Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 Introdução
Além das divergências interpretativas quanto às incidências e
da questão relacionada ao impossível cumprimento regular dos deve-
res instrumentais, fatores como a falta de clareza e acessibilidade da
1
TORRES. Direito constitucional tributário e segurança jurídica: metódica da segurança jurídica
do sistema constitucional tributário, p. 25.
184
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
2
Como, por exemplo: “Tendo em vista os dados sobre o orçamento da Justiça Federal de
Primeiro Grau, tem-se que seu custo diário é de R$13,5 milhões e o custo médio do pro-
cesso no ano de 2009 foi de R$1,58/dia. Logo, o custo médio total provável do Processo
de Execução Fiscal Médio (PEFM) é de R$4.685,39. Quando excluídos os custos com o
processamento de embargos e recursos, esse valor é de R$4.368,00. Este último valor é o
indicador mais adequado à determinação do custo efetivo do processamento da execução
-
dade das rotinas e qualidade da mão de obra empregada, não podem ser objeto de cálculo
por meio desse método. Por isso, calculou-se o custo-atividade, que é uma diferenciação
entre o custo médio de um processo que se encontra parado e o curto médio das movi-
mentações do processo. Sendo assim, o custo médio provável baseado em atividades do
PEFM é de R$1.854,23. Esse valor indica o custo dos insumos diretamente empregados no
estoque da dívida ativa da União de R$400 bilhões de reais ingressam nos cofres públicos
a cada ano por essa via). O percentual do ingresso somente cresce com as medidas de
parcelamento adotadas (REFIS, PAES e PAEX) e com incorporação dos depósitos judiciais,
(BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5082/2009. Dispõe sobre transação
-
cias. Diário da Câmara dos Deputados).
4
“O princípio da justiça é uma diretriz suprema. Na sua explicitude, pois está expressa no
Preâmbulo da CR/88, penetra de tal modo as unidades normativas do ordenamento que
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
185
antagônicos e até desconcertantes. Como valor que é, participa daquela subjetividade que
mencionamos, ajustando-se diferentemente nas escalas hierárquicas das mais variadas
de todos os preceitos, seja qual for a porção da conduta a ser disciplinada” (CARVALHO.
Direito tributário, linguagem e método, p. 272).
186
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
5
BANDEIRA DE MELLO. Curso de direito administrativo, p. 73-74.
6
“O princípio da legalidade explicita a subordinação da atividade administrativa à lei e
surge como decorrência natural da indisponibilidade do interesse público, noção, esta,
que, conforme foi visto, informa o caráter da relação de administração” (Idem, p. 75).
7
-
mente latente, como sói acontecer quando da formação de um contrato — e uma prelazia
apriorística do primeiro sobre o segundo (conquanto nada haja que impeça que a solução
Alguns aspectos sobre a arbitragem nos contratos administrativos a luz dos princípios da
Revista de
Arbitragem e Mediação, p. 76).
8
Cf. DÁCOMO. Direito tributário participativo: transação e arbitragem administrativas da obriga-
ção tributária, p. 74-75.
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
187
3 A transação tributária
Assim como no Direito Administrativo a consensualidade
acompanhou o quadro evolutivo do Estado e a variação do grau de
participação dos particulares nas tarefas públicas, a relação jurídica
9
FERREIRA. A possibilidade de arbitragem tributária. In: A possibilidade de arbitragem tri-
butária. In: CONFERÊNCIA AIBAT-IDEFF: A ARBITRAGEM EM DIREITO TRIBUTÁRIO,
1., , p. 19.
10
Cf. BALEEIRO. Limitações constitucionais ao poder de tributar, p. 1305-1330. No mesmo sen-
tido: DERZI. Buena fe en el Derecho Tributario. In: PISTONE; TORRES (Org.). Estudios de
derecho tributario constitucional e internacional: homenaje latinoamericano a Victor Uckmar,
p. 265-281.
