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A Direito do Trabalho
Direito do Trabalho
ISCAC | 2º Ano 1º semestre
Solicitadoria e Administração
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S.A Direito do Trabalho
Índice
Introdução....................................................................................................................................4
1. Evolução Histórica....................................................................................................................4
2. Noção, objeto e características gerais do Direito do Trabalho.................................................5
3. Fontes do Direito do Trabalho..................................................................................................7
3.1 Princípio do tratamento mais favorável.............................................................................7
3.2 Organização Internacional do Trabalho e União Europeia...............................................10
3.3 Constituição da República Portuguesa.............................................................................11
4. Instrumentos de Regulamentação Coletiva de Trabalho........................................................12
4.1 Instrumentos de regulamentação negociais.....................................................................15
4.2 Instrumentos de regulamentação não negociais..............................................................15
Parte II – Contrato de Trabalho..................................................................................................16
1. Noção Legal do Contrato de Trabalho................................................................................16
2. Algumas características do Contrato de Trabalho..............................................................20
3. A formação do contrato de trabalho..................................................................................21
3.1 Capacidade das partes: trabalho de menores..............................................................21
3.2 Idoneidade do objeto...................................................................................................23
4. Processo de formação do contrato....................................................................................24
4.1 Promessa de contrato de trabalho...............................................................................24
4.2 Princípio da liberdade e princípio da igualdade no acesso ao emprego.......................25
4.3 Fase pré-contratual e “direito à mentira”....................................................................26
5. Formalismo negocial: o princípio da consensualidade e as suas exceções.........................26
6. Invalidade do contrato de trabalho....................................................................................28
6.1 Invalidade parcial – art. 121º CT...................................................................................28
6.2 Invalidade total.............................................................................................................29
7. O Período Experimental.....................................................................................................30
8. Modalidades de contrato de trabalho: os múltiplos desvios ao modelo típico..................31
8.1 O contrato de trabalho a prazo ou a termo..................................................................31
9. O trabalho temporário (art. 172º)......................................................................................37
9.1 Contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária................39
10. Trabalho a tempo parcial..................................................................................................39
11. A comissão de serviço......................................................................................................40
Parte III – Os poderes patronais e os direitos do trabalhador enquanto pessoa e cidadão.......42
1. Poderes do empregador.....................................................................................................42
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Introdução
“Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição,
a prestar a sua atividade intelectual ou manual a outra pessoa sob a autoridade e
direção desta” – art. 1152º CC.
“O contrato de trabalho está sujeito a legislação especial” – art. 1153º CC.
− O Direito do Trabalho não se ocupa de todas as formas de trabalho humano, no seu núcleo
essencial regula uma relação assimétrica que se estabelece entre trabalhador e
empregador
Segundo André Gorz, o trabalho aqui relevante é aquele pago, realizado por conta de um
terceiro, com vista à realização de fins que somo nós a escolher e segundo modalidades e
horários fixados por aquele que nos paga.
Só regula relações laborais que reúnem certas características, como a relação livre ou
voluntaria em que existe o consentimento do trabalhador e existe a faculdade da sua extinção
a todo o momento e a vontade de constituição do correspondente.
− Legislação especial
Força de trabalho
− Vida no trabalho e
vida fora do trabalho.
1. Evolução Histórica
O Direito do Trabalho é um direito recente e fenómeno moderno.
Produto tardio da Revolução Industrial, pois antes não existia um regime jurídico de
trabalho.
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o Direito do Trabalho veio como reação da questão social sobre a miséria da classe
operária – Movimento operário.
Intervenção direta do Estado e do legislador no mundo do trabalho
Reconhecimento do estatuto de cidadania ao associativismo sindical e seus corolários –
greve, contratação coletiva …
Tipos de trabalho
Trabalho dependente: trabalho segundo instruções
Trabalho autónomo: é o produtor que estabelece as suas próprias instruções
Trabalho por conta alheia: responsabilidade corre por conta da pessoa cujo interesse é
realizada
Trabalho oneroso: pago, não gratuito
O contrato de trabalho não se define por aquilo que se promete fazer, mas sim pelo modo
como se promete fazer – circunstância de essa atividade ser prestada sob a autoridade e
direção do empregador.
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Jorge Leite: “conjunto das normas jurídicas, de origem estadual e convencional, que visam
regular, com vista à sua normalização, as relações individuais e coletivas que têm como seu
elemento unificante e desencadeante o trabalho assalariado”.
Organizar e promover a
transferência do momento
contratual fundamental
Convenção coletiva de trabalho: acordo escrito celebrado entre instituições patronais, por um
lado, e, por outro, associações representativas de trabalhadores com o objetivo principal de
fixar as condições de trabalho que hão de vigorar para as categorias abrangidas.
Ela não chega a ser uma lei, mas também não é uma mera condição de trabalho –
contrato-lei
Segundo CARNELUTTI, elas são um “híbrido que tem um corpo de contrato e alma de
lei”, pois apresenta uma faceta negocial, mas também uma faceta normativa
Encontra expressão no texto constitucional como um dos direitos fundamentais dos
trabalhadores conjuntamente com as associações coletivas – art. 56º/3 CRP. Cabe ao
legislador garantir esse direito dos trabalhadores e ao Estado cabe a função de
promover a contratação coletiva – art. 485º CT
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Exceções:
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“as normas deste Código podem, sem prejuízo do disposto no número seguinte, ser afastadas por instrumento de
regulamentação coletiva de trabalho, salvo quando delas resultar o contrário”
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o Salvo quando delas resultar o contrário – sendo a norma legal imperativa não poderá o
IRCT contrariá-la (art. 478º/1/a CT)
o As normas legais reguladoras de contrato de trabalho não podem ser afastadas por
portaria de condições de trabalho (art. 3º/2)
só pode regular as matérias em que a lei se coloca numa posição de supletividade total ou
parcial (art. 265º)
o As normas legais reguladoras de contrato de trabalho só podem ser afastadas por IRCT que
disponha em sentido mais favorável aos trabalhadores quando dizem respeito às matérias
do art. 3º/3 CT – aplicação do princípio de tratamento mais favorável (as normas legais
têm estatuto de normas imperativas mínimas.
Exceção:
Concorrência entre IRCT aplicável e CT: aplica-se o princípio do tratamento mais favorável
(art. 476º CT)
Para além das fontes especificas que constroem o Direito do Trabalho, também falamos de
fontes estaduais (CRP – ponto 3.3; lei e decreto-lei), fontes infra-estaduais (convenções
coletivas de trabalho), fontes supranacionais e fonte internacionais.
Estabelecimento de relações
internacionais através da
Instituição especializada da ONU, criada em 1919 negociação direta, bilateral
Tentativa de criação de um “direito internacional ou multilateral do
trabalho”
Tentativa de promoção do trabalho digno à escala universal
União Europeia
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Segundo JORGE LEITE, as convenções passam por um processo de ratificação (art. 8º CRP) em que as normas de
direito internacional convencional passam a valer automaticamente na ordem jurídica interna sem necessidade de
qualquer informação
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Surge como “fonte das fontes” – “norma primária sobre a produção de normas”. Reserva
relativa de competência legislativa AR em matéria de direitos, liberdades e garantias em
que estas matérias apenas poderão ser reguladas através de decreto-lei governamental
em caso de previa autorização da AR.
Legislação concertada – legislação que não deixa de pôr em xeque os velhos princípios da
democracia representativa
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Artigo 2º CT: são fontes imediatas e podem ser negociais/autónomas ou não negociais
Conjunto de regras que versa sobre aspetos relativos às relações laborais, de natureza
individual ou coletiva, criado por um acordo escrito entre um ou vários empregadores e
numa ou várias organizações de trabalhadores
− Principal instrumento jurídico através do qual melhor se concretiza o exercício da
autonomia coletiva (são os próprios destinatários das regras que as definem num processo
ordenado de composição de interesses
− Pode preencher espaços vazios da lei
Natureza jurídica: a CCT nasce de um acordo de vontades celebrado entre privados cujas
cláusulas são verdadeiras normas jurídicas.
Pode ser alargado através de acordos de adesão ou de uma portaria de extensão – art. 504º e
514º.
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Exclui-se
Art. 492º/4: a CCT pode prever que o trabalhador pague um determinado montante às
associações sindicais envolventes.
o Vigência de uma CCT em que não existe um prazo mínimo de vigência – inicia-se com a sua
publicação no Boletim do Trabalho e Diário da República (art. 519º)
o Pode ser celebrado por determinado prazo sem que lhe tenha sido aposto termo
resolutivo – a própria CCT define esse prazo e os termos da sua renovação (art. 499º/2 CT)
o É celebrado por um ano e é renovado, sucessivamente, pelo mesmo período de tempo
o Contendo uma cláusula que faça depender a cessação da sua vigência da substituição por
outro IRCT (art. 501º/1) – a vigência da CCT pode cessar por revogação ou caducidade
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Renovado pelo próprio CCT: a CCT renova-se nos termos nela prevista e em que as partes
podem prever que a CCT não se renovará
Regra supletiva do art. 499º/2: a CCT renova-se sucessivamente pelo prazo de 1 ano, isto
se a CCT não previr o prazo de vigência – se a CCT prever, mas não prevê a sua renovação,
quando termina o prazo de vigência aplica-se o regime de sobrevigência (art. 501º/2 CT)
Denúncia do CCT : faz-se através de comunicação escrita à outra parte acompanhada de
proposta negocial (art. 500º/1)
Regra geral: a nova convenção revoga integralmente a anterior, exceto nas matérias
expressamente ressalvadas pelas partes
Princípio de proibição do retrocesso (art. 503º/3) – a nova convenção não pode diminuir,
exceto se dela constar, expressamente o seu carácter mais favorável.
Conteúdo da CCT
Efeitos da CCT
Efeitos normativos: as suas cláusulas são autênticas normas jurídicas aplicáveis aos contratos
individuais de trabalho.
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Decisão de arbitragem obrigatório: assenta num despacho do ministro responsável pela área
laboral
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Art. 11º CT: “Contrato de trabalho é aquele pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante
retribuição, a prestar a sua atividade a outra ou outras, no âmbito de organização e sob a
autoridade destas.
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Desenvolvimento da atividade
segundo os termos estipulados Tipo de contrato em que uma das partes
pelo empregador se obriga a proporcionar à outra certo
resultado do seu trabalho – intelectual
Art. 1152º CCivil e art. 11º CT ou manual – com ou sem retribuição.
Art. 1154º CCivil
Depósito
Mandato
empreitada
Diferenças
Indícios de
o O local e horário de trabalho não bastam para qualificar o tipo de contrato
subordinação
o A dicotomia atividade/resultado não é esclarecedor jurídica
Verdadeiro critério
Existência ou não de subordinação jurídica entre as partes
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O trabalhador queria fazer valer os seus direitos decorrentes da legislação laboral e por isso,
recaía sobre si o ónus de provar a existência de um contrato de trabalho. Cabia-lhe demonstrar
a existência dos elementos constitutivos do contrato de trabalho, e nos casos em que surgiam
dúvidas, recorria-se ao “método indiciário” de controlo múltiplo – o tribunal recorria a uma
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b) O trabalho seja realizado na empresa beneficiária da atividade ou em local por esta controlado,
respeitando um horário previamente definido;
e) A prestação de trabalho tenha sido executada por um período, ininterrupto, superior a 90 dias.”
O nosso legislador estabeleceu uma “presunção de laboralidade” que deveria facilitar a prova
da existência de um contrato de trabalho, perfilando-se como uma técnica de combate à
dissimulação ilícita de relações laborais. Isto limitou-se a compendiar os elementos indiciários
habitualmente utilizados pela jurisprudência e exigiu que todos eles apontassem para a
existência de trabalho subordinado.
Esta nova redação transformava esta norma numa disposição obtusa e mentirosa. Esta
nova “presunção” reproduzia todos os elementos constantes da noção legal de contrato
de trabalho e ainda acrescentava alguns.
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Esta norma continua a não ser perfeita, porém o legislador, finalmente, acabou por
estabelecer uma “presunção de laboralidade”.
Presunção juris tantum (art. 350º CC) – nada impede o beneficiário da atividade de ilidir essa
presunção, demonstrando que as partes não celebraram qualquer contrato de trabalho,
porém o ónus probandi passa a ser seu pelo que, o tribunal qualificará aquele contrato como
um contrato de trabalho gerador de uma relação de trabalho subordinado.
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cláusulas contratuais gerais que se aplica aos aspetos essenciais do contrato em que não
tenha havido essa prévia negociação.
Contrato duradouro (art. 11º CT): obrigação da atividade que o trabalhador assume
implica continuidade. A situação de subordinação tem caracter duradouro e supõe a
integração estável de uma das partes na organização de meios predisposta pela outra. A
regra é que o contrato de trabalho tem duração indeterminada (exceto casos como o art.
135º CT).
