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- Direito Fiscal -
è O Direito Fiscal é o direito dos impostos, mas existem outras categorias de tributos
públicos vertidas na Constituição, a saber: taxas e contribuições.
Impostos1
1
Fraca presunção.
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É, de facto, uma receita coativa, contudo, hoje em dia existem alguns mecanismos em que se
permite, de certo modo, ao contribuinte, negociar o imposto pago ao Estado, acontece em
situações muito bem balizadas por uma lei.
è As taxas são:
o Prestações pecuniárias, pagamentos em dinheiro.
o Com natureza coativa, são impostas ex legis, não há barganha.
o São bilaterais porque existem contrapartidas, como a utilização de bens
públicos, prestação de serviços, remoção de obstáculos jurídicos nas taxas de
licença, ou seja, quando paga tem direito a uma prestação concreta e
individualizada.
o São devidas a entidades públicas.
o Realizadas para os seus fins, ou seja, para financiar um bem ou um serviço
concreto, o que se utiliza.
è Taxa de resíduos na conta da água – o legislador presume que toda a gente produz
lixo, mas com toda a certeza que toda a gente produz lixo (se quisesse ter a certeza
que só pagava a quantidade de lixo que produzia podia por uma taxa sobre os sacos
do lixo, só podendo pôr lixo em sacos do Município). Há uma contraprestação que
traduz um benefício direto quando se concede a utilização do domínio público.
Contribuições4
è Presunção de aproveitamento de um bem cuja presunção não é tão forte nem tão
fraca.
o Contribuições de audiovisuais na conta da luz – o legislador presume que, se
tem eletricidade, tem televisão, logo, há de sintonizar na RTP, ou no caso da
rádio, na estação pública.
è As contribuições são tributos a meio caminho entre taxas e impostos.
è Trata-se de um tributo que é pago em virtude de uma prestação pública que,
presumivelmente, se vai aproveitar, daí a sua força intermédia.
è Hoje em dia encontram-se contribuições com os contornos mais variados, v.g.
prestações para a Segurança Social, no caso da reforma ou acidente, nesses casos
há direito a prestações pagas pelo sistema e que substituem os rendimentos do
trabalho, não são prestações concretas e efetivas, assentam em presunções,
porque não temos a certeza absoluta de algum dia vir a aproveitar aquelas
prestações, assenta, por isso, numa presunção razoável, mas a generalidade dos
trabalhadores acaba, mais tarde, por aproveitar as prestações pagas pela
Segurança Social; é preciso pagar quotas para a ordem dos advogados, são
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Quando a presunção é forte, trata-se de uma verdadeira taxa (tributo bilateral, associado ao
aproveitamento de um bem ou serviço concreto e individualizado).
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Intermédia presunção, aproveitamento de um bem ou serviço público, cuja força não é tão
forte, mas não é fraca.
Tributos
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Por natureza é difícil organizar um sistema de segurança e que se divida o aproveitamento e
a utilização por todas as pessoas.
Por natureza é difícil criar um sistema de salubridade pública e de saúde pública, no sentido
genérico (não haver epidemias, malária, etecetera).
É difícil, por natureza, criar um sistema de justiça que funcione, sem uma repartição, porque
mesmo que não aproveita a justiça, beneficia do sistema de justiça.
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Pagava-se uma parte com as taxas antigas e outra parte com as taxas novas. Seria
infernal e induziria à fraude, a partir da taxa nova os contribuintes deixariam de auferir
rendimentos em Portugal, não faz sentido segmentar o ano e os rendimentos, é impraticável e
nunca foi aplicado.
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Ver acórdão do Tribunal Constitucional nº497/97.
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Dentro do princípio em si, o que é mais comum é a tributação progressiva, ou seja, a taxa
aumenta à medida que aumenta a base de incidência, há quem diga que isso decorre da
capacidade contributiva, o professor SÉRGIO VASQUES diz que não, que o princípio da
capacidade contributiva convive bem com o imposto proporcional.
Extrafiscalidade
è Não tributa por razões positivas ou negativas toda a gente da mesma maneira, foge
a esta ideia de igualdade, é o campo da extrafiscalidade.
è Entra em confronto com o princípio da igualdade, há diferentes impostos que
têm que ser justificados e não podem ser arbitrários, tem que haver um critério para
a diferença, embora não haja um argumento à prova de bala.
