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TRANSPARÊNCIA PÚBLICA
AULA 5
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considerando o que ela tem sido capaz de fazer pela gestão pública brasileira.
Por fim, relembraremos os tópicos mais importantes do que foi exposto.
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O princípio da igualdade interdita tratamento desuniforme às pessoas.
Sem embargo, consoante se observou, o próprio da lei, sua função
precípua reside exata e precisamente em dispensar tratamentos
desiguais. Isto é, as normas legais nada mais fazem que discriminar
situações, à moda que as pessoas compreendidas em umas ou em
outras vêm a ser colhidas por regimes diferentes. Donde, a algumas
são deferidos determinados direitos e obrigações que não assistem a
outras, por abrigadas em diversa categoria, regulada por diferente
plexo de obrigações e direitos. (Mello, 2006, p. 12-3)
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Figura 1 – Página de apresentação do portal da transparência do governo do
estado do Paraná
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performance (desempenho) e estrutura (setorização, dentro da estrutura da
administração pública). (Goddard, 2005). Lembramos que a transparência é
diretriz da governança e que os aspectos informacionais da transparência são,
ao mesmo tempo, algo a ser buscado, mas também os responsáveis pelas
mudanças em termos de aprimoramento da gestão pública.
Questões ligadas ao princípio da eficiência não podem ser deixadas de
lado, muito menos as questões ligadas à eficácia e à efetividade. Buscar a
eficiência não é somente uma escolha, mas é demanda legal, ou seja, é
exigência da lei. Nesse sentido, lembramos que o gestor público está vinculado
ao princípio da legalidade, por isso, só pode fazer aquilo que a lei determina que
seja feito. Dessa maneira, a escolha do meio adequado para realizar a atividade
pública, como também a assertividade, ou seja, a opção pelo melhor caminho,
isto é, por aquele caminho que conduzirá à opção mais acertada à administração
pública é um dever imposto pela lei e não necessariamente uma opção do gestor
público. No fim, o alinhamento da atuação em relação à lei será levado em conta.
Tudo isso é tema de interesse da governança pública, que, traduzindo em
palavras simples, impõe à administração pública uma atuação pautada pelo
desempenho ótimo.
Segundo o IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, são
quatro os princípios básicos da governança aplicáveis: transparência, equidade,
prestação de contas e responsabilidade corporativa. Na governança pública,
esses princípios são três, a saber: transparência, integridade e prestação de
contas (Brasil, 2014, p. 16-17). No âmbito da administração pública federal, o
Decreto n. 9.203, de 2017, elencou seis princípios da governança pública, isto é:
1. a capacidade de resposta;
2. a integridade;
3. a confiabilidade;
4. a melhoria regulatória;
5. a prestação de contas e responsabilidade; e
6. a transparência.
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Como a transparência é um dos princípios da governança, promover a
comunicação aberta, voluntária e transparente das atividades e dos resultados
da organização é diretriz da governança pública no âmbito da administração
pública federal. Dizer que algo é uma diretriz significa deixar claro que aquele
ato deve ser priorizado, realizado, e que é um norte dentro da administração
pública, algo a ser feito sempre. A leitura do art. 4º, inciso XI, do Decreto n.
9.203/2017 deixa isso claro, pois dá o comando para que a gestão pública não
espere ser convocada a informar, mas que se antecipe e informe acerca do que
está fazendo e dos resultados que alcançou (Brasil, 2017). Essa iniciativa de
informar deve ser clara, compreensível e acessível mesmo às pessoas mais
simples.
É importante registrar, portanto, que a transparência no âmbito da União
é princípio explícito, a serviço da boa governança. Dizemos que é explícito
porque consta expressamente do Decreto n. 9.203/2017 (ele não é extraído de
um ato de interpretação, mas consta do texto do decreto). Como tal, ele está
alinhado à base da governança pública, sendo um dos meios pelos quais ela é
alcançada. É também dever do gestor público e direito do cidadão, visto que é
princípio jurídico e que a Administração está regida pela legalidade, entre outros.
