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Fiscal I - Aulas da Dr. Joana

Direito Fiscal I (Universidade de Coimbra)

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FISCAL I
Aula suplementar 31 março 18h e 28 abril 18h

PARTE 1 – DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO CONSTITUCIONAL


TRIBUTÁRIO

1. A ATIVIDADE FINANCEIRA PÚBLICA


Para desempenhar as tarefas que lhe estão incumbidas, o Estado necessita de
recursos financeiros suficientes. Assim sendo, a cobrança de impostos, taxas e
contribuições financeiras é a vital para a acumulação desses recursos por parte do
Estado.
Vivemos num Estado Fiscal ou num Estado Tributário?
Atualmente, verifica-se a superação do modelo de Estado anteriormente
considerado, o Estado Patrimonial, que se centrava no facto de que as receitas públicas
eram provenientes da exploração do património do Estado. Hoje, o Estado configura-se
como um Estado Fiscal, onde os impostos (uma categoria de tributos) são
predominantes como fonte de despesa pública ainda que as taxas (outra categoria de
tributos) tenham ganho alguma relevância e que existam algumas doutrinas que já falam
até num Estado Tributário.
Podemos concluir que a atividade financeira pública se traduz na acumulação de
receitas e realização de receitas.

2. REGULAÇÃO JURÍDICA DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Direito Financeiro Público

Direito Tributário

Direito Fiscal

O Direito Financeiro Público traduz o conjunto de princípios e regras jurídicas


que disciplinam a atividade financeira do Estado.
O Direito Tributário é um ramo do Direito Financeiro, composto pelo conjunto de
regras jurídicas que disciplinam a arrecadação de receitas coativas (tributos) pelo
Estado e demais entes públicos. Estes tributos podem assumir diferentes formas,
sendo as mais importantes os impostos e as taxas.
O Direito Fiscal é o conjunto de normas jurídicas relativas aos impostos.

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3. CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS

Artigo 3.º LGT


Classificação dos tributos
1 - Os tributos podem ser:
a) Fiscais e parafiscais;
b) Estaduais, regionais e locais.
2 - Os tributos compreendem os impostos, incluindo os aduaneiros e especiais, e
outras espécies tributárias criadas por lei, designadamente as taxas e demais
contribuições financeiras a favor de entidades públicas.
3 - O regime geral das taxas e das contribuições financeiras referidas no número
anterior consta de lei especial.

Artigo 4.º LGT


Pressupostos dos tributos
1 - Os impostos assentam essencialmente na capacidade contributiva, revelada, nos
termos da lei, através do rendimento ou da sua utilização e do património.
2 - As taxas assentam na prestação concreta de um serviço público, na utilização de
um bem do domínio público ou na remoção de um obstáculo jurídico ao
comportamento dos particulares.
3 - As contribuições especiais que assentam na obtenção pelo sujeito passivo de
benefícios ou aumentos de valor dos seus bens em resultado de obras públicas ou da
criação ou ampliação de serviços públicos ou no especial desgaste de bens públicos
ocasionados pelo exercício de uma atividade são consideradas impostos.

IMPOSTOS
Noção de Imposto em termos objetivos

 O imposto é uma prestação (de natureza obrigacional), gerida e administrada


por entidades públicas, no exercício típico de poderes de autoridade;
 O imposto tem um caracter pecuniário, traduzido em dinheiro;
 O imposto é unilateral, ou seja, não tem uma contraprestação específica (não é
possível estabelecer, individualmente, uma relação entre o montante de imposto
suportado e a contraprestação; por exemplo: pagamos um imposto para todos
em geral terem direito à saúde);
 O imposto é definitivo, não existe a devolução de impostos;
 O imposto é coativo, a fonte de obrigação do imposto resulta do preenchimento
do facto tributário e a sua execução pode ser exigida pela Administração Fiscal
através do procedimento de execução fiscal.

Noção de Imposto em termos Subjetivos:


A noção subjetiva de imposto relaciona-se como os sujeitos que integram a relação
jurídica obrigacional do Imposto. O Imposto é sempre uma prestação:

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 Exigida a ou devida por detentores de capacidade contributiva;


 A favor de entidades que exerçam funções públicas.

Quem é que tem capacidade contributiva?


Todos aqueles que revelem, através dos rendimentos que auferem, dos bens cuja
titularidade lhes corresponda ou do consumo que realizem, dispor de capacidade
financeira para contribuir para sustentar os encargos públicos.

Noção de imposto em termos Teleológicos


O imposto é caracterizado pelo facto de:

 As receitas obtidas terem de se destinar à realização de tarefas de interesse


geral (carácter financeiro do imposto).
 A obrigação de onde decorrem não tenha carácter sancionatório
(contraordenações, multas, confisco, indeminizações).

O imposto incide sobre as pessoas ou sobre propriedade?


O imposto incide sobre a propriedade; no entanto, a natureza do imposto só pode
ser determinada com base na relação do Estado com as pessoas em nome das quais
e para as quais ele existe.

O pagamento do imposto é voluntário ou compulsório?


O carácter compulsório dos impostos tornou-se mais universal. No entanto, a base
fundamental do Estado de Direito é a vontade, tendo que ser essa a fornecer os meios
necessários à sua subsistência.

“Só uma ideia subjetiva de Estado e uma ideia subjetiva de tributação são aptas a fornecer as bases aos
princípios éticos da tributação” – Stephen Weston

DIVISÃO DOS TRIBUTOS

Princípio da Legalidade Fiscal


Tributos Unilaterais/
Impostos
Princípio da Capacidade Contributiva
Divisão
Dicotómica/
Bipartida/ Binária
Reserva à lei parlamentar ou DL autorizado
relativamente ao regime geral
Tributos Bilaterais/
Taxas Princípio da Proporcionalidade Taxa/ Prestação
ou Taxa/ Custos específicos causados
à Comunidade

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TAXAS
Noção de Taxa
São (contra)prestações patrimoniais de carácter bilateral, ou seja, assentam numa
relação jurídica do tipo do ut des: à contraprestação tributária do particular a favor do
Estado e demais entes públicos corresponde uma anterior prestação específica, uma
atividade desses mesmos entes especialmente dirigida ao respetivo dirigido ao
respetivo obrigado, não visando comportar prestações difusas tal como impostos.
→ Prestação concreta de um serviço público; disponibilização de um bem do
domínio público e/ou remoção de um obstáculo jurídico a particulares (art.4º/2
LGT).

Competência Legislativa – Quem pode criar taxas?

Art.165º CRP
Reserva relativa de competência legislativa

1. É da exclusiva competência da Assembleia da República legislar sobre as


seguintes matérias, salvo autorização ao Governo:
(…)
i) Criação de impostos e sistema fiscal e regime geral das taxas e demais
contribuições financeiras a favor das entidades públicas.

Tipo de Contraprestação (art.4º/2 LGT)


Prestação concreta de um serviço público – Financiamento das prestações divisíveis
e individualizáveis de serviços públicos, desde que a necessidade do serviço tenha sido
gerada pelo sujeito passivo (ex: tava pela recolha de lixo; propinas do Ensino Superior)
Utilização de um bem do domínio público – Compensação da comunidade por um
uso/aproveitamento individualizado de um bem do domínio público (ex: redes e serviços
de comunicações eletrónicas acessíveis ao público)
Remoção de um obstáculo jurídico ao comportamento dos particulares –
remuneração de um encargo específico ocasionado pela remoção de um obstáculo
jurídico (ex: taxa de publicidade)

REGIME DIFERENCIADO
Quanto às taxas, existe uma diferença muito a relevante quanto ao seu regime
constitucional: o princípio da legalidade fiscal só vale para os impostos.

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CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS vs. CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS


CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS

▪ Equiparadas a impostos. ▪ Equiparadas a taxas.


▪ Podem assentar na obtenção de benefícios ou ▪ São cobradas para a cobertura das
aumentos de valor dos seus bens em despesas de pessoas coletivas públicas
resultados de obras públicas pelo sujeito não territoriais. Visam, assim, o sustento
passivo; ou de criação ou ampliação de financeiro dessas entidades.
serviços públicos ou no especial desgaste de ▪ Estas contribuições financeiras são
bens públicos ocasionados pelo exercício de intituladas de tributos parafiscais. Não são
uma atividade (art.4º/3 LGT). impostos porque não são uma participação
▪ Podem ser “contribuições de melhoria” ou nos gastos gerais da comunidade, mas
“contribuições por maiores despesas” também não são uma retribuição de um
▪ Contribuições de melhoria – é devida uma serviço concretamente prestado por uma
prestação em virtude de uma vantagem entidade pública ao sujeito passivo.
económica particular resultante do exercício ▪ Introduzidas pela revisão constitucional de
de uma atividade administrativa; 1997, a categoria tributária das contribuições
▪ Contribuições por maiores despesas - é financeiras a favor das entidades públicas,
devida uma prestação em virtude de as coisas são tributos parafiscais que se situam num
possuídas ou de a atividade exercida pelos ponto intermédio entre a taxa e o imposto.
particulares darem origem a uma maior ▪ Partilham em parte da natureza dos impostos
despesa das autoridades públicas. (não têm necessariamente uma
contrapartida individualizada para cada
contribuinte) e das taxas (visam retribuir o
serviço prestado por uma instituição pública
a certo círculo ou certa categoria de pessoas
ou entidades que beneficiam coletivamente
de uma atividade administrativa

CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS CONTRIBUIÇÕES FINANCEIRAS


• Encargo por deficiência de • Taxa de regulação e supervisão - visa financiar a
estacionamento – contribuição por ação quotidiana da Entidade Reguladora para a
maiores despesas; Comunicação Social;
• Taxa de coordenação e controlo - acórdão do STA
• “Imposto” de camionagem, que tem
de 26/09/2018, incide sobre os vinhos e produtos
em conta o especial desgaste de
vínicos produzidos no território nacional, incluindo os
bens públicos – contribuição por
expedidos ou exportados para fora do território
maiores despesas.
nacional, bem como os vinhos e produtos vínicos
• Contribuição especial incidente produzidos noutros territórios que sejam
sobre o aumento de valor dos prédios comercializados em Portugal, constituindo receita do
rústicos, terrenos para construção e IVV pelo «desempenho das funções relativas à
áreas resultantes da demolição de coordenação geral e ao controlo do sector vitivinícola».
prédios urbanos devido à realização • Taxa de segurança alimentar mais - acórdão n.º
da Expo98 – contribuição de 539/2015, é anualmente devida pelas entidades
melhoria; titulares de estabelecimentos de comércio alimentar de
• Contribuição especial devida pelo produtos de origem animal e vegetal, frescos ou
aumento de valor dos prédios rústicos congelados, transformados ou crus, a granel ou pré-
e terrenos para construção embalados, como contrapartida da garantia de
decorrente da sua situação nas áreas segurança e qualidade alimentar. Destina-se a suportar
de intervenção da CRIL, CREL, CRIP, as despesas inerentes àquelas ações que constituem
CREP (aumento de valor dos seus as garantias de segurança e qualidade alimentar.
bens) – contribuição de melhoria. Financia o Sistema de Controlo Oficial;
>

• Contribuições obrigatórias para a segurança


social.

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O artigo 165.º, n.º 1, al. i) da CRP estabelece dois regimes de reserva relativa da AR:
• um para os impostos, sujeitando-os ao exigente princípio da legalidade fiscal;
• outro para as taxas e demais contribuições financeiras, traduzido na integração
do seu “regime geral” na reserva relativa da competência legislativa da AR.

Significa isto que as contribuições de melhoria e as contribuições financeiras não


estão sujeitas em igual medida ao princípio da legalidade.
• Art.3º/2 e 3 da LGT – as contribuições financeiras não são ainda objeto de um regime
jurídico próprio, pelo que são equiparadas, em termos do seu regime, às taxas e as
contribuições especiais são consideradas impostos.

ESTRUTURA DOS TRIBUTOS

4. Princípios Jurídico-Constitucionais da Tributação


A. Princípio da Universalidade F. Princípio da Segurança Jurídica e
B. Princípio da Igualdade Tributária da Proteção da Confiança
C. Princípio da Necessidade G. Princípio da Proporcionalidade
Tributária H. Princípio da Tutela Jurisdicional
D. Princípio do Respeito pelos Efetiva
Direitos Fundamentais I. Princípio Anticorrupção
E. Princípios da Legalidade Tributária J. Princípio da Justiça distributiva

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A. Princípio da Universalidade

Art.12º CRP
Princípio da Universalidade
1- Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na
Constituição.
2- As pessoas coletivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a
sua natureza.

