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Direito Fiscal

Direito Fiscal (Universidade de Coimbra)

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Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)
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Direito Fiscal

Aulas 1 e 2 (11/02/15)

Programa - Campus Online (tem a indicação de páginas para estudar):

 Teoria Geral do Imposto;


 Fontes do Direito Fiscal:
 Princípios Constitucionais Fundamentais em matéria de Impostos;
 Fontes Internacionais, como o DUE e as Convenções;
 Interpretação e Integração das Normas Fiscais;
 Relação Jurídico-Tributária;
 Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares.

Bibliografia:

 Direito Fiscal, do Prof. Casalta Nabais (Almedina);


 Sobre o IRS, do Prof. Rui Morais (Almedina);
 Texto sobre a Reforma do IRS, do Prof. Rui Morais (disponível no campus online, a
partir do fim de Março);
 Acórdãos do Tribunal Constitucional.
 Legislação:
 CRP;
 Lei Geral Tributária;
 RGTAL (Regime Geral das Taxas das Autarquias Locais)*;
 CIRS.

Avaliação:

 Teste escrito (60 minutos), 18 de Abril (Sábado), das 11h às 12h - 50%;
 Apresentação oral, há uma lista de temas acerca do IRS, onde temos de escolher 1
dos temas e temos de preparar uma exposição de 5 a 7 minutos - 50%.

***

Enquadramento do Direito Fiscal

O Direito Fiscal é um sub-ramo do Direito Financeiro Público, bem como do Direito


Tributário. O Direito Financeiro Público é o ramo que regula as finanças públicas,
enquanto que o Tributário é o Direito das receitas públicas, com caráter coativo,
regulando os tributos, que podem ser:

 taxas;
 impostos;
 contribuições financeiras.

O Direito Tributário é mais vasto que o Fiscal, porque o último apenas trata dos
impostos, o Direito Fiscal é o Direito dos impostos, receitas públicas com caráter coativo
e unilateral. O traço distintivo dos impostos, relativamente aos outros tributos, a sua
marca fundamental é a unilateralidade.

***

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O Imposto

Portanto, quando falamos em tributos é muito importante termos isto presente. Em


Portugal, quando falamos em tributos podemos estar a falar de taxas, impostos ou
contribuições financeiras, daí imposto não ser sinónimo de tributo. O Direito Fiscal é
assim um ramo ''pequenino'', um ramo que surge dentro do Direito Tributário que, por
sua vez, aparece no Direito Financeiro Público, onde se tratam as formas de arrecadação
de receitas públicas, bem como os mecanismos de afetação das receitas públicas à
realização de despesas públicas.
Neste contexto, interessa-nos saber o que é um imposto, por isso temos de ter em
conta duas notas fundamentais. Primeiro, não existe um conceito perfeito e acabado de
imposto, este conceito é tipológico, essencialmente descritivo, ou seja, aprendemos a
dizer o que é um imposto descrevendo os que temos no nosso sistema, temos aqui um
conceito que vai ser construído e reconstruído no acompanhamento da própria evolução
da realidade. Este é um conceito que também aproveitamos das Finanças Públicas, não
é um conceito de juristas, estando em construção permanente. Este conceito não
condiciona a criação de impostos, bem pelo contrário!
De acordo com este conceito tipológico, o imposto é uma prestação pecuniária, uma
prestação coativa, uma prestação definitiva, uma prestação unilateral, uma prestação
exigida a detentores de capacidade contributiva, uma prestação estabelecida a favor de
entes públicos ou entes privadas a quem está atribuído o exercício de funções públicas,
para a realização de fins públicos (de caráter geral) e sem caráter sancionatório. Estes
são os 8 elementos que integram o tal conceito tipológico de imposto, que se caracteriza
por estes. Ao dizer isto estamos a identificar as caraterísticas do tipo.
Nós podemos agregar estes elementos em elementos objetivos:

 prestação pecuniária;
 prestação coativa;
 prestação definitiva;
 prestação unilateral;

Temos ainda os elementos subjetivos:

 exigida a detentores de capacidade contributiva;


 estabelecida a favor de entes públicos ou de entres privados a quem está atribuído
o exercício de funções públicas.

E temos também os elementos teleológicos:

 para a realização de fins públicos de caráter geral;


 sem caráter sancionatório.

Começamos por dizer que o imposto é uma prestação pecuniária. O que é que isto
quer dizer? Antes dizia-se que era uma prestação patrimonial, mas esse elemento é
demasiado amplo, uma prestação pecuniária é um elemento mais restrito. Esta é uma
prestação traduzida no pagamento de uma certa quantia em dinheiro, i.e., o dever
primário/principal de prestação é traduzido na obrigação de pagamento, uma obrigação
de dare de uma certa quantia em dinheiro. Isto tem um significado próprio em Direito
das Obrigações, onde há consequências para este tipo de obrigação (ex.: mora).
Porque se dizia que o imposto era uma prestação patrimonial? Antes havia impostos
que podiam ser pagos através da entrega de bens, como o dos produtos petrolíferos. Este
era o conceito que abarcava todos os impostos, mas hoje foi ajustado, porque todos os
impostos são traduzidos no pagamento de uma certa quantia, ainda que, para a maior
parte dos impostos, a própria lei prevê que a extinção da obrigação de imposto posso

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ocorrer pelo pagamento, pelo cumprimento do dever primário, ou por outra formas de
extinção da obrigação:

 dação em pagamento;
 compensação;
 consignação em depósito;
 novação;
 remissão.

Estas formas surgem, normalmente, quando o sujeito passivo não cumpriu ou quer
antecipar o cumprimento. A compensação tem especificidades em Direito Fiscal. O facto
de a lei aceitar estas formas de extinção da obrigação não implica uma descaracterização
do imposto como obrigação pecuniária. Estas são apenas formas alternativas de
extinguir a obrigação, têm um efeito extintivo.
O imposto é também uma prestação coativa, i.e., é uma prestação a que podemos
chamar também de autoritária, uma prestação imposta por lei, ou seja, a lei é a única
fonte de obrigações de imposto, de obrigações fiscais e, para além disso, a lei modela
todo o contéudo da relação de imposto. Esta imposição da lei tem este duplo significado.
As obrigações de imposto não podem, em princípio, ser contratualizadas, a lei é a única
fonte, daí a vontade dos sujeitos ser irrelevante, as partes não têm poder para definir o
contéudo da obrigação, não podem modelar tal contéudo, não têm qualquer poder. Claro
que há excepções, mas essas também estão previstas na lei, bem como todo o seu
procedimento, as partes exercem um poder, mas controlado pela lei.
O que estamos a dizer é que, em consequência disto, a obrigação de imposto é uma
obrigação de natureza pública e tem determinadas características, como o fugir à
vontade das partes, o que se traduz na obrigação ser irrenunciável, inegociável e
também intransmissível. Tudo se passa como está na lei! Não há aqui espaço para mais
nada.
O imposto é também uma prestação definitiva, o que quer dizer que a obrigação de
imposto, uma vez cumprida em relação ao que é exigível, nunca é objeto de qualquer
reembolso, daí a prestação ser definitiva. Esta caraterística é a que nos permite
distinguir o imposto de:

 empréstimo público forçado - pode aparecer-nos com as outras caraterísticas do


imposto, também é uma prestação pecuniária, coativa, unilateral e por aí fora,
mas não é uma prestação definitiva, porque pode, na prática, ocorrer pela via de
um congelamento autoritário dos depósitos bancários (ex.: Lei que decretava um
congelamento de todos os fundos depositados de todos os particulares junto dos
bancos), onde temos uma conta cujo conteúdo não pode ser movimentado, o
Estado faz isto quando está numa situação em que não consegue obter
financiamento e tem de se financiar com os recursos que tem dentro do próprio
Estado, sobre os quais tem poder, quando se decreta isto por lei, aquilo que nos
está a ser imposto coativamente é o empréstimo de dinheiro ao Estado, durante
um intervalo de tempo, não é definitivo, voltamos a ter acesso à nossa conta.

No IVA e no IRS acontece que, por força dos mecanismos de cobrança, muitas vezes é-
nos cobrado imposto numa lógica de conta corrente e há um momento em que é feito um
acerto final, o IRS é um imposto periódico, é anual, incide sobre o rendimento anual das
diferentes categorias que estão descritas, como o rendimento do trabalho dependente, eu
estou a trabalhar e sei que tenho de pagar este imposto, para as pessoas que têm ligação
ao Estado português temos de o pagar com uma determinada periocidade, o período de
tributação é o do ano civil, o meu imposto vai de um intervalo temporal que vai de 1 de
janeiro a 31 de dezembro, quando fizer a declaração vou declarar os rendimentos que

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obtive ao longo do ano de 2014, vou fazer agora em Abril ou Maio, o Estado vai apurar o
montante de imposto a pagar e depois disso é que me vem cobrar o imposto.
No IRS, quando ele foi pensado, para ao nível dos mecanismos de cobrança, por um
lado desdramatizar a cobrança criando anestesia fiscal e descentrando a cobrança do
próprio a quem o imposto vai ser cobrado, temos a retenção na fonte, o que quer dizer
que eu, trabalhador, estou a trabalhar e à medida que vou recebendo o empregador
retém uma parte dos meus ganhos, eu vou suportando a cobrança do imposto à medida
que vou recebendo o rendimento. A minha entidade empregadora faz isto por mim.
Um outro efeito muito importante é o de tesouraria para o Estado, porque à medida
que obtenho o rendimento, o Estado vai obtendo as receitas, há uma antecipação destas,
porque ele as recebe antes de elas serem efetivamente devidas. Se eu paguei mais do que
é devido, tem de haver um acerto, um ''reembolso'' porque eu tenho um crédito sobre o
Estado.
Para além disto, o imposto é também uma prestação unilateral. O que é que isto quer
dizer? É uma prestação sem contraprestação, i.e., a relação de imposto é uma relação
em que só existe dever de prestar num dos sentidos. Portanto, não gera direito a uma
contraprestação específica.
É por esta caraterística que distinguimos o imposto da taxa, que é uma prestação
bilateral, i.e., a taxa surge no âmbito de uma relação sinalagmática (''Eu dou para que
me dês''), enquanto que o imposto é uma prestação do tipo unilateral, temos duas partes
e o dever de prestação existe, neste tipo de relação, apenas num dos sentidos, que é
sempre o mesmo. A outra parte não tem de dar nada! É por isto que a CRP tem tanta
preocupação com imposto. As taxas a CRP já não se preocupa tanto, o equilíbrio e a
garantia está em, precisamente, procurar proporcionalidade entre ambas as prestações.
Nos impostos não podemos existir nada à outra parte, isto decorre da sua própria
natureza.

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Aulas 3 e 4 (25/02/15)

O Imposto

A aula passada vimos o enquadramento do Direito Fiscal, enquanto sub-ramo do


Direito Tributário que, por sua vez, é ramo do Direito Financeiro Público.
Entretanto, começamos a estudar o conceito tipológico de imposto, porque o Direito
Fiscal é o direito dos impostos, por isso vamos caraterizar esta figura, quer de 1 modo
descritivo, apreendendo as caraterísticas típicas do conjunto dos impostos que neste
momento temos em vigor no nosso Direito Fiscal, nós procuramos 1 conceito descritivo,
aponta as diferentes caraterísticas que todos os impostos têm em comum.
Este conceito não é fechado, é 1 conceito que estamos permanentemente a construir!
Enquanto vamos estudar as caraterísticas comuns também vamos fazer uma
distinção de figuras afins, como a taxa e as contribuições financeiras, porque os tributos,
i.e., as receitas públicas com caráter coativo/autoritário, que tradicionalmente englobam:

 impostos;
 taxas.

O que distingue estes 2 é os impostos terem caráter unilateral, enquanto que as taxas
são tributos bilaterais. Neste momento, evoluímos para uma concepção tripartida dos
tributos:

1. impostos;
2. taxas;
3. contribuições financeiras.

As contribuições financeiras estão ''a meio caminho'' dos impostos e das taxas, são
uma figura híbrida entre impostos e taxas, tem havido muitos problemas de qualificação
destas contribuições. Os impostos, por serem unilaterais, têm 1 regime jurídico
constitucional muito exigente, i.e., a nossa CRP preocupa-se muito com os impostos,
fixa alguns princípios fundamentais, que limitam muito as intervenções por parte do
legislador. A CRP preocupa-se muito quem pode legislar nesta matéria, dando ainda
directrizes ao legislador sobre como deve legislar quando legisla em determinadas
matérias dos impostos.
Isto apenas tem paralelo no Direito Criminal, a CRP também aqui tem uma posição
mais interventiva e garantística, as consequências típicas da violação de normas penais
têm a ver com a privação da liberdade, enquanto que no Direito Fiscal há privação da
titularidade patrimonial. Há muitas exigências constitucionais em matéria de impostos.
Quando nós temos 1 conjunto de tributos que estão a meio caminho há 1 problema:
os impostos têm 1 regime muito mais exigente que as taxas, que têm 1 regime mais leve
e flexível. Qual o regime aplicável? Temos contribuições que são tratadas como impostos,
mas a partir de 2008 houve uma matização da jurisprudência do TC, porque para
determinadas contribuições financeiras o Tribunal surge com um entendimento
diferente. A ideia que tínhamos que as contribuições financeiras seguiam todas o regime
dos impostos é uma ideia que temos de repensar!
Neste contexto, foi feita uma subdivisão nas contribuições financeiras que, ao fim ao
cabo, nos leva à dicotomia fundamental, os tributos ou são impostos ou não! É neste
enquadramento que vamos anotar.

Conceito Tipológico de Imposto

O imposto, de 1 ponto de vista objetivo, é uma:

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 prestação pecuniária;
 prestação coativa;
 prestação definitiva;
 prestação unilateral.

Para além disto, de 1 ponto de vista subjetivo, é:

 prestação exigida a detentores de capacidade contributiva;


 prestação estabelecida a favor de entes públicos ou entes privados a quem está
atribuído o exercício de funções públicas.

Finalmente, temos aquilo a que chamamos o elemento teleológico do conceito


tipológico de imposto, i.e., para que é que servem os impostos:

 realização de fins públicos de caráter geral;


 sem caráter sancionatório (característica negativa, mas serve para distinguir os
impostos das multas).

Voltando à unilateralidade, esta é a caraterística mais importante, à volta desta há


inúmeros Acórdãos do TC. As taxas são também pecuniárias, coativas e definitivas, de 1
ponto de vista objetivo, reunindo ainda os elementos subjetivos e o teleológico, o que as
distingue é esta caraterística do imposto.
A unilateralidade, o facto de o imposto ser uma prestação unilateral, significa que o
imposto é uma prestação sem contraprestação! Esta é a caraterística que nos permite
distinguir os impostos das taxas, prestações bilaterais, uma vez que originam o direito a
uma contraprestação, contraprestação essa que é específica, i.e., quando eu pago uma
taxa eu tenho direito a que seja prestado algo em troca ou já me foi prestada antes, eu
tenho este direito e aquilo que me é prestado em troca tem de ser passível de
individualização, podendo consistir na:

 prestação de 1 bem ou serviço público;


 utilização de bens de 1 serviço público;
 atividade de remoção de 1 limite/obstáculo jurídico à atividade dos particulares.

Nestes termos, existem 3 tipos de contraprestação específica, aquilo que eu recebo em


troca, aquilo que tem de ser possível identificar para dizermos que estamos perante uma
taxa, vai corresponder à tipologia em cima. Nestes 3 tipos há a tal individualização na
satisfação da necessidade do particular, que tem então de, em troca, pagar a taxa.
A relação entre os particulares que pagam as taxas e os entes públicos que as
estabelecem é uma relação bilateral/sinalagmática (ideia de ''eu dou para que dês'').
Portanto, a relação subjacente à taxa é uma relação de ''toma lá dá cá'', porque tudo
isto vai moldar o regime jurídico-constitucional das taxas. Se a r.j. que se estabelece é
sinalagmática, essa relação traduz uma troca de prestações! Enquanto que nos impostos
temos o sujeito ativo/credor (entes públicos ou privados com funções públicas) e o
sujeito passivo/devedor (detentor de capacidade contributiva). Aqui só há dever de
prestação num sentido! Já nas taxas há uma simultaneidade.
Neste contexto, temos de ver as relações bilaterais imperfeitas, onde há uma incerteza
sobre 1 dos deveres de prestar, que pode dizer apenas respeito ao momento em que vai
surgir o dever de prestar. O que acontece no contrato de seguro? Num contrato de
seguro de resp. automóvel posso ser segurado e pagar o meu prémio todos os anos, mas
não me envolvo em nenhum acidente, nunca recebo nada da minha seguradora.
Contudo, o contrato continua a ser bilateral, porque a seguradora segura o risco, logo há
uma incerteza nesta relação, há uma alietoriedade maior. Se eu já fizer um seguro de

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vida, já sei que o seguro vai pagar alguma coisa quando eu morrer às pessoas que eu
designei, mas já não é tão aleatório.
Contrariamente a estes, as taxas são relações bilaterais perfeitas! Para estarmos
perante uma taxa, tem de ser possível identificar a contraprestação específica, que se vai
traduzir numa destas 3 hipóteses (art.4º, nº2, LGT). Isto é uma concepção doutrinária,
todo este conceito tipológico e análise que fazemos nasce na doutrina das Finanças
Públicas, depois o Direito Fiscal foi adoptando.
Continuando agora no elemento subjetivo, sabemos que na relação de imposto temos
o sujeito ativo, que para já vamos chamar de ''credor'', porque a relação de imposto é
uma relação obrigacional complexa (sendo certo que esta relação tem natureza pública,
tendo como fonte a lei, a sua única fonte, não há outra possível, não se constituem
obrigações de imposto por vontade das partes e o contéudo desta relação é, todo ele,
modelado pela lei, temos uma relação que nasce de 1 ato de autoridade), i.e, ao lado do
dever primário de prestação existem deveres secundários ou acessórios do dever
primário, bem como os deveres laterais.
Quanto ao dever primário pode incumbir uma pessoa que não é a mesma que suporta
o encargo de pagamento, ou seja, alguém suporta o pagamento, mas quem está
encarregue de entregar o valor ao Estado é outra. Quanto aos deveres secundários
acessórios também temos impostos de terceiros, há muitos terceiros chamados ao
cumprimento de deveres acessórios, como deveres de informação ou comunicação.
Esta complexidade que existe do lado passivo, existe também do lado ativo. O que é
ser sujeito ativo de uma relação de imposto? Depende, pode ser várias coisas:

1. titular do poder normativo - aquele que tem o poder para criar impostos;
2. titular da capacidade tributária ativa - ter o poder para exigir o pagamento do
imposto e para demandar judicialmente o obrigado que não cumpre o seu dever de
prestação;
3. titular da competência tributária - do poder de gerir e administrar o imposto;
4. titular da receita tributária.

Estão então identificadas aqui 4 formas de titularidade ativa. Portanto, quando


perguntamos quem é o sujeito ativo daquele imposto, muitas vezes a resposta é: ''Não
sabemos bem''. Estas 4 formas, na prática, aparecem-nos dispersas por diversas
entidades, o que cria 1 problema: se o titular do poder normativo for x e o titular da
receita tributária é y quem é o sujeito ativo?
A posição de credor corresponde necessariamente à titularidade da capacidade
tributária ativa!
O imposto é uma prestação exigida a detentores de capacidade contributiva, tendo
aqui 1 conceito-chave, a ''capacidade contributiva''. Os impostos só podem ser exigidos
àqueles que revelarem capacidade contributiva, que é o pressuposto e o critério da
tributação. Isto significa que só podem ser exigidos impostos aqueles que revelarem
capacidade contributiva, por isso nem todos pagam impostos e aqueles que pagam são
ilegíveis para o pagamento de impostos, não têm de pagar todos o mesmo, porque a
capacidade contributiva funciona como 1 critério na tributação, o único que permite
diferenciar aquilo que se exige a cada 1!
Neste contexto vamos também estudar o princípio da capacidade contributiva, que
equivale ao princípio da igualdade, que de uma forma linear diria ''todos são iguais,
todos pagam impostos. Isto é verdade, mas desde que tenham capacidade para pagar
(auferir 1 nível mínimo de rendimento/ter 1 determinado património).
Assim, só têm de pagar impostos aqueles que têm capacidade para o pagar. Cada 1
paga imposto em função da sua capacidade, funcionando aqui, mais uma vez, o
princípio da igualdade. Quem revelar capacidade contributiva diferente paga também
impostos diferentes.

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Interessa-nos aqui o princípio da igualdade manifestar-se, no Direito Fiscal, como


princípio da capacidade contributiva, que tem 2 papéis, que não podem ser desligados:

 pressuposto;
 critério.

Ainda no elemento subjetivo, o imposto é uma prestação estabelecida a favor de entes


públicos ou entes privados a quem foi atribuído o exercício de funções públicas!
O imposto tem estas caraterísticas todas, mas no ponto de vista da sua finalidade, do
seu elemento teleológico, ele é criado para a realização de fins públicos de caráter geral
(fins comuns a toda a comunidade, é uma nuance que foi necessária no conceito
tipológico porque num determinado momento o TC foi confrontado com o problema de
saber se uma receita que estava a ser cobrada era imposto ou não, era uma receita onde
estava em causa eram as quotas para a Ordem dos Advogados, num determinado
momento o Conselho Geral da OA decidiu aumentar significativamente para muito mais
do dobro as quotas e, na altura, 1 advogado decidiu recusar pagar as quotas naquele
montante, o que estava a ser feito tinha sido tomada em Conselho Geral da própria OA,
por isso violava o princípio da legalidade em sentido formal, porque a criação de
impostos é da AR), sem natureza sancionatória, queremos dotar os entes públicos de
receitas, o seu fim último é a obtenção destas, precisamente para que estes entes
possam realizar essas funções, possam desenvolver esses fins públicos.
O imposto é para a realização de fins públicos e só temos verdadeiros impostos
quando esses impostos têm fins para a generalidade da comunidade. Neste contexto,
temos de distinguir:

 impostos fiscais;
 impostos extrafiscais.

Os impostos fiscais são chamados, pela doutrina, de verdadeiros impostos, enquanto


que os impostos extrafiscais são chamados de falsos impostos. Os impostos não são
todos iguais! Estamos sempre a tentar descrever a realidade que temos e encontrar
características comuns a todos os impostos, mas depois também temos de fazer esta
distinção.
Os impostos fiscais são aqueles que têm como finalidade predominante/exclusiva a
obtenção de receitas, para cobrir as despesas ocorridas na perseguição dos tais fins
públicos de caráter geral.
Por sua vez, os impostos extrafiscais têm como finalidade predominante a influência
ou direção dos comportamentos dos cidadãos. É claro que ao serem impostos,
mediatamente, têm presente a finalidade fiscal, i.e., ao serem impostos, em princípio,
permitem obter receitas. Mas a obtenção de receitas não é a finalidade primordial destes
impostos, o que os orienta, de 1 ponto de vista teleológico, é a sua extrafiscalidade, que
vai no sentido de dirigir/orientar comportamentos que se julgam benéficos para toda a
comunidade.
Para estes é pouco relevante a receita! São tão falsos tão falsos que podem traduzir-se
em receita zero como, por ex., o imposto que temos sobre os sacos plásticos. Qual é o
objetivo aqui presente? O objetivo subjacente a esta medida é a proteção do meio
ambiente (''impostos verdes''). Quais as razões que deste imposto? O plástico demora
muitos anos a degradar-se, provocando ainda asfixia de animais, etc. O que se pretende
então? Mudar a mentalidade das pessoas e que todos nós levemos antes algo, em vez
dos sacos, porque não os queremos pagar. Qual vai ser a receita? Zero! Por isso os
chamamos falsos impostos.
A doutrina anglo-saxónica chama a estes impostos de impostos asfixiantes ou
sufocantes, enquanto que a nossa doutrina prefere chamar-lhes falsos impostos. As
designações são usadas para expressar aquilo que a doutrina entende, apenas os

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verdadeiros impostos são protegidos pelo regime jurídico-constitucional de forma total,


só estes beneficiam da proteção constitucional garantística total, enquanto que os falsos
têm 1 regime especial, por serem tributos, visando a realização de fins públicos, mas não
de caráter geral.
Também os impostos sobre o tabaco se enquadram aqui nos impostos extrajudiciais.
Um dos princípios que não se aplica aqui é o da capacidade contributiva, é mitigado!
As multas e as coimas têm 1 caráter sancionatório, por isso não cabem nos impostos,
porque eles não visam ''castigar'' quem não os paga!

A Unilateralidade dos Impostos

Como já vimos, a unilateralidade é a característica do imposto que nos permite


distingui-lo das taxas, caraterizadas na bilateralidade, cujo caráter é sinalagmático ou
comutativo. Já vimos então que tal bilateralidade se traduz na existência de uma
contraprestação específica, que pode ser de 1 de 3 tipos:

1. prestação de 1 bem/serviço público;


2. utilização de bens do domínio público;
3. remoção de 1 limite jurídico à atividade dos particulares.

