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Direito Fiscal
Direito Fiscal
Aulas 1 e 2 (11/02/15)
Bibliografia:
Avaliação:
Teste escrito (60 minutos), 18 de Abril (Sábado), das 11h às 12h - 50%;
Apresentação oral, há uma lista de temas acerca do IRS, onde temos de escolher 1
dos temas e temos de preparar uma exposição de 5 a 7 minutos - 50%.
***
taxas;
impostos;
contribuições financeiras.
O Direito Tributário é mais vasto que o Fiscal, porque o último apenas trata dos
impostos, o Direito Fiscal é o Direito dos impostos, receitas públicas com caráter coativo
e unilateral. O traço distintivo dos impostos, relativamente aos outros tributos, a sua
marca fundamental é a unilateralidade.
***
O Imposto
prestação pecuniária;
prestação coativa;
prestação definitiva;
prestação unilateral;
Começamos por dizer que o imposto é uma prestação pecuniária. O que é que isto
quer dizer? Antes dizia-se que era uma prestação patrimonial, mas esse elemento é
demasiado amplo, uma prestação pecuniária é um elemento mais restrito. Esta é uma
prestação traduzida no pagamento de uma certa quantia em dinheiro, i.e., o dever
primário/principal de prestação é traduzido na obrigação de pagamento, uma obrigação
de dare de uma certa quantia em dinheiro. Isto tem um significado próprio em Direito
das Obrigações, onde há consequências para este tipo de obrigação (ex.: mora).
Porque se dizia que o imposto era uma prestação patrimonial? Antes havia impostos
que podiam ser pagos através da entrega de bens, como o dos produtos petrolíferos. Este
era o conceito que abarcava todos os impostos, mas hoje foi ajustado, porque todos os
impostos são traduzidos no pagamento de uma certa quantia, ainda que, para a maior
parte dos impostos, a própria lei prevê que a extinção da obrigação de imposto posso
ocorrer pelo pagamento, pelo cumprimento do dever primário, ou por outra formas de
extinção da obrigação:
dação em pagamento;
compensação;
consignação em depósito;
novação;
remissão.
Estas formas surgem, normalmente, quando o sujeito passivo não cumpriu ou quer
antecipar o cumprimento. A compensação tem especificidades em Direito Fiscal. O facto
de a lei aceitar estas formas de extinção da obrigação não implica uma descaracterização
do imposto como obrigação pecuniária. Estas são apenas formas alternativas de
extinguir a obrigação, têm um efeito extintivo.
O imposto é também uma prestação coativa, i.e., é uma prestação a que podemos
chamar também de autoritária, uma prestação imposta por lei, ou seja, a lei é a única
fonte de obrigações de imposto, de obrigações fiscais e, para além disso, a lei modela
todo o contéudo da relação de imposto. Esta imposição da lei tem este duplo significado.
As obrigações de imposto não podem, em princípio, ser contratualizadas, a lei é a única
fonte, daí a vontade dos sujeitos ser irrelevante, as partes não têm poder para definir o
contéudo da obrigação, não podem modelar tal contéudo, não têm qualquer poder. Claro
que há excepções, mas essas também estão previstas na lei, bem como todo o seu
procedimento, as partes exercem um poder, mas controlado pela lei.
O que estamos a dizer é que, em consequência disto, a obrigação de imposto é uma
obrigação de natureza pública e tem determinadas características, como o fugir à
vontade das partes, o que se traduz na obrigação ser irrenunciável, inegociável e
também intransmissível. Tudo se passa como está na lei! Não há aqui espaço para mais
nada.
O imposto é também uma prestação definitiva, o que quer dizer que a obrigação de
imposto, uma vez cumprida em relação ao que é exigível, nunca é objeto de qualquer
reembolso, daí a prestação ser definitiva. Esta caraterística é a que nos permite
distinguir o imposto de:
No IVA e no IRS acontece que, por força dos mecanismos de cobrança, muitas vezes é-
nos cobrado imposto numa lógica de conta corrente e há um momento em que é feito um
acerto final, o IRS é um imposto periódico, é anual, incide sobre o rendimento anual das
diferentes categorias que estão descritas, como o rendimento do trabalho dependente, eu
estou a trabalhar e sei que tenho de pagar este imposto, para as pessoas que têm ligação
ao Estado português temos de o pagar com uma determinada periocidade, o período de
tributação é o do ano civil, o meu imposto vai de um intervalo temporal que vai de 1 de
janeiro a 31 de dezembro, quando fizer a declaração vou declarar os rendimentos que
obtive ao longo do ano de 2014, vou fazer agora em Abril ou Maio, o Estado vai apurar o
montante de imposto a pagar e depois disso é que me vem cobrar o imposto.
No IRS, quando ele foi pensado, para ao nível dos mecanismos de cobrança, por um
lado desdramatizar a cobrança criando anestesia fiscal e descentrando a cobrança do
próprio a quem o imposto vai ser cobrado, temos a retenção na fonte, o que quer dizer
que eu, trabalhador, estou a trabalhar e à medida que vou recebendo o empregador
retém uma parte dos meus ganhos, eu vou suportando a cobrança do imposto à medida
que vou recebendo o rendimento. A minha entidade empregadora faz isto por mim.
Um outro efeito muito importante é o de tesouraria para o Estado, porque à medida
que obtenho o rendimento, o Estado vai obtendo as receitas, há uma antecipação destas,
porque ele as recebe antes de elas serem efetivamente devidas. Se eu paguei mais do que
é devido, tem de haver um acerto, um ''reembolso'' porque eu tenho um crédito sobre o
Estado.
Para além disto, o imposto é também uma prestação unilateral. O que é que isto quer
dizer? É uma prestação sem contraprestação, i.e., a relação de imposto é uma relação
em que só existe dever de prestar num dos sentidos. Portanto, não gera direito a uma
contraprestação específica.
É por esta caraterística que distinguimos o imposto da taxa, que é uma prestação
bilateral, i.e., a taxa surge no âmbito de uma relação sinalagmática (''Eu dou para que
me dês''), enquanto que o imposto é uma prestação do tipo unilateral, temos duas partes
e o dever de prestação existe, neste tipo de relação, apenas num dos sentidos, que é
sempre o mesmo. A outra parte não tem de dar nada! É por isto que a CRP tem tanta
preocupação com imposto. As taxas a CRP já não se preocupa tanto, o equilíbrio e a
garantia está em, precisamente, procurar proporcionalidade entre ambas as prestações.
Nos impostos não podemos existir nada à outra parte, isto decorre da sua própria
natureza.
Aulas 3 e 4 (25/02/15)
O Imposto
impostos;
taxas.
O que distingue estes 2 é os impostos terem caráter unilateral, enquanto que as taxas
são tributos bilaterais. Neste momento, evoluímos para uma concepção tripartida dos
tributos:
1. impostos;
2. taxas;
3. contribuições financeiras.
As contribuições financeiras estão ''a meio caminho'' dos impostos e das taxas, são
uma figura híbrida entre impostos e taxas, tem havido muitos problemas de qualificação
destas contribuições. Os impostos, por serem unilaterais, têm 1 regime jurídico
constitucional muito exigente, i.e., a nossa CRP preocupa-se muito com os impostos,
fixa alguns princípios fundamentais, que limitam muito as intervenções por parte do
legislador. A CRP preocupa-se muito quem pode legislar nesta matéria, dando ainda
directrizes ao legislador sobre como deve legislar quando legisla em determinadas
matérias dos impostos.
Isto apenas tem paralelo no Direito Criminal, a CRP também aqui tem uma posição
mais interventiva e garantística, as consequências típicas da violação de normas penais
têm a ver com a privação da liberdade, enquanto que no Direito Fiscal há privação da
titularidade patrimonial. Há muitas exigências constitucionais em matéria de impostos.
Quando nós temos 1 conjunto de tributos que estão a meio caminho há 1 problema:
os impostos têm 1 regime muito mais exigente que as taxas, que têm 1 regime mais leve
e flexível. Qual o regime aplicável? Temos contribuições que são tratadas como impostos,
mas a partir de 2008 houve uma matização da jurisprudência do TC, porque para
determinadas contribuições financeiras o Tribunal surge com um entendimento
diferente. A ideia que tínhamos que as contribuições financeiras seguiam todas o regime
dos impostos é uma ideia que temos de repensar!
Neste contexto, foi feita uma subdivisão nas contribuições financeiras que, ao fim ao
cabo, nos leva à dicotomia fundamental, os tributos ou são impostos ou não! É neste
enquadramento que vamos anotar.
prestação pecuniária;
prestação coativa;
prestação definitiva;
prestação unilateral.
vida, já sei que o seguro vai pagar alguma coisa quando eu morrer às pessoas que eu
designei, mas já não é tão aleatório.
Contrariamente a estes, as taxas são relações bilaterais perfeitas! Para estarmos
perante uma taxa, tem de ser possível identificar a contraprestação específica, que se vai
traduzir numa destas 3 hipóteses (art.4º, nº2, LGT). Isto é uma concepção doutrinária,
todo este conceito tipológico e análise que fazemos nasce na doutrina das Finanças
Públicas, depois o Direito Fiscal foi adoptando.
Continuando agora no elemento subjetivo, sabemos que na relação de imposto temos
o sujeito ativo, que para já vamos chamar de ''credor'', porque a relação de imposto é
uma relação obrigacional complexa (sendo certo que esta relação tem natureza pública,
tendo como fonte a lei, a sua única fonte, não há outra possível, não se constituem
obrigações de imposto por vontade das partes e o contéudo desta relação é, todo ele,
modelado pela lei, temos uma relação que nasce de 1 ato de autoridade), i.e, ao lado do
dever primário de prestação existem deveres secundários ou acessórios do dever
primário, bem como os deveres laterais.
Quanto ao dever primário pode incumbir uma pessoa que não é a mesma que suporta
o encargo de pagamento, ou seja, alguém suporta o pagamento, mas quem está
encarregue de entregar o valor ao Estado é outra. Quanto aos deveres secundários
acessórios também temos impostos de terceiros, há muitos terceiros chamados ao
cumprimento de deveres acessórios, como deveres de informação ou comunicação.
Esta complexidade que existe do lado passivo, existe também do lado ativo. O que é
ser sujeito ativo de uma relação de imposto? Depende, pode ser várias coisas:
1. titular do poder normativo - aquele que tem o poder para criar impostos;
2. titular da capacidade tributária ativa - ter o poder para exigir o pagamento do
imposto e para demandar judicialmente o obrigado que não cumpre o seu dever de
prestação;
3. titular da competência tributária - do poder de gerir e administrar o imposto;
4. titular da receita tributária.
pressuposto;
critério.
impostos fiscais;
impostos extrafiscais.
O facto de a taxa ser 1 tributo bilateral e de surgir numa relação sinalagmática, não
significa que haja relevância da vontade, que é completamente irrelevante. Se é verdade
que aquele que tem de a pagar procura ativamente 1 daqueles 3 tipos, ou seja, há uma
procura ativa dos cidadãos contribuintes, o facto de ela não existir, não descaracteriza
essa, como por ex., a taxa de justiça (prestação de 1 bem/serviço público). E os que
praticam crimes e não queriam ser julgados? Têm de pagar na mesma, mesmo não
procurando o bem/serviço público.
Na prestação de bens ou serviços públicos temos a taxa de justiça, a taxa moderadora
quando nos são prestados cuidados nos hospitais ou centros de saúde (se nunca entrar
num hospital não me podem pedir a taxa moderadora, eu quando pago taxas sei
exatamente o que estou a pagar), a requisição de 1 livro numa biblioteca pública,
quando queremos frequentar uma piscina municipal.
Na utilização de bens do domínio público os entes públicos permitem aos particulares
a utilização, privativa, de bens do domínio público, que são de todos nós. Quando 1 de
nós o pode fazer, há uma utilidade específica atribuída a esse, que nunca pode ser
perpétua. Por ex., quando um autarquia cede uma parte da praia para instalar uma
esplanada ou escola de surf, tem de ser paga uma taxa. A mesma coisa acontece com as
portagens (pagamos à concessionária, 1 ente privado a quem foram atribuídos poderes
públicos).
Por último, temos a remoção de 1 limite jurídico à atividade dos particulares, onde há
o retiro de 1 obstáculo. Estamos aqui a falar de quê? Em determinadas condições, o ente
público que fixou o obstáculo, pode removê-lo, praticando 1 ato com determinadas
caraterísticas, autorizando-nos a fazer algo que não podíamos fazer. Aquilo que temos
aqui são as licenças, 1 desenvolvimento de uma atividade que permite verificar se estão
garantidas as condições para a remoção do tal limite. Quer as licenças de construção,
quer as licenças para uso e porte de arma, quer as licenças para ter 1 cão estão aqui
enquadradas. O processo para termos a carta de condução também está neste tipo de
contraprestação específica.
Isto tem gerado muitíssima controvérsia no seio da jurisprudência!
Na prestação de bens ou serviços públicos só podem ser cobradas taxas numa
prestação direcionada diretamente ao particular, os bens ou serviços públicos não são
todos iguais, temos de os distinguir:
O que são bens/serviços tecnicamente públicos? São bens ou serviços que satisfazem
necessidades coletivas, mas essa satisfação ocorre em termos coletivos.
Os bens ou serviços tecnicamente semi-públicos também satisfazem necessidades
coletivas, mas tal satisfação ocorre em termos individuais ou individualizados, por ex., a
integridade das fronteiras territoriais é 1 bem público, a Defesa Nacional é 1
bem/serviço público, há uma necessidade que é sentida por todos nós. Como é satisfeita
a necessidade do bem de defesa?
