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Vol. 9 No. 2
outubro 2022
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ISSN 2183-184x
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1. Enquadramento
2. A referida Lei – até à presente data alterada pelas Lei n.º 69/2020, de 09 de no-
vembro, Lei n.º 58/2021, de 18 de agosto e Lei n.º 4/2022, de 06 de janeiro – regula o
regime do exercício de funções por titulares de cargos políticos e altos cargos públicos,
suas obrigações declarativas e respetivo regime sancionatório.
3. A respeito da Lei n.º 34/87, de 16 de julho, que determina os crimes de responsabi-
lidade que titulares de cargos políticos cometam no exercício das suas funções, Conde
Monteiro defende que: “A concessão de que quem exerce funções políticas deve ser
possuidor de qualidades acima da média, não apenas em termos de competências es-
pecíficas, mas igualmente no plano ético-jurídico, dominou a ideia de criar entre nós um
diploma legal que estabelecesse particulares sanções para quem cometesse infrações
no âmbito destas funções” (Conde Monteiro, 2021: 387).
4. José Mouraz Lopes fala, ainda, da importância do princípio da responsabilidade
como “uma condição da confiança dos cidadãos nas suas instituições e, naturalmente,
naquelas que as representam, decisores políticos e gestores”, citando Michel Bouvier,
La responsabilité financière publique confrontée à un système budgetaire en transition,
Revue Française des Finances Publiques, n.º 139, 2017, p. 20 (Lopes, 2021: 113).
5. Cfr., a propósito, o parecer da Procuradoria-Geral da República, n.º 25/2019, Diário
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da República, 2ª série, nº 181, 20 de setembro de 2019, p. 287-(34), também por nós refe-
rido (Ferreira, 2022: 12), segundo o qual: “[d]e facto, o regime instituído radica no dever
destes titulares de cargos políticos atuarem com absoluta independência e isenção, não
podendo praticar quaisquer atos, para seu benefício ou de terceiros, que possam pôr em
crise a confiança do cidadão no Estado de Direito Democrático e no salutar funciona-
mento das instituições democráticas. Inscreve -se, pois, na esfera da tutela da probidade
e da transparência do múnus público que desempenham.”
6. Cfr. António João Maia, o qual defende que a ocorrência de corrupção: “(…) traduz
sempre uma corrosão sobre as expectativas sociais relativamente ao que deve ser o sen-
tido da ação do Estado, da governação e da gestão dos bens e dos interesses públicos e
da salvaguarda do interesse geral, particularmente sobre o funcionamento das estrutu-
ras de Governo e da Administração no seu todo (…)”. (Maia, 2020: 68)
7. Aliás, conforme refere o n.º 1, do artigo 266.º da Constituição: “Administração
Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.”
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8. Joaquim Freitas da Rocha, defende que: “[o] estadualismo moderado aqui as-
sumido pressupõe que o Interesse Público, tendo uma forte componente estadual e
devendo ser pré-estabelecido normativamente — exigências de segurança, clareza, de-
terminabilidade, e previsibilidade inerentes a qualquer Estado de Direito —, não pode ser
determinado exclusivamente com base numa lógica top-down, unilateral ouautocrática
(numa espécie de “Estado rigidificador da sociedade”), mas deve ter subjacente uma
concepção dialéctica das relações entre o Estado e a sociedade lato sensu (privados,
mercado, instituições, etc.), em que o primeiro ausculta os dados fundamentais da exis-
tência desta, e, sendo realmente fundamentais, incorpora-os e juridiciza-os. No segui-
mento, assumindo um papel disciplinador e corrector e por meio de uma metodologia
altamente selectiva, escolhe as despesas públicas realmente necessárias e realiza-as,
deixando de parte as actuações que o mercado melhor consegue levar à prática, e as
despesas que os privados melhor podem realizar” (Rocha, 2012: 7).
9. A este respeito, Luiz Cabral de Moncada advoga que: “os fins de interesse públi-
co são a heterodeterminante fundamental da actividade administrativa. Sem a respeti-
va prossecução a actividade administrativa carecia de qualquer base legal.” (Moncada,
2015: 78).
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12. Citando Montefiore, A., e Vines, D., Integrity in the public and private domains,
Londres, Routledge, 1999.
13. Citando Dobel, J. P., Public integrity, Baltimore, MD: The John Hopkins University
Press, 1999 e, do mesmo autor: Integrity in the public service, Public Administration
Review, 50(3), pp. 354 - 366.