è A extrafiscalidade é o domínio que, por razões socioeconómicas, o legislador
decide incentivar ou desincentivar uma determinada atividade, usando, para
isso, o sistema fiscal.
è O Direito Fiscal é utilizado com instrumento de uma política económico-social
(ex.: quem olhar para o telemóvel durante a aula vai para a prisão; quem conseguir
não olhar para o telemóvel durante a aula ganha 10€). O Direito Fiscal não é um fim
em si mesmo, é um instrumento de outra coisa que, politicamente, se quer
atingir, os benefícios fiscais são uma consequência de uma opção que não é
fiscal. Como o Direito Fiscal tem uma expressão económica muito visível, é uma
arma fácil de usar.
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Os bens de mérito são aqueles para os quais o mercado não se organiza para produzir,
porque não têm procura suficiente, é tipicamente a arte e a cultura.
Cálculo do IRS
è Devemos começar pelo artigo 13º dos sujeitos passivos, quando começamos a
resolver hipóteses sobre o IRS. Ter atenção também aos artigos 15º e 16º, para
saber se o sujeito é residente ou não no território português, ou seja, se vive
mais de 183 dias seguidos num período de 12 meses móvel. Também em muitos
casos não existem apenas dois sujeitos passivos (cônjuges são tributados
individualmente, como regra – mas nas hipóteses calculamos o IRS como tributação
conjunta), temos que ter em conta os dependentes que existirem no agregado
familiar. Quem é dependente para efeitos do IRS olhando para o artigo 13º? No
essencial, os dependentes são os filhos e mesmo assim com algumas condições,
os ascendentes não são dependentes, mas podem ser relevantes para efeitos do
IRS, fiscalmente – artigo 13º nº5.
è Só depois vamos ao artigo 1º, à incidência objetiva, quais os rendimentos sujeitos
ao IRS. Originariamente, havia mais categorias de rendimentos, mas foram
condensadas noutras categorias. Todas as categorias são calculadas no IRS,
sejam pagas em dinheiro ou em espécie, artigo 1º nº2:
o Categoria A, rendimentos do trabalho dependente, a matriz desta categoria é
formada por situações em que um rendimento resulta do contrato de trabalho,
situações de trabalho assalariado, não é só a remuneração base, mas também
todas as regalias (remunerações acessórias), v.g. oferta de viagens – artigo 2º,
o legislador integrou outras situações semelhantes ao contrato de trabalho e
são tratadas como tal. O legislador pretende fixar limites abaixo dos quais certas
remunerações complementares não são tributáveis.
o Categoria B, rendimentos profissionais (rendimentos das profissões liberais,
mas hoje em dia há mais que isso) e empresariais, cabe aqui a prestação de
serviços, comércio, agricultura, entre outras, trabalhos económicos
independentes, tributam-se atividades continuadas, mas também atos isolados,
toda a compra para revenda de qualquer tipo de bens – artigo 3º e 4º, o
legislador distingue várias subcategorias, há regras especiais para o tratamento
e para o cálculo do valor tributável (esta categoria resulta da fusão de várias
categorias do CIRS na sua versão originária).
o Categoria E, o nº1 fixa uma definição geral de rendimentos de capital, o nº2
desenvolve esta definição, é importante saber o que são juros, alínea b), e
lucros pagos por entidades e sujeitas a IRC (sociedades), alínea h) – artigo 5º.
o Categoria F, rendas e outras realidades próximas que se prendem com a
exploração do imóvel – artigo 8º.
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As liberalidades não são tributadas em sede de IRS, tem que haver uma norma de
incidência, mas ainda assim, aplica-se o imposto de selo à liberalidade, não havendo não
são tributadas – artigo 12º nº6 do CIRS, mesmo que houvesse uma causa de exclusão de
incidência do selo, porque também não se quer tributar, não irá haver IRS sobre liberalidades,
se não houvesse este nº6, uma transmissão gratuita não poderia ainda ser tributada no
IRS, porque não há norma de incidência.
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Para auferir o rendimento líquido, é preciso subtrair-lhe certos valores:
Deduções subjetivas: despesas necessárias à sobrevivência do contribuinte.
Deduções objetivas: despesas com a angariação do rendimento.
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É crítico para o exame, para a vida profissional e pessoal, temos que ler o artigo 68º muito
devagarinho e saber calcular as taxas de IRS, é o porta aviões do exame.
