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Na aula passada falamos da carta de serviços.

Ela pode ser definida como um


documento elaborado por uma organização com o objetivo de informar aos utentes os
diversos serviços que ela presta, os meios necessários para aceder aos mesmos, os padrões de
atendimento, o tempo necessário, etc. Serve como instrumento de controlo social porque é
através dela que o cidadão pode avaliar a prestação de serviços.

Esta carta se orienta por quatro princípios: participação e comprometimento, de


acordo com o qual todos os membros da organização devem participar da elaboração da
carta; informação e transparência, as informações sobre a prestação de serviços devem ser
públicas, de forma que todos saibam como proceder para aceder aos serviços; aprendizagem,
o aprendizado deve ser internalizado por todos os atores da organização, tornando-se parte do
trabalho diário em qualquer atividade; e a participação do cidadão, de acordo com a qual as
organizações deve estimular a participação dos cidadãos na avaliação dos serviços prestados.

E tem três finalidades: divulgar os serviços prestados pela organização públicas;


fortalecer a confiança e a credibilidade da sociedade na administração pública; e garantir o
direito do cidadão de receber serviços de acordo com as suas necessidade.

A carta de serviço recebeu varias críticas, dentre as quais se pode citar o facto de não
se apresentar forma de lei, daí que nenhum funcionário não poderá ser sancionado se não
respeitar, por exemplo, os padrões de atendimento; pelo facto de apenas apresentarem
exigências por parte da organização, não dando nenhuma responsabilidade ao utente; e
porque o compromisso com os padrões não garante a satisfação do cidadão.

Relativamente à avaliação da satisfação,

1. Governança no Sector Público

MATIAS-PEREIRA, José (2010). Governança no Sector Público. São Paulo: Atlas.


Capítulos 23 e 24.

1.1 Ética e Moral na Administração Pública

Ética, num sentido amplo, pode ser entendida como o estudo dos juízos de valores que
dizem respeito à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. Assim, a principal
questão da moral e da ética diz respeito à vida em sociedade, que permite que o ser humano
conviva com outros seres humanos tendo como referência um conjunto de normas e valores
que regem a sua conduta.

Embora ética e moral possam ser usadas como sinónimos, as principais diferenças
entre ética e moral são as seguintes: ética é princípio; moral são aspectos de condutas
específicas; ética é permanente, moral é temporal; ética é universal, moral é cultural; ética é
regra, moral é conduta da regra; e ética é teoria, moral é prática.

1.2 Ética, gestão pública e cidadania

Para Kant, o cidadão tem três características principais: a autonomia, ou seja, o


cidadão tem de ter capacidade de conduzir-se segundo o seu próprio arbítrio; a igualdade
perante a lei; e a independência, ou seja, a capacidade de sustentar-se a si próprio.

E importante ressaltar que existem duas dimensões do conceito de cidadania. A


primeira dimensão está relacionada à experiência dos movimentos sociais e deriva dela, ou
seja, das lutas por direitos. A segunda dimensão, além da titularidade de direitos, deriva do
republicanismo clássico, enfatizando a preocupação com a coisa pública, com a res publica.

1.2.1 Características da gestão ética

a) Valores éticos: representam a expectativa da sociedade quanto à conduta dos


agentes públicos;

b) Normas de conduta: são o desdobramento dos valores, funcionando como


um caminho prático para que os valores explicitados sejam observados;

c) Administração: tem o objetivo de zelar pelos valores e normas de conduta,


assegurando sua efetividade.

1.2.2 Ética e transparência na Administração Pública

O objetivo da gestão da ética visa à definição de padrões éticos de conduta nas


organizações, de tal forma que não deixe nenhuma dúvida quanto à conduta que espera-se em
situações específicas.
1.2.3 Efeitos da falta de ética na capacidade de governança

A falta de ética compromete a capacidade de governança e representa risco à


sobrevivência das organizações, públicas e privadas.

1.3 Controlo social e estratégia de combate à corrupção

1.3.1 Efeitos políticos e econômicos da corrupção

Verifica-se que os efeitos negativos sobre o desenvolvimento econômico e político


são bastante perceptíveis quando a corrupção compromete o direito de propriedade, o império
da lei e os incentivos aos investimentos.