No que diz respeito aos cuidados de saúde ou ao ensino também temos 1 bem ou
serviço público, só que a satisfação ocorre em termos individuais ou individualizados.
Uma consulta é a prestação de 1 bem/serviço tecnicamente semi-público. Aqui temos
bens que chamamos, tecnicamente, de semi-públicos, só em relação a eles podem ser
cobradas taxas, porque elas são prestações bilaterais/sinalagmáticas. Só estes podem
gerar a cobrança de taxas, porque quando o ente público ou privado a quem está
atribuído o exercício de funções públicas nem sempre cobra a taxa. Estes podem ser
públicos ou semi-públicos.
Aulas 5 e 6 (04/03/15)
Imposto e Taxa
Só podem ser cobradas taxas pela prestação de bens ou serviços que, de 1 ponto de
vista técnico, possam ser individualizados. Os bens/serviços públicos prestados aos
particulares, os indivisíveis, são prestados a título gratuito, significa que eles são
financiados através das receitas gerais dos impostos.
Portanto, só em relações a estes bens/serviços tecnicamente semi-públicos é que
podem ser cobradas taxas. Já os bens tecnicamente semi-públicos podem ser, de 1
ponto de vista financeiro, públicos ou semi-públicos. É público quando é prestado
gratuitamente, sendo este financiado com receitas dos impostos, enquanto que é semi-
público quando é prestado onerosamente, há cobrança de uma taxa, havendo aqui
financiamento com as receitas da própria taxa e, normalmente, tem a ver depois também
com os impostos.
É importante percebermos já que o poder de cobrança de taxas, conferido aos entes
públicos que prestam bens/serviços divisíveis, esta decisão, não é uma decisão neutra,
sob o ponto de vista do sistema fiscal. Se os entes públicos decidissem não cobrar taxas,
implicaria muitos particulares verem necessidades individuais satisfeitas pelos entes
públicos que são suportadas por todos nós. Portanto, a lógica é a de, sempre que é
possível cobrar taxas, essas taxas serem cobradas.
Um outro problema é o da fixação do montante! Quando se pretende repartir o custo,
o quantitativo da taxa é fixado abaixo do custo do serviço. Mas pode acontecer o oposto e
a taxa visar limitar. A taxa de justiça, por ex., tem como objetivo claro limitar/diminuir a
procura deste serviço, é mais alta do que o serviço em causa. As taxas moderadoras
(taxas para bens tecnicamente semi-públicos) pretendem impor alguma moderação na
procura do bem. Claro que, sempre que são fixadas estas taxas, acontece que é preciso
compreender que há alguns cidadãos que não têm capacidade para suportar esse
pagamento, por isso são criadas isenções.
Há muitas variáveis a ter em conta na análise da bilateralidade!
Isto que vimos até agora também vale para a utilização de bens do domínio público.
Aqui temos as situações em que se instalam esplanadas na praia ou quando se coloca
um pequeno quiosque numa praça, temos um espaço de todos que é explorado em
benefício de 1 de nós. Isso tem de ser objeto de uma concessão, há alguém que, por
todos nós, concede a 1 particular a possibilidade de utilizar aquele bem, em termos
individualizados.
Para além disto, também aqui há a decisão de cobrar ou não a taxa.
Quanto às taxas pela remoção de limites jurídicos à atividade dos particulares, tem
havido discussão na doutrina. Aqui pagamos taxas para, em primeiro lugar, obter uma
licença, em situações em que o ente público tem de desenvolver uma tarefa que conduz
à emissão de uma licença.
Em termos jurisprudenciais também tem havido querelas, em 2010 o TJ alterou
radicalmente o sentido da jurisprudência. Aqui em causa está sermos obrigados a pagar
uma taxa para suportar, de algum modo, aquilo que custa ao ente público verificar se
estão preenchidos os requisitos que permitem o levantamento do obstáculo.
O Prof. Teixeira Ribeiro dizia ''Cuidado, é preciso distinguir as situações em que o
limite jurídico é real das situações em que existe 1 limite jurídico artificial''. Nestes
termos, os limites jurídicos artificiais não têm fundamento numa razão de interesse
público, o limite foi criado só para ter de ser removido e gerar receitas. Mas os limites
jurídicos também podem ser artificiais noutra situação.
A doutrina foi dizendo que apenas no caso dos limites jurídicos reais é que podem ser
cobradas taxas, porque só nestes casos temos bilateralidade. Já nas situações em que o
limite não corresponde a uma exigência de interesse público ou em que o limite
corresponde a uma exigência de interesse público mas não há verdadeira atividade
desenvolvida pelo ente público, temos é verdadeiros impostos. A doutrina passou a
designá-las de licenças fiscais, porque a sua finalidade é obter receitas!
Neste contexto, vamos falar as taxas por afixação de publicidade, quer em veículos
quer em edifícios. Estas taxas surgiram nos anos 90, foram criadas e cobradas pelas
autarquias locais. Uma autarquia inventa uma taxa e rapidamente esta invenção é
replicada pelo país inteiro.
O Acórdão mais relevante para as taxas em veículos é do Município de Guimarães (Ac.
TC 558/98), enquanto que o Acórdão mais relevante para as em edifícios é do de Lisboa
(Ac. TC 63/99). Quer num caso quer num outro, a Autarquia decidiu criar uma nova
taxa, a que chamaríamos hoje local. Em Guimarães era pela afixação de publicidade em
transportes quer privados quer públicos, enquanto que em Lisboa era pela afixação de
publicidade em edifícios, fosse na fachada dos edifícios particulares fosse em edifícios
públicos. A Câmara Municipal de Lisboa decidiu-se por isto.
O limite era real ou artificial? Temos de fazer o exercício que o TC fez. Haverá razões
de interesse público para que 1 município decida por este limite? Poderá haver razões de
estética, de conteúdos, de segurança, etc. Mas isto não chega! Temos de ver que haja
uma atividade dirigida especificamente por essas razões, tem de haver uma atividade do
ente público que vai verificar as razões enunciadas. Chegou-se à conclusão que não
existia a atividade destinada à remoção de 1 limite jurídico, por isso num Parecer foi dito
que isto era um imposto, porque este limite foi criado para ser removido.
No entanto, os impostos só podem ser criados pelo Parlamento, pela Assembleia da
República, mas estes foram criados pelas autarquias. A CRP, sob 1 ponto de vista formal,
não foi respeitada. Na multiplicação de Acórdãos, levou a que as Autarquias decidissem
reorganizar-se.
Em 2010 aparece o Acórdão 177/2010 que vem determinar uma inversão na
jurisprudência e vem, ao fim ao cabo, recusar a distinção entre limites reais e limites
artificiais. Porquê? Em 2010, estávamos numa situação em que as autarquias locais
tinham muita dificuldade em obter financiamento, elas precisavam, desesperadamente,
de receitas próprias, daí o TC ter ganho uma sensibilidade diferente para o mesmo
problema. Toda aquela que era a tradição de uma concepção doutrinária foi aqui posta
de lado! O TC volta aqui e diz que tem feito uma leitura errada desta tipologia. Quando
aceitamos esta distinção entre limites reais e artificias, dissemos que tinha de haver
uma verdadeira atividade dirigida especificamente à verificação das razões para o
levantamento do obstáculo, mas o TC diz que se isto fosse assim não faria sentido o
ponto 3 da tipologia (remoção de limites jurídicos à atuação dos particulares). A esta
remoção tem de ser somada uma atividade administrativa especificamente dirigida a
essa remoção, a atividade não pode consistir só na emissão de 1 documento. Estivemos
a dizer, ao fim ao cabo, que só há 2 tipos de contraprestações específicas, a 3ª categoria,
na verdade, não tinha sido entendida como categoria autónoma.
Neste contexto, para o TC basta a remoção do limite por si só, que já é uma
contraprestação específica. O ente público não tem de provar que desenvolve 1 conjunto
de tarefas para remover o limite, a taxa pode ser cobrada apenas pela emissão da licença.
A partir daqui, o TC deixa de aceitar a distinção entre limites reais e limites artificiais! Se
não fosse assim não teríamos a 3ª categoria autónoma, já não é necessária a ''atividade
administrativa específica''.
A Bilateralidade da Taxa
Só chegamos a este problema depois do ente público ter decidido cobrar. Há aqui 2
ideias diferentes que pode estar presentes:
2. limitação da procura.
Aulas 7 e 8 (11/03/15)
1. repartição dos custos pelos utentes - por aqueles que retiram uma utilidade
individual daquele bem/serviço, sendo o quantum muito abaixo do custo de
produzir aquele bem ou prestar aquele serviço;
2. limitação da procura - quantum é fixado em níveis mais elevados, para ter o tal
efeito moderador, limitador daquela procura (exs.: taxa de justiça, taxas pela
prestação de cuidados de saúde - taxas moderadoras -, etc.), sempre assumindo
como limite máximo o custo;
De 1 ponto de vista económico, as taxas são preços, não devem é ser preços lucrativos,
está em causa a satisfação de interesses públicos.
Para a bilateralidade estar garantida, traduz-se nessa proporcionalidade, por isso se
diz que o princípio da proporcionalidade é o corolário do princípio da igualdade.
Para além disto, este princípio da proporcionalidade, pode ser perspetivado, em termos
jurídicos ou em termos económicos. O TC tem afirmado, repetidamente (fê-lo pela 1ª vez
no Acórdão 640/45), o princípio da proporcionalidade como manifestação do princípio
da igualdade, num sentido jurídico, este princípio não deve ser aplicado num sentido
económico, aquilo que se exige é que haja proporcionalidade em termos jurídicos. Já
uma parte significativa da doutrina dizia o contrário, apoiando a tradução prática em
termos económicos.
O TC nunca concretiza a proporção, ao fim ao cabo o TC elimina o 2º teste, eles dizem
que só não há proporcionalidade quando não é dado nada em troca do que se recebe. A
doutrina foi evoluindo, mas também a própria lei, que consagra hoje o princípio da
proporcionalidade em sentido económico, no Regime Geral das Taxas das Autarquias
Locais, aprovado pela Lei nº53-E/2006, de 29 de Dezembro.
Foi necessário colocar alguma ordem em matéria de taxas das autarquias locais,
acabando este Regime por valer como 1 verdadeiro Regime Geral de Taxas, já que o
nosso legislador ainda não o fez, este é o que existe, a doutrina e a jurisprudência
utilizam-no, aplicando-o ou diretamente ou por analogia.
Este Regime veio, pela 1ª vez, impôr o princípio da proporcionalidade/equivalência, no
seu art.4º, nº1, o valor não deve ultrapassar o custo da atividade pública local, i.e, o
custo suportado pelo ente público a realizar a atividade ou o benefício auferido pelo
particular. Assim, tem de haver 1 respeito pelo princípio da proporcionalidade!
Claramente, esta consagração do princípio em análise aponta para uma
proporcionalidade medida em termos económicos, faz aqui diferente a uma quantificação
de custos.
Este artigo é confirmado por uma ou outra norma, do mesmo diploma, o art.8º, nº2, c)
que se refere à criação de taxas, este número diz que o regulamento que cria taxas tem
de conter, sob pena de nulidade, a fundamentação económico-financeira, relativa ao
valor das taxas, impondo então o tal dever de fundamentação económico-financeira,
tendo de ser revelados os custos, os encargos financeiros, as amortizações. O ente
público tem de fazer 1 estudo de tudo isto!
Este princípio vale por si próprio, mas na leitura conjugada das duas normas. Só em
situações é que é difícil quantificar o custo, em que falamos de bem que não têm
propriamente 1 mercado, é que utilizamos este 2º critério.
Apesar disto, em 2007, o TC, no Acórdão relativo à conservação de esgotos, o Acórdão
68/2007, numa taxa que incidia sobre os prédios ligados à rede de esgotos e que tinha
como finalidade garantir a manutenção e conservação dessa mesma rede. Isto aconteceu
no município de Lisboa. Temos 1 tributo que visa repartir os custos pela conservação
dessa rede de esgotos.
Porque é que este tributo prestou problemas? Prestou problemas porque a taxa,
quanto ao seu quantitativo, foi fixada, o seu critério era 0,25% x o valor patrimonial do
imóvel, aqui a que chamamos o VPI. Em termos jurídicos, isto é uma verdadeira taxa,
porque passa nos 2 testes, o da bilateralidade e o da proporcionalidade.
Será que o tributo passa nos 2 testes? No primeiro passa, há uma contraprestação
específica, mas o tributo tem ainda de passar no teste da proporcionalidade ou
equivalência, o quantitativo tem de ser determinado em função do serviço que é prestado.
Qual foi o critério adoptado para quantificar? A taxa incide sobre o valor do imóvel. Se a
forma de cálculo de 1 imposto e de uma taxa é igual, algo está errado. Que critérios
poderíamos ter aqui?
tipologia do imóvel;
consumo de água.
Tributos
Contribuições Financeiras
Estas contribuições têm dado muitos problemas à doutrina, precisamente porque esta
vai acompanhando a evolução da realidade. Hoje, temos já identificados pela nossa
doutrina e também pela jurisprudência, 2 tipos de contribuições financeiras:
O art.4º, nº3 diz-nos que estas contribuições especiais são consideradas impostos!
Estas contribuições normalmente têm 1 caráter grupal, atingem grupos homogéneos de
pessoas.
As contribuições pelo maior desgaste ou maior despesa são cobradas, lançadas pelos
entes público, quando a atividade do particular, não se traduzindo numa em que se
possa individualizar o nível de desgaste do bem, são também tributos em que não se
pode aferir a bilateralidade, não passando no 1º teste.