Incidência subjetiva:
Incidência objetiva:
RLA (10.000) + RLB (10.000) + RLE (10.000) = 30.000 Rendimento Líquido Global –
abatimentos = rendimento coletável, 30.00013
Calcula-se as taxas:
Coluna A, taxa marginal do IRS: (30.000 - 25.000) 5.000 x 0,37 = 1850,00 (o último
escalão aplica-se apenas nas margens)
Coleta de IRS:
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Se o rendimento coletável for de 2.000€ aplica-se a coluna A ou B (são iguais), não se divide,
segundo o próprio artigo 68º nº2. Se o valor coletável fosse de 25.000€ equivaleria à máximo
de um dos escalões, o que significaria que no cálculo da coluna A, o excedente é 0, por isso irá
calcular-se apenas a coluna B, não é preciso dividir em dois, aplica-se apenas a taxa média de
IRS.
Categorias
Categoria A
Incidências
Deduções
Categoria H
Incidências
Tributações
Incidências
14 Em cada caso prático temos que distinguir os rendimentos dentro da categoria B, não basta dizer
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No caso prático basta indicar o coeficiente a aplicar, não é preciso aplicar este nº13.
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No regime simplificado, o Orçamento de Estado para 2018, diz que, sem prejuízo dos casos
especificamente previstos na tabela, pode-se retirar o montante do coeficiente (ex.: 0,25%
de custos, ou seja, coeficiente de 0,75%) – temos que apresentar faturas de 15% desses
custos e custos relacionados com a atividade – não se sabe o que é.
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Pressupõe o conhecimento do Código do IRC.
Categoria E
Incidências e Tributações
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O objetivo é atenuar a tributação económica que advém do facto de os lucros da empresa
estarem simultaneamente sujeitos a tributação pelo IRC, e aquilo que é distribuído aos
sócios, os dividendos, estão sujeitos ao IRS.
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Nas taxas especiais não há retenções.
Incidências
è Incide sobre os rendimentos prediais, artigo 8º, sendo que prédio tem uma noção
particular para efeitos de IRS, nº1 “rendas dos prédios rústicos, urbanos e mistos
pagas ou colocadas à disposição dos respetivos titulares quando estes não optarem
pela sua tributação no âmbito da categoria B”.
Deduções
Tributações
è Artigo 72º nº1 e), esta taxa de 28% aplica-se ao rendimento líquido, mediante
declaração do contribuinte, não por retenção na fonte, porque as taxas especiais
não estão sujeitas à retenção na fonte.
è Depois tem que se ver se sofreu ou não retenções na fonte à taxa de 25% ao
longo do ano, o que vai depender de o inquilino ou arrendatário ter ou não
contabilidade organizada. No artigo 101º e) diz-se que quem está obrigado a reter
na fonte é quem paga a renda e tenha contabilidade organizada, podendo ser
aplicadas taxas de 25% de retenção na fonte ao longo do ano. Estas retenções são
por conta do imposto devido a final, ou seja, são sempre creditáveis ao
contribuinte no final do ano.
è À partida é um regime mais favorável aos proprietários, para os titulares de
rendimentos prediais: 28% com a possibilidade de deduzir todas as despesas
associadas à angariação do rendimento.
è Artigo 72º nº8, o contribuinte pode optar por englobar, se lhe for mais favorável ou,
ao englobar, optar por aplicar as regras da categoria B.
è Portanto, há três hipóteses: aplicar uma taxa especial de 28%, artigo 72º;
englobar, artigo 72º nº8, com as regras da categoria F, deduz-se todas as
despesas documentadas e possíveis; englobar e passar para a categoria B,
calculando-se com as suas regras do regime simplificado, não é preciso documentar
as despesas feitas, artigo 8º nº1.
Incidência subjetiva, artigo 13º, dois sujeitos passivos portugueses com residência em
Portugal.
Incidência objetiva: artigo 5º nº2 b), os juros de 100.000€ são da categoria E; artigo
8º, rendas de 100.000€ são da categoria F; artigo 5º nº2 h), os dividendos de 100.000€ são da
Categoria E.
