A competência tributária, estabelecida na Constituição Federal (CF),
desempenha um papel fundamental na estruturação do sistema tributário do país. Ela define quais entes federativos - União, Estados, Distrito Federal e Municípios - têm o poder de instituir impostos, taxas e contribuições. Além disso, a distribuição dessa competência impacta diretamente a arrecadação de recursos e a autonomia financeira de cada unidade federativa:
Competência para instituir tributos: A CF define que a competência
para a instituição de tributos é distribuída entre os diferentes níveis de governo. O art. 145 da CF estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios têm a competência para criar impostos, taxas e contribuições de melhoria. Cada um desses entes possui uma lista de tributos de sua competência, e essa distribuição é fundamental para a organização do sistema tributário nacional;
B) Competência tributária nos Estados Federados: Nos Estados
Federados a competência tributária é compartilhada entre a União, os Estados e os Municípios. Os Estados têm a capacidade de instituir impostos estaduais, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), por exemplo. Isso permite que eles arrecadem recursos para financiar suas despesas e programas locais;
Competência tributária e regime de autonomia das unidades
federadas: A CF garante um grau de autonomia financeira às unidades federadas, ou seja, aos Estados e Municípios. Isso significa que eles têm o direito de criar seus próprios tributos, dentro dos limites estabelecidos pela CF, e gerenciar suas finanças de acordo com suas necessidades e políticas locais. No entanto, essa autonomia não é absoluta, e há regras e limites impostos pela CF para garantir a estabilidade do sistema tributário nacional; Competência bivalente do Distrito Federal (art. 147 da CF): O Distrito Federal possui uma competência tributária considerada bivalente, o que significa que ele pode instituir tanto impostos estaduais quanto municipais. Essa situação especial se deve ao fato de o Distrito Federal exercer simultaneamente as funções de Estado e Município, uma vez que a capital do país, Brasília, está localizada no Distrito Federal. Portanto, o Distrito Federal tem a competência para criar impostos que normalmente seriam de competência estadual e municipal, como o ICMS e o ISS (Imposto sobre Serviços).
Como se sabe, a competência tributária é um pilar fundamental do
sistema tributário brasileiro, definindo quais entes federativos têm o poder de instituir tributos e estabelecendo limites e princípios que regem esse processo. Suas características essenciais, como a facultatividade, indelegabilidade, irrenunciabilidade e exclusividade, desempenham um papel crucial na estruturação das finanças públicas e na garantia da autonomia de cada esfera de governo:
Facultatividade e a LC 101/00 (art. 11, p.u.): A competência tributária é
facultativa, o que significa que os entes federativos têm a opção de exercê-la ou não. Isso está de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00), que estabelece em seu artigo 11, p.u., que a instituição de tributos depende da decisão administrativa do ente federativo e da observância dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Ou seja, antes de criar um novo tributo, o ente deve considerar esses princípios e tomar uma decisão fundamentada;
Indelegabilidade: A competência tributária é indelegável, o que significa
que um ente federativo não pode transferir a outro a capacidade de criar tributos em seu nome. Por exemplo, um município não pode delegar a um estado a autoridade para instituir impostos municipais. Cada ente federativo tem sua própria esfera de competência tributária definida na CF; Irrenunciabilidade: A competência tributária é irrenunciável, o que significa que um ente federativo não pode abrir mão de sua capacidade de instituir tributos de forma permanente. No entanto, é possível que, em situações específicas e por meio de legislação específica, haja concessões temporárias de isenções fiscais, mas essas devem ser feitas dentro dos limites da CF e da legislação tributária;
Exclusividade – isenções heterônomas (art. 151, III da CF): A
competência tributária é exclusiva, o que significa que cada ente federativo tem o poder de instituir e modificar seus próprios tributos dentro dos limites da CF. O artigo 151, inciso III, da CF proíbe que um ente federativo conceda isenções fiscais por meio de lei de outro ente (isenções heterônomas) sem a autorização do ente que detém a competência tributária sobre aquele tributo. Isso preserva a autonomia e a exclusividade de cada ente federativo em relação aos seus tributos.