Nestas contribuições pelo maior desgaste, também temos 1 histórico do TC a ter em
conta. Temos o ex. da compensação por parqueamento deficitário, o encargo por esta
compensação foi uma contribuição especial, criada por algumas autarquias, em que
estas definiram que por cada x metros quadrados de construção para habitação,
comércio ou serviços devia ser construído y lugares de estacionamento, i.e., as
autarquias fixaram uma proporção a ser respeitada pelos empreendedores imobiliários.
Foi também lançada uma compensação por parqueamento deficitário. O que temos
aqui? Aqui temos uma contribuição pelo maior desgate ou maior despesa! Portanto,
lança-se esta compensação sobre os construtores ou empreendedores imobiliários, tendo
isto sido lançado como uma taxa. Os empreendedores disseram que não pagavam,
porque isto era 1 imposto.
O TC disse que não passava no primeiro teste, não identificavam a contraprestação
específica. Esta compensação visa compensar o desgaste maior que esse particular está
a causar nos bens públicos, visa colocar uma incidência maior sobre quem provocou o
desgaste, o que se faz é 1 cômputo global e aponta-se o dedo ao culpado, é esta a lógica.
O TC diz que não é bem imposto, mas também não é bem taxa, por isso tem de ser
protegido como imposto, a entidade que os regula é então a AR. Estas contribuições por
parqueamento deficitário acabaram por desaparecer.
Por outro lado, se formos bem o conceito tipológico de imposto, este é 1 imposto
dirigido a 1 grupo homogéneo de pessoas, não vai ser exigido a todos nós, não é para
finalidades públicas de caráter geral, escapando aqui a vários elementos que
identificamos no conceito tipológico de imposto.
Nas contribuições financeiras de nova geração, há determinadas entidades a que
chamamos reguladores ou de supervisão, emergiu no nosso país um conjunto de
entidades a quem está atribuída a regulação ou supervisão de determinados mercados,
mercados que durante muito tempo estiveram em monopólio ou exclusivo do Estado.
Toda a atividade bancária foi nacionalizada e durante muito tempo, no nosso país, não
haviam bancos privados, estavam fora do âmbito do mercado privado até ao momento
em que houve privatização, o nosso 1º banco privado foi o Banco Comercial Português,
atual Millenium.
Temos atividades a exercerem, a desenvolverem-se como entidades fiscalizadoras das
condições de concorrência, de adequação da prestação dos serviços em causa, entre
outros nos diferentes mercados. Como são financiadas estas entidades? São financiadas
através de contribuições que incidem de modo específico sob as empresas que estas
entidades fiscalizam. As contribuições são exigidas pelas entidades e são lançadas e
pagas pelas empresas que atuam nos respetivos mercados!
Se eu for SIC ou TVI eu tenho de pagar à entidade reguladora da comunicação social,
porque esta entidade desenvolve uma atividade que causa um desgaste, que gera
despesa e essa atividade tem como beneficiários principais as empresas que atuam no
mercado.
Isto não é bem uma taxa, não há aqui uma individualização, o que é que a empresa
está a dar? Não é linearmente uma taxa, não conseguimos identificar a individualização
da satisfação da necessidade, mas por outro lado, quando chegamos e dizemos que é
unilateral ainda é pior, porque esta contribuição só se aplica a quem está naquele
mercados, os beneficiários são os próprios.
O caminho que a doutrina e o TC fez foi diferente, o caráter grupal é muito acentuado,
a regulação é fundamental para que o mercado possa ser 1 mercado aberto, a liberdade
é garantida pela regulação e pela supervisão, há aqui 1 aproximar mais da bilateralidade.
A docente tem dúvidas sobre isto, estas contribuições são calculadas: %x volume de
negócios de cada empresa ao respetivo setor.
Neste momento, as contribuições financeiras têm 2 regimes diferentes, há
contribuições que seguem o regime dos impostos (1.) e há contribuições financeiras que
seguem o regime das taxas (2.).
Aulas 9 e 10 (18/03/15)
Até agora estivemos a procurar caracterizar o imposto, tentar compreender esta figura
e distingui-la de outras que lhe são próximas. Hoje vamos tentar perceber a dinâmica do
imposto, o seu funcionamento.
Nestes momentos, temos de distinguir aquilo a que chamamos:
O momento normativo consiste na definição (em abstracto), por 1 lado dos factos,
situações e acontecimentos que vão originar uma obrigação de pagamento de imposto.
Temos então aqui o facto gerador, ou seja, o facto tributário, que é o pressuposto de
facto. O facto gerador contém este conjunto de pressupostos de facto. Se eu for
trabalhador dependente, residente em Portugal e cá trabalhar, esta minha situação vai
ser subsumível a uma norma do Código do IRS.
A este conjunto de pressupostos falamos, basicamente, da hipótese legal das normas
de tributação. Para além da definição, neste momento normativo temos também uma
definição dos sujeitos ativo e passivo, uma definição de quem tem poder para gerir e
administrar o imposto e de quem são as pessoas que ficam sujeitas ao pagamento deste
imposto e/ou cumprimento de outras obrigações acessórias. A relação de imposto é uma
relação obrigacional complexa. Portanto, aqui vamos ter o devedor, o contribuinte, o
substituto, o responsável, etc.
A definição de incidência real é então a do facto gerador, enquanto que a definição dos
sujeitos é a incidência pessoal.
No momento normativo ainda se define aquilo a que chamamos, de forma pouco
rigorosa, a matéria colectável, i.e., define-se também o conjunto de operações que
permitem apurar o imposto a pagar. Tem de ser definido como é que os rendimentos vão
ser tributados, o que é que vai ser tributado. A definição da matéria coletável e do modo
como se chega ao imposto a pagar, faz então parte do momento normativo, estando
então aqui a definição de taxa (valor percentual) a aplicar à matéria coletada e as
próprias deduções, tudo isto cabe na definição normativa.
Para além disto, ainda nos aparecem no momento normativo os benefícios fiscais, o
conjunto de situações em que haveria lugar ao pagamento do imposto, em que, por
razões extra-fiscais, que não estão diretamente ligadas com a obtenção de receitas. Os
benefícios fiscais são sempre regimes de excepção. Dentro dos benefícios temos de
distinguir as situações de não sujeição das de isenção.
Estes elementos, do momento normativo, exige uma intervenção legislativa
qualificada, ou seja, estas matérias têm de ser definidas por Lei da AR ou Decreto-Lei do
Governo, elas integram a reserva relativa de competência legislativa da AR, nos termos
do art.165º, nº1, i), conjugado com o art.103º, nº2, CRP. A isto vamos aprender a
chamar o princípio da legalidade no seu sentido formal!
O art.103º, nº2, CRP diz que os impostos são criados por lei, que determina a
incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. Aqui está
consagrado o princípio da legalidade no sentido material. A resposta à pergunta que este
103º, de certa forma, levanta é então respondida pelo 165º, nº1, i).
O momento normativo é então o momento para o qual a nossa Constituição exige
intervenção legislativa qualificada.
Posteriormente, temos então o momento procedimental, que surge também com
diferentes fases, a que chamamos:
Lançamento;
Liquidação;
Cobrança.
Critérios Económicos;
Critérios Jurídicos.
Critério Financeiro;
Critério da Contabilidade Nacional;
Critério da Repercussão Económica (ou da Repercutabilidade do Imposto).
que são directos os impostos liquidados com base num rol nominativo de contribuintes,
i.e., são directos os impostos em que é possível fazer uma lista de contribuintes.
Por sua vez, nos impostos indirectos não é possível fazer o rol nominativo. Assim, está
aqui a tónica numa lista prévia de contribuintes.
O último critério é o Critério do Tipo de Relação Base do Imposto, critério coincidente
com 1 outro que já vamos estudar. De acordo com este critério nós temos distinguir o
tipo de relação de base do imposto tendo em conta a configuração do elemento temporal
do imposto. Isto coincide com 1 outro critério, que arruma os impostos em impostos
periódicos e impostos de obrigação única, i.e., nós temos impostos directos quando a
relação de base é duradoura, 1 facto gerador duradoura, e temos impostos indirectos
quando a relação de base vem de 1 facto gerador instantâneo.
Nos impostos directos, o facto gerador tende a repetir-se, a prolongar-se no tempo. Nos
indirectos o facto gerador não se volta a gerar, ainda que se possa repetir noutra ocasião.
Nos directos é possível elaborar o rol nominativo, as tais listas. Nos indirectos não há
qualquer ligação entre os factos geradores, mesmo que possam ser o mesmo.
Esta arrumação coincide com uma outra classificação, como já foi dito, a que
distingue os impostos periódicos dos de obrigação única. A segunda classificação de
impostos é que distingue entre os impostos periódicos e os impostos de obrigação única.
Já sabemos que o critério de distinção é, precisamente, a configuração do elemento
temporal do facto gerador do imposto.
Nos impostos periódicos o facto gerador é 1 facto gerador duradouro (de formação
sucessiva), que tende a prolongar-se no tempo, sendo 1 facto gerador complexo por estas
razões. Os impostos periódicos são impostos em que o tempo é relevante, é determinante
da própria configuração do facto gerador.
Os impostos de obrigação única têm 1 facto gerador instantâneo, que se verifica num
determinado momento e que mesmo que venha a repetir-se nunca é o mesmo facto
gerador, é 1 facto gerador semelhante. Deste modo, temos 1 facto gerador simples, sendo
ex. disto a celebração de 1 contrato de compra e venda de 1 imóvel é aquilo a que
chamamos 1 facto gerador instantâneo, eu consigo localizar no tempo quando ocorreu
tal facto. O IMT é 1 imposto de obrigação única, já 1 contrato de trabalho, que implica a
obtenção de salário, é 1 facto gerador duradouro.
Nos impostos periódicos enquadramos o IRS, o IRC e o IMT. Mas temos aqui alguns
problemas: o período de tributação é 1 ano. Eu ao longo de 2014 obtive uma pluralidade
de rendimentos, em IRS vão ser tributados todos os anos todos os rendimentos que tive
nesse intervalo temporal. Quando se apura o meu rendimento é apenas no momento em
que é possível fazê-lo.
Esta distinção tem interesse prático! Em primeiro lugar, é relevantíssima para
determinar o início da contagem dos prazos de caducidade do direito à liquidação e de
prescrição da obrigação. Estes prazos estão fixados, respetivamente, nos art.45º, nº4 e
48º, nº1, LGT. Quer a caducidade quer a prescrição libertam o contribuinte. Nos
impostos periódicos os prazos começam sempre a contar do termo desse ano, nos de
obrigação única o momento em que se inicia a contagem é o momento do facto gerador,
é o próprio dia.
O segundo aspeto em que se manifesta o interesse prático, é a aplicação das leis
fiscais no tempo. Os impostos periódicos e os impostos de obrigação única obedecem a
regras diferentes do ponto de vista temporal. Neste contexto, temos o art.103º, nº3, CRP,
que tem a proibição de retroatividade, com alcance diferente consoante o imposto seja
periódico ou de obrigação única.
Aulas 11 e 12 (19/03/15)
Hoje vamos ver a distinção entre impostos pessoais e impostos reais. A distinção
estabelece-se de forma diferente das classificações anteriores.
Os impostos reais são impostos em que a matéria coletável é objetivada, é tratada
independentemente da situação pessoal e familiar do sujeito passivo, o que quer dizer
que os impostos reais não pretendem às caraterísticas pessoais e familiares dos sujeitos
passivos, eles tributam uma manifestação concreta de capacidade contributiva,
abstraindo da situação pessoal e familiar do sujeito passivo que está a ser tributado.
Já os impostos pessoais são impostos em que a matéria coletável é subjetivada, sofre 1
tratamento que tem em consideração a situação pessoal e familiar de cada sujeito
passivo, essa tributação é estruturada tendo em conta a situação pessoal e familiar do
sujeito.
Por causa destas razões, há quem chame aos impostos reais impostos objetivos e aos
impostos pessoais impostos subjetivos.
Quais são os elementos típicos que podemos procurar num imposto para determinar
se ele é real ou pessoal? Como se faz esta subjetivação da matéria coletável? Vamos
passar então aos elementos de pessoalização (expressão da doutrina fiscal), i.e.,
características que revelam se o imposto é pessoal. Temos aqui 4 caraterísticas:
nacional, este é o padrão de referência! Quem obtém menos disso não tem capacidade
contributiva. Neste contexto relevam os arts. 70º e 78º, nº1, a), Código do IRS.
Na terceira caraterística já falamos de despesas, com duas características: dizem
respeito à pessoa ou aos familiares considerados relevantes para efeitos de tributação e
essas defesas têm de ter relevo social.
Estas despesas têm de ter a sua dedutibilidade assegurada por quem? Tais despesas
diminuem o rendimento disponível dos sujeitos passivos, são despesas socialmente
relevantes. Nós temos 2 níveis diferentes de relevância social:
Vamos supor que temos 2 sujeitos passivos: A e B. Ambos são colegas de trabalho,
têm o mesmo rendimento, de 20.000€, fazendo os mesmos descontos. O que distingue A
de B? A é solteiro, não tem filhos, enquanto que B, também solteiro, tem 2 filhos
menores e paga 10.000€ de colégio, por ano, tendo ainda o pai num lar, onde paga
2.000€ por ano. Acresce a isto, o próprio B tem uma doença crónica, que tem custos de
8.000€ por ano. A e B não têm quaisquer outros rendimentos.
Se o imposto for pessoal, à partida parecem ter a mesma capacidade contributiva, mas
A dispõe integralmente do seu rendimento, enquanto que B não tem disponibilidade
sobre o seu rendimento, há despesas socialmente relevantes que ele teve de suportar. O
princípio da capacidade contributiva obriga-nos a considerar que A e B não têm a
mesma capacidade, vamos ter de diferenciar a tributação, desde que A e B estejam a ser
tributados de modo pessoal.