14. «Other views are more characterized by the relationship between integrity and
morals; in other words, what is right and wrong, good or bad. The first sees integrity as
open reflection on morals (Carter, 1996). Three other viewpoints see integrity more as
an umbrella concept, one that combines sets of values that are relevant for the official
being judged. Among these is the more legal view that seems attractive because of the
clarity of laws and rules on what matters (Lee & Rosenbloom, 2005; Rosenbloom, 2011),
following up on Rohr (1989) with the focus on “constitutional or regime values”» (pp.
4–5).» (Huberts, 2018: 2)
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4. Do fenómeno da corrupção
15. António João Maia defende que: “a corrupção é um problema que pode ocorrer
no contexto da governação do Estado, quer ao nível da ação política dos órgãos do
Governo, designadamente dos governantes no âmbito da sua função de definição das
denominadas Políticas Públicas, quer ao nível da ação das estruturas de serviços da
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Conforme começámos por referir, esta matéria tem uma ressonância penal
muito marcada. O Código Penal Português e a legislação avulsa ocupam-se
desta tipologia de crimes. A doutrina penalista entende que o surgimento
de um tipo legal de crime visa a proteção de um (ou vários) bem jurídico
específico. Qual o bem jurídico aqui em voga? Nuno Brandão refere-se
a uma posição “largamente dominante na doutrina alemã, que concebe
o interesse protegido pelos crimes de corrupção, como um bem jurídico
complexo que agrega a capacidade e eficiência funcionais da máquina
estadual e a confiança comunitária na correção e objetividade no exercício
de funções públicas” (Brandão, 2021: 180-181). Resta saber porque é que
tendem a surgir fenómenos de corrupção perpetrados pelos ditos titulares.
Para João António Maia, a corrupção decorre da existência de conflitos
de interesses, provocando a sobreposição dos interesses particulares dos
titulares sobre o interesse geral (Maia, 2020: 66). Quanto aos fatores que
potenciam fenómenos de corrupção, o mesmo autor entende, a respeito
da existência de conflitos de interesses, que a corrupção tende a ocorrer
quando existem: “poderes públicos em regime de monopólio (só um
determinado funcionário exerce uma função específica na estrutura dos
serviços), associados a elevados índices de discricionariedade e a fracos
mecanismos de accountability (de controlo e prestação de contas (…)”
(Maia, 2020: 66)17.
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A análise que doravante levaremos a efeito não tem por objetivo abordar
exaustivamente o regime jurídico em destaque. É nosso objetivo promover
uma reflexão no sentido de descortinar se a normação instituída é suficiente
para se afirmar como um instrumento eficaz no controlo do exercício de
funções públicas e, consequentemente, na prevenção da corrupção.
Adán Nieto Martín, menciona que atualmente existe uma tendência para
utilizar este tipo de regimes (normas de caráter geral). Contudo, o mesmo
autor assinala que tais regimes não se têm mostrado suficientes para
prevenir a corrupção (Martín, 2014: 25). Cumpre refletir se este regime
padece da mesma maleita.
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19. Cfr. António Edmundo Ribeiro: “os impedimentos são um corolário do princípio
constitucional da imparcialidade”. (RIBEIRO, 2021: 348)
20. Pela sua relevância vide, a este respeito, Luiz S. Cabral de Moncada. Código do
Procedimento Administrativo – anotado. 1ª edição. Coimbra. Coimbra Editora. 2015. p.
278. Vide, ainda, o parecer n.º 25/2019 da Procuradoria Geral da República, nos termos
do qual: «Mário Esteves de Oliveira, Pedro Costa Gonçalves e João Pacheco de Amorim
traçam as fronteiras entre as figuras da incompatibilidade e do impedimento, enfatizan-
do, para tanto, que: “O que está em causa na incompatibilidade é, pois, a garantia da
imparcialidade da atuação administrativa como valor (puramente) abstrato: é a própria
lei que exclui a possibilidade de acumulação – por suspeitar, em abstrato, dos desvios
em favor de outras atividades privadas ou públicas dos fins por que se deve pautar o
exercício de certas atividades públicas, independentemente da pessoa que se trate e
do interesse que ela tenha ou deixe de ter em qualquer decisão. A incompatibilidade
não tem, pois, que ver com casos concretos, com procedimentos determinados. São
também garantias de imparcialidade que estão em causa na consagração da figura (e
dos casos) de impedimentos; porém, nestes, o que se passa é que o titular do órgão fica
proibido de intervir em casos concretos e definidos, o que não se deve a razões abstra-
tas de incompatibilidade entre cargos, mas à pessoa do titular do órgão e ao interesse
que ele tem naquela decisão – e exatamente por só respeitar ao caso concreto, o impe-
dimento pode qualificar-se como um incidente do procedimento (à decisão do qual se
referem os artigos 45º, nº 4, e 46º, nº 1)”».
