculpável: o erro indesculpável ou grosseiro, em que não teria
caído uma pessoa normal perante as circunstâncias do caso, não pode ser
invocável como motivo de invalidade do casamento.
o Coação
O casamento também pode ser anulado com fundamento na coação (art
1638º).
Enquanto vicio da vontade a coação corresponde ao receio ou temor
ocasionado no declarante pela cominação de um mal, dirigido à sua
própria pessoa, honra ou fazenda ou de um terceiro.
É importante referir que o mal que se receia há de ter sido cominado
precisamente com a intenção de extorquir o consentimento do declarante
para o negócio de que se trata.
Quando o consentimento for prestado por erro ou por coação e se verifiquem as
respetivas condições de relevância, o casamento é anulável (art 1631º b)).
A ação de anulação só pode ser intentada pelo cônjuge que foi enganado ou coagido,
dentro dos 6 meses subsequentes à cessação do vicio (art 1645º), ou seja, subsequentes à
data em que o cônjuge teve conhecimento da circunstância sobre que versou o erro ou
em que cessou a coação, podem prosseguir nela os seus parentes, afins na linha reta,
herdeiros ou adotantes se o autor falecer na pendencia da causa (art 1641º).
Página 22 de 75
DFM
Capacidade
As incapacidades nupciais não são de facto, mas mesmas que lei admite para os
negócios jurídicos em geral.
O casamento pressupõe uma capacidade natural e contende com interesses eugénicos,
morais e sociais muito importantes. E a tutela destes interesses é capaz de justificar
especiais incapacidade.
Como é caso do art 1601º c), 1602º a),b), c), e d) que se tratam de incapacidades que
não têm correspondência na generalidade dos negócios jurídicos.
Esta distinção entre incapacidades diversas no casamento e nos negócios jurídicos é
ainda mais nítida quando nos referimos à legislação anterior ao Código de 1966, na qual
p.e. o casamento de um interdito por anomalia psíquica era nulo, enquanto eram
simplesmente anuláveis a venda ou o arrendamento que ele fizesse.
O casamento também organiza a lei uma previa averiguação da capacidade matrimonial
que não tem paralelo nos demais negócios jurídicos. Quanto aos outros negócios
jurídicos a lei estabelece as incapacidades e, depois, se algum incapaz conclui
determinado negócio, faculta ao interessado a respetiva ação de anulação.
Impedimento matrimonial: as circunstâncias que de qualquer modo, impedem a
celebração do casamento, as circunstâncias verificadas as quais o casamento não pode
celebrar-se, sob pena de anulabilidade do ato, ou de sanções de outra natureza. É sobre a
designação técnica dos impedimentos que se estufam tradicionalmente as incapacidades
matrimoniais.
Página 23 de 75
DFM
Impedimentos dirimentes
➢ Falta de idade nupcial;
➢ Demência;
➢ Vínculo matrimonial anterior não dissolvido;
➢ Parentesco e afinidade;
➢ Relação anterior de responsabilidades parentais;
➢ Condenação por homicídio;
Página 24 de 75
DFM
Razões:
A lei não visa, a proteção do interesse particular do próprio cônjuge psiquicamente
anormal, os interesses que se querem proteger com o impedimento da doença são os
interesses públicos. Pretende-se evitar que as doenças se transmitam para os filhos e
defender sob este aspeto a própria sociedade.
➢ Este impedimento tanto abrange a demência de direito, reconhecida em sentença
de interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, como a simples demência de
facto.
O impedimento de interdição ou inabilitação por anomalia psíquica só existe
desde a data do transito em julgado da respetiva sentença (porém a sentença
deve indicar sempre que possível a data do começo da incapacidade ) e,
portanto, o casamento que tenha sido celebrado posteriormente a essa data
poderá ser anulado, sem que o requerente tenha que fazer prova da anomalia
psíquica invocada.
No caso da demência de facto o que importa fazer prova não é apenas a
demência, mas também da data em que ela se manifestou, e só é relevante e esta
já existia à data da celebração do casamento, visto que se a demência apenas se
manifestar posteriormente à celebração do casamento não é um impedimento
nem pode fundar uma ação de anulação, sendo só aceitável uma ação de divorcio
ou então separação judicial de pessoas e bens.
O importante para a lei é que a demência seja certa, inequívoca, não duvidosa,
sendo este o sentido que tendemos a dar à notoriedade exigida no art 1601º b).
Página 25 de 75
DFM
Legitimidade
A ação de anulação pode ser proposta ou continuada por qualquer dos cônjuges ou pelos
seus parentes na linha reta ou até ao 4º grau da linha colateral, herdeiros ou adotantes
dos cônjuges ou pelo Ministério Publico , assim como pelo tutor ou curador do interdito
ou inabilitado (art 1639º nº2).
Página 26 de 75
DFM
Legitimidade
A ação de anulação com fundamento em impedimento de vínculo pode ser intentada
pelos cônjuges ou por qualquer parente deles na linha reta ou até ao 4º grau da linha
colateral, pelos herdeiros e adotantes dos cônjuges e pelo Ministério Publico (art 1639º
nº1) e bem assim pelo 1º cônjuge do bígamo.
Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento (art 1643º nº1)
Nota : não pode ser instaurada a ação nem prosseguir se estiver pendente a ação de
declaração da nulidade ou anulação do 1º casamento bígamo, convalidando-se se o 2º
casamento e o 1º vier a ser declarado nulo ou anulado (art 1633 nº1 c).
Legitimidade
A ação de anulabilidade pode ser intentada por qualquer um dos cônjuges ou por
quaisquer parentes deles na linha reta ou até ao 4º grau na linha colateral, pelos
herdeiros e adotantes dos conjunges ou pelo Ministério Publico (art 1639º)
Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento.
Página 27 de 75
DFM
Legitimidade
A ação de anulação pode ser intentada pelos cônjuges ou porque quaisquer parentes
deles na linha reta ou até ao 4ºgrau da linha colateral, pelos herdeiros e adotantes dos
cônjuges ou pelo Ministério Publico. (art 1639º)
Prazos
Até seis meses depois da dissolução do casamento.
Legitimidade
A ação de anulação com fundamento em impedimento de condenação por homicídio
pode ser intentada pelos cônjuges ou por qualquer parente na linha reta ou até ao 4º grau
da linha colateral, pelos herdeiros e adotantes dos cônjuges e pelo Ministério Publico
(art 1639º).
Prazos
A ação pode ser intentada nos 3 anos subsequentes à celebração do casamento (art 1642º
nº1 b).
Página 28 de 75
DFM
Impedimentos impedientes
Falta de autorização dos pais ou do tutor para o casamento de menores (art 1604º
a))
Constitui impedimento impediente a falta de autorização dos pais ou do tutor para o
casamento do nubente menor, quando não suprida pelo conservador do registo civil.