A disponibilidade de B, sobre o seu rendimento, é zero! No sistema atual, B tem na
mesma de pagar impostos, o legislador introduz limites,
Vamos agora estudar a distinção entre impostos de quota fixa e impostos de quota
variável, que por sua vez se subdividem em impostos proporcionais, impostos
progressivos e impostos regressivos.
Nos impostos de quota fixa a lei estabelece diretamente o montante de imposto a pagar,
porque nestes impostos não há liquidação em sentido estrito, é o próprio quantitativo do
imposto que é fixado por lei. Estes impostos são iguais para todos, não há necessidade
da operação técnica para obter o montante a pagar.
No nosso sistema estes impostos são raros, temos os da contribuição para os
audiovisuais.
A quantificação do montante de imposto a pagar, nos impostos de quota variável,
resulta da aplicação de uma taxa, i.e., de 1 valor percentual, à matéria coletável. Os
outros impostos que temos em vigor no nosso sistema fiscal traduzem-se neste tipo.
Os impostos de quota variável são uma categoria residual, que se subdivide em:
impostos proporcionais;
impostos progressivos;
impostos regressivos.
enquadrado pela sua totalidade, i.e., o que teríamos de determinar é onde é que os
25.000 cabem, teríamos de nos centrar nos 25.000 e olhar para intervalos. Apurado o
intervalo, aplicaríamos taxa respeitante a essa classe/intervalo: 25.000 x 37%. Não
estaríamos a cometer nenhum erro, se o legislador nos disser que se aplica a
progressividade por classes.
Na progressividade por escalões, desde que seja superior ao limite do 1º
intervalo/escalão, a matéria coletável tem de ser repartida ou dividida sucessivamente
pelos diferentes escalões, pelos diferentes intervalos. Vamos, preenchendo cada 1 dos
escalões e aplicando as taxas respetivas. Teríamos de dividir os 25.000 em parcelas,
pelos limites de cada escalão. À parcela de 7.000 aplicaríamos a taxa de 14,50%, depois
a 13.000 aplicamos a taxa de 28,50%. Falta-nos tributar 5.000, após o preenchimento
do 1º escalão. Aos 5.000 aplicamos uma taxa de 37. Aplicamos aquela taxa por escalões!
Dentro da 2ª parcela não cabem 18.000, só 13.000.
A última taxa nunca é uma taxa média! A progressividade por escalões acaba por ser
mais benéfica, atualmente a solução mais simples é esta, apesar de nos parecer mais
complexa. O nosso Código de IRS assume uma progressividade por escalões.
Voltando à tabela do art.68º, Código IRS, vamos verificar que há duas coluna, a A e B.
A coluna B, que surge para simplificar. Se tiver 1 rendimento que vai para lá do último
escalão, o legislador encontrou uma forma simplificada de fazer as operações. No art.68º,
nº2, Código IRS é dito que, para efeitos de aplicação mais simples da tabela, o
quantitativo do rendimento coletável, sempre que superior a 7.000, é dividido em duas
partes.
Voltando ao nosso ex. temos 25.000 de rendimento coletável. Vamos ter de dividir em
duas partes, o que não significa dividir por 2, a 1ª parte é igual ao limite do maior dos
escalões que nele couber, aqui 20.000, onde aplicamos a taxa de 23,600%. A outra parte
é igual ao excedente, in casu 5.000, onde aplicamos a taxa de 37%, a taxa respeitante ao
escalão imediatamente superior da col. B.
E se fosse com 100.000? Primeiro temos a taxa de 37,650%, aplicando a taxa de 48%
ao que sobra.
Por último, temos o imposto regressivo, que também é 1 imposto de quota variável.
Neste imposto é a própria taxa do imposto, tal como o progressivo, que varia em função
da variação da matéria coletável. No entanto, aqui varia em sentido inverso, i.e., à
medida que aumenta a matéria coletável diminui a taxa.
Aulas 13 e 14 (08/04/15)
Neste contexto, temos ainda de rever a distinção entre impostos estaduais e impostos
não estaduais. O critério é o de saber quem é o sujeito ativo do imposto! Portanto, o
critério é, aparentemente, simples. Se o sujeito ativo é o Estado, então o imposto é
estadual, mas se o sujeito ativo é o ente público ou privado a quem estejam atribuídos
poderes públicos então o imposto é não estadual.
O problema aqui é, como já vimos, a determinação de quem é o sujeito ativo. Esta
questão não é simples, quando falamos na titularidade ativa do imposto, esta
titularidade ativa pode assumir várias formas. Quando falamos nesta podemos estar a
falar de:
Temos impostos, por ex., o IMI, em que estas várias formas de titularidade ativa nos
aparecem repartidas por entes diferentes. No IMI a titularidade do poder normativo cabe
à AR, existe uma reserva de competência legislativa, quem pode legislar em matéria de
IMI, sob o ponto de vista ‘’criador’’, é a AR ou o Governo com autorização da AR.
Estamos num plano estadual.
Contudo, há uma parcela do poder normativo atribuída às autarquias locais. De
acordo com o Código do IMI, as autarquias locais, no que diz respeito à tributação dos
prédios urbanos, podem determinar, em concreto, a taxa a aplicar. As diferentes
autarquias locais exercem uma parcela do poder normativo, que está aqui repartido
entre:
Estado;
Autarquias Locais.
1. Modalidade de Adicionamento;
2. Modalidade Adicional.
em detrimento da outra? Parece óbvio que iríamos olhar para o valor e preferiríamos o
adicionamento, porque a colecta é sempre uma percentagem da matéria colectável.
Mas, no Direito Fiscal temos de pensar fora do que é óbvio. Isto quer dizer que eu
consigo obter a mesma receita obtendo o adicionamento ou o adicional, variando em
taxas mais baixas ou taxas mais altas. Contudo, as taxas elevadas têm o dito efeito
psicológico.
Se soubermos que no IRC, no imposto principal, existem deduções à colecta, por isso
a coleta é provisória. Na realidade, se a sociedade X puder fazer deduções a colecta no
valor de 2.000, a colecta final vai ser 0! Deste modo, pode acontecer que, dada a
configuração do imposto do IRC, existirem muitas sociedades X com muita matéria
coletável mas que não pagam IRC, feito o apuramento todo.
No caso em análise, a sociedade X não paga IRC mas tem de pagar o adicionamento,
i.e., tem de pagar o imposto acessório. Se este for 1 adicional, o que acontece? Quando
partimos do imposto acessório, vamos ao principal e vamos buscar a colecta, por isso a
sociedade X não paga IRC nem adicional, ou seja, também não paga imposto acessório.
Já conseguimos encontrar aqui uma diferença relevante entre o adicionamento e o
adicional: o verdadeiramente acessório é o adicional, isto porque quando só há efetivo
pagamento do imposto principal é que há pagamento do imposto acessório. O universo
de contribuintes atingidos pelo imposto acessório coincide, rigorosamente, com o
universo de contribuintes atingidos pelo imposto principal, i.e., só paga imposto
acessório na modalidade adicional exatamente os mesmos contribuintes que ficam
obrigados a pagar o imposto principal.
No adicionamento isto não acontece, estes universos podem não coincidir, porque há
contribuintes que não pagam imposto principal mas são obrigados a pagar o imposto
acessório, porque a matéria do imposto acessório é a do imposto principal, o que implica
que haja mais autonomia aqui. O adicional é então mais acessório!
Neste momento, a derrama municipal é 1 adicionamento, incide precisamente sobre o
IRC, o seu imposto principal e tem essa especificidade que é a taxa poder ser fixada
pelos municípios, num intervalo que vai de 0 a 1,5‰. Isto quer dizer que o município
tem o poder normativo de decidir não cobrar a derrama. No nosso território temos muita
variação neste campo da derrama, 1 imposto importante porque, por 1 lado, é acessório
e por outro porque nos desafia na tentativa de o classificarmos.
No nosso manual aparecem ainda duas outras classificações, mais teóricas, a que a
docente vai fazer uma referência breve.
Então, podemos ainda distinguir os impostos em impostos gerais e especiais ou em
impostos fiscais e extrafiscais.
Como distinguimos o imposto de fiscal do extrafiscal? Aqui está em causa o elemento
teleológico do imposto. Logo no início vimos que há impostos, os fiscais, que têm como
finalidade única ou predominante a obtenção de receitas, enquanto que outros, os
extrafiscais, assumem como finalidade predominante a modelação de condutas dos
membros da comunidade.
Deste modo, os impostos extrafiscais são impostos que funcionam como instrumentos
de política económica ou social. Os impostos fiscais funcionam como simples
instrumentos de arrecadação de receitas, servem apenas para obter receitas que
permitem cobrir as despesas públicas e executar as tarefas essenciais do Estado.
Portanto, já vimos o caso do imposto sobre o caso dos sacos de plástico, 1 imposto
extrafiscal, porque este imposto implicou uma alteração nos nossos comportamentos.
Por esta razão, há quem chame aos impostos fiscais verdadeiros impostos e aos
impostos extrafiscais chamam falsos impostos. Na terminologia anglo-saxónica chamam
aos impostos extrafiscais impostos suicidas/asfixiantes/sufocantes.
Alguns autores, como o Prof. Casalta Nabais, defendem que só os verdadeiros
impostos estão sujeitos aos princípios constitucional em toda a sua totalidade!
***
1. Vertente Formal;
2. Vertente Material (Princípio da Determinibilidade ou da Tipicidade).
Na vertente formal está em causa saber quem pode legislar em matéria de impostos.
Já sabemos que existe uma reserva relativa de competência legislativa, nos termos do
art.165º, nº1, i), CRP, que nos diz que está reservada à AR a criação de impostos. Esta é
matéria que está reservada, em termos relativos, à AR. Isto quer dizer que estas matérias
podem ser objeto de uma lei de autorização legislativa (art.165º, nº2, CRP).
Esta vertente formal ainda implica se poderem suscitar questões de
constitucionalidade.
A reserva relativa atua num âmbito, do princípio da legalidade, que vale nos
elementos essenciais do imposto. Os elementos essenciais do imposto são (art.103º, nº2,
CRP):
Incidência;
Taxa;
Benefícios Fiscais;
Garantias dos Contribuintes.
Por último, o princípio da capacidade contributiva tem ainda uma manifestação muito
importante, a proibição de presunções absolutas em matéria de tributação.
A seguir temos o princípio do Estado Social, princípio importante, a doutrina procura
para ele um novo patamar de equilíbrio. A nossa CRP nasceu com marcas socializantes
significativas. Dela decorre que Portugal é 1 Estado Social, a nossa CRP impõe então
este princípio, de acordo com o qual o Estado procura, em matéria fiscal, corrigir as
diferenças entre os seus cidadãos, ele atua como 1 agente de correção dessas diferenças,
tributando mais pesadamente aqueles que têm níveis mais elevados de rendimento para
depois redistribuir por aqueles que não atingem níveis tão elevados ou têm níveis
insuficientes.
O princípio em causa decorre dos seguintes preceitos da CRP: arts.2º, 81º, 103º e
104º, nº1. Nenhum destes preceitos pode ser lido sozinho. O art.2º começa por dizer, na
parte final, que a República Portuguesa visa a realização de democracia económica e
social. Este objetivo é concretizado no art.81º, b), que nos diz que incumbe
prioritariamente ao Estado promover a justiça social. Chegamos ao art.103º, nº1 e
encontramos o seguinte: o sistema fiscal visa a obtenção de receitas para cobrir as
despesas públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza. Finalmente, o
art.104º, nº1 diz que o imposto sobre o rendimento pessoal visa a diminuição das
desigualdades e será único e progressivo.
Para terminarmos, temos o princípio da consideração fiscal da família, também 1
princípio constitucional fundamental, consagrado no art.104º, nº1, CRP. Este preceito,
depois de nos dizer que o imposto sobre o rendimento pessoal visa diminuir
desigualdades, diz ainda que este imposto tem de ter em conta as necessidades e os
rendimentos do agregado familiar.
Este art.104º, nº1, teve, historicamente, 1 entendimento muito restrito. Grande parte
da doutrina era da opinião que a tributação era conjunta, isto era 1 imperativo. Mas a
doutrina foi-se evoluindo, tornando-se doutrina maioritária que esta norma não impõe
tal tributação, apenas que seja tida em conta o agregado familiar. A norma permite
então a tributação separada!
A realidade agregado familiar tem de ser tratada de forma especial.
Aulas 15 e 16 (15/04/15)
Dúvidas
Imposto Real
A maior parte dos impostos são reais! O IMI ou o IMT são impostos reais, porque não
têm aquelas caraterísticas que vimos aqui, próprias dos impostos pessoais.
Isenções
Adicionamentos
Para que este 3º tipo de contraprestação específica fizesse sentido eles achavam que
tinha de ser diferente do 1º, a simples emissão do documento já justifica isto.
***
1.
2. O Município do Porto decidiu criar uma TMDIP, a pagar pelas empresas que
oferecem redes de comunicações electrónicas. Temos aqui uma taxa devida pela
utilização e aproveitamento do solo e do subsolo para construção por empresas de
infra-estrutura necessárias para instalação dos equipamentos. A taxa mensal é
fixada em 0.20% sobre o volume mensal de faturação dessa empresa. Podemos
começar por falar dos elementos do conceito tipológico de imposto. Impostos são
diferentes de taxas, eles são unilaterais, enquanto que as taxas são bilaterais.