Art. 13º CT
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O menor ter completado a idade mínima de admissão (16 anos – art. 68º/2)
O menor ter concluído a escolaridade obrigatória ou estar matriculado e a
frequentar o nível secundário de educação
O menor dispor de capacidades físicas e psíquicas adequadas ao posto de trabalho
Porém admite-se a prestação de trabalho por parte de menor Admite-se a prestação de trabalho
com idade inferior a 16 com limites – art. 68º/3 e art. 69º nº1 e por parte de menor com 16 ou 17
nº2. anos de idade mesmo que não
tenha concluído a escolaridade
O contrato celebrado diretamente com o menor que obrigatória ou esteja matriculado no
não tenha completado 16 anos de idade – “trabalhos secundário desde que o mesmo
leves” – ou não tenha ainda concluído a escolaridade frequente uma modalidade de
obrigatória nem esteja matriculado e a frequentar o educação/formação que lhe confira
nível secundário, só é válido mediante a escolaridade obrigatória.
autorização escrita dos seus representantes Não se admite o trabalho de menor
legais – art. 70º nº2 CT que em simultâneo não cumpra o
− Neste caso, a lei basta-se com uma omissão dos 1º e o 2º requisito.
representantes para a respetiva validade
Capacidade para receber a retribuição: o menor dispõe desta capacidade “salvo oposição
escrita dos seus representantes legais” – art. 70º nº3. A lei permite que os representantes
autorizem a celebração do contrato pelo menor, mas que se oponham a que este receba a
correspondente retribuição.
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Não podemos confundir o trabalho de menores com o chamado trabalho infantil, pois este
último diz respeito ao trabalho ilegal de menores, trabalho proibido e que o ordenamento
jurídico tenta combater utilizando até o Direito Penal. Tanto que o nosso ordenamento tem
bastante cuidado em garantir ao menor, condições de trabalho adequadas à respetiva idade e
desenvolvimento que protejam a sua segurança – art. 66º nº1 CT.
A emancipação3 do menor não prejudica a aplicação das normas relativas à proteção da saúde,
educação e formação do trabalhador menor – art. 66º nº4 CT.
Valem para este objeto, os requisitos gerais do objeto negocial enunciados pelo art. 280º
CCivil.
O contrato de trabalho não é definido por aquilo que se faz, − Possibilidade física e legal
mas sim pelo modo como se faz – art. 115º CT − Não contrariedade à lei
É corrente na lei e na doutrina, identificar a prestação do − Determinabilidade
trabalhador com o objeto do contrato de trabalho − Não contrariedade à ordem
A prestação a que o trabalhador se obriga é determinado pelas pública
partes − Conformidade aos bons costumes
− O objeto de contrato seja
Exigência de determinação ou determinabilidade do objeto que vigora no determinado para que as
tocante ao contrato de trabalho. O trabalhador não se pode obrigar a obrigações sobre ele incidentes
fazer tudo aquilo que o empregador entenda, onde e quando quer que o possam ser cumpridas
empregador pretenda. O contrato de trabalho sempre terá de delimitar a
situação de heterodisponibilidade em que o trabalhador se coloca por força da celebração do mesmo.
Impõem-se uma predeterminação do objeto do contrato e impõem-se balizar a situação de
subordinação em que o trabalhador se encontra. O local de trabalho deverá ser contratualmente
definido pelos sujeitos – art. 193º nº1 CT.
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Apenas se emancipa o menor por casamento – art. 132º CCivil
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Trabalho sexual
Na Alemanha, uma lei relativamente recente veio admitir a válida celebração desta nova espécie de
contrato de trabalho – “contrato de trabalho prostitucional”.
Para além de garantir alguns direitos aos sex workers em matéria de segurança social, a nova lei veio
reconhecer expressamente a validade dos contratos celebrados entre a/o prostituta/o e a/o respetiva/o
cliente, bem como a possibilidade de a atividade prostitucional ser realizada em regime de trabalho
dependente ao abrigo de um contrato de trabalho válido.
E em Portugal?
O nosso ordenamento jurídico não reconhece a validade deste tipo de contrato, pois o nosso Código
Civil considera nulo qualquer negócio jurídico que seja “ofensivo aos bons costumes”, para além de o
art. 169º nº1 do Código Penal punir qualquer um de fomente o exercício por outra pessoa de
prostituição com uma pena de prisão de 6 meses a 5 anos.
Se se verificar o não cumprimento da promessa, aplicaremos o regime previsto no art. 103º nº2 e nº3
CT. Este último declara inaplicável à promessa de contrato de trabalho o disposto no art. 830º CCivil –
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O art. 103º nº2 determina que o não cumprimento da promessa dá lugar a responsabilidade nos termos
gerais de direito e remetemos para as regras sobre o incumprimento da prestação e a obrigação de
indemnização4 (constituição de um sinal – art. 442º nº2 CCivil). O incumprimento é imputado à parte
que prestou o sinal e a sanção será a perda deste – art. 442º nº2. Na ausência de estipulação em
contrário, não terá lugar a qualquer outra indemnização pelo não cumprimento do contrato, nos casos
de perda do sinal ou de pagamento do dobro deste – art. 442º nº4.
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S.A Direito do Trabalho
O art. 106º nº2 CT diz que o candidato “deve informar o empregador sobre aspetos relevantes
para a prestação da atividade laboral”, mas o empregador não poderá exigir que o candidato
diga informações relativas à sua vida privada, saúde ou eventual estado de gravidez – art. 17º
nº1 – por isso o empregador não pode colocar no decorrer da entrevista, questões ao
candidato que incidam com a sua vida afetiva, orientação sexual, convicções politicas,
ideologias ou religião, preferências sindicais, paixão clubista ou gravidez (seja atual ou
desejada).
Se, por acaso, o empregador fizer este tipo de questões, o candidato tem o direito ao silêncio.
Porém,
A boa fé não manda responder com verdade a quem coloca questões ilegítimas e
impertinentes. E o dolo da negociação não relevará em sede anulatória, pois incide sobre
aspetos que o próprio ordenamento jurídico considera não poderem relevar na decisão de
contratar ou não.
Este “direito à mentira” só existirá nessa fase; pois se o candidato a trabalhador não
responder com verdade a perguntas legitimas e pertinentes, pode sujeitar-se às devidas
consequências – responsabilidade civil pré-contratual e possível anulação do contrato
celebrado.
Princípio da liberdade de forma – o contrato forma-se mediante − Contrato a termo (art. 141º)
o encontro de vontades convergentes de ambos os sujeitos; − Trabalho a tempo parcial (art. 153º)
− Contrato de trabalho intermitente (art.
158º)
−
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Comissão de serviço (art. 162º)
− Contrato para prestação subordinada de
teletrabalho (art. 166º)
− Contrato de trabalho temporário (art.
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Porém, existem numerosas situações em que a lei do trabalho se afasta da regra geral e sujeita
as declarações negociais a forma escrita.
Boa parte das situações em que a lei do trabalho exige a redução a escrito das declarações
negociais reconduz-se às chamadas “relações laborais atípicas” que fogem ao paradigma
clássico da relação laboral – recondução ao modelo standard.
Claro que existem casos em que a inobservância da forma escrita determina a invalidade do
contrato de trabalho, como o caso dos praticantes desportivos profissionais nos termos do art.
6º da Lei nº54/2017.
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S.A Direito do Trabalho
Critério geral Vontade hipotética ou conjetural das partes. Segundo o art. 292º CCivil: “A
nulidade ou anulação parcial não determina a invalidade de todo o negócio, salvo
quando se mostre que este não teria sido concluído sem a parte viciada.”
Art. 121º nº1 CT: “a nulidade ou a anulação parcial não determina a invalidade de todo o contrato de
trabalho, salvo quando se mostre que este não teria sido celebrado sem a parte viciada” – resposta
afirmativa.
Porém,
Então:
Art. 121º nº2 CT: “A cláusula de contrato de trabalho que viole norma imperativa considera-se
substituída por esta”- quando a invalidade parcial resulta do fato de que há cláusulas contratuais que
violam normas imperativas, a lei prescinde do recurso à vontade hipotética e opta por aplicar uma
técnica de substituição automática das cláusulas inválidas pelas normas invalidantes.
Eliminam-se as cláusulas viciadas e etas são substituídas pelas normas que estavam a ser violadas
Segundo Carlos Mota Pinto, procedemos a uma redução teleológica do contrato, sem permitir que a
invalidade parcial do mesmo, desemboque na respetiva invalidade total.
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S.A Direito do Trabalho
Porém em terreno juslaboral, o art. 122º nº1 CT determina que “ o contrato declarado nulo ou
anulado produz efeitos como válido em relação ao tempo em que seja executado”.
A lei laboral acolhe um princípio de irretroatividade da invalidade contratual, esta funciona
somente para o futuro, ex nunc, deixando incólumes os efeitos que o contrato executado
tenha, entretanto, produzido.
Ou seja, o contrato será tratado como se fosse válido durante o período em que for executado.
Se o indemnizado for o empregador, a indemnização a que tem direito tem como limite o valor
da indemnização prevista para a denúncia do contrato sem cumprimento do aviso prévio.
Exemplo:
Art. 123º nº3 CT: “À invocação de invalidade pela parte de má fé, estando a outra de boa fé,
seguida de imediata cessação da prestação de trabalho (…)
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S.A Direito do Trabalho
Exemplo:
− O trabalhador de má fé, simula ter carteira profissional. O empregador está de boa fé.
Art. 125º nº1 – convalidação do contrato, desde o início, na hipótese de cessar a causa de
invalidade durante a execução do mesmo
7. O Período Experimental
Art. 111º CT
“corresponde ao tempo inicial de execução do contrato de trabalho, durante o qual as
partes apreciam o interesse da sua manutenção”
Primeira fase do ciclo vital do contrato; fase em que o vínculo jurídico-laboral revela ainda
uma grande fragilidade.
Qualquer das partes pode pôr termo ao contrato sem necessidade de aviso prévio,
alegação de justa causa e sem que haja lugar ao pagamento de uma indemnização – art.
114º nº1 CT – razão para vigorar a regra da proibição da denúncia ad nutum.
Porém,
Contagem
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S.A Direito do Trabalho
A duração do período experimental pode ser reduzida por um IRCT ou por um acordo escrito
entre as partes – pode nem se quer haver período experimental (se for mais vantajoso para o
trabalhador)
o O CT permite que durante este período se despesa um trabalhador sem alegação de justa
causa
o O art. 53º CRP proíbe expressamente o despedimento sem alegação de justa causa
Requisitos materiais
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S.A Direito do Trabalho
Requisitos formais
“O contrato de trabalho a termo está sujeito a forma escrita e deve conter: a) identificação,
assinaturas e domicílio ou sede das partes; b) atividade do trabalhador e correspondente
retribuição; c) local e período normal de trabalho; e) indicação do termo estipulado e do
respetivo motivo justificativo; f) datas de celebração do contrato e, sendo a termo certo, da
respetiva cessação” – art. 141º nº1.
A lei exige que, no documento escrito, seja indicado o motivo justificativo da contratação a
termo. Se não acontecer, a consequência está prevista no art. 147º nº1, al.c).
Se o motivo indicado não existir – motivo forjado – a consequência está no art. 147º nº1, al.a)
e b).
▫ A lei impõe que o documento contratual seja revelador, não vago ou opaco e que
permita um controlo externo da situação.
A inobservância da forma escrita não implica a nulidade do contrato de trabalho, mas apenas
a nulidade da cláusula de termo resolutivo.
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S.A Direito do Trabalho
Admissibilidade
Duração
O contrato a termo certo dura pelo período convencionado, mas terá de respeitar as balizas
legais:
O contrato só pode ser celebrado por prazo inferior a 6 meses nas situações previstas nas
alíneas a)-g) do art. 140º nº2 (art. 148º nº2). Se esta norma for violada, o contrato
considerar-se-á celebrado pelo prazo de 6 meses, desde que corresponda à satisfação de
necessidades temporárias da empresa (art. 148º nº3).
O CT de 2009 veio prever casos especiais de contratos de muita curta duração. O art. 142º
dispensa forma escrita, mas o trabalhador deve comunicar a sua celebração ao serviço
competente da Segurança Social.
Em regra, a duração do contrato a termo certo não pode exceder os 2 anos (art. 148º nº1)
O contrato só pode ser renovado 3 vezes, porém o art. 149º nº4 CT diz que a duração total
das renovações não pode exceder a do período inicial daquele contrato.
Exemplo:
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S.A Direito do Trabalho
O art. 148º nº6 não permite que o empregador celebre diversos contratos precários,
sucessivos com o mesmo trabalhador.
Renovação
“na ausência de estipulação a que se refere o número anterior e de declaração de qualquer das
partes que o faça cessar, o contrato renova-se no final do termo, por igual período se outro
não for acordado pelas partes” – art. 149º nº2.
Para que um contrato caduque por expiração do prazo, é necessário que alguma das partes
acione a caducidade – art. 344º nº1 CT.
Exemplo:
Contratação a termo, pelo prazo de 6 meses para substituir um trabalhador doente: esgotados esses 6 meses,
caso o trabalhador substituído continue impedido de prestar trabalho, o contrato renovar-se-á por mais 6
meses, se nenhuma das partes proceder à respetiva denúncia.
Mas isso já não seria possível, se o trabalhador doente já ter regressado ao serviço ou ter falecido, pois em
qualquer um destes casos o título legitimador da contratação a termo já desapareceu.
Solução
Ou se não houver denúncia por parte de qualquer um dos sujeitos, passa a contrato sem termo (art. 147º nº2-
a).
Caducidade
− Caso o contrato caduque por iniciativo do empregador, é justo que o trabalhador seja
compensado pela perda do emprego, em cuja continuidade estava interessado.
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S.A Direito do Trabalho
Admissibilidade
As situações em que a lei permite que as partes aponham um termo incerto ao contrato de
trabalho encontram-se no art. 140º nº3.