O facto de a taxa ser 1 tributo bilateral e de surgir numa relação sinalagmática, não
significa que haja relevância da vontade, que é completamente irrelevante. Se é verdade
que aquele que tem de a pagar procura ativamente 1 daqueles 3 tipos, ou seja, há uma
procura ativa dos cidadãos contribuintes, o facto de ela não existir, não descaracteriza
essa, como por ex., a taxa de justiça (prestação de 1 bem/serviço público). E os que
praticam crimes e não queriam ser julgados? Têm de pagar na mesma, mesmo não
procurando o bem/serviço público.
Na prestação de bens ou serviços públicos temos a taxa de justiça, a taxa moderadora
quando nos são prestados cuidados nos hospitais ou centros de saúde (se nunca entrar
num hospital não me podem pedir a taxa moderadora, eu quando pago taxas sei
exatamente o que estou a pagar), a requisição de 1 livro numa biblioteca pública,
quando queremos frequentar uma piscina municipal.
Na utilização de bens do domínio público os entes públicos permitem aos particulares
a utilização, privativa, de bens do domínio público, que são de todos nós. Quando 1 de
nós o pode fazer, há uma utilidade específica atribuída a esse, que nunca pode ser
perpétua. Por ex., quando um autarquia cede uma parte da praia para instalar uma
esplanada ou escola de surf, tem de ser paga uma taxa. A mesma coisa acontece com as
portagens (pagamos à concessionária, 1 ente privado a quem foram atribuídos poderes
públicos).
Por último, temos a remoção de 1 limite jurídico à atividade dos particulares, onde há
o retiro de 1 obstáculo. Estamos aqui a falar de quê? Em determinadas condições, o ente
público que fixou o obstáculo, pode removê-lo, praticando 1 ato com determinadas
caraterísticas, autorizando-nos a fazer algo que não podíamos fazer. Aquilo que temos
aqui são as licenças, 1 desenvolvimento de uma atividade que permite verificar se estão
garantidas as condições para a remoção do tal limite. Quer as licenças de construção,
quer as licenças para uso e porte de arma, quer as licenças para ter 1 cão estão aqui
enquadradas. O processo para termos a carta de condução também está neste tipo de
contraprestação específica.
Isto tem gerado muitíssima controvérsia no seio da jurisprudência!
Na prestação de bens ou serviços públicos só podem ser cobradas taxas numa
prestação direcionada diretamente ao particular, os bens ou serviços públicos não são
todos iguais, temos de os distinguir:

 bens/serviços tecnicamente públicos;

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 bens/serviços tecnicamente semi-públicos.

O que são bens/serviços tecnicamente públicos? São bens ou serviços que satisfazem
necessidades coletivas, mas essa satisfação ocorre em termos coletivos.
Os bens ou serviços tecnicamente semi-públicos também satisfazem necessidades
coletivas, mas tal satisfação ocorre em termos individuais ou individualizados, por ex., a
integridade das fronteiras territoriais é 1 bem público, a Defesa Nacional é 1
bem/serviço público, há uma necessidade que é sentida por todos nós. Como é satisfeita
a necessidade do bem de defesa?
No que diz respeito aos cuidados de saúde ou ao ensino também temos 1 bem ou
serviço público, só que a satisfação ocorre em termos individuais ou individualizados.
Uma consulta é a prestação de 1 bem/serviço tecnicamente semi-público. Aqui temos
bens que chamamos, tecnicamente, de semi-públicos, só em relação a eles podem ser
cobradas taxas, porque elas são prestações bilaterais/sinalagmáticas. Só estes podem
gerar a cobrança de taxas, porque quando o ente público ou privado a quem está
atribuído o exercício de funções públicas nem sempre cobra a taxa. Estes podem ser
públicos ou semi-públicos.

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Aulas 5 e 6 (04/03/15)

Imposto e Taxa

A distinção entre imposto e taxa assenta na unilateralidade na bilateralidade,


respetivamente. A bilateralidade traduz-se na existência de uma contraprestação
específica a favor do particular.
Para além disto, vimos a tipologia que a contraprestação pode assumir:

 prestação de 1 bem/serviço público - bens/serviços tecnicamente semi-públicos,


ou seja, bens/serviços divisíveis, conseguimos identificar uma identidade
individual ou individualizada;
 possibilidade de utilizar bens do domínio público;
 remoção de limites jurídicos à atividade dos particulares.

Só podem ser cobradas taxas pela prestação de bens ou serviços que, de 1 ponto de
vista técnico, possam ser individualizados. Os bens/serviços públicos prestados aos
particulares, os indivisíveis, são prestados a título gratuito, significa que eles são
financiados através das receitas gerais dos impostos.
Portanto, só em relações a estes bens/serviços tecnicamente semi-públicos é que
podem ser cobradas taxas. Já os bens tecnicamente semi-públicos podem ser, de 1
ponto de vista financeiro, públicos ou semi-públicos. É público quando é prestado
gratuitamente, sendo este financiado com receitas dos impostos, enquanto que é semi-
público quando é prestado onerosamente, há cobrança de uma taxa, havendo aqui
financiamento com as receitas da própria taxa e, normalmente, tem a ver depois também
com os impostos.
É importante percebermos já que o poder de cobrança de taxas, conferido aos entes
públicos que prestam bens/serviços divisíveis, esta decisão, não é uma decisão neutra,
sob o ponto de vista do sistema fiscal. Se os entes públicos decidissem não cobrar taxas,
implicaria muitos particulares verem necessidades individuais satisfeitas pelos entes
públicos que são suportadas por todos nós. Portanto, a lógica é a de, sempre que é
possível cobrar taxas, essas taxas serem cobradas.
Um outro problema é o da fixação do montante! Quando se pretende repartir o custo,
o quantitativo da taxa é fixado abaixo do custo do serviço. Mas pode acontecer o oposto e
a taxa visar limitar. A taxa de justiça, por ex., tem como objetivo claro limitar/diminuir a
procura deste serviço, é mais alta do que o serviço em causa. As taxas moderadoras
(taxas para bens tecnicamente semi-públicos) pretendem impor alguma moderação na
procura do bem. Claro que, sempre que são fixadas estas taxas, acontece que é preciso
compreender que há alguns cidadãos que não têm capacidade para suportar esse
pagamento, por isso são criadas isenções.
Há muitas variáveis a ter em conta na análise da bilateralidade!
Isto que vimos até agora também vale para a utilização de bens do domínio público.
Aqui temos as situações em que se instalam esplanadas na praia ou quando se coloca
um pequeno quiosque numa praça, temos um espaço de todos que é explorado em
benefício de 1 de nós. Isso tem de ser objeto de uma concessão, há alguém que, por
todos nós, concede a 1 particular a possibilidade de utilizar aquele bem, em termos
individualizados.
Para além disto, também aqui há a decisão de cobrar ou não a taxa.
Quanto às taxas pela remoção de limites jurídicos à atividade dos particulares, tem
havido discussão na doutrina. Aqui pagamos taxas para, em primeiro lugar, obter uma
licença, em situações em que o ente público tem de desenvolver uma tarefa que conduz
à emissão de uma licença.
Em termos jurisprudenciais também tem havido querelas, em 2010 o TJ alterou
radicalmente o sentido da jurisprudência. Aqui em causa está sermos obrigados a pagar

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uma taxa para suportar, de algum modo, aquilo que custa ao ente público verificar se
estão preenchidos os requisitos que permitem o levantamento do obstáculo.
O Prof. Teixeira Ribeiro dizia ''Cuidado, é preciso distinguir as situações em que o
limite jurídico é real das situações em que existe 1 limite jurídico artificial''. Nestes
termos, os limites jurídicos artificiais não têm fundamento numa razão de interesse
público, o limite foi criado só para ter de ser removido e gerar receitas. Mas os limites
jurídicos também podem ser artificiais noutra situação.
A doutrina foi dizendo que apenas no caso dos limites jurídicos reais é que podem ser
cobradas taxas, porque só nestes casos temos bilateralidade. Já nas situações em que o
limite não corresponde a uma exigência de interesse público ou em que o limite
corresponde a uma exigência de interesse público mas não há verdadeira atividade
desenvolvida pelo ente público, temos é verdadeiros impostos. A doutrina passou a
designá-las de licenças fiscais, porque a sua finalidade é obter receitas!
Neste contexto, vamos falar as taxas por afixação de publicidade, quer em veículos
quer em edifícios. Estas taxas surgiram nos anos 90, foram criadas e cobradas pelas
autarquias locais. Uma autarquia inventa uma taxa e rapidamente esta invenção é
replicada pelo país inteiro.
O Acórdão mais relevante para as taxas em veículos é do Município de Guimarães (Ac.
TC 558/98), enquanto que o Acórdão mais relevante para as em edifícios é do de Lisboa
(Ac. TC 63/99). Quer num caso quer num outro, a Autarquia decidiu criar uma nova
taxa, a que chamaríamos hoje local. Em Guimarães era pela afixação de publicidade em
transportes quer privados quer públicos, enquanto que em Lisboa era pela afixação de
publicidade em edifícios, fosse na fachada dos edifícios particulares fosse em edifícios
públicos. A Câmara Municipal de Lisboa decidiu-se por isto.
O limite era real ou artificial? Temos de fazer o exercício que o TC fez. Haverá razões
de interesse público para que 1 município decida por este limite? Poderá haver razões de
estética, de conteúdos, de segurança, etc. Mas isto não chega! Temos de ver que haja
uma atividade dirigida especificamente por essas razões, tem de haver uma atividade do
ente público que vai verificar as razões enunciadas. Chegou-se à conclusão que não
existia a atividade destinada à remoção de 1 limite jurídico, por isso num Parecer foi dito
que isto era um imposto, porque este limite foi criado para ser removido.
No entanto, os impostos só podem ser criados pelo Parlamento, pela Assembleia da
República, mas estes foram criados pelas autarquias. A CRP, sob 1 ponto de vista formal,
não foi respeitada. Na multiplicação de Acórdãos, levou a que as Autarquias decidissem
reorganizar-se.
Em 2010 aparece o Acórdão 177/2010 que vem determinar uma inversão na
jurisprudência e vem, ao fim ao cabo, recusar a distinção entre limites reais e limites
artificiais. Porquê? Em 2010, estávamos numa situação em que as autarquias locais
tinham muita dificuldade em obter financiamento, elas precisavam, desesperadamente,
de receitas próprias, daí o TC ter ganho uma sensibilidade diferente para o mesmo
problema. Toda aquela que era a tradição de uma concepção doutrinária foi aqui posta
de lado! O TC volta aqui e diz que tem feito uma leitura errada desta tipologia. Quando
aceitamos esta distinção entre limites reais e artificias, dissemos que tinha de haver
uma verdadeira atividade dirigida especificamente à verificação das razões para o
levantamento do obstáculo, mas o TC diz que se isto fosse assim não faria sentido o
ponto 3 da tipologia (remoção de limites jurídicos à atuação dos particulares). A esta
remoção tem de ser somada uma atividade administrativa especificamente dirigida a
essa remoção, a atividade não pode consistir só na emissão de 1 documento. Estivemos
a dizer, ao fim ao cabo, que só há 2 tipos de contraprestações específicas, a 3ª categoria,
na verdade, não tinha sido entendida como categoria autónoma.
Neste contexto, para o TC basta a remoção do limite por si só, que já é uma
contraprestação específica. O ente público não tem de provar que desenvolve 1 conjunto
de tarefas para remover o limite, a taxa pode ser cobrada apenas pela emissão da licença.
A partir daqui, o TC deixa de aceitar a distinção entre limites reais e limites artificiais! Se

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não fosse assim não teríamos a 3ª categoria autónoma, já não é necessária a ''atividade
administrativa específica''.

A Bilateralidade da Taxa

Até agora vimos a bilateralidade como caraterística intrínseca da taxa, caraterística


essa que é aferida pela existência de uma contraprestação específica. O Prof. Casalta
Nabais diz que isto não chega, ele diz que há 2 testes sucessivos.
O primeiro teste é a existência de uma contraprestação específica, o que não é
suficiente. Se há contraprestação específica, passa no 1º teste, o que na prática significa
que pode ser uma taxa. Se não encontrarmos a contraprestação específica, não passa
neste teste, logo é um imposto.
O segundo teste terá a ver com quê? Terá a ver com o quantitativo, é o teste da
proporcionalidade ou equivalência, para que 1 tributo seja bilateral não basta vermos a
existência, é preciso que haja alguma equivalência entre o que pago pelo que recebo. Isto
é importantíssimo, porque este princípio é o corolário do princípio da igualdade em
matéria de taxas, i.e., a existência de uma contraprestação específica é o pressuposto
para poder ser cobrada a taxa, enquanto que a proporcionalidade é o critério de fixação
do quantitativo da taxa, do quantum da taxa.
Isto significa que tem de haver equilíbrio/equivalência entre contraprestação e
prestação. Esta teoria da equivalência é originária da doutrina alemã, mas tem aqui, em
termos doutrinário, um duplo entendimento, há quem entenda que esta
proporcionalidade/equivalência tem 1 contéudo essencialmente jurídico, enquanto que
há outros, mais exigentes, que dizem que esta proporcionalidade/equivalência tem de
ser económica.
Neste momento, tanto a doutrina como a jurisprudência do TC, estão de acordo em
tudo o que foi dito relativamente aos testes, mas há querela relativamente a estes 2
planos (jurídico ou económico).
O TC, representante da proporcionalidade enquanto equivalência jurídica, tem, de
certa forma, recusado a aplicação do 2º teste. O Acórdão 640/95 (relativo às portagens
sobre a ponte 25 de Abril) foi o 1º a falar deste assunto. Em 1993/94, o Governo era do
PSD, estávamos numa fase em que Portugal recebia fundos comunitários significativos e
estava a investir significativamente em infra-estruturas.
Em 1998 ocorreu por cá a Expo98, num local que antes era uma espécie de aterro. Na
sequência dessa escolha, decidiu-se construir a Ponte Vasco da Gama, porque não havia
trânsito ferroviário a atravessar o Rio Tejo. Em simultâneo com a construção desta Ponte,
foi decidido fazer obras em alteração da estrutura da Ponte de 25 de Abril, para esta
passar também a ter trânsito ferroviário. As portagens sobre a Ponte 25 de Abril
sofreram um aumento brutal, o Governo decidiu aumentar as portagens sobre esta
ponte, num aumento superior a 500%!
Neste contexto, gerou-se aqui uma reação popular, que fez cair o Governo, que na
altura era minoritário. O aumento serviria para financiar a Ponte Vasco da Gama. A
doutrina deslocou isto para a questão da proporcionalidade/equivalência. Uma taxa que
não a respeite não é uma taxa, mas sim 1 imposto.
Este Acórdão é o primeiro que vem tratar esta questão, o TC veio dizer que há estes 2
testes, mas a proporcionalidade é a verificação de que não há desproporção. Para eles foi
decidido que isto era uma taxa.

Fixação do Quantitativo da Taxa

Só chegamos a este problema depois do ente público ter decidido cobrar. Há aqui 2
ideias diferentes que pode estar presentes:

1. repartição do custo pelos utentes;

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2. limitação da procura.

Já percebemos que quando se pretende apenas repartir o custo, a taxa é fixada em


valores mais baixos e quando se pretende limitar a procurar a taxa é fixada em valores
mais elevados. Isto significa que, o custo da prestação do bem/serviço em causa é 1
valor de referência.
Entre a decisão de cobrar uma taxa e a fixação do seu quantitativo, há um espaço em
branco.
Porque é que em algumas pontes são cobradas portagens, como por ex., nas Pontes 25
de Abril e Vasco da Gama, enquanto que noutras, como a Ponte da Arrábida, não são
cobradas? E porque é que isto também acontece nas auto-estradas e não acontece na
estradas?
Sob 1 ponto de vista técnico, os bens aqui em causa são semi-públicos, o ensino, seja
básico e secundário seja superior, é ensino, é o mesmo serviço que está em causa. No
entanto, o ensino superior é, financeiramente, semi-público, enquanto que o básico e
secundário são públicos de 1 ponto de vista financeiro. O mesmo se passa no caso das
pontes e das auto-estradas e estradas. O tipo de bem é sempre o mesmo!
A decisão de cobrar é guiada por razões de conveniência ou oportunidade, esta é uma
decisão discricionário, onde se pesam as vantagens e desvantagens.

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Aulas 7 e 8 (11/03/15)

Fixação do Quantitativo da Taxa

O ente público tem de ponderar as vantagens financeiras decorrentes da decisão de


cobrar a taxa, quanto vai conseguir arrecadas. Mas o ente também tem de ponderar as
desvantagens, como quanto vai ter de gastar para cobrar a taxa e os efeitos negativos
que a taxa poderá ter.
Deste modo, o Estado tem de decidir se ofere a título gratuito ou não, em função de
razões de conveniência ou oportunidade. Temos aqui o ex. do ensino. Também se
enquadram aqui as portagens, de 1 ponto de vista técnico poderiam cobrar-se portagens
em qualquer via. Nas auto-estradas é fácil a cobrança, enquanto que nas estradas não,
teria um custo muito relevante que não conseguiria cobrir os proveitos, os mecanismos,
os equipamentos e as pessoas necessárias para realizar a cobrança poderiam
ultrapassar o nível das receitas cobradas. Isto para não falar da alteração no trânsito.
É esta ponderação que o ente público tem de fazer! Quando decide cobrar a taxa, feita
toda esta ponderação, na fixação do quantum podem estar presentes,
predominantemente, 2 objetivos:

1. repartição dos custos pelos utentes - por aqueles que retiram uma utilidade
individual daquele bem/serviço, sendo o quantum muito abaixo do custo de
produzir aquele bem ou prestar aquele serviço;
2. limitação da procura - quantum é fixado em níveis mais elevados, para ter o tal
efeito moderador, limitador daquela procura (exs.: taxa de justiça, taxas pela
prestação de cuidados de saúde - taxas moderadoras -, etc.), sempre assumindo
como limite máximo o custo;

De 1 ponto de vista económico, as taxas são preços, não devem é ser preços lucrativos,
está em causa a satisfação de interesses públicos.
Para a bilateralidade estar garantida, traduz-se nessa proporcionalidade, por isso se
diz que o princípio da proporcionalidade é o corolário do princípio da igualdade.
Para além disto, este princípio da proporcionalidade, pode ser perspetivado, em termos
jurídicos ou em termos económicos. O TC tem afirmado, repetidamente (fê-lo pela 1ª vez
no Acórdão 640/45), o princípio da proporcionalidade como manifestação do princípio
da igualdade, num sentido jurídico, este princípio não deve ser aplicado num sentido
económico, aquilo que se exige é que haja proporcionalidade em termos jurídicos. Já
uma parte significativa da doutrina dizia o contrário, apoiando a tradução prática em
termos económicos.
O TC nunca concretiza a proporção, ao fim ao cabo o TC elimina o 2º teste, eles dizem
que só não há proporcionalidade quando não é dado nada em troca do que se recebe. A
doutrina foi evoluindo, mas também a própria lei, que consagra hoje o princípio da
proporcionalidade em sentido económico, no Regime Geral das Taxas das Autarquias
Locais, aprovado pela Lei nº53-E/2006, de 29 de Dezembro.
Foi necessário colocar alguma ordem em matéria de taxas das autarquias locais,
acabando este Regime por valer como 1 verdadeiro Regime Geral de Taxas, já que o
nosso legislador ainda não o fez, este é o que existe, a doutrina e a jurisprudência
utilizam-no, aplicando-o ou diretamente ou por analogia.
Este Regime veio, pela 1ª vez, impôr o princípio da proporcionalidade/equivalência, no
seu art.4º, nº1, o valor não deve ultrapassar o custo da atividade pública local, i.e, o
custo suportado pelo ente público a realizar a atividade ou o benefício auferido pelo
particular. Assim, tem de haver 1 respeito pelo princípio da proporcionalidade!
Claramente, esta consagração do princípio em análise aponta para uma
proporcionalidade medida em termos económicos, faz aqui diferente a uma quantificação
de custos.

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Este artigo é confirmado por uma ou outra norma, do mesmo diploma, o art.8º, nº2, c)
que se refere à criação de taxas, este número diz que o regulamento que cria taxas tem
de conter, sob pena de nulidade, a fundamentação económico-financeira, relativa ao
valor das taxas, impondo então o tal dever de fundamentação económico-financeira,
tendo de ser revelados os custos, os encargos financeiros, as amortizações. O ente
público tem de fazer 1 estudo de tudo isto!
Este princípio vale por si próprio, mas na leitura conjugada das duas normas. Só em
situações é que é difícil quantificar o custo, em que falamos de bem que não têm
propriamente 1 mercado, é que utilizamos este 2º critério.
Apesar disto, em 2007, o TC, no Acórdão relativo à conservação de esgotos, o Acórdão
68/2007, numa taxa que incidia sobre os prédios ligados à rede de esgotos e que tinha
como finalidade garantir a manutenção e conservação dessa mesma rede. Isto aconteceu
no município de Lisboa. Temos 1 tributo que visa repartir os custos pela conservação
dessa rede de esgotos.
Porque é que este tributo prestou problemas? Prestou problemas porque a taxa,
quanto ao seu quantitativo, foi fixada, o seu critério era 0,25% x o valor patrimonial do
imóvel, aqui a que chamamos o VPI. Em termos jurídicos, isto é uma verdadeira taxa,
porque passa nos 2 testes, o da bilateralidade e o da proporcionalidade.
Será que o tributo passa nos 2 testes? No primeiro passa, há uma contraprestação
específica, mas o tributo tem ainda de passar no teste da proporcionalidade ou
equivalência, o quantitativo tem de ser determinado em função do serviço que é prestado.
Qual foi o critério adoptado para quantificar? A taxa incide sobre o valor do imóvel. Se a
forma de cálculo de 1 imposto e de uma taxa é igual, algo está errado. Que critérios
poderíamos ter aqui?

 tipologia do imóvel;
 consumo de água.

Qualquer 1 destes indicadores concretiza a ideia da proporcionalidade. O legislador


local escolheu o valor patrimonial do imóvel. Quanto ao 1º teste passa, quanto ao 2º não
passa. O VPI pondera a tipologia, a antiguidade, o nível de conforto, a localização, etc.
Em que é que isto releva para a conservação de esgotos? Para nada! Isto é 1 imposto, por
isso valem os princípios constitucionais, o município não tinha poder para criar isto.
Se isto é 1 imposto e estes apenas podem ser criados pela AR, temos uma
inconstitucionalidade orgânica, o contribuinte deve dizer que não paga, ele tem o direito
de recusar a pagar 1 imposto que não respeita a CRP.
O TC não respondeu desta forma, o TC não evoluiu desde o Acórdão de 95. Este
Tribunal veio dizer que esta proporcionalidade ou equivalência não pode ser em sentido
económico. O critério para eles é o do benefício, o que não faz sentido nenhum, apenas
na lógica deles em sentido jurídico, por isso este Acórdão 68/2007 é também
paradigmático.

Tributos

Vimos que os tributos obedecem, tradicionalmente, a uma divisão dicotómica, os


tributos ou são taxas ou são impostos. São impostos quando são unilaterais e são taxas
quando são bilaterais, tendo de passar por 2 testes, a bilateralidade em sentido próprio e
no sentido da proporcionalidade.
Os impostos têm como pressuposto e critério a capacidade contributiva, enquanto que
as taxas adoptam 1 critério diferente, o critério coerente com o seu caráter bilateral, o do
princípio da proporcionalidade ou equivalência.
Há diferenças também sob o ponto de vista do poder normativo, nomeadamente no
regime jurídico-constitucional, onde temos uma reserva relativa de competência
legislativa para os impostos, apenas para as matérias essenciais, o poder está atribuído

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à Assembleia da República. Relativamente às taxas, o poder normativo cabe ao ente


público ou privado, a quem está atribuído o exercício de funções públicas, que presta o
bem/serviço em causa, o que traduz que temos 2 tributos com regimes completamente
diferentes.
Quando o tributo não respeita o princípio da proporcionalidade ele é unilateral, logo o
poder de alterar os seus elementos essenciais está atribuído à AR.
Contudo, desde o início que há uns tributos que ficam no meio destes 2, aqueles a que
chamamos de contribuições financeiras.

Contribuições Financeiras

Estas contribuições têm dado muitos problemas à doutrina, precisamente porque esta
vai acompanhando a evolução da realidade. Hoje, temos já identificados pela nossa
doutrina e também pela jurisprudência, 2 tipos de contribuições financeiras:

 contribuições especiais - contribuições financeiras tradicionais (art.4º, nº3, LGT):


o contribuições de melhoria;
o contribuições pelo maior desgaste ou maior despesa;
 contribuições financeiras de nova geração - contribuições por supervisão ou
regulação.