Uma taxa, tributo bilateral, para ser taxa tem de passar por 2 testes: o teste da
bilateralidade e o da proporcionalidade/equivalência. Em que consiste o teste da
bilateralidade? Primeiro, temos de conseguir identificar uma contraprestação
específica, é imprescindível que ao pagamento da taxa corresponda uma
contraprestação específica (que pode ser 1 de 3 tipos: prestação de bens/serviços
públicos; utilização de bens de domínio público; remoção de limites jurídicos).
Qual é a contraprestação específica aqui em causa? A utilização de 1 bem do
domínio público, está em causa uma utilização de 1 bem do domínio público. Esta
taxa passa no 1º teste. E quanto ao 2º? Tem de existir uma relação de
equivalência ou proporcionalidade entre prestação e contraprestação, ou seja,
entre o montante da taxa e aquilo que é proporcionado às empresas. Este
princípio da proporcionalidade é 1 princípio que diz respeito à quantificação ou
determinação do quantitativo da taxa. No caso, como é que é calculada esta taxa?
O critério é o volume mensal de facturação das empresas. O critério adoptado
parece apontar a capacidade contributiva, aquilo que é usado como referência é o
volume de faturação. A capacidade contributiva é 1 critério para quantificar os
impostos! Se isto é assim há dúvidas se o tributo passa no 2º teste. Segundo o
art.4º, RGTAL, valor não deve ultrapassar o custo da atividade e o benefício
auferido pelo particular. Podíamos dizer que a forma de cálculo está errada,
estamos perante 1 imposto e se estamos perante 1 imposto há
inconstitucionalidade orgânica ou podemos dizer que o princípio da
proporcionalidade, tal como está consagrado no art.4º, com este conteúdo
económico exprime-se no seguinte: o valor não pode ultrapassar o custo da
atividade ou o benefício auferido pelo particular. Se formos por esta 2º resposta,
podemos considerar que o critério utilizado ainda faz algum sentido à luz do art.4º,
porque este diz-nos que 1 dos parâmetros de referência é tentar medir o benefício
auferido pelo particular. Podemos considerar que está garantido o princípio da
proporcionalidade, por isso estamos perante uma taxa, o Município tinha
competência para a criar.
3. Qual a medida adoptada pela AR? A isenção de imposto sobre o rendimento, para
os contribuintes do setor do comércio a retalho que tenham obtidos, nos últimos 3
anos, tenham obtido rendimentos manifestamente baixos. Olhando para esta
medida, há perguntas que colocaríamos logo: O que são rendimentos
manifestamente baixos? Temos aqui 1 conceito indeterminado, 1 conceito carecido
de preenchimento valorativo e gradativo. Que princípio constitucional podemos
chamar e dizer que esta medida não é compatível com esse princípio? O princípio
da legalidade em sentido material, ao qual chamamos princípio da tipicidade ou da
determinibilidade. Este princípio é 1 comando dirigido ao legislador, este quando
legisla em matéria de elementos essenciais do imposto tem de o fazer
determinando, o mais possível, o conteúdo, i.e., tem de o fazer de modo exaustivo
e completo. A técnica legislativa que deve ser utilizada é a dos conceitos
determinados, bem como a regulamentação casuística. Estas técnicas criam
previsibilidade ou certeza jurídica, elas fecham a norma. O âmbito do princípio da
legalidade são os elementos essenciais do imposto (art.103º, nº2): incidência, taxa,
benefícios fiscais e garantias dos contribuintes. In casu está aqui em causa algum
elemento? Está em causa uma isenção de imposto, logo um benefício fiscal. Esta
medida é uma medida que vem regular um benefício fiscal, cria 1 benefício não
respeitando o princípio da legalidade em sentido material. Assim, esta medida é
inconstitucional, temos inconstitucionalidade material.
2. As assembleias municipais, com base na lei e dentro dos seus limites, podem
conceder benefícios fiscais, relativamente a impostos de cuja receita sem titulares.
Será que isto viola o princípio da legalidade, na sua vertente formal? Este princípio,
na sua vertente formal, responde à questão de saber quem pode legislar em
matéria de legislação de impostos. Encontramos a resposta no art.165º, nº1, i),
CRP, que fixa uma reserva relativa de competência legislativa da AR, i.e., pode
legislar a AR ou o Governo, com autorização legislativa da AR, nos termos do art.
165º, nº2, CRP. Esta reserva vale em que âmbito? É para todas as matérias fiscais
ou só para algumas? O âmbito são os elementos essenciais do imposto, definidos
no art. 103º, nº2, CRP: incidência, taxa, benefícios fiscais e garantias dos
contribuintes. Nestas matérias, criar é o mesmo que alterar ou definir os
elementos essenciais. O que este em causa é a atribuição de benefícios fiscais, logo
estamos no âmbito dos elementos essenciais do imposto. O que é que acontece
aqui? É a própria lei que atribui às assembleias municipais 1 poder para, dentro
de determinados limites, conceder benefícios. Literalmente/Textualmente há
violação do princípio da legalidade na sua vertente formal. Substancialmente há
violação do princípio da legalidade na sua vertente formal? O princípio da auto-
tributação ou da representatividade é o fundamento do princípio da legalidade na
vertente formal. A AR é, nos órgãos estaduais de soberania, é aquele que garante a
ideia de que os impostos devem ser criados por aqueles que têm de os pagar,
quem tem competência para legislar em matéria de criação de impostos são
precisamente aqueles que os pagam, que o fazem através dos seus representantes.
As assembleias municipais definem, o que quer dizer que nessa decisão está
assegurado o princípio da auto-tributação, porque elas definem para os impostos
de cuja receita são titulares, os impostos incidem sobre os seus próprios
municípios. O princípio da legalidade não é 1 princípio estanque, tem de ser
articulado com outros princípios constitucionais, designadamente com o princípio
da autonomia financeira das autarquias locais! Tem de se encontrar aqui uma
forma de articular o princípio da legalidade com uma outra disposição
constitucional, o art.238º, CRP.
3.
Aulas 17 e 18 (22/04/15)
Como a docente foi dizendo, a nossa CRP preocupou-se de modo especial com o
Direito dos Impostos, fixando 1 conjunto de princípios que já estudamos, que é até mais
vasto do que aquilo que vimos. Para além dos princípios específicos que vimos (princípio
da legalidade nas suas vertentes, princípio da igualdade fiscal, princípio da segurança
jurídica, etc.) a CRP estabelece ainda a arquitectura básica do Sistema Fiscal, i.e.,
vincula o legislador a determinadas directrizes.
Portanto, para além dos princípios temos este recorte constitucional, 1 outro conjunto
de princípios com 1 alcance que não é tão vasto como os fundamentais mas igualmente
importante.
Começamos com o art.104º, CRP, acerca de pessoas singulares (nº1), segundo o qual
o imposto tem de ser único, progressivo e tem de ter em consideração as necessidades e
rendimentos do agregado familiar. A CRP intervém aqui dizendo ao legislador como é que
ele vai construir a tributação das pessoas singulares.
Entretanto, quanto à tributação das empresas, o art.104º, nº2, CRP fixa 1 princípio
essencial, o da tributação pelo rendimento real. É claro que quando falamos de
tributação das empresas é importante ter em conta o seguinte: quando a CRP fala em
empresas nunca nos refere a forma jurídica que essas empresas podem assumir.
Contudo, nós sabemos que as formas jurídicas podem ser a do empresário em nome
individual, mas também a da sociedade comercial. A CRP não estabelece diferenciação!
Os empresários em nome individual têm os seus rendimentos tributados em IRS, na
categoria B – rendimentos empresariais). Os rendimentos gerados, pelo mesmo tipo de
atividade, mas de uma sociedade comercial, são tributados em IRC.
É preciso fazer uma articulação entre o 104º, nº1 e o 104º, nº2, porque podemos
então ter uma pessoa singular mas esta ser empresária em nome individual!
Acresce a isto que a referida tributação pelo rendimento real é baseada na
contabilidade das empresas.
Já o art.104º, nº3, CRP refere-se à tributação do património, que pretende uma
igualdade entre os cidadãos, não há aqui uma ingerência muito forte da CRP neste
âmbito.
Contudo, em matéria da tributação do consumo, presente no art.104º, nº4, CRP, isto
não acontece. Este onerar dos consumos deve ser pensado de modo a ‘’onerar os
consumos de luxo’’, ainda que isto seja incompatível com a disposição da UE. O IVA
português tem taxas diferentes para os diferentes tipos de bens: tem uma taxa média,
depois há situações de isenção e depois há uma taxa alta, tudo para cumprir esta
disposição constitucional.
O TJ da UE já se foi pronunciando, afirmando que isto não pode acontecer. Uma das
poucas Directivas de Direito Fiscal fala da criação de 1 imposto comum em matéria de
consumo. Tal Diretiva é dos inícios dos anos 80.
Nestes 4 números do 104º temos um ‘’desenho’’ que o legislador deve seguir ao criar o
Sistema Fiscal.
Ainda no contexto das fontes, quando nos referimos ao Direito Europeu estamos a
falar das normas do DUE e do Espaço Económico Europeu. No que diz respeito ao
Direito Fiscal Europeu temos de distinguir:
Integram o Direito Fiscal Europeu próprio 1 conjunto de normas que dizem respeito,
por um lado, à pauta aduaneira comum. Como sabemos, a UE e o EEE constituem, sob
o ponto de vista económico, 1 bloco, 1 espaço que é como se tivesse uma fronteira só,
sem fronteiras internas. Nas exportações são cobrados direitos alfandegários e esta
pauta determina o que pode ser cobrado nessas entradas e saídas para o EEE. Estas
normas estão acima do Direito Fiscal Europeu interestadual.
Depois temos também, ainda no 1º Direito, temos os direitos niveladores em matéria
agrícola/tributação antidumping. Estes são os direitos que estabelecem as quotas de
produção das diferentes culturas dos diferentes países.
Para além disso, também constituem Direito Fiscal Europeu próprio as normas de
tributação dos funcionários da UE, ou seja, das pessoas que trabalham nas instituições
da UE, elas têm regras de tributação específica (muito vantajosas). Estas regras estão
acima dos Estados-Membros de que são nacionais.
Depois temos o tal Direito Fiscal Europeu interestadual, que é direito interno, dos
Estados-Membros, mas é direito que passou por harmonização ou aproximação de
legislações. Quando pensamos na criação da CEE, do mercado único, que depois evolui
para uma união que é económica e monetária, é natural que pensemos que o Direito
Fiscal é o mais próximo da realidade económica. Não há união em termos fiscais!
O Direito Fiscal, o Direito dos impostos, é o último reduto da soberania dos Estados,
ele é a manifestação mais própria do jus imperi. Os Estados não querem abdicar desta
soberania. Em matéria de tributação de sociedades, por ex., as disparidades dentro da
UE são enormes. Nem uma linguagem uniforme há neste campo.
Por este motivo é que o Direito Fiscal Europeu próprio é tão limitado, os Estados não
querem abrir mão da sua soberania em matéria fiscal.
Voltando ao Direito Fiscal Europeu interestadual, este pronuncia-se,
maioritariamente, por Diretivas. No entanto, as Diretivas geram diferenças, ainda que
também consigam alguma harmonização. Nós temos Diretivas, essencialmente, em 3
matérias:
1. IVA;
2. Sociedades (Diretiva das Sociedades Mães-Filhas);
3. Fusões e cisões de Sociedades;
4. Tributação dos grupos societários.
Nas ATI temos protocolos com força jurídica entre as autoridades administrativas dos
diferentes Estados, para que estas possam fazer 1 controlo cruzado acerca dos
rendimentos obtidos nos diferentes países. Estes acordos detectam situações,
potencialmente, irregulares.
As CDT são importantíssimas e visam eliminar/atenuar situações de dupla tributação
jurídica entre diferentes Estados (internacional). Estas Convenções são bilaterais, o que
quer dizer que Portugal tem uma convenção de dupla tributação com Espanha, outra
com o Reino Unido, outra com a França, etc. Neste âmbito, tais convenções apresentam
várias diferenças nos métodos utilizados, que têm em conta o passado e o futuro das
relações entre os países que estão a celebrar a convenção (ex.: Portugal celebra
convenções mais vantajosas com os países que foram suas colónias).
Estas Convenções e os métodos seguem o modelo da OCDE, o que quer dizer que há
1 modelo de convenção da OCDE, que é uma espécie de minuta que contém as múltiplas
regras possíveis. Os Estados, quando estão a negociar estas convenções, têm como
ponto de partida este modelo.
É verdade também que aqui haverá uma tendência para que entre os países que
integram a Comunidade Europeia haja uma aproximação maior.
Esta matéria integra a da aplicação da lei no espaço!
Leis
No contexto das fontes, ainda temos as leis. Quanto aos elementos essenciais dos
impostos, já vimos que apenas podem legislar a AR (Lei) e o Governo (Decreto-Lei
autorizado). Para além destes, temos os Decretos Legislativos Regionais, por meio de Lei
(avulsa) da AR ou de LFRA - Lei das Finanças das Regiões Autónomas – (lei orgânica).
Estes acontecem no ‘’interesse específico da Região Autónoma’’, mas quando precedida
da tal Lei (avulsa) da AR e enquadrada na LFRA.
Vale aqui o princípio da legalidade fiscal!
Regulamentos
Posteriormente, temos os regulamentos, destinados à boa execução das leis, eles são
intervenções legislativas que têm de estar sempre enquadrados por uma lei. Aqui vale
então o princípio da legalidade administrativa, que determina precisamente isto: 1
regulamento é sempre 1 ato que permite a execução de uma lei da AR ou de 1 Decreto-
Lei do Governo.
Estes regulamentos podem ser emitidos pelo:
Governo:
o Decreto Regulamentar;
o Despacho Normativo;
o Portaria.
