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TRIBUTÁRIA
RESUMO
A reforma tributária é tema de enorme complexidade. O presente artigo tem por objetivo
identificar se possível perda de autonomia dos Entes, resultante da centralização tributária, poderá
concretizar uma violação ao pacto federativo que, como cláusula pétrea, estabelecida no artigo 60,
§4º, da Constituição Federal, não é passível de contração. O pacto federativo é a essência da
organização da República Federativa do Brasil. Verifica-se a proteção do pacto federativo, como
distribuição do bem comum a sociedade. A proposta da reforma tributária sugere a simplificação
da tributação no consumo, maior concentração da tributação sobre a renda, eliminação da
incidência de tributos em cascata, dando fim a “Guerra Fiscal” entre os entes federativos. Apesar
da consagração constitucional do pacto federativo como cláusula pétrea, a qual não pode ser
suplantada por emenda constitucional, este apresenta-se em um quadro estrutural bastante frágil.
Palavras-chave: Reforma Tributária. Pacto Federativo. Cláusulas Pétreas.
ABSTRACT
Tax reform is a subject of enormous complexity. The purpose of this article is to identify if a
possible loss of independence of the Entities, resulting from the tax centralization, may materialize
a violation of the federal pact that, as a stanza clause, established in article 60, paragraph 4, of the
Federal Constitution, is not subject to contraction. The federative pact is the essence of the
organization of the Federative Republic of Brazil. There is protection of the federative pact, as a
distribution of the common good to society. The tax reform proposal suggests the simplification
of taxation on consumption, greater concentration of taxation on income, elimination of the
incidence of taxes in cascade, ending the "Fiscal War" among the federal entities. Despite the
constitutional consecration of the federative pact as a stone clause, which cannot be superseded
by a constitutional amendment, it presents itself in a very fragile structural framework.
Keywords: Tax Reform. Federative Pact. Stone Clauses.
Recebido em 28.04.2021 e aprovado para publicação em 05.05.2021
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Acadêmica do curso de Direito da Faculdade do Guarujá – FAGU
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Acadêmica do curso de Direito da Faculdade do Guarujá – FAGU
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Mestre em Direito pela Universidade Católica de Santos. Pós Graduado em Direito Empresarial com ênfase tributária pela
Universidade Católica de Santos. Pós Graduado em Ética e Cidadania pela USP. Graduado em Direito pela Universidade Católica
de Santos. Graduando em Gestão Pública pela Universidade Sana Cecília. Professor de Direito na Faculdade do Guarujá.
Orientador de artigo científico. Advogado OAB/SP 184.699. Autor do LIVRO Direito Ambiental do Trabalho, Editora Multifoco,
2018
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SMITH, Adam. A Riqueza das Nações: uma investigação sobre a natureza e as causas das riquezas das nações.
Tradução Getúlio Schanoski Jr. São Paulo: Madras, 2009, p. 639.
Edição 21 – maio/junho 2021 3
Assim, a figura da tributação consta como a alternativa mais justa de custeio da
máquina pública, uma vez que todos os cidadãos, em algum momento, farão uso dos
mecanismos adotados pelo Poder Público para proporcionar o gozo dos direitos fundamentais.
As relações tributárias são responsáveis pelo fomento, o financiamento, do Bem
Comum. As relações administrativas são a resposta do Ser Social a contribuição dos
indivíduos, como devedor de serviços necessários de maneira transindividual. Esta
relação é temperada pela ação contínua do princípio da igualdade em seus aspectos
aritmético4e geométrico5, como o equilíbrio unificador à unidade atômica estatal6.
(CAXILÉ, 2021, p. 2942)
Destaca-se, portanto, nas palavras de Caxilé (2021) para que haja a realização do
Bem Comum existe a necessidade de contribuição de todos os indivíduos pertencentes e
inseridos em determinado lugar. Inclusive, o autor aponta, que esses indivíduos não estão
restritos a pessoas naturais, tratando-se também de pessoas jurídicas.