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5.2. Incompatibilidades
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24. Cfr. o nº 1, do artigo 3º do Estatuto dos Eleitos locais, nos termos do qual: “[o]
s presidente e vereadores de câmaras municipais, mesmo em regime de permanência,
podem exercer outras atividades, devendo comunicá-las, quando de exercício conti-
nuado, quanto à sua natureza e identificação, ao Tribunal Constitucional e à assembleia
municipal, na primeira reunião desta a seguir ao início do mandato ou previamente à
entrada em funções nas actividades não autárquicas.” Repare-se que, de acordo com
esta norma, o exercício de outras funções está dependente de comunicação ao Tribunal
Constitucional e à Assembleia Municipal. Assim, os titulares abrangidos devem obter
autorização por parte da Câmara Municipal e, uma vez obtida, devem comunicá-la.
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25. Paulo Veiga e Moura e Cátia Arrimar defendem que: “(…) procura-se evitar o
surgimento dos denominados turbo-funcionários e a ocorrência de um fenómeno de
concentração do emprego público, com nefastas consequências em termos de demo-
craticidade no acesso ao Estado, distribuição equitativa de rendimentos e eficiência do
aparelho administrativo” (Moura, et. al., 2014: 147).
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5.3. Impedimentos
26. A este respeito já nos pronunciámos defendendo que: “(…) não consideramos
defensável, neste contexto, o argumento segundo o qual este controlo prévio constran-
ge o direito de acesso aos cargos públicos, a liberdade de ação ou a intimidade da vida
privada. Isto porque, tendo em conta o disposto neste regime, a relevância do cargo
político ou alto cargo público é de tal ordem que justifica um especial controlo e cuidado
no seu exercício.” (Ferreira, 2022: 58)
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ii. Temporais – quando tal participação tenha ocorrido nos três anos
anteriores à investidura do cargo.
27. Artigo 8.º - Atividades anteriores - “1. Os titulares de cargos políticos e de altos
cargos públicos que, nos últimos três anos anteriores à data da investidura no cargo,
tenham detido, nos termos do artigo 9º, a percentagem de capital em empresas ne-
les referida ou tenham integrado corpos sociais de quaisquer pessoas coletivas de fins
lucrativos não podem intervir: a) Em procedimentos de contratação pública de forne-
cimento de bens ou serviços ao Estado e a outras pessoas coletivas públicas aos quais
aquelas empresas e pessoas coletivas por si detidas sejam opositoras; b) Na execução
de contratos do Estado e demais pessoas coletivas públicas com elas celebrados; c)
Em quaisquer outros procedimentos formalmente administrativos, bem como negócios
jurídicos e seus atos preparatórios, em que aquelas empresas e pessoas coletivas sejam
destinatárias da decisão, suscetíveis de gerar dúvidas sobre a isenção ou retidão da
sua conduta, designadamente nos de concessão ou modificação de autorizações ou
licenças, de atos de expropriação, de concessão de benefícios de conteúdo patrimonial
e de doação de bens. 2. O impedimento disposto no número anterior, com as devidas
adaptações, é igualmente aplicável aos titulares dos cargos referidos nos artigos 4º e 5º
quando pratiquem atos em matéria administrativa.”
28. Mais especificamente, quanto às condições formais: – Tenham sido detidas pe-
los referidos titulares numa percentagem superior a 10% do respetivo capital social, ou
cuja percentagem de capital detida tenha sido superior a 50.000 euros; ou – Tenham
integrado corpos sociais de quaisquer pessoas coletivas de fins lucrativos. Ainda no que
concerne à integração nos órgãos de gestão das pessoas coletivas de fins lucrativos.
(Ferreira, 2022: 66).
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Desta forma, a norma merece uma séria revisão. Do nosso ponto de vista, o
elenco deve ser aberto, permitindo a concretização caso a caso. Avançamos
com uma proposta de revisão da norma:
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julho. A norma do artigo 9.º pode ser dividida em duas partes distintas,
a saber: a primeira parte relativa ao regime de impedimentos em matéria
de exercício de funções de natureza conflituante (n.º 1); e a segunda
parte relativa ao regime dos impedimentos em matéria de intervenção
procedimental administrativa (n. os 2 a 11).
