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Silas Santiago1
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Doutorando em Direito no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa – IDP,
Brasília. Mestre em Administração Tributária e Política Tributária, pela Universidade de
Educação a Distância (UNED), em Madri, Espanha (2015). E-mail: silassantiago1@gmail.com.
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Congresso Nacional, buscando soluções que reforcem a importância do federalismo
fiscal independente.
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Introdução
Nesse sentido, a Constituição Federal estatui no seu art. 18, caput, que a organização
político-administrativa da República Federativa do Brasil é compreendida pela União,
Estados, Distrito Federal e municípios.
O sistema misto de arrecadação tributária garante, tanto fonte de recursos próprios por
meio da outorga de competência impositiva, quanto participação dos entes menores no
produto de arrecadação do ente central, estando esse sistema estruturado para garantir a
autonomia financeira dos entes federados e, consequentemente, o respeito as demais
perspectivas da autonomia.
Os impostos sobre a renda e consumo, por exemplo, não permitem aferir se o fatos
sujeitos ao imposto teriam ocorrido em um ou outro local do país – e às vezes até no
exterior. Dessa forma, para essas hipóteses de incidência utilizam-se duas soluções.
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A segunda solução, a mais comum e utilizada pelo Brasil, é a centralização da
arrecadação em um nível federativo e sua repartição aos demais. É o que ocorre com os
impostos federais sobre a renda (IR) e sobre os produtos industrializados (IPI), que são
repartidos com estados e municípios, e com os impostos estaduais sobre a propriedade
de veículos automotores (IPVA) e sobre operações relativas à circulação de mercadorias
e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação (ICMS), que são repartidos com os municípios.
Na medida em que a resposta – sob os aspectos legais, pode vir a ser negativa, cabe
indagar quais seriam as alternativas para que o federalismo cooperativo opere no campo
da repartição de receitas.
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O Federalismo Nacional é a forma de organização do Estado em que os entes federados
são dotados de autonomia administrativa, política, tributária e financeira e se aliam na
criação de um governo central por meio de um pacto federativo. Neste contexto, o
Federalismo surgiu da necessidade, principalmente, de países com grandes extensões
territoriais descentralizar o seu poder. Nesses países, há diversidades culturais,
climáticas, sociais e econômicas, de modo que as necessidades e prioridades diferem
muito de uma região para a outra.
Sendo assim surgiu o Federalismo Fiscal como parte do acordo federativo que atribui
para cada ente da federação a competência para arrecadar um determinado tipo de
tributo, a repartição de receitas tributárias entre esses entes, assim como a
responsabilidade de cada ente na alocação dos recursos públicos e prestação de bens e
serviços públicos para a sociedade.
O Federalismo Fiscal é então o ramo da ciência econômica dentro do setor público que
estuda a repartição fiscal e de competências entre as diferentes esferas de um governo,
buscando sempre a melhor alocação, maximização da eficiência da arrecadação de
recursos e melhor oferta de bens e serviços públicos à população de uma forma geral.
O sistema misto de arrecadação acaba por garantir recursos tanto por meio da outorga
de competência impositiva, quanto pela participação dos entes menores no produto da
arrecadação do ente central, estruturando-se de modo a garantir a autonomia dos entes
federados.
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2. A autonomia da União Federal na seara Tributária e a Desoneração
Tributária
Alguns tributos são arrecadados diretamente pela União Federal para posteriormente
serem repassados aos Municípios. Alguns, apesarem de terem dupla ou mais
destinações, acabam por arrecadados e consequentemente repassados na proporção da
política fiscal instituída pela União Federal.
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União para os Municípios, compondo 23,5% (vinte e três e meio por cento) do produto
de arrecadação do imposto sobre renda de qualquer natureza - IR e sobre produtos
industrializados – IPI e que inexiste previsão constitucional ou infraconstitucional para
se proceder com a dedução dos benefícios fiscais dos benefícios fiscais, das isenções
fiscais e das restituições. Em palavras claras, defendeu o Município que eventuais
benefícios concedidos pela união não poderiam ser deduzidos dos valores recebido pelo
Município.
