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Sebeca

- Direito Fiscal -

Regente: Professor Doutor Sérgio Vasques e Professor Doutor João


Taborda da Gama

Assistente: Professor Doutor Sérgio Vasques

Rebeca Louro - 2018 1


Parte Geral – O que é o Direito Fiscal?

è O Direito Fiscal é o direito dos impostos, mas existem outras categorias de tributos
públicos vertidas na Constituição, a saber: taxas e contribuições.

Impostos1

è Mas o que são impostos?


o São prestações pecuniárias, pagamentos em dinheiro ou equivalente, por via
de regra são em dinheiro, excecionalmente são pagas em bens ou serviços em
Portugal;
o Coativas, é uma obrigação ex legis, nasce de um simples preenchimento de
um pressuposto que está na lei, um facto tributável – artigo 26º da Lei Geral
Tributária2;
o Unilaterais, paga-se sem direito a nada, à primeira vista, pois existe a
expectativa de ter algo em retorno eventualmente, de que a receita seja utilizada
bem pelo Estado, mas o facto gerador do imposto não nasce em virtude de uma
prestação administrativa;
o São pagos ao Estado em sentido amplo, ou seja, a entidades públicas –
administração central (Estado em sentido amplo), local (autarquias locais) e
regional (regiões autónomas), entidades cada vez mais variadas;
o Por cidadãos, pessoas singulares, pessoas coletivas e entes não
personificados, não têm personalidade jurídica na lei civil, mas ganham-na
para efeito de pagamento de impostos;
o Para realizar os seus fins, isto é, com a finalidade de alimentar a máquina
pública, ou seja, para angariar receita para o Estado realizar as suas despesas
(finalidade fiscal dos impostos), mas os impostos hoje em dia podem ter outras
finalidades, desde logo, a finalidade extrafiscal dos impostos: para moderação
do consumo para a saúde, de cariz energético e económico, proteção do
ambiente (emissão de CO2), redistribuir riqueza e os rendimentos (através do
imposto progressivo) – artigo 103º e 104º da Constituição.

1
Fraca presunção.
2
É, de facto, uma receita coativa, contudo, hoje em dia existem alguns mecanismos em que se
permite, de certo modo, ao contribuinte, negociar o imposto pago ao Estado, acontece em
situações muito bem balizadas por uma lei.

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è As classificações abaixo elencadas importam para a aplicação da lei fiscal no tempo,
é útil conhecê-las porque estão previstas na lei e são mencionadas na comunicação
social muitas vezes.
1. Impostos diretos: não admitem repercussão, ou seja, o consumidor suporta o
encargo económico do imposto (ex.: estamos obrigados a pagar o IRS e o IMI
ao Estado) – IRS, IRC, IMI.
Impostos indiretos: opera por via da repercussão, apesar do sujeito passivo
não ser o consumidor, repercute-se sobre o consumidor através do preço dos
bens. A repercussão do imposto pode depender de muitas circunstâncias,
nomeadamente, a elasticidade da procura, mas não é um problema meramente
económico, é um problema jurídico (ex.: os consumidores suportam o IVA,
quando pagam, por exemplo, um café na cafetaria, que depois esta entrega ao
Estado, recupera por via da repercussão) – IVA (mais importante), IMT (compra
de casas), ISV (compra dos automóveis), ISP (sobre os combustíveis), impostos
sobre as bebidas e sobre o selo.
2. Impostos pessoais: não são os que incidem sobre pessoas, são os que
atendem à condição social e pessoal do contribuinte (ex.: IRS, se tem filhos, é
casado, tem despesas, saúde, educação).
Impostos reais: não olha à condição social e pessoal do contribuinte, artigo
104º da Constituição (ex.: IVA).
3. Impostos progressivos: quanto mais recebe, maior é a taxa do imposto,
cresce à medida que aumenta a matéria coletável (ex.: IRS).
Impostos regressivos: quanto maior a matéria coletável, menor a taxa de
impostos – é proibido pela Constituição, mas pode haver em certos setores de
atividade.
Impostos proporcionais: a taxa não varia, há um certo efeito económico que
é progressivo (ex.: IVA, a matéria coletável ou o valor da transação varia, a taxa
é sempre a mesma, mas como o imposto não tem uma taxa única, há um certo
efeito no ponto de vista económico que é progressivo, os produtos mais
elementares têm uma taxa mais baixa).
4. Impostos específicos, ad rem: incidem sobre grandezas físicas, não são
calculados tendo em conta apenas o valor do bem (ex.: quando se compra um
carro há o ISV (cilindrada e emissões de CO2) que é um imposto específico e
o IVA).
Impostos ad valorem: incidem sobre valores e que se exprimem numa
percentagens (ex.: 10% do rendimento, 6% do bem, 5% do valor do património)
– regra.
5. Impostos periódicos: impostos cujo facto gerador tem tendência a repetir-se
com o tempo (ex.: selo do carro, IRS, IMI, IUC).
Impostos de obrigação única: o facto gerador não se repete necessariamente
ao longo do tempo (ex.: IVA).

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Taxas3

è As taxas são:
o Prestações pecuniárias, pagamentos em dinheiro.
o Com natureza coativa, são impostas ex legis, não há barganha.
o São bilaterais porque existem contrapartidas, como a utilização de bens
públicos, prestação de serviços, remoção de obstáculos jurídicos nas taxas de
licença, ou seja, quando paga tem direito a uma prestação concreta e
individualizada.
o São devidas a entidades públicas.
o Realizadas para os seus fins, ou seja, para financiar um bem ou um serviço
concreto, o que se utiliza.
è Taxa de resíduos na conta da água – o legislador presume que toda a gente produz
lixo, mas com toda a certeza que toda a gente produz lixo (se quisesse ter a certeza
que só pagava a quantidade de lixo que produzia podia por uma taxa sobre os sacos
do lixo, só podendo pôr lixo em sacos do Município). Há uma contraprestação que
traduz um benefício direto quando se concede a utilização do domínio público.

Contribuições4

è Presunção de aproveitamento de um bem cuja presunção não é tão forte nem tão
fraca.
o Contribuições de audiovisuais na conta da luz – o legislador presume que, se
tem eletricidade, tem televisão, logo, há de sintonizar na RTP, ou no caso da
rádio, na estação pública.
è As contribuições são tributos a meio caminho entre taxas e impostos.
è Trata-se de um tributo que é pago em virtude de uma prestação pública que,
presumivelmente, se vai aproveitar, daí a sua força intermédia.
è Hoje em dia encontram-se contribuições com os contornos mais variados, v.g.
prestações para a Segurança Social, no caso da reforma ou acidente, nesses casos
há direito a prestações pagas pelo sistema e que substituem os rendimentos do
trabalho, não são prestações concretas e efetivas, assentam em presunções,
porque não temos a certeza absoluta de algum dia vir a aproveitar aquelas
prestações, assenta, por isso, numa presunção razoável, mas a generalidade dos
trabalhadores acaba, mais tarde, por aproveitar as prestações pagas pela
Segurança Social; é preciso pagar quotas para a ordem dos advogados, são

3
Quando a presunção é forte, trata-se de uma verdadeira taxa (tributo bilateral, associado ao
aproveitamento de um bem ou serviço concreto e individualizado).
4
Intermédia presunção, aproveitamento de um bem ou serviço público, cuja força não é tão
forte, mas não é fraca.

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pagamentos para financiar a ordem e toda a atividade que desenvolve na defesa
dos interesses da classe, financiam-se prestações que presumivelmente vão
aproveitar os advogados – grupo concreto de pessoas.
è O que distingue as contribuições é o facto de haver, na prática, uma bilateralidade
mitigada, porque não se sabe ao certo se se irá aproveitar as contrapartidas
decorrentes das prestações pagas anteriormente.

Tributos

è A fronteira entre estas categorias de tributos faz-se de forma gradual.


è Os tributos não têm uma função punitiva e dissuasora, não é essa a sua finalidade,
em regra, porque há tipos de impostos parecidos com as contraordenações, aqueles
que têm um cariz dissuasor.
è Estes são fontes de sustento da máquina estatal, que existe para satisfazer as
necessidades dos consumidores.
è Há necessidades coletivas, sentidas por toda a população, que não é o Estado a
satisfazer, mas sim as entidades privadas (ex.: comida, segurança na Católica).
Todavia, há bens públicos indivisíveis por natureza5 (ex.: segurança e não só),
que são fornecidos pelo Estado e não pelas entidades privadas, porque haveria
pessoas que não conseguiriam pagar para si (ex.: segurança privada), reparte-se o
custo por todos através de impostos, porque o Estado tem esse poder. É difícil
criar um sistema que funcione na perfeição, por isso, reparte-se os custos por todos,
mesmo quem não aproveita irá beneficiar.
o Há duas alternativas para financiar os bens públicos para além dos
impostos, que já vimos, que são: os recursos naturais (ex.: nos Emiratos e
Arábia Saudita) e as receitas da concessão do jogo (ex.: em Macau) – não
são necessariamente alternativas, são complementos.
è Os regimes a estes tributos aplicáveis são diferentes, começando, desde logo, pelo
regime constitucional: princípios da igualdade (ex.: nos impostos a igualdade
significa capacidade contributiva, cobre na medida da força económica do
contribuinte) e da legalidade (quem tem competência para criar impostos é a
Assembleia da República, salvo autorização ao Governo; diferentes são as taxas e
contribuições, aí não tem que ser necessariamente a Assembleia da República) –
artigo 165º nº1 i), 103º e 104º.

5
Por natureza é difícil organizar um sistema de segurança e que se divida o aproveitamento e
a utilização por todas as pessoas.
Por natureza é difícil criar um sistema de salubridade pública e de saúde pública, no sentido
genérico (não haver epidemias, malária, etecetera).
É difícil, por natureza, criar um sistema de justiça que funcione, sem uma repartição, porque
mesmo que não aproveita a justiça, beneficia do sistema de justiça.

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Princípio da Legalidade Tributária

è Em Portugal há uma fonte de receita no Orçamento de Estado que não é imposto,


é a dívida de crédito, as receitas creditícias. Estas não decorrem de uma imposição
aos cidadãos, empresas e residentes, decorrem de contratos bilaterais com
instâncias de financiamento. Contudo, esta distinção não é absoluta, porque no
futuro tem que se pagar a dívida e os juros, se não há recursos naturais, paga-se
com impostos.
è No Orçamento de Estado os tributos mais relevantes, em termos aritméticos, as
fontes que alimentam mais a receita do Estado, são: o IVA (normalmente equivale
à receita do IRS e do IRC em conjunto), o IRS (normalmente é o dobro do IRC) e o
IRC. Mas ainda há uma receita que é mais relevante que estas três, que esta no
Orçamento de Estado em sentido lato: as contribuições para a Segurança Social
(mais de 1/3 de toda a massa salarial em Portugal), que têm autonomia do
Orçamento de Estado, pois só servem para pagar as reformas futuras, não estão no
bolo genérico.
è Há necessidades que o Estado satisfaz que não são bens públicos, é possível
excluir do aproveitamento quem não paga, contudo, é preciso entender que a
educação é um direito universal e deve ser prestado de forma gratuita – mas são
escolhas políticas.
è Historicamente, sempre que tiveram que ser repartidas despesas por todos, as
comunidades organizadas politicamente tiveram sempre uma reação óbvia: se se
pede dinheiro a todos, então esses todos terão que ter algo a dizer sobre isso – tem
a ver com as formas de organização representativa que foram surgindo (ex.:
assembleia de anciãos da tribo, cortes, conselho superior de uma ordem religiosa).
è Por várias razões, como a eficiência e a legitimidade, as decisões são tomadas
por órgãos representativos da população.
è Jesus Cristo dizia “a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”. Já na Bíblia
os cobradores de impostos se inseriam no grupo dos pecadores, para mostrar que
Jesus Cristo os salvava e se queria dar com eles, por outro lado, numa parábola,
tentando que Jesus Cristo não pague o imposto, porque era provável que ele não
quisesse pagar ao distinguir as duas coisas. Isto está tão presente na Bíblia porque,
historicamente, naquela altura, havia um poder estrangeiro, o império romano, e
quem cobrava os impostos eram funcionários de um poder estrangeiro, eram vistos
como alguém que estava a recolher dinheiro em nome de uma força estrangeira.
è A ideia de que a cobrança de impostos tem que ser legitimada pela unidade que
os está a pagar, é uma ideia que faz o seu caminho e tem o seu apogeu no
liberalismo na ideia liberal parlamentar: os Parlamentos são a melhor emanação da
interpretação da vontade geral e abstrata do povo. Mesmo que um rei tenha muitos
incentivos para cobrar impostos, ele tem que ter autorização do Parlamento para o
fazer, porque este é que representa o povo (povo significava homens ricos, já se
abria mais em termos de universalidade). É a lei que decide sobre os impostos, essa
mesma lei é perfeita e tem que ser interpretada de forma estrita, para que o rei não
vá para além do estabelecido.

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è Nos últimos 200 anos, esta ideia de positivismo em todas as áreas de direito vai
tendo a sua erosão, embora ainda tenha algumas vantagens.
è Se olharmos para o nosso sistema constitucional de hoje, designadamente, para o
artigo 165º nº1 alínea i) da Constituição, vemos que a opção da Constituição em
relação ao órgão que pode criar impostos é a Assembleia de República, ou seja, há
uma reserva relativa, o que significa que os impostos podem ser criados por Lei ou
Decreto-Lei autorizado, isto também quer dizer que o contrário não se verificou, isto
é, não se trata de uma reserva absoluta nem de matéria concorrente.
o As diferenças de um Código sobre determinado imposto ser aprovado pela
Assembleia da República ou pelo Governo, para perceber porque é que o
legislador tomou esta decisão, seriam: na Assembleia da República há uma
maior discussão, a população está mais representada, há vários partidos,
a oposição e as minorias estão todas representadas e a Assembleia da
República tem legitimidade democrática ou uma representatividade direta;
o Governo tem um só partido, há menos escrutínio e discussão, mas ainda há
alguma legitimidade democrática indireta (responde perante a Assembleia da
República, por força da Assembleia que é levada ao Presidente, legitimidade do
Governo no ato de cada cidadão quando vota).
è Se formos ao artigo 103º da Constituição, é usada a expressão “determina a
incidência do imposto”, a preocupação existente tem a ver com uma ideia de
tipicidade, exclusividade, possibilidade de conceitos indeterminados, mas os
elementos essenciais do imposto devem constar da lei, entre os quais a
incidência subjetiva e objetiva, que são as pessoas sobre as quais recai o
pagamento do imposto e os factos da vida económica que geram o pagamento do
imposto, o momento temporal sobre o qual o imposto diz respeito e a conexão
territorial, todos estes elementos têm que estar determinados na lei. Mas o problema
é que as palavras têm várias interpretações, a margem de indeterminação é
inevitável – a indeterminação natural tem uma vantagem, que é a de conseguir trazer
para a decisão do caso concreto e para a aplicação do Direito, elementos do caso
concreto, elementos de justiça.
è Será que o princípio da legalidade, em relação às taxas, permite ou não a fixação
de uma janela ou intervalo? Por exemplo, no IMI as taxas são fixadas num
intervalo, que depois a Assembleia Municipal concretiza, o Tribunal Constitucional
veio dizer que é admissível, na medida em que o princípio da legalidade não é um
princípio absoluto, logo, tem que ser interpretado com outros princípios e, no caso
do IMI, também há o princípio da autonomia local. O legislador faz o intervalo e
outro órgão com legitimidade democrática concretiza. A regra é a de que tem
que ser determinada à vírgula, mas há exceções em que outros princípios
constitucionais admitem que as taxas sejam determinadas em intervalo.
è Os impostos têm que ser criados, modificados ou alterados por lei, as taxas
também o podem ser, mas não obrigatoriamente, estas não têm ainda um regime
geral, só para as autarquias locais.
o Em termos gerais, as razões que valem para reservar os impostos à Assembleia
da República não fazem sentido quanto às taxas, pois estas envolvem um
serviço do Estado e o Governo, superior da Administração Pública, que tem

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mais conhecimentos técnicos e práticos. Quando se reserva à Assembleia da
República a criação de impostos, faz-se porque esta intervenção protege
melhor os contribuintes de um ato que é unilateral, portanto, é
especialmente agressivo para o património do particular. As taxas têm
sempre uma contrapartida, são bilaterais, paga-se a taxa, mas recebe-se
sempre algo em troca, há um mínimo de proteção intrínseca à taxa. Quanto à
criação concreta das taxas não é preciso a intervenção do Parlamento –
quanto a isso nunca houve discussão, mesmo na ausência de um regime
geral, o Governo pode criar taxas.
è E as contribuições têm que ser apenas criadas por Lei ou podem ser criadas por
um Decreto-Lei?
o Tem-se entendido na doutrina (Sérgio Vasques) que, enquanto não for
aprovado um regime geral das demais contribuições financeiras a favor do
Estado, previsto no artigo 165º nº1 i), estão sujeitas ao princípio da reserva de
lei, tal como os impostos – se está na fronteira, tem que ir ao Parlamento.
o Todavia, um acórdão do Tribunal Constitucional em 2015 decidiu que o facto
de não haver regime geral das contribuições, não pode nem deve impedir que
o Governo crie contribuições. Quando a Assembleia da República aprovar
efetivamente um regime geral, o Governo tem que o acatar e respeitar, mas
enquanto não o fizer pode criar, modificar ou alterar contribuições, porque
a lei só diz que o regime geral é criado pela Assembleia da República, não o
restante. O Tribunal Constitucional interpretou assim, porque percebe que o
Governo tem alguma legitimidade democrática.

Aplicação da Lei Fiscal no Tempo

è Este princípio engloba a segurança jurídica e a retroatividade.


è O artigo 103º nº3 da Constituição vem estipular que ninguém pode ser obrigado a
pagar impostos retroativos, isto é, impostos que atuam sobre factos passados.
o Uma lei fiscal retroativa é, por exemplo, o IRS que vale de Janeiro até
Dezembro, e se a lei fiscal mudar durante o ano, aplica-se na mesma aos
factos já produzidos (designa-se por retroatividade fraca ou imprópria, porque
o facto tributário ainda não se consumou\completou); ainda mais grave é se se
aplicar ao ano anterior (ex.: mais 5% sobre os rendimentos angariados em
2017) – designa-se por retroatividade forte ou própria, o facto tributário já se
consumou.
§ A retroatividade forte é mais grave do que a retroatividade fraca? Não nos
podemos deixar enganar pela classificação, retroatividade é
retroatividade, o que temos que fazer é olhar ao conteúdo, à substância
da medida e do seu agravamento. O artigo 103º da Constituição não
distingue entre retroatividade forte e fraca, temos que olhar ao conteúdo
que a lei tem.

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o Se uma lei surgir hoje, fim de Setembro, a agravar o IVA em mais 2% – os
problemas da retroatividade surgem, via de regra, com impostos de
natureza periódica, se são de prestação única não há problema.
è Esta distinção não é relevante, mas também é verdade que o legislador procurou
resolver este problema na Lei Geral Tributária, artigo 12º nº26.
o Será que se pode invalidar uma lei fiscal com base na LGT, por violação deste
artigo 12º nº2? A solução de quebrar o ano e pagar em segmentos é uma
doutrina na lei que não tem grande alcance.
è Quando surge uma lei fiscal retroativa, significa que a lei é automaticamente
inconstitucional? Já houve agravamentos retroativos de impostos, porque
estávamos em crise, no fundo, é mais um princípio constitucional que, como
todos os outros, não é absoluto, exige-se uma ponderação, para ver se há uma
justificação para essa retroatividade. É preciso questionar se há qualquer outro
interesse ou valor que justifique aquela norma, através de juízos de
proporcionalidade.
è O Tribunal Constitucional tem admitido que a retroatividade forte não pode ser
admitida, nem sopesando com outros princípios.
o Sérgio Vasques e João Taborda Gama admitem a sua existência, sopesando
com outros princípios, é necessária uma avaliação casuística, como qualquer
questão metodológica constitucional. Há uma partida prima facie da proibição
de retroatividade, porque a Constituição o diz expressamente, mas a partir daí
temos que olhar para as normas e olhar para o seu impacto na segurança
jurídica. Deve questionar-se se os contribuintes, sabendo o conteúdo da lei
retroativa, teriam feito algo diferente – a retroatividade deve sempre ser
analisada num ponto de vista material, tendo em vista o impacto que essa
alteração teria na vida das pessoas e das empresas.
è Um desagravamento de impostos feito a meio do ano e aplicável ao ano inteiro
é inconstitucional ou aplicável, sendo que é uma lei retroativa? Não parece lesar
tanto os contribuintes, a lei favorável não lesa a expectativa, o artigo 103º nº3 da
Constituição apenas diz que ninguém pode ser obrigado, ora se é favorável, os
contribuintes, à partida, não se importam de pagar e não se coloca o problema da
resistência, não se aplica a proibição da retroatividade, este artigo dá algum amparo.
o Se o Governo a meio do ano criar uma taxa retroativa, o que acontece? A
proibição da retroatividade resulta de um princípio de segurança jurídica, de
Estado de Direito, logo, uma taxa ou uma contribuição retroativa podem ser tão
lesivas como um imposto retroativo, embora possam surgir, devido a
determinadas circunstâncias que o justifiquem, excecionalmente.
è Lei fiscal retrospetiva: a lei vale para o futuro, mas pode levar expectativas
fundadas no passado. Esta lei também é, à partida, inconstitucional? Viola o
princípio da segurança jurídica e do Estado de Direito, não é um princípio do

6
Pagava-se uma parte com as taxas antigas e outra parte com as taxas novas. Seria
infernal e induziria à fraude, a partir da taxa nova os contribuintes deixariam de auferir
rendimentos em Portugal, não faz sentido segmentar o ano e os rendimentos, é impraticável e
nunca foi aplicado.

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artigo 103º da Constituição, mas um princípio de toda a Constituição. Mesmo
leis que disponham para o futuro, podem ter impacto em factos passados, podendo
lesar a segurança jurídica, são questões materiais de retroatividade.
o Desconto de 10 anos no IMI para os jovens casais que compram uma habitação,
se surgir uma lei hoje a eliminar este benefício fiscal para o ano seguinte – não
há retroatividade, há retrospetividade.
è As leis retroativas são, em regra, proibidas e excecionalmente permitidas, não
são necessariamente inconstitucionais, as leis retrospetivas são, em regra,
permitidas e excecionalmente proibidas, não são necessariamente admissíveis,
há casos de lesão muito grave das expectativas dos contribuintes, são os casos em
que o próprio Estado alimenta certos comportamentos dos contribuintes e a lesão é
especialmente gravosa.
è A proibição da retroatividade diz respeito a uma retroatividade desfavorável. A
retroatividade favorável pode levantar alguns problemas, o problema da
retroatividade em geral, é que, dispondo para o passado, a norma deixa de poder
ser geral e abstrata pelo simples facto de já se saber o que aconteceu. Há
sempre esse risco, a igualdade e a segurança jurídica pode ser posta em causa
quando haja uma lei retroativa, principalmente quando seja favorável, porque só
alguns contribuintes é que podem ser beneficiados.

Princípio da Igualdade Tributária

è O princípio da igualdade está associado à ideia de justiça fiscal.


è As principais perguntas são: Que impostos e sobre quem? Como se financia a
sociedade? Mais as famílias ou as empresas? E quando fazem o quê?
o Na maior parte dos países há uma aproximação.
è Todos pagam o mesmo imposto – a primeira ideia formal de igualdade nega a
própria ideia de igualdade, pois trata de forma igual situações diferentes.
o Há muitas áreas da nossa vida em que as pessoas não pagam mais por terem
mais dinheiro, caso dos supermercados, os preços são os mesmos para toda a
gente. Há áreas como a das multas (que têm a finalidade de prevenir) que não
variam de acordo com os rendimentos das pessoas.
è Para afastar esta ideia formal é preciso um critério, e esse critério é o da força
económica para pagar, ou seja, critério da capacidade contributiva: as pessoas
devem contribuir para o esforço tributário na medida da sua força económica, o
esforço das pessoas tem que ter um impacto diferenciador na sua contribuição para
os encargos gerais. Cada pessoa paga uma taxa proporcional ao seu rendimento.
è Os impostos sobre o rendimento foram mais longe, criaram um sistema mais justo
e diferente, não é um sistema de taxas proporcionais, mas sim taxas diferenciadas
de acordo com o rendimento do agregado (artigo 68º e 69º do Código do IRS), o
rendimento cresce à medida que o escalão cresce, por isso é preciso diferenciar os
escalões, para que faça sentido.