O art.4º, nº3 diz-nos que estas contribuições especiais são consideradas impostos!
Estas contribuições normalmente têm 1 caráter grupal, atingem grupos homogéneos de
pessoas.
As contribuições pelo maior desgaste ou maior despesa são cobradas, lançadas pelos
entes público, quando a atividade do particular, não se traduzindo numa em que se
possa individualizar o nível de desgaste do bem, são também tributos em que não se
pode aferir a bilateralidade, não passando no 1º teste.
Nestas contribuições pelo maior desgaste, também temos 1 histórico do TC a ter em
conta. Temos o ex. da compensação por parqueamento deficitário, o encargo por esta
compensação foi uma contribuição especial, criada por algumas autarquias, em que
estas definiram que por cada x metros quadrados de construção para habitação,
comércio ou serviços devia ser construído y lugares de estacionamento, i.e., as
autarquias fixaram uma proporção a ser respeitada pelos empreendedores imobiliários.
Foi também lançada uma compensação por parqueamento deficitário. O que temos
aqui? Aqui temos uma contribuição pelo maior desgate ou maior despesa! Portanto,
lança-se esta compensação sobre os construtores ou empreendedores imobiliários, tendo
isto sido lançado como uma taxa. Os empreendedores disseram que não pagavam,
porque isto era 1 imposto.
O TC disse que não passava no primeiro teste, não identificavam a contraprestação
específica. Esta compensação visa compensar o desgaste maior que esse particular está
a causar nos bens públicos, visa colocar uma incidência maior sobre quem provocou o
desgaste, o que se faz é 1 cômputo global e aponta-se o dedo ao culpado, é esta a lógica.
O TC diz que não é bem imposto, mas também não é bem taxa, por isso tem de ser
protegido como imposto, a entidade que os regula é então a AR. Estas contribuições por
parqueamento deficitário acabaram por desaparecer.
Por outro lado, se formos bem o conceito tipológico de imposto, este é 1 imposto
dirigido a 1 grupo homogéneo de pessoas, não vai ser exigido a todos nós, não é para
finalidades públicas de caráter geral, escapando aqui a vários elementos que
identificamos no conceito tipológico de imposto.
Nas contribuições financeiras de nova geração, há determinadas entidades a que
chamamos reguladores ou de supervisão, emergiu no nosso país um conjunto de
entidades a quem está atribuída a regulação ou supervisão de determinados mercados,
mercados que durante muito tempo estiveram em monopólio ou exclusivo do Estado.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)


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Toda a atividade bancária foi nacionalizada e durante muito tempo, no nosso país, não
haviam bancos privados, estavam fora do âmbito do mercado privado até ao momento
em que houve privatização, o nosso 1º banco privado foi o Banco Comercial Português,
atual Millenium.
Temos atividades a exercerem, a desenvolverem-se como entidades fiscalizadoras das
condições de concorrência, de adequação da prestação dos serviços em causa, entre
outros nos diferentes mercados. Como são financiadas estas entidades? São financiadas
através de contribuições que incidem de modo específico sob as empresas que estas
entidades fiscalizam. As contribuições são exigidas pelas entidades e são lançadas e
pagas pelas empresas que atuam nos respetivos mercados!
Se eu for SIC ou TVI eu tenho de pagar à entidade reguladora da comunicação social,
porque esta entidade desenvolve uma atividade que causa um desgaste, que gera
despesa e essa atividade tem como beneficiários principais as empresas que atuam no
mercado.
Isto não é bem uma taxa, não há aqui uma individualização, o que é que a empresa
está a dar? Não é linearmente uma taxa, não conseguimos identificar a individualização
da satisfação da necessidade, mas por outro lado, quando chegamos e dizemos que é
unilateral ainda é pior, porque esta contribuição só se aplica a quem está naquele
mercados, os beneficiários são os próprios.
O caminho que a doutrina e o TC fez foi diferente, o caráter grupal é muito acentuado,
a regulação é fundamental para que o mercado possa ser 1 mercado aberto, a liberdade
é garantida pela regulação e pela supervisão, há aqui 1 aproximar mais da bilateralidade.
A docente tem dúvidas sobre isto, estas contribuições são calculadas: %x volume de
negócios de cada empresa ao respetivo setor.
Neste momento, as contribuições financeiras têm 2 regimes diferentes, há
contribuições que seguem o regime dos impostos (1.) e há contribuições financeiras que
seguem o regime das taxas (2.).

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Aulas 9 e 10 (18/03/15)

Momentos da Vida do Imposto

Até agora estivemos a procurar caracterizar o imposto, tentar compreender esta figura
e distingui-la de outras que lhe são próximas. Hoje vamos tentar perceber a dinâmica do
imposto, o seu funcionamento.
Nestes momentos, temos de distinguir aquilo a que chamamos:

 Momento Normativo - criação, instituição ou estabelecimento do imposto;


 Momento Administrativo - aplicação, efetivação, administração ou gestão do
imposto.

O momento normativo consiste na definição (em abstracto), por 1 lado dos factos,
situações e acontecimentos que vão originar uma obrigação de pagamento de imposto.
Temos então aqui o facto gerador, ou seja, o facto tributário, que é o pressuposto de
facto. O facto gerador contém este conjunto de pressupostos de facto. Se eu for
trabalhador dependente, residente em Portugal e cá trabalhar, esta minha situação vai
ser subsumível a uma norma do Código do IRS.
A este conjunto de pressupostos falamos, basicamente, da hipótese legal das normas
de tributação. Para além da definição, neste momento normativo temos também uma
definição dos sujeitos ativo e passivo, uma definição de quem tem poder para gerir e
administrar o imposto e de quem são as pessoas que ficam sujeitas ao pagamento deste
imposto e/ou cumprimento de outras obrigações acessórias. A relação de imposto é uma
relação obrigacional complexa. Portanto, aqui vamos ter o devedor, o contribuinte, o
substituto, o responsável, etc.
A definição de incidência real é então a do facto gerador, enquanto que a definição dos
sujeitos é a incidência pessoal.
No momento normativo ainda se define aquilo a que chamamos, de forma pouco
rigorosa, a matéria colectável, i.e., define-se também o conjunto de operações que
permitem apurar o imposto a pagar. Tem de ser definido como é que os rendimentos vão
ser tributados, o que é que vai ser tributado. A definição da matéria coletável e do modo
como se chega ao imposto a pagar, faz então parte do momento normativo, estando
então aqui a definição de taxa (valor percentual) a aplicar à matéria coletada e as
próprias deduções, tudo isto cabe na definição normativa.
Para além disto, ainda nos aparecem no momento normativo os benefícios fiscais, o
conjunto de situações em que haveria lugar ao pagamento do imposto, em que, por
razões extra-fiscais, que não estão diretamente ligadas com a obtenção de receitas. Os
benefícios fiscais são sempre regimes de excepção. Dentro dos benefícios temos de
distinguir as situações de não sujeição das de isenção.
Estes elementos, do momento normativo, exige uma intervenção legislativa
qualificada, ou seja, estas matérias têm de ser definidas por Lei da AR ou Decreto-Lei do
Governo, elas integram a reserva relativa de competência legislativa da AR, nos termos
do art.165º, nº1, i), conjugado com o art.103º, nº2, CRP. A isto vamos aprender a
chamar o princípio da legalidade no seu sentido formal!
O art.103º, nº2, CRP diz que os impostos são criados por lei, que determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Aqui está
consagrado o princípio da legalidade no sentido material. A resposta à pergunta que este
103º, de certa forma, levanta é então respondida pelo 165º, nº1, i).
O momento normativo é então o momento para o qual a nossa Constituição exige
intervenção legislativa qualificada.
Posteriormente, temos então o momento procedimental, que surge também com
diferentes fases, a que chamamos:

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 Lançamento;
 Liquidação;
 Cobrança.

O lançamento é a identificação em concreto de factos, situações ou acontecimentos,


bem como a identificação em concreto dos sujeitos a tributar.
A liquidação, em sentido estrito, consiste no apuramento em concreto do montante de
imposto a pagar, é uma operação de determinação da colecta final, i.e., em regra uma
operação traduzida na aplicação da taxa (valor percentual) à matéria colectada. Por ex.,
em IRS tributa-se o rendimento obtido pelas pessoas singulares, a matéria colectada, a
tributável, é o valor do rendimento líquido obtido pela pessoa que vai ser tributada,
durante um período de tributação de 1 ano.
Para chegarmos ao imposto a pagar, i.e., à quantificação da obrigação de imposto
temos de fazer uma operação que se traduz na aplicação de 1 valor percentual ao
montante auferido pela pessoa. Se eu durante o ano obtive 20.000 de rendimento, para
saber o imposto a pagar temos de multiplicar isto pela taxa.
O imposto a pagar é sinónimo de colecta final!
Por último temos a cobrança, onde estão em causa as atividades tendentes à
arrecadação da receita, atividades que podem variar consoante o imposto. A cobrança
pode ainda ocorrer por aquilo que falta pagar, é emitida uma nota de liquidação onde se
emite o montante a pagar por cada contribuinte em concreto, é dado 1 prazo ao
contribuinte para pagar.
Como temos aqui liquidação em sentido estrito, isto quer dizer que, mesmo
tecnicamente a expressão ''liquidação'' pode ser usada noutros sentido. A liquidação em
sentido amplo é em sentido amplo e podemos até dizer que é em sentido impróprio,
abrangendo quer as atividades de lançamento, quer as atividades de liquidação, em
sentido estrito. Temos aqui sentidos completamente diferentes!
A realização das 3 atividades anteriores não é 1 exclusivo da administração tributária,
historicamente estas tarefas já foram tarefas desempenhadas em exclusivo pela
Administração Tributária, mas nos anos 80, parte delas, foram transferidas para os
particulares. Foram criados vários mecanismos de cobrança que auxiliaram esta
transferência.

Classificação dos Impostos

A primeira classificação que vamos estudar é de impostos diretos e indirectos. Temos


vários critérios para classificar impostos neste contexto:

 Critérios Económicos;
 Critérios Jurídicos.

Dentro dos Critérios Económicos nós temos:

 Critério Financeiro;
 Critério da Contabilidade Nacional;
 Critério da Repercussão Económica (ou da Repercutabilidade do Imposto).

Dentro dos Critérios Jurídicos temos:

 Critério Administrativo ou de Otto Mayer;


 Critério do Rol Nominativo;
 Critério do Tipo de Relação de Base do Imposto.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)


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Começando pelo Critério Financeiro, os impostos diretos são os que atingem


manifestações imediatas de capacidade contributiva, enquanto que os impostos
indirectos são manifestações mediatas de capacidade contributiva.
Quando podemos dizer que há manifestação imediata? Quando há imposto sobre o
rendimento. Já nos impostos indirectos temos manifestações imediatas, i.e., estes
impostos procuram apurar a minha capacidade contributiva mas usam indicadores que
são reveladores da minha capacidade contributiva mas não a revelam de forma direta.
Quando queremos tributar o rendimento de outra forma, podemos olhar, por ex., para
os seus bens, são indicadores que mostram determinado rendimento de forma
indireta(ex.: compra de um Maseratti).
Neste contexto, todos os impostos sobre o consumo querem tributar em função da
capacidade contributiva.
Depois temos o Critério da Contabilidade Nacional, i.e., o critério aqui usado é o de
determinar como é que cada imposto é visto pelas regras da contabilidade pública. São
diretos, os impostos que não são contabilizados, em termos legais, como custos das
empresas, sendo indirectos os outros, os impostos que são contabilizados como custos
empresariais.
Isto tem implicações, aqueles que não são contabilizados e considerados como custos
não relevam no apuramento do produto nacional, nem relevam no apuramento do
rendimento nacional. Já nos indirectos há relevância no apuramento do produto
nacional e do rendimento nacional. Relevam em que termos? Relevam subtraindo,
diminuindo o produto nacional, aos proveitos da empresa vamos subtrair estes impostos,
eles contribuem para 1 produto nacional mais baixo.
Sobre o nosso ponto de vista jurídico, isto é 1 critério linear!
O Critério da Repercussão Económica (ou da Repercutibilidade) é 1 mecanismo que se
traduz na possibilidade de transferir a carga tributária para o adquirente final de bens
ou serviços.
De acordo com este critério são directos os impostos não repercutíveis, os impostos em
que não existe possibilidade económica de repercussão ou não existe possibilidade de
transferir a carga para o adquirente final de bens ou serviços. Por sua vez, são indirectos
os impostos repercutíveis, i.e., os impostos que têm a possibilidade de aquele que
suporta o imposto o suportar apenas em termos temporários porque vai conseguir
transferir a carga tributária.
O ex. típico que temos de imposto indirecto é o IVA, 1 imposto que vai incidir sobre o
valor que cada intermediário num processo acrescenta ao bem ou serviço que está a ser
prestado, cada 1 paga o imposto, cada 1 incorpora no preço dos bens ou serviços
prestados. Já os impostos directos, tradicionalmente, são o IRS ou o IRC.
Mas nós vamos percebendo que isto não funciona assim. O IRS suportado por 1
trabalhador independente tem alguma capacidade para realizar esta transferência de
carga tributária, nem que seja aumentando o preço dos bens ou serviços que vai prestar.
Este critério é então tendencial!
Passando agora para os Critérios Jurídicos, os primeiros 2 critérios dizem-nos quase a
mesma coisa. Primeiro temos o Critério Administrativo ou de Otto Mayer (1 dos maiores
fiscalistas da dogmática fiscal), que distingue os impostos em diretos e indirectos em
função do tipo de atividade administrativa que é desenvolvida. Este autor diz-nos que
são directos os impostos com lançamento pela Administração, sendo indirectos os
impostos sem lançamento administrativo. Portanto, teoricamente temos 1 critério
simples.
Dentro dos indirectos cabem todos os impostos sobre o consumo (IVA e outros), não
têm 1 lançamento administrativo. Nos impostos directos caberiam os impostos sobre o
rendimento.
Posteriormente temos o Critério do Rol Nominativo, que praticamente nos diz o mesmo
que o critério anterior. Podemos chamar-lhe o Critério ''da Lista''. Este critério diz-nos

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que são directos os impostos liquidados com base num rol nominativo de contribuintes,
i.e., são directos os impostos em que é possível fazer uma lista de contribuintes.
Por sua vez, nos impostos indirectos não é possível fazer o rol nominativo. Assim, está
aqui a tónica numa lista prévia de contribuintes.
O último critério é o Critério do Tipo de Relação Base do Imposto, critério coincidente
com 1 outro que já vamos estudar. De acordo com este critério nós temos distinguir o
tipo de relação de base do imposto tendo em conta a configuração do elemento temporal
do imposto. Isto coincide com 1 outro critério, que arruma os impostos em impostos
periódicos e impostos de obrigação única, i.e., nós temos impostos directos quando a
relação de base é duradoura, 1 facto gerador duradoura, e temos impostos indirectos
quando a relação de base vem de 1 facto gerador instantâneo.
Nos impostos directos, o facto gerador tende a repetir-se, a prolongar-se no tempo. Nos
indirectos o facto gerador não se volta a gerar, ainda que se possa repetir noutra ocasião.
Nos directos é possível elaborar o rol nominativo, as tais listas. Nos indirectos não há
qualquer ligação entre os factos geradores, mesmo que possam ser o mesmo.
Esta arrumação coincide com uma outra classificação, como já foi dito, a que
distingue os impostos periódicos dos de obrigação única. A segunda classificação de
impostos é que distingue entre os impostos periódicos e os impostos de obrigação única.
Já sabemos que o critério de distinção é, precisamente, a configuração do elemento
temporal do facto gerador do imposto.
Nos impostos periódicos o facto gerador é 1 facto gerador duradouro (de formação
sucessiva), que tende a prolongar-se no tempo, sendo 1 facto gerador complexo por estas
razões. Os impostos periódicos são impostos em que o tempo é relevante, é determinante
da própria configuração do facto gerador.
Os impostos de obrigação única têm 1 facto gerador instantâneo, que se verifica num
determinado momento e que mesmo que venha a repetir-se nunca é o mesmo facto
gerador, é 1 facto gerador semelhante. Deste modo, temos 1 facto gerador simples, sendo
ex. disto a celebração de 1 contrato de compra e venda de 1 imóvel é aquilo a que
chamamos 1 facto gerador instantâneo, eu consigo localizar no tempo quando ocorreu
tal facto. O IMT é 1 imposto de obrigação única, já 1 contrato de trabalho, que implica a
obtenção de salário, é 1 facto gerador duradouro.
Nos impostos periódicos enquadramos o IRS, o IRC e o IMT. Mas temos aqui alguns
problemas: o período de tributação é 1 ano. Eu ao longo de 2014 obtive uma pluralidade
de rendimentos, em IRS vão ser tributados todos os anos todos os rendimentos que tive
nesse intervalo temporal. Quando se apura o meu rendimento é apenas no momento em
que é possível fazê-lo.
Esta distinção tem interesse prático! Em primeiro lugar, é relevantíssima para
determinar o início da contagem dos prazos de caducidade do direito à liquidação e de
prescrição da obrigação. Estes prazos estão fixados, respetivamente, nos art.45º, nº4 e
48º, nº1, LGT. Quer a caducidade quer a prescrição libertam o contribuinte. Nos
impostos periódicos os prazos começam sempre a contar do termo desse ano, nos de
obrigação única o momento em que se inicia a contagem é o momento do facto gerador,
é o próprio dia.
O segundo aspeto em que se manifesta o interesse prático, é a aplicação das leis
fiscais no tempo. Os impostos periódicos e os impostos de obrigação única obedecem a
regras diferentes do ponto de vista temporal. Neste contexto, temos o art.103º, nº3, CRP,
que tem a proibição de retroatividade, com alcance diferente consoante o imposto seja
periódico ou de obrigação única.

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Aulas 11 e 12 (19/03/15)

Classificação dos Impostos

Hoje vamos ver a distinção entre impostos pessoais e impostos reais. A distinção
estabelece-se de forma diferente das classificações anteriores.
Os impostos reais são impostos em que a matéria coletável é objetivada, é tratada
independentemente da situação pessoal e familiar do sujeito passivo, o que quer dizer
que os impostos reais não pretendem às caraterísticas pessoais e familiares dos sujeitos
passivos, eles tributam uma manifestação concreta de capacidade contributiva,
abstraindo da situação pessoal e familiar do sujeito passivo que está a ser tributado.
Já os impostos pessoais são impostos em que a matéria coletável é subjetivada, sofre 1
tratamento que tem em consideração a situação pessoal e familiar de cada sujeito
passivo, essa tributação é estruturada tendo em conta a situação pessoal e familiar do
sujeito.
Por causa destas razões, há quem chame aos impostos reais impostos objetivos e aos
impostos pessoais impostos subjetivos.
Quais são os elementos típicos que podemos procurar num imposto para determinar
se ele é real ou pessoal? Como se faz esta subjetivação da matéria coletável? Vamos
passar então aos elementos de pessoalização (expressão da doutrina fiscal), i.e.,
características que revelam se o imposto é pessoal. Temos aqui 4 caraterísticas:

1. Incidência sobre o rendimento global de base mundial;


2. Exclusão de tributação do mínimo de existência;
3. Dedutibilidade das despesas pessoais e familiares socialmente relevantes;
4. Progressividade do Imposto.

Relativamente à primeira caraterística, a matéria coletável tem em conta a situação


pessoal e familiar do sujeito passivo, quer-se tributar de acordo com a capacidade
contributiva, que não é apenas 1 dos rendimentos que obtenho. O facto de eu ter obtido
5.000 de rendimento é uma manifestação de capacidade contributiva, mas não passa
disso, não quer dizer que esses 5.000 espelhem toda a minha capacidade contributiva.
Nos impostos reais ocorre uma manifestação concreta de capacidade contributiva e
pagamos imposto apenas sobre essa capacidade.
Um imposto pessoal quer subjetivar a matéria coletável, vai tratar os 5.000 de forma
diferenciada, conforme a minha situação pessoal e familiar, estes 5.000 vão ser
analisados: Esta pessoa só tem estes 5.000 de rendimentos ou tem outros rendimentos?
É preciso conhecer toda a minha situação em termos de rendimento, de forma a que
todas as outras características funcionem sem perturbações.
O imposto tem então de obedecer a 1 princípio de world wide income, i.e., o princípio
da tributação do rendimento global de base mundial. Não há pessoalização se não tiver
em conta todos os rendimentos! O art.15º, nº1, Código do IRS estabelece qual o âmbito
de sujeição em matéria de IRS, contemplando aqui este elemento de pessoalização.
A segunda característica significa deixar de fora todos aqueles que não ultrapassam o
número de rendimento considerado mínimo, o que significa que o imposto pessoal é 1
imposto que tributa cada 1 em função da sua situação pessoal, pretendendo apurar a
efetiva capacidade contributiva, estabelecendo em comum 1 patamar mínimo. Todos os
sujeitos passivos que não ultrapassarem 1 nível de rendimento global suficiente para
satisfazer as necessidades vitais não podem ser tributados, porque eles não têm
capacidade contributiva.
Não estamos a dizer que eles não têm rendimento ou que eles não revelam alguma
capacidade, dizemos é que o nível de rendimento está abaixo daquilo que é considerado
o básico, o fundamental. O valor usado como referência é o valor do salário mínimo

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nacional, este é o padrão de referência! Quem obtém menos disso não tem capacidade
contributiva. Neste contexto relevam os arts. 70º e 78º, nº1, a), Código do IRS.
Na terceira caraterística já falamos de despesas, com duas características: dizem
respeito à pessoa ou aos familiares considerados relevantes para efeitos de tributação e
essas defesas têm de ter relevo social.
Estas despesas têm de ter a sua dedutibilidade assegurada por quem? Tais despesas
diminuem o rendimento disponível dos sujeitos passivos, são despesas socialmente
relevantes. Nós temos 2 níveis diferentes de relevância social:

 despesas socialmente relevantes de 1º nível - tarefas fundamentais do Estado, mas


que este ou não consegue realizar adequadamente ou não realiza de todo;
 despesas socialmente relevantes de 2º nível - correspondem a comportamentos
que o Estado pretende incentivar ou a que reconhece relevância.

Vamos supor que temos 2 sujeitos passivos: A e B. Ambos são colegas de trabalho,
têm o mesmo rendimento, de 20.000€, fazendo os mesmos descontos. O que distingue A
de B? A é solteiro, não tem filhos, enquanto que B, também solteiro, tem 2 filhos
menores e paga 10.000€ de colégio, por ano, tendo ainda o pai num lar, onde paga
2.000€ por ano. Acresce a isto, o próprio B tem uma doença crónica, que tem custos de
8.000€ por ano. A e B não têm quaisquer outros rendimentos.
Se o imposto for pessoal, à partida parecem ter a mesma capacidade contributiva, mas
A dispõe integralmente do seu rendimento, enquanto que B não tem disponibilidade
sobre o seu rendimento, há despesas socialmente relevantes que ele teve de suportar. O
princípio da capacidade contributiva obriga-nos a considerar que A e B não têm a
mesma capacidade, vamos ter de diferenciar a tributação, desde que A e B estejam a ser
tributados de modo pessoal.
A disponibilidade de B, sobre o seu rendimento, é zero! No sistema atual, B tem na
mesma de pagar impostos, o legislador introduz limites,

Voltando às características, as despesas de 1º nível abrangem a saúde e a educação,


por ex., enquanto que as despesas de 2º nível abrangem despesas com seguros. As de 2º
nível hoje, na prática, não são dedutíveis, algumas normas estão suspensas em termos
de aplicação.
A última característica é a progressividade do imposto, o que significa que o imposto
tem taxas progressivas, i.e., a taxa do imposto não é uma taxa constante, a taxa de
imposto aumenta à medida que aumenta a matéria coletável. Aqueles que atingem níveis
mais elevados de matéria coletável pagam mais imposto, porque as taxas de imposto
crescem.
A progressividade, enquanto elemento de pessoalização, é o único elemento que pode
ser questionado, os outros 3 elementos são elementos em qualquer parte do Mundo, 1
imposto para ser pessoal tem de apresentar aquelas 3 características. O último elemento
já não reúne consenso na comunidade internacional, neste momento temos muitos
países com impostos pessoais que nos apresentam as 3 caraterísticas mas não são
progressivos.
Em Portugal, esta discussão não pode ser feita, por causa do art.104º, nº1, CRP, que
diz que o imposto sobre o rendimento pessoal será único e progressivo, no nosso sistema
jurídico não podemos discutir isto, 1 imposto para ser pessoal tem de ser progressivo!
Está aqui presente o princípio do Estado Social. Há aqui toda uma articulação, este
princípio é o fundamento da progressividade, pretende-se mesmo onerar de uma forma
mais pesada os mais ricos para redistribuir o rendimento, para prestar o apoio social
aos mais carenciados. No nossos sistema, porque a nossa CRP ainda tem essa marca
ideológica, a progressividade é 1 elemento, mas por razões ideológicas.

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Vamos agora estudar a distinção entre impostos de quota fixa e impostos de quota
variável, que por sua vez se subdividem em impostos proporcionais, impostos
progressivos e impostos regressivos.
Nos impostos de quota fixa a lei estabelece diretamente o montante de imposto a pagar,
porque nestes impostos não há liquidação em sentido estrito, é o próprio quantitativo do
imposto que é fixado por lei. Estes impostos são iguais para todos, não há necessidade
da operação técnica para obter o montante a pagar.
No nosso sistema estes impostos são raros, temos os da contribuição para os
audiovisuais.
A quantificação do montante de imposto a pagar, nos impostos de quota variável,
resulta da aplicação de uma taxa, i.e., de 1 valor percentual, à matéria coletável. Os
outros impostos que temos em vigor no nosso sistema fiscal traduzem-se neste tipo.
Os impostos de quota variável são uma categoria residual, que se subdivide em:

 impostos proporcionais;
 impostos progressivos;
 impostos regressivos.