Este impedimento refere-se aos menores de 18 anos e maiores de 16 anos.
Os menores de 16 anos estão feridos de incapacidade de gozo em relação ao casamento,
constituindo a falta de idade impedimento dirimente que constitui por sua vez causa
para arguir a anulabilidade do mesmo.
A autorização para o casamento deve ser concedida pelos progenitores que exerçam as
responsabilidades parentais ou pelo tuto, antes da celebração do casamento ou no
próprio ato da celebração.
Não tendo sido prestado o consentimento dos pais ou do tutor até à celebração do
casamento nem tendo sido suprido esse consentimento pelo conservador do registo
civil, deve o conservador interpelar para o efeito as pessoas que o devem prestar, as
quais poderão conceder no próprio ato a autorização exigida, pessoalmente ou através
de procurador, o que deve ser mencionado no assento do casamento.
Pedido de suprimento: é formado em petição dirigida ao conservador do registo civil e
apresentado em qualquer conservatória. Autuada a petição com os documentos que lhe
respeitem, o conservador faz citar os pais ou o tutor para responderem no prazo de 8
Página 29 de 75
DFM
dias, e concluída a instrução, decide sobre o pedido, suprindo a autorização dos pais ou
do tutor se verificar que o menor tem suficiente maturidade física e psíquica e há razões
ponderosas que justifiquem a celebração do casamento, a decisão que é da exclusiva
competência do conservador, deve ser notificada aos interessados e dela cabe o recurso
para o juiz da comarca.
Quando o menor constitui casamento sem autorização dos pais ou do tutor ou sem o
respetivo suprimento: o menor caso isto aconteça não fica plenamente emancipado.
Continua a ser considerado menor quanto à administração dos bens que tenha levado
para o casal ou que lhe advenham por título gratuito até à maioridade, bens cuja
administração não é confiada ao outro cônjuge como seria segundo as regras gerais e
que se mantém até à maioridade sob administração dos pais, do tutor ou do
administrador legal.
NOTA: Se não houver dispensa e o casamento se celebrar (art 1650º nº2) comina a
sanção aplicável e o tio ou tia não poderá receber qualquer benefício por doação ou
testamento do seu consorte.
Página 30 de 75
DFM
Página 31 de 75
DFM
Formalidades do casamento
2. Despacho
Feitas todas as diligencias o conservador deve no prazo de um dia a contar a última
diligencia efetuada proferir despacho a autorizar os nubentes a celebrar o casamento
ou a mandar arquivar o processo, despacho em que devem ser identificados os
nubentes, feita referência à existência ou inexistência de impedimentos ao
casamento e apreciada a capacidade matrimonial dos nubentes (art 144 nº1 CRC).
O despacho desfavorável à celebração do casamento é notificado aos nubentes, que
dele podem recorrer nos 8 dias seguintes à data da notificação.
Há necessidade de considerar algumas hipóteses:
➢ Se os nubentes tiverem manifestado a intenção de celebrar casamento
católico ou casamento civil sob forma religiosa o conservador deve passar,
dentro de o prazo de um dia a contar da data do despacho ou daquela em que
os nubentes se tenham manifestado nesse sentido, um certificado em que
declare que os nubentes podem contrair casamento, certificado que deve
remeter, oficiosamente e sempre que possível por via eletrónica, ao pároco
competente ou ao ministro de culto indicado pelos nubentes.
➢ Pode ser necessário a dispensa de impedimentos impedientes. A concessão
da dispensa pode ser requerida em qualquer conservatória do registo civil.
Os interessados devem expor os motivos que justificam a pretensão. O
Página 32 de 75
DFM
Celebração do casamento
Se o despacho final for favorável o casamento deverá celebra-se dentro dos seis meses
seguintes.
O processo pode ser revalidado se o casamento não for celebrado nesse prazo, mediante
a junção dos documentos que tenham excedido o prazo de validade, mas a revalidação
só pode ter lugar dentro do prazo de um ano contado da data do despacho final.
O dia, hora e local da celebração são acordados entre os nubentes e o conservador.
Qualquer conservador do registo civil é competente para a celebração do casamento,
independentemente da freguesia e do concelho onde aquele deva ser celebrado.
Devem estar presentes no ato de celebração:
➢ Ambos os nubentes ou um deles e o procurador do outro;
➢ O conservador;
➢ Duas testemunhas quando a identidade de qualquer dos nubentes ou do
procurador não possa ser verificada;
Página 33 de 75
DFM
Registo
As modalidades do registo são as mencionadas nos art 50º e 51º do Código de Registo
Civil.
O registo civil dos factos a ele sujeitos é lavrado por meio de assento ou averbamento,
podendo os assentos, por sua vez ser lavrados por inscrição ou transcrição.
Há também o caso em que o registo é efetuado por menção no assento de outro ato. P.e.
a convenção antenupcial, que é registada mediante a sua menção no texto do assento de
casamento quando o auto seja lavrado ou a certidão da respetiva escritura seja
apresentada até à celebração do casamento.
Posto isto, o registo do casamento pode ser lavrado por inscrição ou por transcrição
havendo ainda o caso de se for o caso de um casamento católico celebrado entre
cônjuges já vinculados entre si por casamento civil anterior não dissolvido, que é
averbado no assento deste.
Inscrição
Assento
Averbamento
Página 34 de 75
DFM
pode ser invocado, quer pelas pessoas a quem respeita, seus herdeiros ou representantes,
quer por terceiros (art 1669º).
Inscrição
O registo é lavrado por inscrição em suporte informático.
O assento do casamento é lavrado e lido em voz alta pelo funcionário, que nele apõe o
seu nome, logo apos a celebração do casamento.
É importante ter em conta o princípio da retroatividade, isto é, os efeitos do casamento
não se produzem só ex nunc (deste momento em diante) , desde a data do registo, mas
também ex tunc (desde então/desde o início), desde a data de celebração do ato.
Princípio da retroatividade:
Está expresso no art 1670º nº1 CC, segundo o qual efetuando o registo e ainda que este
venha a perder-se, os efeitos civis do casamento se retrotraem à data da sua celebração.
No entanto se levássemos até ao fim a lógica da retroatividade as expetativas de
terceiros que tiveram contratado com os cônjuges sobre a base quem que confiaram de o
casamento não existir estariam desprotegidas e, portanto, o art 1670º nº2 ressalva os
direitos de terceiros, compatíveis com os direitos e deveres de natureza pessoal dos
cônjuges e dos filhos que tenham sio adquiridos anteriormente ao registo.