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è O nosso sistema fiscal, na maioria, não é progressivo, desde logo, porque
assenta em dois grandes impostos que não são progressivos: as contribuições
para a Segurança Social, que são fixas, e o IVA, que também não é progressivo – é
a grande receita do Orçamento de Estado. Esta discussão tem que ser vista na sua
importância, que é relativa, porque a maior parte dos ingressos tributários, em
sentido lato, que entram no Orçamento de Estado, têm impostos que são
proporcionais (as contribuições para a Segurança Social e o IVA, além do IRC, que
é uma fatia pequena e cujo escalão de intervalo é irrelevante). O grande imposto
progressivo é o IRS, mas se juntarmos o IVA e as contribuições da Segurança
Social, o IRS é muito menos, percentualmente. Há quem diga que a progressividade
do IVA se encontra no facto de no IVA haver três taxas: a normal, a reduzida e a
intermédia, e incidindo as duas últimas sobre bens de primeira necessidade, as
pessoas mais pobres que consomem mais desses bens, acabariam por, no seu
cabaz de compras geral de fim do ano, estarem sujeitas a taxas mais baixas.
o João Taborda da Gama: é uma visão ultrapassada, porque o cabaz de compra
das pessoas mais pobres e mais ricas tem vindo a aproximar-se.
è A diferença de igualdade tem que se fundar ou justificar num critério material7.
o Artigo 72º nº3 do Código do IRS (tem várias taxas de IRS, começam em
14,5% e acabem em 48%): as gorjetas auferidas em razão do contrato trabalho
são tributadas em 10%. Houve uma classe profissional, os funcionários dos
casinos normais, que se queixou muito dessa norma, porque só se lhes aplicava
a eles e não aos outros, como o caso dos empregados de restaurantes e de
hotelaria em que não são declaradas no IRS, não são tributadas. Todavia, as
gratificações dos funcionários dos casinos são altamente controladas, o objetivo
da norma é que as pessoas declarem as gorjetas, mas os empregados dos
casinos reclamaram, porque só eles é que declaravam e as outras classes não.
O tribunal não lhes deu razão, porque não se pode falar de igualdade pelo facto
de os trabalhadores dos casinos estarem sujeitos a um processo de fiscalização
mais apertado, não há igualdade na ilegalidade, o facto de a situação fáctica ser
diferente não faz da norma inconstitucional.
è O princípio da igualdade afasta impostos que neguem a capacidade contributiva,
cobrá-los só porque as pessoas existem, ou seja, o primeiro passo para tributar é
fazê-lo a quem tem capacidade contributiva.
o Há um mínimo de existência condigna para a sobrevivência das pessoas
que lhes deve ser garantido, os impostos só entram acima disso, os impostos
sobre o rendimento, até um conjunto de rendimentos anuais, o Estado não pode
ir lá mexer (artigo 70º do Código do IRS).
o Há algum limite a partir do qual não se paga impostos um máximo confiscatório,
em que já não é imposto, é confisco.
§ João Taborda da Gama não acha que esta ideia decorre do princípio da
capacidade contributiva, mas é óbvio que se o imposto consumir toda a
riqueza não diferencia na medida da capacidade contributiva porque a
exaura e passa-se para o mínimo de existência.

7
Ver acórdão do Tribunal Constitucional nº497/97.

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§ Há ideias mais à esquerda que dizem a função do imposto é mesmo essa,
a partir de um certo rendimento, fica tudo para o Estado, para haver uma
maior distribuição. A Constituição, no texto originário, dizia que o imposto
visava atenuar as desigualdades e limitar o rendimento a um máximo
fixado por lei, ou seja, a partir de determinado montante por mês, era
100%. O imposto é um nivelador social por cima.
è O imposto de máximo admissível é difícil de encontrar, porque o imposto é bilateral
e visa angariar receita pública, no sentido de satisfação de necessidades coletivas.
O imposto é confiscatório ou não tendo em conta o que se recebe do Estado, se é
ou não utilizado para as necessidades coletivas. Há autores que dizem que não
pode ser mais de metade do rendimento (teoria da metade). Mas a metade pode
ser pouco ou muito, depende da situação em concreto.
è O princípio da capacidade contributiva impõe estas questões do mínimo de
existência (há um acordo global) e máximo confiscatório (não há tanto acordo).
Estas questões têm sempre que ser complementadas com o outro lado da balança,
a atividade do Estado.
è Outra questão que merece trazer à discussão são as taxas do imposto8:
o Há quem diga (Saldanha Sanches) que o princípio da capacidade contributiva
dos impostos sobre o rendimento, implica taxas de imposto progressivas, que
são aquelas cuja própria percentagem sobe à medida que sobe o rendimento.
o Sérgio Vasques: exige apenas taxas proporcionais, a ideia de progressividade
decorre de uma ideia de Estado Social e não decorre, necessariamente, da ideia
de capacidade contributiva.
o João Taborda da Gama: a progressividade do imposto não se vê apenas nos
escalões das taxas, porque pode haver uma taxa proporcional de 20%, mas
uma isenção de rendimentos até 20.000€. O facto de a taxa ser proporcional,
de haver uma grande isenção, faz com que a curva seja progressiva. Não basta
olhar para os escalões, é preciso ver as isenções, a progressividade de impacto
não se vê apenas nas taxas.
è A capacidade contributiva implicava que se olhasse para todos os rendimentos e
despesas em especial. O princípio da capacidade contributiva obriga a regras de
simplificação, porque os impostos hoje são massificados, estas regras de
simplificação (presunções, regimes simplificados, as noções estandardizadas) são
exemplos que não comprometem a capacidade contributiva, porque nenhum
sistema é perfeito, puro.
è Os rendimentos têm que ser tributados, todos eles. Ao tirar rendimentos viola-se a
capacidade contributiva, os rendimentos ilícitos têm que ser tributados, porque,
se não, o facto de serem ilícitos, faria com que essas pessoas fossem menos
tributadas, porque o facto de ser ilícito, não lhe tira força económica.

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Dentro do princípio em si, o que é mais comum é a tributação progressiva, ou seja, a taxa
aumenta à medida que aumenta a base de incidência, há quem diga que isso decorre da
capacidade contributiva, o professor SÉRGIO VASQUES diz que não, que o princípio da
capacidade contributiva convive bem com o imposto proporcional.

Rebeca Louro - 2018 12


è Esta ideia de capacidade contributiva para os impostos de rendimento e sobre o
consumo, tem uma concretização diferente nas contribuições. As contribuições e
as taxas não estão sujeitas ao princípio da capacidade contributiva, estão
sujeitas a um princípio da equivalência, isto é, as pessoas devem pagar tendo
em conta especiais custos que provocam os especiais benefícios que ganham.
Nas taxas averigua-se tendo em conta o custo que provoca aquele serviço público,
podem entrar outras considerações socias, mas esta é a base. As contribuições,
como estão a meio caminho dos impostos e das taxas, tem-se mais dificuldades,
mas o que se diz é que a repartição dos custos nas contribuições está relacionada
com o especial benefício ou malefício que um grupo de pessoas provoca na
sociedade. Nem as contribuições, nem as taxas devem variar tendo em conta o lucro
das empresas e os rendimentos das pessoas.
è A progressividade, embora se veja mais graficamente nas taxas, resulta do imposto
como um todo. Alguns economistas dizem que isso não é suficiente, o sistema é
mais ou menos progressivo se for ou não distributivo. Por exemplo, Portugal não
discrimina o acesso à saúde tendo em conta a riqueza, há países que discriminam,
que foram para a progressividade nesses termos.
è Nas taxas e contribuições há mais sinalagmaticidade, o que significa que há
tributação especial para certas pessoas. O princípio da igualdade para tributar
mais uns que outros, implica um critério distintivo, que não é a diferente força
económica dos contribuintes, mas sim certas características especiais e, por isso, é
preciso ter um critério que permita atribuir a essas características especiais mais
imposto.

Extrafiscalidade

è Não tributa por razões positivas ou negativas toda a gente da mesma maneira, foge
a esta ideia de igualdade, é o campo da extrafiscalidade.
è Entra em confronto com o princípio da igualdade, há diferentes impostos que
têm que ser justificados e não podem ser arbitrários, tem que haver um critério para
a diferença, embora não haja um argumento à prova de bala.
è A extrafiscalidade é o domínio que, por razões socioeconómicas, o legislador
decide incentivar ou desincentivar uma determinada atividade, usando, para
isso, o sistema fiscal.
è O Direito Fiscal é utilizado com instrumento de uma política económico-social
(ex.: quem olhar para o telemóvel durante a aula vai para a prisão; quem conseguir
não olhar para o telemóvel durante a aula ganha 10€). O Direito Fiscal não é um fim
em si mesmo, é um instrumento de outra coisa que, politicamente, se quer
atingir, os benefícios fiscais são uma consequência de uma opção que não é
fiscal. Como o Direito Fiscal tem uma expressão económica muito visível, é uma
arma fácil de usar.

Rebeca Louro - 2018 13


o Extrafiscalidade positiva: (beneficiar) artigo 2º explica o que são benefícios
fiscais, estes estão sujeitos ao princípio da legalidade (artigo 103º da
Constituição), sobretudo por serem uma derrogação da igualdade. Os
benefícios fiscais têm caráter excecional, porque se derrogam o princípio da
igualdade, têm que ter caráter excecional, e, em regra, devem ser temporários,
pois têm uma função de incentivo e não de arrecadar receita, pretendem induzir
um comportamento, o benefício deve terminar quando induzir um resultado ou,
quando não o cumpre, deve ser revogado. Há benefícios automáticos, que
decorrem da lei, e benefícios por reconhecimento. Os benefícios são
saliências negativas extra sistemáticas, estão normalmente no IRS, há poucos
em lei avulsa.
§ Os benefícios fiscais são capturados pela política e o seu discurso e se
não forem acautelados desagrava-se a carga fiscal de alguém para nada,
pondo em causa o princípio da igualdade.
§ Aplica-se o Estatuto dos Benefícios Fiscais.
o Extrafiscalidade negativa: (desincentivo) externalidade negativa,
comportamentos ou atos que provocam um benefício desmesurado em
certa pessoa, empresa ou setor, com malefício nas outras e, portanto, o
sistema fiscal é utilizado para equalizar e redistribuir isso. Criam-se
impostos até que constituam um desincentivo a uma determinada prática,
porque as pessoas têm uma sensibilidade da elasticidade na procura de
determinado bem, que a partir de um determinado momento, não lhes
compensa comprar. Conduz à redução do exercício de determinada prática.
§ Qualquer medida extrafiscal, positiva ou negativa, é uma entorse à
igualdade tributária. A extrafiscalidade também pode passar por medidas
que não sejam desagravamentos, também pode ser de penalização e não
de benefício, aí também tem que se proceder a um juízo de
proporcionalidade e constitucionalidade.
è O legislador não pode invocar razões extrafiscais para estabelecer diferenciações
entre os contribuintes, tem que haver proporcionalidade, se não, a igualdade
tributária é completamente esvaziada.
è O Governo pode ou não querendo introduzir um benefício fiscal, que é de 0% de
IRC, para o setor da agricultura durante os próximos 20 anos, fundamental para
relançar a cultura mercantil em Portugal e aproveitar as infraestruturas do Alqueva.
Pode fazer isto?
o O Governo pode aprovar benefícios fiscais? Cabem os benefícios dentro do
artigo 165º nº1 i) da Constituição? À partida não podem criar, não por causa
do referido artigo, mas extrai-se do artigo 103º nº2 da Constituição, elementos
essenciais dos impostos. Via de regra, os benefícios fiscais são criados nas leis
de Orçamento de Estado, embora não tenha que ser, necessariamente, assim.
o Sempre que nos deparamos com um benefício fiscal, temos que fazer um teste
de proporcionalidade. De facto, pode violar o princípio da igualdade ou da
proporcionalidade, é preciso ver se o benefício fiscal é necessário, adequado e
proporcional para promover a agricultura: a criação de benefícios e

Rebeca Louro - 2018 14


penalizações fiscais não é uma questão meramente política, podemos contestar
e controlar por via de princípios jurídicos.
o Olhando para o benefício, é preciso ver se vai longe demais ou não. Os
benefícios fiscais envolvem um juízo de redistribuição de riqueza sempre.
è Artigo 58º do Estatuto dos Benefícios Fiscais – propriedade intelectual:
o Contra o artigo: Inversão do critério? Em vez de beneficiar os que mais
contribuem para a cultura portuguesa, beneficia quem não o faz. Não inclui
todos os artistas: arquitetos, publicidade, pintores – mas sempre que há um
benefício fiscal há um incentivo ao abuso. Princípio da igualdade é violado
porque não inclui os arquitetos, por exemplo, a desigualdade tem que ser
sempre proporcional.
o A favor do artigo: há sempre um financiamento da arte, porque é um bem de
mérito9, não interessa se é bom ou mau. Se a arte é boa, tem que ser financiada
obrigatoriamente. Para fazer uma escolha dos bens de mérito, tem que se fazer
uma escolha da definição do âmbito subjetivo e isso pode violar critérios de
igualdade, o que não é o caso. O Tribunal Constitucional já se pronunciou
acerca desta norma, diz que é um incentivo à cultura, já validou quando não
tinha limite e agora tem limite.

Relação Jurídica Tributária

è A doutrina da relação jurídica é uma doutrina que levou à emancipação do Direito


Fiscal enquanto área de conhecimento. No fundo, o Direito Fiscal desagregou-se e
autonomizou-se da ciência e das finanças públicas, na primeira metade do século
XX, precisamente porque sustentava que estava centrada na relação jurídica
tributária, diferente das finanças públicas, que está mais ligada aos princípios.
è Esta técnica da relação jurídica tributária foi vertida na legislação fiscal, primeiro na
Alemanha e, só depois, em Portugal. Vemos que o legislador, quando estrutura os
impostos, se socorre da sequência já conhecida: sujeito, facto, objeto e garantia.
è Começando pelos sujeitos da relação jurídica tributária:
o Os sujeitos ativos, previsto na LGT no artigo 18º, são aqueles que podem
exigir um tributo público. Hoje em dia, os impostos podem ser exigidos por
entidades muito diferentes, do lado do Estado pode haver sujeitos ativos com
contornos muito diversos (ex.: administração central, local, regional, institutos
públicos, fundos públicos, empresas com capitais públicos, pode haver
esquemas de intermediação da cobrança muito variados). Isto exige duas
prevenções:
§ O direito de exigir o tributo público, enquanto sujeito ativo da relação
tributária, não se confunde com o poder de criar um imposto, este está

9
Os bens de mérito são aqueles para os quais o mercado não se organiza para produzir,
porque não têm procura suficiente, é tipicamente a arte e a cultura.

Rebeca Louro - 2018 15


disciplinado pela Constituição e é a Assembleia da República que tem
esse poder.
§ Também não se confunde com a titularidade da receita. Há muitos
casos em que uma entidade figura como sujeito ativo de uma relação,
exige o pagamento do imposto ao sujeito passivo, mas a receita da
titularidade é de uma terceira entidade, há muitas regras de
consignação de receitas tributárias, v.g. imposto do tabaco consignado
ao Ministério da Saúde, imposto sobre os audiovisuais, consignado à RTP
SGPS. O facto de ser um beneficiário de um benefício fiscal, não significa
que se tenha o direito de o exigir diretamente aos contribuintes.
o O sujeito passivo é a pessoa que está obrigada a pagar o imposto, estes
sujeitos têm também contornos variados, desde pessoas singulares, coletivas,
entidades que não são personificadas nos termos da Lei Civil, mas que
personificamos para efeitos da Lei Fiscal, desde que consigamos ver uma
manifestação de riqueza e de capacidade contributiva, a lei pode imputar a
obrigação tributária àquela entidade. Há técnicas de intermediação
complexas no pagamento, a LGT refere-se não só aos contribuintes diretos,
refere-se também a outras categorias de sujeitos passivos, os substitutos e os
responsáveis.
§ Há substituição quando a lei fiscal chama a pagar um imposto alguém
que não o contribuinte direto.
• A forma mais comum de substituição tributária, preceituada no artigo
20º da LGT, é a substituição por retenção na fonte, isto é, vai-se
descontando todos os meses ao longo do ano, antecipam-se parcelas
do IRS, o que justifica esta solução é a segurança e previsibilidade,
para o Estado, na arrecadação de impostos, a conveniência para o
contribuinte e um efeito de anestesia muito importante, porque muitas
vezes em vez de pagar o IRS no fim do ano, recebe um reembolso
por ter pago tanto. Esta surgiu historicamente, a seguir à Segunda
Guerra Mundial, quando a cobrança de impostos globais sobre o
rendimento se multiplicou.
• O artigo 28º da LGT vem dizer que no caso de o mecanismo da
substituição com retenção na fonte funcionar mal, o responsável é:
o Segundo o nº1, quem retém na fonte e não entrega, à uma
entrega em falta, então quem retém é quem paga o imposto,
pode também haver uma responsabilidade num plano diferente
(entrega em falta).
o O nº2 vem falar dos casos em que há uma retenção em falta,
quando a substituição tributária tiver natureza de pagamento
por conta imposto devido a final, o substituído é chamado a
pagar originariamente e o substituto responsável
subsidiariamente. No caso dos trabalhadores por conta de
outrem, a empresa (substituto) faz uma retenção todos os meses
que, no fundo, é uma antecipação do imposto que o trabalhador

Rebeca Louro - 2018 16


vai pagar no final do ano (retenção por conta do imposto devido
a final).
o O nº3 também fala da retenção em falta, mas sem caráter de
antecipação, é uma retenção de caráter definitivo ou
liberatório, é o substituto que é chamado a pagar em primeira
linha. O caso dos juros pagos pelo banco, quando temos uma
conta e recebemos juros pagos pelo banco, não estamos
obrigados a declarar este rendimento no final do ano, a esse
rendimento, o banco aplica uma taxa de retenção na fonte
quando paga o juro e esta tem um caráter definitivo, fica lá a
título definitivo, não tem que declarar no final do ano – se paga
juros e não retém, é o banco chamado a pagar (retenção
definitiva ou liberatória).
§ Se olharmos aos princípios apenas, como o da capacidade
contributiva, se falha a retenção na fonte, quem devia ser
chamado a pagar seria o substituído, que fica com maior
disponibilidade económica. O que explica esta diferença de
tratamento é que estas retenções se aplicam,
fundamentalmente, a não residentes e a rendimentos de
capitais, por razões de ordem pública e que se prendem
com sigilo bancário, o Estado prefere exigir dos bancos,
da entidade pagadora, antes de exigir ao sujeito passivo ou
ao substituído.
• No artigo 20º da LGT fala-se em substituição com retenção, a LGT
só fala nesta hipótese, mas há outros casos em que há substituição
tributária sem retenção na fonte, mas estas não estão disciplinadas
na LGT – caso do contributo para os audiovisuais na conta da luz,
cujo sujeito passivo são os contribuintes, no entanto, não somos nós
que pagamos diretamente ao Estado ou à RTP SGPS, é a empresa,
embora não haja retenção na fonte, somos nós que pagamos à
empresa e esta paga ao Estado. Na substituição sem retenção não
há uma obrigação de reter, há uma obrigação de cobrar, que tem o
inconveniente de, quando surgem falhas, não sabemos bem que
regras é que havemos de aplicar. Tem-se entendido que se a
empresa tiver o seu trabalho de cobrança, de boa fé e de forma
diligente, não pode ser responsabilizada. Por força desta lacuna é
que alguns diplomas fixam especificamente regras de
responsabilidade.
§ Há repercussão quando o sujeito passivo é a empresa e não o
comprador, esses são meros repercutidos, estão fora da relação jurídica
tributária, mas ainda há uma relação triangular (ex.: numa livraria o sujeito
passivo do IVA é o vendedor, o ativo é o Estado e o comprador é um
repercutido). Não tem regras próprias na LGT, o que pode gerar
problemas bastante delicados.

Rebeca Louro - 2018 17


• Surge uma notícia amanhã a dizer que os Hipermercados Continente,
durante anos a fio, aplicaram uma taxa normal de IVA, de 23%, aos
pacotes de leite (devia ser 6%), consumidores penalizados em
5.000.000€. A questão é: quem tem direito a pedir reembolso
liquidado em excesso? Estar a atribuir um direito de reembolso ao
sujeito passivo (hipermercados) é estar a admitir um enriquecimento
sem causa, pois não vão dar aos contribuintes individualmente. O
Código do IVA tem regras para lidar com isto e, nesta situação, vem
dizer que só pode exigir o reembolso do imposto fizer prova de que
entrega esse valor ao repercutido ou, pelo menos, de que dá a
conhecer ao repercutido que está a ser reembolsado nesse valor –
estas regras valem para o IVA, mas não para outros impostos
indiretos.
o Sempre que se cobra impostos através de um intermediário, seja de
substituição ou repercussão, pode haver situações patológicas muito ingratas.
Um outro aspeto é este: se o Estado se serve das empresas para arrecadar
impostos, as empresas não são remuneradas por esse trabalho? Há várias
formas de mecanismos para remunerar as empresas pelo trabalho que têm, em
hipóteses mais simples, pode-se pagar uma espécie de comissão de cobrança
(acontece com a contribuição para os audiovisuais e em muitos casos de
substituição sem retenção na fonte, pois a empresa é um claro cobrador por
conta do Estado); a segunda forma de remunerar as empresas é deixá-las ficar
em caixa com esses valores durante um determinado período de tempo.
o A LGT também regula situações de responsabilidade tributária, alguém é
chamado a pagar o imposto, em vez do contribuinte direto, no seu lugar, chama-
se o responsável a pagar porque o contribuinte direto não o pôde fazer. Estes
casos pressupõem, naturalmente uma relação direta do responsável tributário
com o incumprimento do contribuinte direto, v.g. a responsabilidade dos
gestores das empresas pelas dívidas da própria empresa, se as empresas não
cumprem as obrigações e determinados pressupostos fiscais os gestores
podem ser chamados a responder por essas dívidas, isto justifica-se, porque e
na condição de, o gestor ter contribuído para a insuficiência do património da
empresa e para a negligência das suas obrigações fiscais, nos casos em que
corre mal, em que, à partida, já há uma infração.
è Objeto da relação jurídica tributária, artigo 30º da LGT, é um objeto muito
complexo, podemos distinguir dois tipos de obrigações:
o Obrigação principal corporizada pelo pagamento do imposto, essa
obrigação é uma obrigação pecuniária e ex legis, forma-se pelo mero
preenchimento de pressupostos previstos na própria lei.
o Obrigações acessórias, que podem ser muito variadas e estão elencadas em
dezenas de artigos:
§ De registo.
§ De declaração.
§ Contabilísticas.
§ De comunicação.

Rebeca Louro - 2018 18


§ De emitir fatura.
§ De guardar documentos.
§ Etecetera.
• Algumas impendem sobre o sujeito passivo (a pessoa que está a
pagar o imposto, o contribuinte direto), outras sobre terceiros.
è O facto gerador da relação jurídica de imposto pode ter contornos muito variados
(nos impostos sobre o rendimento é a angariação do rendimento de Janeiro a
Dezembro; nos impostos sobre o consumo é a realização de transações com caráter
pontual). O facto gerador, seja de impostos, seja de contribuições, está tipificado na
lei e importa lembrar que, apesar disso, há alguns passos para a negociação da
dívida tributária entre o Estado (contratos em que o anfitrião de determinado
investimento é o Estado e há margem de negociação de um lado e de outro) e os
contribuintes.
è A relação tributária extingue-se tipicamente através do pagamento dos
impostos, nuns casos de uma só vez, noutros através de prestações. A obrigação
principal também se pode extinguir com o decurso do tempo, distingue-se a
caducidade (direito ou poder de a Administração Tributária liquidar os impostos) e a
prescrição (dirige-se à própria obrigação tributária que desaparece com o decurso
do tempo).
è A relação jurídica tributária vai buscar muito ao direito obrigacional, no plano
substantivo, e, no plano adjetivo, ao direito administrativo. É uma disciplina de
cruzamento.

Rebeca Louro - 2018 19


Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Singulares (IRS)

Cálculo do IRS

è Devemos começar pelo artigo 13º dos sujeitos passivos, quando começamos a
resolver hipóteses sobre o IRS. Ter atenção também aos artigos 15º e 16º, para
saber se o sujeito é residente ou não no território português, ou seja, se vive
mais de 183 dias seguidos num período de 12 meses móvel. Também em muitos
casos não existem apenas dois sujeitos passivos (cônjuges são tributados
individualmente, como regra – mas nas hipóteses calculamos o IRS como tributação
conjunta), temos que ter em conta os dependentes que existirem no agregado
familiar. Quem é dependente para efeitos do IRS olhando para o artigo 13º? No
essencial, os dependentes são os filhos e mesmo assim com algumas condições,
os ascendentes não são dependentes, mas podem ser relevantes para efeitos do
IRS, fiscalmente – artigo 13º nº5.
è Só depois vamos ao artigo 1º, à incidência objetiva, quais os rendimentos sujeitos
ao IRS. Originariamente, havia mais categorias de rendimentos, mas foram
condensadas noutras categorias. Todas as categorias são calculadas no IRS,
sejam pagas em dinheiro ou em espécie, artigo 1º nº2:
o Categoria A, rendimentos do trabalho dependente, a matriz desta categoria é
formada por situações em que um rendimento resulta do contrato de trabalho,
situações de trabalho assalariado, não é só a remuneração base, mas também
todas as regalias (remunerações acessórias), v.g. oferta de viagens – artigo 2º,
o legislador integrou outras situações semelhantes ao contrato de trabalho e
são tratadas como tal. O legislador pretende fixar limites abaixo dos quais certas
remunerações complementares não são tributáveis.
o Categoria B, rendimentos profissionais (rendimentos das profissões liberais,
mas hoje em dia há mais que isso) e empresariais, cabe aqui a prestação de
serviços, comércio, agricultura, entre outras, trabalhos económicos
independentes, tributam-se atividades continuadas, mas também atos isolados,
toda a compra para revenda de qualquer tipo de bens – artigo 3º e 4º, o
legislador distingue várias subcategorias, há regras especiais para o tratamento
e para o cálculo do valor tributável (esta categoria resulta da fusão de várias
categorias do CIRS na sua versão originária).
o Categoria E, o nº1 fixa uma definição geral de rendimentos de capital, o nº2
desenvolve esta definição, é importante saber o que são juros, alínea b), e
lucros pagos por entidades e sujeitas a IRC (sociedades), alínea h) – artigo 5º.
o Categoria F, rendas e outras realidades próximas que se prendem com a
exploração do imóvel – artigo 8º.