11
Cf. TORRES. Direito constitucional tributário e segurança jurídica: metódica da segurança jurí-
dica do sistema constitucional tributário, p. 209-297.
188
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
13
12
TORRES. Transação, conciliação e processo tributário administrativo equitativo. In: SARAIVA
FILHO; GUIMARÃES (Org.). Transação e arbitragem no âmbito tributário: homenagem ao jurista
Carlos Mário da Silva Velloso, p. 95. Válida a transcrição dos ensinamentos de José Casalta
-
trializados, expressa sobretudo no facto de os impostos abarcarem mais de um quarto do
-
rem de forma assinalável toda a actividade económica e social, não custa compreender que,
à semelhança do que sucedeu ao nível mais geral da acção econômica do Estado onde se
institucionalizou a chamada ‘economia concertada’, o desenvolvimento da colaboração se
acto de autoridade (acto autoritário = acto tributário), para um estádio em que domina a ideia
autorizativa.
Trata-se de uma decorrência do regime jurídico de Direito Público,
-
lidade de ser celebrada transação em matéria tributária, ou seja, será
com base em condições e requisitos previstos na lei que contribuintes
e Administração Tributária poderão alcançar solução consensual para
transação tributária.
15
“Conforme determina o Art. 171 do CTN, a lei pode facultar, nas condições que estabeleça,
aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante con-
cessões mútuas, importe em determinação de litígio e consequente extinção do crédito
tributário. Portanto, essas condições são os critérios que a lei que estabelecer a transação
A lei que o artigo 171 do CTN menciona pode ser tanto uma
a transação.17
de modalidades transacionais no âmbito da União Federal, Estados,
Distrito Federal e Municípios.
Importante notar, da mesma forma, que o referido dispositivo
do artigo 171 do CTN não exige lei prévia unicamente para autorizar as
18
16
Cf. TORRES. Princípios da segurança jurídica e transação em matéria tributária: os limites
da revisão administrativa dos acordos tributários, p. 310.
17
Cf. DACOMO, op. cit., p. 191.
18
FIGUEIREDO. A transação tributária como expressão dos direitos do cidadão, p. 142.
19
CARVALHO. Transação tributária, arbitragem e outras formas convencionadas de solução de lides
tributárias, p. 35.
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
191
20
-
rendo desde os primórdios, quando dois seres humanos se encontraram pela primeira
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
193
ocasião. (...) O direito tem origem na sociabilidade com a qual o homem convive, visando
proporcionar, primeiramente aos indivíduos, isoladamente, e, por via de consequência,
à comunidade, o adequado caminho de aprimoramento e de progresso da humanidade.
-
cas, cumpre analisar quando ocorre ruptura na paz social, escopo máximo do Estado de
Direito. Essa fenda acontece quando um interesse de alguém vem a ser contrariado por
outrem. (...) A doutrina brasileira denomina de fundo de litígio, ou mérito, ou lide, aquilo que
os autores alemães denominam de objeto litigioso. A lide é conceito coincidente com a idéia
de mérito, assim delineado pelo autor, sobre a qual recairá a imutabilidade dos efeitos da
coisa julgada” (CAIS. O processo tributário, p. 123-127).
21
FURTADO. Transação tributária: extensão e limites. Revista Forense, p. 42.
22
Natalia De Nardi Dacomo enumera três situações: “A transação poderia ocorrer em três
hipóteses: 1) dúvida na interpretação da lei; 2) incerteza na aplicação de penalidades; inse-
gurança quanto ao êxito judicial da controvérsia” (op. cit., p. 197).
194
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
processo judicial.
Há que se ressaltar que diante da situação de dúvida, e por seu
turno, o sujeito passivo poderá se antecipar ao lançamento tributário
de ofício e formalizar a relação jurídica tributária contenciosa, por meio
do exercício de seu direito e garantia fundamental de ação e petição,24
diretamente no Poder Judiciário.
