Você está na página 1de 7

Do casamento

Definição:
O casamento é um ato jurídico negocial, solene e complexo, por meio do
qual homem e mulher constituem uma família reconhecida pelo Estado (art.
1.514, do CC).

Segundo César Fiúza, Direito civil, 12ª ed. Del Rey: Belo Horizonte, 2008,
p. 940, no Direito Brasileiro, o casamento é ato formal, plurilateral,
intuitu personae, dissolúvel, realizado entre pessoas.

Segundo o mesmo autor, casamento pode ser definido como: “união estável
e formal entre duas pessoas naturais, como o objetivo de satisfazer-se e
amparar-se mutuamente, constituído família” (FIÚZA, 2015, p. 1.191).

Formal, pois é solene, possui rito de celebração previsto em lei. Aliás, um


dos negócios mais solenes do direito ao lado do testamento (art. 1.535, do
CC). Plurilateral, pois não há contraposição, mas sim convergências de
vontades. É intutitu personae, pois é celebrado em razão das características
pessoais de cada um dos nubentes. É dissolúvel, pois pode ser desfeito a
qualquer momento, não se exigindo mais lapso temporal, após a Emenda
Constitucional nº 66/10. A partir da decisão do STF, reconhecendo a união
homoafetiva, tem-se autorizado o casamento civil de pessoas do mesmo
sexo (art. 226, § 3º., da CF). A Lei n. 12.852/2013, conhecida por Estatuto
da juventude, art. 17, abaixo transcrito, também contribuiu para o avanço
das relações homoafetivas.

Art. 17. O jovem tem direito à diversidade e à igualdade de


direitos e de oportunidades e não será discriminado por
motivo de:
I - etnia, raça, cor da pele, cultura, origem, idade e sexo;
II - orientação sexual, idioma ou religião;
III - opinião, deficiência e condição social ou econômica.

Natureza jurídica do casamento:

Sobre o tema existem 3 correntes doutrinárias: Segundo prestigiado


autor, Eduardo de Oliveira Leite. Direito de família, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004, p.48, v. 5, hoje está definitivamente pacificada a doutrina
que encara o casamento como um contrato especial.

1ª corrente: contrato: tem natureza de contrato natural e de sacramento


(sinais sagrados instituídos por Jesus Cristo, batismo),
2ª corrente: teoria francesa, há um estatuto pré-estabelecido ao qual os
nubentes aderem.

3ª corrente: natureza híbrida: contrato na formação e instituição no


conteúdo.

Segundo, César Fiúza, Direito civil, 12ª ed. Del Rey: Belo Horizonte, 2008,
p. 940, definido o casamento em seus principais contornos, qual seria sua
natureza? Com que outro instituto se aperfeiçoaria o casamento? Seria ele
contrato? Seria instituição social? Ou teria outra natureza? Duas
correntes principais se delineiam no Direito Ocidental. Os primeiros
defendem a natureza institucionalista do casamento. Para eles casamento é
instituição social, na medida em que é conjunto de regras aceitas por todos
para regular as relações entre esposos. Os segundos defendem a natureza
contratual do casamento enquanto convenção. O fato de ter disciplina
diferente dos demais contratos de Direito Privado não o torna menos
contrato, mas contrato especial, sui generis. Outros ainda dizem ter o
casamento duas naturezas: enquanto celebração é contrato; enquanto vida
em comum é instituição social.

A Igreja Católica se opõe à conceituação exclusivamente contratual do


casamento. Pois, nos contratos é possível a rescisão bilateral, que significa
a admissão do divórcio. E para a Igreja Católica o casamento é
indissolúvel.

Casamento possui aspectos de natureza patrimonial (regime de bens) e não-


patrimonial (art. 1.566, I, CC).

Definição e natureza jurídica do casamento no Direito Português:

CC Português de 1.867 – Casamento é um contrato perpétuo feito entre


duas pessoas de sexo diferente, com o fim de constituírem legitimamente a
família. – natureza contratual. - Monarquia

Dec. n. 1º da República – 1910 – O casamento é um contrato celebrado


entre duas pessoas de sexo diferente, com o fim de constituírem
legitimamente a família.