Rebeca Louro - 2018 20


o Categoria G, incrementos patrimoniais incluem mais-valias (aufere-se uma
mais valia quando se está perante um ganho fortuito, mas tem que haver uma
aquisição e uma realização, nem todas as mais valias são tributáveis só as do
artigo 10º, princípio da tipicidade, as que resultem de imóveis e de partes
sociais ¹ rendimento comercial quando há intenção de vender, categoria B, é
uma fronteira ténue) e ganhos injustificados (parece uma categoria residual, da
forma como está redigido o artigo, mas não é assim, o que se tributa são os
ganhos não justificados fixados nos termos dos artigos 87º e seguintes da
LGT, é a aplicação de métodos indiretos, os casos em que o contribuinte, por
exemplo, declara o salário mínimo e, depois, as finanças vêm a sair que tem
uma grande casa e um grande relógio, então, as finanças vêm tributar por
ganhos indiretos, a menos que comprove a origem daquele património ou é
tributado por métodos indiretos, a LGT, em certos casos e em quanto a certas
manifestações de fortuna, estabelece um rendimento presumido, que pode ser
ilidido) – artigo 9º.
o Categoria H, são as pensões, tipicamente as de reforma, são rendimentos
continuados, regulados, de idêntico valor, são tratados de uma forma muito
próxima da categoria A, que são rendimentos de trabalho dependente e as
pensões de reforma são rendimentos que se aufere mais tarde em virtude de
trabalho prestado no passado – artigo 11º.
è No artigo 12º10 há normas de exclusão da incidência, este serve para esclarecer
alguns casos que ao longo do tempo se demonstram duvidosos para as autoridades
tributárias e para os contribuintes, o que está nele, não é tributável, mas o facto de
um rendimento não estar no artigo 12º, não significa que seja tributável, pois impõe-
se sempre que haja uma norma de incidência, princípio da tipicidade tributária da lei
fiscal.
è O cálculo do IRS é feito, em primeiro lugar:
o Quantos sujeitos passivos e dependentes existem – artigo 13º CIRS.
o Remata-se a incidência objetiva, vendo que categorias tributáveis existem –
artigo 1º CIRS.
o De seguida, é preciso fazer a aferição dos rendimentos brutos das diferentes
categorias, embora o IRS não tribute rendimentos brutos, porque o princípio da
capacidade contributiva implica que se tributem rendimentos líquidos11.
o Depois subtrai-se as deduções objetivas ou específicas, são gastos que se faz
e são necessários para a própria angariação do rendimento, para obter o
rendimento líquido de cada categoria:

10
As liberalidades não são tributadas em sede de IRS, tem que haver uma norma de
incidência, mas ainda assim, aplica-se o imposto de selo à liberalidade, não havendo não
são tributadas – artigo 12º nº6 do CIRS, mesmo que houvesse uma causa de exclusão de
incidência do selo, porque também não se quer tributar, não irá haver IRS sobre liberalidades,
se não houvesse este nº6, uma transmissão gratuita não poderia ainda ser tributada no
IRS, porque não há norma de incidência.
11
Para auferir o rendimento líquido, é preciso subtrair-lhe certos valores:
Deduções subjetivas: despesas necessárias à sobrevivência do contribuinte.
Deduções objetivas: despesas com a angariação do rendimento.

Rebeca Louro - 2018 21


§ Artigo 25º, categoria A: deduz-se do rendimento bruto da categoria A
4104€, que não dependem de um ganho efetivo, mas estas deduções
resultam do princípio da capacidade contributiva? Se os rendimentos
brutos forem de 3.000€ deduz-se até à concorrência, ficando com 0, logo,
não paga IRS, não há valores negativos, porque enão há direito a
reembolso no fim. Mas mesmo que ganhe 10.000€, deduz 4104€, mesmo
que ganhe 100.000€, também reduz 4104€, mas que gastos é que um
trabalhador dependente faz para a angariação do rendimento?
Deslocações, refeições, vestuário, etecetera. Por via de regra, essas
despesas são suportadas pela entidade patronal, portanto, a explicação
para os 4104€ é outra: a categoria A é uma categoria que está numa
posição de maior fragilidade social, o trabalhador dependente está numa
posição mais frágil e, sobretudo, tem menos hipótese de evasão fiscal,
para nivelar o tratamento das categorias, concedeu-se uma dedução fixa
(hoje em dia não faz sentido, porque os trabalhadores com recibos verdes
estão numa situação mais precária que os trabalhadores assalariados),
por questões de redistribuição, de justiça social – o CIRS foi feito nos anos
80.
§ Artigo 28º, categoria B: quando existem rendimentos empresariais e
profissionais há dois regimes, o regime simplificado e o regime de
contabilidade organizada (aos pequenos contribuintes, que são os que
têm rendimentos até 200.000€, aplica-se o regime simplificado, aos que
superam este rendimento é aplicado o regime da contabilidade
organizada, embora quem tenha um rendimento inferior possa optar por
este regime).
• Regime simplificado: no artigo 31º há vários coeficientes que
variam consoante a atividade, porque a categoria é muito grande, vê-
se qual o coeficiente que se aplica àquele rendimento bruto e o
resultado é o rendimento líquido. Não se olha aos gastos reais do
contribuinte, facilita-se a vida ao contribuinte e à Administração,
presumindo-se os gastos. Pode ser vantajoso ou prejudicial,
consoante o coeficiente que se lhe aplica.
o Por exemplo, se for um advogado e está neste regime: alínea b)
remete para o artigo 151º que se refere a uma tabela, é preciso
ver se a atividade está na tabela prevista (Anexo I, nº6), cálculo
da dedução específica simplificada, para um advogado o
coeficiente simplificado é de 0,75, se tiver um rendimento bruto
de 100.000€ fica-se com um rendimento líquido de 75.000€, faz-
se uma dedução de 25%.
• Regime de contabilidade organizada: artigo 32º, apura-se o lucro
tributável olhando para o Código do IRC, depois volta-se ao IRS para
o sujeitar às taxas do IRS, mas neste regime, à partida, pode-se
deduzir todos os gastos que se tem com a atividade, não é preciso
deduzir apenas 25% dos gastos, à partida, porque há limitações –
dirige-se a contribuintes de maior dimensão.

Rebeca Louro - 2018 22


§ Categoria E: via de regra não há gastos para a obtenção do rendimento
de capital (os dois principais rendimentos são os lucros e os juros), são
rendimentos passivos, não resultam de uma atividade do contribuinte, por
isso, não há deduções específicas para a categoria E.
§ Artigo 41º, categoria F: a lei é generosa nas deduções específicas que
o contribuinte pode fazer, até pode deduzir alguns impostos que incidem
sobre o imóvel, em certos aspetos esta não é muito diferente da categoria
B.
§ Artigo 42º, categoria G: só quanto às mais-valias é que há dedução
específica, estão no artigo 43º, o que fica de fora são os ganhos
injustificados, cujo rendimento é fixado pela Administração, perante uma
situação de incumprimento do contribuinte, não faria sentido vir fazer uma
dedução específica. Nas mais valias, muitas vezes, o valor de aquisição,
por vezes, tem que ser corrigido pelo valor de inflação, as deduções
específicas não se fazem por subtração, soma-se ao valor de aquisição,
o resultado é diminuir o valor da mais valia, mas aritmeticamente soma-
se me vez de se subtrair.
§ Artigo 53º, categoria H: a dedução do nº1 isenta o IRS às pensões com
um rendimento igual ou inferior a 4104€, às pensões com rendimento
superior deduz-se esse mesmo valor de 4104€, porque não há, à partida,
gastos efetivos e reais, logo, não dependem deles.
o O IRS é um imposto único e progressivo, segundo o artigo 104º nº1 da
Constituição, embora se parta de categorias, tratando de forma diferente os
rendimentos, para chegar ao rendimento líquido, posteriormente, faz-se um
englobamento, segundo o artigo 22º do CIRS, somam-se os rendimentos
líquidos de todas as categorias. O artigo 22º nº3 b) do CIRS estatui os
rendimentos que não são englobados, nomeadamente, os que são auferidos
por residentes em território português segundo os artigos:
§ 71º, taxas liberatórias, taxas aplicadas por retenção na fonte com caráter
definitivo. Tipicamente, o dinheiro está depositado no Banco e pagamos
juros, com base neste artigo, a taxa liberatória é de 28%, não são
progressivas, aplicada essa taxa está concluída. Estas taxas aplicam-se
a dois grupos de rendimentos: aos de capitais e aos auferidos pelos não
residentes.
• O contribuinte pode optar por englobar no rendimento, segundo o nº6,
a entidade\fonte que paga o rendimento, está sempre obrigada a
aplicar a taxa de 28%, se não fizer, está a praticar uma infração
tributária. Mas porque é que o contribuinte há de optar por englobar
se tem uma taxa de 28%? Compensa se souber que por aplicação
das taxas gerais de IRS se vai buscar uma taxa de imposto mais
favorável, abaixo de 28%, as taxas de IRS estão no artigo 68º do
CIRS (a base das taxas é de 14,5%), o Banco aplica sempre e depois,
se o contribuinte opta por englobar no final do ano, tem que devolver
a diferença (28%), são devolvidos com uma dedução à coleta.

Rebeca Louro - 2018 23


§ 72º, taxas especiais, não são progressivas, têm uma percentagem
específica e fixa, mas não se aplica por retenção na fonte, é o contribuinte
que declara, no final do ano, os rendimentos previstos neste artigo num
anexo à parte, e vai buscar uma taxa especial deste artigo, é a vantagem
de ir buscar uma taxa mais favorável.
o O CIRS não se aplica tal e qual como diz o artigo 104º da Constituição, porque
há rendimentos tributados à parte, logo não é único, e há taxas não
progressivas, logo, não é sempre progressivo.
o O rendimento líquido global não é ainda o que se vai tributar, pois o artigo 56º-
A do CIRS prevê que se façam abatimentos, mas, na maior parte dos casos,
é exatamente o mesmo do rendimento global, porque os abatimentos se
aplicam, hoje em dia, aos sujeitos passivos com deficiências.
o Aplicam-se as taxas de imposto, do artigo 68º nº2, ao rendimento coletável,
mas como se aplicam as taxas gerais do IRS12? Divide-se em duas partes, que
não é o mesmo que dividir em dois (põe-se os escalões dentro do rendimento
e não o rendimento dentro dos escalões):
§ O maior dos escalões que couber dentro do rendimento, ao qual se aplica
a taxa da coluna B do próprio escalão (se o escalão tiver um limite máximo
superior ao rendimento, não se aplica esse, aplica-se o do escalão a
baixo), é a taxa média do IRS – faz-se a conta.
§ Excedente\remanescente (diferença entre o rendimento coletável e o
máximo do escalão em que cabe todo o rendimento), ao qual se aplica a
taxa da coluna A respeitante ao escalão imediatamente superior, é a taxa
marginal do IRS, taxa aplicável na margem, na parte superior dos
rendimentos – faz-se a conta.
§ Somam-se os dois resultados para se apurar a coleta do IRS.
o Por fim, há as deduções à coleta, distinguem-se das deduções específicas,
porque são subjetivas e personalizantes, estão associadas ao mínimo de vida
condigna.
§ Há deduções que não dependem de despesas efetivas, são as deduções
dos dependentes e dos ascendentes (não integra para efeitos de IRS,
mas é relevante para as deduções à coleta).
§ Deduções que dependem de despesas reais, na alínea b) pode-se levar
à coleta a generalidade das despesas de natureza pessoal que se
efetuam ao longo do ano, desde que se peça uma fatura com número de
contribuinte, que vai ficando no sistema da Autoridade Tributária, de pelo
menos 15% das despesas. No final do ano há uma espécie de um prémio
por ajudar as finanças a controlar os vendedores, a dedução pode ser de
250€ por cada sujeito passivo. É um mecanismo para combater a fraude.
§ Deduções de despesas com a saúde, nunca se deduz o valor da despesa,
mas apenas de certa percentagem desse valor, com um limite quantitativo
qualquer.

12
É crítico para o exame, para a vida profissional e pessoal, temos que ler o artigo 68º muito
devagarinho e saber calcular as taxas de IRS, é o porta aviões do exame.

Rebeca Louro - 2018 24


§ Deduções com a formação e educação, nunca se deduz o valor da
despesa, mas apenas de certa percentagem desse valor, com um limite
quantitativo qualquer.
§ Deduções de encargos com imóveis.
§ Deduções pela exigência de faturas.
• A diferença entre o artigo 78º-D e 78º-F, é que no segundo
especifica-se certos setores de atividades, é um benefício adicional
dado ao contribuinte quando pede fatura com o número de
contribuinte (quando vai ao cabeleireiro, oficina, etecetera), são
setores especialmente propícios à fraude, v.g. manutenção e
reparação de veículos automóveis, etecetera.
§ Pode-se ainda deduzir à coleta benefícios fiscais, artigo 78º nº1 k), ou
seja, nos termos do Estatuto dos Benefícios Fiscais ou legislação avulsa,
a lei pode atribuir aos contribuintes benefícios fiscais.
§ Quanto a estas deduções à coleta que têm a ver com as despesas, o
artigo fixa uma espécie de plafond global, que se calcula: no primeiro
escalão não tem limite, se estiver no último o limite é de 1.000€, se estiver
no meio aplica-se a fórmula. O plafond existe para evitar que sejam os
contribuintes com maiores rendimentos que aproveitam
proporcionalmente mais das deduções à coleta.
§ As deduções à coleta nunca podem chegar a um valor negativo, no limite
pode dar 0 – artigo 78º.
o As retenções na fonte, são uma antecipação do pagamento do IRS ao longo
do ano, mas feita por uma entidade, faz-se sempre ao rendimento bruto, porque
as entidades que pagam o rendimento não sabem quais as deduções
específicas do contribuinte. Os pagamentos por conta do imposto devido a
final, são pagamentos que fazemos 3 vezes por ano ao Estado, são também
uma antecipação do pagamento do IRS, mas feitas pelos próprios contribuintes.
§ Estes podem dar lugar a reembolso porque, ao contrário do que acontece
com as deduções à coleta, estes podem chegar a um valor negativo.
§ As retenções na fonte e os pagamentos por conta são feitos depois –
artigo 98º e seguintes e 102º e seguintes respetivamente.
• Artigo 99º a 100º (categorias A e H) exclui da retenção na fonte os
rendimentos em espécie e as gratificações (gorjetas, o rendimento
é atribuído por terceiro e não pela entidade patronal), e na categoria
H as pensões de alimentos (que são tributados a uma taxa
autónoma).
o As taxas de retenção não estão no IRS, são aprovadas todos os
anos por Portaria. As tabelas são diferentes para trabalhadores
dependentes e pensionistas, têm em conta o nível dos
rendimentos e os dependentes, distinguem, em certos casos, se
há dois titulares ou um único titular de rendimentos, para este
efeito não têm que ser ambos titulares da mesma categoria de
rendimentos, mas também não podem ser titulares de qualquer

Rebeca Louro - 2018 25


categoria, têm que ser, um e outro, titulares de rendimentos
englobáveis (página 215).
• Artigo 101º (outras categorias) há retenção na fonte com taxas
diferenciadas, não é progressiva, aplicam-se ao rendimento bruto
que é pago ao contribuinte e subtrai-se no cálculo do IRS. Mas para
operar, a entidade que paga esses rendimentos tem obrigação de ter
contabilidade organizada, porque para que seja possível a retenção
na fonte tem que haver uma determinada estrutura e organização, um
particular não tem. Nem sempre há retenção na fonte na categoria B,
a retenção na fonte não abrange todos os rendimentos do
contribuinte.
• Por isso é que os trabalhadores têm que fazer pagamentos por conta
do imposto devido a final, segundo o artigo 102º (também se
subtraem), para colmatar as lacunas deste artigo, como nos
rendimentos comerciais, se um prestador de serviços não estiver na
tabela, aplica-se a alínea c) do nº1 do artigo 101º subsidiariamente.
Atenção à última verba da tabela, as atividades têm que estar
especificamente previstas na tabela, esta última verba é residual,
nunca se aplica na retenção da fonte. Além da categoria B, há outras
categorias, como a F, portanto, os rendimentos prediais estão
incluídos na alínea e) do artigo 101º, mas também depende de o
arrendatário ter contabilidade organizada, porque é o que está no
corpo do nº1.
§ Subtrai-se estas retenções e os pagamentos por conta no cálculo do IRS,
porque foram feitas ao longo do ano.
§ Os pagamentos feitos por conta são calculados tendo em conta os
rendimentos dos anos anteriores, no imposto pago nos anos anteriores
(na resolução de hipóteses\exame: ou no enunciado se diz lá o valor do
ano anterior, ou ignora-se os pagamentos por conta, não é necessário
calcular em concreto).
o Chega-se ao IRS devido.

Rebeca Louro - 2018 26


è Exemplo:

Incidência subjetiva:

Quantos sujeitos declaram IRS

Incidência objetiva:

Rendimentos brutos de cada categoria

Englobamento, Rendimento líquido coletável:

RLA (10.000) + RLB (10.000) + RLE (10.000) = 30.000 Rendimento Líquido Global –
abatimentos = rendimento coletável, 30.00013

É preciso subtrair as taxas liberatórias no englobamento, auferindo-se o rendimento


líquido global

Calcula-se as taxas:

Coluna B, taxa média do IRS: 25.000 (limite do escalão) x 0,24967 = 6241, 75

Coluna A, taxa marginal do IRS: (30.000 - 25.000) 5.000 x 0,37 = 1850,00 (o último
escalão aplica-se apenas nas margens)

Coleta de IRS:

6241,75 +1850,00 = 8091,75

Deduções à coleta, retenções na fonte e pagamentos artigo 78º para obter o


imposto devido.

13
Se o rendimento coletável for de 2.000€ aplica-se a coluna A ou B (são iguais), não se divide,
segundo o próprio artigo 68º nº2. Se o valor coletável fosse de 25.000€ equivaleria à máximo
de um dos escalões, o que significaria que no cálculo da coluna A, o excedente é 0, por isso irá
calcular-se apenas a coluna B, não é preciso dividir em dois, aplica-se apenas a taxa média de
IRS.

Rebeca Louro - 2018 27


è Artigo 69º nº1, os sujeitos passivos casados dividem por dois, ou seja, divide-
se o rendimento líquido coletável por dois antes do cálculo das taxas (splitting) e
calcula-se até às taxas de forma normal, multiplicando por dois, depois –
artigo 69º nº3. O splitting é uma forma de prevenir a penalização dos
contribuintes casados, porque o rendimento coletável é maior e como o IRS é
progressivo, resultaria numa penalização dos contribuintes, então visa-se evitar que
se apliquem taxas gerais mais altas, pelo facto de se somar o rendimento dos dois
cônjuges.
o Por via de regra aplica-se sem olhar aos rendimentos que cada um dos
cônjuges tem. Não há soma dos rendimentos do casal quando se aplicam as
taxas especiais ou liberatórias, o splitting aplica-se antes de se aplicarem as
taxas gerais, não se aplica quando se aplicam as taxas especiais e liberatórias,
artigo 69º nº3. Mas se optarmos por englobar alguns dos rendimentos que
beneficiam dessas taxas especiais ou liberatórias, fazendo uma declaração
conjunta, já se faz o splitting desses rendimentos no bolo do rendimento líquido
global.
è Todavia, depois do cálculo das taxas e sem prejuízo das mesmas, deve olhar-se ao
artigo 68º-A, sobre a taxa adicional de solidariedade, em especial ao nº3, que
fala dos casos de tributação conjunta, aplicando-se o procedimento descrito neste
artigo apenas a metade do rendimento coletável, por terem um rendimento
superior a 80.000€. Depois de se aplicarem as taxas adicionais de solidariedade
multiplica-se por dois e soma-se à coleta.
o Se metade do rendimento coletável for de 123.396€, por terem um rendimento
superior a 80.000€ aplica-se este artigo: 123.3896€ – 80.000 = 43.396€ x 0,025
(só se aplica uma taxa porque não é superior a 250.000€) = 1.084,9€ x 2 =
2.169,8€ (desfaz-se o splitting).
o Se fosse por exemplo um rendimento coletável de 2.000.000€, dividia-se por 2
porque são casados, seria de 1.000.000€, aplicava-se a taxa de 2,5% a
170.000€ x 0,025% (entre os dois escalões de 80.000€ e 250.000€, é a
diferença entre estes dois escalões) e ainda a taxa de 5% ao restante, isto é,
aos 1.000.000 – 250.000 (limite máximo do escalão) = 750.000€ x 0,05%.
Depois multiplica-se por 2 outra vez, para desfazer o splitting.
è O mesmo se aplica se não se tratar de um casal e o rendimento for superior a
80.000 e superior a 250.000.

Categorias

è O Código do IRS segmenta os rendimentos por categorias tendo em conta a


sua origem.
è Antes da reforma fiscal de 1989 havia vários códigos para os vários tipos de
rendimentos, ao contrário do que se verifica hoje, em que um só código agrupa os
vários tipos de rendimentos. Não havia uma visão agrupada e sintética da

Rebeca Louro - 2018 28


tributação do rendimento, o que significa que se uma pessoa tivesse o mesmo
rendimento vindo de fontes diferentes, não só formalmente caia em códigos
diferentes com regras próprias de contabilização, de taxas e de defesa de
contribuinte, com isso não permitia cumprir o princípio da capacidade contributiva,
porque não nos dava uma ideia geral da riqueza, da capacidade contributiva, da
força económica de cada pessoa que permitisse distinguir entre duas pessoas.
è As reformas fiscais trouxeram, portanto, uma consolidação de todo o rendimento
da pessoa sujeito a um tratamento uniforme. Por isso é que a Constituição de
1976 vem fixar um imposto progressivo na tributação sobre o rendimento,
juntando os códigos todos e aplicando uma taxa progressiva de tributação.
è Em 1989 são aprovados os Códigos Sintéticos do Rendimento, mesmo assim no
Código Sobre o Imposto do Rendimento das Pessoas Singulares, que é o que
estamos a estudar, não há uma total absolutização desta ideia de unicidade,
porque trata de forma diferentes as diversas categorias, há quem diga que:
o Esse tratamento diversificado não é necessário.
o Com uma conotação mais económica, os rendimentos para serem tratados de
forma igual tem que ter rendas diferentes, porque não é igual ganhar dinheiro
a trabalhar e ganhar dinheiro dos juros de um Banco.
è É preciso não esquecer que os rendimentos são tributados, provendo de fonte
lícita ou ilícita, a ideia de unidade de tributação e de capacidade contributiva não
distingue entre fonte lícita ou ilícita de rendimentos.
è O imposto incide sobre os rendimentos anuais de cada categoria e são pagos
independentemente de serem pagos em dinheiro ou em espécie, segundo o
artigo 1º nº1 e 2.