23
três hipóteses são possíveis: o sujeito passivo cumpre a exigência através do pagamento ou
pedido de parcelamento; o sujeito passivo apresenta impugnação para contestar a exigên-
com a lei ou a prova dos autos, pode insurgir-se contra ela. A ilegalidade tanto pode se rela-
cionar com o mérito da exação quanto com aspectos formais do lançamento previstos na
a inércia processual.
Leve-se em consideração que, após o lançamento tributário
de ofício, além da obrigação tributária principal, serão acrescidas as
patrimonial.
A distinção é de relevância ímpar para a transação, pois a patri-
-
tário originário da respectiva obrigação principal na sua plenitude,
com acréscimos (juros) e penalidades (multas) decorrentes da falta de
pagamento do tributo na data de seu vencimento, excluídos os deno-
minados deveres instrumentais.
25
MACHADO. , p. 301 et seq.
26
BORGES. Lançamento tributário, p. 73.
27
ESTRADA.
General Tributaria, p. 178.
198
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
28
-
ra-se o mesmo entendimento por parte de Rubens Miranda de Carvalho: “O princípio da
indisponibilidade do crédito de origem tributária, corolário do princípio administrativo
da indisponibilidade dos bens públicos e, este mesmo, caudatório do princípio da pre-
valência do interesse público, tem sido tratado quase que como dogma de fé, merecendo
por parte dos administradores públicos e dos procuradores judiciais uma veneração que
das questões por ele geradas, levando, por paradoxo, ao cometimento ou à omissão de atos
que acabam por resultar em dano ao interesse público” (op. cit., p. 99).
29
“Como ya ha sido advertido, no existe un principio en el Derecho Tributario que prohíba
el uso de las técnicas convencionales” (SERRANO ANTÓN, op. cit., p. 69).
30
“Con anterioridad hemos podido comprobar que, en la actualidad, la indisponibilidad en
materia tributaria se interpreta en el sentido de que afecta a los elementos esenciales de la
obligación tributaria, pero que cabe, en alguna medida, la convención en relación con otros
aspectos no sometidos al principio de legalidad. En este contexto, debemos examinar si las
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
199
oportunidade.
Executivo.”33
32
De acordo com a lição de Misabel Abreu Machado Derzi acerca de referido dispositivo:
“Entende-se que apenas o legislador pode avaliar os superiores interesses da coletividade
que venham a legitimar a isenção e sua revogação. (...) Igualmente lei nova, que cancela
a isenção, a redução do imposto ou o benefício, jamais poderá retroagir, prejudicando o
direito adquirido” (Limitações constitucionais ao poder de tributar, p. 146-147).
33
Idem, p. 148.
FABIO ARTIGAS GRILLO
A TRANSAÇÃO
201
34
“Ação direta de inconstitucionalidade. Direito tributário. Lei paraense n. 6.489/2002. Autori-
7 Conclusão
Diante da saturação do aparato estatal no atendimento das deman-
Referências
BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar. Atualizado por Misabel
Abreu Machado Derzi. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. 26. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.
BORGES, José Souto Maior. Lançamento tributário. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1999.
BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5.082/2009. Dispõe sobre transação
tributária, nas hipóteses que especifica, altera a legislação tributária e dá outras
providências. Diário da Câmara dos Deputados
CAIS, Cleide Previtalli. O processo tributário. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo:
Noeses, 2008.
CARVALHO, Rubens Miranda de. Transação tributária, arbitragem e outras formas
convencionadas de solução de lides tributárias. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2008.
DÁCOMO, Natalia De Nardi. Direito tributário participativo: transação e arbitragem
administrativas da obrigação tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2009.
204
GEILSON SALOMÃO LEITE (COORD.)
EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – HOMENAGEM AO PROFESSOR JOSÉ SOUTO MAIOR BORGES
concepção de interesse público. Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, n. 12, jan./
mar. 2007.