 Por outro lado, está evidenciado que uma sociedade com corrupção generalizada,
mais cedo ou mais tarde, será submetida a crises de legitimidade no seu sistema
político, especialmente em termos de queda nos níveis de credibilidade de seus
políticos e de suas instituições. O custo político é alto, porque as instituições,
quando são vistas como corruptas, são desacreditadas e não terão apoio da
população.

 Em países onde é generalizada a corrupção, de cada unidade monetária investida,


boa parte é desperdiçada, o que implica num investimento, de fato, menor. A
corrupção também pode onerar a riqueza de uma nação e seu crescimento
econômico ao afugentar novos investimentos, ao criar incerteza quanto à
apropriação dos direitos privados e sociais.

 Em casos extremos, a corrupção crônica leva países a crises políticas permanentes


que acabam em golpes de estado ou em guerras civis.

Para muitos autores, a corrupção aparece com maior vigor quando as instituições
geram excesso de regulamentação e de centralização estatal; e as instituições políticas não
estão sob controlo da maior parte da sociedade. Assim, é perceptível que a corrupção possui
causas profundas e comuns, sendo a principal a perda dos valores do serviço público e a
identificação exclusiva do êxito pessoal e coletivo com o lucro a qualquer preço.
1.4 Percepção da corrupção: problema grave e estrutural da sociedade e do sistema
político

É percebida como um problema grave e estrutural da sociedade e do sistema político


da grande maioria dos países no mundo.

1.5 Causas da corrupção

 Fraco comprometimento dos líderes nacionais no combate à corrupção

 Ineficiências das instituições de responsabilização;

 O governo da lei tem bases fracas;

 Nível de desenvolvimento e tipo de regime;

 A contestação da legitimidade do Estado como guardião do interesse público

A principal causa da corrupção é a elevada discricionariedade das agências


governamentais e fracas instituições de responsabilização.

1.6 Formas da corrupção

 Corrupção burocrática ou pequena corrupção: a que envolve funcionários do


público (de nível de rua), quando os mesmos favorecem o cidadão em troca de
benefícios monetários menores;

 Grande corrupção: envolve burocratas de alto escalão, e geralmente envolve


valores monetários avultados;

 Captura do Estado ou tráfico de influências: quando um agente privado influencias


um ou todos os poderes públicos a fim de que aprovem leis que os beneficiem;

 Corrupção ao nível de procurement: ocorre quando há pagamento de subornos para


manipular contratos para beneficiar a um certo agente económico;

1.6.1 Formas de manifestação da corrupção

 Na arena administrativa – nepotismo, existência de funcionários fantasmas nas


folhas de salários, compra de cargos públicos, colecta ilegal de taxas ou de impostos
e taxas não autorizadas, falsificação ou destruição de arquivos, acção administrativa
arbitrária e manipulação de procedimentos e regras estabelecidos.

 No Legislativo – questões ligadas ao financiamento de campanhas eleitorais e


conflito de interesse.

 Relativamente ao Judiciário – suborno aos juízes para manipular a s sentenças a


favor de determinados interesses, advogados que espoliam os seus clientes ou não
os representam adequadamente (de forma deliberada), ou a pressão do Executivo
sobre os juízes para julgarem baseados apenas em conveniências políticas.

1.7 Formas de combate à corrupção

 Nesta ótica, nos países onde a governança é fraca, recomenda-se o estabelecimento


e/ou fortalecimento do Estado de Direito, o reforço das instituições de participação
e prestação de contas, limitação do poder discricionário e da intervenção do
Governo às suas funções chave;

 Por sua vez, nos países onde a governança é forte recomenda-se a criação de
agências anticorrupção, adoção de legislação contra suborno/corrupção, reforço da
gestão financeira e dos mecanismos de prestação de contas, condenação dos
grandes corruptos;

 Nos casos intermédios, a descentralização, as reformas nas políticas económicas e


na gestão pública, assim como a introdução de incentivos (exemplo, política
salarial) e da competição na provisão dos serviços públicos são indicados como
soluções apropriadas.

1.8 Índice de perceção de corrupção

É um medidor de grau de corrupção num país. De 0 a 5, os países são tidos como


altamente corruptos; e os que tendem para 100 têm baixo índice.

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