Taxas liberatórias: artigo 71º nº1 a) 28% de retenção na fonte pelo Banco, sendo o
IRS dos juros calculado pelo Banco ao reter na fonte, sai para fora do caso porque não se
engloba. Quanto aos lucros\dividendos aplica-se o artigo 71º nº1 a) que também tem uma taxa
liberatória definitiva de 28%, em princípio, aplicada pela Galp, não tendo o contribuinte de
declarar nada no final do ano, é uma taxa liberatória, definitiva, em princípio, a menos que opte
por englobar, também saem para fora do caso. Restam os rendimentos prediais de 100.000€,
aos quais se deduzem 10.000€ dos gastos, artigo 41º, aplica-se a taxa especial de 28% do
artigo 72º nº1 e), ficando 90.000€ x 0,28 = 25.200€ (imposto devido, tributado à parte), mas
ainda não significa que o tenha que pagar todo no final do ano, porque ao longo do ano pode-se
ter sofrido retenções na fonte, presume-se que a embaixada tem uma contabilidade organizada,
há uma retenção na fonte à taxa de 25% sobre os 100.000€, sobre o rendimento bruto, porque
não sabe quais os gastos do contribuinte no final do ano, 25.200€ – (100.000 x 0,25 = 25.000€)
= 200€ é o que resta pagar no final do ano.
Artigo 22º nº3 do englobamento diz que há certos rendimentos que não se englobam,
que são os do nº3. Contudo, quando se exerce a opção de englobar, não pode escolher quais
os rendimentos dentro da mesma categoria que engloba, tem que englobar todos dessa
categoria, nº5, limitando as opções de planeamento fiscal por parte dos contribuintes.
Categoria G
Incidências
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Este artigo tem uma válvula de escape, diz que se o valor patrimonial tributário for
superior, é esse que conta, este valor é o valor que se dá tendo em conta as características
relevantes para a determinação do imóvel, normalmente é abaixo do valor de mercado, é
um valor que serve de base ao cálculo do IMI.
è Artigo 104º, o IRS não é um imposto único e progressivo (há pessoas que não
pagam IRS porque têm rendimentos muito baixos, este imposto também tem em
conta a eliminação as desigualdades), por exemplo nas mais-valias não é único e
progressivo a taxa de 28% é igual para todos os rendimentos, seja de 100€ ou de
1.000.000€. É um problema de todas as taxas especiais, rendimentos prediais e de
capitais, são tributados à parte e têm uma taxa de 28%, portanto, não é único e
progressivo, porque há diferentes categorias que podem até não ser todas
englobáveis, são tributadas de forma diferenciada e não de forma progressiva, não
há um imposto que aplica com as mesmas taxa a todos os rendimentos – o objetivo
de legislador foi incentivar essas áreas de mercado.
è Deduções à coleta têm limites, a personalização do imposto não é levada a sério
como deviam ser (não tem em conta o número de dependentes, só no artigo 78º-
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Caso prático sobre mais-valia de venda de uma casa: temos que perceber se é uma mais-
valia, se há investimento (se não houver dados sobre a compra de outra casa não
inventar!), calcular a mais-valia, corrigir o valor de aquisição, ver se há despesas
dedutíveis, ver essa mais-valia, perceber se é reinvestida total ou parcialmente, se for só
parcialmente ou não reinvestida, pega-se nela e aplica-se o artigo 43º nº2, divide-se por dois,
engloba-se junto dos outros rendimentos líquidos apenas metade dessa mais valia, aplicando-
se a taxa geral, não há taxa especial para a mais-valia imobiliária.
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Se sair em teste ou exame, para dar mais corpo à resposta, deve-se distinguir o que são
desagravamentos estruturais, incentivos fiscais e benefícios fiscais.
Mecenato
è É uma prática de cujo nome deriva de Mecenas, o patrono das artes, por
conseguinte, é uma prática de incentivo às artes e cultura. No nosso ordenamento
jurídico tem um significado mais amplo e mais ligado àquilo que é conhecido
internacionalmente como filantropia, portanto, não só às artes, mas também à
ação social, educação, saúde, desenvolvimento da ciência, do desporto,
etecetera.
è O Estado incentiva às artes, desde logo através de entidades não lucrativas, por
exemplo Associações, que não têm como objetivo a distribuição de lucros, são
entidades com substrato pessoal, que não prosseguem o lucro, assim, financiam-
se de outra forma, através de patrocínios, quotas dos associados, subsídios
(ex.: banco alimentar, prossegue os seus fins através de donativos em espécie).
è O Estado cria estímulos para que os privados também financiem estas
entidades não lucrativas. O Estado não quer prosseguir diretamente toda a obra
social em Portugal, mas no fundo o nosso Estado Social valoriza esses princípios.