• Os impostos devem ser pagos, prima facie, por todos os cidadãos e pessoas coletivas
nacionais
• No entanto, é preciso articular os critérios da residência e da fonte, que permite excluir
cidadãos nacionais não residentes que não aufiram rendimentos em território nacional.
Worldwide income principle e Source principle

Os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou residam em Portugal gozam dos


direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão português.

B. Princípio da Igualdade Tributária

Art.13º CRP
Princípio da igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou
isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,
religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou
orientação sexual.

Imposição ao legislador
 Dever de tipificação de todo o acto, facto, negócio jurídico que evidencie capacidade
económica;
 Proibição de isenções ou benefícios sem fundamento objetivo;
 Dever de combater as desigualdades entre os cidadãos.
Imposição à administração fiscal
 Dever de interpretar e aplicar a lei de forma igual a todos os contribuintes.
Imposição aos tribunais
 Dever de invalidar leis, regulamentos e atos administrativos violadores do princípio
da igualdade.

O princípio da Igualdade tributária compreende ainda a:


→ Igualdade perante a Constituição e a lei;
→ Igualdade na criação da lei e na aplicação da lei;
→ Proibição do arbítrio e da discriminação;
→ Obrigação de consistência;
→ Igualdade perante os encargos públicos;
→ Proibição de tratamento diferenciado de realidades substancialmente idênticas;
→ Proibição de tratamento igual para realidades substancialmente diferentes;
→ Proporcionalidade entre diferenças fácticas e diferenciações jurídicas;
→ Igualdade material no dever de contribuir (capacidade económica e benefícios
auferidos)

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C. Princípio da Necessidade Tributária


A tributação é uma medida autoritária que consubstancia o exercício de prerrogativas
de direito público – existe a Incondicionalidade do Imposto.
Considerem-se ainda os privilégios creditórios a favor da fazenda pública. Deve existir
um quadro de ponderação razoável, adequada e proporcional.

D. Princípio do Respeito pelos Direitos Fundamentais


No âmbito da criação do direito tributário, deve sempre existir um respeito pelos direitos
fundamentais, nomeadamente os DLG e DESC.
Os direitos fundamentais representam um limite ao legislador e à administração
tributária.
Note-se ainda a existência do DIREITO DE RESISTÊNCIA DISCAL:

Art.103º CRP
Sistema Fiscal (Direito de Resistência Fiscal)
(…)
3. Ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não hajam sido criados nos termos da
Constituição, que tenham natureza retroativa ou cuja liquidação e cobrança se não façam nos
termos da lei.

E. Princípio da Legalidade Fiscal


(nullum tributum sine lege ou nullum vectigal sine lege)

No Taxation Without Representation


Este foi um slogan utilizado nas décadas de 1750 e 1760 que resume uma das principais
queixas dos colonos americanos nas Treze Colónias Britânicas na América.
Considerando que não tinham representação no Parlamento, não lhe podiam ser
cobrados impostos com os quais não tinham consentido.

O princípio da legalidade assenta no princípio do consentimento democrático-


representativo em matéria tributária.

CASO MCCULLOCH VS. MARYLAND (1819) – Quando impõe um tributo, o poder


legislativo atua sobre os seus próprios eleitores, o que é a melhor garantia contra a
tributação errónea e excessiva.

Auto-Tributação - os impostos só poderão ser cobrados quando forem consentidos por


aqueles que os têm de suportar, através das assembleias representativas. (Art.103º/3
CRP – Direito de Resistência Fiscal).

Subjacente a esta opção político-constitucional encontra-se a teoria da essencialidade,


nos termos da qual as matérias essenciais para o autogoverno da comunidade política
globalmente considerada devem ser decididas por ato solene do órgão democrático-
representativo por excelência, que é a instituição parlamentar.

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VERTENTES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE FISCAL


• Princípio da Reserva de Lei
• Princípio da Prevalência de Lei
• Princípio da Precedência de Lei
• Princípio do Referendo Fiscal
• Princípio da liberdade de escolha lícita da via menos tributada
• Proibição do Abuso de formas jurídicas pelos poderes públicos

Princípio da Reserva de Lei


Em matéria tributária, a CRP estabelece uma reserva relativa de competência
legislativa, o que significa que a Assembleia Legislativa pode legislar dobre esta matéria
ou então conceder uma autorização legislativa que habilite o Governo a legislar.
Princípio da Tipicidade Tributária (art.103º/2 CRP) – estabelece-se a obrigação positiva
de decisão legislativa nestas matérias, com a decorrente proibição de delegação e
exigência de precisão, clareza e determinabilidade das leis, tanto na lei de autorização
como no decreto-lei autorizado.
Na reserva relativa de competência legislativa da AR está integrada a matéria de criação
de impostos e sistema fiscal – art.103º/2 (primeira parte) e art.165º/1/i) da CRP.
Tratando-se então de uma reserva relativa, admite-se que o exercício do poder
legislativo possa caber ao Governo:
→ É necessário que seja aprovada uma lei de autorização legislativa, cujo conteúdo
mínimo há de incluir, de acordo com a regra geral do art.165º/2 CRP, uma
indicação sumária quanto aos elementos essenciais dos impostos. –
Determinação do objeto, do sentido, da extensão e da duração da autorização
legislativa.

Quanto aos elementos não essenciais dos impostos, onde se inserem os elementos dos
impostos referentes à liquidação e à cobrança, dispõe o art.103.º/3 da CRP que os
mesmos têm de ser feitos nos termos da lei. Contudo, não se encontram sujeitos à
reserva de lei parlamentar (103.º/2 e 165.º/1/i) da CRP), mas a reserva de diploma
legislativo, isto é, aos atos legislativos previstos no art.112.º/1 da CRP.
A atividade da administração fiscal (gestão e administração do imposto, que
corresponde à liquidação em sentido amplo) rege-se pelo princípio da legalidade
administrativa o que significa que carece sempre de lei prévia (princípio da precedência,
preferência e prevalência da lei)

PRICÍPIO DA A lei fiscal tem de ser suficientemente densa e precisa


TIPICIDADE FISCAL quanto aos elementos essenciais dos impostos:
ENQUANTO  A incidência;
DIMENSÃO MATERIAL  A taxa ou alíquota do imposto;
DO PRINCÍPIO DA  Os benefícios fiscais;
LEGALIDADE FISCAL  As garantias dos contribuintes;
Art.103º/2 CRP (segunda parte)

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TIPICIDADE

- TIPICIDADE = + DISCRIONARIDADE - TIPICIDADE = + DISCRIONARIDADE

↓ ↓
Menos segurança para os contribuintes; Mais segurança para os contribuintes;
Mais eficiência no combate à fraude e Menos eficiência no combate à fraude e
evasão fiscais. evasão fiscais.

DESAFIOS AO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE DA LEI FISCAL:

 Garantia da clareza e determinabilidade das leis vs. Complexidade atual da


atividade económica e promoção da luta contra a fraude, evasão fiscal e elisão
fiscal abusiva.
 Possibilidade de utilização pelo legislador de conceitos indeterminados como
meio de atribuição de poderes discricionários à Autoridade Tributária
(completáveis através de instrumentos típicos do poder regulamentar – ex.:
circulares e ofícios circulados, para assegurar a unidade das decisões)
 Atribuição de poderes discricionários típicos à Autoridade Tributária, conferindo-
lhe uma margem de livre apreciação que o juiz deve respeitar (ex.: 29º/4 CIRS)
(ver art.29º do CIRS)

Princípio da Prevalência da Lei


A lei prevalece sobre todos os regulamentos, atos administrativos e quaisquer outros
atos ou omissões da administração tributária.
Princípio da Tipicidade das leis – os atos legislativos são aqueles que estão
exaustivamente previstos na CRP, não podendo ser criadas novas categorias de atos
legislativos por qualquer órgão estadual.
Princípio da Legalidade negativa e Princípio da Legalidade Positiva.

Princípio da Precedência da Lei


Toda a atividade administrativa deve ter uma base legal.
No plano tributário, quando esteja em causa a definição dos elementos essenciais dos
impostos, só se admitem regulamentos de mera execução, não havendo lugar para
regulamentos complementares ou independentes.
A CRP estabelece uma obrigação de citação de lei habilitante (art.112º/7 da CRP), cuja
violação leva à inconstitucionalidade do regulamento.

Princípio de Referendo Fiscal


Na CRP está prevista a proibição de referendo em matéria fiscal (art.115º/4/b))

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Princípio da Liberdade de Escolha Lícita da Via Menos Tributada


Os cidadãos têm o dever fundamental de pagar impostos. No entanto, é lícito que os
cidadãos escolham, dentro dos cursos alternativos de ação legítimos, aquele que se
afigura menos tributado.
Este princípio pressupõe que os sujeitos envolvidos não tenham recorrido à simulação
ou fraude fiscal.

Princípio da Proibição de Formas Jurídicas pelos Poderes Públicos


Não são só os particulares que procuram, por vezes, utilizar abusivamente formas
jurídicas para obterem vantagens fiscais. Também os poderes públicos cedem,
ocasionalmente, à tentação de manipularem instrumentos e conceitos jurídicos para
arrecadarem receitas à margem da CRP.
O TC e o TdC têm o poder-dever de combater o abuso de formas jurídicas por parte
dos poderes públicos.

F. Princípio da Segurança Jurídica e da Proteção da Confiança


VERTENTES DO PRINCÍPIOS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA
• Publicidade
• Precisão, clareza e determinabilidade
• Princípio da Proibição da Retroatividade
• Confiança e Transição Jurídica

Proibição Constitucional de Impostos Retroativos

Artigo 103º/3 da CRP


A referência autónoma aos impostos retroativos demonstra que estes constituem uma
violação gravíssima ao princípio do Estado de Direito, nomeadamente, aos
subprincípios concretizadores da segurança e da proteção da confiança.

Quando é que o imposto tem natureza retroativa?


Quando se reporta a factos tributários já ocorridos. Estamos perante situações da vida
que já ocorreram e que a norma legal posterior vem tributar, sem que antes estivessem
sujeitas a tributação, ou quando a norma vem agravar a respetiva tributação.

DIFERENTES GRAUS DE RETROATIVIDADE


Retroatividade Própria ou Autêntica Retroatividade Inautêntica ou Retrospetividade
Aplicação de uma lei nova a factos Aplicação de uma lei nova a factos tributários que
tributários passados em que todos os ainda não completaram a sua formação (continuam
seus efeitos tenham sido produzidos ao a formar-se na vigência dessa lei nova, não tendo
abrigo da lei antiga e que estejam ocorrido totalmente ao abrigo da lei antiga).
totalmente consolidados;

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Proibição da Retroatividade Fiscal


A retrospetividade consiste em aplicar a consequência jurídica apenas à parte
prospetiva do facto tributário já iniciado. O TC tem entendido que a proibição de
retroatividade da lei fiscal apenas se refere à retroatividade autêntica.
A aplicação retrospetiva da lei fiscal é, em princípio, admissível, desde que não seja
desproporcionada face ao fim visado.
Em 1997 a não retroatividade dos impostos passou a ser expressamente acolhida na
CRP (art. 103º/3). No entanto, o relevo do Princípio da Segurança Jurídica na análise
da questão da legitimidade constitucional dos impostos não se limita à proibição de
retroatividade. Resultante da ideia de Estado Democrático de Direito, o princípio da
segurança jurídica relaciona-se com a necessidade de assegurar estabilidade às
relações jurídicas, inclusive as fiscais, dirigindo-se essencialmente ao legislador não só
no âmbito da vedação da retroatividade, como também ao nível da livre revogabilidade
e alterabilidade de leis fiscais favoráveis, em especial das que se referem a benefícios
fiscais.
Ainda, impõe a necessidade de tutela da confiança dos contribuintes, dirigindose
igualmente aos aplicadores do direito.
O princípio opera como critério de ponderação em situações de retroatividade imprópria
ou inautêntica, à luz do interesse público na obtenção de receitas fiscais.
Sobre o ponto, relevante é a jurisprudência do Tribunal Constitucional, nomeadamente
acórdãos 128/2009, 399/2010 e 18/2011.
Logo, o âmbito de incidência e de aplicação do princípio da segurança jurídica é mais
amplo que a proibição de retroatividade dos impostos, ainda guardando importante
relevo na análise da questão da legitimidade constitucional dos impostos a despeito da
previsão constitucional expressa de não retroatividade.