O montante de imposto a pagar neste tipo de impostos varia em função da variação da


matéria coletável, i.e., em qualquer imposto de quota variável se eu tiver matéria
coletável igual a 2.000 e tiver matéria coletável de 20.000, quer a taxa seja proporcional,
progressiva ou regressiva, vai corresponder sempre uma variação do imposto a pagar. Se
a taxa for de 10%, vou ter 1 imposto a pagar de 200, mas se aplicar os mesmos 10% aos
20.000, vou ter 1 imposto a pagar de 2.000. O montante varia então em função de
variações.
Esta variação pode ter características muito diferentes, aí aparece-nos a necessidade
em distinguir entre impostos proporcionais, progressivos ou regressivos.
Nos impostos proporcionais a taxa do imposto permanece constante, i.e., permanece
invariável perante variações da matéria coletável. A taxa de imposto, se eu tiver 1
imposto proporcional, temos 1 imposto que tem por ex. uma taxa de 10%, a que
chamamos taxa fixa, ela vai permanecer constante, independentemente do valor da
matéria coletável, tenha eu o rendimento que tiver.
Mas, o montante de imposto a pagar é que varia em função da variação da matéria
coletável! A taxa que temos aqui (10%) exprime uma relação, sendo essa a relação que é
constante (2.000/200=10; 20.000/2.000=10). A taxa é a expressão da relação
constante.
Nos impostos progressivos isto já não é assim. O que temos nestes impostos? No
imposto progressivo a taxa do imposto varia com a variação da matéria coletável e varia
no mesmo sentido da variação da matéria coletável, o que quer dizer que se a matéria
coletável aumenta a taxa do imposto também aumenta.
O imposto progressivo é o imposto que nos apresenta sempre, pelo menos, duas taxas
de tributação. Vamos atentar no art.68º, Código do IRS: até 7.000 a taxa é de 14,50%,
de mais de 7.000 até 20.000 a taxa é de 28,50%, de mais de 40.000 até 80.000 a taxa é
de 37, de mais de 40.000 a 80.000 a taxa é de 45% e superior a 80.000 a taxa é de 48.
Podemos concluir que à medida que o rendimento vai aumentando, a própria taxa vai
aumentando, ela varia, no mesmo sentido da matéria coletável. Esta tabela concretiza o
que foi dito anteriormente.
A progressividade pode surgir-nos, tecnicamente, de modos muito diferenciados, que
não vamos estudar aqui todos. Para evitar erros, temos de distinguir a progressividade
por classes da progressividade por escalões.
Vamos supor que eu tenho uma matéria coletável, o meu rendimento é de 25.000.
Como é que este rendimento vai ser tributado? Quando temos 25.000 para tributar, a
progressividade por classes o quantitativo da matéria coletável é enquadrado num
intervalo de rendimento, a que chamaremos classe de rendimento. O quantitativo seria

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enquadrado pela sua totalidade, i.e., o que teríamos de determinar é onde é que os
25.000 cabem, teríamos de nos centrar nos 25.000 e olhar para intervalos. Apurado o
intervalo, aplicaríamos taxa respeitante a essa classe/intervalo: 25.000 x 37%. Não
estaríamos a cometer nenhum erro, se o legislador nos disser que se aplica a
progressividade por classes.
Na progressividade por escalões, desde que seja superior ao limite do 1º
intervalo/escalão, a matéria coletável tem de ser repartida ou dividida sucessivamente
pelos diferentes escalões, pelos diferentes intervalos. Vamos, preenchendo cada 1 dos
escalões e aplicando as taxas respetivas. Teríamos de dividir os 25.000 em parcelas,
pelos limites de cada escalão. À parcela de 7.000 aplicaríamos a taxa de 14,50%, depois
a 13.000 aplicamos a taxa de 28,50%. Falta-nos tributar 5.000, após o preenchimento
do 1º escalão. Aos 5.000 aplicamos uma taxa de 37. Aplicamos aquela taxa por escalões!
Dentro da 2ª parcela não cabem 18.000, só 13.000.
A última taxa nunca é uma taxa média! A progressividade por escalões acaba por ser
mais benéfica, atualmente a solução mais simples é esta, apesar de nos parecer mais
complexa. O nosso Código de IRS assume uma progressividade por escalões.
Voltando à tabela do art.68º, Código IRS, vamos verificar que há duas coluna, a A e B.
A coluna B, que surge para simplificar. Se tiver 1 rendimento que vai para lá do último
escalão, o legislador encontrou uma forma simplificada de fazer as operações. No art.68º,
nº2, Código IRS é dito que, para efeitos de aplicação mais simples da tabela, o
quantitativo do rendimento coletável, sempre que superior a 7.000, é dividido em duas
partes.
Voltando ao nosso ex. temos 25.000 de rendimento coletável. Vamos ter de dividir em
duas partes, o que não significa dividir por 2, a 1ª parte é igual ao limite do maior dos
escalões que nele couber, aqui 20.000, onde aplicamos a taxa de 23,600%. A outra parte
é igual ao excedente, in casu 5.000, onde aplicamos a taxa de 37%, a taxa respeitante ao
escalão imediatamente superior da col. B.
E se fosse com 100.000? Primeiro temos a taxa de 37,650%, aplicando a taxa de 48%
ao que sobra.

*Esta aplicação do 68º, nº2, CIRS, não sai no teste!

Por último, temos o imposto regressivo, que também é 1 imposto de quota variável.
Neste imposto é a própria taxa do imposto, tal como o progressivo, que varia em função
da variação da matéria coletável. No entanto, aqui varia em sentido inverso, i.e., à
medida que aumenta a matéria coletável diminui a taxa.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)


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Aulas 13 e 14 (08/04/15)

*Avaliação: Na próxima aula temos de dar o tema da apresentação e a data à docente!

Classificação dos Impostos

Neste contexto, temos ainda de rever a distinção entre impostos estaduais e impostos
não estaduais. O critério é o de saber quem é o sujeito ativo do imposto! Portanto, o
critério é, aparentemente, simples. Se o sujeito ativo é o Estado, então o imposto é
estadual, mas se o sujeito ativo é o ente público ou privado a quem estejam atribuídos
poderes públicos então o imposto é não estadual.
O problema aqui é, como já vimos, a determinação de quem é o sujeito ativo. Esta
questão não é simples, quando falamos na titularidade ativa do imposto, esta
titularidade ativa pode assumir várias formas. Quando falamos nesta podemos estar a
falar de:

 titularidade do poder normativo – poder de criação do imposto (criação/alteração


dos elementos essenciais de 1 imposto já existente);
 capacidade tributária ativa – poder de exigir o pagamento do imposto, i.e., aquele
que tem capacidade tributária ativa é aquele que surge como credor, na relação
jurídica tributária (titular ativo pode ser aquele que detêm a capacidade tributária
ativa);
 competência tributária – tem a competência tributária aquele que tiver o poder de
gerir e administrar o imposto;
 titularidade da receita do imposto.

*Geralmente, quem tem capacidade tributária ativa tem também a competência


tributária!

Temos impostos, por ex., o IMI, em que estas várias formas de titularidade ativa nos
aparecem repartidas por entes diferentes. No IMI a titularidade do poder normativo cabe
à AR, existe uma reserva de competência legislativa, quem pode legislar em matéria de
IMI, sob o ponto de vista ‘’criador’’, é a AR ou o Governo com autorização da AR.
Estamos num plano estadual.
Contudo, há uma parcela do poder normativo atribuída às autarquias locais. De
acordo com o Código do IMI, as autarquias locais, no que diz respeito à tributação dos
prédios urbanos, podem determinar, em concreto, a taxa a aplicar. As diferentes
autarquias locais exercem uma parcela do poder normativo, que está aqui repartido
entre:

 Estado;
 Autarquias Locais.

O mesmo acontece com os derramas municipais. Quer no IMI, quer na derrama,


temos um imposto cuja receita é entregue aos municípios, é uma receita própria deles.
Assim, quanto à 4ª forma de titularidade, o IMI é 1 imposto não estadual. Já pela
capacidade tributária ativa, o IMI é 1 imposto onde quem surge como credor é o Estado,
daí ser 1 imposto estadual, enquanto que quanto à administração e gestão é igualmente
estadual, porque o lançamento e liquidação cabem ao Estado. Quanto à titularidade
podemos dizer que há uma parcela atribuída às autarquias locais, por isso o imposto
não é totalmente estadual.
Aqui, a resposta deve ser ‘’depende’’, porque, efetivamente, a classificação depende da
titularidade ativa que estivermos a utilizar.

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A próxima classificação que vamos estudar é aquela que permite distinguir os


impostos principais dos impostos acessórios.
Aqui, a própria designação já nos diz algo, os impostos principais são impostos que
existem por si próprios, i.e., que têm todos os elementos para existir de modo autónomo.
Os impostos acessórios, pelo contrário, são impostos que dependem, na sua existência
ou nos seus elementos, de 1 imposto principal. Estes impostos não existem por si, não
têm autonomia, precisamente por estarem sempre, de algum modo, dependentes dos
impostos principais.
Isto quer dizer que aos impostos acessórios falta alguma coisa, faltam-lhes elementos
para poderem existir autonomamente. Nos impostos acessórios que temos tido em vigor
no nosso Sistema Fiscal normalmente faltam regras próprias de determinação da
matéria coletável.
Então, os impostos acessórios podem subdividir-se em 2 tipos, podem surgir com 2
modalidades:

1. Modalidade de Adicionamento;
2. Modalidade Adicional.

Faltar-lhes regras próprias da matéria coletável implica que eles as tenham de


procurar nos impostos principais. Essa determinação é feita por referência ao imposto
principal. Nunca podemos definir 1 imposto acessório sem saber qual é o seu imposto
principal! Há aqui uma ligação incindível.
Estas duas modalidades de imposto acessório que temos de estudar são diferentes,
porque aquilo que se vai buscar é diferente em cada modalidade:

 Modalidade de Adicionamento – a matéria coletável do imposto acessório é a


matéria coletável do imposto principal;
 Modalidade Adicional – a matéria coletável do imposto acessório é a colecta do
imposto principal.

Tal distinção é fundamental, no adicionamento temos de ir buscar ao imposto


principal a matéria coletável, enquanto que no adicional vamos buscar a colecta.
Nós temos, por ex., no nosso Sistema Fiscal, a derrama municipal, que é 1 imposto
acessório. A derrama não vive sem o IRC, este é o seu imposto principal. Daqui podemos
logo retirar uma conclusão: quem paga derrama são pessoas que pagam IRC ou, à
partida, o universo das pessoas sujeitas ao pagamento da derrama, corresponde ao
universo daqueles que ficam sujeitos ao IRC.
No imposto acessório nós vamos ter a própria matéria coletável deste, cujas regras
funcionam por remissão para o imposto principal. Conforme o que vamos buscar ao
imposto principal seja matéria coletável ou colecta, nós estaremos perante 1
adicionamento ou 1 adicional.
Vamos ver 1 ex.: a sociedade X obteve 1 lucro anual, em 2014, 10.000. No IRC, estes
10.000 são a matéria coletável, que vão ficar sujeito à aplicação da taxa do IRC para
apurarmos a colecta do IRC. Portanto, se a taxa do IRC for de 20‰, para uma matéria
coletável de 10.000, nós temos uma colecta de 2.000. A sociedade X fica sujeita ao IRC,
sofre a incidência da referida taxa e fica com uma colecta de 2.000. Em princípio, a
colecta corresponde ao imposto a pagar.
Se sobre o IRC for criado 1 imposto acessório, ele pode ser adicional ou
adicionamento. Se for adicionamento, a matéria coletável é de 10.000, mas se for 1
adicional a matéria coletável é 2.000. É esta matéria coletável ou coleta que vai ficar
sujeita à taxa do imposto acessório.
No imposto acessório temos sempre de fazer! Primeiro, temos de ver o que falta, que
será a matéria coletável ou a coleta, às quais vamos aplicar a taxa do imposto acessório.
Se quiséssemos criar um imposto acessório, o que nos faria optar por uma modalidade

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em detrimento da outra? Parece óbvio que iríamos olhar para o valor e preferiríamos o
adicionamento, porque a colecta é sempre uma percentagem da matéria colectável.
Mas, no Direito Fiscal temos de pensar fora do que é óbvio. Isto quer dizer que eu
consigo obter a mesma receita obtendo o adicionamento ou o adicional, variando em
taxas mais baixas ou taxas mais altas. Contudo, as taxas elevadas têm o dito efeito
psicológico.
Se soubermos que no IRC, no imposto principal, existem deduções à colecta, por isso
a coleta é provisória. Na realidade, se a sociedade X puder fazer deduções a colecta no
valor de 2.000, a colecta final vai ser 0! Deste modo, pode acontecer que, dada a
configuração do imposto do IRC, existirem muitas sociedades X com muita matéria
coletável mas que não pagam IRC, feito o apuramento todo.
No caso em análise, a sociedade X não paga IRC mas tem de pagar o adicionamento,
i.e., tem de pagar o imposto acessório. Se este for 1 adicional, o que acontece? Quando
partimos do imposto acessório, vamos ao principal e vamos buscar a colecta, por isso a
sociedade X não paga IRC nem adicional, ou seja, também não paga imposto acessório.
Já conseguimos encontrar aqui uma diferença relevante entre o adicionamento e o
adicional: o verdadeiramente acessório é o adicional, isto porque quando só há efetivo
pagamento do imposto principal é que há pagamento do imposto acessório. O universo
de contribuintes atingidos pelo imposto acessório coincide, rigorosamente, com o
universo de contribuintes atingidos pelo imposto principal, i.e., só paga imposto
acessório na modalidade adicional exatamente os mesmos contribuintes que ficam
obrigados a pagar o imposto principal.
No adicionamento isto não acontece, estes universos podem não coincidir, porque há
contribuintes que não pagam imposto principal mas são obrigados a pagar o imposto
acessório, porque a matéria do imposto acessório é a do imposto principal, o que implica
que haja mais autonomia aqui. O adicional é então mais acessório!
Neste momento, a derrama municipal é 1 adicionamento, incide precisamente sobre o
IRC, o seu imposto principal e tem essa especificidade que é a taxa poder ser fixada
pelos municípios, num intervalo que vai de 0 a 1,5‰. Isto quer dizer que o município
tem o poder normativo de decidir não cobrar a derrama. No nosso território temos muita
variação neste campo da derrama, 1 imposto importante porque, por 1 lado, é acessório
e por outro porque nos desafia na tentativa de o classificarmos.

No nosso manual aparecem ainda duas outras classificações, mais teóricas, a que a
docente vai fazer uma referência breve.
Então, podemos ainda distinguir os impostos em impostos gerais e especiais ou em
impostos fiscais e extrafiscais.
Como distinguimos o imposto de fiscal do extrafiscal? Aqui está em causa o elemento
teleológico do imposto. Logo no início vimos que há impostos, os fiscais, que têm como
finalidade única ou predominante a obtenção de receitas, enquanto que outros, os
extrafiscais, assumem como finalidade predominante a modelação de condutas dos
membros da comunidade.
Deste modo, os impostos extrafiscais são impostos que funcionam como instrumentos
de política económica ou social. Os impostos fiscais funcionam como simples
instrumentos de arrecadação de receitas, servem apenas para obter receitas que
permitem cobrir as despesas públicas e executar as tarefas essenciais do Estado.
Portanto, já vimos o caso do imposto sobre o caso dos sacos de plástico, 1 imposto
extrafiscal, porque este imposto implicou uma alteração nos nossos comportamentos.
Por esta razão, há quem chame aos impostos fiscais verdadeiros impostos e aos
impostos extrafiscais chamam falsos impostos. Na terminologia anglo-saxónica chamam
aos impostos extrafiscais impostos suicidas/asfixiantes/sufocantes.
Alguns autores, como o Prof. Casalta Nabais, defendem que só os verdadeiros
impostos estão sujeitos aos princípios constitucional em toda a sua totalidade!

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Os impostos gerais são impostos que atingem a generalidade dos contribuintes,


enquanto que os especiais são, normalmente, impostos a que está associada uma
componente extrafiscal. Os impostos que incidem sobre os vícios, nuns são impostos
específicos.
Deste modo, podemos dizer que entre estes impostos há uma ligação com a
classificação anterior.

***

Fontes do Direito Fiscal

 CRP – Princípios Constitucionais:

o Princípio da Legalidade Fiscal;


o Princípio da Segurança Jurídica – Princípio da Proibição de Retroatividade;
o Princípio da Igualdade;
o Princípio do Estado Social;
o Princípio da Consideração Fiscal da Família.

A primeira fonte de Direito Fiscal são os princípios constitucionais, a CRP reserva


algumas das suas normas à matéria de Direito Fiscal. O primeiro princípio aqui a ter em
conta é o princípio da legalidade fiscal, que se apresenta com duas vertentes
complementares:

1. Vertente Formal;
2. Vertente Material (Princípio da Determinibilidade ou da Tipicidade).

Na vertente formal está em causa saber quem pode legislar em matéria de impostos.
Já sabemos que existe uma reserva relativa de competência legislativa, nos termos do
art.165º, nº1, i), CRP, que nos diz que está reservada à AR a criação de impostos. Esta é
matéria que está reservada, em termos relativos, à AR. Isto quer dizer que estas matérias
podem ser objeto de uma lei de autorização legislativa (art.165º, nº2, CRP).
Esta vertente formal ainda implica se poderem suscitar questões de
constitucionalidade.
A reserva relativa atua num âmbito, do princípio da legalidade, que vale nos
elementos essenciais do imposto. Os elementos essenciais do imposto são (art.103º, nº2,
CRP):

 Incidência;
 Taxa;
 Benefícios Fiscais;
 Garantias dos Contribuintes.

‘’Criação de impostos’’ significa criar de novo ou alterar estes elementos essenciais de


1 imposto já existente, esta expressão tem de ser entendida num sentido amplo.
Importante ainda é que este criar/alterar está protegido em termos constitucional, quer
seja para prejudicar o contribuinte quer seja para beneficiar o contribuinte. Só a AR
pode fazer isto, o Governo só pode aqui intervir com autorização da AR.
A vertente material responde a uma questão diferente, a de saber como se legisla em
matéria de impostos, i.e., o princípio da legalidade, na sua vertente material, é 1
comando dirigido ao legislador, é uma ordem que a CRP está a dar ao legislador
competente na matéria de impostos.
Em que se traduz o princípio da legalidade na sua vertente material? Traduz-se no
seguinte: quando são definidos os elementos essenciais dos impostos, o legislador deve

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determinar, o mais possível, o conteúdo desses elementos essenciais, por isso


chamamos a esta reserva uma reserva conteúdística. Há aqui uma exigência de
determinação, de definição exaustiva por parte do legislador.
Deste modo, a técnica legislativa a ser usada é a técnica dos conceitos determinados e
a técnica da regulamentação casuística, porque são técnicas que criam segurança e
previsibilidade jurídicas, i.e., certeza jurídica. O artigo que fundamenta esta vertente é o
art.103º, nº2, CRP, também aqui voltamos a articular o art.165º, nº1, i) com este 103º: o
165º diz que compete à AR, competência essa desenvolvida no preceito que é o 103º.
Assim, podemos concluir que a CRP dá aqui prioridade à segurança jurídica, ela
prevalece sobre a justiça!
O que é que é importante ainda? O princípio da legalidade na sua vertente formal
aparece, descrito nos manuais (manual do Prof. Casalta Nabais), como 1 princípio de
auto-tributação, a que outros preferem chamar 1 princípio de representatividade. Os
Parlamentos são, tradicionalmente, os órgãos que asseguram esta representatividade, o
único órgão no nosso Sistema Constitucional que garante este princípio.

Algumas notas importantes:

1. O âmbito do princípio da legalidade é então definido no art.103º, nº2, CRP, são


os elementos essenciais, é só nestas matérias em que vale o princípio da
legalidade, o que quer dizer que ele não vale, não se aplica em matéria de
liquidação e cobrança do imposto;
2. Outra nota muito importante é que estes princípios valem quer em benefício
quer em prejuízo do contribuinte;
3. O princípio da legalidade, com esta intensidade que o caracteriza, pode, por
vezes, parecer-nos difícil de articular com outros princípios constitucionais, mas
ele tem de ser articulado com esses princípios, designadamente com o da
autonomia das autarquias locais (não o podemos entender isoladamente);
4. Deste princípio ocorrem algumas consequências, sobretudo em matéria de
preenchimento de lacunas;
5. A doutrina, cada vez mais, tem vindo a discutir a rigidez com que este princípio
é consagrado na Constituição. Na tensão entre segurança e justiça, nós diríamos
que o princípio da legalidade quer criar segurança máxima, implicando que o
legislador abdique da justiça. O problema é que a garantia da segurança pode
ter uma consequência muito negativa, como o contorno das normas, que gera
grave injustiça. Assim, o princípio da legalidade tem de ser articulado com 1
princípio de praticabilidade.

Outro princípio constitucional fundamental é o princípio da segurança jurídica. Este


princípio não é uma caraterística fundamental do Estado de Direito? Tal princípio
afirmar-se no art.2º, CRP.
A segurança, no sentido de estabilidade legislativa e no sentido de uma proibição de
retroatividade, é 1 princípio crucial no nosso Sistema Fiscal. O art.103º, nº3, CRP
consagra uma proibição de retroatividade, que é a manifestação mais importante deste
princípio da segurança jurídica. Em matéria fiscal temos então uma proibição expressa
de retroatividade e temos de perceber bem os contornos dessa proibição.
O que nos interessa neste momento é a afirmação de 1 conteúdo específico, para além
de ser este princípio que fundamenta o princípio da legalidade na sua vertente material,
ele tem esta faceta própria de proibir a retroatividade.
Indo agora ao princípio da igualdade, também aqui a base é o art.13º da CRP, que nos
diz que todos os cidadãos são iguais perante a lei e ninguém pode ser discriminado. Mas
o princípio da igualdade fiscal, que se traduz em generalidade e uniformidade, i.e.,
todos são iguais perante a lei, logo todos pagam impostos (generalidade) e todos pagam
segundo o mesmo critério (uniformidade).

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O princípio da igualdade, em matéria de impostos chamam-se princípio da capacidade


contributiva. O ‘’todos pagam impostos’’ é os que tenham capacidade contributiva. O
princípio da capacidade contributiva é pressuposto e critério da tributação. Como
pressuposto é dizer que só pagam impostos os que revelem capacidade contributiva,
sendo isto que faz a exclusão de tributação do mínimo. Para além disto, o princípio da
capacidade contributiva, como pressupostos, justifica a proibição do confisco de
rendimentos/bens.
Para além disto, o princípio da capacidade contributiva tem várias manifestações na
tributação de rendimentos:

 Princípio do Rendimento Líquido – não podem ser tributados rendimentos brutos,


é necessário permitir a dedução das despesas indispensáveis à formação do
rendimento; ex.: casa arrendada (2.000), cujo telhado é danificado numa
tempestade e tem de ser reparado (3.000);
 Princípio do Rendimento Disponível – está em causa a dedutibilidade das despesas
socialmente relevantes.

Por último, o princípio da capacidade contributiva tem ainda uma manifestação muito
importante, a proibição de presunções absolutas em matéria de tributação.
A seguir temos o princípio do Estado Social, princípio importante, a doutrina procura
para ele um novo patamar de equilíbrio. A nossa CRP nasceu com marcas socializantes
significativas. Dela decorre que Portugal é 1 Estado Social, a nossa CRP impõe então
este princípio, de acordo com o qual o Estado procura, em matéria fiscal, corrigir as
diferenças entre os seus cidadãos, ele atua como 1 agente de correção dessas diferenças,
tributando mais pesadamente aqueles que têm níveis mais elevados de rendimento para
depois redistribuir por aqueles que não atingem níveis tão elevados ou têm níveis
insuficientes.
O princípio em causa decorre dos seguintes preceitos da CRP: arts.2º, 81º, 103º e
104º, nº1. Nenhum destes preceitos pode ser lido sozinho. O art.2º começa por dizer, na
parte final, que a República Portuguesa visa a realização de democracia económica e
social. Este objetivo é concretizado no art.81º, b), que nos diz que incumbe
prioritariamente ao Estado promover a justiça social. Chegamos ao art.103º, nº1 e
encontramos o seguinte: o sistema fiscal visa a obtenção de receitas para cobrir as
despesas públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. Finalmente, o
art.104º, nº1 diz que o imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das
desigualdades e será único e progressivo.
Para terminarmos, temos o princípio da consideração fiscal da família, também 1
princípio constitucional fundamental, consagrado no art.104º, nº1, CRP. Este preceito,
depois de nos dizer que o imposto sobre o rendimento pessoal visa diminuir
desigualdades, diz ainda que este imposto tem de ter em conta as necessidades e os
rendimentos do agregado familiar.
Este art.104º, nº1, teve, historicamente, 1 entendimento muito restrito. Grande parte
da doutrina era da opinião que a tributação era conjunta, isto era 1 imperativo. Mas a
doutrina foi-se evoluindo, tornando-se doutrina maioritária que esta norma não impõe
tal tributação, apenas que seja tida em conta o agregado familiar. A norma permite
então a tributação separada!
A realidade agregado familiar tem de ser tratada de forma especial.

*A delimitação da matéria para o Teste será feita por e-mail.

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Aulas 15 e 16 (15/04/15)

Dúvidas

 Imposto Real

A maior parte dos impostos são reais! O IMI ou o IMT são impostos reais, porque não
têm aquelas caraterísticas que vimos aqui, próprias dos impostos pessoais.

 Isenções

As isenções são benefícios fiscais. É diferente fazer uma delimitação negativa de


incidência, que determina uma não sujeição ao imposto, i.e., à partida há pessoas que
não ficam sujeitas aos impostos. Há normas que servem só para excluir.
Estas normas são então diferentes das normas de isenção, onde há sujeição ao
imposto, aqueles factos estão em princípio sujeitas ao imposto, mas por razões
conjunturais que visam, por ex., deslocar a aplicação de capitais para determinadas
zonas do território. Em qualquer dos casos, temos benefícios, mas as isenções são muito
mais óbvias e têm caráter temporário, enquanto que na não sujeição não há este caráter
temporário.