Duração
Este contrato durará, em princípio, por todo o tempo necessário para a substituição do
trabalhador ausente ou para a conclusão da atividade.
Porém o CT de 2009, estabeleceu que a duração do contrato a termo incerto não podia ser
superior a 6 anos (art. 148º nº4 na sua versão original), pois após esses seis anos, a lei
considerava que a situação já não era transitória. Se esse prazo (de 6 anos) fosse excedido o
contrato transformar-se-ia num contrato sem termo (art. 147º nº2-b CT).
A Lei nº 93/2019 apertou ainda mais esse limite temporal – a duração deste tipo de contrato
não pode ser superior a 4 anos.
Caducidade
O pré-aviso não implica qualquer renovação do vínculo contratual nem significa que o contrato
se irá transformar num contrato sem termo; apenas implica que o empregador terá de pagar
ao trabalhador o valor da retribuição correspondente ao período do aviso prévio em falta (art.
345º nº3).
Quando caducar o contrato a termo incerto, o trabalhador terá sempre direito a uma
compensação pecuniária (art. 345º):
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S.A Direito do Trabalho
18 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade nos
primeiros 3 anos de duração de contrato
12 dias de retribuição base e diuturnidades por cada ano completo de antiguidade nos
anos subsequentes
Conversão
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S.A Direito do Trabalho
Refere-se à atividade a desenvolver para o utilizador e não à duração do vínculo com a ETT
(será por tempo indeterminado ou a termo).
Está sujeito a forma escrita e é celebrado em dois exemplares que deve conter a
fundamentação e indicação do termo (art. 180º nº1). A falta disto determina que o
contrato se transforma num contrato sem termo com a ETT ou a cessação do contrato com
direito a indemnização por iniciativa do trabalhador. Se apena não se indicar o termo, o
contrato considera-se celebrado por 1 mês não sendo permitido a sua renovação (art.
181º nº3)
Não pode exceder a duração do contrato de utilização (art. 182º nº1 com remissão para o
art. 178º)
− O contrato de trabalho temporário a termo certo não está sujeito ao limite de
duração do art. 148º nº2 enquanto se mantiver no motivo justificativo, pode ser
renovado até 6 meses.
− Este contrato a termo incerto dura pelo tempo necessário à satisfação de
necessidades temporárias ao utilizador
− Aplicam-se as regras do art. 148º nº6 quanto à contagem dos prazos
− A caducidade decorre nos termos previstos para os contratos de trabalho a termo
(art. 182º nº7)
Retribuição – o trabalhador temporário tem direito ao que for mais favorável entre:
− Retribuição praticada pelo utilizador para as suas funções
− Retribuição prevista em IRCT aplicável à ETT
− Retribuição prevista em IRCT aplicável ao utilizador
37
S.A Direito do Trabalho
Este contrato (utilização) está sujeito a forma escrita e é celebrado em dois exemplares em
que deve conter alguns elementos previstos no art. 177º nº1 e nº2. A falta destes elementos
determina a nulidade do contrato de utilização – contrato sem termo (art. 173º nº6 com
remissão para o art. 177º nº5 e nº6)
A duração deste contrato inclui renovações que não pode exceder a duração da causa
justificativa, nem o limite de: a) 6 meses (celebrado por fatura de posto de trabalho); b) 12
meses (acréscimo excecional da atividade da empresa); c) 2 anos (outros casos) – art. 179º
(proibição de contratos sucessivos).
38
S.A Direito do Trabalho
− Trabalho a tempo parcial vertical: eliminam-se dias inteiros de trabalho (ex: trabalhador
que labora apenas dois dias por semana)
− Trabalho a tempo parcial horizontal: reduz-se a duração do trabalho em todos os dias da
semana (ex: trabalhador que presta 4H diárias de trabalho, 5 dias por semana)
39
S.A Direito do Trabalho
Este contrato deverá ser reduzido a escrito sob pena de o contrato se considerar celebrado a
tempo completo (art. 153º nº3). O mesmo acontece no contrato que apesar de estar escrito,
não indica o período normal de trabalho diário e semanal (art. 153º nº2) – presunção ilidível.
Ex: o trabalhador a tempo completo e o trabalhador a tempo parcial gozam, na relação laboral,
dos mesmos direitos de personalidade, mas a retribuição deste será, naturalmente inferior à
daquele.
− Cargos de direção
− Funções de secretariado
− “funções cuja natureza também suponha especial relação de confiança em relação a titular
daqueles cargos e funções de chefia” – se for previsto pelo IRCT.
Pode haver trabalhadores que não desempenhem funções dirigentes em regime de comissão
de serviço, assim como pode haver trabalhadores dirigentes a que este regime não seja
aplicado – não será legitimo recorrer à contratação em regime de comissão de serviço para o
provimento de funções que exorbitem do circulo de situações demarcado pela lei.
40
S.A Direito do Trabalho
Este contrato está sujeito a forma escrita que deve conter a indicação do cargo ou funções a
desempenhar com menção expressa do regime da comissão de serviço (art. 162º nº3) – se isto
não acontecer, não podemos considerar regime de comissão de serviço (art. 162º nº4).
Cessação
Qualquer das partes pode pôr termo à comissão de serviço, mediante aviso
prévio por escrito, com a antecedência mínima de 30 ou 60 dias, consoante
aquela tenha durado, respetivamente, até dois ou período superior”
Porém,
Se for o empregador a cessar o contrato, o trabalhador pode optar por resolver o contrato nos
30 dias subsequentes àquela decisão, com direito a receber uma indemnização calculada nos
termos do art. 366º (“despromoção”) – o prazo pode ser aumentado por IRCT ou contrato de
trabalho.
41
S.A Direito do Trabalho
Poder de direção: o empregador estabelece onde, como, quando e com que meios o
trabalho é realizado; faculdade de determinar a concreta função a exercer pelo
trabalhador, poder de conformar a prestação laboral e poder de vigilância e de
controlo sobre a atividade desenvolvida pelo
Exemplo:
trabalhador em sede de execução
contratual. A prestação de trabalho subordinado
Poder determinativo da função: contém a possibilidade da entidade
conjunto de tarefas que o patronal introduzir variações na
prestação de trabalho e no conteúdo
trabalhador irá realizar e as
da relação obrigacional durante a sua
necessidades que a empresa tem
execução.
Poder confirmativo da prestação:
determina o modo de agir do trabalhador, cujo exercício tem como limites,
os próprios contornos da função previamente determinada.
Mobilidade funcional (art. 120º) – o empregador pode encarregar o trabalhador de
exercer temporariamente funções não compreendidas na atividade contratada
Mobilidade geográfica (art. 194º) – o empregador pode transferir o trabalhador para
outro local de trabalho, temporária ou definitivamente
Alteração do horário de trabalho (art. 212º) – compete ao empregador determinar o
horário de trabalho do trabalhador dentro dos limites da lei, designadamente do
regime de período de funcionamento aplicável. Quando este tenha sido
individualmente acordado com o trabalhador, o empregador não poderá
unilateralmente alterar o horário de trabalho (art. 217º nº4). Quando não existir o
acordo, o empregador já goza da possibilidade de determinar, unilateralmente a sua
alteração (art. 217º).
42
S.A Direito do Trabalho
Repreensão
Repreensão registada
Sanção pecuniária – o empregador poderá impor ao trabalhador uma obrigação de pagar
ao estado uma determinada quantia em dinheiro, afetando a função alimentar do salário
(art. 328º nº3)?
Perda de dias de férias – o CT proíbe isto explicitamente (art. 238º)
Suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade
Despedimento sem indemnização ou compensação
− Existe uma tipificação legal do arsenal sancionatório disponível pelo empregador – não
pode aplicar outras sanções disciplinares não presentes na lei ou IRCT.
− A previsão de novas sanções disciplinares em sede de contrato de trabalho encontra-se
excluído
− A previsão de novas sanções disciplinares em sede de contrato individual de trabalho
encontra-se excluída (art. 328º nº2 e 3 e 5º CT)
− Os IRCT podem criar novas sanções “desde que não prejudiquem os direitos e garantias do
trabalhador” – caso da “despromoção” que colide com a garantia da irreversibilidade da
categoria (art. 129º nº1-e); e da sanção da transferência do trabalhador para outro local de
trabalho que conflitua com a garantia da inamovibilidade (art. 129º nº1-f).
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S.A Direito do Trabalho
Caso o trabalhador entenda que foi alvo de um castigo injusto, de uma sanção disciplinar
incorreta, punição disciplinar extemporânea, etc; ele poderá impugnar judicialmente a referida
sanção disciplinar (art. 329º nº7). O tribunal, então, poderá então confirmar ou anular a
sanção aplicada, mas já não poderá substituir-se ao empregador e aplicar ao trabalhador uma
outra medida punitiva que ele entende ser mais adequada.
Embora o CT não dê uma resposta clara sobre esta questão, o art. 337º nº1 dá a solução
suspensiva nele instituída (ex: sede de prescrição de um qualquer crédito retributivo), porém
não vale igualmente quando se trate da impugnação de uma sanção disciplinar conservatória.
Direito à retribuição – o trabalhador tem direito a uma retribuição que deve ser
pontualmente paga (art. 258º)
Direito a limitação da jornada de trabalho/direito ao descanso – o período normal de
trabalho conhece máximos diários e semanais e o trabalhador tem direito a períodos
mínimos de descanso (art. 199º, 213º e 214º)
44
S.A Direito do Trabalho
Contudo, as partes por acordo escrito, que caduca ao fim de 2 anos, podem
dispensar que o interesse da empresa exija a alteração, bem como admitir essa
mudança mesmo que implique uma modificação substancial da posição do trabalhador
– art. 120º nº2.
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S.A Direito do Trabalho
Regras procedimentais:
Este trabalhador tem direito a ser transferido temporária ou definitivamente a seu pedido para
outro estabelecimento da empresa (art. 195º nº1) com as seguintes condições:
Se o empregador tentar se basear no art. 195º nº2 para adiar a transferência requerido pelo
trabalhador, este pode suspender o contrato de imediato até que a transferência ocorra (art.
195º nº3 com remissão para o 296º nº2-b). Pode ainda propor uma ação judicial de
cumprimento pedindo ao tribunal a condenação do empregador na viabilização da respetiva
transferência, e se for necessário o pagamento de uma indemnização pelos danos causados;
como último recurso pode pedir a resolução do contrato com justa causa subjetiva (art. 394º
nº2).
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S.A Direito do Trabalho
Exemplo:
Dever de zelo e diligência – o trabalhador deve exercer as suas funções com zelo e
diligência
− Dever de custódia – o trabalhador usa meios de produção que não lhe pertence, mas
que lhe ficam adstritos (art. 128º nº1-g)
− Dever de cuidado e precisão – o trabalhador deve administrar o seu tempo de
trabalho e desenvolver as suas funções de forma empenhada e interessado e evitar ao
máximo os riscos que da atividade prestada possam advir para si ou para terceiros (art.
128º nº1-j)
47
S.A Direito do Trabalho
Poderá o empregador limitar-se a pagar a retribuição ao trabalhador, mas colocar este último
“na prateleira”, sem viabilizar o exercício da correspondente atividade pessoal?
Exemplo:
Assédio não discriminatório – o ónus da prova recai sobre o trabalhador assediado (art.
243º nº1 CCivil) segundo a qual, aquele que invocar um direito cabe fazer a prova dos
fatos constitutivos do direito alegado
Assédio discriminatório – o assediado deve indicar o trabalhador (s) em relação a que se
considera discriminado e incumbe ao empregador provar que a diferença de tratamento
não assenta em qualquer fator de discriminação (art. 25º nº2 CT)
Art. 29º nº6: as testemunhas não poderão ser sancionados disciplinarmente, a menos que
atuem com dolo, com base em declarações ou fatos constantes dos autos de processo
Art. 331º nº1-b): o despedimento é abusivo quando é aplicada alegadamente para punir
uma infração ou quando tenha lugar até 1 ano após a denúncia ou outra forma de
exercício de direitos relativos a assédio.
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S.A Direito do Trabalho
49
S.A Direito do Trabalho
O trabalhador tem direito, em cada ano civil, a um período de férias retribuídas que em
regra se vence a 1 de janeiro (237º/1).
O período anual de férias teria a duração mínima de 22 dias úteis (213º/1).
As férias são retribuídas (264º/1) – princípio da não
penalização retributiva “retribuição base e outras
Para além da retribuição, o trabalhador tem direito a prestações retributivas que sejam
um subsídio de férias – princípio do vencimento contrapartida do modo específico
da execução do trabalho”
antecipado do subsídio de férias (264º/3)
Ano de contratação: o trabalhador tem direito a 2
dias úteis de férias por cada mês de duração de contrato até 20 dias úteis de férias;
podendo gozá-los após 6 meses completos de execução do contrato (1 vencimento já não
acontece a 1 de janeiro, mas sim 6 meses após a celebração do contrato). No caso de o
ano civil terminar antes de decorrido o prazo referido no número anterior, as férias são
gozadas até 30 de junho do ano subsequente.
Impedimento prolongado do trabalhador: se no ano em que se iniciou esse impedimento,
impossibilitou o gozo de férias já vencidas, aplica-se o art. 244º/3.
Exemplo:
As férias que o trabalhador goza em agosto de 2021, correspondem ao trabalho que prestou em 2020, tendo-se
vencido esse direito em 1 de janeiro de 2021.