Artigo 12.º da LGT


Se estiver em causa a criação ou alteração de um elemento essencial de um
imposto, não se permite a retroatividade nem a retrospetividade.
Se o facto for de formação sucessiva, a lei nova só se aplica ao período decorrido
a partir da sua entrada em vigor – pro rata temporis. Preclude-se, assim, quer a
retroatividade autêntica quer a retroatividade inâutêntica.
Também no caso das leis interpretativas é pertinente a proibição da retroatividade,
já que estas não têm uma natureza meramente declarativa, mas produzem também
efeitos constitutivos

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CASOS ESPECÍFICOS A TER EM CONTA:

• Impostos de obrigação única: o imposto é retroativo sempre que abrange factos


tributários que já ocorreram previamente.
• Impostos com liquidações agregadas (ex.: IVA): por motivos de praticabilidade,
ocorre a liquidação agregada de um conjunto de factos tributários.
E se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do período de
tributação (separação entre factos prévios e posteriores)?
O agravamento fiscal apenas poderá ser aplicado ao período tributário seguinte, em que
todos os factos tributários sujeitos a agregação tenham tido lugar depois da entrada em
vigor da norma fiscal que agrava a tributação.
→ caso de retroatividade inautêntica - Estamos no domínio do princípio da
proteção da confiança legítima e já não da proibição constitucional de
retroatividade do imposto

• Impostos periódicos (exs.: IRS e IRC): sendo o facto tributário contínuo, se o


agravamento fiscal ocorrer durante o ano fiscal (corresponde ao período de
formação do imposto), apenas deve, RECOMENDAVELMENTE, ser aplicado ao
período decorrido a partir da sua entrada em vigor – pro rata temporis
Mas se por motivos de praticabilidade não for possível a fragmentação do período de
tributação?
RETROSPETIVIDADE
A admissibilidade constitucional do agravamento fiscal deverá ser analisada em função
do princípio da proteção da confiança legítima porque o facto tributário ainda não se
esgotou, logo não se aplica a proibição do art.103º/3 da CRP.

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Ponderação à luz do princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança para os


casos de retrospetividade, segundo duas condições:
1. A afetação de expectativas será intolerável quando constitua uma alteração da
ordem jurídica “surpreendente”, com a qual não se podia razoavelmente contar;
2. Não existir necessidade de salvaguardar outros direitos ou interesses protegidos
pela Constituição e que devam ter-se por prevalecentes: ponderação àluz do princípio
da proporcionalidade

O problema das tributações autónomas


Tributações autónomas de despesas (art.73.º CIRS e 88.º do CIRC)
São despesas que concorrem para a formação do lucro tributável, mas são também
tributadas autonomamente – exs.: despesas de representação; ajudas de custo;
“quilómetros”.
Nestes casos como há diferimento temporal da liquidação e do pagamento do imposto,
que apenas ocorrem no fim do ano, conjuntamente com a liquidação e cobrança dos
rendimentos apurados em sede de IRS ou IRC, é sempre devido o imposto, mesmo que
o sujeito passivo venha a obter rendimentos no fim do período tributário ou a apresentar
prejuízos.

As tributações autónomas de despesas visam tributar um conjunto de realidades que


nada têm a ver com o lucro real das empresas. Alguns exemplos: despesas de
representação, ajudas de custo ou os chamados "quilómetros". São despesas que
concorrem para a formação do lucro tributável, mas são também elas tributadas
autonomamente.
Existe a sujeição de várias despesas a tributação autónoma em IRS e IRC, embora com
a consciência de que se não trata propriamente de IRS e IRC (visam tributar o
rendimento e não despesas efetuadas), mas da substituição de uma tributação de
rendimentos “implícitos” de pessoas singulares, que se considera inatingível de forma
direta.
O facto gerador do imposto é a própria realização da despesa, não se estando perante
um facto complexo, de formação sucessiva ao longo de um ano, mas perante um facto
tributário instantâneo.
O facto tributário que dá origem ao imposto, é instantâneo: esgota-se no ato de
realização de determinada despesa que está sujeita a tributação (embora, o apuramento
do montante de imposto, resultante da aplicação das diversas taxas de tributação aos
diversos atos de realização de despesa considerados, se venha a efetuar no fim de um
determinado período tributário).
Mas o facto de a liquidação do imposto ser efetuada no fim de um determinado período
não transforma o mesmo num imposto periódico, de formação sucessiva ou de caráter
duradouro.

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G. Princípio da Proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade baseia-se em seguir obrigatoriamente os seguintes
fundamentos:
• Legitimidade dos fins;
• Legitimidade dos meios;
• Adequação dos meios à realização dos fins pretendidos;
• Necessidade ou exigibilidade dos meios;
• Proporcionalidade em sentido estrito, baseada numa análise de custos e
benefícios.

H. Princípio da Tutela Jurisdicional Efetiva


Compreender o princípio da tutela jurisdicional consiste em compreender:
• O Direito de acesso à justiça tributária para obter a tutela plena e efetiva de todos
os direitos e interesses legalmente protegidos;
• Que a justiça tributária deve ser estruturada como uma justiça de plena
jurisdição;
• O recurso à arbitragem tributária tendo em vista uma tutela mais efetiva e célere.

I. Princípio Anticorrupção
A corrupção anula o contrato social, corrói a estrutura institucional estadual, contamina
a cidadania, destrói a democracia e o Estado de Direito.

J. Princípio da Justiça Distributiva


A justiça material é um princípio fundamental da tributação (art.5º/2 da LGT),
procurando-se a justa repartição do rendimento e da riqueza como uma das finalidades
do sistema fiscal. Do ponto de vista constitucional, interessa uma combinação ótima
entre tributação regressiva e progressiva.

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PARTE 2 – SISTEMA FISCAL, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DA


LEI FISCAL NO ESPAÇO

1. MOMENTOS DA VIDA DOS IMPOSTOS


A vida do imposto pode dividir-se em dois momentos distintos: o primeiro consiste no
estabelecimento, criação, instituição ou incidência; o segundo na aplicação, efetivação,
administração ou gestão.

1º - ESTABELECIMENTO, CRIAÇÃO, INSTITUIÇÃO OU INCIDÊNCIA

• Facto Gerador: facto, atividade ou situação que dá origem ao imposto.


• Sujeitos: ativos e passivos da obrigação do imposto.
• Montante do Imposto: definição da matéria coletável, da taxa e das deduções à
coleta.
• Benefícios Fiscais
EXEMPLO – IRS
• Facto gerador: artigo 1º/1/2 do CIRS e arts.2º a 12º
• Sujeitos da obrigação de imposto: art.13º/1
• Montante do imposto: art.68º e 68º-A (taxas); art.78º e ss (deduções à coleta)
• Benefícios fiscais – Estatuto dos Benefícios Fiscais – arts.2º/1

2º - APLICAÇÃO, EFETIVAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO OU GESTÃO

• Lançamento: identificação do contribuinte, determinação da matéria coletável e


taxa.
• Liquidação: determinação da coleta através da aplicação da taxa à matéria
coletável; se for o caso, procede-se ainda a deduções à coleta, para determinar
assim o montante de imposto a pagar.
• Cobrança/ Pagamento: o imposto entra nos cofres do Estado, através do
pagamento espontâneo ou da cobrança coerciva.

Facto Tributário – situação de facto que dá origem ao pagamento de imposto.


Liquidação (em sentido restrito) – operação matemática que consiste na aplicação
da taxa à matéria coletável (valor sujeito a tributação) para obter a coleta.

Cobrança – pagamento do imposto (cobrança voluntária) ou execução fiscal
(cobrança coerciva)

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2. O SISTEMA FISCAL PORTUGUÊS

A. Impostos sobre o rendimento


Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS) – Valor anual dos
rendimentos das categorias do trabalho dependente, empresariais e profissionais,
capitais, prediais, patrimoniais e pensões, auferidos por pessoas singulares.
Imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas (IRC) – Valor anual dos lucros
ou do rendimento global líquido das pessoas coletivas, consoante estas exerçam ou
não, respetivamente, a título principal uma atividade comercial, industrial ou agrícola.
Imposto especial sobre o jogo – Duas parcelas: uma percentagem do capital de giro
inicial e uma percentagem dos lucros brutos das bancas.

B. Impostos sobre o património


Imposto Municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT) – Valor das
transmissões, a título oneroso, do direito de propriedade ou de figuras parcelares desse
direito, sobre imóveis situados no território português, qualquer que seja o título por que
se operem.
Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) – Valor patrimonial tributário dos prédios
rústicos e urbanos situados no território português.
Imposto de Selo (IS) – Valor das transmissões gratuitas de bens.

C. Impostos sobre o consumo


Imposto sobre o valor acrescentado (IVA) – Transmissões de bens e prestações de
serviços efetuadas no território nacional, a título oneroso, por sujeitos passivos agindo
como tal.

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Impostos especiais sobre o consumo (IECs):


- IABA – Imposto sobre Álcool e bebidas alcoólicas
- ISP – Imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos
- IT – Imposto sobre o Tabaco

NOVA FISCALIDADE (art.104º CRP)


Imposto sobre veículos (ISV) – Atribuição de matrícula portuguesa a certas classes
de veículos com o objetivo de cobrir custos por estes gerados nos domínios do
ambiente, infraestruturas rodoviárias, e sinistralidade rodoviária.
Procura em grande medida dar resposta aos novos desafios da fiscalidade no campo económico,
onerando especialmente a aquisição de veículos mais poluentes e que desgastam de forma mais
intensa as infraestruturas, não só no momento da compra (imposto sobre veículos), mas também
anualmente, enquanto se mantiver a titularidade do veículo (imposto único de circulação).

Imposto único de circulação (IUC) – Propriedade de veículos (atestada pelo registo


nacional) com o objetivo de cobrir custos por estes gerados nos domínios rodoviário e
ambiental.

COORDENADAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS AOS IMPOSTOS SOBRE O


RENDIMENTO

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CONCEITO DE RENDIMENTO TRIBUTÁVEL

Rendimento-acréscimo e Capacidade Rendimento Real


Rendimento-produto Contributiva
O conceito de rendimento- A tributação do Segundo o art.104º/3 da CRP,
acréscimo substitui o conceito de rendimento das pessoas as pessoas devem ser tributadas
rendimento-produto. singulares está subordinada pelo seu rendimento real.
De acordo com este último, o ao princípio da capacidade O rendimento real é o
rendimento para efeitos de contributiva, o qual significa rendimento apurado, o rendimento
tributação traduz-se no resultado que o critério unitário de que o contribuinte efetivamente
obtido a partir da participação numa tributação que resulta da auferiu (rendimento real efetivo)
atividade produtiva, conceito que CRP é o critério da ou que se presume que o
acabou por se tornar inoperativo capacidade económica. contribuinte obteve (rendimento
perante a divulgação dos Este princípio implica a real presumido).
rendimentos de capitais. tributação do rendimento Já o rendimento normal pode
Surgiu, assim, o conceito de global líquido, a consistir no “rendimento médio de
rendimento-acréscimo para personalização do imposto uma série de anos, que um agente
englobar todas as manifestações de e a consideração das económico poderia obter
incremento líquido do património de necessidades do agregado operando em condições normais”
um sujeito, que pode ser gasto sem familiar. ou no “rendimento de determinado
diminuição do património inicial. Concretização dos ano, que poderia obter-se em
princípios da igualdade e da condições normais”.
justiça fiscal e social.

PROGRESSIVIDADE VS. PROPORCIONALIDADE FISCAL


A progressividade das taxas do imposto sobre o rendimento é justificada em termos de
justiça redistributiva.
Unicidade e progressividade da tributação do rendimento pessoal vs. Tributação dos
rendimentos de capital a taxas liberatórias (art.71º CIRS);
Devido à existência de diversas taxas liberatórias (rendimentos de capitais), o IRS
está longe de ser um imposto único.
A CRP estabelece, no seu art.104º/1, que o imposto sobre o rendimento é único. Daí
o apuramento da matéria coletável em sede de IRS estar sujeito a englobamento
(art.22º CIRS), somando-se todos os rendimentos das diversas categorias e do
agregado familiar para tributá-los conjuntamente e à mesma taxa (progressiva).