Categoria A

Incidências

è São rendimentos do trabalho dependente todas as remunerações pagas ou postas


à disposição do seu titular, segundo o artigo 2º nº1.
o Se alguém der aulas na Católica um semestre e esta decidir não pagar, tem que
pagar IRS? O artigo não diz só as remunerações pagas, mas também não
diz devidas, ou seja, em vez de não pagar, a Católica mandava um mail a dizer
que o cheque estava na tesouraria, ou transferiram para a conta que deu no
início do ano, mesmo que não levante, já deve o IRS – pagas ou postas à
disposição, ideia de caixa com a nuance do “postas à disposição”.
o Em paralelo, se fosse antes uma empresa que emitisse uma fatura de uma
venda que não é paga, essa, num primeiro momento, ia ser tributada, ou seja,
a regra da contabilidade empresarial é uma regra de acréscimo, isto é, quando
há um acréscimo da sua situação jurídica de um direito sobre o seu cliente, esse

Rebeca Louro - 2018 29


acréscimo é tributado, se ao fim de uns meses não pagar, pode fazer-se um
write of desse crédito, mas a regra é: emite fatura, depois o IVA é relevante
porque passa a ter uma obrigação de IVA, e passa a ter uma obrigação de IRC,
é o método do acréscimo (há dois métodos, o do acréscimo, quando nasce o
direito, existe quanto mais sofisticada a economia; o de caixa, quando o dinheiro
entra no bolso).
è O artigo explica o que são “todas as remunerações”:
o Origem, nº1: são aquelas provenientes do trabalho por conta de outrem ao
abrigo do contrato de trabalho, falso contrato de recibos verdes (trabalho
em que alguém manda e o funcionário obedece, não é um contrato de prestação
de serviços em que há recibos verdes, mas sim um contrato de trabalho, daí
que seja falso contrato de recibos verdes), o exercício de uma função, serviço
ou cargo público (ex.: o Presidente da República recebe uma remuneração
semelhante ao do contrato de trabalho, mas que não tem patrão, assim como
com os juízes e os deputados, os contratos de trabalho não existem nas funções
de soberania, mas para efeitos do código tem o mesmo efeito, porque recebem
remunerações semelhantes às do contrato de trabalho), questões da pré-
reforma.
o Os administradores das empresas, entidades empregadoras ou patronais
(ex.: CEO, gestores, não têm contrato de trabalho), segundo o nº3 a), também
são tributados nestas categorias.
o Remunerações estão exemplificadas no nº2, porque as pessoas e empresas
podem contratualizar formas de remuneração ou pagamentos e para não haver
fuga ao imposto, para que essa conformação baseada na autonomia contratual
não gere efeitos contratuais diferentes e, portante, desigualdade fiscal, o artigo
é muito preocupado com isto v.g. remunerações à percentagem do que vende
na loja ainda estão dentro desta categoria, gratificações e outras
remunerações acessórias. Tudo o que se recebe do patrão pelo trabalho que
se fez é rendimento desta categoria, tal como prémios do funcionário do ano,
entre outros, porque se não, manipulava-se de forma a não pagar imposto.
o Resolve-se uma série de questões no nº3 b) que foram surgindo e suscitaram
dificuldades, tais como atribuição de um carro com um seguro para o
trabalhador e família, atribui-se ações da própria empresa, é um conceito
laboral de remuneração acessória, tentava-se puxar para fora do conceito de
remuneração tributável certas realidades. Discute-se em muitos países o
acesso a regalias em virtude do trabalho, há muitos casos de fronteira. Mas há
situações mais comuns que a lei já resolveu, no nº3, tentando definir
remuneração acessória: direitos, benefícios ou regalias, algo bastante vago,
não incluídos na remuneração principal, no salário base, que sejam
auferidos devido à prestação do trabalho ou em conexão com ela, desde
que incluam para o respetivo beneficiário uma vantagem económica, isto
é, para ser uma remuneração acessória, tem que ser uma vantagem
económica conexionada com a prestação de trabalho – distinção difícil entre
bens afetos ao trabalhador para a sua função e bens afetos ao trabalhador para
lhe dar uma vantagem económica, muitas vezes joga-se nesta zona cinzenta.

Rebeca Louro - 2018 30


§ Vendo, por exemplo, o artigo 2º nº3 alínea b) 9), sobre o carro da empresa,
só poderá ser tributado se houver um acordo escrito, sem ele não há
tributação, é das poucas coisas em que o Direito Fiscal exige forma escrita
(hipocrisia fiscal, porque procura-se tributar quase tudo o que mexe), nos
poucos casos em que pode ser tributado faz-se segundo o artigo 24º nº5.
Hoje em dia há quase sempre acordo escrito, por causa dos e-mails.
§ O nº3 b) 4) é uma situação paralela, sobre a casa da empresa.
o O artigo 2º-A refere situações em que estão excluídas das incidências de IRS,
por exemplo a alínea d) vem dizer que, se a empresa conceder ao trabalhador
um passe social, não é tributado, se tiver caráter geral, isto é, há várias
interpretações, pelo facto de se tratar de um conceito indeterminado, permitido
pelo princípio da legalidade:
§ Se for atribuído a todos os trabalhadores sem distinções, interpretação mais
fechada da Autoridade Tributária.
§ Basta que seja apenas a possibilidade de ter passe.
§ É a existência de regras gerais e abstratas de atribuição de passe de graça.
o Não faz sentido que o imposto seja progressivo, porque se para ganhar 10
gastou 2, apenas ganhou 8, não faz sentido que o imposto seja sobre 10, se
não, paga-se imposto sobre um rendimento que não teve, o rendimento é o que
sobra, apenas teria que pagar 0,8% de imposto.
è Os de subsídio de alimentação podem ser rendimentos em espécie, que são
tributados, segundo os artigos 1º e 2º, mas nem sempre o são, artigo 2º nº3 b),
segundo o 2) dessa alínea b) existe uma parte do subsídio de alimentação que não
é sujeita a tributação, de acordo com a Portaria dos Servidores do Estado sobre o
subsídio de refeição: quando seja em dinheiro, até 4,77€, e quando seja em vales,
até 7,63€ não é tributado (Portaria dos Servidores do Estado subsídio de refeição).
è No caso do café ilimitado é geralmente oferecido pelas empresas e sociedades, tem-
se considerado como um mero instrumento de trabalho, podendo não ser uma
vantagem para o trabalhador, mas sim para a empresa.

Deduções

è Deduz-se um valor estandardizado de 4104€, segundo o artigo 25º a).


è Esta opção legislativa pode gerar problemas de igualdade, porque é igual para todos
e os gastos são diferentes, mas não há outra forma de o fazer porque são a regra.
è Quando se diz que se deduzem até à sua concorrência significa que não utilizam
valores negativos, não geram reembolso, crédito fiscal – um modelo mais
solidário seria se gerasse crédito fiscal.
è Se houver um casal com rendimentos da categoria A, a dedução é de duas vezes
4104€.
è As deduções sobre as profissões de desgaste rápido estão no artigo 27º, permite,
para certo tipo de profissões, a dedução de seguros de uma forma mais genérica.

Rebeca Louro - 2018 31


Tributações

è O mecanismo de tributação assenta, na sua mecânica real, numa ideia de


substituição tributária, ou seja, é uma relação em que alguém tem que efetuar o
pagamento a outrem, determinada por lei ou acordo, em que o substituto, devedor
de determinada quantia, que tem uma parcela desta e não entrega ao credor da
obrigação contratual, mas retém para entregar ao Estado, por conta de uma dívida
tributária que se está a formar no sujeito passivo – tem natureza de pagamento por
conta, de compensação. Se o total das retenções for superior há uma devolução, se
for idêntico fica a zeros, se for inferior apenas tem de pagar a diferença.
è A retenção da fonte desta categoria está no artigo 99º-C, esta retenção é feita
através de umas tabelas aprovadas por despacho. Quem faz as retenções na fonte
são as entidades ou empresas, por ser mais prático, pelo facto de ser periódico, não
tem que esperar pelo ano seguinte para receber o bolo do IRS e porque é mais
seguro para o Estado, visto que é mais fácil não receba do que receber e pagar,
correndo a pessoa o risco de o património se esvair ao pagar de uma vez, é mais
seguro pelo facto de o património da empresa ser maior. A substituição tributária
desincentiva à fuga do pagamento, porque é do bolso do contribuinte e não da
empresa. Tem um fenómeno de anestesia fiscal, o contribuinte paga quando não
dói, que é quando não recebe, há menos confrontação\dissabor com o Estado.
è Nesta categoria os rendimentos em espécie podem ser retidos na fonte, de
acordo com o artigo 99º-C nº3, algo que não se verifica nas outras categorias.

Categoria H

Incidências

è As categorias A e H são categorias muito semelhantes e são as responsáveis por


mais de 85% ou 90% dos rendimentos gerados pelo Estado português com o IRS.
è Elas distinguem-se pela descompensação no tempo, na categoria A, trabalha-se
para ganhar dinheiro, é um trabalho presente, que se está a prestar; na categoria H
trabalhou-se para ganhar agora dinheiro, o rendimento resulta de um trabalho
passado, já prestado.
è Resulta de um rendimento de trabalho, mas de trabalho que já foi prestado.
Outro elemento central, para além das reformas, são as pensões de invalidez.
è O salário, como o que ocupa a maior parte da vida real, é a reforma, ou seja, a
quantia que é paga mensalmente pelo trabalho que se prestou no passado, nos
termos artigo 11º.

Rebeca Louro - 2018 32


Deduções

è Uma grande discussão em relação à tributação das pensões é se o tratamento desta


categoria deve ser diferente (com fórmulas de cálculo do imposto diferentes) ou não
da categoria A. Para esta última categoria consegue-se compreender que há sempre
despesas, mas na categoria H só se tem que investir no facto de estar vivo.
è A categoria H não deve ter deduções específicas, artigo 53º?
o Há quem diga que este artigo não devia existir, porque não há gasto
necessário para obter aquele rendimento, já houve relevado em termos de
categoria A.
o Outra posição é que os rendimentos de trabalho antigo devem ser
tributados de forma mais benéfica do que os da categoria A, e assim deve
ser porque esses rendimentos têm características que fazem com que, na
prática, seja decrescentes, um é que não há expectativa de que seja
aumentado na reforma, as pensões estagnam, e, se não forem atualizadas,
são comidas pela inflação, é um rendimento decrescente e este facto cruza-
se por serem agregados com despesas crescentes. Por esta razão social, a
tributação deve ser diferenciada deve ser para melhor.
è O artigo 53º tem uma regra que é semelhante à da categoria A, deduz-se até à
concorrência se for inferior a 4104€, aos restantes deduz-se esse valor.

Tributações

è Há tabelas para a retenção na fonte na categoria H, muito semelhantes à da


categoria A.
è Os rendimentos desta categoria, por regra, são tributados às taxas normais de IRS
e quanto às deduções, há limites.
è Por exemplo, as pensões de alimentos são dedutíveis sem limite, de acordo com o
artigo 83º-A.

Rebeca Louro - 2018 33


Categoria B

Incidências

è Em todas as categorias há rendimentos centrais e outros laterais, para que os


rendimentos não caiam fora do campo devido, em categorias erradas ou fiquem sem
categorias.
è As antigas categorias C e D foram fundidas nesta categoria em 2000, porque a
Constituição diz que o imposto é progressivo e único, por isso é que há realidades
muito diferentes nesta categoria, mas que obedecem a um conjunto de regras
próprias. As atividades diferentes têm uma matriz comum que permitiu esta fusão.
A ideia central que permitiu esta fusão é a de que o resultado do rendimento não
provém de se dar o trabalho a outrem, com os meios de produção e capital
desse outrem obter o rendimento, mas sim pessoa singular, através dos
próprios meios, serviços e capital, obtém o seu rendimento. Por isso o desafio
desta categoria é o de olhar para uma pessoa singular, mas que materialmente
desenvolve uma atividade empresarial, ou seja, coloca os meios seus para
obter o seu rendimento e corre o risco dessa mesma atividade, por oposição à
categoria A em que os meios de produção e o risco do negócio são de outrem.
è Há duas hipóteses em termos de autonomia privada, que são a de desenvolver essa
atividade por conta própria, ou por conta outrem. Quando se está por conta própria
há uma hipótese de autonomia privada que é uma forma de desenvolver numa
forma jurídica coletiva e autonomizada, mesmo que individual, ou numa forma
jurídica singular, ou seja, aqueles que desenvolvem uma atividade autónoma,
da categoria B, mas que optam por fazê-lo na sua esfera jurídica pessoal, isto
é, não constituíram uma empresa.
è Nesta categoria, segundo o artigo 3º, há três grupos relevantes e outros três menos
relevantes, em termos estatísticos, fala-se em rendimentos empresariais e
profissionais decorrentes de14:
o Atividades comerciais, industriais, agrícolas e pecuárias, remissão para o
artigo 4º, o nº1 dá exemplos de atividades comerciais e industriais, o nº2 e 3
esclarece o que são atividades agrícolas e o nº4 dá exemplos de atividades
agrícolas.
o Prestação de serviços, talvez o mais comum.
o Propriedade intelectual, industrial ou com prestação de informações, deve
ser lida em conjunto com o artigo 3º nº5, devendo sublinhar no nº1 “quando
auferidos pelo seu titular originário” (não aqueles que se aufere por se terem
comprado direitos de autor, já serão mais-valias, artigo 10º nº1 c)).
è Mas muitas vezes também se coloca a questão, uma vez sabida a categoria a que
pertence, quando se tributa o rendimento?

14 Em cada caso prático temos que distinguir os rendimentos dentro da categoria B, não basta dizer

que são da categoria B, só depois se passa para a determinação do rendimento coletável.

Rebeca Louro - 2018 34


è O artigo 3º nº6 dá a resposta, a saber: desde que, para efeitos do IVA, seja
obrigatório a emissão de fatura ou documento equivalente, artigo 7º e 36º do
Código do IVA diz que a fatura é pedida até ao quinto dia do dia útil a seguir ao
momento em que o imposto se torna exigível, que é no momento da sua prestação.
è Se houver um adiantamento ou provisão de um cliente, nestes adiantamentos há
sempre a dúvida de quando é que vai ser tributado, se quando for usado, como
se fosse um depósito ou uma caução, vai-se ao nº7 e 8 do artigo 3º que
respondem a isso.
è O nº2 do artigo 3º anda um pouco à volta deste cerne da categoria B e esclarece
ou alarga esse âmbito para uma série de rendimentos, esse alargamento tem
realidades bastante distintas:
o Artigo 3º nº2 alienas a), b) e c), pode haver um conjunto de rendimentos que
seriam de outra categoria, rendimentos prediais, capitais e mais-valias,
portanto, que seriam categorias autónomas de rendimento, mas que são
tributados nesta categoria B se forem imputáveis às atividades que geram
rendimentos da categoria B, é denominado como “a força atrativa da categoria
B”, atrai um conjunto de rendimentos para a sua qualificação e tributação no
âmbito das suas regras um conjunto de rendimentos que seriam tributados,
normalmente, noutras categorias prediais, de capitais e mais valias, desde que
obtidos no âmbito das atividades da categoria B.
o Artigo 3º nº2 alínea d) as indemnizações conexas com a atividade exercida
são tributadas, nomeadamente a sua redução, suspensão e cessação, assim
como pela mudança do local do respetivo exercício, está aqui estabelecido
porque uma indemnização não é um rendimento, mas algumas são tributadas,
porque podem ser consideradas rendimentos, como visto.
o Artigo 3º nº2 alíneas f) e g) os subsídios e subvenções recebidas, como os
subsídios agrícolas ou da ordem dos advogados, são considerados
rendimentos.
o Artigo 3º nº2 alíneas h) e i), há sempre aquela dúvida de se não tiver uma
atividade (conjunto de atos sequenciais destinados ao mesmo resultado),
se apenas se praticar um ato isolado, também são rendimentos desta categoria
e, por isso, tributados. Mas qual a definição de atos isolados? A lei procura dar
um critério, no nº3, dizendo que são atos isolados os que não resultem de
uma prática previsível ou reiterada, este último é mais fácil de apurar, sendo
que no primeiro há uma incerteza basal que não conseguimos retirar.
è Quando o contrato de prestação de serviços tenha um trabalho sob autoridade e
direção de outra pessoa ou autoridade, que ocupa a posição de sujeito ativo na
relação jurídica, insere-se na categoria A, artigo 2º nº1 b).

Rebeca Louro - 2018 35


Deduções

è E como se processa a determinação da matéria coletável daquele rendimento? O


rendimento líquido?
è Há três formas de determinação do rendimento coletável, há um dilema no
Código de olhar para pessoas singulares que praticam atividades comerciais, mas
que continuam a optar por as praticar a título individual, a resposta está no artigo
28º e seguintes:
o Se desenvolve uma atividade parecida com a de uma empresa, será
tributado como se fosse uma empresa, sendo tributado através da
contabilidade organizada. Mas isto não resolve o desequilíbrio que se falou
supra, não tendo em consideração que essas pessoas são pessoas singulares
pouco sofisticadas que se calhar não deviam ser tributadas como uma empresa
– visão real dos custos e proveitos.
o O Código dá outra opção, devido ao desequilíbrio, o do regime simplificado,
faz-se uma estimativa dos custos, tendo em conta o que se faz – estimativa.
§ A que mais respeita o princípio da capacidade contributiva é a do regime
de contabilidade organizada, porque olha a cada despesa que cada
contribuinte realmente fez, impõe mais custos de cumprimento, ou seja, os
que se tem para se conseguir cumprir os requisitos de uma determinada
atividade, mas por outro lado dá-se uma tributação mais fina, mais real.
Sendo o que respeita melhor o princípio da capacidade contributiva,
era complicado se não fosse uma possibilidade para todos os
contribuintes, mas também não podia ser imposto a todos, porque
seria desproporcional, é este binómio que o Código tenta resolver.
o No artigo 28º nº8 está prevista outra forma de obter o rendimento coletável, em
certos casos pode optar pelas regras de tributação da categoria A, mas são
casos excecionais e de salvaguarda.
è Como se sabe se a pessoa é tributada segundo este regime da contabilidade
organizada ou segundo a contabilidade simplificada? A regra é a de que os sujeitos
passivos caem no regime simplificado, mas podem optar pela contabilidade
organizada quando se tem muitos custos, sendo-lhe mais benéfico optar pela
contabilidade organizada, cujas regras estão no nº3 e 4, ou ser expulsos da
contabilidade simplificada, porque passa dos limites, segundo o nº6, “cessa
apenas quando o montante a que se refere o nº2 (200.000€) seja ultrapassado
em dois períodos de tributação consecutivos (um período de tributação é um
ano, mas só se aplica para o ano seguinte) ou quando o seja num único exercício
em montante superior a 25%”, fazendo-se a tributação a partir destes factos (no
ano seguinte, no ano em que excede o limite não se aplica a contabilidade
organizada, porque no início do ano não sabe o rendimento que vai auferir, mesmo
que no ano a seguir não chegue aos 25% acrescentado aos 200.000€, ou seja,
250.000€, num só ano, não são precisos dois anos consecutivos). É preciso ter
atenção ao nº2 e ao nº5.

Rebeca Louro - 2018 36


è O regime simplificado está no artigo 31º e presume custos. Quando foi criado, o
objetivo era haver médias de cada tipo de atividade. Mas hoje consagrou-se uma
aproximação dessa ideia, tendo em atenção que há mais margem de lucro na
prestação de serviços (advogado) e menos nas atividades de venda de
mercadorias, onde aplica uma percentagem de 0,15% (se faturou 100.000€
presume-se que gastou 85.000€ e ganhou 15.000€), tem uma margem de abstração
muito grande, na alínea b), sobre a prestação de serviços, a percentagem aplicável
é de 0,75% (se faturou 100.000€ presume-se que gastou 25.000€ e ganhou
75.000€), se a margem fosse igual seria injusto, porque não é uma atividade de
revenda onde se tem que comprar e depois vender para ganhar uma margem, tem-
se atenção àquilo que são as margens líquidas das atividades.
è Agora temos uma complicação no nº 13 e seguintes15, porque até ao orçamento
passado as prestações de serviços tinham um coeficiente de 0,60%, 0,65% e 0,75%.
O que foi instituído em 2000 foi que se aplicava um coeficiente igual para todos os
advogados, mas foi alterado porque o regime gera algumas injustiças relativas, de
2000 para 2018 houve uma mudança, desde logo, as faturas eletrónicas, porque
o Estado em si já faz, através do e-fatura, a contabilidade, tornando as medidas
mais justas, sem que os obrigue a ir à contabilidade. Daí as regras complexas
do nº13 e seguintes, acrescendo-se mais um coeficiente de 15% a mais do
rendimento, deduzindo-se os 4.104€, igual à categoria A para não se ficar numa
situação de desigualdade face aos seus contribuintes, e despesas efetivamente
declaradas no portal das finanças relacionadas e afetas com a atividade. Se der 0
não se acresce nada, se não der 0 acresce-se, a fim de diferenciar os vários
prestadores de serviços, isto é, se tiver aquelas despesas deixa deduzir, se não tiver
não deixa. Um primeiro controlo é o que o contribuinte declara no portal das
finanças, relacionada ou afeta à sua atividade profissional16.
è Se falarmos de um prestador de serviços que não está no artigo 151º o coeficiente
de tributação é de 35%, o eu significa que há um grande incentivo de planeamento
fiscal para os serviços que não estão na tabela, sejam novos ou velhos.
è Se as despesas forem tantas que gera um prejuízo em vez de rendimento: na
contabilidade simplificada aplica-se o coeficiente, porque se presumem os
custos, os prejuízos e perdas não relevam, pode-se ser tributado, apesar de ter
uma capacidade contributiva negativa; quando se está na contabilidade
organizada17 não só os gastos reais são relevantes, ou seja, pode-se apurar
fiscalmente uma perda, como essa perda é reportada para diante, esse valor vai
ser creditado no IRS dos anos seguintes, o que devia ser assim regra geral para
todas as perdas, segundo o princípio da capacidade contributiva – reporte de
perdas.

15
No caso prático basta indicar o coeficiente a aplicar, não é preciso aplicar este nº13.
16
No regime simplificado, o Orçamento de Estado para 2018, diz que, sem prejuízo dos casos
especificamente previstos na tabela, pode-se retirar o montante do coeficiente (ex.: 0,25%
de custos, ou seja, coeficiente de 0,75%) – temos que apresentar faturas de 15% desses
custos e custos relacionados com a atividade – não se sabe o que é.
17
Pressupõe o conhecimento do Código do IRC.

Rebeca Louro - 2018 37


Tributações

è E se o rendimento é sujeito a englobamento ou se é tributado por taxas especiais,


autónomas?
o Em certos casos pode haver rendimentos tributados a taxas especiais, casos
dos não residentes e das gorjetas, artigo 71º e 72º.
o É sabido que as taxas especiais que se aplicam a estes rendimentos, não
podem ser retidas na fonte.
è Por fim tem que se perceber se esse rendimento foi sujeito a algum tipo de taxa de
retenção na fonte.
o Temos que distinguir:
§ Retenções definitivas, que são as taxas liberatórias, mas as taxas
liberatórias que se optam por englobar e são devolvidas no final
transformam-se em retenção por conta devida a final.
§ Retenções por conta devidas a final, por exemplo os salários. Aplica-se
as tabelas, categorias A e H, ou o artigo 101º, para as outras categorias,
são meras antecipações de pagamento.
o Há ainda as retenções por conta devidas, que são as retenções feitas por
terceiro, como as empresas, e os pagamentos por conta, isto é, o próprio
contribuinte é que faz, há uma obrigação de o fazer 3 vezes por ano, artigo
102º). Os artigos 78º nº2 e 97º nº3 dizem que se quando se efetuam as
deduções à coleta se deduzem as retenções e os pagamentos por conta.

Categoria E

Incidências e Tributações

è Rendimentos capitais são rendimentos passivos, o que se compreende logo ao olhar


ao artigo 5º nº1.
è Nesta categoria não há deduções específicas, o rendimento bruto é igual ao
rendimento líquido.
è No artigo 5º há dois grandes núcleos: juros e lucros.
o Juros, b): aplica-se uma taxa liberatória de 28%, segundo o artigo 71º, o
legislador, em primeira linha, não pretende que o contribuinte declare, esta
retenção na fonte é feita sempre. Mas o artigo 71º nº6 diz que o contribuinte
tem a opção de englobar, embora a retenção seja sempre feita, porque há

Rebeca Louro - 2018 38


uma obrigação legal, desde logo porque o Banco não sabe se no final do ano o
contribuinte vai optar por englobar. O contribuinte pode optar por englobar
quando a taxa marginal de IRS da tabela geral for abaixo de 28%, assim é-lhe
vantajoso. O englobamento faz-se juntando o valor bruto ao bolo global do
rendimento coletável, para se aplicar a taxa geral de IRS, para no fim
reembolsar esses 28%, subtraído à coleta. Podendo no fim concluir que foi mais
ou menos vantajoso englobar, consoante a taxa geral aplicável a estes juros for
menor ou maior que 28%, respetivamente.
o Lucros distribuídos por entidades sujeitas a IRC, h): segundo o artigo 71º
nº1 há sempre retenção na fonte, embora haja opção de englobar, segundo o
nº6, no caso de a taxa marginal ser mais baixa. Se se optar por englobar faz-se
a mesma coisa, mas tendo em atenção o artigo 40º-A, para evitar uma dupla
tributação da empresa18, englobando-se apenas 50% dos lucros no bolo geral
do rendimento líquido coletável, sendo que no fim, nas deduções à coleta, se
devolvem os 28% da taxa liberatória, subtraindo-se à coleta, porque se optou
por englobar, rejeitando esta taxa.
è Nas taxas liberatórias, artigo 71º, as retenções são definitivas19, mas as taxas
liberatórias que se optam por englobar e são devolvidas no final transformam-se em
retenção por conta devida a final, são devolvidas no final do ano, há um acerto de
contas, artigo 71º nº7.
è O artigo 71º nº1 a) diz que todos os rendimentos de capitais estão sujeitos a
retenção na fonte, desde que sejam pagos por ou através de entidades que
tenham sede de ligação efetiva ou estabelecimento estável a que se deva
imputar-se o pagamento e disponham ou devam dispor de contabilidade
organizada. A obrigação de retenção na fonte de uma taxa liberatória de 28%
só vale para entidades domiciliadas em Portugal, se os juros forem pagos por
um Banco inglês, o Estado Português não o pode obrigar a reter na fonte. Então
nestes casos é o próprio contribuinte que está obrigado a declarar o
rendimento, neste caso, o rendimento do contribuinte cai no artigo 72º.
è O artigo 71º nº1 b) fala de valores imobiliários que podem gerar rendimentos de
capitais, a entidade que paga o rendimento ao respetivo titular não está em Portugal,
mas fá-lo a partir de um intermediário que está cá, então é este que aplica a taxa de
retenção.

18
O objetivo é atenuar a tributação económica que advém do facto de os lucros da empresa
estarem simultaneamente sujeitos a tributação pelo IRC, e aquilo que é distribuído aos
sócios, os dividendos, estão sujeitos ao IRS.
19
Nas taxas especiais não há retenções.