Já a competência residual em matéria tributária refere-se à capacidade
de os entes federativos, principalmente a União, instituírem tributos que não estejam previstos de forma específica na CF:
Para impostos: O artigo 154 da CF estabelece que a União poderá
instituir impostos não previstos no artigo anterior (que trata dos impostos em geral) mediante lei complementar. No entanto, esses impostos devem atender a duas condições: devem ser não cumulativos (ou seja, não podem incidir sobre o mesmo fato gerador mais de uma vez) e não podem ter fato gerador ou base de cálculo própria dos impostos já discriminados na CF. Isso significa que a União tem a competência residual para criar impostos desde que não dupliquem as competências já atribuídas a outros entes federativos;
Para Contribuições à Seguridade: O art. 195 da CF estabelece que a
lei poderá instituir outras fontes de financiamento destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social. No entanto, essa competência também está sujeita ao disposto no artigo 154, I. Isso significa que, assim como no caso dos impostos, a União pode instituir contribuições à seguridade social que não estejam previstas na CF, desde que siga os princípios estabelecidos no artigo 154, I.
A competência tributária é dividida em várias facetas, incluindo a
competência para instituir tributos, a competência para arrecadar tributos e a parafiscalidade:
Competência para instituir tributos: Esse aspecto da competência
tributária diz respeito ao poder de um ente federativo (União, Estados, Distrito Federal ou Municípios) criar tributos por meio da promulgação de leis. Cada ente federativo tem sua própria esfera de competência para instituir tributos, que está definida na CF;
Competência para arrecadar tributos: A competência para arrecadar
tributos está relacionada à capacidade de um ente federativo efetivamente recolher os recursos financeiros resultantes dos tributos instituídos. Isso envolve a criação de órgãos e sistemas de arrecadação, a fiscalização, a cobrança e a administração dos tributos. Cada ente federativo também exerce essa competência em sua respectiva esfera;
Parafiscalidade: A parafiscalidade refere-se à criação de entidades ou
fundos específicos, muitas vezes com autonomia administrativa e financeira, com a finalidade de arrecadar recursos que serão utilizados para fins específicos, geralmente relacionados a determinadas atividades ou setores. Essas entidades são conhecidas como "parafiscais" e atuam na arrecadação e na gestão de contribuições compulsórias, taxas ou contribuições especiais.
A competência tributária ainda é dividida em ouras categorias, incluindo
a competência para instituir taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições. Cada uma dessas competências possui regras específicas e está sujeita a dispositivos constitucionais e legais que regulamentam sua aplicação: Competência para instituir taxas e contribuições de melhoria: A competência para instituir taxas e contribuições de melhoria está relacionada à capacidade dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) de criar esses tributos. As taxas são cobradas em razão da realização de atividade estatal específica e divisível, como a emissão de documentos ou a prestação de serviços públicos específicos. As contribuições de melhoria, por sua vez, são tributos cobrados em decorrência de valorização imobiliária resultante de obras públicas;
Competência para contribuição de melhoria para obras em regime
de cooperação federativa (DL 195/1967, arts. 3º, 12 e 13): O Decreto- Lei 195/1967 estabelece normas relacionadas à competência para instituir contribuições de melhoria em casos de obras realizadas em regime de cooperação federativa. Isso significa que quando obras públicas envolvem mais de um ente federativo (por exemplo, União, Estado e Município), as regras podem variar de acordo com o acordo de cooperação estabelecido entre esses entes;
Competência para instituir empréstimos compulsórios (União: art.
148 da CF): A CF confere à União a competência para instituir empréstimos compulsórios, que são tributos de caráter temporário e excepcional, cobrados em situações de guerra, calamidade pública ou investimentos públicos de urgência. O artigo 148 da CF estabelece as condições e os procedimentos para a criação desses tributos;
Competência para instituir contribuições: As contribuições são
tributos com destinações específicas, muitas vezes vinculadas à seguridade social, ao financiamento de categorias profissionais ou a outras finalidades determinadas. A CF atribui a competência para instituir contribuições a diferentes entes federativos: a. Da União: Os arts. 149, 149 (§2º), 177 (§ 4º), 195, 212, 239 e 240 da CF estabelecem a competência da União para instituir diversas contribuições, incluindo as contribuições sociais;
b. Dos Municípios e Distrito Federal: O art. 149-A da CF confere a
competência aos Municípios e ao Distrito Federal para instituir contribuições, desde que observem as regras estabelecidas na CF;
c. Dos Estados e Municípios: O art. 149 (§ 1º) da CF permite que
Estados e Municípios instituam contribuições, mas em geral, a maior parte das contribuições é de competência da União.
Em conclusão, a competência tributária na CF destaca a complexidade e
a importância desse assunto no sistema tributário do país. A competência para instituir tributos, arrecadar recursos, criar contribuições específicas e a parafiscalidade são elementos fundamentais que determinam como os entes federativos exercem seu poder de tributar. Além disso, a competência residual e as condições para a criação de tributos especiais, como empréstimos compulsórios e contribuições de melhoria, demonstram a flexibilidade do sistema tributário em adaptar-se a circunstâncias específicas.