A unicidade e progressividade do IRS são flexibilizadas pela tributação em separado e


proporcional mediante taxas liberatórias e definitivas (retenção na fonte a título definitivo
com substituição tributária total) dos diversos rendimentos previstos no art.71º,
estabelecendo um regime distinto ao aplicável aos demais rendimentos. A opção pelo
englobamento (artigo 22º e 71º/8) como salvaguarda da constitucionalidade das taxas
liberatórias.
A progressividade do imposto é igualmente afetada pela existência de taxas especiais.

Considere-se o seguinte exemplo:

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CASO PRÁTICO – EXEMPLO IRS


1) Lançamento: o Sr. A auferiu rendimentos da categoria A e B do IRS no ano
de 2016:
• Categoria A: € 12.500
• Categoria B: € 17.500
Englobamento dos rendimentos líquidos, determinando-se o rendimento líquido total:
€ 30.000,00. Se for um contribuinte casado ou unido de facto, se pretenderem, aplica-
se o quociente familiar para determinar a taxa aplicável.

2) Liquidação: art.68º CIRS – Taxas Gerais


As taxas do imposto são as constantes da tabela seguinte:

ALGUMAS TIPOLOGIAS DE IMPOSTO

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Os prazos de caducidade (4 anos) – Art. 45º LGT, e prescrição (8 anos) – art. 48.º LGT
-contam-se:
- Nos impostos periódicos, a partir do termo do ano em que se verificou o facto tributário;
- Nos impostos de obrigação única, a partir da data em que o facto tributário ocorreu;

EM SUMA:

• Os impostos de obrigação única são aqueles em que a obrigação do imposto


constitui-se instantaneamente (por um facto ou ato isolado no tempo ou por
factos ou atos sem continuidade entre si).
• Os impostos periódicos, por sua vez, são aqueles em que a relação jurídica fonte
da obrigação de imposto tem em sua base situações estáveis, que se prolongam
no tempo, dando origem, por conseguinte, a obrigações periódicas, que se
renovam todos os anos. Assim, incidem ao longo do tempo sobre uma mesma
situação jurídica, somente se estabilizando o período da tributação ao fim do

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período fiscal (v.g., no IRS, o ano civil), já que o facto tributário é de formação
sucessiva.
• A utilidade prática da distinção decorre da configuração do elemento temporal
do facto tributário:
• os impostos duradouros (ou periódicos), por terem na base do facto
tributário um elemento temporal que tende a manter-se, colocam o problema do
fracionamento jurídico desse facto (diferença entre ato e facto tributário), ou seja,
o problema do período do imposto (que, em geral, coincide com o ano civil).
• Daí que, para os impostos de obrigação única, o termo a quo da contagem dos
prazos de caducidade da liquidação e prescrição da obrigação de imposto dá-se
na data em que o facto tributário foi praticado, à exceção do IVA; enquanto, para
os impostos periódicos, tal contagem inicia-se a partir do término do ano em que
se verificou o facto tributário (arts. 45º/4 e 48º/1 da LGT, respetivamente),
ressalvando-se os casos de retenção na fonte a título definitivo.
• Finalmente, a diferença reflete-se também na aferição da natureza e limites da
retroatividade das leis fiscais (se autêntica ou inautêntica, se proibida pelo
art.103º/3, da CRP ou apreciável com base em parâmetros mais flexíveis, à luz
de uma ponderação entre o princípio da segurança jurídica/confiança legítima e
o interesse público de arrecadação).
• Isto porque, nos casos em que o facto tributário que a lei nova pretende regular
já se tenha formado totalmente, então estará em causa a proibição constitucional
da retroatividade (autêntica) – o que, nos impostos de obrigação única, não
coloca maiores problemas;
• Já em casos que o facto tributário ainda esteja em formação (para os impostos
periódicos) e advenha uma nova lei, se configura uma retroatividade de natureza
inautêntica.
• Para este efeito, o Tribunal Constitucional português, analisando a
constitucionalidade de leis que modificaram a taxa do IRS ao longo do ano fiscal,
já decidiu (acórdãos 399/2010 e 18/2011) que “é possível, no que diz respeito
aos impostos periódicos, a aprovação de leis no decurso do período de
tributação que se destinem a produzir efeitos em relação a todo esse período,
ficando, no entanto, tais leis sujeitas ao teste resultante dos princípios do Estado
de Direito, como seja o teste da proteção da confiança [e não, assim, à expressa
vedação de retroatividade do art.103º/ 3 da CRP]”.

IMPOSTOS DIRETOS E INDIRETOS


Critério de Distinção – Critério da repercussão económica
O valor destes impostos é ou não repercutido no adquirente final de bens e serviços?
Impostos Indiretos – Aqueles em que o suportador económico do imposto não se
identifica com o sujeito passivo do mesmo, estando a repercussão económica
legalmente prevista.
IMPOSTOS DIRETOS: IRS, IRC, IMT e IMI
IMPOSTOS INDIRETOS: IVA, IEC e IS

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COMO FUNCIONA O IVA?

Repercussão Económica do Imposto


É uma técnica utilizada sobretudo nos impostos sobre o consumo, em que a capacidade
contributiva que se pretende tributar é a dos consumidores finais dos produtos e serviços
existentes/prestados no mercado.
O desfalque patrimonial do imposto devido ocorre, portanto, na sua esfera, através do
fenómeno económico da repercussão do imposto, isto é, o valor final dos produtos e
serviços negociados no mercado reflete na esfera patrimonial do consumidor o montante
do imposto incidente sobre aquele bem/operação.

IMPOSTOS DE QUOTA FIXA E IMPOSTOS DE QUOTA VARIÁVEL


Impostos de quota fixa (IS)
Impostos de quota variável: Impostos de taxa fixa ou proporcionais (IRC); Impostos de
taxa variável (regressivos ou progressivos (progressividade global (IUC) ou
progressividade por escalões (IRS))

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IMPOSTOS NEUTROS SOB O PONTE DE VISTA ECONÓMICO - “impostos não


distorcedores” (neutrais) são aqueles em que um agente económico nada pode fazer
(legalmente) para evitar ou alterar a sua incidência económica - “imposto lump-sum” ou
de montante fixo.
“Impostos distorcedores” – tendem a alterar comportamentos económico dos sujeitos
passivos.

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3. INTERPRETAÇÃO JURÍDICA DE NORMAS FISCAIS


Teoria da interpretação das normas fiscais de acordo com as regras e princípios gerais
de interpretação jurídica (artigo 11º/1 LGT e artigo 9º Código Civil).

Do conjunto de propostas doutrinais desenvolvidas ao longo do tempo em matéria de


interpretação da lei fiscal – princípio "in dúbio contra fiscum"; principio "in dubio pro
fisco"; interpretação literal; interpretação segundo os princípios gerais de interpretação;
interpretação económica; interpretação funcional – obteve vencimento na LGT,
seguindo o que já resultava da jurisprudência, a tese da interpretação das normas fiscais
segundo os princípios gerais de interpretação.

Qual o sentido que deve ser atribuído a alguns conceitos próprios de outros ramos do
direito quando se trata de apurar o regime fiscal a que os mesmos devem ficar
subordinados?
Art.11º/ 2 da LGT - o termo deve ser interpretado no mesmo sentido que tem no ramo
de direito a que pertence, salvo se outro decorrer diretamente da lei.

E se persistirem dúvidas sobre o sentido das normas de incidência a aplicar?


Art.11º/3 da LGT – Deve atender-se à substância económica dos factos tributários.

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! ARTIGO 11º/3 DA LGT !


Não constitui uma autorização genérica à AT para que a mesma possa desconsiderar
os aspetos formais dos negócios jurídicos, aplicando a lei tributária apenas com
fundamento nos efeitos económicos gerados por esses negócios.
(≠ interpretação económica das leis fiscais - defendendo que a lei fiscal tem sempre um
significado económico, na medida em que se apoia em fenómenos económicos, entende
que o intérprete deve sempre procurar determinar na lei o tipo de situações económicas
que o legislador quis submeter à tributação)
Este artigo constitui um critério residual (“persistindo a dúvida”) para auxiliar à correta
aplicação da lei fiscal.

INTEGRAÇÃO DE LACUNAS DAS NORMAS TRIBUTÁRIAS


Quanto aos elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa ou alíquota do imposto,
benefícios discais e garantias dos contribuintes) não pode ocorrer integração de lacunas
– Art.11º/4.
Contudo, pode haver uma interpretação extensiva, ou seja, um alargamento da letra da
lei, de modo a conferir-lhe um alcance conforme o pensamento legislativo, o que só é
possível se se concluir que a fórmula verbal adotada diz menos do que o legislador
pretendia – art.11º/4, a contrario sensu.
Quanto às normas de lançamento, liquidação e cobrança, existe a possibilidade de
aplicação das regras gerais sobre integração de lacunas.

4. APLICAÇÃO DA LEI FISCAL NO ESPAÇO


Como identificar os factos tributários ocorridos em território nacional?
Exemplo: um cidadão português, aqui residente, mas que exerça a sua atividade
profissional em Espanha, e que seja proprietário de imóveis em Portugal e detenha a
titularidade de alguns investimentos financeiros depositados em bancos chilenos, que
impostos deve pagar em Portugal? E uma empresa com sede em Espanha que tenha
em Portugal um estabelecimento estável deve pagar impostos em Portugal?

ARTIGO 13º LGT

1º - Sem prejuízo de convenções internacionais de que Portugal seja parte e salvo


disposição legal em sentido contrário, as normas tributárias aplicam-se aos factos que
ocorram no território nacional.

2º - regra worldwide income (princípio da universalidade ou do rendimento mundial)

Contudo, sempre que exista uma regra especial constante de Convenção Internacional,
a mesma prevalece.

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Elementos de conexão relevantes para cada tipo de Imposto


Imposto sobre o rendimento – arts.13º e ss CIRS; 2º e 4º CIRC
Importa reconhecer a residência do beneficiário do rendimento (princípio da
universalidade) e o local da produção de rendimento (princípio da territorialidade).

Tributação do património
Importa reconhecer a residência do proprietário ou titular dos bens patrimoniais e lugar
da situação dos mesmos.

Cada código de imposto apresenta as suas regras próprias para a determinação dos
residentes (ex.: 16º CIRS; 2º CIRC).

Mas como resolver o problema da dupla tributação?


A regra clássica da territorialidade dos impostos, embora ainda mantenha a sua
validade, não pode deixar de adaptar-se à internacionalização dos factos tributários.
O art.13º/1 da LGT refere que “sem prejuízo de convenções internacionais de que
Portugal seja parte e salvo disposição legal em contrário”.
Se não existir uma convenção internacional para eliminação da dupla tributação entre
Portugal e França terão de ser aplicadas as regras para a eliminação da dupla tributação
- art.81º CIRS.
Método da imputação ou do crédito de imposto (o sujeito passivo poderia deduzir em
Portugal o valor do imposto pago no outro país até ao limite do imposto que seria pago
em Portugal por aquele rendimento).

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PARTE 3 – RELAÇÃO JURÍDICA TRIBUTÁRIA


1. Definição
A relação tributária apresenta uma evidente complexidade, desdobrando-se em
diversas relações. Existem, inseridas no tema da relação jurídica tributária, três aceções
ou sentidos atribuídos:
• Aceção Constitucional: Relação entre o Estado-comunidade e o contribuinte;
• Aceção Administrativa: Relação entre a Administração Fiscal e o contribuinte;
• Aceção Obrigacional: Relação entre a Fazenda Pública e o contribuinte.

Relação jurídica Relação jurídica fiscal administrativa Relação jurídica


fiscal constitucional fiscal obrigacional
Encargo que o Estado- Relação entre a Administração Fiscal, dotada de um Relação jurídica de crédito
comunidade impõe sobre poder público, que a habilita a praticar atos de entre a Fazenda Pública
os respetivos membros autoridade, nos quais fixa o conteúdo da obrigação (capacidade tributária ativa
com o objetivo de garantir do imposto que cada um deve cumprir. = poder de exigir o crédito
liquidez para a realização do imposto) e o contribuinte
das tarefas de interesse Sobre o destinatário daqueles atos recai o dever (que fica obrigado a
geral. jurídico de os executar de forma voluntária dentro do satisfazer o crédito
prazo estabelecido na lei (pagamento do imposto) e tributário).
Alguns autores consideram o ónus de proceder à sua impugnação quando
que se está perante um entender que os mesmos desrespeitam o disposto
dever fundamental do nas regras ou princípios plasmados na lei, na CRP
contribuinte perante o ou em outros instrumentos normativos aplicáveis.
Estado-comunidade.