Exemplo 2:
Segundo aquele artigo no seu nº1, o trabalhador terá direito a 10 dias úteis, mas como o seu gozo só pode ter
lugar após 6 meses de execução do contrato, os mesmos transitarão para o ano seguinte nos termos do nº2.
Acontece que entretanto (1 de janeiro de 2021), se vence outro direito a férias pelo que o trabalhador, nesse
ano, poderia desfrutar de um período bastante alargado (10 + 22)
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S.A Direito do Trabalho
Exemplo:
Supondo que o contrato se extinguiu, por qualquer fundamento, em abril de 2021, sem que ele tivesse gozado
as férias.
Isso implicará que o trabalhador deva auferir a retribuição e o subsídio correspondentes às férias vencidas em 1
de janeiro de 2021; férias que o trabalhador não chegou a gozar (245º/1-a), bem como o montante
proporcional ao tempo de serviço prestado em 2021. Pois, em janeiro começou a formar-se um novo direito a
férias que se venceria plenamente em 1 de janeiro de 2022, mas que se vence antecipadamente e
parcialmente, aquando da extinção do vínculo, em abril de 2021 (245º/1-b).
Marcação de férias
É marcado por acordo entre empregador e trabalhador (art. 241º nº1 CT).
Na falta de acordo, quem marca as férias é o empregador após audição da estrutura
representativa dos trabalhadores (art. 241º nº2).
Só pode marcar férias no período entre 1 de maio e 31 de outubro a menos que
IRCT ou o parecer dos representantes dos trabalhadores admita época diferente.
As férias não podem ter início em dia de descanso semanal do trabalhador.
Empresas ligadas ao turismo: os empregadores só estão obrigados a marcar 25%
das férias durante esta época, sendo que os restantes 75% poderão ser marcados
para qualquer outra época do ano por decisão unilateral do empregador.
Os períodos mais pretendidos devem ser roteados sempre que possível beneficiando
alternadamente os trabalhadores em função dos períodos gozados nos dois anos
anteriores (241º/6).
Os cônjuges e as pessoas que vivem em união de fato ou economia comum, que laborem
na mesma empresa tem direito a gozar férias simultaneamente – exceto se isso trouxer
prejuízos à empresa (nº7).
Princípio da continuidade das férias: devem ser gozados pelo menos 10 dias úteis
consecutivos (nº8)
Este direito é irrenunciável e não pode ser substituído por qualquer compensação
económica mesmo com acordo com o trabalhador (237º/3).
A violação deste direito é punida com severidade (246º).
“O trabalhador não pode exercer durante as férias qualquer outra atividade remunerada,
salvo quando já a exerça cumulativamente ou o empregador o autorize” (247º/1).
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S.A Direito do Trabalho
Falta justificada (art. 249º nº2) – incumprimento lícito do contrato de trabalho em que o
trabalhador não comparece ao serviço, mas fá-lo no exercício de um direito que lhe é
conferido por lei.
A ausência do trabalhador não equivale necessariamente a uma violação deste dever
A falta só será justificada se a ausência for tempestivamente comunicada ao
empregador (5 dias de antecedência)
Omissão de comunicação – injustificação da falta (253º nº5)
O empregador pode até 15 dias depois exigir a prova dos fatos invocados
As disposições legais possuem carácter absolutamente imperativo (250º)
Normalmente não afeta o direito do trabalhador à retribuição (255º nº1), mas existem
algumas exceções:
− Falta por doença, se o trabalhador se beneficia de um regime de segurança
social de proteção na doença
− Falta por acidente de trabalho se o trabalhador tem seguro de trabalho
Falta injustificada (art. 249º nº3) – violação do dever de assiduidade e pode levar à perda
da retribuição que corresponde ao período de ausência (art. 256º nº1)
Falta injustificada imediatamente antes ou a seguir a dia ou meio dia de descanso ou
feriado constitui infração grave.
No máximo, estas faltas podem implicar o despedimento por justa causa do
trabalhador (351º nº1 e 2-g) CT).
Alterativa (257º): substituir esses dias de faltas injustificadas por dias de férias, sendo
que o trabalhador ainda tem de ficar com 20 dias úteis de férias; ou substituir com
prestação de trabalho em acréscimo ao período normal (art. 204º - limites).
3. Feriados
Dias do calendário associados à comemoração de eventos históricos ou religiosos de
reconhecida importância para a comunidade
Não correspondem a um direito do trabalhador ao descanso nem à ausência da prestação
laboral em consequência de uma vicissitude inesperada
São previamente estabelecidos (236º nº1)
O trabalhador tem direito à retribuição correspondente a feriado, sem que o empregador
a possa compensar com trabalho suplementar (269º nº1)
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S.A Direito do Trabalho
1 de janeiro
Sexta-Feira Santa
Domingo de Páscoa
25 de abril
1 de maio
Corpo de Deus
10 de junho
15 de agosto
5 de outubro
1 de novembro
1,8 e 25 de dezembro
Terça-Feira de Carnaval
Feriado municipal da localidade
Horário de trabalho (200º) – determinação das horas de início e termo do período normal
de trabalho diário e do intervalo de descanso, bem como do descanso semanal.
53
S.A Direito do Trabalho
Efeitos
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S.A Direito do Trabalho
55
S.A Direito do Trabalho
Exercícios
1. Comente, de forma breve, mas fundamentada (corrigindo, se necessário), as informações
seguintes:
Resposta: Falsa, segundo o art. 476º CT. O princípio do tratamento mais favorável ao
trabalhador é aquele que rege a relação entre estas duas fontes de regulação.
b) Uma cláusula de uma convenção coletiva que preveja que o trabalhador poderá faltar
justificadamente ao serviço no dia do seu aniversario é inválida porque afasta uma norma legal
relativamente imperativa.
Resposta: Falsa segundo o art. 250º CT, em que é inválida porque afasta uma norma legal
absolutamente imperativa.
Resposta: Falso segundo o art. 2º/2 CT, pois é um instrumento de regulamentação coletiva de
trabalho negocial.
Resposta: Falso, pois aplicam-se a todos os trabalhadores dos empregadores filiados, mas
somente aos sindicalizados em associação sindical celebrante ou representada na celebração –
art. 496º/1 CT.
Resposta: Falso, pois o período experimental pode ser reduzido ou eliminado – art. 111º/3 e
112º/5 CT. A duração máxima prevista legalmente é de 30 dias, pelo que a estipulação de 10
dias é válida – art. 112º/2/a CT.
56
S.A Direito do Trabalho
g) Denunciada a convenção coletiva para o termo do prazo de vigência em curso, ela caduca
necessariamente no final desse prazo.
Resposta: a cláusula contraria o art. 263º CT (1 mês), mas desta norma legal não resulta que
não possa ser afastada por CCT, pelo que não existe imperatividade da norma legal. Conclui-se
que a cláusula do CCT contraria, mas não viola a lei, que só proíbe que a CCT contrarie normas
legais imperativas – art. 478º/1/a. Assim, coloca-se subsequentemente um problema de
concurso de fontes entre a lei e o CCT. E este último afasta a aplicação da lei – da norma legal
não resulta que não possa ser afastada por CCT, pelo que não existe imperatividade de lei (art.
3º/1º pois não tem cabimento o nº3). Os trabalhadores abrangidos têm direito ao regime
emergente da CCT, ½ mês de SN.
Resposta: Existe aqui um problema de sucessão de convenções – art. 503º/1/3. Se a CCT não
disser que é globalmente mais favorável, a nova cláusula é nula e trabalhadores têm direito ao
regime anterior nessa matéria (15m). Se a CCT disser que é globalmente mais favorável, a nova
cláusula é válida e os trabalhadores têm direito ao novo regime dessa matéria (5m).
Resposta: a cláusula é ilegal segundo o art. 478º/1/a; por isso contraria o art. 238º (22 dias
úteis no mínimo) – norma legal relativamente imperativa. Sendo ilegal, não há concurso de
fontes e só se pode aplicar a lei – o art. 3º está excluído. O CCT só se aplicaria se este
estabelecesse um regime mais favorável ao trabalhador, uma vez que neste caso, já haveria
concurso de fontes e sendo uma das matérias elencadas no art. 3º/3/b, aplicar-se-ia o
princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador. Por isso, os trabalhadores têm direito
ao regime emergente da lei – 22 dias úteis.
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S.A Direito do Trabalho
Exercícios (2)
1. Hilário, empregado de mesa num restaurante da “zona da baixa” de Coimbra, pretende
passar a trabalhar num outro restaurante do seu empregador, mas fora desta cidade,
porquanto precisa de se afastar desta cidade onde mora a sua ex-mulher, contra quem acaba
de apresentar participação criminal por se considerar vítima de grave violência doméstica. Esta
pretensão do trabalhador terá tutela legal? Justifique.
Resposta: Sim. Estamos num caso de mobilidade geográfica por iniciativa do trabalhador nos
termos do art. 195º nº1. O trabalhador vítima de violência doméstica tem direito a ser
transferido, temporária ou definitivamente, a seu pedido para outro estabelecimento da
empresa, desde que satisfaça dois requisitos: a) teve de apresentar denúncia (a Lei nº
112/2009, de 16/19 alterou este requisito); b) deve sair da morada de família – art. 195º nº1-
a) e b) CT.
2. No caso de Hilário ter sido admitido ao serviço por contrato de trabalho sem prazo a
01.05.2021, mas sabendo ainda que não compareceu ao trabalho durante 3 semanas no mês
de junho seguinte, por motivo comprovado de doença impossibilitante de trabalhar, diga:
Resposta: Estamos perante um regime de faltas justificadas (art. 249º nº2-d) CT).
Consideramos como falta a ausência de trabalhador do local em que devia desempenhar a
atividade durante o período normal de trabalho diário (art. 248º nº1). Como estamos perante
uma falta justificada, normalmente, não representa nenhuma perda de direitos do trabalhador
(art. 255º nº1), porém o nº2-a) do mesmo artigo diz-nos que por motivo de doença e se o
trabalhador beneficia de um regime de segurança social de proteção na doença, a falta
determina a perda de retribuição.
b) A partir de que dia Hilário pode reclamar as suas primeiras férias? Justifique.
Resposta: As férias são uma interrupção da prestação de trabalho por vários dias concedidos
ao trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição
(art. 237º nº4 CT). É um direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
Hilário começou a trabalhar em Maio e como ainda poderá gozar as primeiras férias no ano de
admissão, tem direito a 2 dias úteis de férias por cada mês de trabalho, sendo que não pode
exceder os 20 dias úteis , sendo que apenas as pode gozar 6 meses após a celebração do
contrato (art. 239º nº1) – 01.11.2021.
58
S.A Direito do Trabalho
Resposta: Relativamente aos 6 meses desde a celebração do contrato, Hilário tem direito a 12
dias úteis de férias. Contudo ainda trabalhará mais dois meses (novembro e dezembro), tendo,
assim, direito a mais 4 dias úteis de férias (art. 239º nº1 CT).
Resposta: Normalmente, as férias vencem a 1 de janeiro e devem ser gozadas nesse ano civil
até 31 de dezembro (art. 240º nº1). Contudo existem algumas exceções como, por exemplo,
por acordo entre empregador e trabalhador, as férias do ano anterior conjuntamente com as
férias vencidas neste ano civil, podem ser gozadas até 30 de abril do ano civil “presente” (art.
245º nº2 CT). Temos ainda o caso do ano de admissão do trabalhador acabar antes de ele
poder gozar férias, estas podem ser gozadas até 30 de junho do ano civil seguinte (art. 239º
nº2 CT).
e) Quando se vencem as férias seguintes e qual a sua duração e período em que devem ser
gozadas. Justifique.
Resposta: A 1 de janeiro de 2022 vencem 22 dias úteis de férias (art. 238º CT) que devem ser
gozadas entre esse dia e 31 de dezembro do mesmo ano (art. 240º nº1 CT). As férias serão
marcadas por acordo entre empregador e trabalhador ou por o empregador, sendo que este
apenas pode marcar férias entre 1 de maio e 31 de outubro (art. 241º nº1 e 3 CT).
3. Alfredo, eletricista de 1ª, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª feira, retribuição
mensal base de €600 e uma diuturnidade no valor de €50, celebrou contrato de trabalho com
BTO, Ldª com início a 1 de janeiro de 2019, e com observância das normas em vigor. A 4 de
maio de 2021, segunda-feira, Alfredo entrou à hora normal, só interrompeu uma hora para
almoço, reiniciando o serviço às 13H, e terminou às 20H.
Resposta: Estamos perante o trabalho suplementar (art. 226º CT) prestado em dia útil com a
duração de 2 horas. Para ser exigível o pagamento do trabalho suplementar, é preciso que o
trabalho tenha sido determinado expressamente pelo empregador, ou caso contrário, tenha
sido realizado de modo a não ser previsível a oposição do empregador. Parece que este último
é o caso deste exercício, visto que o empregador diz que registou esse trabalho com o melhor
apreço (art. 268º nº2). Sendo assim, a razão parece estar do lado do trabalhador.
59
S.A Direito do Trabalho
b) Suponha agora, para efeitos desta pergunta, que o trabalho prestado naquele dia 4 de maio
fora prévia e expressamente determinado pela BTO, Ldª. Quais os direitos de Alfredo, em
virtude do trabalho prestado no dia em causa? Fundamente.