P.e. é o caso de o registo ter sido lavrado depois da morte de um dos cônjuges a cuja
sucessão foram chamados os parentes na linha colateral.
Exceção
Esta ressalva não se aplica se, tratando-se de registo por transcrição, esta tenha sido feita
dentro dos sete dias subsequentes à celebração do casamento, o registo tem efeitos
retroativos, neste caso mesmo em relação a terceiros.
Página 35 de 75
DFM
Celebração
➢ Exige uma declaração expressa do consentimento de cada um dos nubentes
perante quatro testemunhas, duas das quais não podem ser parentes sucessíveis
dos nubentes.
Registo
➢ Deve redigir-se uma ata do casamento por documento escrito e sem
formalidades especiais, assinado por todos os intervenientes que saibam e
possam faze-lo.
➢ Organizado o processo final do conservador é proferido no prazo de 3 dias a
contar da data da última diligencia do processo.
Caso contrário, o conservador organiza oficiosamente, com base na ata, o
processo preliminar de casamento, sendo que o processo deve estar concluído no
prazo de 30 dias a contar da data do casamento.
O casamento urgente fica sujeito a homologação (reconhecer oficialmente) do
conservador, que no despacho final deve fixar expressamente todos os elementos que
devem constar de assento.
O casamento não deve ser homologado se:
➢ Não se verificarem os requisitos exigidos por lei;
➢ Não tiverem sido observadas as formalidades prescritas para a celebração do
casamento urgente;
➢ Se houver indícios sérios de serem supostos ou falsos esses requisitos ou
formalidades;
➢ Se o casamento tiver sido contraído com algum impedimento dirimente;
➢ Se o casamento tiver sido considerado como católico pelas autoridades
eclesiásticas e como tal se encontrar transcrito.
O CASAMENTO HOMOLGADO É JURIDICAMENTE INEXISTENTE.
Processo
➢ A declaração de casamento deve conter a indicação do ministro de culto
credenciado para o ato. ( a qualidade do ministro de culto que presidirá à
celebração do casamento e a sua credenciação para a prática do ato devem ser
oficiosamente comprovadas pelo conservador, através de comunicação com a
igreja ou comunidade religiosa)
➢ A conservatória deve comprovar, junto do registo de pessoas coletivas religiosas,
a radicação da igreja ou comunidade religiosa no país e a competência dos
órgãos para a emissão daqueles documentos.
Página 36 de 75
DFM
Invalidade do casamento
Existem 3 graus de invalidade do casamento
➢ Inexistência
➢ Nulidade
➢ Anulabilidade
É importante fazer-se a distinção entre nulidade e inexistência.
Nulidade: o negócio não produz os efeitos a que é dirigido segundo a vontade das
partes, mas a lei reconhece a sua existência como facto jurídico, a que liga determinados
efeitos.
Inexistência: a lei não reconhece sequer a existência do negócio, que não produz efeitos
nem como negócio nem como facto jurídico.
NÃO HÁ CASAMENTOS NULOS, MAS SIM ANULÁVEIS.
Inexistência do casamento
Os casos de inexistência estão previstos no art 1628º do CC e são:
➢ Os casamentos celebrados perante quem não tinha competência funcional para o
ato.
➢ Os casamentos em que falte a declaração de vontade dos nubentes ou de um
deles.
É de notar, que não é, porém, inexistente, nem sequer anulável, o casamento celebrado
perante funcionário de facto (art 1629º). (funcionário de facto trata-se daquele que sem
ter competência funcional para o ato, exercia publicamente as correspondentes funções,
Página 37 de 75
DFM
Casos de anulabilidade
Os casos de anulabilidade são exclusivamente os do art 1631º do CC.
São anuláveis:
a) Os casamentos contraídos com impedimento dirimente (falta de idade nupcial,
demência notória, interdição ou inabilitação por anomalia psíquica, casamento
anterior não dissolvido, parentesco na linha reta, parentesco no 2º grau da linha
colateral, afinidade na linha reta e condenação por homicídio).
b) Casamentos celebrados com falta de vontade por parte de um ou de ambos os
nubentes (incapacidade acidental ou outra causa que determine a falta de
consciência do ato, erro acerca da identidade física do outro contraente, coação
física e simulação).
c) Os casamentos em que tenha havido vício da vontade juridicamente relevante
(erro-vicio e coação moral).
d) Os casamentos celebrados sem a presença das testemunhas exigidas por lei.
Regime da anulabilidade
A anulabilidade não é invocável para qualquer efeito, judicial ou extrajudicial, enquanto
não for reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim (art
1632º), além disso a ação de anulação só pode ser proposta por certas pessoas (art
1639º-1642º) e dentro de certos prazos (art 1643º- 1646º)
Pode dizer-se que na lei há três tipos ou regimes diferentes de anulabilidade, consoante
os interesses em vistas dos quais a anulabilidade é estatuída.
1. Há casos em que a lei prescreve a anulabilidade do casamento no interesse dos
cônjuges e as suas famílias e também no interesse publico.
São os casos em que o casamento é contraído com impedimento dirimente. O
círculo das pessoas que podem propor a ação de anulação é aqui muito amplo.
o Casos em que o motivo da anulabilidade é temporário, aqui admite a lei
que a anulabilidade seja sanada e marca um curto prazo, em princípio
para a propositura da ação, ou não permite que a anulação seja requerida
depois do motivo da anulabilidade ter cessado.
Casos de demência notória, interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica e casamento anterior não dissolvido.
o Casos em que o motivo da anulabilidade é permanente, agora a lei não
permite que seja sanada a anulabilidade e esta pode ser arguida em prazo
muito mais longo. Inserem-se aqui os casos de o casamento ter sido
Página 38 de 75
DFM
Noção
Declarado nulo ou anulado o casamento, os efeitos que este produziu até à data da
declaração de nulidade ou da anulação podem manter-se quando certos pressupostos se
verifiquem. É o que se chama casamento putativo.
A lei atribui, pelo casamento putativo, eficácia a uma materialidade tornando-a
produtora de consequências jurídicas, é forçoso dar a esse instituto foros de inteira
autonomia. O casamento putativo é o facto material que se revela pela aparência dum
casamento, e a que lei atribui efeitos análogos aos desse ato segundo Pires de Lima.
Pressupostos
➢ É necessária a existência do casamento. ( se o casamento é inexistente, por se
verificar alguma das situações previstas no art 1628º, não tem efeitos putativos).
➢ É preciso que o casamento tenha sido declarado nulo ou anulado (art 1647º nº1 e
3): a invalidade do casamento não opera ipsu iure (art 1632º) e, enquanto não for
reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim o
casamento produz todos os seus efeitos.