Quando falamos em sujeitos da relação jurídica fiscal, devemos compreender a


existência de um lado ativo e um lado passivo.
Quanto ao objeto da relação jurídica fiscal, deparamo-nos com a obrigação fiscal
(constituição, modificação subjetiva e objetiva e extinção). Considere-se o artigo 50º
LGT referente às garantias da obrigação fiscal.

Obrigação Fiscal propriamente dita


▪ Estruturalmente é uma obrigação como qualquer outra (ex. direito de crédito/
dever de pagamento);
▪ É uma obrigação legal: é uma obrigação que tem por fonte a lei – art.36º LGT;
▪ Tem carácter público (presunção de legalidade do ato tributário);
▪ É uma obrigação exequível (carece de execução), executiva (a sua execução
não depende de qualquer pronúncia) e semi-executória (a sua execução corre,
na maior parte, na administração tributária, e em parte nos tribunais tributários;
▪ É uma obrigação indisponível e irrenunciável (art.30º/2 LGT e 85º/3 CPPT);
▪ Auto-titulada (a AT cria os seus próprios títulos executivos, constituídos pelas
certidões das notas de cobrança – art.88º CPPT);
▪ Especialmente garantida quanto ao seu cumprimento (garantias especiais que
colocam o credor tributário numa posição vantajosa face aos credores comuns).

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2. Sujeitos da relação jurídica tributária

Art.18º da LGT
Sujeitos da relação jurídico-fiscal são os detentores de personalidade tributária
• Ou seja, aqueles que segundo a lei podem ser sujeitos de relações jurídicas
tributárias.


Art.31º da LGT
Relações jurídicas tributárias
• Contemplam a obrigação principal de pagamento da divida tributária
• Obrigações acessórias – conjunto de obrigações que visam possibilitar o apuramento
da obrigação de imposto (art.31º/2 da LGT)
• Obrigações declarativas
• Obrigações contabilísticas


CARÁCTER COMPLEXO DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL
• Possibilidade de encontrar, quer do lado ativo da relação jurídica, quer do lado
passivo, a presença de mais do que uma forma de titularidade.

SUJEITOS ATIVOS
Do lado ativo, a complexidade assenta nas diferentes figuras que poderão ser
consideradas sob o ponto de vista doutrinário:
▪ O titular do poder tributário (o legislador) - poder de criar impostos e definir os
elementos essenciais dos impostos. É um poder derivado quando exercido por
via regulamentar por entidades não soberanas (ex.: autarquias locais).
▪ A entidade titular da competência tributária (liquidação, lançamento e cobrança
dos impostos) - gestão do imposto (praticar os atos de lançamento, liquidação
e cobrança).
▪ O sujeito detentor de capacidade tributária ativa (que possui o direito de crédito
e, assim, o de exigir o pagamento do tributo) - titularidade de um direito subjetivo
ao crédito do imposto (credor tributário).
▪ E a entidade consignatária da receita dos tributos (quem irá, ao fim, receber o
resultado financeiro da tributação, como os municípios no imi) - poder da
entidade a quem determinada receita se encontra subjetivamente consignada de
exigir a sua efetiva atribuição – titularidade da receita fiscal.

SUJEITOS PASSIVOS
Por sua vez, como titulares do lado passivo podemos identificar:
▪ Contribuinte – é o titular da manifestação da capacidade contributiva e suporta
o desfalque patrimonial;
▪ Sujeito passivo – pessoa a quem a lei impõe o cumprimento de uma obrigação
fiscal (art.18º/3 LGT);

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▪ Devedor do imposto – pessoa sobre quem impende o dever de satisfazer uma


determinada prestação tributária (em sentido estrito – devedor principal; em
sentido amplo – todos aqueles aos quais o Fisco exige, subsidiariamente, o
crédito do imposto);
▪ Suportador do encargo do imposto por repercussão legal – pessoa que
suporta financeiramente o imposto através do mecanismo de repercussão legal,
ou seja, repercute-se no adquirente do bem ou serviço o valor do imposto

O suportador do encargo do imposto por repercussão legal é uma técnica utilizada


sobretudo nos impostos sobre o consumo, em que a capacidade contributiva que se
pretende tributar é a dos consumidores finais dos produtos e serviços
existentes/prestados no mercado. O desfalque patrimonial do imposto devido ocorre,
portanto, na sua esfera, através do fenómeno económico da repercussão do imposto,
isto é, o valor final dos produtos e serviços negociados no mercado reflete na esfera
patrimonial do consumidor o montante do imposto incidente sobre aquele
bem/operação.

Do ponto de vista do seu objeto, para além da obrigação principal, que é a de pagar o
imposto, apresentam-se ainda obrigações acessórias inúmeras (art.31º LGT), que se
revestem de naturezas múltiplas (apresentar declarações de rendimentos e de início de
atividade, pagar verbas acessórias como os juros, manter contabilidade organizada,
emitir fatura…), sendo certo que nem sempre o devedor da obrigação principal será a
mesma pessoa encarregada de cumprir ou auxiliar no cumprimento de obrigações
acessórias (ex. art.18º/3-b) da LGT), demonstrando a grande complexidade de que se
revestem as relações tributárias, as quais se desdobram, efetivamente, em diversas
relações.

EXEMPLO:
O Manuel é proprietário de um apartamento em Coimbra. Paga o IMI. Quem são os
titulares do lado ativo e passivo desta relação?

Titularidade Ativa

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Titularidade Passiva

- Identificação dos Sujeitos Passivos


Domicílio fiscal
• é este o elemento que permite identificar os residentes;
• Art.19º da LGT – pessoas singulares e pessoas coletivas;

Representante legal
• Nos casos em que o sujeito passivo não é residente e não dispõe de um
estabelecimento estável em Portugal (art.5º do CIRC)
• A lei impõe, naqueles casos, a designação de um representante legal com
residência em território nacional (art.19º/6 LGT, art.130º CIRS e art.126º CIRC)
• Caso não haja esta designação – art.124º RGIT e interdição das garantias de
reclamação, recurso e impugnação (art.19º/ 7 LGT)
• Para não residentes da, ou residentes que se ausentem para a UE, desde que
esse Estado esteja vinculado à cooperação administrativa, esta designação deixou de
ser obrigatória (19º/8 LGT)

Transparência fiscal
• Em certas situações o direito fiscal opta por não considerar sujeitos passivos
da relação jurídica fiscal algumas entidades dotadas de personalidade jurídica
• Art.6º CIRC - desconsidera a personalidade jurídica das sociedades aí
indicadas, não lhes reconhecendo personalidade tributária

Há sociedades, nomeadamente profissionais, nas quais a sociedade não é tributada em


sede de IRC. Porquê? A matéria coletável é determinada de acordo com as regras do
IRC. Os cálculos são todos feitos de acordo com o IRC, mas depois a sociedade não
paga IRC. Distribui-se a matéria coletável pelos sócios – quem vai pagar imposto são
os sócios, em sede de IRS, na categoria B, de acordo com a sua quota na sociedade.
Atenção: os sócios podem ser eles próprios uma sociedade. Daí que o art. 6.º da IRC
fale em tributação em sede de IRS ou IRC.

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Aplicando-se este método, há menos possibilidade de fraude ou evasão fiscal. O ativo


mais importante de uma sociedade profissional são os sócios. Podia haver fraude fiscal
ou então uma dupla tributação.
O objetivo é assegurar a igualdade entre sócios de sociedades profissionais e
profissionais liberais.
Art.151.º do CIRS – as atividades da categoria B estão na Portaria n.º 1011/2001. Pode
ser uma de qualquer destas profissões
Exemplo:
A e B são sócios da A e B – sociedade de advogados.
• Sociedade de profissionais desprovidas de personalidade tributária
• Apuramento da matéria coletável segundo as regras do CIRC, apesar de estas
entidades não serem tributadas em IRC (art.12º CIRC)
• Regime da transparência fiscal (art.6º CIRC)
• Imputação do rendimento líquido na matéria coletável de cada um dos sócios na
categoria B do CIRS (art.20º CIRS) – tributação dos advogados em IRS

3. Objeto da relação jurídica tributária


Quando falamos em objeto da relação jurídica fiscal, entenda-se a obrigação fiscal,
devemos compreender que existem:
▪ obrigação principal (satisfação da dívida tributária – art.31º/1 LGT);
▪ obrigações acessórias (visam possibilitar o apuramento da obrigação de
imposto – art.30º e 31º LGT: apresentação de declarações, exibição de
documentos fiscalmente relevantes e a prestação de informações – art.31º/1/2
LGT).
Incluem-se ainda no objeto da relação jurídica tributária o crédito tributário, o direito à
dedução, reembolso ou restituição do imposto e os juros (art.30º/1 LGT).

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JUROS

MODIFICAÇÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL


A relação jurídica fiscal tende, por vezes, a tornar-se ainda mais complexa e a sofrer
algumas vicissitudes que se devem, quer à privatização da gestão dos impostos, de
onde resulta uma interposição de um terceiro (privado) na relação jurídica fiscal,
transformando-a em uma relação triangular - referimo-nos à substituição tributária -
ou quando, por força do instituto da responsabilidade tributária, terceiros são
chamados a satisfazer as obrigações tributárias dos sujeitos passivos originários, uma
solução que impõe especiais cautelas, pois tratar-se-á, sempre, de um caso em que a
exigência do imposto se faz sem observância do princípio da capacidade contributiva
(ou pelo menos sem a necessidade de a demonstrar).

4. Substituição Tributária
De acordo com o art.20º da LGT, a substituição tributária verifica-se quando, por
imposição da lei, a prestação tributária for exigida a pessoa diferente do contribuinte,
sendo a mesma efetivada através da retenção na fonte do imposto devido.
Isto significa que na fase da gestão do imposto ocorre a interposição de um terceiro
entre a Administração Fiscal e o sujeito passivo, terceiro esse que terá como tarefa a
obrigação de deduzir parcelas do rendimento pago ou posto à disposição do sujeito
passivo, para depois fazer a sua entrega à Administração Fiscal.

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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA TOTAL


A substituição abrange tanto a obrigação de imposto como a generalidade das
obrigações fiscais acessórias
Art.20º da LGT – a prestação tributária é exigida a pessoa diferente do contribuinte,
sendo a mesma efetivada através do mecanismo da retenção na fonte com carácter
definitivo do imposto devido.

!! Art.34º da LGT !!

EXEMPLOS:
- Rendimentos sujeitos a taxas liberatórias (ex. juros de depósito à ordem/ prazo.
A entidade bancária (substituto), ao reter na fonte a título definitivo, o montante do
imposto, elimina a obrigação de o contribuinte, querendo, no fim do ano, ter de incluir
este rendimento na sua declaração anual de rendimentos (art.71º/8 CIRS)

- Pessoas coletivas não residentes e sem estabelecimento estável em território


português tributadas em IRC – art.88º/3 CIRC

SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA PARCIAL

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5. Responsabilidade Tributária
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA PELAS DÍVIDAS DE OUTREM
O segundo caso em que assistimos a uma modificação da relação jurídica tributária por
imposição legal ocorre quando a lei admite que um terceiro seja chamado a satisfazer
a dívida tributária do sujeito passivo através do instituto da responsabilidade tributária.
De acordo com o art.22º/4 da LGT, a responsabilidade tributária é, em regra, subsidiária,
o que significa que o responsável tributário só é chamado a satisfazer a dívida tributária
do sujeito passivo depois de comprovado no processo de execução fiscal que não
existem bens penhoráveis do devedor originário ou que há fundada insuficiência do
património do devedor para a satisfação da dívida exequenda (art.23º/2 LGT e 153º/2
CPPT).

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Segundo o art.22º/4 da LGT, a responsabilidade tributária é em regra subsidiária. O


responsável tributário só é chamado a satisfazer a dívida tributária do sujeito passivo
depois de esgotado todo o seu património.
Ou seja, depois de comprovado no processo de execução fiscal que não existem bens
penhoráveis do devedor originário ou que há fundada insuficiência do património do
devedor para a satisfação da dívida exequenda – art.23º/2 LGT e 153º/2 CPPT.

RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES, GERENTES E DIRETORES


(ART.24º LGT)
Trata-se de um caso de solidariedade entre os casos responsáveis fiscais subsidiários.
Segundo o art.24º/1 LGT quem responde subsidiariamente?
Há que distinguir a gerência de direito (“quem oficialmente gere”) e a gerência de
facto (“quem efetivamente gere a empresa”), porque só podemos responsabilizar à luz
deste artigo quem efetivamente exerça as funções. Este artigo entende que será a
gerência de facto a ser chamada à responsabilidade – o ónus da prova pertence à AT.
Além disso, esta responsabilidade depende sempre da culpa. Assim, são responsáveis
subsidiariamente:
▪ Os gerentes e administradores que já não exerçam o cargo no momento em que
se verifica a falta de pagamento, apesar da dívida se ter formado durante o
exercício do seu cargo (o ónus da prova pertence à AT que tem que provar que
foi por culpa da pessoa a quem chama à responsabilidade que o património da
pessoa coletiva se tornou insuficiente para a satisfação da dívida);
▪ Os gerentes e administradores que exerçam o cargo no momento em que se
verifica a falta de pagamento (o ónus da prova pertence aos gerentes e

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administradores que têm que provar que não lhes foi imputável a falta de
pagamento para não serem chamados à responsabilidade).

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA QUANDO EXISTA MAIS DO QUE UM


RESPONSÁVEL TRIBUTÁRIO PARA A MESMA DÍVIDA TRIBUTÁRIA

SUSPENSÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL EM CASO DE REVERSÃO


(ART23º/3 LGT)
• Se no momento da reversão (provada a fundada insuficiência dos bens do devedor
originário) não for possível determinar a suficiência dos bens penhorados por não estar
definido com precisão o montante a pagar pelo responsável subsidiário, o processo de
execução fiscal fica suspenso desde o termo do prazo de oposição até à completa
excussão do património do executado, sem prejuízo de adoção das medidas cautelares
adequadas.
• A execução fica suspensa relativamente ao responsável subsidiário até estar definido
com precisão o montante que ele terá de pagar.
• Objetivo: havendo já a certeza quanto à insuficiência dos bens do devedor originário,
o interesse público na interrupção da prescrição pode justificar que a reversão ocorra
antes da excussão – ver acórdão do STA de 12/04/2012 (processo 257/12)

Meios de Reação
▪ Dedução de oposição à execução (art.203º, 204º CPPT e 23º/5 LGT): é o meio
processual adequado para o executado por reversão discutir o despacho
determinativo dessa reversão, nomeadamente, imputando-lhe vícios de forma
por ausência de fundamentação e preterição de formalidades legais, mais
devendo enquadrar-se este fundamento da oposição no artigo 204º/1-i) CPPT;
▪ Reclamação graciosa (art.68º e ss. CPPT);
▪ Impugnação Judicial (art.99º e 102º CPPT e 22º/5 LGT).

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Atenção: em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido


pretender questionar os pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da
dívida: deduz oposição à execução fiscal (art. 204.º, als. b) e i) do CPPT) -
pressupostos da responsabilidade tributária; e impugna o ato de liquidação (art. 22.º/4
da LGT) - legalidade da dívida.
Não é possível, nos termos do art. 104.º do CPPT, cumular as duas pretensões na
mesma ação.

RESPONSABILIDADE EM CASO DE SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA


Ocorre um caso de substituição tributária quando a prestação for exigida a uma pessoa
diferente do contribuinte. Por força da lei, o substituto substitui o contribuinte na
realização da prestação tributária (art.20º LGT).

A retenção na fonte, de acordo com o art.34º, é uma dedução realizada pelo substituto
nos rendimentos que paga ao substituído e que entrega posteriormente ao Estado. O
contribuinte nem sequer chega a ver aquele dinheiro. Qualquer valor que venha a lucrar
está sujeito a esta retenção na fonte a título definitivo.
Reconhece-se também o pagamento por conta de imposto efetuado por terceiro
que integra não só as entregas pecuniárias antecipadas efetuadas pelo próprio
contribuinte, mas também as entregas por terceiro.

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Artigo 28º - Responsabilidade em caso de substituição tributária

TRANSMISSÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL


Segundo os artigos 29º, 30º/2 e 36º da LGT, a obrigação fiscal é indisponível.
No entanto, a lei admite dois casos de transmissão da obrigação fiscal (pelo lado
passivo):
▪ Sucessão Legal (art.29º/2 LGT);
▪ Sub-rogação fiscal (art.41º/1 LGT): momento (art.91º/1/2/3 CPPT) e efeitos
(art.41º/2 LGT e 92º CPPT).
Com a sub-rogação transmite-se para o sub-rogado a titularidade do crédito que a
administração tributária detinha sobre o obrigado tributário. Mantêm-se as garantias,
privilégios e a possibilidade de utilização do processo de execução fiscal para a sua
cobrança coerciva, requerendo a sua instauração, se o pagamento ocorreu antes dela,
ou o seu prosseguimento

EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL


• Pagamento voluntário (arts. 41º/1 LGT e 84.º e 85.º CPPT); pagamento em
prestações (42.º LGT; 86.º/2, 196.º e 199.º CPPT);
• Cobrança coerciva – quando o sujeito passivo não pague o imposto devido no prazo
legal, fica sujeito ao processo de execução fiscal (art.48º CPPT) e ao pagamento de
juros moratórios;
• Caducidade do direito à liquidação (art.45º LGT) – prazo que a lei reconhece à AT
para esta proceder à liquidação dos impostos e à respetiva notificação aos contribuintes
de forma válida, constituindo-os na obrigação de cumprir a obrigação tributária que por
efeito desse ato se torna certa, líquida e exigível. Prazo de 4 anos, ou 12 nos casos do
45º/7 LGT;
• Prescrição da dívida tributária (art.48º LGT) – causa de extinção da obrigação
tributária.

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Poderá o sujeito passivo proceder ao pagamento do imposto em dívida através da


entrega de 50 toneladas de batata?
• Dação em pagamento de bens móveis ou imóveis (arts. 201.º e 202.º CPPT –
necessidade de autorização); dação antes da instauração do processo de execução
fiscal – art. 87.º CPPT
• Compensação: Compensação por iniciativa da AF (art. 89.º CPPT) OU Compensação
por iniciativa do contribuinte (art. 90.º CPPT)

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PARTE 4 – PROCEDIMENTO E PROCESSO TRIBUTÁRIO


1. Procedimento Tributário
Compreende-se como Procedimento Tributário a sucessão de atos dirigida à declaração
tributários (art.54º LGT) e compreende, de acordo com o art.44º CPPT, entre ontros
elementos:
▪ o conjunto de ações preparatórias ou complementares da liquidação dos tributos
ou de confirmação dos factos tributários declarados pelos sujeitos passivos ou
outros obrigados tributários,
▪ a liquidação dos tributos, quando efetuada pela administração tributária,
▪ e a avaliação direta ou indireta dos rendimentos ou valores patrimoniais.

PROCEDIMENTO DE LIQUIDAÇÃO DOS IMPOSTOS


O procedimento de liquidação dos Impostos tem como objetivo o apuramento (tornar
certa e líquida) da obrigação de imposto.
Regra geral: avaliação direta da matéria coletável (art.81º LGT) - visa-se a determinação
do valor real dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação, razão pela qual a avaliação
dos rendimentos ou valores sujeitos a tributação se fundamenta em critérios objetivos
(art.84.º/1 LGT).
Os procedimentos de liquidação, conforme o imposto a que respeitam, caracterizam-se
por um conjunto sucessivo de operações que culmina com a determinação do valor do
imposto a pagar, consubstanciando o ato tributário.

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A AT está obrigada a pronunciar-se sobre todos os assuntos da sua competência,


quando devidamente instada a fazê-lo e tem o dever de decidir (art.56.º da LGT) a não
ser que se tenha pronunciado há menos de dois anos sobre pedido do mesmo autor
com idênticos objeto e fundamentos ou se tiver sido ultrapassado o prazo legal de
revisão do ato tributário.
A decisão final do procedimento – seja o ato de liquidação ou uma decisão da AT -
carece de fundamentação (art.77.º LGT).
A eficácia do ato final do procedimento depende de notificação (art.77.º/6 LGT e 36.º/1
do CPPT e arts. 38.º a 43.º do CPPT). A caixa postal eletrónica obrigatória integra o
domicílio fiscal (art.19º/2 e 9 da LGT).
A liquidação tem de ser validamente notificada ao sujeito passivo no prazo de 4 anos,
sob pena de caducidade do direito de liquidar os tributos (art.45º/1 LGT).

Como se procede ao apuramento (tornar certa e líquida) da obrigação de imposto?

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AVALIAÇÃO DIRETA AVALIAÇÃO INDIRETA


(art.83º/1 LGT) (art.60º/1-d); 81º/1; 83º/2; 85º/2 LGT)
Visa a determinação do valor real dos Só se faz nos casos e condições
rendimentos ou bens sujeitos a tributação expressamente previstos na lei (artigo
(art.83º/1 LGT) e compete, em regra, à AT 81º/1 e 87º LGT).
(ex. IMI, IRS), e, nos casos de
É subsidiária da avaliação direta, pelo
autoliquidação (ex. IVA e IRC) ao sujeito
que se lhe aplicam, sempre que possível
passivo do imposto. Não há
e a lei não prescrever em sentido
autoliquidação no IRS – art.75º CIRS.
diferente, as regras da avaliação direta
A avaliação dos rendimentos ou valores (artigos 81º/1 e 85º LGT) – é, portanto,
sujeitos a tributação baseia-se em uma avaliação de última ratio.
critérios objetivos e deve ser
Visa a determinação do valor dos
devidamente fundamentada, contendo
rendimentos ou bens tributáveis a partir
obrigatoriamente a indicação dos critérios
de indícios, presunções ou outros
utilizados e a ponderação dos fatores que
elementos de que a administração
influenciaram a determinação do seu
tributária disponha – artigo 83º/2 LGT.
resultado (art.84º/1 e 3 LGT).
Verificada qualquer uma das
Quando a avaliação venha a ser efetuada
circunstâncias do art.87º/1, a
pelo sujeito passivo no âmbito dos
determinação da matéria coletável faz-se
procedimentos de autoliquidação, o
tomando em consideração os elementos
mesmo deverá, sempre que solicitado
enunciados no art.90º da LGT.
pela AT, esclarecer os critérios utilizados
e a sua aplicação na determinação dos Se olharmos para os casos de avaliação
valores que declarou (art.84º/2 LGT). indireta referidos no artigo 87º/1 da LGT,
vemos que em primeiro lugar está o
Pode ser impossível determinarmos o
regime simplificado: este não é
valor real e efetivo dos rendimentos ou
verdadeiramente uma forma de avaliação
bens sujeitos a tributação porque
indireta porque não é subsidiário, é no
podemos ter anormalidades ou
fundo o resultado de uma opção do
patologias que impedem a Administração
sujeito passivo – artigos 28.º/3 CIRS e
de comprovar esse valor real e efetivo –
86.º CIRC.
nestes casos, será possível realizar uma
avaliação indireta. Os verdadeiros casos de avaliação
indireta são a avaliação indireta
“original/originária” (artigo 87.º/1-b) e 88.º
LGT) e a avaliação indireta “abnormal”

AVALIAÇÃO INDIRETA «ORIGINAL»


É o caso originário da avaliação indireta porque é aquele em que a Administração está
autorizada a determinar o rendimento através de presunções porque existe uma
impossibilidade de comprovar de maneira exata e direta o valor dos rendimentos sujeitos
a tributação, ou seja, esta depende do incumprimento daquelas obrigações.
Estamos perante uma situação em que há diversas patologias que comprometem a
determinação do valor dos rendimentos de forma exata e de acordo com a realidade.
Que patologias são estas? São as referidas no artigo 88º da LGT. então do artigo 87º/1-
b) remetemos para o artigo 88º LGT.
Numa situação destas a Administração tem de partir para a avaliação indireta, ou seja,
presumir o rendimento tributável do sujeito passivo através dos critérios previstos no
artigo 90º LGT (elementos objetivos e subjetivos) – essa quantificação é feita com base

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nesta lista não taxativa. É a Autoridade Tributária (AT) que vai provar se o sujeito passivo
cumpriu ou não as obrigações que permitem a determinação da matéria tributável.