Dec. n. 3º de 1910 - autorizou a dissolução do casamento através do


divórcio.
CC Português de 1966 – art. 1577º - Casamento é o contrato celebrado
entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena
comunhão de vida, nos termos das disposições deste.

Após a CF/88: o casamento ou matrimônio é uma das formas de família,


para alguns a mais importante, em razão da tradição e da força da religião.
(art. 226, § 3º., da CF).

O que particulariza o casamento é a sua complexidade e oficialidade, pois


há inúmeros atos estatais: habilitação, celebração e registro público.

As demais entidades familiares são constituídas livremente. A título de


exemplo, cita-se a união estável (decorre de um situação fática “mundo dos
fatos” que passa a gerar repercussão no “mundo do direito”).

Por ser direito fundamental, a celebração é gratuita, entretanto o CC,


restringiu a gratuidade aos pobres. Pobreza utilizada para fins de gratuidade
do casamento é o mesmo critério utilizado para fins de concessão de
assistência judiciária em processo judicial.

Promessa de casamento

Direito romano: promessa mútua e recíproca de casamento futuro.


Semelhante ao atual noivado.
O atual Código Civil seguindo a orientação do de 1.916 não regulou os
esponsais (noivado), por considerar desnecessária tal menção em razão das
regras dos arts. 186 e 187, ambos do CC.

A validade do casamento depende de 2 requisitos:


1 – manifestação de vontade, art. 1514, do CC.
2 – declaração do juiz de direito, do juiz de paz ou do ministro de confissão
religiosa de que estão casados, art. 1535, do CC.

Antes da CF/88 a ausência de registro público convertia o casamento


incompleto em concubinato, sociedade de fato, aplicação da Súmula 380,
do STF.

O casamento por conversão da união estável não necessita de


habilitação, art. 1726, do CC. Juiz competente: a norma não é clara. Pode
ser: juiz de casamentos, juiz de direito corregedor do cartório ou juiz de
família.
A prova do casamento é a certidão expedida pelo registro público de
casamento.

O registro não é declaratório, pois tem natureza constitutiva.

Os efeitos do casamento são produzidos a partir da celebração.

Casamento religioso
No Brasil, antes da República, só existia o casamento religioso que era
regido pelo Direito Canônico.

Para o cristianismo o casamento é sacramento. Sacramento: sinais sagrados


(santos) instituídos por Cristo para a salvação dos fiéis. Exs: casamento,
batismo, comunhão, dentre outros.

O Dec. n. 181/1890, do governo provisório, regulamentou o casamento


civil, expressando a separação do Estado e da Igreja, negando qualquer
efeito ao casamento religioso.

O art. 72, § 4º., da Constituição de 1891, previa que: A República só


reconhece o casamento civil, sendo gratuita a sua celebração.

A Constituição de 1934, art. 146, admitiu a celebração perante ministro de


qualquer confissão religiosa, desde que tivesse havido habilitação perante
autoridade civil e fosse inscrito no registro público (Cartório de registro
civil).

A Constituição de 1937 passou a admitir o casamento religioso com efeito


civil, desde que ocorresse em cartório o processo para verificação dos
impedimentos matrimoniais, ou seja, celebrado o casamento, a certidão
fornecida pela Igreja seria registrada em cartório que emitiria certidão de
casamento.

Não há casamento religioso ao lado do casamento civil, mas efeitos civis da


celebração religiosa de casamento. A matéria está regulamentada pelo art.
226, § 2º., da CF; arts. 1.515 e1.516, do CC e arts. 71 a 75, da Lei n.
6.015/1973.

Conforme ressalta, César Fiúza, Direito civil, 12ª ed. Del Rey: Belo
Horizonte, 2008, p. 941, não obstante ter o casamento religioso validade
legal, devemos esclarecer que a Lei não dispensa os trâmites cartorários
que antecedem a cerimônia nupcial. O que a Lei dispensa é a celebração
de duas cerimônias, uma civil e outra religiosa.
Para o casamento religioso ter valor é necessário que seja celebrado por
Ministro de Religião que reconhecida pelo Estado brasileiro.

Realizada a celebração religiosa, o registro civil tem que ser promovido no


prazo de 90 dias, sob pena de se ter que fazer nova habilitação.

Habilitação pode ser posterior ou anterior à celebração, arts. 1.525 a 1.532,


do CC.