➢ A boa- fé dos cônjuges ou pelo menos de algum deles, mas não pode colocar-se
no mesmo plano dos anteriores. A boa-fé dos cônjuges ou de algum deles é
necessária para que o casamento produza efeitos em relação aos cônjuges ou os
efeitos favoráveis ao cônjuge de boa fé, e reflexamente produza afeitos em
relação a terceiros. A eficácia putativa em relação dos filhos não depende, porém
da boa fé dos cônjuges, como resulta o art 1827º essa eficácia produz-se ainda
que ambos tenham contraído o casamento de boa-fé.
A boa fé dos cônjuges consiste na ignorância desculpável do vicio causador da
nulidade ou anulabilidade (art 1648º nº 1). A boa fé dos cônjuges deve existir no
momento da celebração do casamento e só nele.
Página 39 de 75
DFM
Efeitos
Quanto aos efeitos do casamento, este mantém-se para o futuro, até à data do transito
em julgado da sentença de anulação do casamento civil (art 1647º nº1) ou até ao
averbamento da sentença do tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento
católico (art 1647º nº3), os efeitos do casamento já produzidos, mas não se produzem
novos efeitos.
Deste modo a declaração de nulidade e anulação só operam ex nunc.
Página 40 de 75
DFM
Efeitos do casamento
Princípios fundamentais
O art 1671º enuncia os dois princípios fundamentais por que se rege a matéria dos
efeitos pessoais do casamento:
➢ Princípio da igualdade dos cônjuges;
➢ Princípio da direção conjunta da família;
Página 41 de 75
DFM
o Residência da família.
Nota: fica de fora a vida pessoal, vida privada do marido e da mulher.
➢ Dever de fidelidade
O dever de fidelidade obriga cada um dos cônjuges, em primeiro lugar, a não ter
relações sexuais consumadas com outra pessoa que não seja o seu cônjuge.
Quando falamos em relações sexuais consumadas abrangemos a copula e ainda
o coito anal e oral.
Não é só a relações consumadas que constituem violação do dever de fidelidade,
uma tentativa de adultério constitui uma violação do mesmo dever.
São ainda violações do dever de fidelidade a conduta licenciosa ou desagrada de
um dos cônjuges nas suas relações com terceiro, a ligação sentimental e a
correspondência amorosa que mantém com ele etc…
Página 42 de 75
DFM
➢ Dever de coabitação
A palavra “coabitar” tem um sentido próprio e mais amplo no direito
matrimonial.
“Coabitar” não quer dizer apenas habitar em conjunto na mesma casa, mas viver
em comunhão de leito, mesa e habitação tori, mensae et habitationis.
o Comunhão de leito
O casamento obriga os cônjuges ao chamado “débito conjugal”. Isto é, o
casamento obriga a uma limitação licita do direito à liberdade sexual, no
duplo sentido de que a pessoa casada fica obrigada a ter relações sexuais
com o seu cônjuge e a não ter essas relações com terceiros.
A recusa de consumar o casamento ou de manter relações sexuais com o
outro cônjuge constitui violação do dever de coabitação.
o Comunhão de mesa
A comunhão de mesa, a vida em economia comum é o segundo aspeto
em que se analisa o dever de coabitação.
o Comunhão de habitação
De acordo com o princípio da igualdade dos cônjuges, são estes que
devem escolher de comum acordo a residência familiar, ou seja, a terra e
o local onde vão viver, nos termos da lei , devem os cônjuges atender
nomeadamente às exigências da sua vida profissional, ao interesse dos
filhos e à salvaguarda da unidade familiar.
A residência da família é o lugar do cumprimento do dever de
coabitação, falando linguagem do direito das obrigações, escolhida a
residência da família, ambos os cônjuges têm a obrigação de viver aí,
salvo motivos ponderosos em contrário.
➢ Dever de cooperação
O art 1672º menciona o dever de cooperação, que importa para os cônjuges.
o Obrigação de socorro e de auxílio mútuo: a primeira obriga os cônjuges
nas horas boas e a nas horas más, na felicidade como na provação.
o Obrigação de assumirem em conjunto as responsabilidades inerentes à
vida da família que fundaram (art 1674): obriga os cônjuges a assumirem
em conjunto as responsabilidades inerentes à vida da família.
➢ Dever de assistência
O dever de assistência compreende a obrigação de prestação de alimentos e a de
contribuição para os encargos da vida familiar.
o Dever de prestação de alimentos
O dever de alimentos no caso de separação de pessoas e bens está regulado
no art 2016º
A quem incumbe a obrigação de alimentos?
Segundo o art 1675º, esta obrigação assente no apuramento do cônjuge
culpado ou principal culpado na separação, fazendo assim resistir no direito
português a relevância da culpa.
Qual o objeto da obrigação de alimentos?
Segundo o art 2004º segundo o qual o montante dos alimentos depende das
necessidades de quem os pede e das possibilidades de quem os presta.
o Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar
Página 43 de 75
DFM
Página 44 de 75
DFM
Nome
Os efeitos do casamento quanto ao nome patronímico, ou seja, aos apelidos dos
cônjuges estão regulados nos art 1677º a 1677º-C, os quais se encontram em
conformidade com o princípio da igualdade.
A regra fundamental é a do art 1677º segundo a qual cada um dos cônjuges conserva os
seus próprios apelidos, mas pode acrescentar-lhes apelidos do outro, até ao máximo de
dois.
É de ressalvar que nenhum dos cônjuges tem a obrigação de juntar apelidos do outro
cônjuge aos seus, podendo, inclusivamente, renunciar em qualquer momento aos
apelidos adotados.
A pretensão para adotar o apelido do outro cônjuge deve ser formulada em requerimento
dirigido ao funcionário da conservatória detentora do assento de nascimento do cônjuge,
ao qual é averbada a alteração dos apelidos.
Página 45 de 75
DFM
Efeitos da separação
Ora, em primeiro lugar, não pode esquecer-se que a separação se destina a solucionar
uma crise de vida matrimonial e que, portanto, é preciso que o vínculo conjugal se
relaxe o suficiente para que a crise matrimonial seja resolvida através da separação. Mas
em segundo lugar não pode esquecer-se que a separação não é o divórcio e, portanto,
não pode autorizar os cônjuges a exercer antecipadamente direitos dependentes da
dissolução do matrimónio.
Portanto, se o vínculo conjugal se mantém e os cônjuges mantêm esse estado (art 1795º-
A), hão de manter-se todos os efeitos do casamento que lhe são absolutamente
essenciais, de tal forma que o casamento não possa conceber-se sem eles. P.e. os
cônjuges separados não podem contrair um novo e válido matrimónio, sob pena de
bigamia.