AVALIAÇÃO INDIRETA «ABNORMAL»


Artigo 87.º LGT – c), d), e) e f) – são situações de avaliação indireta que se justificam
quando há um desvio à normalidade (por exemplo comprar um Ferrari por 250 mil €,
mas declarar o salário mínimo).
Se há um desvio à normalidade, o sujeito passivo vai ter de justificar as razões pelas
quais se verifica este desvio, ou seja, vai ter de justificar que os rendimentos declarados
correspondem à realidade.
Em suma, são situações de desvio à normalidade com base nas quais se “presume” a
ocultação de rendimentos, dependendo da não apresentação de razões justificativas
por parte do sujeito passivo.
Se o sujeito passivo não apresentar as justificações, não é possível comprovar os
rendimentos e devemos então aplicar a avaliação indireta.
Que situações de desvio são estas? São as seguintes:

▪ Desvio de Indicadores de Rendimento (c))


O rendimento normal é o rendimento que uma pessoa poderia em condições normais
ter recebido, opondo-se ao rendimento realmente obtido. Se há um desvio a um
rendimento normal, o sujeito passivo teria de apresentar as razões justificativas para
esse desvio. Se não conseguisse, ficava então abrangido pela avaliação indireta. A
constitucionalidade desta norma foi avaliada pelo TC no Acórdão 84/2003 porque se
colocou a questão de saber se, no caso de haver um desvio ao rendimento normal,
depois poderia ser atribuída ao sujeito passivo a possibilidade de prova em contrário
desse mesmo rendimento normal. O TC concluiu que não havia aqui
inconstitucionalidade porque este regime só se aplicava se o sujeito passivo não
apresentasse razões justificativas.

▪ Prejuízos fiscais reiterados ou resultados nulos durante 3 anos


consecutivos (e))
O desvio à normalidade que está aqui em causa é uma empresa estar continuamente a
trabalhar sem produzir lucro. Como é que essa empresa se suporta? Não há dúvida que
as empresas podem ter prejuízo, mas não é uma situação normal e, portanto, sendo
uma situação onde presumivelmente poderá haver algum problema no apuramento da
matéria tributável, mais uma vez cabe ao sujeito passivo apresentar razões justificativas.
Se não o fizer, fica sujeito à avaliação indireta.

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▪ Acréscimos patrimoniais não justificados (f) – art.89º-A/5 LGT)


Determina-se a matéria tributável nos termos do artigo 89.º-A/5: é rendimento tributável
a diferença entre o acréscimo patrimonial e o rendimento declarado. Se o acréscimo
patrimonial for 200 mil e o rendimento declarado por 50 mil, vai haver aqui uma avaliação
indireta que vai fixar o rendimento em 150 mil. Razões justificativas parciais: se o sujeito
passivo conseguir provar parcialmente essas razões justificativas, vai ser tributado
apenas por esse rendimento.
Que tipo de razões justificativas podemos encontrar? Por exemplo, o recurso a um
crédito bancário.

▪ Manifestações de fortuna (d))


O artigo 89.º-A estabelece um regime próprio relativamente às normas a que se aplica,
designadamente quanto às justificações (artigo 89.º-A/3) e quanto aos meios de reação
(artigo 89.º-A/7). As manifestações de fortuna são apenas aquelas que constam da
tabela do nº4 deste artigo, em sentido técnico.

PRESSUPOSTOS PARA SE APLICAR ESTE REGIME:


− Alínea a): não ser apresentada declaração de rendimentos;
− Alínea b): desproporção entre o rendimento declarado e o rendimento padrão.
O rendimento padrão é o rendimento associado a cada manifestação de fortuna (tabela
do nº4). Esta desproporção tem de ser superior a 30% para menos relativamente ao
rendimento padrão.

Conjugadamente com uma destas situações, tem de haver sempre uma das tais
manifestações de fortuna previstas no artigo 89.º-A/4.
Se estiverem verificados estes pressupostos, o sujeito passivo vai ter de apresentar
razões justificativas, ou seja, comprovar que os rendimentos que declarou são
verdadeiros. Sempre que ele apresentar estas razões, não se vai aplicar a avaliação
indireta.

Estas razões justificativas, à partida, só afastam a aplicação do regime se for uma


justificação total. Quid iuris se o sujeito passivo apenas consegue fazer uma justificação
parcial da origem do rendimento que lhe permitiu realizar os negócios qualificados,
segundo a lei, como manifestações de fortuna?
Nestes casos, o tribunal tem entendido que esta justificação não é suficiente para afastar
a aplicação do regime jurídico das manifestações de fortuna, mas a mesma releva para
a fixação presuntiva do montante do acréscimo patrimonial não justificado, ou seja, deve
ser tida em conta.

No caso de procedermos à avaliação indireta, como é que se quantifica a matéria


tributável?
QUANTIFICAÇÃO DA MATÉRIA TRIBUTÁVEL (art.89-A/4) – Se o sujeito passivo não
conseguir arranjar razões justificativas, vai-lhe ser imputado o rendimento padrão,
havendo ainda a possibilidade de lhe ser imputado um rendimento superior quando de
acordo com esses critérios existem indícios de que o sujeito passivo auferiu um valor de
rendimento superior ao que resulta da aplicação do rendimento real (art.90º LGT).

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Em termos de razões justificativas parciais, podemos falar em duas posições:


− Para a Administração Tributária estas não têm importância nenhuma;
− Para o STA e para nós estas intervêm ao nível da quantificação.

Vamos supor que o sujeito passivo justificou metade, mas que a Administração
Tributária não deu importância a essa justificação e determinou um rendimento de 20%
no valor de aquisição e o sujeito passivo pretende reagir. Como é que o pode fazer?
→ Impugnação dos atos que determinam a aplicação do regime jurídico das
Manifestações de fortuna
Este meio de reação está previsto no artigo 89.º-A/7: é um caso excecional em que
podemos ir para tribunal discutir de forma direta e imediata a avaliação indireta da
matéria tributária. Este meio traduz-se num recurso que deve ser entreposto no prazo
de 10 dias. É um recurso suspensivo e tramita como processo urgente.
Traduz-se numa exceção ao princípio da impugnação unitária (artigo 54.º CPPT): este
princípio diznos que apenas será impugnável o ato final que põe termo ao procedimento
e que afeta a esfera jurídica dos contribuintes. Isto vai dar-nos apenas um valor do
rendimento sujeito a tributação, não nos dá o valor do imposto a pagar. Há aplicação da
taxa e determinação do valor do imposto a pagar (liquidação). O ato que atinge o
contribuinte, que o obriga a pagar uma determinada quantia, é o ato de liquidação do
imposto.
Todavia, nos casos em que há lugar à aplicação do artigo 89.º-A/7, há uma exceção a
este princípio porque a aplicação destes métodos é imediatamente recorrível, ou seja,
o sujeito passivo, quando for notificado da aplicação de uma avaliação indireta apurada
nos termos do artigo 89.º-A, sabe logo que o meio de reação apropriado é este recurso
urgente.

PROCEDIMENTO ESPECIAL DE REVISÃO DA MATÉRIA COLETÁVEL


Determinada a matéria coletável por métodos indiretos, caso o sujeito passivo não
concorde com a quantificação efetuada pela AT, pode iniciar um procedimento especial
de revisão da matéria coletável – art.91º LGT.
Este procedimento especial:
▪ Não se aplica aos casos de regime simplificado (art.91º/1), nem às situações de
manifestação de fortuna (art.89º-A/7);
▪ Inicia-se a pedido do contribuinte, através do requerimento dirigido ao órgão da
administração tributária da área do seu domínio fiscal, nos 30 dias contados a
partir da data da notificação;
▪ O pedido suspende o procedimento de liquidação do tributo (art.91º/2 LGT) –
apenas até à decisão final tomada neste procedimento.

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1. Debate contraditório entre o perito indicado pelo contribuinte logo no requerimento


inicial e o perito indicado pela administração tributária (que deve constar na lista
aprovada pelo Ministério das Finanças. Exceto: 91.º/4 – 93.º; 92.º/7 e 8).
2. Se houver acordo entre os peritos, o tributo é liquidado com base na matéria tributável
acordada, não podendo a AT alterar o valor dessa matéria tributável – 92º/3/4/5.
Inimpugnabilidade no caso de existência de acordo em sede de pedido de revisão
(86.º/4 LGT) – exceção: não pode considerar-se o sujeito passivo vinculado pelo
acordo que seja obtido, sempre que se demonstre que o representante não agiu dentro
dos limites dos seus poderes de representação e agiu em sentido contrário a estes
poderes.
3. Se não houver acordo, a AT fixa unilateralmente o valor da matéria coletável tendo em
conta as posições dos dois peritos – 92.º, n.º 6
4. Nomeação de perito independente: n.º 4, art. 91.º; n.ºs 7 e 8, art. 92.º todos da LGT.

O pedido de revisão é um preliminar indispensável para a posterior impugnação da


liquidação com fundamento em ilegalidade por erro na quantificação ou nos
pressupostos de determinação da matéria tributável – art.86º/5 LGT e 117º/1 CPPT.
Se tiver havido aquele pedido, pode posteriormente impugnar, mas apenas com base
em outros fundamentos, por exemplo, falta de fundamentação – 117º/2 CPPT.

Atenção: quando a impugnação for apresentada pelo responsável subsidiário
não se aplica o art.86.º/5.
Dado que o art.22.º/ 5, da LGT garante ao responsável subsidiário o direito à reclamação
e à impugnação da matéria tributável, nos mesmos termos do devedor principal, e não
lhe for possível, no caso de fixação da matéria tributável por métodos indiretos, requerer
ou intervir, por se encontrar findo, no procedimento de revisão, poderá mesmo assim
impugnar a avaliação indireta com fundamento em ilegalidade por erro na quantificação
ou nos pressupostos de determinação da matéria tributável.

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CORREÇÃO QUANTITATIVA ≠ CORREÇÃO TÉCNICA


A correção quantitativa tem lugar quando a administração tributária procede à correção
da matéria tributável determinada com base em métodos indiretos, correção cuja
impugnação judicial está dependente de prévia impugnação administrativa através do
procedimento de revisão da matéria tributável fixada por métodos indiretos, se os
fundamentos da impugnação judicial forem um dos previstos no art.86º/5 LGT.
A natureza da correção administrativa mencionada supra é diferente das CORREÇÕES
TÉCNICAS, que são correções que a administração tributária faz à matéria tributável
determinada no âmbito da avaliação direta, como correção concretizada, por exemplo,
na não consideração de determinadas verbas como gastos fiscais assim qualificadas na
declaração de rendimentos. Estas correções apenas podem ser impugnadas
judicialmente em sede de impugnação da consequente liquidação, embora não se exija
qualquer prévia impugnação administrativa.

MEIOS DE REAÇÃO DOS CONTRIBUINTES À ATIVIDADE ADMINISTRATIVA

MEIOS ADMINISTRATIVOS
A. Reclamação Graciosa
Esta pode ser apresentada por escrito ou oralmente (em caso de manifesta
simplicidade) e reduzida a termo nos serviços da AT (art.70º/6 e 73º/1).
Há, aqui, uma limitação dos meios probatórios (art.50º CPPT e 58º LGT), pois apenas
se admitem provas documentais e elementos oficiais de que os serviços disponham,
sem prejuízo do art.69º/e); art.50º CPPT e 58ºLGT.
A dedução da reclamação não suspende os efeitos do ato tributário, salvo o previsto no
art.92º/8 LGT ou quando for prestada garantia adequada (199º e 169º CPPT).

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A garantia caduca se a reclamação não for decidida dentro do prazo estipulado (1 ano
a contar da data da sua interposição), o que constitui uma garantia importante para os
sujeitos passivos – 183º-A.
Pode ser deduzida com os fundamentos previstos para a impugnação judicial – 70º/1 e
99º CPPT.
É apresentada no prazo de 120 dias a contar a partir dos factos previstos no art.102º/1
CPPT – 70º/1 CPPT.
A reclamação graciosa é dirigida ao órgão periférico regional da AT e instruída, quando
necessário, pelo serviço periférico local da área do domicílio ou sede do contribuinte, da
situação dos bens ou da liquidação – art.73º CPPT. O órgão periférico local instaurará
o processo, dentro de um prazo não superior a 90 dias, com os elementos de que
disponha e elaborará proposta fundamentada da decisão.
Nos demais casos, a entidade competente para a decisão de reclamação graciosa é o
dirigente do órgão periférico regional da área de domicilio ou sede do contribuinte, da
situação de bens ou da liquidação – art.75º/1 CPPT.
Se a entidade competente para a decisão entender que a mesma deve ser indeferida,
cabe-lhe elaborar proposta de decisão e ouvir o reclamante (art.60º/1/b) da LGT),
podendo esta formalidade ser dispensada (art.60º/3 LGT).
A notificação da decisão deve ser acompanhada da proposta de decisão elaborada pelo
serviço periférico local (art.37º/1 CPPT).