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Pela sua pertinência chamamos à colação o n.º 6, deste artigo 9.º, o qual se
dedica especialmente aos titulares dos órgãos executivos das autarquias
locais, criando um mecanismo de reforço da transparência e da integridade,
cuja consequência resulta, em nosso entender, como importante forma de
prevenção da corrupção. Conforme é sabido, as autarquias locais possuem
património e finanças próprias, assim referem os artigos 235.º e 238.º da
Constituição. A existência de autonomia administrativa e financeira não
exclui que existam especiais relações entre municípios e freguesias que se
localizam na sua área territorial (o concelho). Tais relações especiais são
potenciadores de situações causadoras de confusão entre essas pessoas
coletivas de direito público. Sublinhe-se: a autonomia administrativa
e financeira não impede a existência de interdependência entre tais
autarquias na administração do território e na satisfação das necessidades
coletivas das populações. Dessa forma, grande parte das freguesias têm
o seu orçamento fortemente dependente das transferências financeiras
do município respetivo. Ou seja, caso os municípios não procedam à
transferência de verbas, a freguesia corre o sério risco de apenas conseguir
fazer uma gestão corrente, ficando impedida de executar projetos e, com
isso, satisfazer as necessidades das suas populações. Por outro lado, embora
com menor impacto, os municípios necessitam da colaboração assídua das
freguesias, tendo em vista o contacto direto e imediato com as populações
e a execução de tarefas as quais, dessa forma, melhor garantem o objetivo
pretendido. Assim, tal interdependência é fundamental para as autarquias
respeitarem o seu fundamento constitucional: prossecução de interesses
próprios das populações respetivas.
31. Com uma participação superior a 10% ou cujo valor seja superior a 50 000 (euro),
assim refere o n.º 3, do artigo 9.º da Lei n.º 52/2019, de 31 de julho.
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Por outro lado, entende o legislador que o titular ou o seu cônjuge não
separado de pessoas e bens pode usufruir de tal prorrogativa bastando
diminuir a sua participação na sociedade comercial por forma a deter
menos de 10% do capital, desde que inferior a 50.000 euros. Basta proceder
à liquidação ou exoneração parcial da sua participação. Mas o legislador dá
uma pista mais complexa, ao permitir que o titular lance mão da suspensão
da participação social (cujo instituto se desconhece), permitindo que
o titular mantenha a sua participação social, mas na forma suspensa
(presume-se que na totalidade ou parcialmente), de maneira a cumprir os
limiares referidos. Tal previsão inverte todo o esforço feito até então, tendo
em vista a promoção da transparência e integridade, bem como a prevenção
da corrupção. Dessa forma, facilmente concluímos que o legislador permite
que os titulares dos cargos políticos e públicos, impedidos nos termos da
norma do artigo 9.º, possam participar nos procedimentos contratuais
supra referidos, bastando cumprir um mero formalismo.
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34. Isto porque os mecanismos penais funcionam desde que haja notícia do crime,
conforme nos referem os artigos 241.º e seguintes do Código do Processo Penal. Não
havendo notícia do crime, ou seja, se o Ministério Público não tiver conhecimento da
eventual prática de um crime, não são acionados os mecanismos de reação penal, pas-
sando o delinquente incólume. Portanto, sem nos querermos alongar neste tema (nesta
sede), entendemos que os mecanismos penais, apesar da dita prevenção especial e
geral positiva, tornar-se-ão menos eficazes na prevenção da corrupção, na medida em
que corruptor e corrompido, cientes da ilicitude praticada, entendem sempre que con-
seguem continuar a driblar a lei e, desse modo, não se sentem suficientemente persua-
didos a não praticar corrupção apenas pela mera e hipotética probabilidade (remota)
de virem a ser agarrados pela malha penal. O mesmo já não acontecerá com os meca-
nismos administrativos, de aplicação obrigatória em todas as situações que integrem
os seus âmbitos.
35. Esta previsão não é nova e já se encontrava prevista no nº 1, do artigo 5º da Lei
nº 64/93, de 26 de agosto, nos termos da qual: “1. Os titulares de órgãos de soberania e
titulares de cargos políticos não podem exercer, pelo período de três anos contado da
data da cessação das respetivas funções, cargos em empresas privadas que prossigam
atividades no sector por eles diretamente tutelado, desde que, no período do respeti-
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6. Conclusão
Sucede que, a nosso ver, tal previsão não faria qualquer sentido, uma vez que afastaria
pessoas qualificadas do exercício de funções públicos, quando o objetivo deve ser exa-
tamente o contrário.
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Bibliografia
ALMEIDA, Mário Aroso de. Teoria Geral do Direito Administrativo. 8.ª edição
atualizada e ampliada. Coimbra. Almedina. 2021.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 2.ª edição (1960). 7.ª edição da
tradução portuguesa. Coimbra. Almedina. 2019.
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