Por isso, a Constituição fala de um terceiro setor, que não é público nem se
movimenta por motivos puramente lucrativos (o mercado), são entidades privadas
que, de certa forma, promovem algumas funções ou que são públicas ou que
respeitam alguns valores que são pretendidos ou valorizados pela nossa sociedade.
è Uma forma de tentar estimular o mercado a promover estas entidades é o mecenato,
que funciona através de donativos fiscais, é unilateral em quanto às obrigações,
só uma parte dá e a outra recebe o donativo sem qualquer contrapartida.
Sujeitos Passivos
è Os sujeitos passivos normalmente são algumas empresas (porque também podem
ser tributadas em sede de categoria B), mas a resposta mais intuitiva serão as
pessoas coletivas, incluindo algumas desprovidas de personalidade jurídica,
embora o Código do IRC, no artigo 2º, fale em “entidade”.
è Assim é feito porque as entidades são criações do homem, da lei, por isso só
adquirem a personalidade com o registo, não sendo tributadas, haveria um estímulo
a não serem registadas, para não serem tributadas. Também outras entidades sem
personalidade jurídica podem ser tributadas, tais como as heranças jacentes (opção
de política fiscal), as sucursais23 e os fundos de investimento24, portanto, não têm
personalidade jurídica, mas têm personalidade tributária.
è Só são tributadas as pessoas coletivas residentes em Portugal, ou seja,
aquelas que tenham sede (é a residência formal da pessoa coletiva estabelecida
quando a sociedade é constituída, é um conceito relativamente formal) ou direção
efetiva (é um conceito mais substancial, é o local onde a sociedade efetivamente é
gerida e administrada, mas é difícil de saber como determinar esse local25) em
Portugal.
è Estes critérios alternativos servem para evitar a arbitragem internacional, para evitar
que sejam tributados em vários países, estabelecendo-se assim um critério mais
substancial, desta forma atrai-se tributação em Portugal. Em muitas sociedades
obriga muito os sócios e os administradores a irem ao local onde a sociedade se
encontram.
è Estes critérios são simultaneamente alternativos e cumulativos (se bastassem
critérios meramente formais, poderia haver muita arbitragem internacional, as
empresas sediavam formalmente as suas sociedades nos países com tributações
mais baixas, ficando sujeitos à tributação desses países), o que pode gerar uma
situação de dupla residência e, consequentemente, uma situação de dupla
tributação.
23
Representações, uma longa manus, uma extensão de uma pessoa coletiva que tem
residência fora do Estado, e que se desenvolve dentro de um Estado, mas não é uma
pessoa coletiva, a personalidade jurídica é da sociedade e não da sucursal. Esta existência
é muito importante em sede de direito internacional, porque limita ao Estado onde está a
sucursal tributar e, dentro do país, pode ser relevante para efeitos de derrama.
24
Pode ter personalidade jurídica, se for uma sociedade, mas tradicionalmente não têm, terem
personalidade jurídica é uma realidade recentes.
25
Pode-se olhar para as decisões mais basilares e importantes da sociedade, as key decisions,
ou o day to day management, que é a gestão diária, critérios para determinar o que é a direção
efetiva.
Extensão do Imposto
è Artigo 4º.
è Os rendimentos das pessoas coletivas com sede e direção efetiva em território
português são tributados todos os rendimentos, na sua totalidade, incluindo os
obtidos fora de Portugal, princípio de tributação de base mundial, o chamado world
wide kingdom.
è Para as restantes pessoas coletivas, apenas são tributados os rendimentos
auferidos em Portugal, à semelhança do que acontece com o Código do IRS, tem
que haver uma lista de rendimentos que se consideram ser obtidos em Portugal.
è Por exemplo os rendimentos imputáveis a estabelecimentos estáveis, estes não têm
personalidade jurídica, mas são tratado de forma muito semelhante a uma
sociedade, que quando querem desenvolver a sua atividade fora do país, podem
fazê-lo de três formas: constituem uma subsidiária, uma nova sociedade filha, uma
entidade jurídica diferente noutro país; podem fazer esse investimento direto, sem
qualquer plataforma estável noutro país, ao abrigo da liberdade de circulação ou
prestação de serviços; podem constituir uma sucursal.