Idade núbil ou capacidade para casar


Art. 1.517, do CC, a capacidade civil plena ou maioridade civil é alcançada
quando a pessoa completa 18 anos (art. 5º., do CC).

CC/16 fixava a idade núbil em 16 anos para a mulher e 18 anos para o


homem.

Para contrair matrimônio a capacidade civil é reduzida para 16 anos. A lei


estabelece um limite de idade, no qual, presume-se que todos tornam-se
púberes (grau de discernimento para avaliar a importância do casamento).

A idade núbil varia de país para país, de acordo com a cultura e costumes
locais.

Os menores entre 16 e 18 anos podem casar, mas dependem de autorização


de ambos os pais.

- Quando o menor estiver sob tutela cabe ao tutor autorizar o casamento.

- O menor emancipado não necessita da autorização dos pais.

- Filho extraconjugal reconhecido por somente um dos genitores, basta a


autorização do que o reconheceu.

A recusa à autorização é direito do pai ou da mãe. Tem que ser fundada em


motivo razoável.

Se houver divergência entre o pai e a mãe, poderá o menor devidamente


representado requerer ao juiz que decida se a recusa é justificada ou não. Se
o juiz entender que a recusa não é legítima, autorizará a habilitação, art.
1.631, parágrafo único CC, art. 1.517, parágrafo único do CC e art. 1.519,
do CC.
A recusa conjunta dos pais é presumidamente razoável, não podendo o
Estado/juiz supri-la.

Além da recusa, poderá haver revogação da autorização, conforme art.


1.518, do CC.

Lei n. 13.146/2015, art. 6º.:

A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive


para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter
acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento
familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização
compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e
comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como
adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas.

Logo, foi revogado o antigo inciso IV do art. 1.557 do CC/2002

O art. 1.550 do Código Civil, que trata da nulidade relativa do casamento,


ganhou um novo parágrafo, preceituando que a pessoa com deficiência
mental ou intelectual em idade núbil poderá contrair matrimônio,
expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou
curador (§ 2º).

Art. 1.520 do CC trata-se de exceção à regra, pois pode haver o casamento


de menores que ainda não alcançaram a idade núbil, independentemente de
autorização dos pais em razão de gravidez ou para evitar a imposição de
pena criminal.

No que se refere à gravidez, trata-se reminiscência da concepção de


casamento com finalidade de procriação que tem como fonte o Direito
Canônico.

No que se refere segunda hipótese, trata-se de reminiscência a valores


morais tradicionais, pois o casamento do autor do crime com a menor
imuniza-o de pena.
Contudo, tem que se examinar as regras dos Arts. 213 a 216 – A do CP, eis
que a ação penal é pública.

Acórdão sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL. CASAMENTO. IDADE NÚBIL. SUPRIMENTO


JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. O casamento de
pessoa que ainda não atingiu a idade núbil somente pode ser realizado para
evitar imposição ou cumprimento de pena criminal, ou em caso de
gravidez, nos termos do art. 1.520 do Código Civil. Não comprovadas
nenhuma dessas situações de fato no caso concreto, deve ser confirmada a
sentença de improcedência da pretensão. RECURSO DESPROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70056105968, Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em
05/09/2013)

APELAÇÃO CÍVEL. SUPRIMENTO DE IDADE. AUTORIZAÇÃO


PARA O CASAMENTO. SITUAÇÃO DE FATO EXISTENTE.
ADOLESCENTE QUE CONTA 15 ANOS E DOIS MESES DE IDADE E
QUE JÁ COABITA COM PRETENSO ESPOSO. CABIMENTO. No caso,
o impedimento matrimonial da imaturidade fisiológica não pode se
sobrepor à realidade fática apresentada pela relação existente entre a
adolescente (com 15 anos e dois meses de idade) e seu pretenso esposo,
que já "vivem como se casados fossem" há mais de um ano, com o
consentimento de seus genitores, mormente quando se tem em vista que a
idade núbil, estatuída no art. 1.517 do CC, sempre foi exigida como
condição em respeito à prole e aos nubentes (em relação à capacidade para
a procriação) e quando se sabe que a existência de filhos não é requisito
substancial à formação da família. APELO PROVIDO. (Apelação Cível Nº
70054285366, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 15/08/2013)

Você também pode gostar