Efeitos pessoais/plano das pessoas
Mantém -se…
➢ Dever de fidelidade conjugal (art 1795º-A e 1795ºd) nº3): trata-se de um dos
deveres essenciais do matrimónio, uma vez que um casamento em que os
cônjuges não estivessem obrigados a guardar fidelidade conjugal e o adultério
fosse, portanto, lícito, seria algo que não poderia conceber-se.
➢ Dever de respeito e cooperação: este dever também se mantém embora o seu
conteúdo se altere em consequência da separação. No que toca ao dever de
respeito, mantém-se o lado negativo, portanto, cada um dos cônjuges continua
obrigado, designadamente, a não ofender a integridade física ou moral do outro,
Página 46 de 75
DFM
porém não será exigível a cada um dos cônjuges, depois da separação o interesse
pela pessoa e pela vida do outro a que se reconduz o lado positivo do dever de
respeito.
➢ Dever de alimentos
Cessa
➢ Dever de coabitação (art 1795º-A)
➢ Dever de assistência (na parte de contribuir para os encargos da vida familiar)
Então e o regime de bens que fica em vigor entre os cônjuges depois da reconciliação?
O que se entende e que a reconciliação dos cônjuges repõe em vigor o mesmo regime
de bens que vigorava antes da separação. Mas não deverá permitir-se aos cônjuges
escolher livremente o regime de bens do casamento.
Página 47 de 75
DFM
Divórcio
Noção: já vimos que o divórcio e a separação e bens são os dois remédios que o nosso
direito oferece para as situações de crise matrimonial que, pela sua gravidade, justificam
uma modificação do regime normal do casamento. Na separação esta modificação
traduz-se em um relaxamento ou afrouxamento da relação matrimonial, no divórcio
consiste em uma inteira rutura da mesma relação da qual os cônjuges ficam
desvinculados. Entende-se por divórcio justamente a dissolução do casamento decretada
pelo tribunal ou pelo conservador do registo civil, a requerimento de um dos cônjuges
ou dos dois, nos termos autorizados por lei.
Modalidades de divórcio
O divórcio pode revestir duas modalidades:
➢ Sem consentimento de um dos cônjuges: é pedido por um dos cônjuges contra o
outro e com fundamento em determinada causa;
➢ Por mútuo consentimento : é pedido por ambos os cônjuges por comum acordo e
sem indicação da causa porque é pedido.
o Judicial: quando é decidido em tribunal.
o Administrativo: quando é decidido em conservatória do registo civil.
Para além do caso já conhecido de os cônjuges, em processo de divórcio sem
consentimento de um cônjuge, acordarem em se divorciar por mutuo consentimento, os
tribunais também são agora competentes quando os cônjuges estiverem de acordo
Página 48 de 75
DFM
acerca do divórcio, mas não conseguirem fazer acordo sobre algum dos temas previstos
no art 1755º, ou quando o acordo apresentado não for considerado razoável e não poder
ser homologado, o processo é apresentado no tribunal ou é enviado para o tribunal
respetivamente. O juiz decretará o divórcio por mútuo consentimento, depois de ter
determinado as consequências do divórcio que os cônjuges não conseguiram
combinar/acordar entre eles.
Página 49 de 75
DFM
Divórcio administrativo
O processo de divórcio só é judicial nos casos em que os cônjuges não apresentam
algum dos acordos a que se refere o art 1775º nº1 do CC.
O processo pode ser instaurado em qualquer conservatória do registo civil mediante
requerimento assinado pelos cônjuges ou pelos seus procuradores, o pedido é instruído
com os documentos mencionados no art 272º do Código de Registo Civil e ainda com o
acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais se houver filhos menores e
esse exercício não estiver já regulado judicialmente.
Recebido o requerimento, e se não for caso de indeferimento liminar por o pedido não
vir devidamente instruído, para vermos quais são os termos ulteriores do processo temos
de distinguir duas hipóteses:
1. Não haver filhos menores/ havendo filhos menores o exercício das
responsabilidades parentas já estar judicialmente regulado:
Nesta situação o conservador deve convocar os cônjuges para uma conferencia
em que informa os cônjuges da existência de serviços de mediação familiar. Se
os cônjuges, ou algum deles, desistirem do pedido, o conservador fará consignar
em ata a desistência e homologá-la-á.
Se os cônjuges mantiverem o propósito de se divorciar deve verificar-se se estão
preenchidos os pressupostos legais do divorcio e apreciar designadamente, os
acordos sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que deles carece e o destino
da casa de morada de família, para o efeito pode determinar a prática de atos e a
produção da prova eventualmente necessária.
2. Haver filhos menores e ia ainda não estar não estar regulado o exercício das
responsabilidades parentais já estar judicialmente regulado:
Nesta hipótese o art14º nº2 do decreto-lei nº272/2001 manda acrescentar aos
documentos referidos no art 272º nº1 do Código de Registo Civil o acordo dos
cônjuges sobre o exercício das responsabilidades parentais.
No caso, antes de marcar dia para a conferencia deve o conservador enviar o
processo de divorcio ao Ministério Publico, junto da secção de competência
especializada do tribunal de comarca, para que o MP se pronuncie, no prazo de
30 dias, sobre o acordo dos cônjuges acerca do exercício das responsabilidades
parentais.
Se o MP, entender que o acordo não acautela suficientemente os interesses dos
menores e que lhe devem ser feitas determinadas alterações, o processo baixa à
Página 50 de 75
DFM
Divórcio judicial
O divórcio por mútuo consentimento reveste caracter judicial quando, em processo de
divorcio sem consentimento de um dos cônjuges, estes acordarem em se divorciar por
mútuo consentimento, correspondendo a iniciativa do juiz nesse sentido ou por
iniciativa própria.
Este era o único caso previsto na lei anterior a 2008.
Ao divorcio litigioso convertido em divorcio por mútuo consentimento são aplicáveis
aos art 1775 a 1778-A CC e os art 994º a 999º Código de Processo Civil.
O art 931º nº3 do Código de Processo Civil dispõe que na tentativa de conciliação ou
em qualquer outra altura do processo os cônjuges podem acordar no divórcio por mútuo
consentimento “quando se verifiquem os necessários pressupostos” e o nº4 que
estabelecido esse acordo, se seguem no próprio processo os termos dos art 994º e ss
“com as necessárias adaptações”, ou seja, com as adaptações resultantes do facto de já
terem corrido alguns termos do processo de divórcio litigioso.
A lei permitiu em qualquer altura do processo a conversão do divórcio litigioso em
divorcio por mútuo consentimento, conversão que, para verdadeiramente o ser, exige
que não se inicie novo processo, o que sempre seria permitido aos cônjuges mesmo que
a lei não o dissesse, mas que se aproveitem o mais possível os atos já praticados no
âmbito do processo litigioso.