 Adicionamentos

Em que contexto é que surgem os adicionamentos? O adicionamento é 1 imposto


acessório, o que quer dizer que é 1 imposto que, na sua existência, depende de 1
imposto principal, é acessório, segue o imposto principal. Aquilo que cria esta relação é
faltarem aos impostos acessórios regras próprias, sendo este o caso do adicionamento. A
matéria coletável é determinada por referência ao imposto principal, o que significa que
o imposto acessório, para poder ser calculado, precisa de elementos do imposto principal.
Quando o imposto acessório é criado na modalidade de adicionamento, isto significa
que a sua matéria coletável é a do imposto principal.
Assim, o adicionamento não é completamente acessório, o que não acontece na outra
modalidade, na de adicional. O adionamento incide sobre a matéria coletável do imposto
principal, enquanto que o adicional incide sobre a coleta do imposto principal, o que, na
prática é uma diferença muito grande (V. Aulas 13 e 14).

 Distinção entre Impostos e Taxas

Nas taxas vimos que a contraprestação específica pode consistir: prestação de


bem/serviço público (tecnicamente semipúblico); possibilidade de usar bens do domínio
público; remoção de limites jurídicos à atividade dos particulares.
Quanto a esta remoção dos limites houve uma inversão de jurisprudência em 2010.
Até 2010, entendia que tinha de existir uma fundamentação, para termos um limite
jurídico real e não artificial, e que para a remoção do limite existisse uma atividade
desenvolvida pelo ente público. Se não houvesse a razão nem a atividade de remoção do
limite, o TC dizia-nos que não tínhamos uma verdadeira taxa, tínhamos uma licença
fiscal, a imposição da obrigação de pagar um determinada quantitativo sem uma
contrapartida.
Contudo, em 2010, o TC inverteu a jurisprudência, ele deixou de obrigar as taxas
devidas pela remoção dos limites jurídicos a passarem por aquele duplo crivo. Agora diz
que se fixou 1 limite, mas que não interessa se existe uma atividade verdadeira exercida
pelo ente público. Qual o argumento do TC? Na sua jurisprudência anterior, eles exigiam
que ocorresse uma prestação de 1 serviço público, para verificar se fazia sentido ou não
a remoção do limite.

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Para que este 3º tipo de contraprestação específica fizesse sentido eles achavam que
tinha de ser diferente do 1º, a simples emissão do documento já justifica isto.

 Princípio do Rendimento Líquido

Estudamos este princípio no domínio do princípio da igualdade, dentro do qual temos


o princípio da capacidade contributiva, que funciona como pressuposto e critério da
tributação. Isto tem consequências!
O princípio do rendimento líquido é uma das manifestações do princípio
anteriormente enunciado, como critério da tributação. Por este motivo há algumas
pessoas que não ficam obrigadas ao pagamento do imposto. Este princípio obriga a que
só possam ser tributados rendimentos líquidos. Porquê? Se nós tivermos, por ex.: A é
proprietário de 1 imóvel, destinado a habitação, e que está arrendado a B. A recebe
rendas no valor de 6.000 por ano. Se, durante o ano de 2014, em consequência de 1
forte temporal, o telhado do imóvel fica danificado e tem de ser parcialmente substituído
e se A realiza uma despesa com essa reparação no valor de 7.000€, o que acontece? O A
tem rendimento bruto 6.000 mas se o princípio da capacidade contributiva é
pressuposto, ele não pode ser tributado pelos 6.000, porque para os obter ele teve de
suportar uma despesa de 7.000, despesa essa que era indispensável.
Deste modo, este princípio significa que ao rendimento bruto é necessário subtrair as
despesas necessárias à obtenção do rendimento, para se obter o rendimento líquido. O
legislador teve de consagrar a dedutibilidade de despesas ao rendimento a tributar.
Se a despesa fosse de 3.000, ele só seria tributado por 3.000.
Qual a diferença entre este e o princípio do rendimento disponível? O princípio do
rendimento disponível também é uma manifestação do princípio da igualdade como
princípio da capacidade contributiva. Também aqui está em causa dedutibilidade de
despesas! Quais? Aqui são as despesas socialmente relevantes, sobretudo as de 1º nível,
como as de saúde, educação ou encargos com lares. Estas despesas implicam uma
menor disponibilidade do contribuinte sobre os seus rendimentos.
Aqui já não estamos a falar de despesas indispensáveis à obtenção de rendimentos!
Estas têm a ver com certo nível de vida que a CRP quer garantir. Se o contribuinte A e o
contribuinte B auferem, cada 1 deles, 20.000 mas A é solteiro, sem filhos e saudável, B,
também solteiro, tem 3 filhos e despesas de educação e saúde de 15.000. A capacidade
contributiva destes sujeitos é diferente! B não tem a mesma disponibilidade sobre o seus
rendimentos.

***

Avaliação contínua – 2 de Abril de 2014

1.

a) A liquidação do imposto surge-nos em que momento da vida do imposto? Surge no


momento administrativo e consiste numa operação de aplicação da taxa à matéria
coletável, i.e., é a operação necessário para o apuramento do montante do imposto
a pagar. Temos então aqui a liquidação em sentido estrito. Em sentido amplo,
abrange também o lançamento e a liquidação propriamente dita, ou seja, abrange
a atividade de identificação em concreto dos sujeitos e factos e a operação de
aplicação da taxa à matéria coletável.
b) O imposto pessoal é 1 imposto que tributa tendo em conta a situação pessoal do
sujeito passivo, contrapõe-se ao imposto real. (Seria ainda necessário abarcar aqui
os elementos de pessoalização!)
c)

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2. O Município do Porto decidiu criar uma TMDIP, a pagar pelas empresas que
oferecem redes de comunicações electrónicas. Temos aqui uma taxa devida pela
utilização e aproveitamento do solo e do subsolo para construção por empresas de
infra-estrutura necessárias para instalação dos equipamentos. A taxa mensal é
fixada em 0.20% sobre o volume mensal de faturação dessa empresa. Podemos
começar por falar dos elementos do conceito tipológico de imposto. Impostos são
diferentes de taxas, eles são unilaterais, enquanto que as taxas são bilaterais.
Uma taxa, tributo bilateral, para ser taxa tem de passar por 2 testes: o teste da
bilateralidade e o da proporcionalidade/equivalência. Em que consiste o teste da
bilateralidade? Primeiro, temos de conseguir identificar uma contraprestação
específica, é imprescindível que ao pagamento da taxa corresponda uma
contraprestação específica (que pode ser 1 de 3 tipos: prestação de bens/serviços
públicos; utilização de bens de domínio público; remoção de limites jurídicos).
Qual é a contraprestação específica aqui em causa? A utilização de 1 bem do
domínio público, está em causa uma utilização de 1 bem do domínio público. Esta
taxa passa no 1º teste. E quanto ao 2º? Tem de existir uma relação de
equivalência ou proporcionalidade entre prestação e contraprestação, ou seja,
entre o montante da taxa e aquilo que é proporcionado às empresas. Este
princípio da proporcionalidade é 1 princípio que diz respeito à quantificação ou
determinação do quantitativo da taxa. No caso, como é que é calculada esta taxa?
O critério é o volume mensal de facturação das empresas. O critério adoptado
parece apontar a capacidade contributiva, aquilo que é usado como referência é o
volume de faturação. A capacidade contributiva é 1 critério para quantificar os
impostos! Se isto é assim há dúvidas se o tributo passa no 2º teste. Segundo o
art.4º, RGTAL, valor não deve ultrapassar o custo da atividade e o benefício
auferido pelo particular. Podíamos dizer que a forma de cálculo está errada,
estamos perante 1 imposto e se estamos perante 1 imposto há
inconstitucionalidade orgânica ou podemos dizer que o princípio da
proporcionalidade, tal como está consagrado no art.4º, com este conteúdo
económico exprime-se no seguinte: o valor não pode ultrapassar o custo da
atividade ou o benefício auferido pelo particular. Se formos por esta 2º resposta,
podemos considerar que o critério utilizado ainda faz algum sentido à luz do art.4º,
porque este diz-nos que 1 dos parâmetros de referência é tentar medir o benefício
auferido pelo particular. Podemos considerar que está garantido o princípio da
proporcionalidade, por isso estamos perante uma taxa, o Município tinha
competência para a criar.

3. Qual a medida adoptada pela AR? A isenção de imposto sobre o rendimento, para
os contribuintes do setor do comércio a retalho que tenham obtidos, nos últimos 3
anos, tenham obtido rendimentos manifestamente baixos. Olhando para esta
medida, há perguntas que colocaríamos logo: O que são rendimentos
manifestamente baixos? Temos aqui 1 conceito indeterminado, 1 conceito carecido
de preenchimento valorativo e gradativo. Que princípio constitucional podemos
chamar e dizer que esta medida não é compatível com esse princípio? O princípio
da legalidade em sentido material, ao qual chamamos princípio da tipicidade ou da
determinibilidade. Este princípio é 1 comando dirigido ao legislador, este quando
legisla em matéria de elementos essenciais do imposto tem de o fazer
determinando, o mais possível, o conteúdo, i.e., tem de o fazer de modo exaustivo
e completo. A técnica legislativa que deve ser utilizada é a dos conceitos
determinados, bem como a regulamentação casuística. Estas técnicas criam
previsibilidade ou certeza jurídica, elas fecham a norma. O âmbito do princípio da
legalidade são os elementos essenciais do imposto (art.103º, nº2): incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes. In casu está aqui em causa algum
elemento? Está em causa uma isenção de imposto, logo um benefício fiscal. Esta

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medida é uma medida que vem regular um benefício fiscal, cria 1 benefício não
respeitando o princípio da legalidade em sentido material. Assim, esta medida é
inconstitucional, temos inconstitucionalidade material.

Mini Teste de 05/04/2013

1. Aqui tínhamos de explicar o que é 1 imposto acessório, explicar que a derrama é 1


imposto acessório do IRC e explicar as modalidades de adicionamento e adicional.

2. As assembleias municipais, com base na lei e dentro dos seus limites, podem
conceder benefícios fiscais, relativamente a impostos de cuja receita sem titulares.
Será que isto viola o princípio da legalidade, na sua vertente formal? Este princípio,
na sua vertente formal, responde à questão de saber quem pode legislar em
matéria de legislação de impostos. Encontramos a resposta no art.165º, nº1, i),
CRP, que fixa uma reserva relativa de competência legislativa da AR, i.e., pode
legislar a AR ou o Governo, com autorização legislativa da AR, nos termos do art.
165º, nº2, CRP. Esta reserva vale em que âmbito? É para todas as matérias fiscais
ou só para algumas? O âmbito são os elementos essenciais do imposto, definidos
no art. 103º, nº2, CRP: incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes. Nestas matérias, criar é o mesmo que alterar ou definir os
elementos essenciais. O que este em causa é a atribuição de benefícios fiscais, logo
estamos no âmbito dos elementos essenciais do imposto. O que é que acontece
aqui? É a própria lei que atribui às assembleias municipais 1 poder para, dentro
de determinados limites, conceder benefícios. Literalmente/Textualmente há
violação do princípio da legalidade na sua vertente formal. Substancialmente há
violação do princípio da legalidade na sua vertente formal? O princípio da auto-
tributação ou da representatividade é o fundamento do princípio da legalidade na
vertente formal. A AR é, nos órgãos estaduais de soberania, é aquele que garante a
ideia de que os impostos devem ser criados por aqueles que têm de os pagar,
quem tem competência para legislar em matéria de criação de impostos são
precisamente aqueles que os pagam, que o fazem através dos seus representantes.
As assembleias municipais definem, o que quer dizer que nessa decisão está
assegurado o princípio da auto-tributação, porque elas definem para os impostos
de cuja receita são titulares, os impostos incidem sobre os seus próprios
municípios. O princípio da legalidade não é 1 princípio estanque, tem de ser
articulado com outros princípios constitucionais, designadamente com o princípio
da autonomia financeira das autarquias locais! Tem de se encontrar aqui uma
forma de articular o princípio da legalidade com uma outra disposição
constitucional, o art.238º, CRP.

3.

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Aulas 17 e 18 (22/04/15)

Recorte Constitucional do Sistema Fiscal

Como a docente foi dizendo, a nossa CRP preocupou-se de modo especial com o
Direito dos Impostos, fixando 1 conjunto de princípios que já estudamos, que é até mais
vasto do que aquilo que vimos. Para além dos princípios específicos que vimos (princípio
da legalidade nas suas vertentes, princípio da igualdade fiscal, princípio da segurança
jurídica, etc.) a CRP estabelece ainda a arquitectura básica do Sistema Fiscal, i.e.,
vincula o legislador a determinadas directrizes.
Portanto, para além dos princípios temos este recorte constitucional, 1 outro conjunto
de princípios com 1 alcance que não é tão vasto como os fundamentais mas igualmente
importante.
Começamos com o art.104º, CRP, acerca de pessoas singulares (nº1), segundo o qual
o imposto tem de ser único, progressivo e tem de ter em consideração as necessidades e
rendimentos do agregado familiar. A CRP intervém aqui dizendo ao legislador como é que
ele vai construir a tributação das pessoas singulares.
Entretanto, quanto à tributação das empresas, o art.104º, nº2, CRP fixa 1 princípio
essencial, o da tributação pelo rendimento real. É claro que quando falamos de
tributação das empresas é importante ter em conta o seguinte: quando a CRP fala em
empresas nunca nos refere a forma jurídica que essas empresas podem assumir.
Contudo, nós sabemos que as formas jurídicas podem ser a do empresário em nome
individual, mas também a da sociedade comercial. A CRP não estabelece diferenciação!
Os empresários em nome individual têm os seus rendimentos tributados em IRS, na
categoria B – rendimentos empresariais). Os rendimentos gerados, pelo mesmo tipo de
atividade, mas de uma sociedade comercial, são tributados em IRC.
É preciso fazer uma articulação entre o 104º, nº1 e o 104º, nº2, porque podemos
então ter uma pessoa singular mas esta ser empresária em nome individual!
Acresce a isto que a referida tributação pelo rendimento real é baseada na
contabilidade das empresas.
Já o art.104º, nº3, CRP refere-se à tributação do património, que pretende uma
igualdade entre os cidadãos, não há aqui uma ingerência muito forte da CRP neste
âmbito.
Contudo, em matéria da tributação do consumo, presente no art.104º, nº4, CRP, isto
não acontece. Este onerar dos consumos deve ser pensado de modo a ‘’onerar os
consumos de luxo’’, ainda que isto seja incompatível com a disposição da UE. O IVA
português tem taxas diferentes para os diferentes tipos de bens: tem uma taxa média,
depois há situações de isenção e depois há uma taxa alta, tudo para cumprir esta
disposição constitucional.
O TJ da UE já se foi pronunciando, afirmando que isto não pode acontecer. Uma das
poucas Directivas de Direito Fiscal fala da criação de 1 imposto comum em matéria de
consumo. Tal Diretiva é dos inícios dos anos 80.
Nestes 4 números do 104º temos um ‘’desenho’’ que o legislador deve seguir ao criar o
Sistema Fiscal.

Direito Europeu e Convenções Internacionais

Ainda no contexto das fontes, quando nos referimos ao Direito Europeu estamos a
falar das normas do DUE e do Espaço Económico Europeu. No que diz respeito ao
Direito Fiscal Europeu temos de distinguir:

 Direito Fiscal Europeu próprio – da própria União Europeia;


 Direito Fiscal Europeu interestadual – é direito interno, harmonizado entre os
diferentes Estados.

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Integram o Direito Fiscal Europeu próprio 1 conjunto de normas que dizem respeito,
por um lado, à pauta aduaneira comum. Como sabemos, a UE e o EEE constituem, sob
o ponto de vista económico, 1 bloco, 1 espaço que é como se tivesse uma fronteira só,
sem fronteiras internas. Nas exportações são cobrados direitos alfandegários e esta
pauta determina o que pode ser cobrado nessas entradas e saídas para o EEE. Estas
normas estão acima do Direito Fiscal Europeu interestadual.
Depois temos também, ainda no 1º Direito, temos os direitos niveladores em matéria
agrícola/tributação antidumping. Estes são os direitos que estabelecem as quotas de
produção das diferentes culturas dos diferentes países.
Para além disso, também constituem Direito Fiscal Europeu próprio as normas de
tributação dos funcionários da UE, ou seja, das pessoas que trabalham nas instituições
da UE, elas têm regras de tributação específica (muito vantajosas). Estas regras estão
acima dos Estados-Membros de que são nacionais.
Depois temos o tal Direito Fiscal Europeu interestadual, que é direito interno, dos
Estados-Membros, mas é direito que passou por harmonização ou aproximação de
legislações. Quando pensamos na criação da CEE, do mercado único, que depois evolui
para uma união que é económica e monetária, é natural que pensemos que o Direito
Fiscal é o mais próximo da realidade económica. Não há união em termos fiscais!
O Direito Fiscal, o Direito dos impostos, é o último reduto da soberania dos Estados,
ele é a manifestação mais própria do jus imperi. Os Estados não querem abdicar desta
soberania. Em matéria de tributação de sociedades, por ex., as disparidades dentro da
UE são enormes. Nem uma linguagem uniforme há neste campo.
Por este motivo é que o Direito Fiscal Europeu próprio é tão limitado, os Estados não
querem abrir mão da sua soberania em matéria fiscal.
Voltando ao Direito Fiscal Europeu interestadual, este pronuncia-se,
maioritariamente, por Diretivas. No entanto, as Diretivas geram diferenças, ainda que
também consigam alguma harmonização. Nós temos Diretivas, essencialmente, em 3
matérias:

1. IVA;
2. Sociedades (Diretiva das Sociedades Mães-Filhas);
3. Fusões e cisões de Sociedades;
4. Tributação dos grupos societários.

Temos ainda o Código de Conduta, para a Fiscalidade de Sociedades, que constitui


soft law.
Depois ainda temos os Regulamentos, que se contrapõem às Diretivas por terem efeito
direto. Apenas o regulamento consegue a homogeneização.
Passando agora para as Convenções Internacionais, estas são muito importantes, são
uma fonte fiscal crucial. Estas Convenções surgem-nos, sobretudo, em duas matérias,
designadas por duas siglas:

1. CDT – Convenções de Dupla Tributação (em regra: assumem a forma de Tratados,


mas podem assumir a forma de Acordo, face à nossa CRP);
2. ATI – Acordos de Troca de Informações (Acordos Internacionais).

Nas ATI temos protocolos com força jurídica entre as autoridades administrativas dos
diferentes Estados, para que estas possam fazer 1 controlo cruzado acerca dos
rendimentos obtidos nos diferentes países. Estes acordos detectam situações,
potencialmente, irregulares.
As CDT são importantíssimas e visam eliminar/atenuar situações de dupla tributação
jurídica entre diferentes Estados (internacional). Estas Convenções são bilaterais, o que
quer dizer que Portugal tem uma convenção de dupla tributação com Espanha, outra

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com o Reino Unido, outra com a França, etc. Neste âmbito, tais convenções apresentam
várias diferenças nos métodos utilizados, que têm em conta o passado e o futuro das
relações entre os países que estão a celebrar a convenção (ex.: Portugal celebra
convenções mais vantajosas com os países que foram suas colónias).
Estas Convenções e os métodos seguem o modelo da OCDE, o que quer dizer que há
1 modelo de convenção da OCDE, que é uma espécie de minuta que contém as múltiplas
regras possíveis. Os Estados, quando estão a negociar estas convenções, têm como
ponto de partida este modelo.
É verdade também que aqui haverá uma tendência para que entre os países que
integram a Comunidade Europeia haja uma aproximação maior.
Esta matéria integra a da aplicação da lei no espaço!
Leis

No contexto das fontes, ainda temos as leis. Quanto aos elementos essenciais dos
impostos, já vimos que apenas podem legislar a AR (Lei) e o Governo (Decreto-Lei
autorizado). Para além destes, temos os Decretos Legislativos Regionais, por meio de Lei
(avulsa) da AR ou de LFRA - Lei das Finanças das Regiões Autónomas – (lei orgânica).
Estes acontecem no ‘’interesse específico da Região Autónoma’’, mas quando precedida
da tal Lei (avulsa) da AR e enquadrada na LFRA.
Vale aqui o princípio da legalidade fiscal!

Regulamentos

Posteriormente, temos os regulamentos, destinados à boa execução das leis, eles são
intervenções legislativas que têm de estar sempre enquadrados por uma lei. Aqui vale
então o princípio da legalidade administrativa, que determina precisamente isto: 1
regulamento é sempre 1 ato que permite a execução de uma lei da AR ou de 1 Decreto-
Lei do Governo.
Estes regulamentos podem ser emitidos pelo:

 Governo:
o Decreto Regulamentar;
o Despacho Normativo;
o Portaria.
 Regiões Autónomas;
 Autarquias Locais (emitidos pelas Assembleias Municipais);
 Institutos Públicos.

Em todas estas situações o que é fundamental? Estes regulamentos têm de ter sempre o
fundamento na lei, i.e., tem de haver uma lei que diga que uma determinada matéria
será regulamentada, por ex.
Deste modo, a própria lei tem de apontar para o enquadramento legislativo destas
intervenções.
Em matéria de elementos essenciais do imposto, os regulamentos nunca podem ter
caráter inovador, i.e., a lei tem de definir sempre os limites em que quem vai
regulamentar tem de respeitar. Acresce a a isto que em matéria de liquidação e cobrança
de impostos (art.8º, nº2, a), LGT) os regulamentos também não podem ter caráter
inovador.
Dentro desta matéria dos regulamentos, há uma diferença entre regulamentos
externos e regulamentos internos. Em matéria fiscal estes também podem surgir, os
regulamentos internos assumem aqui um caráter fundamental, das intenções, circulares
da Administração Tributária. O que é este direito circulatório? A AT emite múltiplas
instruções ou circulares, que são regulamentos internos, i.e., fixam directrizes,
instruções propriamente ditas, que são destinadas aos funcionários da AT, dizendo-lhes

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como eles devem proceder. Umas vezes estes regulamentos dizem respeito a matérias
procedimentais, explicando como se deve interpretar esta ou aquela norma do Código do
IRS ou do IRC.
Assim, os regulamentos internos apenas vinculam os agentes ou funcionários da
Administração!

Costume, Doutrina e Jurisprudência

Seguimos aqui as regras que aprendemos em Introdução ao Estudo do Direito.


Quando é que as decisões dos tribunais valem como fonte de Direito? Vimos que a
doutrina e a jurisprudência não são fontes de Direito, mas quanto à jurisprudência há
uma excepção: as decisões do Tribunal Constitucional, com força obrigatória geral, que
declarem a inconstitucionalidade de certas normas, bem como as decisões do STA, com
força obrigatória geral, que declarem a ilegalidade de normas administrativas. Estes são
os únicos casos em que a decisão de 1 tribunal constitui fonte de Direito.
Portanto, também aqui não há especificidades.

Contratos Fiscais

Onde temos 1 problema específico é em matéria de contratos fiscais: Serão os


contratos fiscais fonte de Direito Fiscal? Primeiro temos de saber o que são contratos
fiscais. O art.37º, nº1, LGT dá-nos aqui alguma ajuda. Nós temos então contratos fiscais
em sentido próprio, os previstos no referido preceito, situações em que é criado 1
benefício fiscal. Estes contratos fiscais traduzem-se na criação de 1 benefício fiscal, que
resulta de negociação entre o Governo/Administração Tributária, mas que adopta a
forma de lei, em sentido formal, ou Decreto-Lei autorizado.
Se, por ex., uma grande multinacional quer-se instalar em Portugal e vem trazer
meios tecnológicos importantes ou criar muitos postos de trabalho, estas entidades
pedem benefícios fiscais (ex.: pedem taxa de tributação reduzida), elas vão negociar com
o Estado..
Contudo, esse contrato fiscal acaba por adoptar uma forma legal, daí o art.37º, nº1
dizer que há sempre aqui 1 enquadramento legal! Portanto, aquilo a que chamamos 1
contrato fiscal é, afinal, 1 regime especial, sustentado pela lei para uma entidade, para
um conjunto de entidades. Porque lhe chamamos contrato? Precisamente por vir de 1
processo de negociação, tem objetivos extra-fiscais, visa desenvolver uma determinada
região do país, por ex. Estes objetivos são negociados e para a sua prossecução há
alguma cedência por parte do Estado em termos de receitas.
Os contratos fiscais são fonte de Direito Fiscal? Não, o que é fonte é a lei que os
enquadra.
Depois, o art.37º, nº2, LGT refere ao que chamamos contratos fiscais em sentido
impróprio. O que está aqui em causa são, essencialmente, acordos celebrados entre a
Administração Tributária e os contribuintes, relativos à liquidação e, sobretudo,
pagamento do imposto. Também aqui estes acordos têm 1 caráter individual e concreto.
Temos o caso do Sr. António, por ex., que não pagou o IRS quando devia, por isso foi
pedir à AT para pagar a sua dívida em 12 ou 20 prestações. Assim, temos aqui 1 acordo
individual, que diz respeito a uma dívida em concreto. Estes acordos são celebrados com
base na lei e nos termos previstos nesta! Claro que há aqui alguma margem, quando o
contribuinte pede isto tem de prestar uma garantia, a AT tem poder para ver se a
garantia é suficiente ou não. Mas toda essa margem tem 1 enquadramento legal (ex.:
prestações não podem ultrapassar as 20; lei prevê que tem de ser prestado uma garantia
idónea).