Regiões Autónomas;
Autarquias Locais (emitidos pelas Assembleias Municipais);
Institutos Públicos.
Em todas estas situações o que é fundamental? Estes regulamentos têm de ter sempre o
fundamento na lei, i.e., tem de haver uma lei que diga que uma determinada matéria
será regulamentada, por ex.
Deste modo, a própria lei tem de apontar para o enquadramento legislativo destas
intervenções.
Em matéria de elementos essenciais do imposto, os regulamentos nunca podem ter
caráter inovador, i.e., a lei tem de definir sempre os limites em que quem vai
regulamentar tem de respeitar. Acresce a a isto que em matéria de liquidação e cobrança
de impostos (art.8º, nº2, a), LGT) os regulamentos também não podem ter caráter
inovador.
Dentro desta matéria dos regulamentos, há uma diferença entre regulamentos
externos e regulamentos internos. Em matéria fiscal estes também podem surgir, os
regulamentos internos assumem aqui um caráter fundamental, das intenções, circulares
da Administração Tributária. O que é este direito circulatório? A AT emite múltiplas
instruções ou circulares, que são regulamentos internos, i.e., fixam directrizes,
instruções propriamente ditas, que são destinadas aos funcionários da AT, dizendo-lhes
como eles devem proceder. Umas vezes estes regulamentos dizem respeito a matérias
procedimentais, explicando como se deve interpretar esta ou aquela norma do Código do
IRS ou do IRC.
Assim, os regulamentos internos apenas vinculam os agentes ou funcionários da
Administração!
Contratos Fiscais
Os contratos fiscais em sentido impróprio também não são fonte de Direito, eles só
são admitidos nos termos e limites da própria lei.
Nestes termos nem os contratos fiscais em sentido próprio nem os em sentido próprio
constituem fonte de Direito Fiscal! Mas é importante aprendermos a distingui-los.
***
Interpretação e Integração de Lacunas das Normas Fiscais
O que é que temos de estudar sobre isto? Em matéria de interpretação não há muito
que saber, temos é de fazer 1 ponto de ordem. Ao longo do tempo, todas as
especificidades próprias do Direito Fiscal levaram a que, historicamente, fossem sendo
propostas doutrinas específicas para a interpretação das normas fiscais.
Esses cânones intepretativos eram interessantes, mas completamente inaceitáveis.
Foi afirmado 1 princípio específico da interpretação das normas fiscais, uma dúvida
deveria ser resolvida no sentido mais favorável ao fisco. Esta é a corrente interpretativa
designada de in dubio pro fisco.
Contudo, com as Revoluções Liberais, no séc. XVIII, esta corrente caiu, havia uma
afirmação de defender os cidadãos contra as decisões arbitrais do Estado. Surge então
uma nova corrente, completamente oposta: na dúvida a decisão deve ser contra o fisco,
ou seja, a favor do contribuinte.
Na entrada do séc. XX, estas correntes foram manifestando-se, quer uma quer outra.
Surgem também algumas teorias mais refinadas, como uma corrente de interpretação
económico-funcional: interpretação tendo em conta a finalidade económica dessa mesma
norma.
Chega-se à conclusão que as normas ficais interpretam-se de acordo com os cânones
fixados no art.9º, CC! A interpretação faz-se então nos termos gerais. A LGT, no art.11º,
pode suscitar-nos dúvidas, ainda que diga exatamente o que diz o art.9º.
Logo a seguir, vem o nº2 do 11º, segundo o qual temos de ter em atenção que o
Direito Fiscal é 1 ramo de sobreposição, as normas fiscais vêm caracterizar o modo de
tributar realidades que já têm uma qualificação feita por outros ramos de Direito.
Quando pensamos em renda,, por ex., pensamos em prédio, pode ser 1 imóvel, 1 terreno,
1 edifício, etc. O conceito de renda, no Direito Civil, é o rendimento de 1 imóvel. No
Direito Fiscal, estes conceitos têm 1 conteúdo diferente, porque as próprias normas
fiscais o prevêem. Temos o ex. do art.8º, que fala de rendas, onde enquadramos as
rendas prediais.
Se a docente nos perguntar se 1 barco, atracado num porto, durante 2 anos, ou se
uma roulote, instalada num parque campismo, utilizada como bar, durante 2 anos, são
bens imóveis dizemos que não, para efeitos civis. Para efeitos fiscais, quer o barco quer a
roulote, se estiverem parados, durante 1 ano, são considerados bens imóveis, há 1
contrato de arrendamento.
Depois do art.11º, nº1 dizer-nos a regra geral e o nº2 fazer uma chamada de atenção,
o nº3 do art.11º diz que temos de interpretar tendo em conta a substância económica
dos factos, ou seja, parece que segue uma daquelas correntes designadas anteriormente.
A doutrina diz-nos que temos de passar por cima deste nº3, as normais fiscais devem
ser interpretadas pelo art.9º, Código Civil! Esta norma está em conflito com as normas
anteriores.
Em matéria de integração de lacunas, sabemos que uma lacuna é uma situação
juridicamente relevante, ou seja, merecedora de tutela pelo Direito e que não está
regulada, não tem resposta na lei (texto ou espírito). O que acontece quando há uma
lacuna em matéria fiscal?
Temos princípios fiscais que se aplicam aqui, nomeadamente o princípio da legalidade
fiscal na sua vertente material: o legislador deve criar tipos legais fechados (princípio da
tipicidade e princípio da determinibilidade). Se há uma situação que foge a este tipo,
mas é 1 bocadinho parecida, a AT não pode dizer que esta é parecida com outra situação
e que por isso vai ser tributada como essa. Isto iria contra a finalidade de certeza
jurídica do princípio da determinibilidade.
O primeiro obstáculo na integração de lacunas são os elementos essenciais do
imposto (princípio da legalidade na vertente formal), porque a integração de lacunas, a
realizar-se, é feita pela AT ou pelos Tribunais. Mas não se admite a estes a integração de
lacunas em matéria de criação, definição ou alteração dos elementos essenciais do
imposto, há uma reserva relativa da AR.
Assim, apenas há proibição de recurso à analogia na matéria dos elementos
essenciais do imposto. Há aqui uma prevalência da segurança sobre a justiça (igualdade).
No entanto, quanto mais seguras forem as normas fiscais, mais amplo é o risco de
evasão ou fraude fiscal. Por este motivo, a doutrina começou a admitir uma flexibilização
destes princípios.
Aulas 19 e 20 (29/04/15)
O art.11º, nº4, LGT faz referência a este problema da interpretação das lacunas, em
termos razoáveis e nos termos em que a lei se pode pronunciar nesta matéria. No âmbito
dos elementos essenciais do imposto, as lacunas não susceptíveis de preenchimento por
recurso à analogia ou por recurso a qualquer outro mecanismo. Há aqui 1 defeito: o
legislador apenas se refere à analogia como a única possibilidade de preenchimento de
lacunas. A razão de ser desta proibição é o princípio da legalidade.
***
A larga maioria da doutrina afirma que não se trata de uma proibição absoluta, ela é
uma proibição relativa, o art.103º, nº3 não proíbe todo o tipo de retroatividade. O TC é
da mesma opinião, ele diz que proíbe apenas contra aquela que atenta contra os
princípios anteriormente enunciados.
da sua entrada em vigor. Depois temos o nº3, que se refere a normas sob procedimentos
e processos.
Portanto, as duas normas que temos de utilizar para resolver situações como o 1º
caso entregue hoje são os nºs 1 e 2 do art.12º, LGT!
A proibição da retroatividade só vale para normas oneradoras.
Os problemas que nos podem surgir na vida real, enquadram-se num dos 2 tipos de
casos práticos que a docente forneceu. Qual a diferença entre as hipóteses práticas que
seguem?
Na 1ª hipótese entrou em vigor uma lei nova, que veio alterar a taxa de 2 impostos,
mas ela não disse nada sobre a sua própria aplicação no tempo, enquanto que na 2ª
hipótese a própria lei regula a sua aplicação no tempo, ela veio determinar a sua
aplicação retroativa, i.e., a lei nova veio expressamente atribuir caráter retroativo às
alterações, ela iniciou a sua vigência em Julho de 2015 e veio ela própria dizer que se
aplica desde 1 de Janeiro de 2015.
O 1º caso tem 1 problema mais simples, temos 1 tipo de problema que tem de ser
analisado e resolvido no plano estritamente legal. Não devemos tentar resolvê-lo
aplicando a CRP, não é isso que se pretende. O art.12º, LGT é utilizado para resolução
destes casos.
O princípio da segurança jurídica e a distinção entre retroatividades seria o esquema
utilizado para resolver o 2º caso. Este é 1 tipo de problema que temos de analisar e
resolver no plano constitucional, i.e, o plano em que nos situamos para analisar este
tipo de questão é por apelo ao princípio da segurança jurídica e ao art.103º, nº3, CRP,
há distinção entre retroatividade própria e imprópria, com as consequências assinaladas.
I.
Em Abril de 2016 surge uma lei nova a alterar as taxas do IRS e do IVA. Como
deverão ser aplicadas, no tempo, tais alterações? Aqui temos alterações ao IRS (taxas) e
temos alterações ao IVA (taxas).
Quanto às alterações ao IRS, temos um imposto periódico, o seu facto gerador é
complexo e de formação sucessiva. Segundo o art.12º, nº2, LGT, as taxas trazidas pela
lei nova só podem aplicar-se ao período decorrido a partir do início de vigência da lei
nova. Nestes termos, de 1 de Janeiro a 1 de Abril de 2016, aplicamos a lei antiga, de 2
de Abril a 31 de Dezembro de 2016, aplicamos a lei nova.
Isto geral aqui alguma dificuldade, 1 contribuinte pode ter obtido a maior parte dos
seus rendimentos na vigência da lei nova. Na prática, este nº2 é aplicado e interpretado
pelo princípio pro rata temporis: vamos dividir o rendimento anual por 12 e vamos
imputar 1/12 desse rendimento a cada 1 dos meses do ano, por isso a 3/12 do
rendimento anual aplicamos a lei antiga e a 9/12 do rendimento global aplicaríamos já
as taxas da lei nova.
Relativamente às alterações ao IVA, temos um imposto de obrigação única, o seu facto
gerador é instantâneo. Nestes termos, aos factos ocorridos até 1 de Abril, aplicamos a
taxa da lei antiga, mas ao factos ocorridos a partir do início de vigência aplicamos a taxa
da lei nova. Aplicamos então o art.12º, nº1, LGT.
II.
Em Julho de 2015 surge uma lei nova a alterar a taxa de tributação de 28% para 30%.
A lei nova estabelece ainda que a produção de efeitos decorrerá desde 1 de Janeiro de
2015.
António recebeu rendimento em Abril de 2015, ele pretende saber se a lei pode
consagrar uma solução deste teor. À partida, temos retroatividade imprópria.
Residência;
Nacionalidade.
Aulas 21 e 22 (13/05/15)
Na última aula vimos que temos países que tributam em função da residência do
titular dos rendimentos, enquanto que outros países tributam em função da origem dos
rendimentos, tendo uma pretensão tributária limitada (rendimentos obtidos no seu
próprio território), enquanto que o o país da residência vai ter uma pretensão tributária
ilimitada (todos os rendimentos, independentemente do local da obtenção – world wide
income).
Neste contexto, pode surgir o fenómeno da dupla tributação internacional, há o
surgimento de 1 conflito de pretensões tributárias entre 2 ou mais Estados. Deste modo,
interessa-nos precisar o conceito de ‘’dupla tributação internacional’’: internacional
decorre da relação dos Estados; dupla tributação, que tem de ser jurídica, muitas vezes
temos 2 impostos a incidirem sobre a mesma realidade, como 1 imóvel (IRS e IMI), nesta
situação há uma duplicidade, mas esta é económica, assim como se uma sociedade com
3 sócios gerar lucro, sendo esse distribuído pelos sócios, essa realidade é tributada a
nível de IRC, na própria pessoa coletiva, e a nível de IRS.
Quando temos então dupla tributação jurídica? Nos últimos 20 anos chegou-se a 1
consenso, apesar das divergências. Para termos dupla tributação jurídica, temos de ter
presente a regra das 4 identidades:
1. Identidade do Objeto;
2. Identidade do Sujeito;
3. Identidade do Período de Tributação;
4. Identidade do Tipo de Imposto.
Nestes termos, temos de ter 2 impostos diferentes, a incidir sobre a mesma matéria
coletável (1.), na titularidade do mesmo sujeito (2.), em relação ao mesmo período de
tributação (3.) e o tipo de imposto ou o título a que a tributação se realiza tem de ser o
mesmo (4.), i.e., tem de ser imposto sobre o rendimento ou imposto sobre o património,
ou seja, não podemos ter 2 tipos diferentes de impostos. No ex. da sociedade, a dupla
tributação é só económica porquê? Temos incidência sobre a mesma matéria coletável
(lucros), período de tributação é o mesmo, bem como o tipo de imposto, mas o sujeito é
diferente, primeiro tributam-se pessoas coletivas e depois pessoas singulares. O mesmo
acontece no ex. do proprietário do imóvel, aí o tipo de imposto é diferente, 1 é sobre
rendimento e outro é sobre património, a realidade a ser tributada, o prédio, é a mesma,
mas o tipo de imposto é diferente!
A dupla tributação jurídica pode surgir, porque os Estados não estão bem articulados
na definição dos elementos de conexão. Basta que Espanha tenha um elemento de
conexão de residência definido como o nosso para surgir aqui 1 problema. Este é o 1º
nível problemático.