Resposta: Alfredo tem direito a retribuição majorada com acréscimo de 25% na 1º hora e de
37,5% na 2º hora (art. 268º nº1 e 2 CT). O valor da retribuição horária normal a determinar
pela fórmula do art. 271º CT. Existe aqui a inexistência de direito a descanso compensatório
face aos art. 229º e 230º CT.
c) Suponha que até dezembro de 2021, Alfredo ainda não gozara quaisquer férias. Descreva
circunstanciadamente as férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas,
ao abrigo deste contrato, desde o seu início até então. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição (art.
237º nº4 CT) que está consagrado na Lei Fundamental no art. 59º nº1-d) CRP.
No ano seguinte, 2020, a 1 de janeiro venceram 22 dias úteis de férias que podem
ser gozadas até ao último dia desse ao civil (art. 238º nº1 e art. 240º nº1 CT).
Em 2021, a 1 de janeiro venceram mais 22 dias úteis de férias que devem ser
gozadas até 31 de dezembro de 2021 (art. 240º nº1 CT).
d) Em 14 de agosto de 2021, Alfredo, sem autorização, serve-se, para fins pessoais, de um rolo
de fio elétrico pertencente à BTO, Ldª, vindo a ser-lhe instaurado procedimento disciplinar a 15
de novembro, dois meses e meio depois de tais fatos terem vindo ao conhecimento da BTO,
Ldª. A 20 de dezembro de 2021, Alfredo vem a ser despedido por decisão escrita que lhe foi
notificada nesse dia. Face à factualidade descrita, terá Alfredo fundamentos para impugnar o
despedimento? Justifique.
60
S.A Direito do Trabalho
início do procedimento disciplinar (art. 329º nº2 CT). Em suma, a prescrição estingue-se a
infração o que impede o seu sancionamento a qualquer título.
61
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes afirmações diga quais são verdadeiras ou falsas:
4. “As normas do Código do Trabalho nem sempre podem ser afastadas por disposições de
convenção coletiva”.
7. “A cláusula que consta de um contrato de trabalho a termo pelo prazo de um ano que
estipula que o período experimental terá a duração de 45 dias é nula, não determinando a
invalidade de todo o contrato de trabalho”.
Resposta: Falso segundo o art. 112º nº2-a). Estamos perante um contrato de trabalho a termo
certo: “pelo prazo de um ano”.
62
S.A Direito do Trabalho
8. “Denunciada a convenção coletiva para o termo do prazo de vigência em curso, ela não
caduca necessariamente no final desse prazo”.
Grupo II
1. Descreva o processo de elaboração de uma convenção coletiva. Fundamente.
Resposta: Processo típico de elaboração: proposta (art. 486º); resposta (art. 487º-489º);
depósito (art.494º); publicação e entrada em vigor (art. 519º).
2. Inácio, há mais de dois anos, desempenha diariamente, das 8H às 17H, funções de gestão,
nas instalações duma determinada empresa, sendo remunerado mensalmente e estando
sujeito a fiscalização e controlo por parte da respetiva administração. Face aos elementos
disponibilizados qualificaria este contrato como contrato de prestação de serviços? Justifique.
Grupo III
A e B celebraram há dois meses um contrato por via do qual o prometeram
reciprocamente celebrar até ao final do ano um outro contrato, nos termos do qual o primeiro
admitiria o segundo ao seu serviço, para o desempenho das funções de ladrilhador, debaixo
das suas ordens e instruções do primeiro, mediante o pagamento de 800€ mensais e um
período normal de trabalho semanal de 40H, em horário a combinar. Apesar disso, B celebrou
recentemente um contrato de trabalho com C, para o exercício de funções idênticas, mas com
melhores condições, não tendo intenção de vir a cumprir o referido contrato inicial. A ficou
notoriamente dececionado.
a) Qualifique o contrato celebrado entre A e B e indique qual o regime a que está sujeito em
termos de forma. Justifique.
b) Será viável a instauração de uma ação judicial por A, que, a ser procedente, permitiria
obrigar B a cumprir a promessa feita reciprocamente? Justifique.
Resposta: Não, pois nos contratos promessa existe uma tutela meramente indemnizatória face
à insusceptibilidade da execução específica – art. 103º nº2 e nº3 CT, não podemos aplicar o
disposto no art. 830º CCivil.
Grupo I
Termine as seguintes frases de acordo com a alínea que considere mais adequada:
1. A presunção de laboralidade:
2. O acordo de adesão:
3. O contrato de trabalho:
Resposta: Deve ser sempre celebrado por escrito, se se tratar de um contrato com pluralidade
de empregadores. (B)
Resposta: Pode contratar por tempo indeterminado, ou a termo certo, ou a termo incerto. ©
Resposta: É válida, porque afasta uma norma legal passível de derrogação por acordo entre as
partes. (D)
7. Um trabalhador com idade inferior a 18 anos e com condições para ser admitido a trabalhar:
Resposta: Tem, em princípio, capacidade para receber, por ato próprio, a retribuição. (D)
64
S.A Direito do Trabalho
Resposta: Umas são comuns a outros ramos e outras são próprias do direito do trabalho. ©
10. Ao contrato de trabalho não pode ser aposta uma cláusula que contenha:
Grupo II
Das seguintes afirmações diga quais são verdadeiras ou falsas face ao Código do Trabalho e
justifique a sua reposta num texto breve, mas fundamentado.
Resposta: Verdadeiro
4. Um contrato de trabalho a termo resolutivo certo pode ser renovado sempre, até 3 vezes e
desde que a duração total respeite ainda a duração máxima prevista no CT para essa
modalidade de contrato.
Resposta: Falso. Além dos limites indicados quanto à sua duração (art. 148º nº1 do CT), a
renovação está sujeita a pressupostos substantivos e formais (art. 149º nº3). O nº1 do artigo
149º ainda nos diz que as partes podem acordar que o contrato não está sujeito a renovação.
Resposta: Falso. Nem sempre está sujeito a documento escrito, pois existem casos especiais
de contratos de muito curta duração em que isso não se torna necessário (art. 142º) e se
afasta do regime do art. 141º.
65
S.A Direito do Trabalho
Resposta: Falso. Aplicam-se a todos os trabalhadores dos empregadores filiados, mas somente
aos sindicalizados em associação sindical celebrante em representada na celebração (art. 496º
nº1 CT).
7. Face ao CT, a cláusula que consta de um contrato de trabalho a prazo de um ano que
estipula que o período experimental terá a duração de 10 dias é inválida.
Resposta: Falso. O período experimental pode ser reduzido ou eliminado (art. 111º nº3 e art.
112º nº5 CT). A duração máxima prevista legalmente é de 30 dias, pelo que a estipulação de 10
dias é válida (art. 112º nº2-b) CT).
66
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes afirmações, diga (somente) quais são verdadeiras ou falsas:
1) O contrato de trabalho celebrado por menor de 15 anos de idade é válido desde que os
representantes legais do menor não se tenham oposto por escrito a essa celebração. Falso
(art. 70º nº2 CT).
2) O contrato de trabalho a termo nem sempre está sujeito a forma escrita. Verdadeiro (art.
142º nº1 CT).
4) No contrato de trabalho, o trabalhador é sempre uma única pessoa física, da mesma forma
que o empregador é obrigatoriamente uma única pessoa. Falso (art. 101º - pluralidade de
empregadores).
5) Denunciada a convenção coletiva para o termo do prazo de vigência em curso, ela caduca
necessariamente no final desse prazo. Falso (art. 501º nº3 CT).
67
S.A Direito do Trabalho
10) Qualquer atividade humana apta para a satisfação de um interesse de um credor digno de
tutela jurídica, ainda que ilícita, pode constituir objeto de um contrato de trabalho. Falso (não
pode ser ilícita).
12) Um contrato de trabalho a termo resolutivo certo pode ser renovado sempre, até 3 vezes e
desde que a duração total respeita ainda a duração máxima prevista no Código do Trabalho
para essa modalidade de contrato. Falso (art. 149º nº4 CT).
Grupo II
Pronuncie-se fundamentadamente acerca da validade ou invalidade de cada uma das
seguintes cláusulas que, entre outras, constam de um Contrato Coletivo de Trabalho celebrado
entre as associações sindicais e patronais representativas do setor do comércio:
Resposta: A cláusula presente na alínea a) contraria o disposto no art. 263º CT, mas desta
norma legal, não resulta que esta não possa ser afastada por uma CCT. Como, aqui, não se
aplica o art. 478º nº1 al. a), coloca-se-nos um problema de concurso de fontes entre a lei e o
CCT. Segundo o art. 3º nº1 (aqui como não existe imperatividade de lei não se aplica o nº 3
deste mesmo artigo) a norma legal pode ser afastada pela CCT. Assim, os trabalhadores
abrangidos têm direito ao regime emergente da CCT – ½ mês de subsídio de Natal.
Sobre a cláusula da alínea b), é ilegal face ao art. 238º CT pois este no seu nº1 diz que
“O período anual de férias tem a duração mínima de 22 dias úteis”. Como é ilegal não existe
concurso de fontes e só se pode aplicar a lei – o art. 3º está excluído. Com fundamento no art.
478º nº1 al. a), a CCT não se pode aplicar a este caso concreto e sendo assim, os trabalhadores
regem-se pela lei – 22 dias úteis de férias.
Grupo III
Inês, recém-licenciada em contabilidade, foi contratada, por uma empresa, pelo período de
seis meses, para substituir Maria, chefe da contabilidade, em licença de maternidade.
68
S.A Direito do Trabalho
Inês tem dúvidas sobre a validade do seu contrato, uma vez que, até à data ainda não assinou
qualquer contrato de trabalho e, para além disso, apesar de ela ter sido contratada para
realizar as tarefas que incumbiam a Maria, a verdade é que, desde o início, quem está a ocupar
o lugar da Maria é Manuel, afilhado do empregador, tendo sido atribuído a Inês,
diferentemente, o lugar de escriturária. No entanto, Inês receia invocar este fato em Tribunal,
pois pensa que, se o fizer, o seu contrato será considerado inválido e ela ficará sem emprego.
Resposta: Inês está perante um contrato de trabalho a termo certo: “pelo período de seis
meses, para substituir Maria, chefe da contabilidade, em licença de maternidade”. Este
contrato tem um carácter excecional do regime dos contratos de trabalho a termo face à
garantia constitucional da segurança no trabalho (art. 140º, 141º e 147º).
Estamos perante um eventual uso abusivo do regime (art. 147º nº1-a), pois: a) o
contrato não foi reduzido a escrito (um dos requisitos formais – art. 141º nº1); b) o
trabalhador não foi, afinal, desempenhar as tarefas habituais da trabalhadora alegadamente
substituída – possibilidade de substituição indireta de trabalhador substituído (art. 140º nº1-a)
mas que não foi evidenciado como deveria ter sido na menção do “respetivo motivo
justificativo” (art. 141º nº1-e e nº3).
Como o contrato está ilegal, o contrato de trabalho vale como um contrato sem
termo – art. 147º nº1-a).
69
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Comente, de forma breve, mas fundamentada (corrigindo, se necessário):
Resposta: Falso segundo o art. 70º nº2 CT. O menor que ainda não completou 16 ano, mas que
tenha concluído a escolaridade obrigatória ou esteja matriculado no ensino secundário é
válido apenas com a autorização escrita dos seus representantes legais.
Resposta: Falso. Cada EM tem direito a enviar 4 delegados à Conferência: dois representantes
do Governo, um dos trabalhadores e um dos empregadores, podendo falar-se de uma
estrutura tripartida.
Resposta: Falso. Todos os créditos laborais prescrevem decorrido um ano a partir do dia
seguinte àquele em que cessou o CT (art. 337º nº1 CT). Se já venceu há mais de 5 anos, e não
estiver prescrito, só se pode ser provado por documento idóneo (art. 337º nº2 CT).
Resposta: Falso. Apenas implica a redução a escrito unicamente dessa cláusula do contrato –
art. 135º.
Grupo II
Alfredo, eletricista de 1ª, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª feira,
retribuição mensal base de 600€ e uma diuturnidade no valor de 50€, celebrou contrato de
trabalho com BTO, Ldª, pelo período de dois anos, com início a 1 de janeiro de 2015, e com
observância das normas em vigor.
70
S.A Direito do Trabalho
Resposta: Alfredo está sobre um contrato de trabalho a termo resolutivo certo, com a duração
de 2 anos, em virtude da existência de cláusula expressa de tipo termo resolutivo certo: “pelo
período de dois anos”: faz depender a extinção da eficácia do contrato de um fato futuro,
certo quanto à sua verificação e certo quanto ao momento dessa verificação – ocorrência do
momento correspondente a 2 anos a contar do início da eficácia.
2. Suponha que Alfredo se tem mantido ao serviço ininterruptamente até ao presente. Qual a
situação, no dia de hoje, do referido contrato, já que as partes nada mais comunicaram ou
acordaram entre si? Justifique.
Resposta: O contrato que antes era a termo certo, converteu-se a contrato sem termo desde o
dia 1/1/2017, porquanto, nessa data não tendo caducado nos termos do artigo 344º, também
não se renovou por idêntico período nos termos do art. 149º, porquanto excederia o prazo de
duração máxima de um CT a prazo certo – art. 147º nº2-b).