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Os contratos fiscais em sentido impróprio também não são fonte de Direito, eles só
são admitidos nos termos e limites da própria lei.
Nestes termos nem os contratos fiscais em sentido próprio nem os em sentido próprio
constituem fonte de Direito Fiscal! Mas é importante aprendermos a distingui-los.

***
Interpretação e Integração de Lacunas das Normas Fiscais

O que é que temos de estudar sobre isto? Em matéria de interpretação não há muito
que saber, temos é de fazer 1 ponto de ordem. Ao longo do tempo, todas as
especificidades próprias do Direito Fiscal levaram a que, historicamente, fossem sendo
propostas doutrinas específicas para a interpretação das normas fiscais.
Esses cânones intepretativos eram interessantes, mas completamente inaceitáveis.
Foi afirmado 1 princípio específico da interpretação das normas fiscais, uma dúvida
deveria ser resolvida no sentido mais favorável ao fisco. Esta é a corrente interpretativa
designada de in dubio pro fisco.
Contudo, com as Revoluções Liberais, no séc. XVIII, esta corrente caiu, havia uma
afirmação de defender os cidadãos contra as decisões arbitrais do Estado. Surge então
uma nova corrente, completamente oposta: na dúvida a decisão deve ser contra o fisco,
ou seja, a favor do contribuinte.
Na entrada do séc. XX, estas correntes foram manifestando-se, quer uma quer outra.
Surgem também algumas teorias mais refinadas, como uma corrente de interpretação
económico-funcional: interpretação tendo em conta a finalidade económica dessa mesma
norma.
Chega-se à conclusão que as normas ficais interpretam-se de acordo com os cânones
fixados no art.9º, CC! A interpretação faz-se então nos termos gerais. A LGT, no art.11º,
pode suscitar-nos dúvidas, ainda que diga exatamente o que diz o art.9º.
Logo a seguir, vem o nº2 do 11º, segundo o qual temos de ter em atenção que o
Direito Fiscal é 1 ramo de sobreposição, as normas fiscais vêm caracterizar o modo de
tributar realidades que já têm uma qualificação feita por outros ramos de Direito.
Quando pensamos em renda,, por ex., pensamos em prédio, pode ser 1 imóvel, 1 terreno,
1 edifício, etc. O conceito de renda, no Direito Civil, é o rendimento de 1 imóvel. No
Direito Fiscal, estes conceitos têm 1 conteúdo diferente, porque as próprias normas
fiscais o prevêem. Temos o ex. do art.8º, que fala de rendas, onde enquadramos as
rendas prediais.
Se a docente nos perguntar se 1 barco, atracado num porto, durante 2 anos, ou se
uma roulote, instalada num parque campismo, utilizada como bar, durante 2 anos, são
bens imóveis dizemos que não, para efeitos civis. Para efeitos fiscais, quer o barco quer a
roulote, se estiverem parados, durante 1 ano, são considerados bens imóveis, há 1
contrato de arrendamento.
Depois do art.11º, nº1 dizer-nos a regra geral e o nº2 fazer uma chamada de atenção,
o nº3 do art.11º diz que temos de interpretar tendo em conta a substância económica
dos factos, ou seja, parece que segue uma daquelas correntes designadas anteriormente.
A doutrina diz-nos que temos de passar por cima deste nº3, as normais fiscais devem
ser interpretadas pelo art.9º, Código Civil! Esta norma está em conflito com as normas
anteriores.
Em matéria de integração de lacunas, sabemos que uma lacuna é uma situação
juridicamente relevante, ou seja, merecedora de tutela pelo Direito e que não está
regulada, não tem resposta na lei (texto ou espírito). O que acontece quando há uma
lacuna em matéria fiscal?
Temos princípios fiscais que se aplicam aqui, nomeadamente o princípio da legalidade
fiscal na sua vertente material: o legislador deve criar tipos legais fechados (princípio da
tipicidade e princípio da determinibilidade). Se há uma situação que foge a este tipo,
mas é 1 bocadinho parecida, a AT não pode dizer que esta é parecida com outra situação

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e que por isso vai ser tributada como essa. Isto iria contra a finalidade de certeza
jurídica do princípio da determinibilidade.
O primeiro obstáculo na integração de lacunas são os elementos essenciais do
imposto (princípio da legalidade na vertente formal), porque a integração de lacunas, a
realizar-se, é feita pela AT ou pelos Tribunais. Mas não se admite a estes a integração de
lacunas em matéria de criação, definição ou alteração dos elementos essenciais do
imposto, há uma reserva relativa da AR.
Assim, apenas há proibição de recurso à analogia na matéria dos elementos
essenciais do imposto. Há aqui uma prevalência da segurança sobre a justiça (igualdade).
No entanto, quanto mais seguras forem as normas fiscais, mais amplo é o risco de
evasão ou fraude fiscal. Por este motivo, a doutrina começou a admitir uma flexibilização
destes princípios.

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Aulas 19 e 20 (29/04/15)

Interpretação e Integração de Lacunas (Continuação)

O art.11º, nº4, LGT faz referência a este problema da interpretação das lacunas, em
termos razoáveis e nos termos em que a lei se pode pronunciar nesta matéria. No âmbito
dos elementos essenciais do imposto, as lacunas não susceptíveis de preenchimento por
recurso à analogia ou por recurso a qualquer outro mecanismo. Há aqui 1 defeito: o
legislador apenas se refere à analogia como a única possibilidade de preenchimento de
lacunas. A razão de ser desta proibição é o princípio da legalidade.

***

Aplicação da Lei Fiscal no Tempo

Quanto à aplicação das leis no tempo, o que é que já sabemos de importante? Já


sabemos que na matéria fiscal vigora o princípio da segurança jurídica (art.2º, CRP),
princípio que tem atualmente uma manifestação muito específica, a que chamamos o
princípio da proibição de retroatividade. Hoje, este último princípio surge-nos
expressamente consagrado no art.103º, nº3, CRP que diz que ninguém pode ser
obrigado a pagar impostos que não tenham sido criados nos termos da lei ou que
tenham caráter retroativo.
Nestes termos, temos uma proibição expressa de retroatividade, considerada por
alguns autores uma conquista significativa, pode parecer um avanço, mas não é, porque
já se entendia que este princípio fazia parte do nível mínimo do princípio da segurança
jurídica. É verdade que na história do nosso Sistema Fiscal tivemos momentos
complicados, em que surgiram normas com caráter retroativo, como nos anos 80, em
que o Governo lançou 1 conjunto de medidas que se traduziu num agravamento dos
impostos, que teve caráter retroativo.
Quando se determina um aumento de taxas para o futuro vai haver uma retração de
atividade, uma retração em termos económicos, o que muitas vezes fruta a aquisição de
resultados no futuro. Neste contexto, olha-se para o passado, aí já não há hipóteses de
fugir! O efeito de diminuição da receita não vai acontecer.
O TC veio, na sequência da situação de 1982, dizer que era necessário ponderar esse
princípio da segurança jurídica e pesar o interesse público que tinha determinado a
adopção de uma medida fiscal com caráter retroativo. Quando teve de decidir, o TC
entendeu que o princípio da segurança jurídica podia ser sacrificado numa situação de
extrema necessidade. A verdade é que a doutrina percebeu, nesta altura, que seria
necessária a consagração expressa da proibição de retroatividade.
Portanto, a proibição expressa é 1 sinal de qua havia riscos no nosso sistema jurídico!
Contudo, não ficou tudo resolvido, antes desta proibição existir toda a discussão se fazia
à luz do princípio da segurança jurídica (proteção da confiança – princípio do Estado de
Direito), a doutrina vinha dizendo que nem toda a retroatividade é igual.
O art.103º, nº3, CRP proíbe todo o tipo de retroatividade? A proibição é absoluta ou
relativa? Se for relativa, há que fazer distinções, desde logo temos:

 retroatividade própria ou autêntica;


 retroatividade imprópria ou inautêntica.

A larga maioria da doutrina afirma que não se trata de uma proibição absoluta, ela é
uma proibição relativa, o art.103º, nº3 não proíbe todo o tipo de retroatividade. O TC é
da mesma opinião, ele diz que proíbe apenas contra aquela que atenta contra os
princípios anteriormente enunciados.

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Na distinção entre retroatividade própria/autêntica e retroatividade


imprópria/inautêntica, a doutrina utilizou termos vindos da Alemanha, temos então a
retroprovocação de efeitos e a simples conexão a factos passados, respetivamente. O
critério é o do princípio da segurança jurídica.
Quanto à retroatividade própria, esta verifica-se quando a lei nova vem aplicar-se a
factos já produzidos e consolidados antes do seu início de vigência ou a efeitos desses
factos já produzidos. Em matéria de IRS, por ex., quando podemos dizer que temos esta
retroatividade?
Podemos dizer isto quando a lei nova se aplica aos rendimentos obtidos entre 1 de
Janeiro e 31 de Dezembro de 2014, porque o período de tributação já está encerrado,
ainda que a liquidação só ocorra em Junho/Julho, só aí há produção de efeitos. O IRS é
1 imposto periódico, de formação sucessiva, cujo facto gerador é complexo. No dia 31 de
Dezembro de 2014 podemos dizer que o facto gerador está completamente consolidado, o
contribuinte não tem possibilidade de alterar as suas atividades.
Assim, nesta retroatividade, o facto já está consolidado ou os efeitos totalmente
produzidos, daí uma lei que apareça depois venha trazer uma retroação de efeitos,
porque o contribuinte não pode alterar o seu comportamento face à nova lei.
Nos impostos de obrigação única, os que têm 1 facto gerador instantâneo, nós temos
retroatividade própria ou autêntica após o facto gerador já se ter verificado. Aqui, não
temos dificuldades, em todas as situações que a lei diz que é retroativa, no contexto dos
impostos de obrigação única, a retroatividade é autêntica.
Esta retroatividade própria ou autêntica, entende a doutrina e o TC, é sempre
proibida! Há, de facto, aqui 1 conteúdo mínimo do art.103º, nº3, CRP. Se hoje o nosso
TC tivesse de apreciar 1 problema semelhante ao de 1982/1983, ele teria de dizer que
aquela retroatividade por ser própria era vedada pela Constituição.
E em que consiste a retroatividade imprópria ou inautêntica? Nesta retroatividade, a
lei nova pretende aplicar-se a factos já ocorridos, cujos efeitos ainda não se produziram
ou factos ainda não consolidados. Aqui, a lei nova também vem dizer que se aplicar a
factos verificados antes do seu início de vigência, só que a lei nova vem dizer isto e os
factos sobre os quais vai incidir são factos que ainda não estão consolidados e que ainda
não produziram efeitos.
Se, por ex., tivermos uma alteração às taxas do IRS, em Junho de 2015, alteração
que é acompanhada por uma uma norma expressa que diz que é aplicável aos
rendimentos obtidos desde 1 de Janeiro de 2015, ela tem, claramente, caráter retroativo.
A retroatividade, tecnicamente, é imprópria precisamente por o imposto ser periódico e
porque o contribuinte ainda tem a possibilidade de gerir a sua carga fiscal até ao fim do
período de tributação.
Esta retroatividade não tem então a mesma intensidade que a anterior, o contribuinte
ainda pode fazer uma gestão da sua carga fiscal, não há factos consolidados, nem efeitos
produzidos!
Será esta retroatividade imprópria/inautêntica sempre admitida? Não, ela não é
proibida, pode ser admitida ou não, mas não o será sempre. Qual o critério utilizados
para a considerarmos admissível ou inadmissível? Mais uma vez, temos o critério do
princípio da segurança jurídica, o princípio da proteção da confiança e o princípio do
Estado de Direito.
Vamos imaginar que uma lei nova surge em 1 de Junho de 2015 e outra surge a 31
de Dezembro de 2015, dizendo ambas que se aplicam desde de 1 de Janeiro de 2015. A
afetação das expetativas dos contribuintes é mais intensa na lei de 31/05. Aqui, é o TC
que é chamado a pronunciar-se.
Para além disto, temos de ver ainda o art.12º, LGT. De acordo o seu nº1, as normas
tributárias aplicam-se aos factos posteriores ao seu início de vigência, i.e., só dispõem
para o futuro, só se podem aplicar a factos ou situações que se verifiquem depois dessas
mesmas normas já estarem em vigor. Segundo nº2 do mesmo preceito, se o facto
tributário for de formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido a partir

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da sua entrada em vigor. Depois temos o nº3, que se refere a normas sob procedimentos
e processos.
Portanto, as duas normas que temos de utilizar para resolver situações como o 1º
caso entregue hoje são os nºs 1 e 2 do art.12º, LGT!
A proibição da retroatividade só vale para normas oneradoras.

Resolução de Casos Práticos

Os problemas que nos podem surgir na vida real, enquadram-se num dos 2 tipos de
casos práticos que a docente forneceu. Qual a diferença entre as hipóteses práticas que
seguem?
Na 1ª hipótese entrou em vigor uma lei nova, que veio alterar a taxa de 2 impostos,
mas ela não disse nada sobre a sua própria aplicação no tempo, enquanto que na 2ª
hipótese a própria lei regula a sua aplicação no tempo, ela veio determinar a sua
aplicação retroativa, i.e., a lei nova veio expressamente atribuir caráter retroativo às
alterações, ela iniciou a sua vigência em Julho de 2015 e veio ela própria dizer que se
aplica desde 1 de Janeiro de 2015.
O 1º caso tem 1 problema mais simples, temos 1 tipo de problema que tem de ser
analisado e resolvido no plano estritamente legal. Não devemos tentar resolvê-lo
aplicando a CRP, não é isso que se pretende. O art.12º, LGT é utilizado para resolução
destes casos.
O princípio da segurança jurídica e a distinção entre retroatividades seria o esquema
utilizado para resolver o 2º caso. Este é 1 tipo de problema que temos de analisar e
resolver no plano constitucional, i.e, o plano em que nos situamos para analisar este
tipo de questão é por apelo ao princípio da segurança jurídica e ao art.103º, nº3, CRP,
há distinção entre retroatividade própria e imprópria, com as consequências assinaladas.

I.

Em Abril de 2016 surge uma lei nova a alterar as taxas do IRS e do IVA. Como
deverão ser aplicadas, no tempo, tais alterações? Aqui temos alterações ao IRS (taxas) e
temos alterações ao IVA (taxas).
Quanto às alterações ao IRS, temos um imposto periódico, o seu facto gerador é
complexo e de formação sucessiva. Segundo o art.12º, nº2, LGT, as taxas trazidas pela
lei nova só podem aplicar-se ao período decorrido a partir do início de vigência da lei
nova. Nestes termos, de 1 de Janeiro a 1 de Abril de 2016, aplicamos a lei antiga, de 2
de Abril a 31 de Dezembro de 2016, aplicamos a lei nova.
Isto geral aqui alguma dificuldade, 1 contribuinte pode ter obtido a maior parte dos
seus rendimentos na vigência da lei nova. Na prática, este nº2 é aplicado e interpretado
pelo princípio pro rata temporis: vamos dividir o rendimento anual por 12 e vamos
imputar 1/12 desse rendimento a cada 1 dos meses do ano, por isso a 3/12 do
rendimento anual aplicamos a lei antiga e a 9/12 do rendimento global aplicaríamos já
as taxas da lei nova.
Relativamente às alterações ao IVA, temos um imposto de obrigação única, o seu facto
gerador é instantâneo. Nestes termos, aos factos ocorridos até 1 de Abril, aplicamos a
taxa da lei antiga, mas ao factos ocorridos a partir do início de vigência aplicamos a taxa
da lei nova. Aplicamos então o art.12º, nº1, LGT.

II.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)


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Em Julho de 2015 surge uma lei nova a alterar a taxa de tributação de 28% para 30%.
A lei nova estabelece ainda que a produção de efeitos decorrerá desde 1 de Janeiro de
2015.
António recebeu rendimento em Abril de 2015, ele pretende saber se a lei pode
consagrar uma solução deste teor. À partida, temos retroatividade imprópria.

Aplicação das Leis Fiscais no Espaço

Em matéria da aplicação das leis fiscais no espaço, o princípio base é o princípio da


territorialidade, i.e., já sabemos que o poder de criar e cobrar impostos é uma das
manifestações mais fortes da soberania, a manifestação mais evidente do jus imperi é
esta.
O princípio da territorialidade, no seu entendimento clássico, é aquele que diz que
cada Estado só pode tributar, só tem poder para tributar factos ou situações ocorridos
no seu território. Os Estados não podem, em princípio, tributar factos e situações
ocorridos no território de outros Estados (fora do seu território).
Neste contexto, temos os elementos de conexão entre o território de 1 Estado e os
factos e situações a tributar. Por ex., temos o local da situação de 1 imóvel, o local da
prestação do serviço, local da prestação de trabalha, o local de pagamento do
rendimento, etc. Estes elementos são de caráter real, ligam factos/situações ao território,
o princípio teve de evoluir.
O princípio da territorialidade evoluiu em termos de entendimento, temos 1
entendimento moderno, ao qual chegamos por 3 razões:

1. internacionalização das trocas de bens/movimentos de pessoas;


2. desmaterialização dos pressupostos de facto dos impostos – as normas fiscais
tiveram de ir espelhando a circunstância de a riqueza e o património serem cada
vez menos físico e se traduzir, cada vez mais, em bens imateriais;
3. personalização/pessoalização da tributação.

Ao lado de elementos de conexão de caráter real, que ligam factos/situações ao


território, vão-se afirmando, cada vez mais, os elementos de conexão de caráter pessoal,
os elementos que ligam pessoas ao território. Quais são os elementos de caráter pessoal?

 Residência;
 Nacionalidade.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)


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Aulas 21 e 22 (13/05/15)

Aplicação das Leis Fiscais no Espaço (Continuação)

Na última aula vimos que temos países que tributam em função da residência do
titular dos rendimentos, enquanto que outros países tributam em função da origem dos
rendimentos, tendo uma pretensão tributária limitada (rendimentos obtidos no seu
próprio território), enquanto que o o país da residência vai ter uma pretensão tributária
ilimitada (todos os rendimentos, independentemente do local da obtenção – world wide
income).
Neste contexto, pode surgir o fenómeno da dupla tributação internacional, há o
surgimento de 1 conflito de pretensões tributárias entre 2 ou mais Estados. Deste modo,
interessa-nos precisar o conceito de ‘’dupla tributação internacional’’: internacional
decorre da relação dos Estados; dupla tributação, que tem de ser jurídica, muitas vezes
temos 2 impostos a incidirem sobre a mesma realidade, como 1 imóvel (IRS e IMI), nesta
situação há uma duplicidade, mas esta é económica, assim como se uma sociedade com
3 sócios gerar lucro, sendo esse distribuído pelos sócios, essa realidade é tributada a
nível de IRC, na própria pessoa coletiva, e a nível de IRS.
Quando temos então dupla tributação jurídica? Nos últimos 20 anos chegou-se a 1
consenso, apesar das divergências. Para termos dupla tributação jurídica, temos de ter
presente a regra das 4 identidades:

1. Identidade do Objeto;
2. Identidade do Sujeito;
3. Identidade do Período de Tributação;
4. Identidade do Tipo de Imposto.

Nestes termos, temos de ter 2 impostos diferentes, a incidir sobre a mesma matéria
coletável (1.), na titularidade do mesmo sujeito (2.), em relação ao mesmo período de
tributação (3.) e o tipo de imposto ou o título a que a tributação se realiza tem de ser o
mesmo (4.), i.e., tem de ser imposto sobre o rendimento ou imposto sobre o património,
ou seja, não podemos ter 2 tipos diferentes de impostos. No ex. da sociedade, a dupla
tributação é só económica porquê? Temos incidência sobre a mesma matéria coletável
(lucros), período de tributação é o mesmo, bem como o tipo de imposto, mas o sujeito é
diferente, primeiro tributam-se pessoas coletivas e depois pessoas singulares. O mesmo
acontece no ex. do proprietário do imóvel, aí o tipo de imposto é diferente, 1 é sobre
rendimento e outro é sobre património, a realidade a ser tributada, o prédio, é a mesma,
mas o tipo de imposto é diferente!
A dupla tributação jurídica pode surgir, porque os Estados não estão bem articulados
na definição dos elementos de conexão. Basta que Espanha tenha um elemento de
conexão de residência definido como o nosso para surgir aqui 1 problema. Este é o 1º
nível problemático.
Se tivermos, por ex., o António, residente em Portugal, onde obtém 50.000. Ele é
médico e é convidado a dar uma formação técnica breve em Espanha, para onde se
desloca e obtém 10.000. Esta é uma situação perfeitamente comum, que gere 1
problema de dupla tributação internacional. Espanha tem legitimidade para tributar
sobre o rendimento dos 10.000, é o local onde o rendimento foi obtido, ela tem uma
pretensão de tipo real, do ponto de vista pessoal o único Estado com conexão relevante
com esta pessoa é o português.
Nestes termos, António é tributado a 1 taxa de 20%. Normalmente, isto é inequívoco,
o país da origem ou da fonte, normalmente, não está disposto a abdicar da tributação
dos rendimentos gerados no seu território. Espanha vai então tributar os 10.000 a uma
taxa de 20%, por isso vai pagar 2.000 de imposto.

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O sujeito é residente em Portugal, o nosso CIRS diz que o âmbito da sujeição quanto
aos residentes é quanto ao world wide income (arts.13º, nº1, 15º, nº1 e 68º), daí Portugal
vai querer tributá-lo por 60.000, ainda por cima com taxas progressivas. O mesmo
sujeito vai ser tributado duas vezes, por impostos do mesmo tipo, em relação ao mesmo
período de tributação e com incidência sobre a mesma matéria coletável, os 10.000 já
foram tributados em Espanha e agora vão ser tributados em Portugal.
No início dos anos 60, do séc. passado, foi criado, ao nível da OCDE, um Comité para
estudar estes problemas e criar soluções. A 2ª Guerra Mundial tinha terminado há 15
anos, sensivelmente, depois do período de recuperação houve uma nova fase de
crescimento económico, este problema começa a agravar-se. O tal Comité propõe o
Modelo de Convenção da OCDE (MOCDE), uma convenção-modelo para eliminar ou
atenuar a dupla tributação internacional, estes peritos estudaram o problema e
propuseram soluções. Qual é a solução? Nestas situações é preciso que os Estados se
entendem, sendo que este entendimento surge pela elaboração de convenções, daí ter
surgido o MOCDE, que é uma espécie de ‘’minuta’’, tem 1 conjunto de regras disponíveis.
Portanto, este modelo tem 2 objetivos:

1. Facilitar a negociação entre os Estados nesta matéria;


2. permitir que haja 1 conjunto de alternativas para os Estados, sendo que esse
conjunto é fechado.