Rebeca Louro - 2018 39


Categoria F

Incidências

è Incide sobre os rendimentos prediais, artigo 8º, sendo que prédio tem uma noção
particular para efeitos de IRS, nº1 “rendas dos prédios rústicos, urbanos e mistos
pagas ou colocadas à disposição dos respetivos titulares quando estes não optarem
pela sua tributação no âmbito da categoria B”.

Deduções

è Deduzem-se as despesas efetivamente efetuadas, com algumas exceções


previstas no artigo 41º nº1.
è A lei é generosa nas deduções específicas que o contribuinte pode fazer, até pode
deduzir alguns impostos que incidem sobre o imóvel, em certos aspetos esta não é
muito diferente da categoria B.

Tributações

è Artigo 72º nº1 e), esta taxa de 28% aplica-se ao rendimento líquido, mediante
declaração do contribuinte, não por retenção na fonte, porque as taxas especiais
não estão sujeitas à retenção na fonte.
è Depois tem que se ver se sofreu ou não retenções na fonte à taxa de 25% ao
longo do ano, o que vai depender de o inquilino ou arrendatário ter ou não
contabilidade organizada. No artigo 101º e) diz-se que quem está obrigado a reter
na fonte é quem paga a renda e tenha contabilidade organizada, podendo ser
aplicadas taxas de 25% de retenção na fonte ao longo do ano. Estas retenções são
por conta do imposto devido a final, ou seja, são sempre creditáveis ao
contribuinte no final do ano.
è À partida é um regime mais favorável aos proprietários, para os titulares de
rendimentos prediais: 28% com a possibilidade de deduzir todas as despesas
associadas à angariação do rendimento.
è Artigo 72º nº8, o contribuinte pode optar por englobar, se lhe for mais favorável ou,
ao englobar, optar por aplicar as regras da categoria B.
è Portanto, há três hipóteses: aplicar uma taxa especial de 28%, artigo 72º;
englobar, artigo 72º nº8, com as regras da categoria F, deduz-se todas as
despesas documentadas e possíveis; englobar e passar para a categoria B,
calculando-se com as suas regras do regime simplificado, não é preciso documentar
as despesas feitas, artigo 8º nº1.

Rebeca Louro - 2018 40


Casal, Ana e Júlio, que têm uma vida de inteiro descanso: a Ana, graças aos depósitos
que tem no Banco, auferiu este ano um rendimento de 100.000€ juros; Júlio mais
descansado ainda está, com um apartamento no Saldanha (arrendado à Embaixada da
Estónia) auferido este ano um rendimento de 100.000€, mas gastou 10.000€ a pôr janelas
com vidros duplos. O casal recebeu 100.000€ de dividendos de umas ações que tinham
comprado na Galp.

Incidência subjetiva, artigo 13º, dois sujeitos passivos portugueses com residência em
Portugal.

Incidência objetiva: artigo 5º nº2 b), os juros de 100.000€ são da categoria E; artigo
8º, rendas de 100.000€ são da categoria F; artigo 5º nº2 h), os dividendos de 100.000€ são da
Categoria E.

Taxas liberatórias: artigo 71º nº1 a) 28% de retenção na fonte pelo Banco, sendo o
IRS dos juros calculado pelo Banco ao reter na fonte, sai para fora do caso porque não se
engloba. Quanto aos lucros\dividendos aplica-se o artigo 71º nº1 a) que também tem uma taxa
liberatória definitiva de 28%, em princípio, aplicada pela Galp, não tendo o contribuinte de
declarar nada no final do ano, é uma taxa liberatória, definitiva, em princípio, a menos que opte
por englobar, também saem para fora do caso. Restam os rendimentos prediais de 100.000€,
aos quais se deduzem 10.000€ dos gastos, artigo 41º, aplica-se a taxa especial de 28% do
artigo 72º nº1 e), ficando 90.000€ x 0,28 = 25.200€ (imposto devido, tributado à parte), mas
ainda não significa que o tenha que pagar todo no final do ano, porque ao longo do ano pode-se
ter sofrido retenções na fonte, presume-se que a embaixada tem uma contabilidade organizada,
há uma retenção na fonte à taxa de 25% sobre os 100.000€, sobre o rendimento bruto, porque
não sabe quais os gastos do contribuinte no final do ano, 25.200€ – (100.000 x 0,25 = 25.000€)
= 200€ é o que resta pagar no final do ano.

Faz-se splitting? Não há rendimentos englobáveis da Ana, ou seja, não há soma


dos rendimentos do casal quando se aplicam as taxas especiais ou liberatórias, o splitting
aplica-se antes de se aplicarem as taxas gerais, não se aplica quando se aplicam as taxas
especiais e liberatórias, artigo 69º. Por via de regra aplica-se sem olhar aos rendimentos que
cada um dos cônjuges tem, o splitting não se aplica nos casos em que se aplicam taxas especiais
e liberatórias, porque elas são diferentes.

Se optarmos por englobar:

Artigo 22º nº3 do englobamento diz que há certos rendimentos que não se englobam,
que são os do nº3. Contudo, quando se exerce a opção de englobar, não pode escolher quais
os rendimentos dentro da mesma categoria que engloba, tem que englobar todos dessa
categoria, nº5, limitando as opções de planeamento fiscal por parte dos contribuintes.

Rebeca Louro - 2018 41


Quanto aos juros dos depósitos bancários punha-se o rendimento bruto no bolo e
depois de aplicadas as taxas gerais de IRS, subtraia-se à coleta os 28% retidos na fonte. Aos
lucros da Galp subtrai-se 50%, englobando-se apenas os outros 50%, porque estão sujeitos a
IRC, e na dedução à coleta somam-se os 28% que ficaram retidos, subtraindo na coleta. Nas
rendas faz-se as deduções específicas, para obter o rendimento líquido, e o cálculo normal com
as taxas gerais, porque se pode englobar segundo o artigo 72º nº8, e no fim soma-se os 25%
de retenção na fonte, deduzindo-se à coleta.

Aqui já podíamos fazer splitting, porque se engloba e se faz a declaração conjunta.

Categoria G

Incidências

è Trata dos incrementos patrimoniais, à primeira vista pode incluir todos os


restantes rendimentos que não se enquadrem nas outras categorias, porque é a
última categoria, e ao falar-se de incrementos incluem-se realidades mais amplas
do que as dos rendimentos, um qualquer aumento.
o Pode-se tributar ganhos realizados e ganhos não realizados, que resultam do
aumento do balanço.
è O princípio da capacidade contributiva implica que haja uma tributação do
rendimento global, por conseguinte, se houver parcelas de rendimento que não são
tributadas não se respeita o princípio da capacidade contributiva, pois uma pessoa
que não tenha essa parcela de rendimento vai ser tributada da mesma forma que
uma pessoa que tem, o mesmo rendimento dependente da mesma fonte vai gerar
tributações diferentes. Assim, devíamos tributar tudo o que é rendimento, mas só o
que é rendimento. A maior parte dos Códigos não diz o que é o rendimento, por
razões históricas e técnicas.
è O nosso Código não encontra uma noção geral de rendimento, nem normas
específicas para a tributação de todo o rendimento.
o Se vender o meu telemóvel no olx, uma venda em segunda mão, isso é
tributado? Artigo 9º da categoria G não diz designadamente, logo, é taxativa,
as mais-valias estão no artigo 10º. Resta ver a categoria B, onde se fala de
rendimentos comerciais, pois a categoria B não tributa só atividades, também
tributa atos isolados, segundo o artigo 3º nº3, é um ato que se pode tornar
numa atividade, tem essa potencialidade.
§ Há um consenso em Portugal de que os bens em segunda mão não são
tributáveis. É preciso ter em conta o valor de aquisição e de realização, a
inflação, tendo que atualizar. Engloba-se apenas 50%, porque o imposto é
progressivo, para evitar que se apliquem as taxas mais elevadas do IRS,

Rebeca Louro - 2018 42


amaciando o peso do imposto, por o rendimento ter sido obtido de uma só
vez (winful gain), engloba-se apenas metade, não é como se ao rendimento
tivessem sido aplicadas taxas dos anos anteriores. É uma forma de
compensar o contribuinte pelo facto de ter um rendimento excessivamente
concentrado no tempo. Esta é a solução adotada pelo nosso legislador.
o Compro um quadro da Paula Rêgo 1.000.000€ e uns anos depois vendo por
2.000.000€, posso? Pode ser um ato comercial que se torna numa atividade,
mas houve uma valorização.
§ ¹ rendimento comercial quando se compra há intenção de vender,
categoria B, é uma fronteira ténue.
o Nos EUA questiona-se muito se a venda de bolas de baseball apanhadas nos
jogos e assinadas podem ser tributadas.
è Quando há uma capacidade contributiva com falhas, com buracos, quando há uma
zona não tributada gera satisfação dos agentes económicos (insatisfação dos
agentes morais), que irão tentar maximizar os rendimentos nessas zonas não
tributadas, incentiva a comportamentos desviantes. Por isso é que uma tributação
global dos rendimentos tem essa vantagem, na tributação empresarial a visão do
rendimento é mais global, mas nas pessoas singulares, por questões culturais, de
eficiência e praticabilidade, é mais difícil, há sempre buracos.
è Houve em 2000 uma reforma fiscal que pensou fazer isso, tornar a categoria G numa
cláusula residual, incluindo, por exemplo, as bit coins, que agora se discute muito,
porque não há norma de incidência, o Código não está preparado para coisas
novas se não tiver uma cláusula geral, se tiver uma cláusula geral está preparado
para tudo, embora gere incertezas.
è Os incrementos patrimoniais incluem mais-valias e ganhos injustificados – artigo
9º.
è Não é residual, o que se tributa são os ganhos não justificados fixados nos
termos dos artigos 87º e seguintes da LGT, é a aplicação de métodos indiretos,
os casos em que o contribuinte, por exemplo, declara o salário mínimo e, depois, as
finanças vêm a sair que tem uma grande casa e um grande relógio, então, as
finanças vêm tributar por ganhos indiretos, a menos que comprove a origem
daquele património ou é tributado por métodos indiretos, a LGT, em certos
casos e em quanto a certas manifestações de fortuna, estabelece um rendimento
presumido, que pode ser ilidido.
o Só quanto às mais-valias é que há dedução específica, estão no artigo 43º,
o que fica de fora são os ganhos injustificados, cujo rendimento é fixado
pela Administração, perante uma situação de incumprimento do contribuinte,
não faria sentido vir fazer uma dedução específica.
è A subcategoria mais importante da categoria G são as mais-valias, que estão no
artigo 10º, “constituem mais-valias os ganhos obtidos”. Aufere-se uma mais valia
quando se está perante um ganho fortuito, mas tem que haver uma aquisição e uma
realização, nem todas as mais valias são tributáveis só as do artigo 10º, princípio
da tipicidade, as que resultem de imóveis e de partes sociais.

Rebeca Louro - 2018 43


è No nº4 do artigo 10º diz-se que como se aufere o rendimento, o que é tributado, a
saber, o valor da diferença entre o valor de aquisição e o valor de realização, a
mais-valia é um saldo líquido. O nº5 diz o que não é tributado, estabelecendo
condições cumulativas:
o Os imóveis que se vende e compra têm que ser para o mesmo fim, se vender
um imóvel de férias para comprar uma casa para residência permanente ou ao
contrário, não há exclusão da tributação, mas se vender uma casa de residência
e comprar uma casa para residência há lugar à exclusão da tributação da mais
valia. Há uma equivalência patrimonial, reinvestiu-se numa coisa do mesmo
valor, se comprar uma casa de 200.000€ e vender a minha por esse valor,
embora há 10 anos valesse menos, a casa é igual, porque a casa comprada
também valia menos há uns anos, as pessoas precisam de uma casa para viver;
mas se só se reinvestir metade, tributa-se proporcionalmente a metade
que se ganha, comprei uma casa só de 100.000€, nº7; se se pagar com o
dinheiro do Banco tributa-se a totalidade do ganho; se reinvestir mais não
se tributa nada porque teve que pôr mais dinheiro seu, como uma casa de
1.000.000€. Neste artigo o Código olha para as pessoas como uma empresa
que têm um balanço.
o A escritura de compra e venda não tem que ser feita no mesmo dia. O
reinvestimento da mais valia exclui a tributação dessa se for efetuado nos 24
meses anteriores e 36 meses posteriores, ou seja, posso já ter comprado a
casa antes de vender a outra casa, ou posso comprar a casa só depois de
vender a outra casa, posso ter comprado a casa há dois anos ou nos três
anos posteriores à venda da outra casa.
o A pessoa tem mesmo que ir viver para lá, se não, não há lugar ao benefício,
as Finanças verificam isto desde logo porque as pessoas têm que alterar a sua
morada nas finanças, ou seja, passar o seu domicílio fiscal para o imóvel que
adquirem, e podem ser chamadas provar isso com outros meios de prova, como
contas da luz e da água.
§ A conjugação destes números diz que se alguém vende uma casa e compra
outra para viver, não paga o IRS.
è A mais-valia mais comum é a resultante da alienação de imóveis, do direito de
propriedade ou outro direito real sobre o imóvel, artigo 10º nº1 a).
è A maior parte dos litígios judiciais e administrativo do IRS prendem-se com esta
categoria, que é a que tem menos formas de cobrança do IRS, é uma categoria
complexa por si, há incentivo à fraude, porque ou é 0 de tributação ou tributação
total.

Rebeca Louro - 2018 44


Deduções

è Artigo 42º e seguintes.


è Importante olhar ao artigo 43º nº2 e 3, porque há casos em que apenas metade da
mais-valia é englobada, “por residentes a mais-valia é apenas considerada em 50% do
seu valor”.
è A mais-valia é a diferença entre o valor de realização e o valor de aquisição, quando
se apurar esse valor, só se tributa metade dele, não se devendo aplicar uma taxa de
50%, isso é errado: valor de realização é o valor da contraprestação, o artigo 44º20 é
uma norma anti abuso (casos de simulação, de comprar por um valor real e na escritura
declarar mais baixo, da avaliação, para fugir às taxas da SISA e do IMT, o imposto que
se paga quando se adquire o imóvel, o que se descobria pelo saldo das contas
bancárias, que durante muitos anos eram inatingíveis, devido a uma visão absoluta do
sigilo fiscal, representavam a intimidade das pessoas, mas em 1998 e 1999 isso mudou),
o valor de aquisição é o valor de aquisição a título oneroso, mas o dinheiro muda quando
o tempo passa, por isso o valor tem que ser corrigido pelas tabelas de correção
monetárias, tem que se pôr o valor com a atualização da inflação de hoje, artigo 50º.
è Não devemos esquecer também o nº3, só se tributa metade, porque tem a ver com
a estrutura progressiva das taxas do artigo 68º, esse imposto com essa estrutura
penaliza comparativamente rendimentos que ocorrem concentrados num exercício, de
uma só vez, ao nível da atuação. Quando se concentram rendimentos e existem taxas
progressivas, isso aumenta o imposto comparativamente a uma taxa proporcional
dividida em vários anos, ou seja, o imposto que se pagaria ao longo desses vários anos
não seria igual ao que se aplicava num só ano, por isso os Códigos que têm taxas
progressivas, sempre que detetam uma anormal concentração de rendimentos,
atenuam a progressividade, é uma lógica semelhante ao splitting. Engloba-se apenas
50%, é uma regra de simplificação. Pode-se atenuar a progressividade de outra forma,
não englobando nada e ter uma taxa diferente das normais, mas não é o que se faz.
Não se trata de um benefício, mas sim de uma tentativa de não ter um malefício.
è O PSD propõe, e é o regime dos EUA, que haja taxas diferentes para tributar as mais-
valias, ou seja, as mais-valias especulativas ou de curto prazo são tributadas a uma taxa
superior, mas na prática são tributadas à taxa normal e as mais-valias mais longas têm
um regime de atenuação.
è Por fim, nas deduções específicas podem ser deduzidas as despesas e encargos que
tenham contribuído para a valorização do imóvel, somando-as ao valor de
aquisição, nos termos do artigo 51º, desde que comprovadamente realizadas, ou
seja, desde que haja fatura dessa mesma despesa ou encargo.

20
Este artigo tem uma válvula de escape, diz que se o valor patrimonial tributário for
superior, é esse que conta, este valor é o valor que se dá tendo em conta as características
relevantes para a determinação do imóvel, normalmente é abaixo do valor de mercado, é
um valor que serve de base ao cálculo do IMI.

Rebeca Louro - 2018 45


Tributações

è As mais-valias imobiliárias são tributadas à taxa normal, mas só sobre metade


e não sobre a totalidade21.
è As micro e pequenas empresas quando são vendidas e as mais-valias
imobiliárias que não de habitação própria, alienação de quotas de
participações sociais de pequenas e médias empresas (artigo 10º nº1 b) e 43º
nº3), só 50% da mais-valia é que é tributada, se não for nenhum destes casos,
tributa-se 100% da mais-valia.
o Exemplo: o saldo da venda e compra de um imóvel é apenas considerado em
50% do seu valor, mas temos que corrigir o valor da atualização: em 2008 o
coeficiente de atualização é de 1,08%, as quotas foram compradas 10 anos
antes, em 2008 pagou 5.000, é o valor de aquisição, x 1,08 = 5.400€, e o valor
de alienação em 2018 é de 50.000, então 50.000 – 5.400 = 44.600€. É preciso
calcular os 50% de 45.600, que é de 22.300€.
è Poderíamos aplicar uma taxa especial de 28%, do artigo 72º, há algumas que
estão sujeitas a tributação autónoma, como as gorjetas, há outras que podem
ser englobadas, segundo o nº8, mas se aplicarmos a taxa especial poderá
acontecer que ao rendimento das restantes categorias se aplicará por exemplo a
taxa mais baixa de 14,5%. Mas convém optarmos por englobar.

Há normas no Código do IRS inconstitucionais?

è Artigo 104º, o IRS não é um imposto único e progressivo (há pessoas que não
pagam IRS porque têm rendimentos muito baixos, este imposto também tem em
conta a eliminação as desigualdades), por exemplo nas mais-valias não é único e
progressivo a taxa de 28% é igual para todos os rendimentos, seja de 100€ ou de
1.000.000€. É um problema de todas as taxas especiais, rendimentos prediais e de
capitais, são tributados à parte e têm uma taxa de 28%, portanto, não é único e
progressivo, porque há diferentes categorias que podem até não ser todas
englobáveis, são tributadas de forma diferenciada e não de forma progressiva, não
há um imposto que aplica com as mesmas taxa a todos os rendimentos – o objetivo
de legislador foi incentivar essas áreas de mercado.
è Deduções à coleta têm limites, a personalização do imposto não é levada a sério
como deviam ser (não tem em conta o número de dependentes, só no artigo 78º-

21
Caso prático sobre mais-valia de venda de uma casa: temos que perceber se é uma mais-
valia, se há investimento (se não houver dados sobre a compra de outra casa não
inventar!), calcular a mais-valia, corrigir o valor de aquisição, ver se há despesas
dedutíveis, ver essa mais-valia, perceber se é reinvestida total ou parcialmente, se for só
parcialmente ou não reinvestida, pega-se nela e aplica-se o artigo 43º nº2, divide-se por dois,
engloba-se junto dos outros rendimentos líquidos apenas metade dessa mais valia, aplicando-
se a taxa geral, não há taxa especial para a mais-valia imobiliária.

Rebeca Louro - 2018 46


A), não correspondem às necessidades dos contribuintes, também não está de
acordo co o artigo 104º a Constituição.
è Deduções específicas, da categoria A e o regime simplificado, por exemplo.
è O artigo 73º aplica-se uma taxa de 50% quando há uma despesa não
documentada, despesas com automóveis, viagens, etecetera. Está-se a
tributar despesas, estas deviam ser tributadas a quem recebe os ganhos dessas
despesas, mas pode haver rendimentos nesses gastos das empresas. A capacidade
contributiva em causa é a de quem beneficia deste gasto, para a empresa é um
custo, contudo, ao atribuir vantagens a terceiros, que não são tributadas nessa
esfera, porque são despesas não documentadas, é tributada na esfera da empresa,
é um mecanismo de intermediação, embora haja repercussão. Há um acréscimo de
capacidade contributiva do terceiro, que vai ser tributada na capacidade contributiva
da empresa.
o Hoje não se aplicam apenas a situações em que não se consegue identificar o
beneficiário, foi perdendo esta função originária de reação à não declaração de
despesas, o que desmotiva este tipo de despesas, por motivos de justiça fiscal
de capacidade contributiva, pelo facto de não haver possibilidade de tributar na
esfera do terceiro (sem ser das despesas não documentadas, pode ser
considerada uma medida extrafiscal) – repercussão do imposto,
economicamente quem suporta é o beneficiário, o terceiro, porque assim a
empresa retrai e ajusta estas despesas, devido à carga de imposto sobre essas
despesas, economicamente repercute, porque desmotiva este tipo de despesas
da empresa.
o O legislador, via de regra, tenta desmotivar o pagamento em fringe benefits,
porque são complicados de controlar, quando é para admitir pagamentos em
espécie ou remunerações complementares só há dois ou três tipos que o
legislador tenta enquadrar (ex.: os subsídios de refeição), há certos pagamentos
que o legislador admite, o resto tenta desmotivar.
o Está no IRS e não no IRC, porque os artigos 2º e 73º aplicam-se a empresários
em nome individual, mas há exatamente o mesmo mecanismo no IRC, atos de
tributação autónoma. Se for um agente que está na categoria B e faz
pagamentos deste tipo, aplicam-se estes artigos, se for uma pessoa coletiva
que faz pagamentos deste tipo, aplica-se o Código do IRC, mas há exatamente
o mesmo mecanismo.
o De facto, há casos em que estes rendimentos são tributados na esfera do
beneficiário e, apesar disso, têm uma taxa de tributação autónoma, são,
portanto, tributadas na esfera da empresa, caso do carro da empresa, o
legislador não tem este cuidado.
o A constitucionalidade da forma que estas taxas têm hoje é questionada. Hoje
são uma espécie de imposto mínimo sobre as empresas, independentemente
de terem lucros ou gastos, porque se foram alargando muito, acabando por
pagar sempre à parte estas taxas de tributação autónoma. É um mecanismo à
parte, mas que nem sempre significa que se vai atrás da capacidade
contributiva do beneficiário, porque a função deste artigo foi desvirtuada.

Rebeca Louro - 2018 47


Benefícios Fiscais
è Os benefícios fiscais traduzem uma ideia de vantagem que é atribuída, de forma
subjetiva, a alguma entidade ou atribuída, de forma objetiva, a algum tipo de
operações. Servem para induzir, incentivar ou desincentivar determinado
comportamento, acabando por derrogar aquilo que é o princípio da capacidade
contributiva, sendo, por isso, uma exceção, mas estando sempre sujeito àquilo que
é o princípio da proporcionalidade22.
è No sistema fiscal há normas:
o Procedimentais e normas processuais, parte adjetiva da fiscalidade, que se
trata das garantias dos contribuintes.
o Com finalidade fiscal, para obtenção de receita.
o Com finalidade extrafiscal: intenção do legislador, não apenas de obtenção
de receita, mas o objetivo de incentivar e modelar comportamentos, de os
promover, e neste sentido extrafiscal podemos encontrar normas de
agravamento (ex.: imposto sobre o tabaco, o álcool) e de desagravamento
(benefícios fiscais).
è Há uma derrogação daquilo que é a tributação-regra, das regras gerais de
tributação, que no âmbito do IRS tributa consoante a capacidade contributiva –
alguns autores dizem que se trata de um tributo normal e não de uma exceção, face
ao que é a tributação-regra. Mas há situações em que é difícil saber o que é a
tributação-regra:
o Os benefícios fiscais estão compreendidos na reserva relativa, artigo 103º da
Constituição, porque podem derrogar o princípio da igualdade, pois acabam
por estar compreendidos naquilo que é a incidência do imposto (são ainda
elementos do imposto), a Constituição clarifica que tudo o que seja
agravamento ou criação de impostos, em sentido lato, é competência da
Assembleia da República, que tem mais representatividade do povo, mas
também tudo o que seja desagravamento de impostos, ou seja, tudo o que mexa
com a quantificação e a necessidade de pagar imposto, deve ser da
competência da Assembleia da República. Ainda assim, o legislador está
limitado, ou os benefícios fiscais também estão abrangidos pelo princípio da
proporcionalidade, pois há aquela derrogação do princípio da igualdade
tributária.
o As deduções específicas não são benefícios fiscais porque são o próprio recorte
do imposto, não uma exceção, são uma forma de consagrar o próprio imposto.
o Por exemplo, a aquisição de imóveis está sujeita a IMT, quando a lei aprova um
benefício fiscal e diz que os prédios reabilitados podem ficar isentos de IMT,
trata-se de um benefício fiscal com a intenção de promover a reabilitação da
estrutura dos prédios. Então e as sociedades dedicadas à compra e venda de
imóveis, que compram e o vendem num prazo de 3 anos não ficando sujeitas a
IMT, trata-se de um benefício fiscal? Haveria um segmento das sociedades

22
Se sair em teste ou exame, para dar mais corpo à resposta, deve-se distinguir o que são
desagravamentos estruturais, incentivos fiscais e benefícios fiscais.