Resposta: Estamos perante trabalho suplementar, que é um trabalho prestado fora do horário
de trabalho (art. 226º CT). Este foi prestado em dia útil, com a duração de 2 horas (1 hora
entre as 13-14H e outra hora entre as 19-20H). Para ser exigível o pagamento do trabalho
suplementar, é necessário que ou tenha sido prévia expressamente determinado pelo
empregador ou, em caso contrário, pelo menos, que seja realizado de modo a não ser
previsível a oposição do empregador – o que parece ser o caso, já que o empregador disse que
registou com o maior apreço, segundo disse, pelos enormes prejuízos que a sua prestação
evitou (art. 268º nº2 CT). Sendo assim, a razão parece assistir ao trabalhador.
4. Suponha agora, para efeitos desta pergunta, que o trabalho prestado naquele dia 5 de
maio fora prévia e expressamente determinado pela BTO, Ldª. Quais os direitos de Alfredo,
em virtude do trabalho prestado no dia em causa? Fundamente.
Resposta: Alfredo tem direito à retribuição majorada, ou seja, retribuição horaria com alguns
acréscimos de 25% pela primeira hora e 37,5% na segunda (art. 286º nº1-a) e 2 CT). O valor da
retribuição é calculado pela fórmula do art. 271º nº1 CT. Como o Alfredo não prestou o
trabalho suplementar num dia de descanso semanal, nem foi impedido do gozo do descanso
diário, não tem direito ao descanso compensatório face aos art. 229 e 230º CT.
71
S.A Direito do Trabalho
5. Suponha que em fevereiro de 2017, Alfredo ainda não gozara quaisquer férias. Descreva
circunstanciadamente as férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas,
ao abrigo deste contrato, desde o seu início até então. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com o objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição. É
um direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
No ano civil presente (2017), a 1 de janeiro venceu-se mais 22 dias úteis de férias e
encontra-se em formação um novo direito a férias anual de 22 dias úteis (art. 238º nº1 CT).
72
S.A Direito do Trabalho
Resposta: o artigo 3º do CT apresenta as normas legais que podem ou não ser afastadas por
um IRCT, e aquelas que podem ser afastadas utilizando o princípio do tratamento mais
favorável (art. 476º CT). O nº4 deste artigo (3º) apresenta-nos a utilização do princípio do
tratamento mais favorável.
b) O trabalho temporário é uma figura jurídica que engloba três sujeitos e três contratos.
c) A transferência do local de trabalho apenas poderá acontecer por acordo entre trabalhador
e empregador.
Grupo II
Amélia, consultora jurídica, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª feira,
retribuição mensal base de 800€ e uma diuturnidade no valor de 50€, celebrou contrato de
trabalho com LEX, Ldª, para substituição de um jurista atingido por doença grave.
“O presente contrato cessa os seus efeitos na data em que o trabalhador José António
regressar ao serviço, ou assim que se torne certo de que o mesmo não vai regressar”.
73
S.A Direito do Trabalho
trabalho (art. 140º, 141º e 147º). É um contrato a termo incerto pelo art. 140º nº3 e nº2-a)
(por remissão, este último).
2. Suponha que a 10 de maio de 2017, Amélia teve conhecimento por um outro colega que
José António havia falecido. Qual a situação, no dia de hoje, do referido contrato, sabendo que
Amélia ainda não recebeu qualquer comunicação por parte da entidade empregadora e por
essa razão se tem mantido ao serviço ininterruptamente? Justifique.
Resposta: Amélia está sobre um contrato sem termo desde o dia 25/05/2017, pois nessa data,
não tendo havido comunicação do empregador (na data de morte de José), a trabalhadora
manteve-se ao serviço decorridos 15 dias após a verificação do termo; e segundo o art. 147º
nº2-c), é um motivo para se converter o contrato a sem termo – remissão para o nº3 do
mesmo artigo.
3. Imagine que no dia 26 de maio de 2017, sexta-feira, o Diretos de Serviços solicitou a Amélia
a elaboração de um parecer jurídico com carácter urgente sobre algumas questões jurídicas
relativas à empresa. Dada a urgência, Amélia acabou por trabalhar nesse dia até às 21H, mais 2
horas do que habitual. Aquando do pagamento do salário do mês de maio de 2017, Amélia
ficou profundamente dececionada, já que a BTO, Ldª lhe entregou um salário do valor
habitual, sem qualquer acréscimo, alegando esta que, apesar de reconhecer que o parecer era
urgente, não deu qualquer ordem à trabalhadora nesse sentido, considerando mesmo que tal
jornada seria desnecessária se a trabalhadora perdesse menos tempo ao telefone, e portanto,
no seu entender, tal prolongamento não é da sua responsabilidade. Amélia, que não é versada
em Direito do Trabalho, mostra-se inconformada, entendendo, pelo contrário, que o seu
pagamento é devido. A quem assistirá razão face à lei em vigor? Fundamente.
4. Suponha agora, para efeitos desta pergunta, que o trabalho prestado naquele dia 26 de
maio fora prévia e expressamente determinado pela LEX, Ldª. Quais os direitos de Amélia, em
virtude do trabalho prestado no dia em causa? Fundamente.
5. Suponha que em fevereiro de 2017, Amélia ainda não gozara quaisquer férias. Descreva
circunstanciadamente as férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas,
ao abrigo deste contrato, desde o seu início até então. Justifique.
A 2 de fevereiro de 2018, Amélia vem a ser despedida por decisão escrita que lhe foi notificada
nesse dia. Face à factualidade descrita, terá Amélia fundamentos para impugnar o
despedimento? Justifique.
74
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes afirmações, diga, relativamente a cada uma delas, se é verdadeira ou falsa e
justifique a sua resposta:
4) O contrato de trabalho celebrado por menor de 15 anos de idade é válido desde que os
representantes legais do menor autorizem por escrito essa celebração.
5) A cláusula que consta de um contrato de trabalho que estipula que o período normal de
trabalho será de 45 horas por semana é nula, não determinando a invalidade de todo o
contrato de trabalho.
Resposta: Verdadeiro, segundo o art. 203º nº1 e art. 121º nº1 CT.
7) A nova convenção coletiva nunca pode conter disposições menos favoráveis aos
trabalhadores do que as contidas na convenção anterior substituída.
75
S.A Direito do Trabalho
10) A reforma por idade não tem forçosamente de implicar a perda de emprego do
trabalhador.
Grupo II
José e Maria celebraram há dois meses um contrato por via do qual prometeram
reciprocamente celebrar até ao final do ano um outro contrato, nos termos do qual o primeiro
admitiria a segunda ao seu serviço, para desempenho das funções de costureira, sob as ordens
e instruções do primeiro, mediante o pagamento de 800€ mensais e um período normal de
trabalho semanal de 40 horas, em horário a combinar.
Apesar disso, Maria celebrou recentemente um contrato de trabalho com Carlos, para o
exercício de funções idênticas, mas com melhores condições, não tendo intenção de vir a
cumprir o referido contrato inicial. José ficou notoriamente dececionado.
a) Qualifique o contrato celebrado entre José e Maria e indique qual o regime a que
está sujeito em termos de forma. Justifique.
b) será viável a instauração de uma ação judicial por José que, a ser procedente,
permitiria obrigar Maria a cumprir a promessa feita reciprocamente? Justifique.
Relativamente à alínea b), não será viável para José instaurar uma ação judicial, pois
segundo o art. 103º nº2 o não cumprimento deste tipo de contrato dá lugar à responsabilidade
nos termos gerais e não se pode em lugar nenhum aplicar o disposto no art. 830º CCivil.
76
S.A Direito do Trabalho
Grupo III
Cláudia, cozinheira, foi contratada pelo período de seis meses, para substituir Isabel, chefe de
cozinha, em licença de maternidade, por um período previsível de quatro meses.
Cláudia tem dúvidas sobre a validade do seu contrato, uma vez que, até à data ainda não
assinou qualquer contrato de trabalho e, para além disso, apesar de ela ter sido contratada
para realizar as tarefas que incumbiam a Isabel, a verdade é que, desde o início, quem está a
ocupar o lugar de Isabel é Maira, filha do empregador, tendo sido atribuído a Cláudia,
diferentemente, o lugar de ajudante de cozinha. No entanto, Cláudia receia invocar este fato
em Tribunal, pois pensa que, se o fizer, o seu contrato será considerado inválido e ela ficará
sem emprego.
Resposta: Estamos perante um contrato de trabalho a prazo certo ou com termo resolutivo
certo: “foi contratada pelo período de seis meses, para substituir Isabel, chefe de cozinha, em
licença de maternidade, por um período previsível de quatro meses”. Estamos perante um
eventual uso abusivo do regime (art. 147º nº1-a), pois: a) não foi reduzido a escrito; b) a
duração é afinal superior à duração previsível das necessidades; c) o trabalhador não foi,
afinal, desempenhar as tarefas habituais da trabalhadora alegadamente substituída –
possibilidade de substituição indireta do trabalhador substituído (art. 140º nº1-a), que não
parece ter sido evidenciado, como deveria ter sido, a ser regular, na menção do “respetivo
motivo justificativo” (art. 141º nº1-e) e nº 3).
Sendo ilegal, o contrato de trabalho vale como um contrato sem termo – art. 147º
nº1-a).
b) Estranhando que a duração do contrato fosse de seis meses quando o período previsível da
licença de maternidade era de quatro meses, o empregador referiu-lhe que a duração mínima
legal daquele tipo de contratos era de 6 meses. Será assim? Justifique.
Resposta: O empregador não tem razão, pois segundo o art. 148º nº2 CT, as situações do art.
140º nº2, al. a)-g) (este caso concreto aplica-se à alínea a) desse artigo) podem ser celebradas
por um prazo inferior ao de seis meses (neste caso 4 meses).
Resposta: O empregador, no final do prazo estipulado (seis meses) deve comunicar à outra
parte (trabalhador) a sua vontade de cessar o contrato, 8 ou 15 dias antes do prazo expirar –
art. 344º nº1 CT.
77
S.A Direito do Trabalho
78
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
1. O trabalho temporário é uma figura jurídica que engloba três sujeitos e três contratos.
Resposta: Falso. O trabalhador com filho menor de 12 anos ou, independentemente da idade,
filho com deficiência ou doença crónica que com ele viva em comunhão de mesa e habitação
tem direito a trabalhar a tempo parcial. Contudo, o empregador poderá recusar o pedido com
fundamento em exigência imperiosa do funcionamento da empresa, ou na impossibilidade de
substituir o trabalhador se este for indispensável – art. 55º, 57º nº2 e 155º nº1 CT.
3. O empregador pode, por razões do seu interesse, reclassificar o trabalhador para categoria
inferior, mesmo que implique diminuição da retribuição, sendo porém, necessário e bastante o
acordo do trabalhador afetado.
5. Apenas são consideradas faltas injustificadas aquelas como tal listadas taxativamente na lei.
Resposta: Falsa. As faltas injustificadas são definidas pela negativa – art. 249º nº2 e 3.
79
S.A Direito do Trabalho
7. A retribuição mista é legalmente aquela que é paga parte em dinheiro e parte em bens em
espécie.
Resposta: Falso. A retribuição mista é uma modalidade de retribuição composta por uma parte
certa (função do tempo) e outra variável (função do rendimento) – art. 261º CT.
Grupo II
António, trabalhador de um estabelecimento situado em Coimbra, recebeu no dia 2 de
Dezembro de 2018, uma ordem do seu empregador para passar a exercer definitivamente a
sua atividade laboral em Évora, a partir do dia 10 do mesmo mês. O empregador invocou que
tencionava diminuir a laboração no estabelecimento de Coimbra e aumentá-la no
estabelecimento de Évora. O trabalhador solicitou que a ordem de transferência lhe fosse
comunicada por escrito, bem como as respetivas razões. O empregador recusou-se a observar
esta solicitação, por entender que já tinha explicado verbalmente os motivos da transferência
a António.
Resposta: O empregador está obrigado a transferir o trabalhador para outro local de trabalho,
salvo nos casos previstos no Código ou em IRCT ou ainda quando há acordo (art. 129º nº1-f) CT
– garantia dos trabalhadores).
Neste caso, mesmo que se considere a justificação apresentada como licita, tanto
mais que António não alegou nenhum interesse sério em contrário, a ordem de transferência
não foi escrita nem respeitou o prazo de 30 dias. Enquanto não for dada por escrito a ordem é
inválida ou ineficaz. E o trabalhador pode desobedecer a ordens ilegítimas do seu empregador
80
S.A Direito do Trabalho
Resposta: António poderia resolver o contrato, nos termos gerais, mas apenas terá direito a
compensação (art. 366º CT), mas não a indemnização, se demonstrar que a transferência lhe
causa prejuízo sério, nos termos do art. 194º nº5 CT; sendo que prejuízo sério, segundo o
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 12 de novembro de 2009, é o “dano relevante,
com alteração substancial das suas condições de vida, que poderá refletir-se em aspetos de
natureza pessoal, profissional, familiar e económica, não estando em causa apenas prejuízos
patrimoniais ou profissionais” e pode acarretar prejuízos familiares, visto que a transferência
definitiva implica a mudança de residência e por ventura de cidade.
Grupo III
Laura, consultora jurídica, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª feira, retribuição
mensal base de €800,00 e uma diuturnidade no valor de €50,00, celebrou contrato de trabalho
com a LEX, Ldª, com início a 1 de setembro de 2016, e com observância das normas em vigor.