Se tivermos, por ex., o António, residente em Portugal, onde obtém 50.000. Ele é
médico e é convidado a dar uma formação técnica breve em Espanha, para onde se
desloca e obtém 10.000. Esta é uma situação perfeitamente comum, que gere 1
problema de dupla tributação internacional. Espanha tem legitimidade para tributar
sobre o rendimento dos 10.000, é o local onde o rendimento foi obtido, ela tem uma
pretensão de tipo real, do ponto de vista pessoal o único Estado com conexão relevante
com esta pessoa é o português.
Nestes termos, António é tributado a 1 taxa de 20%. Normalmente, isto é inequívoco,
o país da origem ou da fonte, normalmente, não está disposto a abdicar da tributação
dos rendimentos gerados no seu território. Espanha vai então tributar os 10.000 a uma
taxa de 20%, por isso vai pagar 2.000 de imposto.
O sujeito é residente em Portugal, o nosso CIRS diz que o âmbito da sujeição quanto
aos residentes é quanto ao world wide income (arts.13º, nº1, 15º, nº1 e 68º), daí Portugal
vai querer tributá-lo por 60.000, ainda por cima com taxas progressivas. O mesmo
sujeito vai ser tributado duas vezes, por impostos do mesmo tipo, em relação ao mesmo
período de tributação e com incidência sobre a mesma matéria coletável, os 10.000 já
foram tributados em Espanha e agora vão ser tributados em Portugal.
No início dos anos 60, do séc. passado, foi criado, ao nível da OCDE, um Comité para
estudar estes problemas e criar soluções. A 2ª Guerra Mundial tinha terminado há 15
anos, sensivelmente, depois do período de recuperação houve uma nova fase de
crescimento económico, este problema começa a agravar-se. O tal Comité propõe o
Modelo de Convenção da OCDE (MOCDE), uma convenção-modelo para eliminar ou
atenuar a dupla tributação internacional, estes peritos estudaram o problema e
propuseram soluções. Qual é a solução? Nestas situações é preciso que os Estados se
entendem, sendo que este entendimento surge pela elaboração de convenções, daí ter
surgido o MOCDE, que é uma espécie de ‘’minuta’’, tem 1 conjunto de regras disponíveis.
Portanto, este modelo tem 2 objetivos:
Este modelo é soft law! As regras do MOCDE só valem se os países adoptarem uma
convenção entre eles.
Quando celebrada convenção, as normas internas que definem o conceito de
residência (art.16º, CIRS) e o conceito de local de obtenção de rendimentos (art.18º,
CIRS) cedem perante a convenção celebrada.
O MOCDE ainda prevê os métodos para atenuar ou eliminar os métodos de dupla
tributação, parte de 1 critério que hoje começa a ser discutidíssimo no plano
internacional. Os próprios comentários ao MOCDE chamam a atenção para a evolução
nesta matéria. Nestes casos, 1 país vai ter de ceder. Qual é o país mais provável a ceder?
No nosso ex., parece que é Portugal, porque quando Portugal tributa rendimentos fora
do seu território está a ‘’estender os seus braços’’ para fora das suas fronteiras. Quando
se olha, temos de ver qual é a tributação inegável, sendo esta a do país de origem dos
rendimentos.
Assim, o Estado que cede é o Estado de residência, porque exerce pretensão tributária
sobre factos localizados fora do seu território!
Nestes termos, os métodos para atenuar ou eliminar a dupla tributação internacional,
previstos no MOCDE, são:
1. Método da Isenção;
2. Método da Imputação.
mas, o mesmo país da residência, permite que à sua coleta seja deduzido o imposto pago
no país da fonte (à coleta do país da residência seja deduzida a coleta do país da fonte).
No nosso ex., Espanha tributará 10.000 com a taxa de 20%, obtendo 2.000, enquanto
que Portugal vai tributar 50.000 mais 10.000, com as taxas progressivas, mas, a esta
coleta, o país vai permitir subtrair os 2.000 pagos em Espanha.
No método da isenção encontramos o método da isenção total/integral, onde o país da
residência isenta de tributação o rendimento de fonte estrangeira. Deste modo, Portugal
tributa os 50.000 com as taxas progressivas, enquanto que Espanha tributa os 10.000
com a taxa de 20%, obtendo 2.000. Este método tem como objetivo a eliminação da
dupla tributação internacional, o que significa o Estado de residência abdicar,
totalmente, da pessoalização.
Neste contexto, surge uma outra classificação no método da isenção, o método da
isenção com progressividade, onde o país da residência isenta de tributação os
rendimentos de fonte estrangeira, mas tributa os rendimentos de fonte interna à taxa
progressiva correspondente à totalidade do rendimento, o rendimento global mundial.
Espanha vai então tributar os 10.000 à taxa de 20%, pagando António 2.000. Portugal
vai considerar como matéria coletável 50.000, mas o rendimento de fonte estrangeira vai
ser determinante para determinar a taxa progressiva para tributar estes 50.000, será a
taxa que corresponderia os 60.000. O país da residência não abdica de, em termos
internos, pessoalizar a tributação.
Este 2º sub-método apenas atenua, contrariamente ao que acontece no 1º, porque o
país da residência cede, mas não o faz completamente!
No método da imputação integral, no caso do António Espanha vai continuar a
tributar os 10.000 à taxa de 20%, pagando 2.000, enquanto que Portugal vai tributar os
60.000 com a taxa progressiva, mas vai permitir uma dedução, a dedução do pago em
Espanha. Este sub-método do método da imputação, vai permitir uma eliminação da
dupla tributação internacional.
Para além deste sub-método, temos ainda o da imputação ordinária ou limitada, onde
o país da residência inclui na sua matéria coletável o rendimento de fonte estrangeira,
tributa a totalidade da matéria coletável às taxas próprias (progressivas). Permite à
dedução à coleta do seu imposto da coleta do imposto pago no país da fonte, mas impõe
1 limite à dedução.
Esse limite é igual à fração do imposto português, i.e., do país da residência relativo
aos rendimentos obtidos no país de origem. Para encontrarmos o limite temos de
perguntar quanto é/seria pago no país da residência pela obtenção dos rendimentos em
Espanha. Temos de fazer 1 exercício para determinar qual é a taxa do imposto português
que incide sobre 1 montante de rendimento igual ao obtido no país da fonte.
Este método significa que em Portugal, o António vai ser tributado nos 60.000 com as
taxas progressivas, fazendo-se uma dedução de 2.000, o imposto que já pagou, desde
que este não seja superior ao tal limite. O que significa isto? Tudo dependerá, na prática,
do jogo entre as taxas dos 2 países. Se Portugal e Espanha tributarem o rendimento à
mesma taxa, i.e., Portugal tributa a uma taxa de 20% e Espanha também, 2.000 é o
limite máximo que Portugal permite deduzir. Portanto, ele em Portugal vai conseguir
deduzir tudo, ele pagou 2.000 em Espanha.
Quando as taxas de tributação dos 2 países são iguais, i.e., país da residência é 20%
e no país da fonte também, o método da imputação ordinária ou limitada, ainda que
‘’limitado’’, conduz a uma eliminação da dupla tributação, porque o limite é exatamente
igual.
Quando as taxas de tributação do país de residência são mais altas que as do país da
fonte, por ex., no país da residência são de 30% e no país da fonte são 20%, aqui a lógica
é a mesma, a dedução é igual ao imposto pago no país da fonte, no nosso ex. são 2.000,
com 1 limite, cujo valor do limite é de 3.000. Ele vai poder deduzir 2.000, com o limite
máximo que é fixado pela articulação da taxa portuguesa. Então acaba por haver na
mesma eliminação da dupla tributação internacional.
***
O IRS
O IRS é imposto introduzido no nosso Sistema Fiscal em finais dos anos 80, ele surge
numa reforma global de tributação, que abrange a tributação das pessoas singulares,
estando associado ao IRC e ao IMI. Este imposto é 1 imposto que adopta aquilo a que
chamamos 1 regime semi-dual. O que é que isto quer dizer?
Antes do IRS nós tínhamos uma combinação entre impostos cedulares, tínhamos
várias cédulas de rendimento e cada uma tinha um imposto (imposto profissional,
imposto de capitais, contribuição industrial, contribuição predial, imposto da indústria
agrícola e o imposto de mais-valias), com regras próprias e taxas de tributação próprias,
e tínhamos os impostos de sobreposição, os impostos complementares, com filosofia
própria, era o imposto onde se fazia a pessoalização, depois de as pessoas terem sido
tributadas isoladamente por cada uma da suas parcelas, surgindo aqui as taxas
progressivas.
No decorrer dos anos, esta concepção foi-se baralhando, porque os impostos
cedulares eram os proporcionais e reais, só depois é que aplicávamos as taxas
progressivas. Devido à necessidade de receitas, foram introduzidas distorções a esta
lógica. A maior parte dos agravamentos incidia essencialmente na tributação dos
rendimentos do trabalho, o que é normal. Nos impostos profissionais começaram então a
ser aplicadas taxas progressivas, o sistema começou a ficar 1 caos, por isso foi
necessária uma reforma.
Neste contexto, ao dizermos que o IRS tem 1 regime semi-dual, referimo-nos à sua
base. De acordo com o art.104º, nº1, CRP o IRS é 1 imposto único, progressivo e ter em
conta as necessidades e os rendimentos do agregado familiar, são imperativos
constitucionais. O sistema anterior não apoiava isto, era anterior à CRP, ele só cumpria
a progressividade.
O sistema anterior era cedular e era dual porque tributava primeiro os rendimentos
isoladamente considerados, por parcelas, com taxas próprias e num 2º momento voltava
a tributar. Algumas reminiscências deste sistema anterior passaram para o sistema
atual.
Temos então a incidência real, que surge delimitada no art.1º, CIRS, este preceito
contém a definição ampla de incidência. Depois é definida categoria por categoria:
Porque há 1 salto nesta ordem alfabética? O IRS, em 1989, foi criado com 9 categorias
de rendimentos, de A a I. Hoje, só temos as 6 categorias anteriormente enunciadas,
desapareceram a C, D e I. A categoria B tornou-se aquilo a que chamamos uma ‘’super-
categoria’’, porque incorporou as antigas categorias C e D. Anteriormente, a categoria B
era a dos rendimentos do trabalho independentes. O legislador entendeu que devia
juntar as 3 categorias.
O legislador do CIRS já tinha pensado nisto, queria uma categoria única mas as
ordens profissionais reagiram muito mal, porque não queriam ser misturadas com os
comerciantes. Eles entendiam que exercer uma atividade profissional liberal não era a
mesma coisa que exercer uma atividade industrial individual.
O regime fiscal deve ser o mesmo, por uma questão de justiça, para que haja
neutralidade fiscal é necessário que o regime seja igual para aquilo que é igual.
O imposto pretende ser único, mas aparece-nos logo dividido por categorias. Porquê?
Os rendimentos são diferentes, têm caraterísticas diferentes, modos de obtenção
diferentes e custos de obtenção igualmente diferentes. O legislador não encontrou uma
solução justa e ignorasse tais diferenças. Por isso, o legislador optou por manter a
separação por categorias, manter a lógica de dualização.
Para além disto, no processo de apuramento do imposto a pagar, temos uma divisão
em duas fases sucessivas:
Aulas 23 e 24 (19/05/15)
Sobre a relação jurídica tributária vale dizer que esta é uma relação obrigacional
complexa e esta complexidade manifesta-se em 2 planos diferentes:
Relativamente aos sujeitos, já vimos em que é que esta complexidade traduz, vimos 4
formas diferentes de titularidade ativa:
Também vimos que, em alguns impostos, estas formas de titularidade não coincidem em
alguns sujeitos, como acontece no IMI. Nestes impostos a competência tributária e a
capacidade tributária ativa é o Estado, enquanto que, quanto ao titular da receita, este
imposto é não estadual.
Sobre o ponto de vista do sujeito passivo, no que diz respeito ao dever primário ou
principal de prestação (obrigação de pagamento de imposto) este dever cabe ao chamado
‘’devedor do imposto’’. Portanto, o devedor do imposto é aquele a quem incumbe realizar
o dever primário/principal de prestação, ou seja, a obrigação de pagar o imposto.
Contudo, este devedor do imposto, por norma, coincide com o contribuinte, aquele
que preenche os pressupostos de factos da norma de tributação e é, para além disso,
aquele que suporta o encargo patrimonial inerente ao pagamento do imposto. O que é
que isto quer dizer?
O contribuinte é aquela pessoa que, com a sua conduta, preenche, realiza, o facto
gerador. Se o imposto em causa é, por ex., o IRS, o contribuinte é aquele que obtém 1
dos rendimentos descritos numa das categorias do CIRS. Se tivermos 1 trabalhador
dependente que recebe o seu salário, este é contribuinte, ele obtém rendimentos
qualificáveis com a Categoria A do IRS, ele suporta o encargo, o desfalque inerente ao
pagamento, é aquele de cujo o bolso sai o montante de imposto a pagar.
Mas há situações em que isto não acontece, há situações de não coincidência entre o
devedor do imposto e contribuinte, temos situações em que nos podem surgir
substitutos, responsáveis ou sucessores, tudo isto quanto ao dever primário. Quando
falamos do sujeito passivo referimo-nos então ou ao devedor do imposto ou ao
contribuinte ou aos substitutos, responsáveis ou sucessores.
Para além disto, ao lado do dever primário, nós temos deveres acessórios, no sentido
de deveres secundários (tal como lhes chamamos no Direito das Obrigações), não
estamos a falar de deveres laterais de conduta. Estes deveres acessórios incorporam,
essencialmente, deveres secundários, traduzindo:
obrigações declarativas;
obrigações de comunicação;
obrigações de informação.
Estes deveres acessórios, destinados à boa realização do dever primário, podem caber
ao contribuinte, ao devedor ou a terceiros estranhos ao vínculo tributário. O Prof.