Assim se já tiver obtido o acordo dos cônjuges quanto aos alimentos e à regulação do
exercício das responsabilidades parentais, e ainda, o seu acordo quanto à utilização da
casa de morada de família no período da pendência do processo, não deve o juiz
desconsiderar os acordos estabelecidos, ainda que não possa dispensar-se de apreciar se
tal acordo acautela, suficientemente os interesses dos cônjuges e dos filhos, pois esse é
um dos pressupostos legais do divorcio por mútuo conhecimento
Página 51 de 75
DFM
Página 52 de 75
DFM
A separação exige em primeiro lugar a separação de facto dos cônjuges, integrada por
dois elementos:
1. Elemento objetivo: divisão do habitat, a falta de vida em comum dos cônjuges,
que passam a ter residências diferentes.
Página 53 de 75
DFM
2. Elemento subjetivo: disposição interior/ propósito como diz o art 1782º da parte
de ambos ou de um deles, de não restabelecer a comunhão de vida matrimonial.
NOTA: é por causa deste elemento que não haverá separação de facto se por
exemplos os cônjuges estão separados por exemplo por causa da prisão de um
eles.
Portanto podemos concluir que, só quando não exista comunhão de vida entre os
cônjuges e haja da parte de ambos ou de um deles, o proposto de não restabelecer a
comunhão de vida, e quando aquela situação e este propósito se mantenham durante
determinado prazo (1 ANO NA NOSSA LEI), é que a esperança de reconciliação se
torna remota e o legislador deixa de acreditar nela, permitindo a qualquer um dos
cônjuges pedir o divorcio com fundamento nas alíneas a) do art 1781º.
Página 54 de 75
DFM
Conteúdo da sentença
A sentença que julga procedente o pedido em ação de divorcio sem consentimento
de um dos cônjuges não se limita muitas vezes a decretar o divorcio, pode ainda
decidir sobre o destino da casa da morada da família, própria ou tomada de
arrendamento, condenar um dos ex-cônjuges a prestar alimentos ao outo, autorizar o
cônjuge que adotou apelidos do outro a conservar esses apelidos entre outras.
Página 55 de 75
DFM
Efeitos do divórcio
O divórcio dissolve o casamento, ou seja, extingue a relação matrimonial e faz cessar,
para o futuro. Os efeitos da relação , mantendo-se, porém, os efeitos já produzidos.
O divorcio só opera ex nunc (deste momento em diante) e não ex tunc (desde início).
P.e. o cônjuge que ficou emancipado pelo casamento não volta a ser menor.
A partir do momento do divórcio:
➢ Extinguem-se:
o Dever de fidelidade;
o Dever de coabitação;
o Dever de cooperação;
o Dever de respeito;
o Dever de não cometer injurias indiretas;
o Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar;
Data em que se produzem os efeitos do divórcio
Os efeitos do divórcio produzem se em regra, a partir do trânsito em julgado da sentença
(art 1789º nº1 CC)
No entanto há duas exceções à regra geral:
1. Os efeitos do divórcio retrotraem-se à data da propositura da ação quanto às
relações patrimoniais entre os cônjuges. P.e. Sendo os cônjuges casados no
regime de comunhão geral e um deles recebe uma herança na pendencia de ação
de divórcio, os bens deixados não e comunicam ao outro cônjuge, graças ao
princípio da retroatividade. (art 1789º nº1, 2ªparte)
2. Se a coabitação entre os cônjuges tiver cessado antes da propositura da ação e a
falta de coabitação estiver provada no processo, pode qualquer dos cônjuges
requerer que a sentença fixe a data em que a coabitação cessou, retrotraindo-se
os efeitos patrimoniais do divorcio a essa data. (art 1789º nº2 do CC).
A prova de que a coabitação cessou em determinada data faz-se em regra quando
o pedido de divórcio sem consentimento de um do cônjuge se funda em
separação de facto dos cônjuges. P.e. suponhamos que a mulher, casada em
comunhão de adquiridos, pede o divórcio contra o marido, em ação de
reconvenção, com fundamento na alínea a) do art 1781º, o tribunal tem de apurar
neste caso se a separação de facto já dura há muito mais tempo e pedir ao
tribunal que fixe a dará em que cessou a coabitação, para que sejam
considerados próprios deles e não entrem na partilha os bens que tenha
adquirido a titulo oneroso depois da data do termo da coabitação, por se
considerar divorciada para efeitos patrimoniais, desde essa data.
Termo da comunhão (partilha) (art 1688ºCC)
Com a dissolução do casamento cessam as relações entre os cônjuges e pode proceder-
se à partilha do casal.
A partilha faz-se extrajudicialmente.
No caso de divórcio a partilha pode também fazer-se no próprio processo de divórcio ou
separação de pessoas e bens por mútuo consentimento, desde que havendo no
património bens imóveis, moveis ou participações sociais sujeitas a registo, estejam
Página 56 de 75
DFM
Página 57 de 75
DFM
Obrigação de alimentos
A obrigação de alimentos é um prolongamento do dever de assistência conjugal.
Quem tem direito a alimentos?
Os cônjuges que pretendam divorciar-se ou os ex-cônjuges têm o direito de
convencionar acerca da prestação de uma pensão de alimentos art 2014º CC.
Mas nem sempre os cônjuges que pretendem divorciar-se, ou os Ex- cônjuges,
conseguem pôr-se de acordo acerca deste assunto. É então que tem sentido perguntar
quem tem o direito de pedir alimentos.
Depois de 2008, abandonada a relevância da culpa, qualquer dos ex-cônjuges tem
direito a alimentos e, portanto, não há um verdadeiro regime especial.
Pode , excecionalmente, o tribunal por motivos de equidade, negar alimentos. P.e. um
Ex- cônjuge que delapidou sistematicamente o património conjugal, desprezou
oportunidades de emprego, praticou todos os factos que violaram direitos fundamentais
do outro e que contribuíram ostensivamente para a rotura definitiva do casamento e,
agora, pede os alimentos que o outro cônjuge terá dificuldade em pagar.
Modo de estabelecer a obrigação de alimentos
➢ Alimentos provisórios: são alimentos que fixados liminarmente para suprir as
necessidades urgentes do alimentário durante o tramite da ação.
Página 58 de 75
DFM
Alimentos
provisórios
➢ Alimentos definitivos
Alimentos definitivos
No caso de divórcio
Acordo entre os por mutuo
cônjuges consentimento
Acordo entre os
conjuges homolgado
pelo juiz
Acordo estimulado
pelo juiz, em processo
de divorcio litigioso
Página 59 de 75
DFM
Obrigação de indemnizar
No divórcio não se procura um culpado nem um principal culpado, nem um inocente,
que possa ser considerado lesado, e, portanto, o titular de um direito de indemnização
pela violação dos deveres conjugais.