O princípio republicano não defende uma sociedade onde todos tenham as mesmas
condições socioeconômicas, pois desigualdades sempre existirão. O objetivo
fundamental é que tais desigualdades sejam atenuadas ao máximo possível (igualdade
aritmética e geométrica) possibilitando às pessoas o exercerem a cidadania e sua
liberdade de forma plena. (2015, apud CAXILÉ, 2021, p. 29430)
O tributo compreende parte das receitas obtidas pelo Estado, mais precisamente as
receitas derivadas. Estas, decorrentes de lei, e obrigam o contribuinte a pagamento mediante do
jus imperii6. Conforme ordenamento jurídico brasileiro, a conceituação de tributo é trazida pelo
Código Tributário Nacional, o qual, em seu artigo 3º, estabelece que tributo é “toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou em cujo valor se possa exprimir, que não constitua sanção
de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada7”.
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A igualdade aritmética é aquela que busca conceder a todos os indivíduos inseridos em uma determinada relação
social, onde deve-se conceder o Bem Comum ao máximo potencial quantitativo para cada indivíduo localizado no
extremo da esfera. É uma relação de quantidade.
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Por igualdade geométrica entende-se como a concessão proporcional de tais direitos a cada indivíduo no extremo
da esfera. A igualdade geométrica visa equiparar a desigualdade aritmética de indivíduo para indivíduo.
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Jus imperii (atos de soberania) Diz-se da ação ou dos atos em que o estado procede como entidade soberana.
Disponível em: <http://dicionariodiplomatico.blogspot.com/2003/11/j.html> Acesso 02 de maio,2021.
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BRASIL, Código Tributário Nacional. Lei nº 5.172, de 25.10.1966.
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Dispositivo constitucional que não pode ser alterado nem mesmo por Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
venha por decisão própria ou até mesmo por pressão política conceder a instituição determinado
tributo a outrem.
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https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2196833
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https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2196833
Uma das principais diferenças desta proposta para a PEC nº 45/2019 é o tempo de
transição necessário. Esta visa uma transição da arrecadação dos tributos em um prazo de 6
(seis) anos e para a partilha das arrecadações de 14 (quatorze) anos, considerando maior risco e
admitindo maior probabilidade de perdas.
Destaca-se que em ambas as propostas12 apresentadas admite-se parcial perda de
competência, seguida de uma tentativa de se implementar mecanismos que diminuam essa falta
e minimize os impactos decorrentes de sua alteração. Na PEC nº45/2019 pode ser observada
pela tentativa de conceder aos estados e municípios a alteração das alíquotas, assim como o
estabelecimento de repartições de receitas. Já na PEC nº 110/2019, houve a recomendação da
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Emendas de número: 5, 7, 8, 11, 15, 18, 22, 23, 27, 29, 31, 33, 36, 44, 62, 66 ,86 e 137.
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IVA - Imposto Sobre Valor Agregado. Trata-se de um imposto com tributação única que facilitaria a arrecadação
no território nacional. Dessa forma, seria possível reduzir a complexidade tributária no Brasil e beneficiar tanto os
contribuintes quanto o poder público.
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https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/fiquePorDentro/temas/sistema-
tributario-nacional-jun-2019/reforma-tributaria-comparativo-das-pecs-em-tramitacao-2019#:~:text=PEC%20110%3
A%20s%C3%A3o%20substitu%C3%ADdos%20 nove, %2C%20Cofins%2C%20ICMS%2C%20ISS
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MIRANDA, Pondes de. Comentários à Constituição Federal de 1967. 2º ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais,
1970, p. 314.
REFERÊNCIAS
HARADA, Kiyoshi. Direito Financeiro e Tributário. 28ª ed. São Paulo: Atlas Ltda, 2019.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
SABBAG, Eduardo. Manual de Direito Tributário. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016.