è Na esmagadora maioria dos países no mundo só são tributados no âmbito dos
estabelecimentos estáveis os rendimentos gerados por esse mesmo
estabelecimento, que lhe são imputáveis, v.g. a Yamaha produz e vende guitarras
elétricas em Portugal, mas esporadicamente vende diretamente da sua sociedade
na Holanda órgãos eletrónicos também para Portugal, que não são produzidos, nem
26
Pode sair no exame.
Taxas de IRC
è A taxa de IRC normal é de 21% no continente, a esta taxa acresce a derrama
estadual (uma progressividade que é feita do IRC, para os lucros tributáveis acima
de 1.500.000€, há uma taxa progressiva que acresce aos 21%), e a derrama
municipal, fixada anualmente pelos municípios até 1,5%.
è Quando são entidades não residentes a retenção na fonte é de 25%, a menos que
seja reduzida por força da aplicação de uma Convenção para a eliminação de dupla
tributação.
Incidência Objetiva
27
Locação é uma típica prestação de serviços. Se findo determinado período de tempo se
transferir a propriedade (devido a uma cláusula vinculante para ambas as partes no contrato
de locação), então é transmissão de bens, artigo 3º nº3 a).
28
Pode não ser uma verdadeira prestação de serviços porque a definição negativa tem
limites, artigo 4º, tem que se falar de uma própria e verdadeira remuneração, porque se
paga por razões de liberalidade ou social, não se está a remunerar um serviço.
29
A senhora faz pastéis de bacalhau e os vizinhos encomendam-lhe alguns. Trata-se de
uma prestação de serviços ou uma transmissão de bens?
Trata-se de uma transmissão de bens, mas se fosse o vizinho a entregar-lhe os ingredientes, já
seria uma prestação de serviços – artigo 3º nº1 e) e artigo 4º nº2 c).
30
Todavia, há casos em que se cobra menos do que aquilo que se costuma cobrar, um
preço simbólico, para que não lhe seja aplicada uma taxa equiparada a uma atividade
onerosa, simulando-se um preço muito mais baixo quando se pretende prestar uma
atividade gratuita, o Tribunal de Justiça da União Europeia já se pronunciou sobre estas
situações, à partida, o que vale é o preço simbólico, só em casos limite é que se percebe
que estamos perante situações de abuso de direito, aí há um princípio geral de proibição de
abuso em matéria de IVA. Há abuso direito, de um modo geral, quando se está perante uma
operação puramente artificiosa que não tem outra finalidade se não o termo ganho
fiscal, que é vedado pelo sistema. Mas não há dúvida de que quando se concede um
desconto, à partida, é esse preço efetivamente pago a base do IVA.
Incidência Subjetiva
è De seguida temos que ver a incidência subjetiva, que está no artigo 2º, define
quem são os sujeitos passivos, a primeira parte da alínea a) é a mais importante,
a atividade tem que ser contínua e independente31, onde cabe a generalidade
das empresas. Mas também a segunda parte da alínea a) estabelece que os atos
isolados são tributados e que podem ser de um de dois tipos: conexão com uma
atividade (uma entidade tem uma atividade económica fora de Portugal continuada,
por exemplo em Angola, mas efetua um ato/operação isolado em Portugal); mas
também os atos isolados verdadeiros impróprios (ex.: um estudante que o seu
trabalho é estudar e no verão é contratado para fazer um trabalho de processamento
de texto, esta prestação de serviços é um ato isolado), aqueles que são feitos em
Portugal, há sujeição a IVA se, por ventura, houver também incidência real de IRS
(artigo 3º do IRS, os atos isolados são tributados em sede de IRS), que atrai a
incidência do IVA, é uma regra de atração.
o A alínea a) como um todo exige a independência, ou seja, exclui-se o trabalho
assalariado, para prevenir que os trabalhadores dependentes liquidem IVA à
sua entidade patronal.
è O nº2 do artigo 2º vem dizer que o Estado não é sujeito passivo do IVA enquanto
exercer poderes\prorrogativas de autoridade (ex.: a Câmara Municipal cobra
uma licença de ocupação da via pública a um restaurante que quer pôr lá uma
31
Se o presidente da Associação disser que não são remunerados, que apenas visam
animar a vida na Universidade?
Apesar de não ser para obter lucro continua a haver incidência subjetiva, porque a
atividade não é relevante para efeitos do artigo 2º nº1 a), mas pode ser relevante para as
isenções do artigo 9º nº8.
