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há 6 anos
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1 Introdução
O presente trabalho acadêmico nasceu de ponderações acerca
da relação entre o Direito Tributário e os direitos
fundamentais. Como sendo um dos elementos principais desta
relação, malgrado seja por vezes esquecido, emerge o tema dos
deveres fundamentais, em especial o dever fundamental de
pagar impostos, que será nosso foco principal de estudo sem,
por óbvio, que se pretenda esgotar o respectivo tema.
2 Do estado fiscal
A Constituição de 1988 caracteriza-se, nos dizeres de Marco
Aurélio Greco, como uma Constituição da Sociedade brasileira,
ao invés de ser tida como simplesmente a Constituição do
Estado brasileiro[1]. Muito mais que um simples jogo de
palavras, a afirmação do supracitado autor repousa no fato de
que a República Federativa do Brasil, instaurada com o novel
estatuto constitucional, pretende ser um legítimo estado
democrático de direito. Isto quer dizer que este estado se
compromete a realizar os valores da solidariedade e da vida
harmônica em sociedade, servindo o direito como mecanismo
protetivo e implementador dos direitos e garantias
fundamentais individuais e coletivos.
O estado democrático de direito, como se depreende do
próprio texto constitucional, está (...) destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a
justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social (...).
Com essa breve análise textual, já é possível enxergar que o
conceito de estado democrático e de direito não é extraído
através de uma singela aglutinação dos conceitos que o
incorporam. Não basta para uma melhor compreensão sobre o
que este seria uma leitura sintética daqueles outros modelos
(de direito e democrático), pois se obteria um produto muito
aquém de seu verdadeiro sentido. Em outras palavras, não
basta aqui um singelo raciocínio matemático. Assim o é, pois se
trata de um conceito novo, moderno, passível de ser
compreendido somente sob uma nova ótica alinhada com o
contexto social que lhe criara. Não se pode pretender chegar a
um conceito de estado democrático e de direito através do
somatório de conceitos pensados de acordo com outros
momentos históricos. No atual contexto social, foram
outorgados deveres e poderes ao estado para que ele deixasse
de ser um mero gestor da res pública para que se tornasse num
modelo de transformação do status quo.[2]
Valer dizer, então, que o estado assim constituído pela nossa
carta constitucional é um mecanismo viabilizador dos direitos
fundamentais nela enumerados, no sentido de que busca
sempre a plenitude de seu gozo e de sua implementação. O
estado fora criado por sua causa, ou seja, ele existe para
possibilitar a existência de tais direitos fundamentais. Com
isso, pode-se afirmar que tais direitos preexistiram ao estado,
como sustentam alguns autores[2], mas, ainda que não se
adentre nessa discussão, fica patente que tais valores
fundamentais irão nortear o Estado e sua sociedade, além de
explicar o significado das normas de seu sistema jurídico.
Continua o autor:
(...) a tributação deixa de ser mero instrumento de geração de
recursos para o Estado, para se transformar em instrumento
que – embora tenha este objetivo mediato – deve estar em
sintonia com os demais objetivos constitucionais que, por
serem fundamentais, definem o padrão a ser atendido[9].