Este modelo é soft law! As regras do MOCDE só valem se os países adoptarem uma
convenção entre eles.
Quando celebrada convenção, as normas internas que definem o conceito de
residência (art.16º, CIRS) e o conceito de local de obtenção de rendimentos (art.18º,
CIRS) cedem perante a convenção celebrada.
O MOCDE ainda prevê os métodos para atenuar ou eliminar os métodos de dupla
tributação, parte de 1 critério que hoje começa a ser discutidíssimo no plano
internacional. Os próprios comentários ao MOCDE chamam a atenção para a evolução
nesta matéria. Nestes casos, 1 país vai ter de ceder. Qual é o país mais provável a ceder?
No nosso ex., parece que é Portugal, porque quando Portugal tributa rendimentos fora
do seu território está a ‘’estender os seus braços’’ para fora das suas fronteiras. Quando
se olha, temos de ver qual é a tributação inegável, sendo esta a do país de origem dos
rendimentos.
Assim, o Estado que cede é o Estado de residência, porque exerce pretensão tributária
sobre factos localizados fora do seu território!
Nestes termos, os métodos para atenuar ou eliminar a dupla tributação internacional,
previstos no MOCDE, são:

1. Método da Isenção;
2. Método da Imputação.

No método da isenção, a base, a ideia fundamental, é o país da residência não inclui o


rendimento obtido fora do seu território na matéria coletável a tributar nesse país. O que
quer isto dizer? O método da isenção trabalha ao nível da matéria coletável, i.e., é no
cálculo da matéria coletável no país da residência que se vai fazer a atenuação ou
eliminação da dupla tributação internacional, isentando os rendimentos de fonte
estrangeira, estes ficam isentos, ficam de fora da determinação da matéria coletável.
No nosso ex., isto significa que Espanha vai sempre tributar os 10.000 com a taxa de
20%, obtendo 2.000, enquanto que Portugal apenas para tributar apenas os 50.000
com as taxas progressivas.
Já o método da imputação trabalha noutro plano, no da coleta. O que acontece aqui?
O país da residência inclui, na sua matéria coletável, o rendimento de fonte estrangeira,

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mas, o mesmo país da residência, permite que à sua coleta seja deduzido o imposto pago
no país da fonte (à coleta do país da residência seja deduzida a coleta do país da fonte).
No nosso ex., Espanha tributará 10.000 com a taxa de 20%, obtendo 2.000, enquanto
que Portugal vai tributar 50.000 mais 10.000, com as taxas progressivas, mas, a esta
coleta, o país vai permitir subtrair os 2.000 pagos em Espanha.
No método da isenção encontramos o método da isenção total/integral, onde o país da
residência isenta de tributação o rendimento de fonte estrangeira. Deste modo, Portugal
tributa os 50.000 com as taxas progressivas, enquanto que Espanha tributa os 10.000
com a taxa de 20%, obtendo 2.000. Este método tem como objetivo a eliminação da
dupla tributação internacional, o que significa o Estado de residência abdicar,
totalmente, da pessoalização.
Neste contexto, surge uma outra classificação no método da isenção, o método da
isenção com progressividade, onde o país da residência isenta de tributação os
rendimentos de fonte estrangeira, mas tributa os rendimentos de fonte interna à taxa
progressiva correspondente à totalidade do rendimento, o rendimento global mundial.
Espanha vai então tributar os 10.000 à taxa de 20%, pagando António 2.000. Portugal
vai considerar como matéria coletável 50.000, mas o rendimento de fonte estrangeira vai
ser determinante para determinar a taxa progressiva para tributar estes 50.000, será a
taxa que corresponderia os 60.000. O país da residência não abdica de, em termos
internos, pessoalizar a tributação.
Este 2º sub-método apenas atenua, contrariamente ao que acontece no 1º, porque o
país da residência cede, mas não o faz completamente!
No método da imputação integral, no caso do António Espanha vai continuar a
tributar os 10.000 à taxa de 20%, pagando 2.000, enquanto que Portugal vai tributar os
60.000 com a taxa progressiva, mas vai permitir uma dedução, a dedução do pago em
Espanha. Este sub-método do método da imputação, vai permitir uma eliminação da
dupla tributação internacional.
Para além deste sub-método, temos ainda o da imputação ordinária ou limitada, onde
o país da residência inclui na sua matéria coletável o rendimento de fonte estrangeira,
tributa a totalidade da matéria coletável às taxas próprias (progressivas). Permite à
dedução à coleta do seu imposto da coleta do imposto pago no país da fonte, mas impõe
1 limite à dedução.
Esse limite é igual à fração do imposto português, i.e., do país da residência relativo
aos rendimentos obtidos no país de origem. Para encontrarmos o limite temos de
perguntar quanto é/seria pago no país da residência pela obtenção dos rendimentos em
Espanha. Temos de fazer 1 exercício para determinar qual é a taxa do imposto português
que incide sobre 1 montante de rendimento igual ao obtido no país da fonte.
Este método significa que em Portugal, o António vai ser tributado nos 60.000 com as
taxas progressivas, fazendo-se uma dedução de 2.000, o imposto que já pagou, desde
que este não seja superior ao tal limite. O que significa isto? Tudo dependerá, na prática,
do jogo entre as taxas dos 2 países. Se Portugal e Espanha tributarem o rendimento à
mesma taxa, i.e., Portugal tributa a uma taxa de 20% e Espanha também, 2.000 é o
limite máximo que Portugal permite deduzir. Portanto, ele em Portugal vai conseguir
deduzir tudo, ele pagou 2.000 em Espanha.
Quando as taxas de tributação dos 2 países são iguais, i.e., país da residência é 20%
e no país da fonte também, o método da imputação ordinária ou limitada, ainda que
‘’limitado’’, conduz a uma eliminação da dupla tributação, porque o limite é exatamente
igual.
Quando as taxas de tributação do país de residência são mais altas que as do país da
fonte, por ex., no país da residência são de 30% e no país da fonte são 20%, aqui a lógica
é a mesma, a dedução é igual ao imposto pago no país da fonte, no nosso ex. são 2.000,
com 1 limite, cujo valor do limite é de 3.000. Ele vai poder deduzir 2.000, com o limite
máximo que é fixado pela articulação da taxa portuguesa. Então acaba por haver na
mesma eliminação da dupla tributação internacional.

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Há então dependência do jogo entre as taxas dos 2 países!


As convenções dependem muito da história entre os 2 países, por isso ainda não
saímos da lógica das convenções bilaterais.

*Em exame, por vezes, perguntam-nos se o método da imputação ordinária ou limitada


conduz sempre à eliminação da dupla tributação internacional.

***

O IRS

O IRS é imposto introduzido no nosso Sistema Fiscal em finais dos anos 80, ele surge
numa reforma global de tributação, que abrange a tributação das pessoas singulares,
estando associado ao IRC e ao IMI. Este imposto é 1 imposto que adopta aquilo a que
chamamos 1 regime semi-dual. O que é que isto quer dizer?
Antes do IRS nós tínhamos uma combinação entre impostos cedulares, tínhamos
várias cédulas de rendimento e cada uma tinha um imposto (imposto profissional,
imposto de capitais, contribuição industrial, contribuição predial, imposto da indústria
agrícola e o imposto de mais-valias), com regras próprias e taxas de tributação próprias,
e tínhamos os impostos de sobreposição, os impostos complementares, com filosofia
própria, era o imposto onde se fazia a pessoalização, depois de as pessoas terem sido
tributadas isoladamente por cada uma da suas parcelas, surgindo aqui as taxas
progressivas.
No decorrer dos anos, esta concepção foi-se baralhando, porque os impostos
cedulares eram os proporcionais e reais, só depois é que aplicávamos as taxas
progressivas. Devido à necessidade de receitas, foram introduzidas distorções a esta
lógica. A maior parte dos agravamentos incidia essencialmente na tributação dos
rendimentos do trabalho, o que é normal. Nos impostos profissionais começaram então a
ser aplicadas taxas progressivas, o sistema começou a ficar 1 caos, por isso foi
necessária uma reforma.
Neste contexto, ao dizermos que o IRS tem 1 regime semi-dual, referimo-nos à sua
base. De acordo com o art.104º, nº1, CRP o IRS é 1 imposto único, progressivo e ter em
conta as necessidades e os rendimentos do agregado familiar, são imperativos
constitucionais. O sistema anterior não apoiava isto, era anterior à CRP, ele só cumpria
a progressividade.
O sistema anterior era cedular e era dual porque tributava primeiro os rendimentos
isoladamente considerados, por parcelas, com taxas próprias e num 2º momento voltava
a tributar. Algumas reminiscências deste sistema anterior passaram para o sistema
atual.
Temos então a incidência real, que surge delimitada no art.1º, CIRS, este preceito
contém a definição ampla de incidência. Depois é definida categoria por categoria:

 Categoria A – rendimentos do trabalhador dependente (art.2º, cujo tratamento


específico está no art.25º);
 Categoria B – rendimentos empresariais e profissionais (art.3º, cujo tratamento
específico está no art.28º e ss., que têm 2 regimes diferentes, o simplificado e o da
contabilidade );
 Categoria E – rendimentos de capitais (art.5º, cujo rendimento líquido é igual ao
rendimento bruto);
 Categoria F – rendimentos prediais (art.8º, cujo tratamento específico está no
art.41º);
 Categoria G – incrementos patrimoniais (arts.9º e 10º, cujo tratamento específico
está no art.42º e ss.);
 Categoria H – pensões (art.11º, cujo tratamento específico está no art.53º).

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Porque há 1 salto nesta ordem alfabética? O IRS, em 1989, foi criado com 9 categorias
de rendimentos, de A a I. Hoje, só temos as 6 categorias anteriormente enunciadas,
desapareceram a C, D e I. A categoria B tornou-se aquilo a que chamamos uma ‘’super-
categoria’’, porque incorporou as antigas categorias C e D. Anteriormente, a categoria B
era a dos rendimentos do trabalho independentes. O legislador entendeu que devia
juntar as 3 categorias.
O legislador do CIRS já tinha pensado nisto, queria uma categoria única mas as
ordens profissionais reagiram muito mal, porque não queriam ser misturadas com os
comerciantes. Eles entendiam que exercer uma atividade profissional liberal não era a
mesma coisa que exercer uma atividade industrial individual.
O regime fiscal deve ser o mesmo, por uma questão de justiça, para que haja
neutralidade fiscal é necessário que o regime seja igual para aquilo que é igual.
O imposto pretende ser único, mas aparece-nos logo dividido por categorias. Porquê?
Os rendimentos são diferentes, têm caraterísticas diferentes, modos de obtenção
diferentes e custos de obtenção igualmente diferentes. O legislador não encontrou uma
solução justa e ignorasse tais diferenças. Por isso, o legislador optou por manter a
separação por categorias, manter a lógica de dualização.
Para além disto, no processo de apuramento do imposto a pagar, temos uma divisão
em duas fases sucessivas:

1. Fase analítica – identificar o rendimento e qualificá-lo, i.e., integrar/subsumir


numa das categorias, ou seja, vamos analisar cada 1 dos rendimentos em
separado, por isso vamos considerá-los autónomos, há 1 tratamento específico,
havendo depois o apuramento do rendimento líquido de cada categoria, seguindo
regras específicas/próprias de cada categoria (princípio do rendimento líquido, ou
seja, não podem ser tributados rendimentos brutos, é necessário subtrair aos
rendimentos brutos os custos, despesas necessárias à sua obtenção), o que
implica um apuramento estanque, por isso nos arts.2º a 11º e depois 25º a 53º
temos as regras específicas de cada categoria;
2. Fase sintética – temos aqui um englobamento, que consiste na soma dos
rendimentos líquidos das diferentes categorias (art.22º), surgindo o rendimento
global líquido, o rendimento coletável, ao qual aplicamos as taxas do art.68º,
obtendo-se a coleta, às quais se fazem as deduções (art.78º e ss.), ficando no fim o
imposto a pagar.

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Aulas 23 e 24 (19/05/15)

Relação Jurídica Tributária

Sobre a relação jurídica tributária vale dizer que esta é uma relação obrigacional
complexa e esta complexidade manifesta-se em 2 planos diferentes:

1. Complexidade quanto aos Sujeitos;


2. Complexidade quanto ao Objeto/Conteúdo.

Relativamente aos sujeitos, já vimos em que é que esta complexidade traduz, vimos 4
formas diferentes de titularidade ativa:

1. Titularidade do poder normativo;


2. Competência tributária;
3. Capacidade tributária ativa;
4. Titularidade da receita.

Também vimos que, em alguns impostos, estas formas de titularidade não coincidem em
alguns sujeitos, como acontece no IMI. Nestes impostos a competência tributária e a
capacidade tributária ativa é o Estado, enquanto que, quanto ao titular da receita, este
imposto é não estadual.
Sobre o ponto de vista do sujeito passivo, no que diz respeito ao dever primário ou
principal de prestação (obrigação de pagamento de imposto) este dever cabe ao chamado
‘’devedor do imposto’’. Portanto, o devedor do imposto é aquele a quem incumbe realizar
o dever primário/principal de prestação, ou seja, a obrigação de pagar o imposto.
Contudo, este devedor do imposto, por norma, coincide com o contribuinte, aquele
que preenche os pressupostos de factos da norma de tributação e é, para além disso,
aquele que suporta o encargo patrimonial inerente ao pagamento do imposto. O que é
que isto quer dizer?
O contribuinte é aquela pessoa que, com a sua conduta, preenche, realiza, o facto
gerador. Se o imposto em causa é, por ex., o IRS, o contribuinte é aquele que obtém 1
dos rendimentos descritos numa das categorias do CIRS. Se tivermos 1 trabalhador
dependente que recebe o seu salário, este é contribuinte, ele obtém rendimentos
qualificáveis com a Categoria A do IRS, ele suporta o encargo, o desfalque inerente ao
pagamento, é aquele de cujo o bolso sai o montante de imposto a pagar.
Mas há situações em que isto não acontece, há situações de não coincidência entre o
devedor do imposto e contribuinte, temos situações em que nos podem surgir
substitutos, responsáveis ou sucessores, tudo isto quanto ao dever primário. Quando
falamos do sujeito passivo referimo-nos então ou ao devedor do imposto ou ao
contribuinte ou aos substitutos, responsáveis ou sucessores.
Para além disto, ao lado do dever primário, nós temos deveres acessórios, no sentido
de deveres secundários (tal como lhes chamamos no Direito das Obrigações), não
estamos a falar de deveres laterais de conduta. Estes deveres acessórios incorporam,
essencialmente, deveres secundários, traduzindo:

 obrigações declarativas;
 obrigações de comunicação;
 obrigações de informação.

Estes deveres acessórios, destinados à boa realização do dever primário, podem caber
ao contribuinte, ao devedor ou a terceiros estranhos ao vínculo tributário. O Prof.
Casalta Nabais indica-nos vários exs., temos aqui os notários que intervenham na
celebração de contratos de alienação onerosa de bens imóveis, que têm obrigações de

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comunicação. Há aqui uma multiplicidade de sujeitos que surgem obrigados, no âmbito


de 1 dever amplo de cooperação, que atinge não apenas o contribuinte mas todos os
terceiros que têm contacto com ele.
Ao olharmos para aqui percebemos o que é a complexidade ao nível do conteúdo, onde
temos, para além da obrigação de pagamento do imposto, temos todo este leque de
obrigações, estes deveres acessórios/secundários e ainda os deveres acessórios de
conduta. Temos então complexidade sobre o ponto de vista do objeto!
Importante ainda para caracterizarmos a r.j.tributária é o seguinte: no início, vimos
que a r.j.tributária é de fonte legal, é por força da lei que surge e a lei modela todo o
conteúdo da relação obrigacional, o que quer dizer que não há aqui espaço para a
manifestação da autonomia privada, para as partes manifestarem a sua vontade. As
normas que regulam esta r.j. são normas imperativas!
Esta r.j. para além de ser legal é também uma r.j. pública, i.e., de Direito Público,
onde se exprime o exercício do jus imperi, o que tem consequências, a relação de imposto
é uma relação:

 indisponível;
 inegociável;
 imodificável;
 irrenunciável;
 intransmissível.

Tais caraterísticas aparecem-nos ao longo da LGT, nomeadamente nos arts.30º, nº2


(indisponível), nº3 (intransmissível inter vivos), 36º, nº2 (imodificável), 36º, nº3
(indisponível). O que é que isto significa? A r.j.tributária, com os seus direitos e deveres,
tem todo o seu conteúdo determinado pela lei, não há espaço para as partes
manifestarem a sua vontade. Se, por ex., o contribuinte devedor não cumpre a obrigação
de imposto no prazo que a lei fixa, ele entra em mora, sendo movido contra ele 1
processo de execução fiscal. O contribuinte, nos termos da lei, pode requerer o
pagamento do imposto em prestações, a obrigação de imposto pode ser ‘’desdobrada’’, ele
pode fazer este requerimento, desde que preste garantia idónea.
A vontade das partes manifesta-se aqui no pedido para pagar em prestações. A
Administração Tributária, por sua vez, não pode aceder a este pedido se o contribuinte
não prestar a tal garantia. Estes espaços são pequenos, sendo subsumíveis, por isso não
há propriamente efeitos que possam ser regulados pela vontade das partes.
Qualquer negócio que 2 particulares façam diga respeito aos elementos de uma
r.j.tributária é 1 negócio que pode ser válido entre eles, mas que face à Administração
Tributária não produz quaisquer efeitos. Se eu combino com o meu arrendatário que ele
é que vai pagar o meu IMI, este é 1 negócio perfeitamente válido, mas perante a
Administração Tributária o devedor do imposto sou eu.
Agora temos de ver a situação a que chamamos de substituição fiscal, onde não há
coincidência entre devedor de imposto e o contribuinte. O devedor do imposto é aquele
que está obrigado ao cumprimento do dever principal de prestação, o que quer dizer que
é o que está obrigado ao pagamento do imposto, enquanto o contribuinte é aquele que
preenche os pressupostos de facto da norma de tributação e suporta, no seu património,
o encargo inerente ao pagamento do imposto.
A substituição fiscal é uma situação de não coincidência, o devedor vai ser uma
pessoa e o contribuinte vai ser outro, quem entrega o imposto para os cofres do Estado é
1 e quem paga é outro. A substituição é então um mecanismo jurídico, um instituto que
dá cobertura ao mecanismo financeiro da retenção na fonte. O Prof. Casalta Nabais
complica isto 1 pouco mais, porque caracteriza a substituição fiscal de 1 modo mais
amplo, tal como ela aparece num outro sistema jurídico, daí ele criticar a nossa LGT,
que dá cobertura ao mecanismo financeiro da retenção na fonte (de cobrança)

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A retenção na fonte é 1 mecanismo amplamente utilizado pelo legislador, a entidade


que paga os rendimentos, em vez de entregar o rendimento todo entrega apenas parte
para fazer chegar a outra aos cofres do Estado, é 1 mecanismo que tem vantagens
importantes.
Primeiro, este mecanismo tem 1 efeito importante de anestesia fiscal. Vamos supor
que entre a empresa x (entidade empregadora) e A (trabalhador) existe 1 contrato de
trabalho. Por força desta r.j. de Direito Privado, a empresa jurídica obriga-se a pagar,
mensalmente, ao trabalhador 100. Por força de uma r.j. temos alguém devedor de
rendimentos a uma outra pessoa, normalmente até a uma pluralidade de pessoas. A lei
aproveita-se desta relação de Direito Privado para impor sobre a entidade pagadora de
rendimentos, ao titular dos rendimentos, uma obrigação de retenção (dever
acessório/secundário). Se a taxa de retenção é 1%, a empresa x paga-lhe apenas 80, a
empresa fica com 20 para entregar, ela própria, ao Estado. Porque dizemos que há aqui
1 efeito de anestesia fiscal? Ele não chega a ter os 100 e o custo é muito menos,
desdramatizando o pagamento do imposto.
Quando há reembolso também podemos constatar o tal efeito de anestesia!
Deste modo, temos aqui outra vantagem, além da anestesia, porque se evita o
contacto direto entre contribuinte e Administração Tributária. Em vez de ser contacto 1
a 1, há 1 intermediário, a entidade empregadora, in casu.
Para além destes efeitos temos outro, o mais importante, que é o da antecipação das
receitas, este mecanismo financeiro de cobrança do imposto é 1 modo do Estado
financiar-se. O facto gerador só se consolida a 31 de Dezembro, ele está em formação e o
Estado já cobra, o contribuinte faz a declaração de rendimentos e só depois é que a
Administração Tributária faz a liquidação do imposto.
Assim, percebemos porque não há uma coincidência. Quem tem de entregar os tais
20? É a empresa x, mas aquele dinheiro é do A! O A suporta, na sua esfera patrimonial,
o encargo, ainda que a empresa arque com o dever principal, ela é substituta do A no
cumprimento do dever primário, ele é o substituído.
Esta substituição pode ser:

 Total – quando o substituto, ou seja, a entidade pagadora do rendimento, substitui


o titular de rendimentos quer no cumprimento de todo o dever principal, quer no
cumprimento das obrigações acessórias;
 Parcial – quando a entidade pagadora do rendimento substitui apenas, em parte
ou numa parcela do dever primário e não substitui em todas as obrigações
acessórias.

Neste contexto, na substituição total, o titular dos rendimentos/contribuinte é


substituído pela entidade pagadora do rendimento em todas as suas obrigações! Quem
fica obrigado pelas obrigações acessórias é na mesma a entidade pagadora. Deste modo,
o contribuinte fica liberado de todas as obrigações fiscais.
Já na substituição parcial isto já não acontece, o contribuinte continua obrigado a
uma parcela.
Como é que sabemos se a substituição é total ou parcial? A substituição fiscal tem a
sua fonte na lei, vai ser ela a dizer-nos se a substituição é total ou parcial, é da própria
lei que vai resultar. No que diz respeito ao IRS temos substituição total em todas as
situações previstas no art.71º, CIRS, os rendimentos sujeitos a taxas liberatórias. A
retenção na fonte extinguiu todos os deveres que ele tinha! Este efeito liberatório é triplo,
o contribuinte fica liberado de:

1. Obrigação de declarar;
2. Obrigação de englobar;
3. Obrigação de pagamento do imposto.

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No IRS temos a substituição parcial para:

 Categorias A e H (art.99º, CIRS);


 Categorias B e F (art.101º, nº1, CIRS).

A retenção tem a natureza de adiantamento de pagamento por conta do que será devido.
Isto irá originar deduções à coleta (arts.78º, nºs 2 e 3, CIRS). Na substituição total isto
não acontece, o efeito liberatório é total.
Vamos agora ver a responsabilidade em caso de substituição, prevista no art.28º, LGT.
Percebido funcionamento da substituição e os seus sub-tipos, temos de tentar perceber
o que acontece quando algo corre mal, quando o substituto retém o montante e não o
entrega o Estado ou quando não retém o montante/retém mas não o faz como está na lei.
Tais problemas estão resolvidos no art.28º, LGT, norma geral nesta matéria, interessa-
nos então ver o regime da responsabilidade em caso de substituição.
O art.28º, LGT tem 3 números, vamos analisá-los aqui 1 a 1. No art.28º, nº1 surge a
situação de quando houve retenção, mas não ocorreu a entrega nos cofres do Estado. Se
houve retenção e não houve a entrega nos cofres do Estado, o substituto/entidade
pagadora responde pelas importâncias que reteve e não entregou. No ex. anterior, a
empresa x retém 20 e estes nunca chegam ao cofre do Estado, ele quer saber quem
responde, dizendo o nº1 que responde o substituto, ficando o substituído desonerado de
qualquer responsabilidade.
O art.28º, nº2 já tem pressupostos diferentes, aqui não houve retenção ou a retenção
que houve foi inferior ao devido, as importâncias que deviam ter sido retidas não o foram.
Para além disto, a retenção tinha a natureza de pagamento por conta, era uma
substituição parcial, o art.28º, nº2 diz-nos que o substituído responde originariamente
pelos montantes não retidos, i.e., o substituído, o titular dos rendimentos, vai responder
pelos 20 que lhe foram entregues. Em primeira linha, é ele o responsável.
Mas, o substituto responde subsidiariamente, tendo direito de regresso, pelas
importâncias que deviam ter sido retidas e não foram e, para além disso, cabe-lhe a ele o
pagamento dos juros compensatórios. Quando a retenção tinha a natureza de
pagamento por conta e nem houve retenção ou houve retenção em montante inferior, é o
substituído que responde diretamente, a título originário, pelo que recebeu a mais e, se
ele não tiver bens, responde a entidade pagadora dos rendimentos, que deu causa ao
problema.
O art.28º, nº3, LGT trata os demais casos. O que nos falta? Os casos, de substituição
total, em que não houve retenção, de todo, ou houve mas inferior ao devido e a retenção
tinha caráter definitivo (não consta na lei, é o que podemos deduzir, retirar). Qual é a
solução aqui? O nº3 diz-nos que o substituído é apenas subsidiariamente responsável
pelo pagamento da diferença.
No que diz respeito à r.j.tributária ainda temos de ver mais 3 figuras:

1. Sub-rogação fiscal;
2. Sucessão fiscal;
3. Responsabilidade fiscal por dívidas de outrem.

A obrigação de imposto é pecuniária, traduz-se no pagamento de uma quantia em


dinheiro, sendo as obrigações pecuniárias subjetivamente fungíveis, o interesse do
credor é receber o dinheiro, independentemente de quem lhe pagar. As obrigações fiscais
são subjetivamente fungíveis, o cumprimento pode ser feito pelo devedor ou por 1
terceiro. Se aparecer 1 terceiro para cumprir, a Administração Tributária não vai recusar.
Pode este 3º ficar exatamente com os direitos e garantias da Administração Tributária
em relação ao devedor?
O art.41º, nº1 começa por dizer que qualquer 3º pode cumprir, enquanto que o nº2
diz que o terceiro que cumprir a obrigação só fica sub-rogado na posição do credor (AT)

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se requerer e obtiver autorização do próprio devedor ou demonstrar interesse legítimo no


pagamento.Tínhamos começado por dizer que as r.j. tributárias eram imodificáveis e
intransmissíveis, mas, por força da sub-rogação, o 3º vai ficar na posição do credor, o
que quer dizer que, do lado ativo, houve uma transmissão.
Vamos imaginar que A e B são comproprietários do mesmo imóvel, cada 1 deles
recebe a sua nota de liquidação do IMI. O A paga e sabe que o B não pagou, o A pode
pagar o imposto do B, a Administração Tributária recebe. O A fica sub-rogado? Sim, se
requerer e demonstrar interesse legítimo (o património do B vai ser penhorado e pode ser
vendido para cumprir as obrigações fiscais, ou seja, a quota parte de B pode ser alienada
a qualquer pessoa).
Passando agora à sucessão legal, vimos que a regra estabelecida pela LGT, no art.29º,
nº3 é que as obrigações são intransmissíveis inter vivos, ou seja, entre vivos não pode
haver transmissão de obrigações fiscais. Quanto à sucessão por morte, o art29º, nº2,
permite a transmissibilidade das obrigações fiscais por morte, sem prejuízo do benefício
de inventário. O que quer isto dizer? Quando uma pessoa morre, as suas dívidas fiscais,
mesmo as que não estão liquidadas, só se transmitem na hipótese de a herança ser
aceite, os herdeiros têm a possibilidade de, inventariados os bens deixados, não aceitar a
herança. O art.29º, nº2 diz então exatamente o que resulta dos arts.2053º, 2071º, nº1 e
2, do Código Civil.
Por último, temos a responsabilidade fiscal por dívidas de outrem, figura própria do
Direito Fiscal, tem a função de garantia. Esta responsabilidade fiscal surge numa fase
patológica da relação de imposto. O que caracteriza esta responsabilidade é que 1
terceiro, alheio à constituição do vínculo tributário, mas com conexão com o sujeito ou o
objeto da relação de imposto, o terceiro é chamado a cumprir uma obrigação que não é
sua. Portanto, há alguém que é chamado para pagar dívidas alheias. Porquê?
Ele é chamado ou porque tem uma conexão com o terceiro ou com o objeto da relação
de imposto. Quem é chamado, não é chamado à sorte! A lei tem de especificar a conexão
que considera relevante.
Esta responsabilidade tem por fonte a lei e tem, em regra, caráter subsidiário (art.22º,
nº6, LGT) e opera por reversão (art.23º, nº1, LGT) do processo de execução fiscal, implica
uma modificação subjetiva do processo de execução fiscal (ato administrativo).
A regra é que estas situações de responsabilidade estão na LGT, entre os arts.24º e
28º. No art.24º, LGT temos o caso mais paradigmático de responsabilidade fiscal, ele
consagra a responsabilidade dos gerentes, administradores ou diretores das sociedades
ou outras pessoas coletivas, pelas dívidas tributárias das próprias sociedades. Se nós
tivermos a sociedade x com 3 sócios (A, B e C) e esta sociedade, uma sociedade por
quotas ou anónima, não pagar as dívidas, a Administração Tributária não pode acionar
os sócios, a sociedade tem personalidade jurídica própria, a autonomia patrimonial que
responde é a da sociedade. Sob o ponto de vista da Administração Tributária há aqui
uma fragilidade, por isso foi criada esta figura da responsabilidade fiscal.
Segundo o art.24º, nº1, a qualidade de sócio é relevante, se se verificar que a
sociedade não tem bens ou estes não são suficientes, então são chamados a responder
os titulares do órgão de gestão (gerentes/administradores). Porquê?
São os administradores D e E que vão responder, porque os administradores têm a
obrigação de promover o cumprimento das obrigações fiscais, se se verifica que a
sociedade não cumpriu a culpa é deles, por isso vão ser chamados com o seu próprio
património. A sociedade é contribuinte, não cumpre, mas não podem ser chamados, de
imediato, os administradores, estes gozam do benefício da prévia exclusão, o que se
verifica no processo de execução fiscal.
Este regime do art.24º, nº1 é gravoso. Tal preceito tem duas alíneas, a a) e a b), com
pressupostos diferentes e com conexões temporais diferentes, a alínea b) responsabiliza
os administradores que o eram no momento em que terminou o prazo para a sociedade
pagar, eles respondem, salvo se provar que a falta de pagamento não lhes é imputável.

