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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE DIREITO
Docente: Patryck Ayala
Discente: Matheus Lucas dos Santos
Disciplina: Direito Financeiro
Turno: Matutino
Atividade: Resenha crítica
Data:

PRIMEIRA ATIVIDADE AVALIATIVA

Resenha 1

PINTO, Élida Graziane. Caos nas contas e políticas públicas: é o Direito Financeiro,
estúpido! Revista Consultor Jurídico, 20 de junho de 2017. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-jun-20/contas-vista-caos-contas-politicas-publicas-
direito-financeiro-estupido. Acesso em: 17/01/2022.

No artigo intitulado “Caos nas contas e políticas públicas: é o Direito Financeiro,


estúpido!”, a procuradora do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo e
autora da publicação Dra. Élida Graziane Pinto, aborda o problema relacionado ao
controle das políticas públicas no Brasil, dando enfoque principal à falta de estudo do
Direito Financeiro ao tratar da situação de incapacidade de equilíbrio jurídico das ações
políticas desenvolvidas pelo Estado, diante da difícil situação fiscal vivenciada em
nosso País na última década.
No decorrer da discussão, de maneira indireta a autora aponta que um dos
motivos pelo qual se propôs a fazer essa abordagem, deve ao fato de que o estudo
substantivo acerca do Direito Financeiro não se faz suficiente, deixando, portanto, muito
a desejar em termos de contribuição em face da complexa e real necessidade de melhor
planejamento, execução e controle das políticas públicas.
Em vista disso, a Dra. Élida Graziane inicia o seu texto contextualizando acerca
da vitória de Bill Clinton nas eleições norte-americanas de 1992, cuja ocasião em que o
candidato teve sua campanha voltada para a agenda econômica. Nesta perspectiva,
tendo em conta os impasses fiscais pelos quais o Brasil tem passado, a autora salienta a
deliberada estupidez da nossa falta de estudo do Direito Financeiro, dando destaque ao
desconhecimento das relações entre receitas e despesas públicas no nosso pacto
federativo, bem como ao desconhecimento acerca da administração do estado e a falta
de propostas eficazes por parte da grande maioria dos cursos de Direito, o exame da
OAB, os concursos para as carreiras jurídicas e praticamente quase todas as atividades
que dizem respeito ao âmbito judicial e extrajudicial.
Por conseguinte, ante a saturação do judiciário com demandas a posteriori por
serviços públicos de qualidade e com questionamentos individuais pela eficácia dos
direitos sociais, a autora ressalta a necessidade de reorientar o foco para a
“macrojustiça” do ciclo da política pública em sua matriz jurídica de planejamento
suficiente seguindo o exame da conformidade constitucional, isto é, a necessidade de
pensar no coletivo ao invés do individual. Neste seguimento, a autora evidencia que o
planejamento governamental deixaria de se ocupar da árdua e politicamente onerosa
tarefa de fazer escolhas trágicas, para então universalizar uma resposta inicialmente
conferida judicialmente para o campo da política pública ordinária.
Tendo em vista que a proposta do Direito Processual Civil (controle jurídico de
políticas públicas) não demonstra capacidade de oferecer uma resposta satisfatória, a
autora entende que sem o estudo efetivo do Direito Financeiro não há clareza de como o
Direito possa reger o fluxo de receitas, sua repartição no território federativo, as
despesas diretamente realizadas ou fomentadas pelo Estado, bem como o endividamento
e a prestação de contas.
Ademais, tendo em mente os problemas estruturais que o país tem enfrentado
sob a égide da Constituição Federal de 1988, a autora aponta para a necessidade em
reconhecer a saturação das tradicionais respostas e omissões, considerando que a
ineficiência, o caos fiscal, a corrupção e a má qualidade dos serviços públicos não são
apenas um problema de licitações fraudadas ou contratos superfaturados, mas são
problemas originários da fragilidade substantiva do ciclo das políticas públicas, que por
consequência gera um déficit de compreensão estrutural e de aplicação íntegra no
cotidiano das escolhas trágicas que o Estado brasileiro assume em nome da sociedade.
Diante da compreensão do artigo, cabe aqui fazer algumas ponderações: levar
em consideração o papel relevante que a estruturação da agenda econômica representa
na organização da atividade estatal, e, em contrapartida, a evidente ineficiência do
Estado brasileiro frente ao controle das suas políticas públicas, que por sua vez encontra
dificuldades em assegurar o seu compromisso com a proteção de direitos fundamentais
e a garantia dos mínimos existenciais, vale ressaltar que não é nenhum exagero por
parte da autora, considerar que a falta de estudo do Direito Financeiro configura uma
deliberada estupidez. Assim ela relata abaixo:

A existência de vinculações orçamentárias para a defesa dos


direitos fundamentais e agora a ideia de um teto fiscal para a
busca de reequilíbrio nas contas públicas nos dão prova — de um
extremo a outro — de que somos demasiadamente incompetentes
e um tanto preguiçosos na formulação, coordenação, execução,
acompanhamento, avaliação e controle das políticas públicas.
(PINTO, 2016, p. 2).

Tratar com seriedade os direitos fundamentais implica também levar a sério o


Direito Financeiro. Se o nosso Estado, antes de tudo, se comprometesse com tarefas
universais ao invés de demandas individuais, não seria necessário se recorrer às
liminares para se conseguir um direito fundamental de forma individual, como por
exemplo, o recorrente litígio por leitos de UTI do Sistema Único de Saúde.
Toda a estrutura do texto, favorece a compreensão do leitor, pois os argumentos
da autora são claros e as informações são aos poucos apresentadas de maneira coerente
e consistente. Apesar disso, a linguagem exige uma leitura atenciosa para que se tenha
melhor proveito das importantes informações que o artigo apresenta.