No mês seguinte à sua contratação, Laura casou-se e por essa razão não compareceu ao
trabalho durante 15 dias seguintes.
Resposta: Laura esteve durante esse período sob o regime de faltas justificadas por motivo de
se ter casado (art. 249º nº1-a) CT); sendo que a falta é a ausência de trabalhador do local em
que devia desempenhar a atividade durante o período normal de trabalho diário (art. 248º nº1
CT).
2. Suponha que Laura ainda não gozou quaisquer férias. Descreva circunstanciadamente as
férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas, ao abrigo deste contrato,
desde o seu início até ao dia de hoje. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição que
está consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP. O trabalhador tem direito, em
cada ano civil, a um período de férias retribuídas, que se vence a 1 de janeiro. Em regra, este
direito reporta-se ao trabalho prestado no ano civil anterior e não está condicionado à
assiduidade ou efetividade de serviço, sendo que as faltas dadas por Lara não condicionam o
direito a férias (art. 237º nº1 e 2 CT).
No ano de admissão (2016), Laura tem direito a 2 dias úteis de férias por mês,
sendo que só pode gozá-las 6 meses após a celebração do contrato (art. 239º nº1 CT). Neste
81
S.A Direito do Trabalho
caso, Laura apenas pode gozar férias a 1 de março de 2017; assim, como as férias não são
gozadas no ano de contratação, Laura pode gozar 8 dias de férias referentes aos 4 meses de
2016 até 30 de junho de 2017 (art. 239º nº2 CT). Contudo, ainda nesse ano, de 2017, a 1 de
janeiro venceram 22 dias úteis de férias que poderão ser gozadas de 1 de março até 31 de
dezembro (art. 240º nº1 CT). Assim, no ano de 2017, Laura tem direito a gozar 30 dias úteis de
férias (8+22), que é o máximo legal permitido no mesmo ano civil (art. 239º nº3 CT) de 1 de
março a 31 de dezembro de 2017, sendo que, os 8 dias relativos a 2016 têm de ser gozados até
30 de junho de 2017 (art. 239º nº2 CT).
Ontem, Laura foi notificada, por escrito, da decisão final de despedimento por justa causa, nos
termos do art. 351º nº2-g) CT. face à factualidade descrita, terá Laura fundamento/s para
impugnar o despedimento? Justifique.
82
S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes informações, diga, relativamente a cada uma delas, se é verdadeira ou falsa e
justifique a sua resposta:
Resposta: Falso, segundo o art. 68º nº3 e art. 70º nº1 e nº2.
Resposta: Falso, pois o objeto da obrigação laboral do trabalhador é alargado pela polivalência
funcional (art. 118º nº2 e ss.) e pela mobilidade funcional (art. 120º).
Resposta: Falso, pois existem casos especiais de contratos especiais de muita curta duração
presentes no art. 142º CT.
7. Não é configurável como sanção disciplinar uma perda de dias de férias já que o direito a
férias é indisponível.
83
S.A Direito do Trabalho
8. Em regra, o trabalho fora do horário, por tratar-se de trabalho não previsto no contrato,
carece do consentimento do trabalhador.
Resposta: Falsa, pois existe o trabalho suplementar (art. 226º) que é obrigatório exceto se o
trabalhador solicitar expressamente a sua dispensa (art. 227º nº3).
Grupo II
Pronuncie-se fundamentadamente acerca da validade ou invalidade de cada uma das
seguintes cláusulas que, entre outras, constam de um Contrato coletivo de trabalho celebrado
entre as associações sindicais e patronais representativas do setor têxtil:
Resposta: A cláusula presente na alínea a), contraria a norma presente no art. 263º nº1, mas
não a invalidade pois esta norma contém imperatividade mínima, e segundo o art. 3º nº1, se a
CCT for mais favorável para o trabalhador, pode afastar a normal legal. Colocando-se o
problema de concurso de fontes entre a lei e a CCT, esta última afasta a lei. Logo, os
trabalhadores abrangidos tem direito ao regime emergente da CCT.
Já sobre a cláusula da alínea b), a cláusula é ilegal face ao art. 478º nº1 al. a) CT. No art.
249º CT apresentam-nos os motivos para se considerar faltas como justificadas e esta cláusula
não se apresenta lá. Para além disso, o art. 250º CT diz-nos que estas disposições não podem
ser afastadas por IRCT ou por contrato de trabalho. Como a cláusula é ilegal, não há concurso
de fontes e só se pode aplicar a lei.
Grupo III
Josefa, recém-licenciada em comunicação social, com horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª
feira, retribuição mensal base de €1200 celebrou contrato de trabalho com a Projeto24FM,
detentora de um jornal local, para substituir Laura, revisora editorial, atingida por doença
grave. No contrato de trabalho, celebrado a 1 de agosto de 2017, foi aposta a seguinte
cláusula:
“O presente contrato cessa os seus efeitos na data em que a trabalhadora Laura regressar ao
serviço, ou assim que se torne certo que a mesma não vai regressar”.
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S.A Direito do Trabalho
regressar” faz depender a extinção da eficácia do contrato de um fato futuro, incerto quanto à
sua verificação e incerto quanto ao momento dessa verificação – cessação associada à
verificação de um evento de data incerta. É um carácter excecional do regime dos contratos de
trabalho a prazo face à garantia constitucional da segurança no trabalho (art. 140º, 141º e
147º). É um contrato a termo incerto pelo art. 140º nº3 e nº2-a (por remissão).
3. Suponha que Josefa ainda não gozou quaisquer férias. Descreva circunstanciadamente as
férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas, ao abrigo deste
contrato, desde o seu início até ao dia de hoje. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição,
estando este direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
4. Imagine que no passado dia 20 de dezembro, Josefa teve conhecimento por um outro
colega que Laura havia falecido nesse dia. Qual a situação, no dia de hoje (15.01.2019), do
referido contrato, sabendo que Josefa ainda não recebeu qualquer comunicação por parte da
entidade empregadora e por essa razão se tem mantido ao serviço ininterruptamente?
Justifique.
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S.A Direito do Trabalho
Resposta: O contrato passou a valer como contrato sem termo desde 04.01.2019, porquanto,
nessa data, não tendo havido comunicação do empregador, a trabalhadora manteve-se ao
serviço decorridos 15 dias após a verificação do termo (morte do trabalhador substituído) –
art. 147º nº2-c) e nº3 CT.
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S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes afirmações, diga, relativamente a cada uma delas, se é verdadeira ou falsa, e
justifique a sua resposta:
Resposta: Falso, pois estas relações determinam-se pelo princípio do tratamento mais
favorável (art. 476º CT) em que aquele que é mais favorável ao trabalhador é o que rege esta
relação.
Resposta: Falso, pois segundo o art, 114º nº4 CT, o não cumprimento do período de aviso
prévio apenas determina o pagamento da retribuição correspondente ao aviso prévio em falta.
3. A prestação de atividade por um médico pode ser regulada pelo Código do Trabalho, se se
verificarem pelo menos dois elementos indiciários da presunção laboral de laboralidade.
Resposta: Falso segundo o art. 147º nº1-c (converte-se num contrato sem termo).
5. Um trabalhador menor não tem, em princípio, capacidade para receber, por ato próprio, a
retribuição.
6. A cláusula que consta de um contrato de trabalho que estipula que o período normal de
trabalho será de 45 horas por semana é nula, não determinando a invalidade de todo o
contrato de trabalho.
Resposta: Verdadeiro, segundo o art. 203º nº1 e o art. 121º nº2 CT.
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S.A Direito do Trabalho
Resposta: Falso segundo o art. 148º nº2 e art. 140º nº2-h CT.
Grupo II
Pronuncie-se fundamentadamente acerca da validade ou invalidade de cada uma das
seguintes cláusulas que, entre outras, se constam da convenção coletiva de trabalho celebrada
entre a empresa “Faz tudo, faz bem, Lda” e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil
(STIT), que estabelecia o seguinte:
Resposta: Relativamente à cláusula presente na alínea a), ela contraria o presente no art. 114º
nº1 CT; mas como nesta diz que se houver acordo escrito pode-se contradizer, a norma não
tem imperatividade legal. Segundo o art. 3º nº1 a CCT pode afastar a aplicação da lei. Logo,
caso o contrato seja denunciado durante o período experimental, o trabalhador terá direito a
uma indemnização.
Já sobre a alínea b), a cláusula é ilegal face ao art. 476º CT. Embora este artigo – art.
238º nº1 CT - tenha imperatividade mínima, o que permite o seu afastamento quando, em
função do princípio do tratamento mais favorável, o IRCT é mais favorável para o trabalhador;
neste caso concreto não é verdade, pois o artigo em questão, no seu nº1, diz que o período de
88
S.A Direito do Trabalho
férias anual é de 22 dias úteis. Para finalizar, como a cláusula é ilegal não há concurso de
fontes e só se pode aplicar a lei.
Grupo III
Patrícia, recém-licenciada em comunicação social, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a
6ª feira, retribuição mensal de 1 200€, celebrou contrato de trabalho com a Projecto24FM,
detentora de um jornal local, para substituir Anabela, revisora editorial, atingida por doença
grave. No contrato de trabalho, celebrado a 1 de agosto de 2018, foi aposta a seguinte
cláusula:
“O presente contrato cessa os seus efeitos na data em que a trabalhadora Anabela regressar
ao serviço, ou assim que se torne certo que a mesma não vai regressar”.
3. Imagine que no passado dia 21 de outubro Patrícia teve conhecimento por um outro colega
que Anabela havia falecido nesse dia. Qual a situação, no dia de hoje (14/11/2019), do referido
contrato, sabendo que Patrícia ainda não recebeu qualquer comunicação por parte da
entidade empregadora e por essa razão se tem mantido ao serviço ininterruptamente?
Justifique.
Resposta: Patrícia está sobre um contrato sem termo desde 05/11/2019, pois nessa data, não
tendo havido comunicação do empregador (na data de morte de Anabela), a trabalhadora
manteve-se ao serviço decorridos 15 dias após a verificação do termo – art. 147º nº2-c e nº3
CT.
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S.A Direito do Trabalho
3. Em regra, o trabalho fora do horário, por tratar-se de trabalho não previsto no contrato,
carece do consentimento do trabalhador.
5. Apenas são consideradas faltas injustificadas aquelas como tal listadas taxativamente na lei.
Resposta: Falso. As faltas injustificadas são definidas pela negativa (art. 249º nº3 e 2 CT).
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S.A Direito do Trabalho
6. No caso das faltas justificadas, o trabalhador algumas vezes perde o direito à retribuição.
Resposta: Verdadeiro. Embora o art. 255º nº1 nos diga que a falta justificada não afeta
qualquer direito do trabalhador, o nº2 do mesmo artigo apresenta-nos duas situações em que
a falta justificada afeta sim o direito à retribuição: a) falta por motivo de doença desde que o
trabalhador beneficie de um regime de segurança social de proteção na doença; b) falta por
motivo de acidente no trabalho se o trabalhador tiver direito a subsídio ou seguro (art. 255º
nº2-a) e b) CT).
7. Não é configurável como sanção disciplinar uma perda de dias de férias já que o direito a
férias é indisponível.
Resposta: Falso. O art. 328º nº1-d) mostra que o empregador pode aplicar como sanção a
perda de dias de férias, tendo em atenção que o trabalhador não pode ter menos de 20 dias
úteis de férias (art. 328º nº3-b) CT).
9. O trabalho temporário é uma figura jurídica que engloba três sujeitos e dois contratos.
10. A transferência do local de trabalho apenas poderá acontecer por acordo entre
trabalhador e empregador.
Resposta: Falso. O empregador pode transferir o trabalhador para outro local de trabalho seja
temporária ou definitivamente, sem acordo entre as partes, em caso de mudança ou extinção
do estabelecimento ou por outro motivo do interesse da empresa exija essa transferência (art.
194º nº1-a) e b) CT).
Grupo II
Amélia, consultora jurídica, com um horário das 9-12H e 14-19H de 2ª a 6ª feira, retribuição
mensal base de €900,00 e uma diuturnidade no valor de €50,00, celebrou contrato de trabalho
com LEX, Ldª com início a 1 de março de 2017, e com observância das normas em vigor.
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S.A Direito do Trabalho
Resposta: Estamos perante trabalho suplementar que é o trabalho prestado fora do horário de
trabalho (art. 226º nº1 CT) prestado em dia útil com a duração de 2 hora (19-21H). O
trabalhador suplementar pode ser prestado para prevenir ou reparar prejuízo grave
(“elaboração de um parecer jurídico com carácter urgente”) – art. 227º nº2 CT. Para ser
exigível o pagamento do trabalho suplementar é necessário que ou tenha sido prévia
expressamente determinado pelo empregador ou, em caso contrário, pelo menos que seja
realizado de modo a não ser previsível a oposição do empregador – o que parece ser o caso
visto que o Direito de Serviços solicitou um parecer jurídico com carácter jurídico que poderia
trazer prejuízos para a empresa (art. 268º nº3 CT). Neste caso, a razão parece assistir ao
trabalhador.
2. Suponha, para efeitos desta pergunta, que o trabalho prestado naquele dia 24 de Maio fora
prévia e expressamente determinado pela LEX, Lda. Quais os direitos de Amélia, em virtude do
trabalho prestado no dia em causa? Fundamente.