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Já a alínea a) permite responsabilizar ainda outros administradores, os que eram


administradores no momento do facto gerador mas que já não eram quando terminou o
prazo para pagamento. Em relação a estes, é necessário provar a culpa, eles respondem
se se provar que foi por culpa sua que a sociedade ficou impossibilitada de cumprir as
obrigações.
Temos aqui 2 regimes completamente diferentes de responsabilidade. Na alínea b) há
uma inversão do ónus da prova, há uma presunção de culpa, em relação a estes
administradores a lei presume que a culpa do não pagamento é deles, só não
responderão se conseguirem provar que a culpa não lhes é imputável. Na alínea a) os
administradores só respondem se a Administração Tributária provar que a culpa é sua.

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Aulas 25 e 26 (20/05/15)

Apuramento do Imposto a Pagar

*Continuação das Aulas 21 e 22

Vimos que 1º é preciso qualificar o rendimento, integrá-lo em cada uma das


categorias, qualificação que encontramos entre os arts.2º e 11º, CIRS. O art.1º do
mesmo diploma faz uma delimitação genérica da incidência, enquanto que o 12º faz uma
delimitação negativa de incidência, i.e., ele elenca os rendimentos sobre os quais o IRS
não vai incidir.
As deduções específicas encontram-se entre os arts.25º e 54º, CIRS. Vimos também
que o englobamento se encontra no art.22º, cujo nº1 consagra a regra: o rendimento
coletável em IRS é a soma dos rendimentos líquidos das várias categorias, que nos vai
dar o rendimento global líquido. A esta fase chamamos fase analítica e à fase que
começa com o englobamento chamamos fase sintética.
Este englobamento (soma dos rendimentos líquidos) coloca-nos alguns problemas,
porque o Código prevê excepções ao englobamento. A excepção mais importante está no
art.22º, nº3, b) e diz respeito aos rendimentos sujeitos a taxas liberatórias (art.71º -
residentes, rendimentos da categoria E) e a taxas especiais (art.72º - residentes,
rendimentos da categoria F e a uma parte da categoria G, mais valias mobiliárias). Há
determinados rendimentos que têm 1 regime específico de tributação, i.e., 1 regime que
escapa a este regime regra de apuramento de imposto a pagar, temos rendimentos que
não passam pelo processo de englobamento, eles são excepcionados deste, não vão ficar
sujeitos à aplicação das taxas do art.68º, cuja tabela é de taxas progressivas.
Portanto, os rendimentos excepcionados do englobamento são excepcionados da
aplicação de taxas progressivas, mas também são excepcionados das deduções à coleta.
Temos verdadeiros impostos separados ou autónomos, dentro do IRS! Os rendimentos
sujeitos a este regime não são tributados de uma forma pessoal, a tributação não é
pessoalizada.
Para além das excepções temos 1 outro desvio importante: quando falamos em
englobamento, i.e., a soma dos rendimentos líquidos das várias categorias, esta soma
temos de perguntar se é uma soma algébrica, se ao somarmos os rendimentos das
categorias todas nós vamos poder somar categorias com resultados positivos a
categorias com resultados negativos.
Vamos supor que na categoria A tenho 2000 e na B -1000. O que temos aqui? Sou
trabalhador dependente e, simultaneamente, prestador de serviços, na categoria A tenho
rendimentos líquidos positivos, na B, quando chego ao fim da fase analítica, tenho 1
resultado negativo. Numa lógica de englobamento (IRS é 1 imposto pessoal que quer
tributar-me de acordo com a minha capacidade contributiva total), na soma algébrica eu
só teria 1 rendimento a tributar de 1000.
Numa lógica de imposto único e pessoal, faria sentido esta soma, mas não foi esta a
lógica fixada pelo nosso legislador. O art.55º, CIRS (alterado pela Reforma de 2015) diz-
nos, no seu nº1, que não há comunicabilidade de resultados positivos com negativos
entre as categorias!
Quando tenho resultados negativos, estes apenas poderão ser objeto de 1 reporte para
os anos seguintes e o nº de anos depende da categoria que estivermos a falar (na
categoria B são 12 anos, na F são 6). A categoria quando tem resultados negativos, essa
categoria torna-se estanque. No nosso ex., o rendimento global líquido vai ser igual a
2000, porque não há comunicabilidade, a capacidade contributiva é de 1000, mas a lei
diz no nº1 do 55º que este resultado negativo não pode ser deduzido aos resultados
positivos das outras categorias, apenas fica dentro da própria categoria.
Nestes termos, quando aparece 1 resultado negativo, a categoria torna-se estanque!
Depois, há o reporte dentro da mesma categoria, nos 12 anos seguintes, ou seja, se no

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próximo ano, em 2016, eu obtiver rendimento líquido de 3000, em 2016 vamos aos 3000
subtrair o resultado negativo que trago de trás e que está à espera de ser reportado. Se
tivesse tido 500, ia ficar com -500. Esta dedução faz-se, não tem de ser repartida pelos
diferentes anos, ela faz-se mal exista resultado positivo na mesma categoria.
Assim, temos aqui 1 desvio importantíssimo ao englobamento!
Quando fazemos o englobamento e depois sujeitamos os rendimentos à tabela de
taxas progressivas, podemos ter ainda uma outra especificidade. O nosso Código, hoje,
consagra a regra da tributação separada dos cônjuges (art.13º, nº2, CIRS), com opção
pela tributação conjunta. Quando há opção pela tributação conjunta, fazemos o
apuramento de cada categoria para cada 1 dos cônjuges, quando se efetua o
englobamento soma-se tudo, neste caso, dos 2 cônjuges, englobamos o agregado familiar.
Ao aplicar as taxas progressivas, temos de aplicar um método de divisão (art.69º, CIRS):
há 1 fator de divisão em que cada cônjuge vale 1 e cada dependente vale 0,3.
Se tivermos A casado com B, A obtém 30.000 e B 10.000, eles optam pela tributação
conjunta. No englobamento vamos apurar o rendimento global líquido deste agregado,
portanto somamos 30.000 com 10.000, o seu rendimento é então de 40.000. Se
fossemos aplicar aos 40.000 as taxas progressivas do 68º, o casal iria pagar impostos
muito elevados. Para estas situações, o art.69º diz-nos que os 40.000 têm de ser
divididos por 2, porque cada 1, para este efeito, vale 1, por isso vamos aplicar as taxas
do 68º a 20.000. Depois vamos à coleta de cada 1 (20.000 x taxa do art.68º) e
multiplicamos por 2, obtendo assim a coleta do agregado.

Categorias do IRS

Categoria A

A categoria A é a dos rendimentos do trabalho dependente (art.2º, CIRS). O art.2º é


uma norma exaustiva, procura descrever todas as formas possíveis de tributação, a sua
lógica subjacente a esta categoria é a abrangência.
Deste modo, a categoria A tributa:

 Remuneração pela prestação de trabalho (pela prestação de trabalho, segundo o


Prof. Rui Morais);
 todos os benefícios, vantagens, regalias obtidas em conexão com a prestação de
trabalho (em razão da prestação de trabalho, segundo o Prof. Rui Morais).

Se a entidade empregadora disponibiliza 1 imóvel ou 1 automóvel para o trabalhador,


ele também vai ser tributado por isto (ex.: juízes e as residências destes nas comarcas).
Desde que ele tenha vantagens, estas não precisam de ser pecuniárias, podem ser em
espécie.
Como se apuram estes rendimentos? Estes rendimentos são apurados de acordo com
o art.25º, que prevê as deduções específicas, o tal tratamento analítico conferido a esta
categoria. O rendimento líquido da categoria A é igual ao rendimento bruto menos a
dedução específica.
O art.25º, nº1, a) prevê uma dedução específica de 4104,00€. Isto significa que se eu
tiver o A com 1 rendimento bruto de 3.000, para o A que tem este rendimento bruto qual
vai ser a dedução específica? Vai ser exatamente igual ao valor do rendimento bruto
(‘’até à sua concorrência’’). Por força desta dedução específica, o seu rendimento líquido
é de 0. Se eu tiver o B que obtém 1 rendimento bruto de 5.000, qual o valor da dedução
específica? É 4104, sendo o rendimento líquido o resultado da subtração deste valor aos
5.000, ou seja, só se vai tributar a diferença (896).
Esta dedução vai permitir a isenção total que não ultrapassem o valor da alínea a),
porque o rendimento é sempre igual a 0!

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O legislador desenhou esta dedução específica para beneficiar os rendimentos de


trabalho dependente e para beneficiar ainda mais quem aufere rendimentos mais baixos.
Qual a lógica das deduções específicas? As deduções específicas visam subtrair ao
rendimento bruto todos os gastos, todos os custos necessários para obter esse
rendimento. O legislador partiu do princípio, discutível, de que os rendimentos do
trabalho dependente não aplicam custos para o trabalhador. Nos rendimentos de
trabalho dependente o trabalhador não suporta, propriamente, custos para trabalhar.
Há 1 tratamento mais favorável, discriminatório, que o legislador quis atribuir aos
rendimentos de trabalhadores dependentes, são rendimentos que exigem 1 esforço e
cuja fonte tenderá a desaparecer. Para proteger estes rendimentos, não fundados,
porque não não se multiplicam por si próprios, a lei criou este regime de proteção.
Se as contribuições da Segurança Social forem superiores ao valor referido no nº1, a),
a dedução específica é igual ao montante dessas contribuições (art.25º, nº2, CIRS). Se
eu tiver D com 1 rendimento de 40.000, cujas contribuições para a Segurança Social são
no valor de 4004 (11% x 40.000), esse vai ser o valor da dedução específica. Deste modo,
não há tratamento mais favorável.

Categoria B

A categoria B é a dos rendimentos empresariais e profissionais, está prevista no art.3º.


Esta é uma sub-categoria, porque abarca rendimentos que pertenciam a 3 categorias
diferentes, no início da vigência do CIRS.
Dentro do art.3º temos:

 rendimentos profissionais (art.3º nº1, b) e c) – atividades de prestação de serviços


(existe uma lista anexa ao CIRS, a do art.151º que tem o elenco de atividades
inequivocamente consideradas para efeitos de tributação da categoria B),
exercidos por conta própria e direitos da propriedade intelectual individual, desde
que auferidos pelo titular originário;
 rendimentos empresariais (arts.3º, nº1, a) e 4º) – rendimentos resultantes do
exercício de atividades comerciais, industriais e de atividades agrícolas, sendo
importante, quanto ao art.4º, perceber que ele não contém 1 elenco taxativo de
atividades comerciais, industriais e agrícolas (aparecem algumas atividades que
poderíamos facilmente considerá-las deste tipo, mas aparecem expressamente
consideradas atividades que, à luz do Direito Comercial, não são consideradas
comerciais ou industriais como, por ex., a pesca, o artesanato e as indústrias
extrativas), temos de considerar atividades deste tipo todas as que sejam
qualificadas como comerciais ou industriais à luz do Direito Comercial e, para
além dessas, são ainda aquelas as previstas no art.4º (contém 1 elenco que, em
alguns casos, serve para trazer para a comercialidade algumas atividades).

Como se apura o rendimento nesta categoria? Na categoria B temos, essencialmente,


2 regimes de apuramento do rendimento líquido (podemos até ter 3):

1. Regime Simplificado;
2. Regime da Contabilidade.

Estes 2 regimes estão previstos no art.28º, CIRS, segundo o qual ficam no regime
simplificado os titulares de rendimentos que não ultrapassem 1 rendimento anual de
200.000. Já no regime da contabilidade ficam os titulares de rendimentos superiores a
200.000, podendo este regime funcionar como opcional, se bem que é obrigatório para
quem obteve rendimentos superiores a 200.000.
Nestes termos, quem obteve rendimentos inferiores a 200.000, se quiserem, podem
ver o seu rendimento líquido apurado pelo regime da contabilidade.

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Qual a diferença entre estes 2 regimes? No regime simplificado (art.31º, CIRS) temos
1 regime de apuramento do rendimento líquido em que o apuramento é 1 apuramento
feito em abstracto, 1 apuramento feito de acordo com coeficientes fixados pela lei, o
próprio art. 31º fixa esses coeficientes. O que está implícito a este apuramento, em
abstracto, é uma presunção de custos para a obtenção de rendimentos.
O art.31º fixa os tais coeficientes e diz-nos que temos 1 coeficiente de 0,15 para as
atividades empresariais (alínea a) e outro de 0,75 para as atividades profissionais (alínea
b).
Se eu tiver o A, trabalhador independente, que obtém o rendimento bruto de 10.000 e
ele estiver no regime simplificado, o rendimento líquido é igual ao rendimento bruto x o
tal coeficiente. O rendimento líquido é então igual a 10.000 x 0,75, i.e., 75% de 10.000,
ou seja, 7.500. O rendimento líquido é apurado assim, independentemente da situação
real (custos que efetivamente suportou). Isto é o mesmo que dizer que a lei presume
custos de 25%, porque apenas o tributa por 75%.
Nas atividades comerciais e industriais acontece exatamente o mesmo, só que o
coeficiente é diferente! Se tivermos o B, comerciante em nome individual que explora 1
restaurante, com o rendimento bruto de 10.000, se ele estiver no regime simplificado é-
lhe aplicado o coeficiente de 0,15, por isso o rendimento líquido é igual ao rendimento
bruto x o coeficiente, ou seja, o rendimento resulta de 10.000 x 15%, por isso só vai ser
tributado por 1.500, relativamente a esta categoria. Isto significa que há aqui uma
presunção de custos de 85% do valor do rendimento bruto, enquanto que nas atividades
profissionais são apenas 25%.
O que significa dizermos que o apuramento é feito em abstracto? Os custos
efetivamente suportados são irrelevantes, o modelo abstracto parte de coeficientes que
implicam presunções de custos.
O regime da contabilidade, por sua vez, é 1 regime em que o apuramento do
rendimento líquido é feito em concreto, aqui o apuramento do rendimento líquido é feito
subtraindo-se, aos proveitos, os custos efetivamente suportados. A forma base é então:
proveitos – custos (efectivamente suportados) é igual a lucro!
Quando é que alguém do regime simplificado tem vantagem em optar por este regime
da contabilidade? A opção pelo regime da contabilidade é uma opção por este ser 1
regime fiscalmente mais vantajoso, quando os custos que ele efetivamente suporta forem
superiores.
Temos ainda um terceiro regime, previsto no art.28º, nº8, este só para os rendimentos
profissionais, titulares que tenham prestado serviços a uma única entidade, podendo
optar por ser tributados segundo as regras da categoria A (art.25º, nºs 1 e 2, CIRS).
Muito importante ainda é aquilo a que a doutrina chama do princípio da atração ou
descaracterização dos rendimentos, princípio que está consagrado no art.3º, nº2, a), b), c)
e d), CIRS. O que resulta deste preceito? Ele diz-nos que se consideram ainda
rendimentos da categoria B os rendimentos:

 Prediais, imputáveis ao exercício de atividades da categoria B;


 De Capitais, imputáveis ao exercício de atividades da categoria B;
 Mais Valias, apuradas no âmbito de exercícios de atividades da categoria B.

O nosso legislador entendeu que o que se pretende apurar é o lucro gerado pelo
exercício gerado por estas atividades, quando isso é assim podemos ter rendimentos que
pertencem a outras categorias que, se forem obtidos em conexão com o exercício de
atividades empresariais ou profissionais, são descaracterizados.
Se o dono do supermercado, empresário em nome individual, tem 1 armazém que está
afeto à sua atividade, é onde ele guarda os stocks. Ele deixa de precisar dele e arrenda
esse armazém a 1 vizinho, que o quer usar como garagem, ele vai ter 1 rendimento
patrimonial, porque está a arrendar 1 imóvel. Mas sendo esse imóvel afeto ao exercício

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da atividade, podemos dizer que as rendas são 1 proveito do exercício da atividade,


entrando na categoria B como 1 proveito, sendo descaracterizadas.

Categoria E

A categoria E, prevista no art.5º, nº1, cheio de cláusulas gerais e conceitos


indeterminados, é a categoria dos rendimentos de capitais. O art.5º, nº2 tem 1 elenco
exemplificativo, que na verdade é taxativo.
Para além disto, o nº2, na alínea b), prevê ainda os juros de depósitos bancários,
enquanto que na alínea h) temos os lucros distribuídos aos sócios, pessoas singulares,
pelas sociedades.
Assim, temos dentro dos rendimentos de capitais temos, essencialmente, 2 grandes
grupos:

1. Juros de depósitos bancários;


2. Lucros distribuídos aos sócios pelas sociedades.

O rendimento líquido é igualmente ao rendimento bruto, não há deduções específicas,


mas estes rendimentos são sujeitos a taxas liberatórias, i.e., são rendimentos previstos
no art.71º, CIRS, ou seja, sujeitos a uma retenção na fonte, a título definitivo e com
caráter liberatório total.
O art.71º, nº6 consagra, em relação aos residentes em Portugal, a possibilidade de
opção pelo englobamento. Mas esta opção, prevista no art.22º, nº5, tem consequências,
ficando então a englobar todos os rendimentos da mesma categoria, i.e, eu não posso
escolher englobar uns juros e não englobar outros, tenho de englobar todos os meus
rendimentos de capitais, sendo esta uma consequências genérica.
Para além disso, eu vou ter de englobar o rendimento bruto que obtive, apesar de já
ter sido sujeito a uma retenção na fonte. A retenção que tinha caráter definitivo,
transforma-se, muda de natureza, ficando uma retenção com caráter provisório, i.e.,
com a natureza de adiantamento por conta do imposto que será devido, o que é muito
importante, porque implica que a retenção na fonte, que tinha sido suportada, vai
funcionar como uma dedução à coleta, nos termos do art.78º, nº2 e uma daquelas
deduções à coleta (art.78º, nº3, CIRS) se gerar coleta negativa origina direito a reembolso,
i.e., se se verificar que o que o contribuinte foi pagando, ao longo do ano, montante
superior ao devido, ele tem direito ao reembolso.
Há ainda uma outra consequência, mas esta é específica, apenas para o
englobamento de rendimentos previstos no art.5º, nº2, h), CIRS, i.e., para o
englobamento de lucros distribuídos. Este englobamento é 1 que vai sofrer 1 benefício,
nos termos do art.40º, a), CIRS, ele é feito apenas por 50% do valor do rendimento bruto,
ou seja, temos aqui 1 benefício que tem uma justificação, que é atenuar a dupla
tributação económica que os lucros sofrem entre o IRC e o IRS.

Categoria F

A categoria F é a categoria dos rendimentos prediais, tendo previsão normativa no


art.8º, CIRS. Sobre este artigo é preciso ter em conta duas notas: 1ª relativamente ao
conceito de prédio e 2ª relativamente ao conceito de renda (v. Manual do Prof. Rui
Morais e os artigos que estão no campus).
Porque dizemos que há aqui especificidades quanto a estes conceitos? Estes não
coincidem com os correspondentes conceitos com conteúdo que têm ao nível do Direito
Civil. Nos termos do art.8º, nº4, CIRS considera-se como prédio tudo aquilo que
consideraríamos como prédios (terrenos, edifícios, edifícios construídos sobre os nossos
terrenos, etc.), bem como certos bens móveis (rulote, barco ou tenda, entre outros, se
gerarem rendimentos).

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O mesmo se diz quanto ao conceito de renda (art.8º, nº2, a) e b), que considera como
rendas, i.e., como a remuneração da cedência do uso do imóvel, tudo o que seja pago
pela cedência do uso do imóvel, mas também por aluguer de maquinismos que estejam
nesse imóvel.
Como se faz o apuramento do rendimento líquido? Temos de ir ao art.41º, CIRS. O
que podemos deduzir aos rendimentos prediais? Podemos deduzir todos os gastos
necessários para a obtenção do rendimento, tem de haver esta conexão entre o gasto e a
obtenção do rendimento, o que quer dizer que estão aqui incluídas as despesas com a
manutenção. São ainda dedutíveis, ainda que a lei não o diga expressamente, o IMI mais
o imposto de selo. O art.41º tem uma norma inovadora no seu nº7 que nos diz que
podem ser deduzidos também os gastos que sejam gastos com a conservação e
manutenção do imóvel, celebrados nos 24 meses anteriores à celebração do contrato de
arrendamento.
Por outro lado, não são aqui incluídas despesas de valorização do imóvel, i.e., aquelas
que servem para aumentar o valor do imóvel ou para alteração da estrutura do imóvel,
elas são irrelevantes.
A categoria F tem 1 regime específico de tributação, os rendimentos da categoria F
estão sujeitos a uma taxa especial prevista no art.72º, nº1, e), CIRS. No nº8 do 72º
temos a opção pelo englobamento.
Novidade da reforma, ainda quanto aos rendimentos da categoria F, é a da parte final
do nº1 do art.8º. O titular de rendimentos da categoria F pode optar ser tributado pelo
regime da categoria B, considerando que se dedica profissionalmente ao arrendamento
de imóveis.

Categoria G

Esta é a categoria dos incrementos patrimoniais, presente no art.9º, cujo nº1, a) refere
as mais valias, previstas, por sua vez, no art.10º, CIRS. As mais valias, por definição,
são acréscimo inesperados e fortuitos no valor dos bens, aquilo que a doutrina designa
de windfall gains, i.e., ganhos que não resultam de 1 participação do respetivo titular no
processo produtivo.
Vigora aqui o princípio da realização, no nosso sistema fiscal só são tributadas as
mais valias efetivamente realizadas, i.e., não são tributáveis as mais valias latentes
(mero aumento do valor de 1 imóvel, por ex.).
É disposto no art.10º, nº1, nas alíneas a) e b), respectivamente, a alienação onerosa
de direitos reais sobre imóveis e alienação onerosa de partes sociais.
O elenco do mencionado art.10º, CIRS é um elenco taxativo, o legislador aqui apenas
incluiu as mais frequentes e as mais facilmente detectáveis.
Qual é o regime de tributação das mais valias? Aquilo que se tributa é apenas o ganho
efetivo, por isso temos de calcular a mais valia, segundo uma fórmula: ao valor da
realização (art.44º, e) subtraímos o valor da aquisição, ao qual podem ser somadas as
despesas com a alienação e a aquisição do bem (art.51º, CIRS). Esta é a fórmula base! O
valor de aquisição tem de ser alvo de correção monetária, quando o bem for detido por
por 1 período superior a 24 meses (art.50º, CIRS).
Quanto aos imóveis acrescem ainda os encargos com a valorização do bem suportado
nos últimos 12 anos.
Calculada a mais valia, o ganho tributável, vamos tributar o que resulta de toda esta
operação.
As mais valias imobiliárias estão previstas no art.10º, nº1, a), c) e d) e no art.43º, nº2,
CIRS, traduzindo-se em englobamento obrigatório, nos termos do art.22º, mas apenas
em 50% do valor da mais valia e isto para atenuar o efeito de concentração e de
imobilização. As mais valias mobiliárias estão no art.10º, nº1, b) e no art.72º, nº1, c),
CIRS, que tem a taxa especial de 28%, com a opção pelo englobamento.

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Categoria H

Na categoria H tributam-se as pensões.

...

*A docente vai marcar aula de dúvidas, bem como uma aula de treino de resolução de
casos práticos, que vai ter várias datas.

Baixado por Afonso Pedro (afonsopedrop2014@gmail.com)

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