PERANTE UM ATO TRIBUTÁRIO ILEGAL O SUJEITO PODE:


• Deduzir reclamação graciosa – no prazo de 120 dias (70.º CPPT).
• Impugnar judicialmente – no prazo de 3 meses (102.º CPPT).

→ O sujeito passivo pode reclamar e aguardar pela decisão da reclamação:


− Se houver indeferimento expresso, pode ser objeto de impugnação judicial – no prazo
de 3 meses (102.º/1-b) CPPT).
− Se houver indeferimento tácito (que se forma 4 meses depois do pedido – 57.º/1 LGT)
pode impugnar – no prazo de 3 meses a contar do dia em que cumprem 4 meses
posteriores à entrega da petição (102.º/1-d) CPPT).

→ O sujeito pode reclamar e impugnar se deduzir impugnação ainda no prazo de 3


meses, caso em que a reclamação sobre e é decidida pelo tribunal (111.º/3 CPPT).
→ O sujeito pode impugnar e depois reclamar desde que utilize um fundamento
diverso daquele que usou na impugnação (68.º/2 CPPT).
→ O sujeito não pode impugnar e depois reclamar se o fizer com o mesmo
fundamento (68.º/2 CPPT).

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→ Não pode ser deduzida impugnação judicial depois de terminado o prazo de 3


meses (102.º CPPT), sem que antes tenha havido decisão expressa da reclamação ou
se tenha formado um ato de tácito indeferimento.
→ Do indeferimento pode ainda ser interposto recurso hierárquico, e deste,
posteriormente, ação administrativa relativa à decisão do recurso, quando não estiver
em causa a legalidade do ato de liquidação (76.º/2 e 97.º/1-d) CPPT).

− Em caso de erro na autoliquidação, a impugnação será


obrigatoriamente precedida de reclamação graciosa;
− A reclamação graciosa é dirigida ao dirigente do órgão periférico
regional da administração tributária;
− A reclamação deve ser feita no prazo de 2 anos após a
CASO DE
apresentação da declaração.
AUTOLIQUIDAÇÃO
(131º CPPT) Exceção (131º/3 CPPT) - não é obrigatória quando:
− O fundamento da impugnação seja exclusivamente de direito;
− A autoliquidação tenha sido efetuada de acordo com orientações genéricas
emitidas pela AT (131.º/1,3 CPPT). Isto porque a autoliquidação (que é
efetuada pelo contribuinte) não constitui um ato administrativo e, por isso,
não é impugnável diretamente, exigindo-se antes da impugnação uma
atuação da AT no sentido de “administrativizar” o ato.
− A retenção na fonte é suscetível de impugnação por parte do
substituto em caso de erro na entrega de imposto superior ao
retido. Neste caso, a regra é a de que o imposto entregue a mais
será descontado nas entregas seguintes da mesma natureza a
efetuar no ano do pagamento indevido;
− Só no caso de não ser possível corrigir desta forma é que o
substituto terá de impugnar judicialmente a retenção na fonte, mas
CASO DE antes terá de reclamar graciosamente;
SUBSTITUIÇÃO − A reclamação graciosa será feita para o órgão periférico regional
TRIBUTÁRIA da administração tributária competente;
(132º CPPT) − A reclamação graciosa deve ser feita no prazo de 2 anos a contar
do termo do ano do pagamento indevido;
− O mesmo se aplica ao substituído da retenção na fonte que lhe tiver
sido efetuada (132.º/4 CPPT). Esta possibilidade está vedada aos
casos de retenção com natureza de pagamento por conta do imposto
devido a final (exceção), pois neste caso o substituído terá sempre
direito à devolução da diferença, acrescida de uma remuneração
compensatória (96.º CIRS). Também aqui se aplica o disposto no
art.131.º/3 CPPT.
− A impugnação judicial deve ter por fundamento erro sobre os
pressupostos da sua existência ou do seu quantitativo, quando
determinado pela AT (nº1);
CASO DE − A impugnação depende de prévia reclamação graciosa para o
órgão periférico local da AT, no prazo de 30 dias após o pagamento
PAGAMENTO POR
indevido (nº2);
CONTA − Se a reclamação for expressamente indeferida, o contribuinte
(EX.102ºCIRS) poderá, no prazo de 30 dias, impugnar o ato nos mesmos termos que
é impugnável o ato de liquidação (nº3);
− 90 dias após a apresentação da reclamação sem que a mesma
tenha sido indeferida, a mesma considera-se tacitamente deferida
(nº4).

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«PENALIDADE» PELO USO INDEVIDO DA RECLAMAÇÃO GRACIOSA


Trata-se do agravamento da coleta (art.77º CPPT):
− Nos casos em que a reclamação graciosa não seja condição de impugnação judicial
e não existam motivos que razoavelmente a fundamentem;
− A entidade competente para a decisão aplicará um agravamento graduado até 5% da
coleta objeto do pedido, o qual será liquidado adicionalmente, a título de custas, pelo
órgão periférico local do domicílio ou sede do reclamante, da situação dos bens ou da
liquidação;
− No caso de reclamação graciosa obrigatória – nº 2;
− O agravamento pode ser objeto de impugnação autónoma com fundamento na
injustiça da decisão condenatória (nº 3).

B. Recurso Hierárquico
É um meio administrativo para atacar decisões dos órgãos da AT.
Não pode interpor-se recursos hierárquicos de um ato de liquidação, mas apenas de
atos administrativos respeitantes a questões tributárias ou de decisões administrativas
que versem sobre a apreciação dos atos de liquidação;
O recurso hierárquico apenas pode ser usado no procedimento tributário quando a lei o
expressamente determinar;
Tem natureza meramente facultativa e efeito devolutivo, salvo disposição em contrário
da lei tributária (67.º/1 CPPT);
É dirigido ao mais elevado superior hierárquico do autor do ato (66.º/2 CPPT);
É interposto no prazo de 30 dias a contar:
▪ Da notificação do ato respetivo perante o auto do ato recorrido;
▪ No caso de indeferimento tácito, a partir da data em que se formou o ato de
indeferimento (57.º/1/5 LGT).

O autor do ato dispõe de 15 dias para proceder à revogação total ou parcial do ato:
▪ Se o ato for totalmente revogado o recurso fica sem efeito por inutilidade
superveniente;
▪ Se houver mera revogação parcial ou se o autor de ato entender que o ato deve
ser mantido, deve fazer subir o recurso, acompanhado do processo a que
respeite o ato ou, quando o recurso tiver efeito meramente devolutivo, com um
extrato do mesmo.

Os recursos são decididos no prazo de 60 dias, findo o qual se consideram tacitamente


indeferidos.
A decisão de recurso hierárquico é passível de recurso contencioso (ação
administrativa), salvo se de tal decisão já tiver sido deduzida impugnação judicial com o
mesmo objeto.

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PERANTE O INDIFERIMENTO EXPRESSO DA RECLAMAÇÃO GRACIOSA O


SUJEITO PODE OPTAR ENTRE:
• Interpor recurso hierárquico – no prazo de 30 dias (76.º e 66.º/2 CPPT).
• Impugnar judicialmente – no prazo de 3 meses.

→ No caso de interpor recurso e aguardar pela decisão:


− Se houver indeferimento expresso do recurso, pode impugnar a liquidação no prazo
de 3 meses (102.º/1 b) CPPT);
− Se houver indeferimento tácito (que se forma 60 dias após o pedido – 66.º/5 CPPT)
pode impugnar – no prazo de 3 meses (102.º/1 d) CPPT).

→ O sujeito pode recorrer hierarquicamente e impugnar, se deduzir impugnação


ainda no prazo de três meses, caso em que o recurso sobe e é decidido pelo tribunal
(111.º/3,5 CPPT).
→ O sujeito passivo pode impugnar e depois recorrer, desde que o recurso tenha um
objeto diferente, sendo o mesmo neste caso também apenso ao processo de
impugnação judicial (111.º/4,5 CPPT).
→ O sujeito não pode propor um pedido de impugnação do ato administrativo
relativamente à decisão do recurso se já tiver deduzido impugnação judicial com o
mesmo objeto (76.º/2 CPPT) – entende-se que o objeto é o mesmo quando a decisão
do recurso hierárquico comportar a apreciação da legalidade do ato de liquidação.

C. Revisão do Ato Tributário (art.78ºLGT)


Tem como fundamento o princípio da legalidade da administração.

MODALIDADES

− Prazo de 4 anos após a liquidação;


− A todo o tempo caso o tributo ainda não tenha sido pago, com
fundamento em erro imputável aos serviços (78.º/1 in fine LGT) –
significa qualquer ilegalidade não imputável ao contribuinte, mas
sim à Administração.
POR
INICIATIVA DA
Da decisão do pedido de revisão cabe também impugnação no
AT
prazo de três meses (95.º/1 e 2 d) LGT e 102.º CPPT), porque a
revisão do ato tributário, sempre que exista erro imputável aos
serviços, de que tenha resultado imposto pago a mais ou de
injustiça grave ou notória na tributação, constitui um poder-dever
de revisão oficiosa.

POR INCIATIVA - Prazo de reclamação administrativa (15 dias fixado no art.191º/3


DO SUJEITO CPA).
PASSIVO

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Revisão excecional da matéria tributável:


− Quando autorizada pelo dirigente máximo do serviço;
− Prazo de 3 anos após o ato tributário, com fundamento em injustiça grave ou notória,
desde que o erro não seja imputável a comportamento negligente do contribuinte (78.º/4
e 5 LGT).

A revisão é um meio que não opera exclusivamente em sentido favorável ao


contribuinte, podendo ser utilizado para rever a matéria tributável apurada com
fundamento em injustiça grave ou notória de que tenha resultado elevado prejuízo para
a Fazenda Nacional.
A revisão é um meio de defesa complementar e não alternativo. Significa que o
contribuinte só pode lançar mão quando já não tenha nenhum outro meio de defesa à
sua disposição (ou porque já os esgotou ou porque já não tem prazo para lançar mão
dos mesmos).

MEIOS JUDICIAIS
A. Processo de Impugnação Judicial
IMPUGNAÇÃO DE ATOS TRIBUTÁRIOS (ATOS DE LIQUIDAÇÃO DE TRIBUTOS)
▪ Petição Inicial (108º CPPT)
- Prazo de 3 meses (102º CPPT)
- Quando o fundamento da impugnação é a nulidade, não se aplica este prazo (102º/3
CPPT)

A lista dos fundamentos da impugnação do artigo 99º é meramente indicativa e a


impugnação tem efeito suspensivo mediante prestação de garantia.
▪ Contestação (110º CPPT)
▪ Organização do processo administrativo (111º CPPT)
Se tiver sido apresentada reclamação graciosa ou recurso hierárquico e antes da
decisão dos mesmos for apresentada impugnação judicial, os mesmos são anexos a
esta. O mesmo acontece se forem apresentados posteriormente à impugnação, mas
com um fundamento distinto – art.111.º/3 e 5 CPPT.
▪ Revogação do ato impugnado (112º)
▪ 113º CPPT ou instrução – 114º - 119º CPPT
▪ Alegações (120º CPPT)
▪ Vista ao MP (121º CPPT)
▪ Sentença (122º-126º CPPT)

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2. EXECUÇÃO FISCAL

▪ Cobrança coerciva das dívidas tributárias (sem prejuízo de este


procedimento ser também utilizado para cobrança de outras dívidas – art.148º/2
CPPT)
▪ Crítica ao 103º/1 LGT – o processo de execução fiscal conjuga e articula atos
de AT e fases processuais aí enxertadas que são dirigidas pelos tribunais
tributários. Contudo, maior parte do procedimento decorre na AT.

Fases Principais do Procedimento de Execução Fiscal

Oposição à Execução Fiscal


• Fundamentos consagrados no art.204.º CPPT
• (Sub)processo judicial enxertado no procedimento de execução fiscal, no qual o
executado contesta, perante o tribunal tributário a legalidade do processo de execução.
• Nesta fase já não é possível ao executado questionar a legalidade do ato tributário -
exceto al. h), n.º1, art.204.º CPPT
• Em caso de reversão do processo de execução fiscal, se o revertido pretender
questionar os pressupostos da responsabilidade tributária e a legalidade da dívida:
• deduz oposição à execução fiscal (art.204.º/b) / i) do CPPT)
• e impugna o ato de liquidação (art.22.º/4 da LGT)

• Não é possível, nos termos do art.104.º do CPPT, cumular as duas pretensões na


mesma ação

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