O art 1792º vigente, porém prevê que possa haver lugar a responsabilidade civil nos
termos gerais. Ou seja, é verosímil que certos factos, praticados por um cônjuge
constituam ilícitos civis, violações dos direitos de personalidade do outro cônjuge,
dignos de tutela do direito.
As pretensões de indeminizações devem ser apresentadas nos tribunais próprios,
apreciadas e decididas com os critérios próprios da responsabilidade civil
extracontratual entre cidadãos.
Os ilícitos que podem fundamentar uma obrigação de indemnizar, portanto, não
resultam da mera violação de deveres especificamente conjugais, o ilícito resulta da
violação de deveres gerais de respeito, de ofensas a direitos de personalidade e a direitos
fundamentais.
Direito da filiação
Princípios fundamentais
➢ Direito de constituir família: todos têm o direito de ver reconhecidos os
vínculos de parentesco;
➢ Princípio da não discriminação entre filhos nascidos do casamento e fora
do casamento: a leis ordinária não pode dificultar o estabelecimento da
filiação fora do casamento;
➢ Princípio de proteção da adoção: a adoção é também uma forma de
estabelecimento da filiação;
➢ Princípio de proteção da família: a realização pessoal dos membros da
família impõe a constituição de vínculos de parentesco (importa aqui, por ex.,
a regulação da procriação medicamente assistida);
➢ Princípio da proteção da maternidade e paternidade: os pais são
insubstituíveis, pelo que têm legitimidade para promover, em nome dos
filhos, as diligências necessárias ao estabelecimento da filiação
➢ Princípio da proteção da infância: a lei deve assegurar o desenvolvimento
integral das crianças.
Importa referir também outros princípios constitucionais que, embora não se ocupem
diretamente das relações familiares, podem tem incidência importante na discussão
de alguns temas do direito da filiação:
➢ Direito à identidade pessoal (art. 26º CRP): este direito constitucional
comporta duas vertentes essenciais:
1. Direito a ter um nome;
2. Direito a historicidade pessoal;
➢ Direito ao desenvolvimento da personalidade (art. 26º CRP): a todos os
indivíduos é reconhecida autonomia e autodeterminação individuais,
conferindo-se especial proteção às crianças e jovens (art. 69º e 70º CRP).
Página 60 de 75
DFM
Página 61 de 75
DFM
termos do qual a mulher que queira entregar o filho para adoção só o pode fazer 6
semanas após o parto.
Página 62 de 75
DFM
Página 63 de 75
DFM
A lei não define quem tem legitimidade passiva para esta ação, o que recomendaria,
a aplicação da regra geral do art. 26º CPC: seria demandada a pessoa declarada como
mãe, bem como o filho, enquanto titulares da relação material controvertida.
Contudo, esta solução deixaria de fora o pai. A entender-se que os vínculos de
filiação são sempre trilaterais, talvez seja justificada a mobilização do art. 1846º nº1
CC, relativo à ação de impugnação da paternidade, o qual manda “demandar a mãe, o
filho e o presumido pai”.
➢ Averiguação oficiosa
A averiguação oficiosa está regulada nos art 1808º a 1813º CC, quanto à maternidade,
e nos art. 1864º e 1865º CC, quanto à paternidade. Este regime será exposto no
enquadramento da matéria do estabelecimento da paternidade.
Reconhecimento judicial
A ação comum de investigação da maternidade
No caso raro de não ter havido estabelecimento administrativo da maternidade, é
possível promover uma ação judicial destinada a obter uma sentença que declare a
maternidade. Nesta matéria importa, desde logo, referir os pressupostos impostos na
lei para que seja possível o recurso a esta ação:
1. Pressuposto negativo – art. 1815º CC: havendo prévio registo de maternidade,
a ação idónea é a ação de impugnação da maternidade, e não a ação de
investigação;
2. Pressuposto positivo – art. 1814º CC: não havendo registo prévio, o
estabelecimento da maternidade tem de resultar de ação especialmente
intentada pelo filho para esse efeito (portanto, a investigação da maternidade
não poderá ser suscitada como incidente processual no âmbito de uma outra
ação).
➢ Legitimidade ativa
Nos termos já acima desvelados, a ação que nos ocupa pode ser intentada:
o Pelo filho, em nome próprio (se já dispuser de capacidade judiciária para
tal) – art. 1814º CC;
Página 64 de 75
DFM
Página 65 de 75
DFM
➢ Legitimidade passiva
No que respeita à legitimidade passiva, deve ser demanda a pretensa mãe, bem como
o marido da investigada (art. 1822º/1 CC), o que possibilitará o estabelecimento da
paternidade em relação a este último ou, sendo caso disso, a impugnação da
paternidade presumida (art. 1823º CC).
Pode acrescer ainda que o filho tenha sido perfilhado por pessoa diversa do marido
da mãe. De facto, sendo omisso o registo quanto à maternidade, não opera a
presunção de paternidade (art. 1826º CC), pelo que era possível um terceiro, que não
o marido da investigada, declarar-se como pai. Em tais circunstâncias, a posterior
ação de investigação da maternidade deverá ainda ser dirigida contra o perfilhante, na
medida em que o eventual estabelecimento da maternidade que daí advier irá influir
sobre a paternidade também.
➢ Impugnação da paternidade do marido
A primeira nota a apontar é a de que a esta impugnação, permitida pelo art. 1823º
CC, são aplicáveis as regras previstas para a autónoma ação de impugnação da
paternidade (art. 1838º e ss. CC). No fundo, é como se o pedido de impugnação da
paternidade fosse enxertado na ação de investigação da maternidade, mas sem que as
suas regras fundamentais se modifiquem.
Segundo o art 1823º pode ser sempre impugnada a presunção de paternidade do
marido da mãe.
Conflitos de maternidade
Não é de esperar que se verifiquem conflitos de maternidade, não só pelo caráter
ostensivo do parto, mas também porque a maternidade resulta do facto do
nascimento. Os conflitos que eventualmente possam vir a surgir reconduzem-se a três
hipóteses:
➢ Alguém declara o nascimento e indica a maternidade e, posteriormente, uma
outra mulher pretende fazer uma declaração de maternidade em seu favor em
relação ao mesmo filho;
➢ Após o estabelecimento normal da maternidade, o filho pretende intentar uma
ação de investigação da maternidade contra uma mulher diferente da que
consta como sua mãe;
➢ Estando em curso uma ação de investigação contra uma mulher, uma outra
pretende fazer declaração de maternidade em seu favor.