Rebeca Louro - 2018 48


portuguesas que, para além do IRC sobre os seus lucros, teriam mais um
imposto sobre a sua atividade de revenda de imóveis, o IMT, assim permite-se
que essas empresas não suportem uma tributação agravada, só por força
daquilo que é transacionado, é uma exceção apenas para permitir alguma
neutralidade quanto ao objeto, ainda está dentro da tributação-regra.
o A dedução à coleta de despesas de educação e saúde ou educação? A
Constituição e o Estado Social presumem que temos direito à saúde, educação,
vida condigna, são princípio estruturantes da sociedade, logo, estas despesas
são consideradas constitucionalmente adequadas, são as despesas que as
pessoas devem incorrer e reduzem o rendimento contributivo (ex.: ir ao médico),
há outras despesas que não são despesas essenciais, de acordo com os
nossos parâmetros constitucionais (ex.: o capacete para a mota). Se há uma
erosão da base tributável ou da coleta por força da despesa que, nos termos da
Constituição, é do direito de cada um, então, deve ser deduzida, mas não
sucede relativamente a tudo, a lógica pode ser diferente e não ser ainda um
benefício fiscal, por exemplo se comprar um computador, traduz-se num gasto
necessário para a obtenção do rendimento. Os benefícios fiscais são
exceções ao princípio da capacidade contributiva, com um objetivo
extrafiscal, mais político, as deduções são um reflexo dessa capacidade
contributiva. Se uma norma beneficia o contribuinte temos que ver se
exceciona ou não a tributação-regra. O splitting também não é um benefício,
visa apenas não prejudicar os contribuintes que declaram o IRS em conjunto.
Então, todos estes casos não passam de exclusões tributárias ou
desagravamentos estruturais, mas que não são benefícios fiscais.
§ Há quem diga na doutrina que esta classificação não faz sentido, porque
são meras características dos impostos, recortes dos impostos, não se
paga por força dos princípios constitucionais.
è Existem algumas exclusões ou desagravamentos em sentido lato:
o Desagravamentos fiscais stricto sensu, exclusões fiscais que não são
benefícios fiscais.
o Benefícios fiscais lato sensu, são muitas vezes aprovados com o intuito de
estimular e incentivar, mas no ponto de vista prático o estímulo acaba por não
ser forte o suficiente para modelar o comportamento:
§ Incentivos Fiscais: o objetivo da norma é incentivar, motivar ex ante, antes
da decisão, é dinâmico. Muitas vezes, quando não é forte o suficiente,
acaba por resultar num benefício fiscal stricto sensu, beneficia, mas não
estimula o comportamento pretendido.
§ Benefícios Fiscais stricto sensu: o objetivo é beneficiar a situação,
maximizando-a, mas não incentiva ou estimula o comportamento, ex post,
é estático.
• Benefícios fiscais objetivos: não desagrava a pessoa em todos os
seus impostos, mas naquela situação em concreto.
• Benefícios fiscais subjetivos: beneficia determinados contribuintes.

Rebeca Louro - 2018 49


è Estatuto dos Benefícios Fiscais, artigo 2º nº1 e 2:
o No nº1, comprime-se o princípio da capacidade contributiva, aquilo que é um
objetivo fiscal, se houver um objetivo extrafiscal que merece uma tutela igual ou
superior – princípio da proporcionalidade.
o No nº2 falam-se de mecanismos através dos quais os benefícios fiscais podem
operar, o que não significa que todos eles sejam benefícios fiscais (ex.: nem
todas as deduções à coleta são benefícios fiscais).
è Existem situações de exclusão tributária, segundo o artigo 3º nº1, de não sujeição
tributária, o que não significa que sejam benefícios fiscais, porque nem sequer se
entram nos impostos, fica-se logo de fora porque não há incidência sequer, há, pois,
essa exclusão tributária, por exemplo o artigo 12º do CIRS.
è Ao passo que os benefícios fiscais podem ser automáticos (decorrem diretamente
da lei, sem necessidade de intervenção administrativa) ou dependentes de
reconhecimento (o reconhecimento pode ser feito por ato administrativo ou por
contrato, o que é uma situação excecional).
è Os benefícios fiscais têm que ser criados por lei, segundo artigo 103º nº2 da
Constituição. Há uma sujeição parcial à constituição fiscal (reserva de lei) e uma
sujeição parcial à constituição económica (ex.: flexibilidade e proporcionalidade).

Mecenato
è É uma prática de cujo nome deriva de Mecenas, o patrono das artes, por
conseguinte, é uma prática de incentivo às artes e cultura. No nosso ordenamento
jurídico tem um significado mais amplo e mais ligado àquilo que é conhecido
internacionalmente como filantropia, portanto, não só às artes, mas também à
ação social, educação, saúde, desenvolvimento da ciência, do desporto,
etecetera.
è O Estado incentiva às artes, desde logo através de entidades não lucrativas, por
exemplo Associações, que não têm como objetivo a distribuição de lucros, são
entidades com substrato pessoal, que não prosseguem o lucro, assim, financiam-
se de outra forma, através de patrocínios, quotas dos associados, subsídios
(ex.: banco alimentar, prossegue os seus fins através de donativos em espécie).
è O Estado cria estímulos para que os privados também financiem estas
entidades não lucrativas. O Estado não quer prosseguir diretamente toda a obra
social em Portugal, mas no fundo o nosso Estado Social valoriza esses princípios.
Por isso, a Constituição fala de um terceiro setor, que não é público nem se
movimenta por motivos puramente lucrativos (o mercado), são entidades privadas
que, de certa forma, promovem algumas funções ou que são públicas ou que
respeitam alguns valores que são pretendidos ou valorizados pela nossa sociedade.
è Uma forma de tentar estimular o mercado a promover estas entidades é o mecenato,
que funciona através de donativos fiscais, é unilateral em quanto às obrigações,
só uma parte dá e a outra recebe o donativo sem qualquer contrapartida.

Rebeca Louro - 2018 50


o ¹ Patrocínio, há uma sinalagma, há entrega de dinheiro em troca de alguma
coisa, v.g. publicidade.

Em que consiste o regime do mecenato


è Noção de donativos, artigo 61º do Estatuto dos Benefícios Fiscais.
è O direito fiscal tem algum mecanismo à sua disposição para beneficiar ou financiar
entidades não lucrativas que têm fins meritórios? Através dos benefícios fiscais,
em particular, dos incentivos fiscais, colocando à disposição dos mecenas a
possibilidade de dar benefícios fiscais, conduzindo ao estímulo da entrega.
o São entregas que podem ser em dinheiro ou em espécie, se bem que no IRS
só são admitidos donativos em dinheiro, a menos que sejam feitos por pessoas
singulares que caiam no âmbito da categoria B, que tenham contabilidade
organizada, a determinadas entidades listadas quanto à natureza, objetivos e
reconhecimento que têm, por exemplo, de utilidade pública, que estão nos
artigos 62º, 62º-A e 62º-B do Estatuto dos Benefícios Fiscais, podem ser
feitos em espécie.
o Não são considerados donativos as entregas de serviços, o voluntariado não é
um donativo, nos termos do artigo 61º do Estatuto dos Benefícios Fiscais,
com uma exceção, que é o mecenato de recursos humanos, no âmbito do
mecenato científico e cultural, as prestações de serviços não são consideradas
donativos.

Existem benefícios em sede de IRS?


è Este incentivo dos donativos, em sede de IRS, funciona na dedução à coleta, artigo
63º do Estatuto dos Benefícios Fiscais e 78º nº1 k) e nº7 do Código do IRS. A
dedução à coleta é um mecanismo que pode servir para consagrar o princípio da
capacidade contributiva, a pessoalização do imposto, mas também pode servir para
consagrar um benefício fiscal. O donativo é uma das situações em que há uma
dedução à coleta que é efetivamente um benefício fiscal.
è Na esmagadora maioria dos países, os donativos não são dedutíveis sem limites,
em Portugal:
a) No que respeita às pessoas singulares, apenas se deduz à coleta 25% da
quantia atribuída (ex.: se faço um donativo de 100€, apenas se deduz à
coleta 25€), mas se não houver coleta não há dedução, no caso de ter
rendimentos baixos, este suposto benefício não opera.
b) As limitações de que este artigo 63º do Estatuto dos Benefícios Fiscais
fala são as limitações quanto ao valor absoluto, só são admissíveis em caso
de mecenato estatal (ex.: fazer um donativo ao Estado, às Autarquias Locais,
aos Municípios, Fundações em que o Estado ou Autarquias Locais
participem na quotização inicial, ou a Fundações Privadas em que tenham

Rebeca Louro - 2018 51


uma cláusula nos Estatutos, em que os bens revertem para o Estado, em
caso de extinção da Fundação), deduz-se 25% sem limite. Nos restantes
casos apenas se deduz 25% até ao limite de15% da coleta (ex.: Pessoa
Coletiva de Utilidade Pública, ou uma IPSS).
c) Consagra o princípio de não existir os chamados double B, em sede de IRS
pode haver empresas em nome individual, que deduzem custos, se não
utilizar o mecanismo da contabilidade organizada. No mecenato, no caso das
empresas, também funciona ao nível dos custos, enquanto que nas pessoas
singulares, fora de atividades empresariais, o mecenato funciona através da
dedução à coleta, no caso das empresas funciona numa dedução de custos
à matéria coletável. Portanto, se tiver contabilidade organizada pode
deduzir-se o donativo como custo; se tiver contabilidade simplificada,
ou não estiver sequer na categoria B, deduz-se à coleta.
è Também são dedutíveis à coleta donativos conseguidos em Igrejas, instituições
religiosas, pessoas coletivas de fins não lucrativos pertencentes a convicções
religiosas, ou por ela instituídas, sendo a sua importância considerada em 130%, é
uma majoração, ou seja, sem prejuízo de fazer um donativo de 100€, o montante
considerado para efeitos de dedução é de 130€. Todavia, por força da liberdade
religiosa, este regime foi estendido a outras convicções religiosas.
è Há limites absolutos às deduções à coleta, artigo 78º nº7 do CIRS. Na listagem
das deduções à coleta à essa mesma listagem e um dos tipos de deduções à
coleta são os benefícios fiscais. Também aí temos um terceiro limite.
è Em conclusão, em sede de IRS também há benefícios fiscais, sendo que alguns
deles, como os donativos, funcionam através de deduções à coleta, segundo o que
a doutrina tradicional diz.
è Hoje em dia é uma questão controversa saber se a dedução à coleta de donativos
a entidades não lucrativas, cuja existência é obrigatória e estimulada pela
Constituição, não é também regime-regra, porque se há entidades não lucrativas,
elas têm que se financiar, se há obrigações constitucionais, não só de promover
determinados fins sociais, mas também de manter estas entidades não lucrativas, o
terceiro setor está previsto na Constituição e é até uma das normas que não
pode ser derrogada em revisões constitucionais, há mesmo disposições
constitucionais que dizem que o Estado se desenvolve com a colaboração do
setor social. O facto de haver um regime fiscal de incentivo ao mercado, ao
financiamento destas entidades, pode-se pensar nisto se não como um elemento
mecânico, será verdadeiramente um benefício fiscal ou ainda o regime-regra?

Rebeca Louro - 2018 52


Tributação de Empresas (IRC)
è Podemos falar da tributação da categoria B ou do IRC.

Sujeitos Passivos
è Os sujeitos passivos normalmente são algumas empresas (porque também podem
ser tributadas em sede de categoria B), mas a resposta mais intuitiva serão as
pessoas coletivas, incluindo algumas desprovidas de personalidade jurídica,
embora o Código do IRC, no artigo 2º, fale em “entidade”.
è Assim é feito porque as entidades são criações do homem, da lei, por isso só
adquirem a personalidade com o registo, não sendo tributadas, haveria um estímulo
a não serem registadas, para não serem tributadas. Também outras entidades sem
personalidade jurídica podem ser tributadas, tais como as heranças jacentes (opção
de política fiscal), as sucursais23 e os fundos de investimento24, portanto, não têm
personalidade jurídica, mas têm personalidade tributária.
è Só são tributadas as pessoas coletivas residentes em Portugal, ou seja,
aquelas que tenham sede (é a residência formal da pessoa coletiva estabelecida
quando a sociedade é constituída, é um conceito relativamente formal) ou direção
efetiva (é um conceito mais substancial, é o local onde a sociedade efetivamente é
gerida e administrada, mas é difícil de saber como determinar esse local25) em
Portugal.
è Estes critérios alternativos servem para evitar a arbitragem internacional, para evitar
que sejam tributados em vários países, estabelecendo-se assim um critério mais
substancial, desta forma atrai-se tributação em Portugal. Em muitas sociedades
obriga muito os sócios e os administradores a irem ao local onde a sociedade se
encontram.
è Estes critérios são simultaneamente alternativos e cumulativos (se bastassem
critérios meramente formais, poderia haver muita arbitragem internacional, as
empresas sediavam formalmente as suas sociedades nos países com tributações
mais baixas, ficando sujeitos à tributação desses países), o que pode gerar uma
situação de dupla residência e, consequentemente, uma situação de dupla
tributação.

23
Representações, uma longa manus, uma extensão de uma pessoa coletiva que tem
residência fora do Estado, e que se desenvolve dentro de um Estado, mas não é uma
pessoa coletiva, a personalidade jurídica é da sociedade e não da sucursal. Esta existência
é muito importante em sede de direito internacional, porque limita ao Estado onde está a
sucursal tributar e, dentro do país, pode ser relevante para efeitos de derrama.
24
Pode ter personalidade jurídica, se for uma sociedade, mas tradicionalmente não têm, terem
personalidade jurídica é uma realidade recentes.
25
Pode-se olhar para as decisões mais basilares e importantes da sociedade, as key decisions,
ou o day to day management, que é a gestão diária, critérios para determinar o que é a direção
efetiva.

Rebeca Louro - 2018 53


Incidência Objetiva
è Artigo 3º.
è O que se tributa nas sociedades que se dedicam, a título principal, a uma
atividade de natureza comercial, industrial ou agrícola, será o respetivo lucro.
è Todavia, as sociedades que não exercem uma atividade lucrativa, à partida, não
exercendo uma atividade lucrativa, pelo menos a título principal, não têm lucro, em
princípio não seriam tributadas pelo lucro, mas, por isso, o Código estabelece um
segundo mecanismo, dizendo que se tributa o rendimento global, portanto, incide
sobre a soma algébrica correspondente aos rendimentos das várias categorias,
consideradas para efeito de IRS, ou seja, as entidades não lucrativas são
tributadas de acordo com o IRS. Os dois Códigos estão relacionados.
o Se houver uma associação que tenha um rendimento predial, o rendimento
líquido será determinado pela categoria F do IRS. Se for uma sociedade, em
princípio uma associação não vai ter rendimentos da categoria A ou H, mas
todas as outras categorias são fontes perfeitamente legítimas de rendimento de
uma associação. É preciso ir ao código do IRS fazer a determinação do
rendimento líquido, um enquadramento, para depois, em vez de aplicar as taxas
de IRS, aplicar-se as respetivas taxas do Código do IRC, continuando em sede
de IRC.

Extensão do Imposto
è Artigo 4º.
è Os rendimentos das pessoas coletivas com sede e direção efetiva em território
português são tributados todos os rendimentos, na sua totalidade, incluindo os
obtidos fora de Portugal, princípio de tributação de base mundial, o chamado world
wide kingdom.
è Para as restantes pessoas coletivas, apenas são tributados os rendimentos
auferidos em Portugal, à semelhança do que acontece com o Código do IRS, tem
que haver uma lista de rendimentos que se consideram ser obtidos em Portugal.
è Por exemplo os rendimentos imputáveis a estabelecimentos estáveis, estes não têm
personalidade jurídica, mas são tratado de forma muito semelhante a uma
sociedade, que quando querem desenvolver a sua atividade fora do país, podem
fazê-lo de três formas: constituem uma subsidiária, uma nova sociedade filha, uma
entidade jurídica diferente noutro país; podem fazer esse investimento direto, sem
qualquer plataforma estável noutro país, ao abrigo da liberdade de circulação ou
prestação de serviços; podem constituir uma sucursal.
è Na esmagadora maioria dos países no mundo só são tributados no âmbito dos
estabelecimentos estáveis os rendimentos gerados por esse mesmo
estabelecimento, que lhe são imputáveis, v.g. a Yamaha produz e vende guitarras
elétricas em Portugal, mas esporadicamente vende diretamente da sua sociedade
na Holanda órgãos eletrónicos também para Portugal, que não são produzidos, nem

Rebeca Louro - 2018 54


comercializados, isto é, não têm qualquer intervenção do seu processo de venda até
ao seu consumidor final da sucursal em Portugal.
è Enquanto que, na maior parte dos países do mundo, só é atraído à tributação de um
estabelecimento estável os rendimentos que lhe são imputáveis, Portugal tem
também um princípio da força de atração mitigada, ou seja, tudo o que sejam
rendimentos da mesma natureza, mesmo que não sejam imputáveis ao
estabelecimento estável, são também atraídos à tributação em sede de
estabelecimento estável. Aquilo que sejam rendimentos da mesma natureza
vendidos pela sociedade mãe, são tributados em Portugal, não só os diretamente
imputáveis ao estabelecimento estável.

Dupla Tributação Internacional


è Se uma empresa americana, com sede em Seattle, vier a Portugal exercer uma
atividade (ex.: uma banda americana vem cá dar um concerto e é explorada por uma
empresa), obtendo rendimentos em Portugal, o que levanta questões de dupla
tributação jurídica internacional26 (quando dois ou mais ordenamentos jurídicos,
ou jurisdições, reclamam poderes tributários sobre o mesmo rendimento, temos que
falar do mesmo exercício jurídico, o período, da mesma pessoa coletiva, sujeito
passivo, com os mesmos rendimentos, objeto, e a mesma tributação, imposto).
o ¹ Dupla tributação económica internacional: não são dois estados a reclamar
poderes tributários sobre o rendimento do mesmo sujeito passivo, é a mesma
massa patrimonial que está a ser tributada duas vezes, mas nas mãos de duas
pessoas coletivas diferentes, como veremos infra.
è Se houver uma norma espelho nos Estados Unidos, o que acontece na situação
inversa? Uma sociedade por quotas portuguesas que vai aos Estados Unidos
praticar a sua atividade (ex.: um concerto de um cantor português explorado por
uma sociedade)? Quando há taxas mais elevadas em causa pode tributar-se mais
de 100% do rendimento, o rendimento fica totalmente consumido por essa dupla
tributação, até porque pode haver várias jurisdições envolvidas na tributação do
mesmo sujeito passivo, vários Estados – há um problema de dupla tributação, tripla
ou mais.
è A dupla tributação jurídica pode acontecer no mesmo local doméstico, por exemplo
situações de estados federais, nos Estados Unidos, é o mesmo país com mais do
que uma jurisdição, situações de tributações infranacionais. Tal como em Portugal,
os Municípios têm titularidades ativas, e até poderes tributários, portanto, têm direito
a um tributo, que é a derrama, que vai buscar o lucro tributável ao IRC e aplicam
1,5%, são os Municípios que, anualmente, estabelecem a taxa até 1,5%, pode existir
concorrência fiscal dentro do mesmo país, porque podem os vários Municípios do
país ter a taxa da derrama diferente. A dupla tributação jurídica também acontece
em cenários nacionais.

26
Pode sair no exame.

Rebeca Louro - 2018 55


è Os cenários de dupla tributação podem ser categorizados em três situações, pode
haver várias fontes de conflito:
o Conflito de residência fonte, sociedade com residência num determinado
país, que obtém um rendimento que tem fonte noutro país, a fonte de
rendimento é outro Estado – conflitos mais comuns.
o Conflito de residência-residência, sobre onde é a verdadeira residência, pode
existir mais do que um país que considera a sociedade residente, caso da sede
num país e direção efetiva noutro, supra.
o Conflito de fonte-fonte, o rendimento é efetivamente obtido num país, outro
país paga pela atividade, mas ela é exercida num terceiro país (ex.: França paga
a Portugal para que o Tony Carreira vá tocar na Holanda).
è Portanto, a dupla tributação é um obstáculo ao comércio jurídico internacional, os
mecanismos para resolver os problemas de dupla tributação jurídica
internacional são:
o Acordos para eliminar a dupla tributação (CDT/ADT), que são celebrados
casuisticamente por cada um dos países, por exemplo, Angola celebrou um
único acordo de dupla tributação com Portugal há pouco tempo e ainda não está
em vigor. Portugal tem uma rede de 80 e tal acordos, mas há países com mais
e menos. Estes acordos são baseados em modelos:
§ Convenção de modelo OCDE (mais conhecido), regras standard para
eliminar a dupla tributação, é uma espécie de comentário, como um código
anotado, que explica como é que os artigos se aplicam, uniformizando a
aplicação\implementação dos Tratados, estas soluções são negociadas
depois caso a caso, mas baseados nesta plataforma estável.
• Estas alocam poderes tributários, ou seja, dizem que aqueles
rendimentos só podem ser tributados naquele Estado da fonte ou da
residência, sendo que uma das jurisdições vê os seus poderes
tributários comprimidos, limitados, não pode tributar.
• Ou ainda pode haver uma situação de tributação cumulativa, é aqui
que os mecanismos de eliminação de dupla tributação podem ser
aplicados, leia-se, o crédito.
§ Modelo da ONU, utilizados por países em vias de desenvolvimento.
§ Modelo dos EUA, utilizado apenas pelos EUA, mais ninguém, que não
esteja a negociar com os EUA, utiliza este modelo.
o Créditos unilaterais, normas domésticas nos Códigos do IRC, no nosso é o
artigo 91º: há uma dedução ao imposto pago em Portugal do imposto pago nos
outros países, desde que se apresente um comprovativo do rendimento e
respetiva fonte, v.g. o cantor e tributado com 19% em França e esses 19% são
deduzidos no imposto português, por exemplo de 21%, pagando em Portugal
apenas um imposto de 2%. Mas se a taxa no outro país for maior que a
portuguesa, temos que olhar aos mecanismos de imputação, que têm diferentes
modelos: o full tax credits e ordinary tax credits. Este último é o que é geralmente
utilizado, só se consegue deduzir até ao máximo de dois valores, deduz-se a
totalidade do imposto pago no estrangeiro, mas apenas se for menor do que
aquele que iria pagar sobre esse rendimento em Portugal (ex.: se a taxa de

Rebeca Louro - 2018 56


imposto em Portugal for de 21% e em França 25%, só se consegue deduzir até
21%).
§ Há uma opção de política fiscal internacional, CIN CEN, capital import
neutrality e capital export neutrality, que é entre alinhar a carga tributária
dos residentes que desenvolvem atividades lá fora, pela carga fiscal dos
não residentes ou dos residentes, neste caso do ordinary tax credit o que
se faz é com que o meu residente pague mais imposto do que as
sociedades com atividade em Portugal, mas a pagar o mesmo imposto que
a sociedade que é residente em França.
§ Este mecanismo do crédito também funciona nas convenções, nas
situações em que existe tributação cumulativa.
o Isenção, o rendimento obtido no estrangeiro não é tributado em Portugal.
o Diretivas Europeias.
è Contudo, há situações efetivamente de dupla tributação internacional, porque não
há acordos para eliminar a dupla tributação internacional ou outro mecanismo.
Também há cenários em que países signatários da convenção não estão de acordo
quanto à interpretação ou aplicação dos factos do Tratado, assim, nem sempre há
entendimento quanto ao rendimento em causa, podendo um país reclamar que
incide sobre uma categoria e arrogam a si a competência de tributação, enquanto
que o outro país diz que é de outra categoria, portanto a competência é sua.
è A dupla tributação não é proibida, embora não seja desejada.

Determinação do Lucro Tributável e da Matéria Coletável


è Para se obter o lucro tributável vai-se deduzir os gastos, relacionados com a
atividade, dos proveitos, artigo 15º e 17º.
è Deduz-se também os prejuízos e benefícios fiscais, eventualmente existentes, que
possam ser deduzidos àquele lucro, artigo 23º.
è Saber o que são gastos dedutíveis para efeitos de IRC, artigo 23º nº1, já foi objeto
de muitas teses de mestrado e doutoramento, a jurisprudência foi adotando
diferentes conceções:
o Só eram dedutíveis os gastos ligados à obtenção direta do rendimento.
o O gasto tem que estar ligado à obtenção de rendimento, embora não tenha que
ser diretamente.
o A Autoridade Tributária tentou forçar interpretações de gastos normais, a
normalidade dos gastos.
o Quem tem que saber se o gasto é necessário é o sujeito passivo, a Autoridade
Tributária não tem que se meter na tarefa de administração das empresas
(Tomás Cantista Tavares), portanto, o limite são os gastos abusivos do sujeito
passivo, é o único juízo que a Autoridade Tributária tem que fazer, v.g. comprar
um computador de 1.000.000€ para usar no trabalho, na atividade, não é
abusivo, mas se for para dar ao filho já é, tem que ser afetado ao fim da
empresa.

Rebeca Louro - 2018 57


Prejuízos Fiscais
è Artigo 52º.
è Pode acontecer que, num determinado exercício, se gaste mais do que se ganha.
Então, por força do princípio da capacidade contributiva, existe uma comunicação
dos exercícios que permite ao prejuízo que não se utilizou naquele ano ser utilizado
nos exercícios seguintes para deduzir aos rendimentos dos anos seguintes, dos
anos subsequentes (reporte de dívidas).
è Mas hoje em dia não se pode anular 100% dos lucros, por força da crise, só 70%.
è Importa reter que os prejuízos só podem ser reportados para a frente, para 5
exercícios posteriores ou, no caso das PME (pequenas e médias empresas), para
12 exercícios.