Resposta: Amélia teria direito a retribuição majorada com acréscimo de 25% na 1º hora e
37,5% na 2º hora (art. 268º nº1 e 2 CT). O valor da retribuição horária normal é determinado
pela fórmula do art. 271º CT – 900x12 : 52x8 (sendo 900 a retribuição mensal e 8 o período
normal de trabalho semanal). Não existe aqui o direito a descanso compensatório face aos art.
229º e 230º CT.
3. Suponha que Amélia ainda não gozou quaisquer férias. Descreva circunstanciadamente as
férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas, ao abrigo deste contrato,
desde o seu início até ao dia de hoje. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição. É
um direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
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S.A Direito do Trabalho
passados + 6 dias referentes aos 4 meses que ainda faltam para o ano acabar. Assim, de 1 de
setembro de 2017 até 31 de dezembro desse mesmo ano, Amélia pode gozar 18 dias de férias
– o limite de dias de férias no ano de contratação é de 20 dias úteis de férias (art. 239º nº1 CT).
Ontem (19.12.2019), Amélia foi notificada, por escrito, da decisão final de despedimento por
justa causa, nos termos do artigo 351.º nº 2, alínea g) do Código do Trabalho. Face à
factualidade descrita, terá Amélia fundamento/s para impugnar o despedimento? Justifique.
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S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes informações, diga, relativamente a cada uma delas, se é verdadeira ou falsa, e
justifique a sua resposta:
2. Denunciada a convenção coletiva para o termo do prazo de vigência em curso, ela caduca
necessariamente no final desse prazo.
Resposta: Falso, segundo o art. 501º nº3 CT em que a CCT mantém-se em regime de
sobrevivência durante o período em que decorre a negociação.
3. No contrato de trabalho, o trabalhador é sempre uma única pessoa física, da mesma forma
que o empregador é obrigatoriamente uma única pessoa.
Resposta: Falso, segundo o art. 101º n º1 CT. Este diploma permite que um trabalhador preste
trabalho a vários empregadores.
Resposta: Falso, segundo o art. 114º nº4 CT. O não cumprimento do aviso prévio apenas leva
ao pagamento da retribuição correspondente ao aviso prévio em falta.
Resposta: Verdade segundo o art. 148º nº2 e art. 140º nº2-h) CT.
94
S.A Direito do Trabalho
Resposta: Verdadeiro. O contrato é nulo se não for celebrado por escrito e considera-se,
nestes casos, o trabalho é prestado pelo trabalhador ao utilizador em regime de trabalho sem
termo em que se aplica o disposto no art. 173º nº6. (art. 177º nº5 e 6 CT)
8. O contrato de trabalho a termo certo pode ser renovado até 3 vezes e desde que a duração
total das renovações respeite a duração máxima prevista no Código do Trabalho para essa
modalidade de contrato.
Resposta: Falso segundo o art. 149º nº4 CT – a duração total das renovações não pode
exceder a do período inicial do contrato.
Grupo II
Patrícia, costureira, com um horário das 9-12H e 14-19H, de 2ª a 6ª feira, retribuição mensal
base de 700€ e uma diminuição no valor de 50€, celebrou contrato de trabalho com a Corte e
Costura, Ldª, situada em Coimbra, com início a 1 de outubro de 2017, e com observância das
normas em vigor.
No mês seguinte à sua contratação, Patrícia casou.se e por essa razão não compareceu ao
trabalho durante 15 dias seguintes.
Resposta: Regime de faltas justificadas segundo o art. 249º nº2-a) (15 dias seguidos, por altura
do casamento). A falta é a ausência de trabalho do local em que devia desempenhar a
atividade durante o período normal de trabalho diário – art. 248º nº1 CT.
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S.A Direito do Trabalho
2. Suponha que Patrícia ainda não gozou quaisquer férias. Descreva circunstanciadamente as
férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas, ao abrigo deste
contrato, desde o seu início até ao dia de hoje. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidos ao
trabalhador com objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição. É
um direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
O trabalhador tem direito, em cada ano civil, a um período de férias retribuídas que
se vence em 1 de janeiro. Em regra, este direito reporta-se ao trabalho prestado no ano civil
anterior e não está condicionada à assiduidade ou efetividade de serviço – as faltas dadas por
Patrícia não condicionam o direito a férias (art. 237º nº1 e 2 CT).
No ano de admissão, Patrícia tem direito a dois dias úteis de férias por cada mês de
duração do contrato, até 20 dias, cujo gozo pode ter lugar após 6 meses completos de
execução do contrato (art. 239º nº1 CT), ou seja, em virtude do trabalho prestado no ano de
2017 (1Out. a 31Dez), tem direito a 6 dias úteis de férias (3 meses x 2). A estes acresce o
período de 22 dias úteis vencidos no ano seguinte (mas não a 1 de janeiro de 2017, como é
regra, mas logo que perfaça 6 meses completos de execução contratual: 1 de abril de 2018).
Assim, neste caso é coincidente o momento do vencimento de ambos os direitos a férias.
Assim, no ano 2018, Laura teria direito a gozar 28 dias úteis de férias (6+22) – respeita o
máximo legal permitido no mesmo ano civil (art. 239º nº3 CT), de 1 de abril a 31 de dezembro
de 2018, sendo que os 6 dias relativos a 2017 teriam de ser gozados até 30 de junho de 2018
(art. 239º nº2 CT).
3. Imagine que Patrícia recebeu, no dia 2 de dezembro de 2019, uma ordem do seu
empregador para passar a exercer definitivamente a sua atividade laboral em Évora, a partir
do dia 20 do mesmo mês. O empregador invocou que tencionava diminuir a laboração no
estabelecimento de Coimbra e aumentá-la no estabelecimento de Évora. A trabalhadora
solicitou que a ordem de transferências lhe fosse comunicada por escrito, bem como as
respetivas razoes. O empregador recusou-se a observar esta solicitação, por entender que já
tinha explicado verbalmente os motivos da transferência a Patrícia.
Resposta: Segundo o art. 129 nº1-f, é proibido transferir o trabalhador para outro local de
trabalho, salvo nos casos previstos no CT, num IRCT ou quando houver acordo. Para realizar
essa transferência é necessário dois requisitos: um material (art. 194º nº1-b CT): interesse da
empresa e inexistência de prejuízo sério do trabalhador; e um formal: se se tratar de
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S.A Direito do Trabalho
transferência definitiva, deve comunicar por escrito com 30 dias de antecedência (art. 196º
nº1) e que deve conter os fundamentos e a duração da transferência (art. 196º nº2).
Mesmo que se considere a justificação apresentada como licita, tanto mais que
Patrícia não alegou nenhum interesse sério em contrário, a ordem de transferência não foi
escrita nem respeitou o prazo de 30 dias. Enquanto não for dada a ordem por escrito é inválida
ou ineficaz; e o trabalhador pode desobedecer a ordens ilegítimas do seu empregador (art.
128º nº1-c).
Resposta: Patrícia poderia resolver o contrato, nos termos gerais, mas apenas terá direito a
compensação prevista no art. 366º CT, mas já não terá direito a indemnização, se demonstrar
que a transferência lhe causa prejuízo sério nos termos do art. 194º nº5 CT.
Prejuízo sério é o “dano relevante, com alteração substancial das suas condições de
vida, que poderá refletir-se em aspetos de natureza pessoal, profissional, familiar e económica,
não estando em causa apenas prejuízos patrimoniais ou profissionais” (Acórdão do Supremo
Tribunal de Justiça de 12 de novembro de 2009). Neste caso concreto, por ser uma
transferência definitiva, Patrícia se achasse que esta mudança implicaria grandes prejuízos ao
nível familiar, pela razão de ter de mudar de residência, e neste caso, até de cidade, poderia
resolver o contrato alegando prejuízo sério nos termos do art. 194º nº5 CT.
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S.A Direito do Trabalho
Grupo I
Das seguintes afirmações, diga, relativamente a cada uma delas, se é verdadeira ou falsa, e
justifique a sua resposta.
Resposta: Falso. O trabalho temporário engloba 3 sujeitos e 2 contratos. Os sujeitos são a ETT,
o utilizador e o trabalhador. Os contratos são o contrato de utilização (acordo de natureza civil
celebrado entre a ETT e utilizador) e o contrato de trabalho temporário (contrato de trabalho
celebrado entre a ETT e trabalhador temporário, a termo resolutivo certo ou incerto) ou o
contrato de trabalho por tempo indeterminado para cedência temporária (sem termo) – art.
172º-a), b) e c) com remissão para o 175, 180 e 183º CT.
4. O trabalhador que presta trabalho normal em dia feriado em empresa não obrigada a
suspender o funcionamento nesse dia poderá optar pelo direito ao descanso compensatório
com duração de metade do número de horas prestadas ou pelo acréscimo de 50% da
retribuição correspondente.
Resposta: Falso. O trabalhador tem direito a uma destas compensações, contudo a escolha
cabe ao empregador como nos diz o art. 269º nº2 CT.
5. Em regra, o trabalho fora do horário, por tratar-se de trabalho não previsto no contrato,
carece do consentimento do trabalhador.
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S.A Direito do Trabalho
trabalhador determinar o horário de trabalho do trabalhador dentro dos limites da lei (art.
212º CT), sendo que para a sua alteração deve consultar os trabalhadores envolvidos e a
comissão de trabalhadores: o estabelecido com o acordo do trabalhador só pode ser alterado
com o consentimento do trabalhador (art. 217º nº1 e 4 CT).
8. O período experimental não carece de ser estipulado para existir, mas carece de ser
expressamente excluído (por escrito) para não nascer.
Grupo II
Maria celebrou em 1/9/2018 um contrato de trabalho com a sociedade “Têxteis do Lar, SA”
para o desempenho de funções de secretariado de direção. Do contrato de adesão assinado
por Maria constava que o seu horário era das 9h às 13h e das 14h às 18h, de 2.ª a 6.ª feira,
que o seu local de trabalho correspondia às instalações da sede da sociedade sitas no Porto e
que a retribuição mensal era de 1000 euros.
1. No ano passado, Maria não compareceu ao serviço durante 5 dias para prestar assistência
ao seu pai, doente de Alzheimer, que havia sofrido uma queda no seu domicílio.
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S.A Direito do Trabalho
Maria ainda terá direito a 50% por cada hora – o empregador é obrigado a pagar o
trabalho suplementar cuja prestação foi expressamente determinado – sendo que a
retribuição horária é calculada pela fórmula do art. 271º nº1 CT: (1000x12) : (52x8) (art. 268ºº
nº1-b) e nº2 com remissão para o art. 271º CT).
a) Terá Maria razão? Pronuncie-se sobre a licitude da ordem de transferência promovida pelo
empregador.
Resposta: Uma das garantias do trabalhador, prevista no art. 129º nº1-f) CT, é que o
empregador está proibido de transferir o trabalhador para outro local de trabalho, salvo nos
cassos previstos no Código ou em IRCT, ou ainda quando haja acordo.
b) Sabendo que Maria reside em Vila Nova de Gaia é divorciada, tem ao seu cuidado 2 filhos
gémeos de 4 anos e é a única familiar disponível para prestar assistência ao pai, doente de
Alzheimer, perante a ordem de transferência, poderia resolver o contrato de trabalho? Em
caso afirmativo, teria direito a alguma indemnização?
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S.A Direito do Trabalho
Resposta: Maria poderia resolver o contrato, nos termos gerais, mas apenas terá direito a
compensação (art. 366º CT), mas já não terá a indemnização, se demonstrar que a
transferência lhe causa prejuízo sério (art. 194º nº5 CT).
4. Suponha que Maria ainda não gozou quaisquer férias. Descreva circunstanciadamente as
férias que se terão formado e vencido, e deveriam ter sido gozadas, ao abrigo deste contrato,
desde o seu início até ao dia de hoje. Justifique.
Resposta: As férias são interrupções da prestação de trabalho por vários dias concedidas ao
trabalhador com o objetivo de lhe proporcionar um repouso anual sem perda de retribuição. É
um direito consagrado na Lei Fundamental no seu art. 59º nº1-d) CRP.
O trabalhador tem direito, em cada ano civil, a um período de férias retribuídas, que
se vence em 1 de janeiro. Em regra, este direito reporta-se ao trabalho prestado no ano civil
anterior e não está condicionado à assiduidade ou efetividade de serviço – as faltas dadas por
Maria não condicionam o direito a férias (art. 237º nº1 e 2 CT).
Sendo assim, no ano de admissão, Maria tem direito a 2 dias úteis de férias por cada
mês de duração de contrato, até 20 dias, cujo gozo pode ter lugar após 6 meses completos de
execução do contrato (art. 239º nº1 CT), ou seja, em virtude do trabalho prestado no ano de
2018 (1Set. a 31 Dez), tem direito a 8 dias úteis de férias (4 meses x 2). A estes acresce o
período de 22 dias úteis vencidos no ano seguinte (não em 1 de janeiro de 2019, como é regra,
mas logo que perfaça seis meses completos de execução contratual: 1 de março de 2019) –
neste caso é coincidente o momento do vencimento de ambos os direitos a férias. Assim, no
ano de 2019, Maria tem direito a gozar 30 dias úteis de férias (22+8) – máximo legal permitido
no mesmo ano civil (art. 239º nº3 CT) – de 1 de março a 31 de dezembro de 2019, sendo que
os 8 dias relativos a 2018 teriam de ser gozados até 30 de junho de 2019 (art. 239º nº2 CT).
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