O índice Transparência Internacional se dedica a estudar a compreensão
da percepção da corrupção. O IPC – índice de percepção da corrupção – é o
principal indicador de corrupção do setor público no mundo. Esse índice é
produzido desde 1995 por uma organização não governamental chamada
Transparência Internacional. O índice reúne resultados de 180 países e
territórios. Quanto mais próximo da colocação n. 1 significa que o país é
altamente corrupto e quanto mais próximo de 100 significa que o país é muito
íntegro. O índice IPC de 2019 colocou o Brasil no 35º lugar na prática de
corrupção, estando na posição 106 entre os 180 países avaliados. Nosso país é
menos corrupto que a Venezuela (16º lugar), a Bolívia (31º lugar) e o México
(29º lugar), entre outros. Mas é mais corrupto que o Peru (36º lugar), a Argentina
(45º lugar) e o Uruguai (71º lugar), entre outros (Transparência Internacional,
S.d.).
A posição do Brasil é considerada ruim pelo índice IPC, que anuncia que
esta foi a pior nota pelo segundo ano. O ano anterior foi 2018 quando o Brasil
saiu da 96ª para a 105ª em relação aos 180 países avaliados. É preciso melhorar
essa posição. A organização não governamental Transparência Internacional
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anuncia que os esforços já realizados pelo Brasil ainda são insuficientes para
mudar a percepção acerca da corrupção e anuncia que “reformas legais e
institucionais que verdadeiramente alterem as condições que perpetuam a
corrupção sistêmica no Brasil” são necessárias (Transparência Internacional,
S.d.).
Assim, o desperdício de dinheiro público aumenta a desigualdade de
renda, e a corrupção é fonte desta perda. O aprimoramento da transparência é
apontado como fundamental para reduzir as causas da corrupção e combatê-las
(OCDE, 2018, p. 38). Muitas são as ações voltadas à boa governança, que
colaboram no aprimoramento da transparência. O TCU (Brasil, 2014, p. 32-33)
ressalta, por exemplo, a importância de se dar a conhecer o plano estratégico
institucional e de TI, a transparência no processo decisório e das ações, a
homogeneidade na divulgação das ações. O aumento na transparência no
processo de emendas orçamentárias feitas pelos parlamentares é outro
mecanismo aliado da governança apresentado pela OCDE (2018, p. 34). A
regulação de partidos e de campanhas políticas, a fim de evitar a captura de
processos políticos, e uma avaliação completa de leis de contratação pública
também são apontadas pela OCDE como ações necessárias no combate à
corrupção, no aumento da confiança e no desenvolvimento do país. Da mesma
forma, aquele relatório apresenta o aprimoramento de meios de denúncia de
ilícitos, como algo necessário ao aprimoramento da transparência e do combate
à corrupção (OCDE, 2018, p. 35-36).
Por fim, não podemos esquecer de mencionar outro aliado significativo ao
desempenho da governança pública: a Lei de Acesso à Informação (LAI) Lei n.
12.527/2011. Nela a cultura da transparência é elencada como uma das
diretrizes voltadas a assegurar o direito fundamental de acesso à informação.
As ações aqui comentadas e os mecanismos institucionais voltados ao
aprimoramento do trânsito de informações acerca da gestão pública são aliados
da governança pública que se harmonizam com a transparência, princípio da
própria governança. Assim, o direito de acessar dados, o direito à qualidade
desses dados, a didática da informação divulgada e o tempo em que a
informação é prestada são todos instrumentos da governança.
É preciso pensar ainda na influência do momento em que a informação é
dada. Dessa forma, quanto mais cedo se partilha a informação, via de regra,
maior a chance de controle da atuação noticiada. O ato que é divulgado prévia
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(antes) ou concomitantemente (simultaneamente) permite a correção de rota, o
ajuste, a avaliação acerca de sua adequação ao interesse e à política pública. A
informação posterior, por sua vez, reduz as oportunidades de correção e serve
mais aos aspectos informacional (no sentido de tão somente dar a notícia, sem
permitir que ações sejam tomadas em relação a ela) e sancionador (pois poderá
o gestor ser punido, mas a correção do ato e evitar o dano são mais difíceis
quando a informação é posterior). Estes não deixam de ter importância, mas qual
é o seu potencial para a efetividade da ação?