Taxas de IRC
è A taxa de IRC normal é de 21% no continente, a esta taxa acresce a derrama
estadual (uma progressividade que é feita do IRC, para os lucros tributáveis acima
de 1.500.000€, há uma taxa progressiva que acresce aos 21%), e a derrama
municipal, fixada anualmente pelos municípios até 1,5%.
è Quando são entidades não residentes a retenção na fonte é de 25%, a menos que
seja reduzida por força da aplicação de uma Convenção para a eliminação de dupla
tributação.

Dupla Tributação Económica Internacional


è Mesma massa patrimonial tributada duas vezes, mas nas mãos de dois
sujeitos passivos diferentes.
o Caso de uma empresa que ganhou 1.000.000€, que vai ser tributado em sede
de IRC, onde o IRC a pagar são 210.000€, ficando com 790.000€ para tributar
em sede de dividendos – quando são distribuídos para a pessoa singular, é a
mesma massa patrimonial que já foi tributada que será tributada num imposto
diferente, a 28%, o IRS dá duas soluções para isto: ou tributa a uma taxa
liberatória de 28%, ou engloba-se apenas 50% desses dividendos, para evitar
a dupla tributação económica. Mas isto pode multiplicar-se, pode haver duas
sociedades ou mais, desse milhão de euros, já só tem 450.000€, podendo
continuar, as estruturas multidimensionais são deste tipo, no limite, chegaria
perto do zero (0). A base tributável acaba por ser erodida.
è Também existem mecanismos que permitem eliminar esta dupla tributação
económica internacional, artigo 51º:
o Alguns deles eliminam a possibilidade das outras pessoas coletivas tributarem,
verificados certos requisitos, no caso supra, a sociedade que recebe o dividendo
é tributada e a segunda sociedade, no momento em que obtém o rendimento,
não tributa a pessoa singular.

Rebeca Louro - 2018 58


Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA)

è O imposto sobre o valor acrescentado é um imposto que apenas incide sobre o


valor que é acrescentado em cada fase de produção, o sujeito passivo só entrega
ao Estado o valor do IVA sobre aquilo que ele acrescentou ao bem.
è Trata-se de um imposto que incide sobre todas as transmissões de bens e
serviços.
è É um imposto de matriz comunitária, nasce da Diretiva do IVA. Quando os países
aderem à União Europeia aderem ao IVA.
è O IVA é um imposto tão bom que acaba por ser utilizado noutros países que não
são da União Europeia, como na Índia. A desvantagem é que é um imposto um
pouco complexo.
è Há várias formas de tributação do consumo, mas no nosso IVA funciona através do
método das faturas (método subtrativo indireto, da dedução), que permite que o
imposto que vai sendo acrescentado em cada uma das fases da cadeia de
produção, mas simultaneamente deduzido naquilo que são os valores de IVA
suportados, o que significa que o valor não se vai acumulando, de forma a que não
seja acrescentado, apenas o consumidor final suporta o encargo do IVA, porque já
não pode deduzir.
è Se existisse um imposto em todas as fases da cadeia de produção que não pudesse
ser deduzido, significaria que iria haver uma tendência da organização das
sociedades por uma concentração vertical, concentrando numa só entidade a
produção.
è O esquema geral de cálculo tem que ficar sabido.

Incidência Objetiva

è O artigo 1º refere-se à incidência objetiva, a alínea a) é a mais importante de todas.


Esta refere-se às operações internas, domésticas, isto é, à transmissão de bens
e às prestações de serviços. Mas também incide sobre outras duas realidades nas
outras alíneas, as importações (mercadorias são trazidas para dentro do território
aduaneiro da comunidade) e as operações intracomunitárias, (uma espécie de
importações e exportações feitas dentro do território aduaneiro, da União Europeia,
já não se designam por importações e exportações desde a constituição do mercado
interno, mas são tratadas pelo regime das operações intracomunitárias).
è Concentrando-nos na alínea a), que fixa os requisitos ou condições para haver
incidência do IVA: transmissão de bens ou prestações de serviços; a título
oneroso; realizado no território nacional; por sujeito passivo de IVA, agindo
enquanto tal. Se tudo isto estiver verificado temos a incidência do imposto, mas o
facto de estarem preenchidos os pressupostos, ou seja, o facto de uma operação
estar sujeita a IVA, não significa que seja tributada efetivamente, porque pode valer
alguma isenção. Se não houver nenhuma isenção, o sujeito passivo é tributado,

Rebeca Louro - 2018 59


pegando-se no valor tributável e aplicando-se a taxa do imposto para saber
quanto é o IVA devido por cada transação de bens ou prestação de serviços.
è O IVA incide sobre cada operação isolada, mas o IVA que entregamos ao Estado
não é o que liquidamos em cada uma das vendas que fazemos, o que se entrega
ao Estado é a diferença entre o imposto liquidado nas vendas que se faz e o
imposto suportado e dedutível nas compras relativas às atividades, mas só
depois de calcular o IVA de cada transação individualmente considerada e, no final,
faz-se o crédito do imposto.
è As transmissões de bens corpóreos, segundo o artigo 3º, estão definidas de
forma ambígua, não é estabelecida como uma mera compra e venda, para evitar a
fuga e evasão, de se adotar outro tipo de contratos com efeitos semelhantes, mas
que juridicamente não são contratos de compra e venda. Pois o IVA tem base
europeia, um contrato de compra e venda pode ser definido com contornos
diferentes nos diferentes Estados-Membros. O gás natural e a eletricidade são
considerados bens corpóreos para este efeito.
è Tem que ter caráter oneroso, ou seja, tem que haver uma contrapartida para que
incida o IVA, via de regra, significa que é preciso que seja pago um preço pelo bem
corpóreo em questão.
è O nº3 do artigo 3º27 é muito importante, pois há casos de transações ficcionadas,
isto é, situações em que pode não haver uma transferência da propriedade, mas
apesar disso, há uma transmissão de bens para efeitos do IVA; ou então uma
transmissão gratuita da propriedade e a lei equipara a ma transmissão onerosa. São
situações em que o locador entrega ao locatário um bem, logo num momento inicial,
e este vai pagando as rendas ao longo do tempo, convencionando que é com o
pagamento da última renda que se dá a transferência jurídica da propriedade,
segundo as regras do Direito Civil, mas o Direito Fiscal não espera, o IVA incide
sobre a tributação total do pagamento, é um caso de antecipação do pagamento do
imposto, não se espera pelo efeito translativo do contrato, porque é certa a
transferência de propriedade, há uma cláusula que vincula ambas as partes.
è O artigo 4º fala do conceito de prestação de serviços, fixado na negativa (então e
o princípio da legalidade?), se não for classificado como bem, cai na definição geral
de prestação de serviços, é uma categoria residual, por exemplo, se não for
corpóreo28, v.g. encomendar um livro online. Este conceito não coincide com o
contrato de prestação de serviços da lei civil portuguesa, para efeitos de IVA é a
definição que está no Código. Temos que nos colocar na posição do consumidor
médio, se o que pretende é o serviço ou o bem em si29, temos que ver qual o

27
Locação é uma típica prestação de serviços. Se findo determinado período de tempo se
transferir a propriedade (devido a uma cláusula vinculante para ambas as partes no contrato
de locação), então é transmissão de bens, artigo 3º nº3 a).
28
Pode não ser uma verdadeira prestação de serviços porque a definição negativa tem
limites, artigo 4º, tem que se falar de uma própria e verdadeira remuneração, porque se
paga por razões de liberalidade ou social, não se está a remunerar um serviço.
29
A senhora faz pastéis de bacalhau e os vizinhos encomendam-lhe alguns. Trata-se de
uma prestação de serviços ou uma transmissão de bens?
Trata-se de uma transmissão de bens, mas se fosse o vizinho a entregar-lhe os ingredientes, já
seria uma prestação de serviços – artigo 3º nº1 e) e artigo 4º nº2 c).

Rebeca Louro - 2018 60


elemento mais preponderante, v.g. prestar serviços de consultadoria e pareceres,
que envia por pdf, mas há clientes que querem em papel, o original, mas ainda é
uma prestação de serviços, porque é isso que o consumidor quer.
è Também há a exigência de onerosidade, à partida tem que se pagar alguma coisa,
mas há casos de prestações ficcionadas, em que se finge que é pago um preço,
mas finge-se que a prestação é onerosa30. Há uma norma de equiparação no artigo
4º nº2 b) de atividades gratuitas às de caráter oneroso, contudo, esta norma não
opera se a atividade da empresa for sistematicamente gratuita, em que nunca
recebe remuneração pelos serviços que presta, apenas opera nos casos em que
uma entidade, via de regra, cobra pelos seus serviços e, ocasionalmente, presta
serviços a título gratuito, temos que equiparar a um negócio oneroso, artigo 16º nº2
c), o valor normal que cobraria.
è Poderá haver casos em que não se cai nem numa categoria nem noutra, porque
não têm conteúdo económico, se respeitar, por exemplo, à esfera pessoal de
comportamento, mas se se falar de uma verdadeira transação, então aí ou cai numa
ou cai noutra.
è Distingue-se entre transmissão de bens e prestações de serviços, porque os critérios
de localização, incidência territorial, são diferentes para a transmissão de bens e
prestação de serviços.
è Portanto, para ter incidência do IVA é preciso que haja transmissão de bens ou
prestação de serviços, com caráter oneroso, realizada em Portugal. O IVA é um
imposto harmonizado ao nível na União Europeia, em que há critérios de localização
comuns de tributação, para prevenir as situações de dupla tributação ou não dupla
tributação.
è Os critérios de localização estão no artigo 6º:
o O nº1 fixa as regras de localização das transmissões de bens, se há
transporte o que conta é o local em que estavam os bens no início do
transporte ou em que o bem é expedido, se não há transporte é o local onde
se coloca o bem à disposição do adquirente. Portanto, quanto aos bens é
fácil de saber se estão no território português, porque são bens corpóreos.
o Mais complicado é o caso de prestação de serviços, que tem um caráter
imaterial, incorpóreo, o Código do IVA fixa duas regras no nº6:
§ B to B, alínea a) (buisiness to buisiness, por um sujeito passivo de IVA
para outro sujeito passivo de IVA, artigo 2º sempre), a regra geral é o
domicílio do adquirente.

30
Todavia, há casos em que se cobra menos do que aquilo que se costuma cobrar, um
preço simbólico, para que não lhe seja aplicada uma taxa equiparada a uma atividade
onerosa, simulando-se um preço muito mais baixo quando se pretende prestar uma
atividade gratuita, o Tribunal de Justiça da União Europeia já se pronunciou sobre estas
situações, à partida, o que vale é o preço simbólico, só em casos limite é que se percebe
que estamos perante situações de abuso de direito, aí há um princípio geral de proibição de
abuso em matéria de IVA. Há abuso direito, de um modo geral, quando se está perante uma
operação puramente artificiosa que não tem outra finalidade se não o termo ganho
fiscal, que é vedado pelo sistema. Mas não há dúvida de que quando se concede um
desconto, à partida, é esse preço efetivamente pago a base do IVA.

Rebeca Louro - 2018 61


§ B to C, alínea b) (buisiness to consumer, de sujeito passivo de IVA para
outro que não o é), a regra geral é a do domicílio do prestador.
• Estas duas são as regras gerais de localização do IVA, mas nos nº7 a
11 estabelecem certas prestações que têm regras especiais de
tributação, por exemplo, todas as prestações de serviços relacionadas
com imóveis localizados em Portugal consideram-se tributadas cá,
independentemente do domicílio, como diz o nº8 alínea a).
• Quanto a prestações transfronteiriças de serviços há dificuldades na
aplicação do IVA, porque o prestador está fora de Portugal e o
adquirente está dentro de Portugal, então aplicamos o reverse
charge, artigo 2º nº1 g), quando isto acontece, há uma inversão da
incidência subjetiva, o adquirente passa a ser o sujeito passivo, ele é
que vai ter que liquidar o IVA. Na sua declaração de IVA auto liquida
como se fosse o próprio prestador e deduz sendo ele próprio, nos
termos gerais (na prática estes valores anulam-se será como se não
se considerasse para efeitos de IVA).

Incidência Subjetiva

è De seguida temos que ver a incidência subjetiva, que está no artigo 2º, define
quem são os sujeitos passivos, a primeira parte da alínea a) é a mais importante,
a atividade tem que ser contínua e independente31, onde cabe a generalidade
das empresas. Mas também a segunda parte da alínea a) estabelece que os atos
isolados são tributados e que podem ser de um de dois tipos: conexão com uma
atividade (uma entidade tem uma atividade económica fora de Portugal continuada,
por exemplo em Angola, mas efetua um ato/operação isolado em Portugal); mas
também os atos isolados verdadeiros impróprios (ex.: um estudante que o seu
trabalho é estudar e no verão é contratado para fazer um trabalho de processamento
de texto, esta prestação de serviços é um ato isolado), aqueles que são feitos em
Portugal, há sujeição a IVA se, por ventura, houver também incidência real de IRS
(artigo 3º do IRS, os atos isolados são tributados em sede de IRS), que atrai a
incidência do IVA, é uma regra de atração.
o A alínea a) como um todo exige a independência, ou seja, exclui-se o trabalho
assalariado, para prevenir que os trabalhadores dependentes liquidem IVA à
sua entidade patronal.
è O nº2 do artigo 2º vem dizer que o Estado não é sujeito passivo do IVA enquanto
exercer poderes\prorrogativas de autoridade (ex.: a Câmara Municipal cobra
uma licença de ocupação da via pública a um restaurante que quer pôr lá uma

31
Se o presidente da Associação disser que não são remunerados, que apenas visam
animar a vida na Universidade?
Apesar de não ser para obter lucro continua a haver incidência subjetiva, porque a
atividade não é relevante para efeitos do artigo 2º nº1 a), mas pode ser relevante para as
isenções do artigo 9º nº8.

Rebeca Louro - 2018 62


esplanada, então não está sujeito quando o Estado exerce poderes de autoridade e
cobra alguma coisa, pois mais ninguém pode autorizar o aproveitamento do domínio
público)32, só quando não exerce poderes de autoridade é que é sujeito passivo
do IVA (ex.: quando o Estado arrenda uma casa, não exerce poderes de autoridade,
então está sujeito).

Isenções

è Contudo, se tudo aquilo estiver verificado há incidência, mas não significa que haja
tributação, porque pode operar alguma isenção.
è As isenções estão no artigo 9º e 53º.
o O primeiro artigo tem um catálogo longo de isenções, não é fixada pelo
legislador português livremente, dependem do cumprimento da Diretiva IVA,
mas quando corremos este artigo percebemos que estas se prendem
fundamentalmente com prestações de serviços, há algumas transmissões de
bens, embora conexas com os serviços que lhes estão referidos, e são isenções
tendencialmente objetivas, beneficiam os serviços, independentemente de
quem os realiza. Quanto à finalidade há dois grupos muito diferentes:
§ Isenções com finalidade social, alínea a), concede-se a isenção para
facilitar o acesso dos cidadãos a serviços que se consideram
essenciais, não se quer encarecer esses serviços com IVA, logo, há
isenções (ex.: saúde, educação, formação, algumas atividades culturais);
§ Isenções de ordem técnica, dos setores financeiros (ex.: imposto de
selo aos créditos e seguros), do jogo (Imposto Especial de Jogo) e das
operações imobiliárias (ex.: IMT), é difícil de apurar o valor acrescentado
em atividades como estas, é difícil de tributar, como há dificuldades
técnicas, a tradição na União Europeia é a de isentar o IVA para depois
aplicar impostos de outro tipo, v.g. no setor financeiro aplica-se o imposto
de selo, nos jogos é o imposto especial de jogo, nas operações imobiliárias
não é difícil aplicar o IVA, mas a dificuldade é a de que, via de regra, a
transmissão ou locação dos imóveis é feita pelo comum dos cidadãos,
então estar a exigir o calculo do IVA é muito pesado, então isenta-se o IVA
para depois aplicar impostos de outro tipo, como por exemplo, o IMT.
o O segundo artigo exclui os pequenos contribuintes/operadores, se não
ultrapassar um determinado número de negócios, de um determinado plafond,
10.000€ quanto à totalidade dos outputs (ganhos), está-se isento de IVA, no
fundo, tira-se o peixe miúdo de dentro do sistema. Esta é uma isenção do artigo
53º que, ao contrário do artigo 9º, é tendencialmente subjetiva, isto é, desde
que não se ultrapasse o plafond está-se isento, independentemente do tipo de
operações que realize. A isenção é também uma isenção simples, não liquida
IVA, mas também não deduz, o que pode ser prejudicial, por isso é que o Código

32
A menos que haja distorções de concorrência, por exemplo, se houver outras entidades
a prestar aquele serviço, nesses casos, há incidência subjetiva.

Rebeca Louro - 2018 63


permite ao operador renunciar a esta isenção, passando ao regime normal de
liquidação do IVA, artigo 55º.
è Como é que operam estas isenções? Há duas categorias:
o Isenções simples, v.g. artigo 9º, não se liquida aos clientes, mas também não
se deduz o IVA que se tiver suportado nas compras da atividade, por isso é que
o artigo 12º e 55º permite que se renuncie às isenções do IVA, em certos casos.
Para este efeito um sujeito passivo isento funciona como um consumidor
final.
o Isenções completas, estas são mais raras e, via de regra, só se aplicam nas
exportações. Por exemplo no artigo 14º nº1 a), não se liquida aos clientes,
mas, em contrapartida, pode-se deduzir o IVA incorrido nas compras,
rigorosamente, não se deduz nada porque não há nada para deduzir, o que se
faz é pedir um reembolso do IVA incorrido nas compras que fez, pede-se um
reembolso à Autoridade Tributária.
è Se não houver isenção, tributa-se a operação, aplicando-se a taxa do IVA ao valor
tributável, que está no artigo 16º e 17º, na maioria dos casos o valor tributável é o
preço pago pelo bem ou serviço, mas o nº1 diz que é o valor/preço obtido ou a
obter do adquirente ou do terceiro, ou seja, se se presta um serviço, a partir do
momento em que se emite a fatura o IVA torna-se devido e exigível, o Estado não
corre o risco da não cobrança. Há mecanismos especiais para regularizar impostos
quando ao fim de um certo tempo se comprova que não recebeu o dinheiro, mas na
maioria das vezes tem que pagar o IVA, até porque às vezes o prazo para o entregar
chega antes do pagamento do cliente, portanto, tem que se financiar o Estado dessa
maneira. O nº1 também fala em terceiro, pouco importa se quem está a pagar é o
adquirente do bem ou serviço, desde que haja remuneração, há IVA. Há também
algumas regras especiais no artigo 16º, por exemplo, nº5 a), por exemplo, quando
se paga o preço e outros impostos, como no caso dos carros em que se paga
o preço e o ISV, o IVA é a última coisa a ser tributada, é um imposto de
sobreposição, imposto sobre imposto (é inconstitucional? Pouco importa, se a
Diretiva manda, faz-se).

Taxas do IVA

è De seguida, aplica-se o artigo 18º que tem as taxas do IVA, em Portugal continental
pode ser:
o Taxa reduzida, 6% (lista I, página 498).
o Taxa intermédia, 13% (lista II, página 504).
o Taxa normal (taxa de 23%).
è Se for nos Açores ou na Madeira, nos termos da Diretiva IVA, o Estado Português
está expressamente autorizado a aplicar taxas mais baixas nas regiões autónomas.
Então e os casos em que há uma operação que envolve as regiões autónomas
e o território continental, como é que se localiza no território? Por exemplo,
enviar dois queijos de São Jorge para Lisboa? Aplica-se um Diploma que diz que se

Rebeca Louro - 2018 64


aplica os mesmos critérios que estão no artigo 6º, portanto, olha-se para o local da
expedição e transporte, mas por exemplo, pode ser aplicada uma taxa do
território continental, quando se compra do supermercado um queijo de São
Jorge dos Açores.
è Nas regiões autónomas as listas são as mesmas, os bens são os mesmos, só
mudam as taxas.
è Obtém-se o imposto devido em cada transação, seja das vendas, seja das
compras feitas.

Crédito Imposto

è Por fim, tem que se fazer o crédito imposto, a liquidação e dedução, para que o
vendedor entregue ao Estado.
è A linguagem dos artigos seguintes é muito pobre, a tradução da Diretiva é péssima.
è No artigo 19º a) o sujeito passivo, em cada período declarativo, tem, à partida, a
liberdade de deduzir um imposto que tenha suportado em todas as compras
(operações passivas) que tenham sido feitas na sua atividade. Se os seus
fornecedores lhe liquidaram IVA a ele, esse imposto vai poder ser deduzido.
è No artigo 20º estabelece-se que, à partida, tem o direito de deduzir todo o IVA
suportado nas compras, desde que as compras tenham sido feitas para
realizar uma atividade que esteja sujeita a IVA e dele não isenta (operações
ativas, vendas), ou seja, se na atividade há uma isenção, não se pode deduzir o IVA
das respetivas compras
è No artigo 21º33 há certos casos em que se faz compras relacionadas com a
atividade, tendo esta IVA, mas, apesar disso, o IVA não é dedutível, v.g.
gasolina, os bens aqui mencionados são gastos que têm de comum uma
confusão entre a esfera pessoal e empresarial, suscetíveis a fraude fiscal.
è De todo o IVA que se liquidou soma-se tudo, mas quanto aos gastos não se
soma tudo, tem que se apreciar casuisticamente para saber se o IVA é
dedutível ou não. Se o outro sujeito passivo que cobra o IVA do meu gasto pagou
o IVA, tenho que calcular esse IVA do que eu gastei para deduzir depois aos meus
gastos, para só depois somar os gastos e os ganhos.

33
Há formas de o contribuinte afastar a presunção deste artigo, desde logo porque o artigo
73º da LGT permite que se afaste as presunções das incidências de imposto. Contudo, embora
seja mais justo, irá obstruir a máquina do Estado e abarrotar os tribunais de trabalho para
o qual podem não ter capacidade.

Rebeca Louro - 2018 65


Garantias
è Como é que um contribuinte se defende em relação à atuação do Estado, por
exemplo, a Maria entrega a sua declaração de IRS, que é liquidada pela Autoridade
Tributária, e percebe que há um divergência entre o que é a sua interpretação
daquilo que são as normas do Código do IRS e aquilo que resulta da análise da
Autoridade Tributária, portanto, que garantias tem este contribuinte, perante uma
liquidação que ele reputa como ilegal, feita contrária à lei – não á uma questão de
erro de facto, mas sim de interpretação jurídica.
è Há garantias perante à Administração (pedir que se reveja o ato) e garantias
perante o poder judicial (pede-se ao tribunal que o faça). Durante muito tempo só
houve a primeira opção, e mesmo quando havia tribunais fiscais fazia parte o Chefe
de Finanças, por várias razões, do interesse financeiro do Estado, mas também
porque pairava a ideia de que as contas não eram para juristas, logo, o juiz não iria
rever contas. Esta ideia hoje foi ultrapassada, a jurisdição administrativa e fiscal é
uma verdadeira jurisdição, ou seja, independente, reativa, etecetera.
è As garantias dos contribuintes estão sujeitas ao princípio da legalidade, à reserva
de lei.
è Antes de discutir a questão a Maria tem que optar por uma coisa: pagar ou não
pagar. Por razões históricas, no Direito Fiscal há uma preferência estrutural pelo
pagamento e só posteriormente pela discussão, isto para garantir o ingresso de
receita pública34. Não é assim noutros países, como por exemplo no Brasil.
è Pode-se começar por eliminar, para a aplicação do caso exposto supra da Maria,
um meio que existe no nosso ordenamento jurídico, que está associada à situação
de as liquidações serem processadas ou emitidas por algoritmos, máquinas e
computadores e não por pessoas, que é o facto de o erro se repetir várias vezes
e, por isso, tenha que ser corrigido. O sistema criou um mecanismo que é o
“Procedimento de correção de erros da Administração Tributária”, que está no
artigo 95º-A do Código de Procedimento e Processo Tributário, que é um
procedimento simplificado para corrigir erros:
o Tem um prazo de 10 dias desde o conhecimento do ato.
o Pode ser verbal e oral.
o Tem um prazo máximo de decisão de 15 dias, que não tem qualquer relação
judicial com outros meios, ou seja, pode-se fazer isto independentemente de
fazer aquilo que é mais normal, que é a reclamação, é um meio extra e
simplificado, o que tem por consequência o facto de não se aplicar às
discussões jurídicas, que necessitam de conhecimentos jurídicos, que os

34
Em Portugal hoje temos uma opção entre o pagamento dentro do prazo ou não
pagamento e prestação de garantia, ao abrigo do artigo 52º da LGT, para suspender a
execução (não pagando fica-se sujeito a um processo de execução fiscal, no sentido de
converter os bens em dinheiro para pagar a fazenda, mas esse processo de execução fiscal
pode estar suspenso por garantia idónea ao abrigo do artigo 52º e seguintes da LGT,
normalmente é uma garantia bancária – o Banco, tendo em conta o património que se tem no
Banco, a troco de pagar x % ao mês, garante que aquela pessoa pode pagar aquele
montante).