Isenções
è Contudo, se tudo aquilo estiver verificado há incidência, mas não significa que haja
tributação, porque pode operar alguma isenção.
è As isenções estão no artigo 9º e 53º.
o O primeiro artigo tem um catálogo longo de isenções, não é fixada pelo
legislador português livremente, dependem do cumprimento da Diretiva IVA,
mas quando corremos este artigo percebemos que estas se prendem
fundamentalmente com prestações de serviços, há algumas transmissões de
bens, embora conexas com os serviços que lhes estão referidos, e são isenções
tendencialmente objetivas, beneficiam os serviços, independentemente de
quem os realiza. Quanto à finalidade há dois grupos muito diferentes:
§ Isenções com finalidade social, alínea a), concede-se a isenção para
facilitar o acesso dos cidadãos a serviços que se consideram
essenciais, não se quer encarecer esses serviços com IVA, logo, há
isenções (ex.: saúde, educação, formação, algumas atividades culturais);
§ Isenções de ordem técnica, dos setores financeiros (ex.: imposto de
selo aos créditos e seguros), do jogo (Imposto Especial de Jogo) e das
operações imobiliárias (ex.: IMT), é difícil de apurar o valor acrescentado
em atividades como estas, é difícil de tributar, como há dificuldades
técnicas, a tradição na União Europeia é a de isentar o IVA para depois
aplicar impostos de outro tipo, v.g. no setor financeiro aplica-se o imposto
de selo, nos jogos é o imposto especial de jogo, nas operações imobiliárias
não é difícil aplicar o IVA, mas a dificuldade é a de que, via de regra, a
transmissão ou locação dos imóveis é feita pelo comum dos cidadãos,
então estar a exigir o calculo do IVA é muito pesado, então isenta-se o IVA
para depois aplicar impostos de outro tipo, como por exemplo, o IMT.
o O segundo artigo exclui os pequenos contribuintes/operadores, se não
ultrapassar um determinado número de negócios, de um determinado plafond,
10.000€ quanto à totalidade dos outputs (ganhos), está-se isento de IVA, no
fundo, tira-se o peixe miúdo de dentro do sistema. Esta é uma isenção do artigo
53º que, ao contrário do artigo 9º, é tendencialmente subjetiva, isto é, desde
que não se ultrapasse o plafond está-se isento, independentemente do tipo de
operações que realize. A isenção é também uma isenção simples, não liquida
IVA, mas também não deduz, o que pode ser prejudicial, por isso é que o Código
32
A menos que haja distorções de concorrência, por exemplo, se houver outras entidades
a prestar aquele serviço, nesses casos, há incidência subjetiva.
Taxas do IVA
è De seguida, aplica-se o artigo 18º que tem as taxas do IVA, em Portugal continental
pode ser:
o Taxa reduzida, 6% (lista I, página 498).
o Taxa intermédia, 13% (lista II, página 504).
o Taxa normal (taxa de 23%).
è Se for nos Açores ou na Madeira, nos termos da Diretiva IVA, o Estado Português
está expressamente autorizado a aplicar taxas mais baixas nas regiões autónomas.
Então e os casos em que há uma operação que envolve as regiões autónomas
e o território continental, como é que se localiza no território? Por exemplo,
enviar dois queijos de São Jorge para Lisboa? Aplica-se um Diploma que diz que se
Crédito Imposto
è Por fim, tem que se fazer o crédito imposto, a liquidação e dedução, para que o
vendedor entregue ao Estado.
è A linguagem dos artigos seguintes é muito pobre, a tradução da Diretiva é péssima.
è No artigo 19º a) o sujeito passivo, em cada período declarativo, tem, à partida, a
liberdade de deduzir um imposto que tenha suportado em todas as compras
(operações passivas) que tenham sido feitas na sua atividade. Se os seus
fornecedores lhe liquidaram IVA a ele, esse imposto vai poder ser deduzido.
è No artigo 20º estabelece-se que, à partida, tem o direito de deduzir todo o IVA
suportado nas compras, desde que as compras tenham sido feitas para
realizar uma atividade que esteja sujeita a IVA e dele não isenta (operações
ativas, vendas), ou seja, se na atividade há uma isenção, não se pode deduzir o IVA
das respetivas compras
è No artigo 21º33 há certos casos em que se faz compras relacionadas com a
atividade, tendo esta IVA, mas, apesar disso, o IVA não é dedutível, v.g.
gasolina, os bens aqui mencionados são gastos que têm de comum uma
confusão entre a esfera pessoal e empresarial, suscetíveis a fraude fiscal.