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Conforme bem explanado no voto vencido do Ministro Luiz Fix, o ponto principal da
discussão consistiu em saber se de fato a expressão “produto da arrecadação” pressupõe
que o tributo seja primeiro arrecadado, não havendo que se falar em qualquer direito por
parte dos entes subnacionais antes disso. Sob essa ótica, haveria uma rígida separação
entre os planos: da competência para instituição de tributos e o da arrecadação, o que,
de certa forma, prestigia a posição da dogmática jurídica tradicional que tem defendido
uma rígida segregação entre o Direito Tributário e o Direito Financeiro.
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3.2 A Distinção entre o Tema 42 e o RE 705.423
Por esse programa, criado pela Lei Estadual nº 11.345/2000, e regulamentada pelo
Decreto SC nº 1.490/2000, a empresa beneficiária recolhia o ICMS, mas o Estado
devolvia o valor à empresa no prazo de dois dias, descontada a remuneração de 2%
(dois por cento) pela gestão do programa, na forma de financiamento a ser amortizado
em até dez anos.
Como o relator evidenciou, a decisão no Tema 42 não permite sua aplicação para casos
gerais de concessão de benefícios e isenções fiscais, os quais fazem parte da
competência tributária do ente tributante.
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Ao final, o Ministro Edson Fachin firmou convicção no sentido de que, desde que a
concessão de benefícios tenha ocorrido de forma regular, a competência da União de
instituí-los não se deve enfraquecer em face da (importante) autonomia financeira dos
municípios.
O voto do relator foi seguido pelos demais ministros, à exceção dos Ministros Luiz Fux
e Dias Toffoli.
Nas questões de análise jurídica não obteve sucesso, haja vista que tentou estabelecer a
conexão entre o julgamento do STF no Tema 42 (já tratado) e o RE 705.423, que
representam situações bastante distintas.
O Ministro Luiz Fux ainda destacou que o Congresso Nacional já teve inúmeras
oportunidades de resolver a questão, mediante Projetos de Emendas Constitucionais
(PECs nº 09 e 12 de 2009 e 2/2012). Citou a Lei Complementar nº 143, de 2013, que
teve seu artigo 5º vetado, que tinha a seguinte redação: “Eventuais desonerações
concedidas pelo Governo Federal incidirão apenas na cota de arrecadação destinada à
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União, não sendo consideradas para efeito de repasse do FPE e do FPM.” (BRASIL,
2016).
O Ministro Barroso também ressaltou que “tal como a reforma política, a gente só pode
apontar problemas, mas a gente não tem condição de fazê-la”.
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Com a devida vênia, discordamos. Não são conciliáveis princípios constitucionais com
dispositivos constitucionais literais e claros. Não se pode ler “produto da arrecadação”
de outra forma.
Sendo assim, salvo melhor juízo a situação demanda mesmo reforma constitucional, que
inclusive pode ser levada a cabo no seio de uma reforma tributária mais ampla, na qual
se reveja as competências de todos os entes federados.
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competências tributárias constitucionalmente previstas. O sistema de repartição das
receitas tributárias e as transferências intergovernamentais, em geral têm por objetivo
promover um equilíbrio financeiro adequado nas distintas esferas de governo. É, pois, a
técnica da repartição das receitas tributárias que com maior ênfase diminui as
desigualdades regionais, tornando menos distante o objetivo nacional estampado no art.
3º da atual Carta Política.
Considerações Finais
Conforme acertadamente exposto pelo Ministro Luis Roberto Barroso nos autos do RE
705.423, “é certo que esta crise fiscal decorre, em parte, da crise econômica, que,
evidentemente, reduz a arrecadação. Penso que ela decorre também, e em grande parte,
de uma irresponsabilidade fiscal grande que marcou um pouco a atuação de Estados e
Municípios ao longo dos últimos anos de aparente bonança, inclusive com
inobservância da Lei de Responsabilidade Fiscal. E nós vivemos um momento em que,
para enfrentar a crise fiscal, terá de haver uma inexorável diminuição do tamanho do
Estado, tanto no plano federal quanto no plano estadual, quanto no plano municipal. A
sociedade não é mais capaz de sustentar o Estado brasileiro nas suas três dimensões à
vista da proporção que ele assumiu, em que mais de 4% do PIB são gastos apenas com o
pagamento da folha, fazendo com que não sobre dinheiro suficiente para os
investimentos essenciais que a população, sobretudo a população mais pobre, precisa”.
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REFERÊNCIAS
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 12.ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2005.
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