Referência
Pinto, Élida Graziane. Sociedade que não planeja aceita a má qualidade do gasto
público. Revista Consultor Jurídico, 6 de dezembro de 2016.

Resenha 2

SCAFF, Fernando Facury. O homem deve vir em primeiro lugar na análise do Direito
Financeiro. Revista Consultor Jurídico, 31 de outubro de 2017. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2017-out-31/contas-vista-homem-vir-primeiro-lugar-
analise-direito-financeiro?imprimir=1. Acesso em: 17/01/2022.

No artigo referido “O homem deve vir em primeiro lugar na análise do Direito


Financeiro”, o autor do mesmo, professor e advogado Dr. Fernando Facury Scaff,
aborda a intrínseca relação existente entre direito e poder, dando foco, sobretudo, à
relação entre o direito e o poder político do Estado, para assim discorrer sobre a relação
de tensão existente entre o Direito Tributário e o Direito Financeiro no Brasil.
Durante a discussão, o autor evidencia que um dos motivos pelo qual se propôs a
fazer essa abordagem, se deve ao questionamento acerca da finalidade do direito: Será
que o direito, enquanto instrumento político do Estado, deve se subordinar ao interesse
individual (privado) ou ao interesse social (de todos) na busca em promover o bem
comum das pessoas?
Nessa perspectiva, o professor Scaff inicia o texto contextualizando acerca do
direito, como sendo um produto social decorrente das relações humanas, que em
contraposição à força, foi criado pelas pessoas com o intuito de regular a convivência
das mesmas em sociedade. Assim, levando em conta a histórica experiência de
democracia direta ocorrida na Grécia clássica, o autor ressalta o advento da democracia
representativa, ocorrido por volta do século XVIII, fruto dos iluminismos inglês, francês
e americano, destacando que algumas condutas, tais como a imposição de tributos, a
realização dos gastos públicos e a obrigatoriedade de prestação de contas por parte do
governo, só poderiam ser exigidas da população mediante lei aprovada pelo parlamento.
Diante desse exposto, considerando a codificação ocorrida após a Revolução
Francesa, o autor aponta para o surgimento de um direito financeiro moderno, oriundo
da formalização do Estado, com separação de poderes e seu consectário princípio da
legalidade, bem como, evidencia também a estatização do direito privado, em especial o
mercantil, que até então era orientado por regras não estatais, passou a ser regido pelo
Estado.
Em vista disso, Scaff salienta que o Estado passou a fazer uso do direito como
um instrumento de desenvolvimento de suas políticas, influenciando em vários setores
ou atividades econômicas, intensificando, portanto, a sobreposição entre diversos ramos
jurídicos, em especial do direito privado com o direito financeiro. Logo, o Estado
passou a ser o único centro formal de poder.
Atentando sobre a importância que o voto significa à democracia representativa,
mediante a busca pela ascensão do poder do Estado, o autor discorre acerca do voto
censitário, ocorrido em alguns países, bem como no Brasil durante o Império, cujo
direito ao voto era concedido apenas aos cidadãos dotados de maior poder econômico,
excluindo as mulheres e os pobres, que por vez ficavam sem representação em prol de
seus interesses, uma vez que o direito retratava aquilo que os representantes do povo
decidiam. Nesse sentido, Scaff também salienta que no Brasil, só em meados do século
passado as mulheres passaram a ter direito ao voto, sendo, portanto, ampliado a partir da
Constituição de 1988, incluindo também os analfabetos.
O autor nos remete a uma reflexão sobre a frase de Adam Smith: “não é da
benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos nosso jantar,
mas das considerações que eles têm por seus interesses”. Nossos representantes
políticos terão por desígnio reduzir o tamanho do Estado, admitindo que desses
interesses individuais surja o bem de todos e sejam resolvidas as preocupações sociais.
Contudo, o professor Scaff, diante do contexto por ele apresentado, entende que
mesmo exacerbando o interesse individual de cada pessoa, não é garantia de que o bem
de todos seja assegurado. Porquanto que, uma vez adotado esse prisma, cada qual se
preocupará com suas finanças individuais e, por consequência, as necessidades sociais
(promoção do bem comum e necessidades coletivas) não serão tratadas como
prioridades. Logo, em face desse impasse das finanças, entre o bolso privado e os cofres
públicos (relação de conflito vivida entre o direito tributário e o direito financeiro),
percebe-se que para propiciar o bem comum, é preciso haver recursos financeiros, que
causará um grande impacto nos bolsos privados.
O texto nos proporciona uma séria meditação sobre um dos principais objetivos
da Carta Magna do nosso País: a busca por um Direito justo, que possibilite uma melhor
convivência social, que propicie a dignidade, considerando que todos somos seres
humanos e que a arrecadação, o endividamento e gastos governamentais precisam estar
conectados a essa análise humanista. É relevante que o Estado tenha sua atenção voltada
as pessoas, que o maior bem do nosso País seja o cidadão e não o acúmulo de riquezas.
Todo o contexto apresentado nos remete a realidade atual que o nosso País vivencia
nesse momento de Pandemia, bem como nossos governantes reagiram diante dessa
situação causada pela Covid 19. Dentro das possibilidades reais, foi oportunizada a
população o auxilio emergencial, o acesso a várias doses de vacinas, bem como toda
uma reestruturação do sistema Único de saúde pública, na tentativa de salvar vidas, de
proporcionar dignidade a população, sem preocupar-se com os gastos financeiros que
extrapolam o teto fiscal, priorizando significativamente a vida humana. hv

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