O art. 1815º CC impede qualquer ação de investigação da maternidade em
contradição com um registo anterior. Depois, parece ser de aplicar analogicamente a
estas situações o disposto nos art. 1848º/2 e 1863º CC.
Página 66 de 75
DFM
Presunção
Apesar do disposto no art 1826º do CC, a Lei nº7/2001, de 11 de maio não estendeu a
presunção da paternidade àquele que viva em união de fato com a mãe do filho.
Assim o estabelecimento da paternidade seguirá ouros modos, como a perfilhação, a
averiguação oficiosa e o reconhecimento judicial
Nos termos do art. 1826º/1 CC: “presume-se que o filho nascido ou concebido na
constância do matrimónio da mãe tem como pai o marido”.
Esta presunção, tradicional do âmbito do direito da filiação, assenta na probabilidade
forte de o marido da mãe ser o autor da fecundação, de acordo com as regras da
normalidade e experiência.
A presunção de paternidade expedida funciona relativamente:
o Ao filho concebido antes do casamento e nascido durante o matrimónio;
o Ao filho nascido e concebido durante o matrimónio;
o Ao filho concebido durante o matrimónio e nascido após a sua dissolução.
NOTA: ao filho que não seja concebido nem nasça durante o casamento, ainda que
entre um e outro momento e mãe tenha sido casada, não se aplicará a presunção de
paternidade.
Página 67 de 75
DFM
A presunção legal que nos ocupa, assenta num juízo de probabilidade: o legislador
resolve um facto desconhecido (saber quem é o pai) a partir de circunstâncias
conhecidas (os nascimentos de mãe casada), recorrendo aos princípios de
normalidade patentes.
Como é evidente, esta é uma presunção ilidível. Admite-se, de facto, uma zona de
erro possível, a qual abrange as situações (menos prováveis) em que o marido da mãe
não é o pai. Nesses casos, admite-se a correção do erro, mediante prova em contrário.
Página 68 de 75
DFM
Página 69 de 75
DFM
➢ Considera um ato livre porque deve ser praticada por quem tiver uma vontade
esclarecida, devendo ser formada com liberdade exterior, sem pressão de
violências ou ameaças. Em Portugal, corresponde a um ato que o progenitor
pratica sem ter de pedir o consentimento ou a ausência de outrem.
➢ Se não houver reconhecimento voluntário, existe reconhecimento judicial.
Assim, dizer que o reconhecimento da paternidade é livre não é totalmente
correto, uma vez que alguém que não queira ser pai e não o reconheça
voluntariamente, levará a que se siga para o reconhecimento judicial.
Guilherme Oliveira considera que a perfilhação tem de corresponder à verdade
biológica, sendo que para perfilhar não é necessário que haja mãe. É uma relação
unilateral que abrange a ligação mãe e filho e pai e filho, independentemente de serem
ou não serem casados.
Página 70 de 75
DFM
Exceção (artigo 1817º nº3 do CC): estabelece o prazo de 3 anos nos seguintes casos
especiais:
o Ter sido impugnada por terceiro, com sucesso, a maternidade do investigante.
o Quando o investigante tenha tido conhecimento, após o decurso do prazo do
artigo 1817º/1 do CC, de factos ou circunstâncias que justifiquem a
investigação, designadamente quando cesse o tratamento como filho pela
pretensa mãe.
o Em caso de inexistência de maternidade determinada, quando o investigante
tenha tido conhecimento superveniente de factos ou circunstâncias que
possibilitem e justifiquem a investigação.
Prova da Paternidade
A prova da paternidade pode ser uma prova direta, sendo que são admitidos os testes de
ADN para que o filho prove ao juiz que aquela pessoa é o seu pai, mas se o pretenso pai
não quiser fazer o teste, pode legitimamente recusar-se, pois o teste de ADN é sempre
de realização voluntária. Esta recusa é valorada, pois se o pretenso pai não faz o teste de
ADN, porque possui uma objeção religiosa, o tribunal aprecia de uma maneira, mas se
se recusa porque é sucessivamente convocado e refere sempre que não o faz, então o
tribunal considera de outra maneira.
Todavia, a prova pode ser indireta, caso consiga provar que a sua mãe teve relações
sexuais com determinado investigado naquele período de conceção e, provando que a
sua mãe não teve relações com mais ninguém, prova-se a paternidade.
O nosso legislador criou variadas presunções judiciais (artigo 1871º do CC) que têm a
função de inverter o ónus da prova (não se confunde com a presunção do artigo 1826º
do CC). No artigo 1871ºnº1 do CC, o legislador presume que o sujeito é considerado pai
em diversas situações. A presunção considera-se ilidida quando existam sérias
dúvidas sobre a paternidade do investigado, assente no artigo 1871ºnº2 do CC.
Página 71 de 75
DFM
Responsabilidades Parentais
Os pais têm um conjunto complexo de poderes-deveres que têm de exercer durante o
período em que o filho é menor. Anteriormente à reforma de 2008, a expressão que se
utilizava era ‘’poder paternal’’: pater potestas.
Página 72 de 75
DFM
Os pais têm competência de representação uma vez que os filhos menores não têm
capacidade de exercício de direitos. Todavia, existem certas situações em que os pais
não têm competência representativa:
➢ Atos puramente pessoais (casamento, perfilhação).
➢ Atos em que o menor tem o direito de praticar pessoal e livremente (artigo 127º
do CC).
➢ Atos respeitantes a bens cuja administração não pertence aos pais (artigo 1888º
do CC).
➢ Mas é este o padrão para este efeito? Os pais devem administrar os bens dos
filhos com o mesmo cuidado com que administram os seus bens, de acordo com
o artigo 1897º do CC.
Nos casos em que haja efetivamente dois progenitores, ambos têm de exercer as
responsabilidades parentais de igual forma. Assim, questiona-se de que forma se
articulam as suas competências e quem toma as decisões incluídas neste âmbito.
Página 73 de 75
DFM
o Progenitores não estão nem estiveram casados, não vivem nem viveram
em união de facto, simplesmente tiveram um filho (artigo 1912º do CC):
aplicam-se as regras que valem para o divórcio.
Página 74 de 75
DFM
➢ Artigo 1913º do CC: inibição do pleno direito, sendo uma inibição automática.
➢ Artigo 1915º do CC: inibição por decisão judicial, não sendo uma inibição
automática.
Quando cessarem as específicas razões que levaram à inibição, a inibição pode ser
levantada (artigo 1914º do CC). Existe, ainda, uma limitação do exercício das
responsabilidades parentais a nível de natureza pessoal (artigos 1918º e 1919º do
CC) e de natureza patrimonial (artigo 1920º do CC).
Página 75 de 75