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tem por indicadores de efetividade do governo a adequada implementação de
políticas públicas, a qualidade dos serviços públicos ofertados e o grau de
independência do governo em relação a pressões políticas, ou a credibilidade do
governo em relação à sociedade (Lopes; Damasceno; Lobo, 2019, p. 447).
Pires et al. (2019) estudaram como os trabalhos sobre gestão da
transparência abordam a avaliação de desempenho da transparência pública.
Os autores (Pires et al., 2019) afirmam que os trabalhos voltados à avaliam de
desempenho da transparência pública não ocorre por completo por não se saber
que informações o público-alvo tem interesse em receber, que os indicadores
presentes na literatura têm recebido pesos iguais, desconsiderando o grau de
importância de certas informações. Assim, Pires et al. (2019) afirmam que os
trabalhos voltados à avaliação do desempenho das informações muitas vezes
ficam adstritos à avaliação acerca da adequação às exigências legais e ao
atendimento do dever de publicidade.
Políticas de transparência devem ser estimuladas, de modo a não
somente conferir acesso aos dados, mas também de modo a trazer simplicidade
nessa informação e comunicação, aprimorando o entendimento e o diálogo. Em
palavras simples: não basta dar acesso ao dado se as pessoas não sabem como
lê-lo nem como tratá-lo. Esta seria uma transparência de fachada, cerimonial. E
cerimonialismo é algo que deve ser evitado. É oportuno lembrar que a
administração busca satisfazer interesses públicos e, como tal, preocupa-se com
o real alcance desses objetivos.
De nada adianta, por exemplo, o mero cumprimento de um dever de
publicidade, sem que a finalidade deste dever seja alcançada. Por exemplo, a
finalidade de se divulgarem dados relativos a uma dada licitação pública, entre
outros, é atrair o maior número de interessados possível e realizar a melhor
aquisição, entre o menu de opções que aparecer para a administração. Mas, se
o dever de publicar os editais for burlado ou mitigado (reduzido, suavizado),
publicando-se o edital, por exemplo, em apenas um tipo de jornal quando se
recomenda publicar em jornal e em meio eletrônico, tem-se um atendimento
parcial do dever de publicidade.
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A Receita Corrente Líquida (RCL) é importante por indicar os recursos
que o governo dispõe a cada exercício para fazer frente as suas
despesas. Ela é o somatório das receitas tributárias, de contribuições,
patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências
correntes e outras receitas também correntes. Deste valor são
subtraídos, principalmente, os valores transferidos, por determinação
constitucional ou legal, aos Estados e Municípios, no caso da União.
(Brasil ,2020)
Observe, portanto, que ser transparente é algo que está sendo associado
ao incremento da eficiência. E também que aumentar essa eficiência implica em,
moralmente, fazer aquilo que é esperado. Quer dizer, espera-se que o gestor
público dê o melhor de si, de modo a atuar com as ferramentas mais adequadas,
buscando a realização mais assertiva das políticas públicas para, de fato, realizá-
las.
Em suma, a transparência pública tem muito a contribuir na transformação
estatal: ela pode colaborar para que a gestão pública seja mais eficiente, pode
promover o aumento da participação social e do controle, pode colaborar no
crescimento da confiança na gestão e no desenvolvimento estatal.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
<http://www.oabsp.org.br/sobre-oabsp/grandes-causas/o-discurso-de-
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gettysburg>. Acesso em: 7 mar. 2020.
OCDE. Relatórios Econômicos OCDE – Brasil. OCDE, fev. 2018. Disponível em:
<http://www.oecd.org/economy/surveys/Brazil-2018-OECD-economic-survey-
overview-Portuguese.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2020.
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