è De todo o IVA que se liquidou soma-se tudo, mas quanto aos gastos não se
soma tudo, tem que se apreciar casuisticamente para saber se o IVA é
dedutível ou não. Se o outro sujeito passivo que cobra o IVA do meu gasto pagou
o IVA, tenho que calcular esse IVA do que eu gastei para deduzir depois aos meus
gastos, para só depois somar os gastos e os ganhos.
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Há formas de o contribuinte afastar a presunção deste artigo, desde logo porque o artigo
73º da LGT permite que se afaste as presunções das incidências de imposto. Contudo, embora
seja mais justo, irá obstruir a máquina do Estado e abarrotar os tribunais de trabalho para
o qual podem não ter capacidade.
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Em Portugal hoje temos uma opção entre o pagamento dentro do prazo ou não
pagamento e prestação de garantia, ao abrigo do artigo 52º da LGT, para suspender a
execução (não pagando fica-se sujeito a um processo de execução fiscal, no sentido de
converter os bens em dinheiro para pagar a fazenda, mas esse processo de execução fiscal
pode estar suspenso por garantia idónea ao abrigo do artigo 52º e seguintes da LGT,
normalmente é uma garantia bancária – o Banco, tendo em conta o património que se tem no
Banco, a troco de pagar x % ao mês, garante que aquela pessoa pode pagar aquele
montante).
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Poderá ser inconstitucional, por violação do princípio das garantias é o princípio
segundo o qual todas as decisões administrativas podem ser impugnadas administrativa
ou contenciosamente. O contribuinte ter que fazer uma ponderação de risco de um critério
absolutamente abstrato, restringe o direito de acesso ao controlo administrativo dos atos.
Não é inconstitucional porque esta restrição é proporcional, na medida em que
este meio é gratuito.
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É um meio dissuasor, raramente aplicável, mas a lei prevê que se a entidade administrativa
entender que os fundamentos da declaração são dilatórios e infundamentados, agrava a
coleta.
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O problema é que a fronteira entre o facto e o direito é muito ténue e fácil de transpor
inconscientemente, ambos são dependentes um do outro, porque são ambos conceitos
jurídicos. Se tiver muitos factos, for uma questão de faturas, de deduções, normalmente vai-se
para os tribunais centrais, estão mais rotinados a ver isso. Se for uma questão mais de
princípios, mais de direito, vai-se diretamente para o STA. Há um risco grande de não se
admitir o recurso no STA por ser uma questão de facto e não de direito, correndo o risco de
perder o prazo para recurso. Só em casos excecionais é que se vai ao STA.
Fiscalidade do Século XX
è A revolução liberal que instaurou a primeira república em Portugal veio
introduzir a progressividade no sistema fiscal, a começar pela contribuição
predial, onde se introduziram taxas progressivas, pondo termo ao sistema
reacionário da proporcionalidade. Também se trouxe progressividade à
contribuição de registo, onerando as transmissões gratuitas com taxas que
variavam em função de diversos fatores, não apenas consoante o grau de
parentesco, também o próprio valor dos bens. Esta inovação visava, sobretudo,
corrigir as desigualdades de riqueza, as diferenças extremas de condição social.
è A Reforma de 1922 deu corpo a um programa de modernização global dos impostos
sobre o rendimento e o consumo.
o A contribuição industrial passou a ser formada por uma taxa fixa, paga em
função de determinados indicadores e por uma taxa complementar, no valor de
10% sobre os lucros reais, tanto os declarados, como os que presumivelmente
se obtivessem. Abandona-se o sistema de repartição e adota-se o da quotidade,
sobre valores reais e não estimados.
o O imposto pessoal de rendimento mantinha a sua incidência sobre os
rendimentos de qualquer natureza, munidos das deduções objetivas e
subjetivas, deu uso a taxas fortemente progressivas.
o O imposto sobre o valor das transações foi a primeira tentativa de introduzir um
imposto geral sobre o consumo moderno no país e veio abolir o real d’água e
os direitos de consumo. Este novo imposto assentava no princípio da
autoliquidação e incidia sobre a generalidade dos bens e serviços com taxa
comum de 1%.