Casalta Nabais indica-nos vários exs., temos aqui os notários que intervenham na
celebração de contratos de alienação onerosa de bens imóveis, que têm obrigações de
indisponível;
inegociável;
imodificável;
irrenunciável;
intransmissível.
1. Obrigação de declarar;
2. Obrigação de englobar;
3. Obrigação de pagamento do imposto.
A retenção tem a natureza de adiantamento de pagamento por conta do que será devido.
Isto irá originar deduções à coleta (arts.78º, nºs 2 e 3, CIRS). Na substituição total isto
não acontece, o efeito liberatório é total.
Vamos agora ver a responsabilidade em caso de substituição, prevista no art.28º, LGT.
Percebido funcionamento da substituição e os seus sub-tipos, temos de tentar perceber
o que acontece quando algo corre mal, quando o substituto retém o montante e não o
entrega o Estado ou quando não retém o montante/retém mas não o faz como está na lei.
Tais problemas estão resolvidos no art.28º, LGT, norma geral nesta matéria, interessa-
nos então ver o regime da responsabilidade em caso de substituição.
O art.28º, LGT tem 3 números, vamos analisá-los aqui 1 a 1. No art.28º, nº1 surge a
situação de quando houve retenção, mas não ocorreu a entrega nos cofres do Estado. Se
houve retenção e não houve a entrega nos cofres do Estado, o substituto/entidade
pagadora responde pelas importâncias que reteve e não entregou. No ex. anterior, a
empresa x retém 20 e estes nunca chegam ao cofre do Estado, ele quer saber quem
responde, dizendo o nº1 que responde o substituto, ficando o substituído desonerado de
qualquer responsabilidade.
O art.28º, nº2 já tem pressupostos diferentes, aqui não houve retenção ou a retenção
que houve foi inferior ao devido, as importâncias que deviam ter sido retidas não o foram.
Para além disto, a retenção tinha a natureza de pagamento por conta, era uma
substituição parcial, o art.28º, nº2 diz-nos que o substituído responde originariamente
pelos montantes não retidos, i.e., o substituído, o titular dos rendimentos, vai responder
pelos 20 que lhe foram entregues. Em primeira linha, é ele o responsável.
Mas, o substituto responde subsidiariamente, tendo direito de regresso, pelas
importâncias que deviam ter sido retidas e não foram e, para além disso, cabe-lhe a ele o
pagamento dos juros compensatórios. Quando a retenção tinha a natureza de
pagamento por conta e nem houve retenção ou houve retenção em montante inferior, é o
substituído que responde diretamente, a título originário, pelo que recebeu a mais e, se
ele não tiver bens, responde a entidade pagadora dos rendimentos, que deu causa ao
problema.
O art.28º, nº3, LGT trata os demais casos. O que nos falta? Os casos, de substituição
total, em que não houve retenção, de todo, ou houve mas inferior ao devido e a retenção
tinha caráter definitivo (não consta na lei, é o que podemos deduzir, retirar). Qual é a
solução aqui? O nº3 diz-nos que o substituído é apenas subsidiariamente responsável
pelo pagamento da diferença.
No que diz respeito à r.j.tributária ainda temos de ver mais 3 figuras:
1. Sub-rogação fiscal;
2. Sucessão fiscal;
3. Responsabilidade fiscal por dívidas de outrem.
Aulas 25 e 26 (20/05/15)
próximo ano, em 2016, eu obtiver rendimento líquido de 3000, em 2016 vamos aos 3000
subtrair o resultado negativo que trago de trás e que está à espera de ser reportado. Se
tivesse tido 500, ia ficar com -500. Esta dedução faz-se, não tem de ser repartida pelos
diferentes anos, ela faz-se mal exista resultado positivo na mesma categoria.
Assim, temos aqui 1 desvio importantíssimo ao englobamento!
Quando fazemos o englobamento e depois sujeitamos os rendimentos à tabela de
taxas progressivas, podemos ter ainda uma outra especificidade. O nosso Código, hoje,
consagra a regra da tributação separada dos cônjuges (art.13º, nº2, CIRS), com opção
pela tributação conjunta. Quando há opção pela tributação conjunta, fazemos o
apuramento de cada categoria para cada 1 dos cônjuges, quando se efetua o
englobamento soma-se tudo, neste caso, dos 2 cônjuges, englobamos o agregado familiar.
Ao aplicar as taxas progressivas, temos de aplicar um método de divisão (art.69º, CIRS):
há 1 fator de divisão em que cada cônjuge vale 1 e cada dependente vale 0,3.
Se tivermos A casado com B, A obtém 30.000 e B 10.000, eles optam pela tributação
conjunta. No englobamento vamos apurar o rendimento global líquido deste agregado,
portanto somamos 30.000 com 10.000, o seu rendimento é então de 40.000. Se
fossemos aplicar aos 40.000 as taxas progressivas do 68º, o casal iria pagar impostos
muito elevados. Para estas situações, o art.69º diz-nos que os 40.000 têm de ser
divididos por 2, porque cada 1, para este efeito, vale 1, por isso vamos aplicar as taxas
do 68º a 20.000. Depois vamos à coleta de cada 1 (20.000 x taxa do art.68º) e
multiplicamos por 2, obtendo assim a coleta do agregado.
Categorias do IRS
Categoria A
Categoria B
1. Regime Simplificado;
2. Regime da Contabilidade.
Estes 2 regimes estão previstos no art.28º, CIRS, segundo o qual ficam no regime
simplificado os titulares de rendimentos que não ultrapassem 1 rendimento anual de
200.000. Já no regime da contabilidade ficam os titulares de rendimentos superiores a
200.000, podendo este regime funcionar como opcional, se bem que é obrigatório para
quem obteve rendimentos superiores a 200.000.
Nestes termos, quem obteve rendimentos inferiores a 200.000, se quiserem, podem
ver o seu rendimento líquido apurado pelo regime da contabilidade.
Qual a diferença entre estes 2 regimes? No regime simplificado (art.31º, CIRS) temos
1 regime de apuramento do rendimento líquido em que o apuramento é 1 apuramento
feito em abstracto, 1 apuramento feito de acordo com coeficientes fixados pela lei, o
próprio art. 31º fixa esses coeficientes. O que está implícito a este apuramento, em
abstracto, é uma presunção de custos para a obtenção de rendimentos.
O art.31º fixa os tais coeficientes e diz-nos que temos 1 coeficiente de 0,15 para as
atividades empresariais (alínea a) e outro de 0,75 para as atividades profissionais (alínea
b).
Se eu tiver o A, trabalhador independente, que obtém o rendimento bruto de 10.000 e
ele estiver no regime simplificado, o rendimento líquido é igual ao rendimento bruto x o
tal coeficiente. O rendimento líquido é então igual a 10.000 x 0,75, i.e., 75% de 10.000,
ou seja, 7.500. O rendimento líquido é apurado assim, independentemente da situação
real (custos que efetivamente suportou). Isto é o mesmo que dizer que a lei presume
custos de 25%, porque apenas o tributa por 75%.
Nas atividades comerciais e industriais acontece exatamente o mesmo, só que o
coeficiente é diferente! Se tivermos o B, comerciante em nome individual que explora 1
restaurante, com o rendimento bruto de 10.000, se ele estiver no regime simplificado é-
lhe aplicado o coeficiente de 0,15, por isso o rendimento líquido é igual ao rendimento
bruto x o coeficiente, ou seja, o rendimento resulta de 10.000 x 15%, por isso só vai ser
tributado por 1.500, relativamente a esta categoria. Isto significa que há aqui uma
presunção de custos de 85% do valor do rendimento bruto, enquanto que nas atividades
profissionais são apenas 25%.
O que significa dizermos que o apuramento é feito em abstracto? Os custos
efetivamente suportados são irrelevantes, o modelo abstracto parte de coeficientes que
implicam presunções de custos.
O regime da contabilidade, por sua vez, é 1 regime em que o apuramento do
rendimento líquido é feito em concreto, aqui o apuramento do rendimento líquido é feito
subtraindo-se, aos proveitos, os custos efetivamente suportados. A forma base é então:
proveitos – custos (efectivamente suportados) é igual a lucro!
Quando é que alguém do regime simplificado tem vantagem em optar por este regime
da contabilidade? A opção pelo regime da contabilidade é uma opção por este ser 1
regime fiscalmente mais vantajoso, quando os custos que ele efetivamente suporta forem
superiores.
Temos ainda um terceiro regime, previsto no art.28º, nº8, este só para os rendimentos
profissionais, titulares que tenham prestado serviços a uma única entidade, podendo
optar por ser tributados segundo as regras da categoria A (art.25º, nºs 1 e 2, CIRS).
Muito importante ainda é aquilo a que a doutrina chama do princípio da atração ou
descaracterização dos rendimentos, princípio que está consagrado no art.3º, nº2, a), b), c)
e d), CIRS. O que resulta deste preceito? Ele diz-nos que se consideram ainda
rendimentos da categoria B os rendimentos:
O nosso legislador entendeu que o que se pretende apurar é o lucro gerado pelo
exercício gerado por estas atividades, quando isso é assim podemos ter rendimentos que
pertencem a outras categorias que, se forem obtidos em conexão com o exercício de
atividades empresariais ou profissionais, são descaracterizados.
Se o dono do supermercado, empresário em nome individual, tem 1 armazém que está
afeto à sua atividade, é onde ele guarda os stocks. Ele deixa de precisar dele e arrenda
esse armazém a 1 vizinho, que o quer usar como garagem, ele vai ter 1 rendimento
patrimonial, porque está a arrendar 1 imóvel. Mas sendo esse imóvel afeto ao exercício
Categoria E
Categoria F
O mesmo se diz quanto ao conceito de renda (art.8º, nº2, a) e b), que considera como
rendas, i.e., como a remuneração da cedência do uso do imóvel, tudo o que seja pago
pela cedência do uso do imóvel, mas também por aluguer de maquinismos que estejam
nesse imóvel.
Como se faz o apuramento do rendimento líquido? Temos de ir ao art.41º, CIRS. O
que podemos deduzir aos rendimentos prediais? Podemos deduzir todos os gastos
necessários para a obtenção do rendimento, tem de haver esta conexão entre o gasto e a
obtenção do rendimento, o que quer dizer que estão aqui incluídas as despesas com a
manutenção. São ainda dedutíveis, ainda que a lei não o diga expressamente, o IMI mais
o imposto de selo. O art.41º tem uma norma inovadora no seu nº7 que nos diz que
podem ser deduzidos também os gastos que sejam gastos com a conservação e
manutenção do imóvel, celebrados nos 24 meses anteriores à celebração do contrato de
arrendamento.
Por outro lado, não são aqui incluídas despesas de valorização do imóvel, i.e., aquelas
que servem para aumentar o valor do imóvel ou para alteração da estrutura do imóvel,
elas são irrelevantes.
A categoria F tem 1 regime específico de tributação, os rendimentos da categoria F
estão sujeitos a uma taxa especial prevista no art.72º, nº1, e), CIRS. No nº8 do 72º
temos a opção pelo englobamento.
Novidade da reforma, ainda quanto aos rendimentos da categoria F, é a da parte final
do nº1 do art.8º. O titular de rendimentos da categoria F pode optar ser tributado pelo
regime da categoria B, considerando que se dedica profissionalmente ao arrendamento
de imóveis.
Categoria G
Esta é a categoria dos incrementos patrimoniais, presente no art.9º, cujo nº1, a) refere
as mais valias, previstas, por sua vez, no art.10º, CIRS. As mais valias, por definição,
são acréscimo inesperados e fortuitos no valor dos bens, aquilo que a doutrina designa
de windfall gains, i.e., ganhos que não resultam de 1 participação do respetivo titular no
processo produtivo.
Vigora aqui o princípio da realização, no nosso sistema fiscal só são tributadas as
mais valias efetivamente realizadas, i.e., não são tributáveis as mais valias latentes
(mero aumento do valor de 1 imóvel, por ex.).
É disposto no art.10º, nº1, nas alíneas a) e b), respectivamente, a alienação onerosa
de direitos reais sobre imóveis e alienação onerosa de partes sociais.
O elenco do mencionado art.10º, CIRS é um elenco taxativo, o legislador aqui apenas
incluiu as mais frequentes e as mais facilmente detectáveis.
Qual é o regime de tributação das mais valias? Aquilo que se tributa é apenas o ganho
efetivo, por isso temos de calcular a mais valia, segundo uma fórmula: ao valor da
realização (art.44º, e) subtraímos o valor da aquisição, ao qual podem ser somadas as
despesas com a alienação e a aquisição do bem (art.51º, CIRS). Esta é a fórmula base! O
valor de aquisição tem de ser alvo de correção monetária, quando o bem for detido por
por 1 período superior a 24 meses (art.50º, CIRS).
Quanto aos imóveis acrescem ainda os encargos com a valorização do bem suportado
nos últimos 12 anos.
Calculada a mais valia, o ganho tributável, vamos tributar o que resulta de toda esta
operação.
As mais valias imobiliárias estão previstas no art.10º, nº1, a), c) e d) e no art.43º, nº2,
CIRS, traduzindo-se em englobamento obrigatório, nos termos do art.22º, mas apenas
em 50% do valor da mais valia e isto para atenuar o efeito de concentração e de
imobilização. As mais valias mobiliárias estão no art.10º, nº1, b) e no art.72º, nº1, c),
CIRS, que tem a taxa especial de 28%, com a opção pelo englobamento.
Categoria H
...
*A docente vai marcar aula de dúvidas, bem como uma aula de treino de resolução de
casos práticos, que vai ter várias datas.