Rebeca Louro - 2018 66


funcionários das finanças podem não ter, apenas trata de erros materiais,
os casos óbvios e inequívocos.
è A primeira garantia mais usada e aplicável ao caso supra, que é a “Reclamação
Graciosa”. Antigamente só havia meios graciosos por oposição aos contenciosos,
historicamente traduzia-se na possibilidade de pedir o favor ou a graça do soberano,
que acabava por ser uma decisão discricionária e não sujeita ao direito. Hoje não é
assim, mas mantém na sua origem semântica esta ideia de meios graciosos. Ela
não é obrigatória na maior parte dos casos, é muito difícil ganhar uma reclamação
graciosa, traduz-se num pedido do contribuinte de anulação do ato tributário,
que está regulado nos artigos 68º e seguintes do CPPT.
o A iniciativa é dos contribuintes.
o É um meio gratuito, ou seja, não há custas como há no tribunal (há quem diga
que a reclamação é graciosa porque é gratuita).
o A regra é a de que é por escrito no serviço de finanças da residência do
contribuinte, mas não é proibida a oralidade, sendo reduzida a escrito pelo
funcionário das finanças, mas apenas em casos de manifesta simplicidade, em
que o contribuinte não sabe escrever, porque é pouco instruído.
o Esta pode ser deduzida com os mesmos fundamentos previstos para a
impugnação judicial e será apresentada no prazo de 120 dias (4 meses)
contados após a receção da notificação para o pagamento voluntário – artigo
70º do CPPT.
o Neste meio de defesa poderá expor na reclamação as suas considerações
de facto e de direito. A Administração Tributária pode dar ou não razão:
§ Deferindo: se for mais favorável, não requer audição prévia ao contribuinte,
a Autoridade Tributária revoga o ato tributário, a liquidação de IRS que
Maria recebeu para pagar a 31 de Outubro, emite um novo e dá-lhe um
novo prazo para pagar, se Maria já houver pago deve fazer-se uma nota
de liquidação e o reembolso com juros da parte da diferença.
• Os casos em que a Administração dá razão são raros.
§ Indeferindo: não há deferimento tácito no Direito Fiscal, quanto muito o
silêncio equivalerá a um indeferimento tácito; quando há um
indeferimento expresso, antes da notificação da reclamação ela é
notificada para uma audição prévia, normalmente é por escrito, a pessoa
pronuncia-se e depois é notificada do indeferimento da declaração. Quando
tem um indeferimento expresso ela pode:
• Conformar-se com a decisão.

Rebeca Louro - 2018 67


• Levar o caso a tribunal, mas se a reclamação for infundada35, pode
haver um agravamento da coleta até 5% segundo o artigo 77º nº5 do
CPPT36.
• Há a possibilidade de impugnação judicial, 102º do CPPT, o
contribuinte tem 3 meses para impugnar, a contar da notificação do
indeferimento.
o Os dois grandes meios que temos são a reclamação graciosa e
a impugnação judicial, estes meios não são excludentes, mas
antes alternativos e podem ser cumuláveis.
è A segunda garantia é a da possibilidade de impugnação judicial, prevista no artigo
102º do CPPT, a reclamação pode ser impugnada num prazo de 3 meses a contar
de diversos factos, previstos nesse mesmo artigo, a não ser que a Autoridade
Tributária conceda um prazo maior:
§ Ou então pode apresentar-se no serviço de finanças que remete ao tribunal,
artigo 103º do CPPT.
§ Ou diretamente no tribunal competente.
o O artigo 108º do CPPT estabelece alguns elementos obrigatórios para a
petição inicial, como a prova, em triplicado.
o A secretaria judicial tem a possibilidade de contestar, num prazo de 90 dias,
muitas vezes repete o que foi dito no indeferimento da reclamação, quando há
casos anteriores de teor semelhante – o juiz depois fará a sua sentença, artigo
122º e seguintes CPPT.
o Quem perder tem 10 dias para recorrer (do tribunal tributário), para o tribunal de
segunda instância (da relação), por vezes são os dois a perder, quando o
tribunal não concorda na integra com uma das partes, ambas consideram que
perderam, de acordo com o artigo 280º do CPPT, dos recursos da primeira
instância para o TCA (Tribunal Central Administrativo) ou para o STA
(Supremo Tribunal Administrativo), se se discutir uma matéria de direito e de
facto recorre-se apenas para aquele, se se discutir uma matéria só de
direito pode-se ir para este37, pode-se ir para o STA também por oposição
de acórdãos do TCA.

35
Poderá ser inconstitucional, por violação do princípio das garantias é o princípio
segundo o qual todas as decisões administrativas podem ser impugnadas administrativa
ou contenciosamente. O contribuinte ter que fazer uma ponderação de risco de um critério
absolutamente abstrato, restringe o direito de acesso ao controlo administrativo dos atos.
Não é inconstitucional porque esta restrição é proporcional, na medida em que
este meio é gratuito.
36
É um meio dissuasor, raramente aplicável, mas a lei prevê que se a entidade administrativa
entender que os fundamentos da declaração são dilatórios e infundamentados, agrava a
coleta.
37
O problema é que a fronteira entre o facto e o direito é muito ténue e fácil de transpor
inconscientemente, ambos são dependentes um do outro, porque são ambos conceitos
jurídicos. Se tiver muitos factos, for uma questão de faturas, de deduções, normalmente vai-se
para os tribunais centrais, estão mais rotinados a ver isso. Se for uma questão mais de
princípios, mais de direito, vai-se diretamente para o STA. Há um risco grande de não se
admitir o recurso no STA por ser uma questão de facto e não de direito, correndo o risco de
perder o prazo para recurso. Só em casos excecionais é que se vai ao STA.

Rebeca Louro - 2018 68


o No último artigo da LGT, artigo 105º, expõe-se a alçada dos tribunais – artigo
280º nº4 do CPPT.
o Nos meios normais, os contribuintes não têm a possibilidade de intentar
uma providência cautelar, artigo 135º e seguintes do CPPT, só a
administração pode interpor uma providência cautelar contra bens do
contribuinte, a ideia é a de impedir que o contribuinte pare a máquina estatal
de cobrança de impostos, resultante em receitas.
o Em regra, não depende de impugnação administrativa prévia, mas há
exceções, artigo 140º nº2 do CIRS (se o erro foi da pessoa que calculou o seu
pagamento por conta, tem 2 anos para o fazer), artigo 16º nº3 da Lei nº 53-
E/2006 (quando se quer impugnar uma taxa local, antes tem que ser feita uma
reclamação graciosa para o autor do ato, a Câmara Municipal).
è A terceira hipótese é ir à Arbitragem Tributária, em Portugal este regime foi
desenvolvido pelo Professor Sérgio Vasques quando era Secretário de Estado
dos Assuntos Fiscais, que está previsto no Decreto-Lei nº 10/2011 (RJAT), que
criou um sistema de tribunais arbitrais:
§ Se o litígio for até 60.000€ é um tribunal singular.
§ Se for mais de 60.000€ até 10.000.000€ (limite da arbitragem tributária) é
um tribunal coletivo com três árbitros, o centro de arbitragem
administrativa tem uma lista de árbitros que escolhe os árbitros presidentes,
a partir de um certo limite têm que ser doutorados em Direito ou juízes que
estão aposentados ou jubilados.
o Este regime é diferente da arbitragem comercial, a decisão é pública, segundo
a lei e não segundo a equidade, e o preço regra é um custo idêntico ao dos
tribunais tributários de primeira instância.
o Os tribunais tributários de primeira instância demoram muito tempo (4 anos),
em contrapartida a arbitragem tributária tem um prazo de decisão médio de
6 meses e pode ser prorrogado por mais 6 meses, o prazo médio de decisão
é de 4.8 meses, mas tem a desvantagem para quem perde de não caber
recurso normal, cabe apenas recurso de impugnação em casos limitados
(artigo 25º nº1, nos casos normais recurso para o TC, para o STA está no
artigo 25º nº2, quando haja contradição em relação à mesma questão
fundamental de direito entre a decisão do tribunal arbitral e a decisão de
tribunais superiores). Na maior parte dos casos decide-se apenas em primeira
e, na menor parte dos casos, última instância, a pessoa ganha tempo, mas
perde segurança.
o Há a possibilidade de impugnar a decisão judicial, artigo 26º, mas apenas
em casos de violação do princípio do contraditório.
o Artigo 28º do RJAT não consagra o problema de o tribunal arbitral decidir
sobre matérias para o qual é incompetente, portanto, discute-se se o
elenco deste artigo é aberto ou fechado.

Rebeca Louro - 2018 69


História Fiscal
Sisas Gerais
è O imposto que conhecemos hoje como um dever coletivo de financiamento da
comunidade surge apenas com o Estado Moderno.
è Até então o rei era visto como um primus inter pares, portanto, não era titular de
nenhum poder público segundo o qual podia pedir as ditas prestações. Os seus
poderes eram detidos a título pessoal, para seu próprio benefício, fazendo face às
suas despesas através dos seus próprios meios, desde logo, os rendimentos dos
seus domínios, além dos seus variados direitos senhoriais, mas sem lançar
impostos, pelo menos com caráter permanente.
è A passagem do Estado Dominical para o Estado Moderno ocorreu em tempos e
velocidades diversas em toda a Europa. As prerrogativas de autoridade de direito
público foram surgindo em virtude das guerras e a necessidade de manter um
exército de forma permanente e em cada vez mais número, tendo como
fundamento o bem comum da nação.
è Em Portugal, com a crise de 1383-1385, a luta pela independência e suas sequelas
surgiu um ambiente propício para tornar estas prestações permanentes. Em
Coimbra, no ano de 1387, as Cortes reuniram-se para criar as sisas gerais, isto
é, os primeiros impostos com caráter geral e universal, não olhava para as
classes, ninguém estava isento, e tinham como fundamento o bem comum da
nação, se bem que estas deveriam vigorar apenas durante um ano, todavia,
tornaram-se permanentes, nascendo com elas o Estado Fiscal português.
è Com as sisas observou-se o desenvolvimento progressivo de uma economia
comercial, preponderantemente urbana e crescentemente monetarizada, com
base em riqueza móvel, pelo menos até ao século XV, onde estas foram substituídas
pelos tributos incidentes sobre o comércio ultramarino.
è Até ao século XIX os tributos incidiam sobre o comércio externo, sendo que havia,
por isso, um amplo espaço livre para se afirmarem os poderes da igreja e da
aristocracia. A primeira consistia verdadeiramente num Estado dentro de um Estado,
desde logo, porque cobrava aos camponeses e artesãos os tributos régios,
designadamente, a dízima, sob pena de excomunhão. Os dízimos podiam ser
prediais, sobre as coisas, e eram pagos em género, e podiam ser pessoais, incidiam
sobre o trabalho, eram pagos em dinheiro e variavam consoante a ocupação.

Fiscalidade do Antigo Regime


è A fiscalidade do antigo regime esteve muito voltada para os direitos aduaneiros,
isto é, para o exterior, o comércio ultramarino e os seus produtos de eleição. Eram
impostos insensíveis à população porque eram pagos quando entravam nos portos
nacionais, sendo que por isso não se exigia à administração o esforço de instaurar

Rebeca Louro - 2018 70


um aparelho administrativo de cobrança de impostos interno, pois estava
concentrada nos grandes portos do reino e num número reduzido de comerciantes.
Ao longo dos séculos observou-se uma alteração dos fluxos comerciais, tomando
Brasil o lugar do Oriente. Sendo que os produtos eram, ora explorados pelas
receitas tributárias, através dos direitos aduaneiros, ora explorados pelas rendas
comerciais, por meio do monopólio fiscal.
è As sisas foram substituídas por montantes pré-determinados e fixos e passaram
a ser exploradas pelos Concelhos, sendo diferentes em cada povoação. Os
Concelhos tinham que entregar à Coroa o referido montante fixo do cabeção, sendo
que o excedente era arrecadado pelos próprios Concelhos, os chamados sobejos
das sisas. Para além destas parcelas das sisas ainda cobravam outros tributos,
como os de portagem, de passagem, sobre o comércio e circulação de mercadorias.
è No século XVII foi criado o imposto do real d’água, cuja origem é debatida,
podendo ter uma de duas fontes: D. João I para construir casas em Vila Nova de
Santa Catarina em 1410; D. João III para financiar a construção do Aqueduto da
Água da Prata, em Évora, em 1531. É certo que as primeiras reais d’água foram
empregues para financiar o abastecimento de água em diferentes cidades
portuguesas, até que D. Filipe III alargou a sua cobrança a todo o reino de um real
de cobre por cada arrátel de carne ou canada de vinho vendidos, com a Carta Régia
de 12 de abril de 1635, para acorrer às despesas com o Brasil e as Índias.
Restaurada a independência (1641) D. João IV manteve o imposto por meio do
Alvará de 5 de Setembro de 1641, para sustentar a defesa contra Espanha. Só foi
abolido em 1922, quando foram criados os impostos de transações.
è Igualmente fixada neste Alvará foi a décima militar, assim designada por surgir
destinada ao sustento do exército e por consistir no pagamento por parte de
todas as pessoas, sem isenções, de um décimo dos seus rendimentos, foi o
primeiro imposto geral sobre os rendimentos. A base de incidência era tão larga
que impunha algum cuidado na determinação da matéria tributável e a disciplinação
cuidada dos órgãos aos quais ficaria entregue esta fixação dos rendimentos. Para
este efeito, como já adiantado, eliminou-se os costumeiros privilégios de classe, pois
tanto o clero, sendo que o rei teve muito cuidado ao exigi-lo, não querendo ofender
a igreja, como a nobreza, que tinha que dar o exemplo para que as demais pessoas
os seguissem, eram interessados na defesa do reino e zelavam pelo bem comum
do reino. Este imposto subsistiu nos tempos através de uma taxa proporcional de
10% e isentando algumas pessoas, como órfãos, pobres e pessoas que se
sustentam à base de esmolas, de pagar o imposto, preservando sempre o mínimo
de subsistência.
è Através da Carta de Lei de 10 de 1772, Marquês de Pombal criou o subsídio
literário, que consistia num imposto sobre vinhos e produtos vínicos consignados
ao financiamento dos estabelecimentos de ensino público, desde logo, para
financiar a Universidade de Coimbra, traduziu-se numa simplificação importante do
esquema de financiamento do ensino público.

Rebeca Louro - 2018 71


Fiscalidade do Regime Liberal
è Sem dúvida que a inovação em matéria fiscal se centrou nas contribuições diretas
sobre o património e rendimento, oscilando entre os sistemas de quotidade (à
matéria coletável aplica-se uma taxa de imposto, sendo desconhecida a receita total
que o imposto vem proporcionar) e de repartição (a receita global do imposto é
fixada de antemão, sendo depois repartida pelos contribuintes através de fórmulas
variadas), com o problema da determinação de valores reais, pois a administração
nunca tinha sido obrigada a fazê-lo.
è Esta época foi muito marcada pela alternativa entre o protecionismo aduaneiro e o
livre comércio.
è A primeira grande reforma foram os decretos de Mouzinho da Silveira, em 1832,
que desmantelou a ordem financeira do Antigo Regime, desde logo, pelo seu
conteúdo essencialmente negativo. Esta reforma procurou relançar a economia
depois da perda do império brasileiro (1823) e depois da guerra (D. Pedro IV e D.
Miguel I), fazendo ainda propaganda liberal à parcela do país ainda sobre a alçada
de D. Miguel.
o Em 1832 foram abolidas as sisas sobre os móveis (oneravam as circulação
das mercadorias, como uma portagem) e semoventes (sobre animais de
rebanho, em todas as transações), restringindo o imposto às sisas sobre móveis
(bens de raiz, eram cobradas a uma taxa de 10% se o comprador e o vendedor
fossem da terra em que estava o imóvel, se um deles não fosse era uma taxa
de 15% e se ambos não fossem já era uma taxa de 20%). Aqueles impostos
eram anti mercantis, geraram o hábito de querer produzir tudo para não ter que
comprar, sendo que a sisa que restou, sobre os bens imóveis, ficou reduzida a
uma taxa de 5% fixa do valor dos prédios.
o Nesse mesmo ano aboliram-se os dízimos eclesiásticos, pondo termo ao
facto de o povo estar a pagar contemporaneamente dois sistemas
financeiros diferentes. A sua concentração na agricultura tornava-a incapaz
de concorrer nos mercados internacionais e trazia um enriquecimento
exorbitante ao clero, “classe improdutiva e parasitária”.
o Aboliram-se também os tributos e prestações senhoriais, sendo que, a
partir de então, era proibido o pagamento de tributos ou contribuições em
benefício de corporações menores, devendo os tributos passar a ter
natureza geral e ser repartidos entre todos os habitantes da monarquia.
o Tendo o Estado reunindo para si a faculdade de lançar as sisas, privando
os Concelhos de o fazer, sendo que eram as suas mais importantes receitas,
facultou-se a esses mesmos Concelhos o poder de lançar derramas ou
fintas, isto é, contribuições diretas, para suprimir as suas necessidades,
pois que não geravam entraves à livre circulação e adequavam-se melhor às
faculdades económicas de quem as pagava. Os Concelhos não gostavam deste
ónus político de lançamento das derramas, mas também as elites não gostavam
destas contribuições concentradas que obrigavam à revelação das suas
riquezas.

Rebeca Louro - 2018 72


è O programa de Mouzinho da Silveira não produziu todos os resultados pretendidos,
embora o poder tributário se tivesse, de facto, concentrado no estado, erradicando
os poderes da igreja e da classe senhorial, podendo, finalmente, implementar-se
um sistema eficaz de tributação interna, designadamente, um imposto sobre o
património e o rendimento.
o O Código Administrativo de 1836 revogou o decreto de Mouzinho da Silveira e
facultou aos Concelhos o lançamento de contribuições de todo o tipo para
acorrer aos seus encargos. Os vários códigos reconheciam sempre aos
Concelhos o poder de lançar tributos sobre o consumo, o que gerou uma
sequência de tributos sobre o consumo sem qualquer coerência, havendo
pautas internas aduaneiras de imensa complexidade, entravando a circulação
de mercadorias no território nacional, sendo que cada Concelho discriminava
contra os Concelhos vizinhos.
o Este municipalismo fiscal foi a desgraça da economia portuguesa do século
XIX, cessando com o Código Administrativo de 1936-1940.
è Costa Cabral, em 1845, propôs a abolição da décima militar, visando substituí-la
por três contribuições de repartição: a predial (sobre a generalidade dos prédios
rústicos e urbanos, onerando-os na proporção dos seus rendimentos), a do maneio
(sobre os rendimentos do trabalho, que variava em função da natureza das
profissões, capacidade económica dos contribuintes e as rendas dos locais em que
exercessem a sua atividade) e a pessoal (onerando todos os indivíduos com
rendimentos próprios com uma taxa geral correspondente a dois dias de trabalho e
uma taxa domiciliária devida em função dos criados e cavalgadura que os
contribuintes possuíssem em seu serviço doméstico). Portanto, preteriu-se o
sistema mais exato da quotidade em função do sistema mais previsível da
repartição.
o Contudo, estas ideias não vingaram nem foram implementadas, devido à
revolta da Maria da Fonte contra esta mesma reforma de Costa Cabral. No
fundo, apenas se veio permitir um compasso de espera de todas estas reformas
que António Costa Cabral pretendeu fazer de uma só vez.
è A Regeneração veio trazer a estabilidade política necessária para a reforma da
fiscalidade interna.
o Em 1852 institui-se a contribuição predial, com uma receita global fixada de
antemão e dividida pelos Concelhos e contribuintes, em função do rendimento
coletável dos prédios nele situados.
o Em 1860 criou-se a contribuição industrial (sisa e imposto de transmissão da
propriedade na contribuição de registo – incide sobre rendimentos do trabalho
e da empresa, que assentava em regras de repartição e da tributação por
estimativa, renunciando-se ao apuramento de rendimentos reais), a
contribuição pessoal (imposto de criados e cavalgadura e a contribuição das
rendas de casa) e ainda o novo imposto de viação.
o Em 1887 criou-se a contribuição de juros, que incidiam sobre a generalidade
dos capitais mutuados (taxa de 13,5%).
è Estas reformas tiveram sucesso ao longo de trinta anos, passando o imposto sobre
os rendimentos a corresponder a 28% da receita fiscal.

Rebeca Louro - 2018 73


è As alfândegas continuavam a proporcionar uma parcela muito substancial da sua
receita ao estado português. A extrafiscalidade passou por questões pautais
(discussão entre o livre câmbio e o protecionismo) e não tanto sociais, estas só
surgiram com a viragem para o século XX. A política pautal de cunho protecionista
era preponderante em Portugal, era voltada para a produção agrícola mais
tradicional e para os setores industriais com maior força reivindicativa junto do poder.
è Várias pautas aduaneiras foram surgindo e todas visavam aligeirar a generalidade
dos direitos de importação, sem sacrificar a proteção dos setores mais expostos à
concorrência internacional.
è O real d’água perdeu o seu peso quando se tentou implementar um imposto geral
de consumo, que também não vingou, devido à revolta da “Janeirinha”.
è O imposto do selo começou a alimentar os cofres do estado cada vez mais,
empregando como uma espécie de sucedâneo dos impostos gerais sobre o
rendimento e o consumo. Este consumo interno foi a última área que se alargou ao
Estado Fiscal.

Fiscalidade do Século XX
è A revolução liberal que instaurou a primeira república em Portugal veio
introduzir a progressividade no sistema fiscal, a começar pela contribuição
predial, onde se introduziram taxas progressivas, pondo termo ao sistema
reacionário da proporcionalidade. Também se trouxe progressividade à
contribuição de registo, onerando as transmissões gratuitas com taxas que
variavam em função de diversos fatores, não apenas consoante o grau de
parentesco, também o próprio valor dos bens. Esta inovação visava, sobretudo,
corrigir as desigualdades de riqueza, as diferenças extremas de condição social.
è A Reforma de 1922 deu corpo a um programa de modernização global dos impostos
sobre o rendimento e o consumo.
o A contribuição industrial passou a ser formada por uma taxa fixa, paga em
função de determinados indicadores e por uma taxa complementar, no valor de
10% sobre os lucros reais, tanto os declarados, como os que presumivelmente
se obtivessem. Abandona-se o sistema de repartição e adota-se o da quotidade,
sobre valores reais e não estimados.
o O imposto pessoal de rendimento mantinha a sua incidência sobre os
rendimentos de qualquer natureza, munidos das deduções objetivas e
subjetivas, deu uso a taxas fortemente progressivas.
o O imposto sobre o valor das transações foi a primeira tentativa de introduzir um
imposto geral sobre o consumo moderno no país e veio abolir o real d’água e
os direitos de consumo. Este novo imposto assentava no princípio da
autoliquidação e incidia sobre a generalidade dos bens e serviços com taxa
comum de 1%.

Rebeca Louro - 2018 74


è Em 1923 surgiu o primeiro recuo onde se aprovou as instruções provisórias, que
reconduziam a contribuição industrial à aplicação de uma taxa sobre a faturação
bruta.
è Com a ditadura militar, em 1928, substituiu-se o imposto pessoal de rendimentos
pelo imposto complementar. Em 1929 Oliveira Salazar abandona a tributação de
valores reais e regressa à tributação de valores normais ou presumidos.
o A contribuição industrial foi dividida em três grupos, sem que fossem onerados
pelos seus lucros reais: ofícios, sociedades anónimas e em comandita por
ações, e a grande massa dos contribuintes do comércio e da indústria.
o O imposto complementar deixava cair as exigências da capacidade contributiva,
libertando os contribuintes das obrigações declarativas.
o O imposto sobre as transações foi abolido, pois só podia ser liquidado com base
numa estimativa da faturação que redundava na duplicação desta contribuição
industrial.
o Criou-se o imposto profissional, devido pelos trabalhadores do setor
privado e pelos profissionais liberais.
è A Reforma de 1929 representou uma concessão ao pragmatismo, mas continuaram
a existir áreas que escapavam a qualquer esforço de racionalização, como, por
exemplo, a fiscalidade local. O Código Administrativo de 1940 salvaguardou o
poder de os municípios lançarem impostos diretos e indiretos, estes últimos devendo
constar de uma pauta aduaneira estabelecida pela Câmara, o que não permitia um
controlo eficaz nem estabelecia um critério ordenador.
è Um aspeto bastante desenvolvido pelo Estado Novo foi a parafiscalidade
económica, que introduziu um enquadramento jurídico dos organismos de
coordenação económica, dotados de autonomia administrativa e
personalidade jurídica, que tinha como função fazer a ligação entre o Estado e as
organizações corporativas, promovendo e disciplinando a atividade dos setores
mais importantes da economia nacional. Estes organismos adotavam,
especialmente, a forma de institutos públicos, alimentando-se da cobrança de taxas
incidentes sobre a importação e exportação de produtos variados.
è A Reforma de 1958-66 visava modernizar e fomentar, tal como verificou na
renovação da contribuição industrial, onde se onerou as empresas de maior
dimensão pelos seus lucros reais e reservando a tributação pelos lucros presumidos
às pequenas e médias empresas. As normas de isenção surgem mais numerosas
que as de incidência. Elaboraram-se Códigos de imposto para diferentes tipos de
rendimentos, como os de capital e as mais-valias. O imposto de transações
caracterizava-se pela sua generalidade, pois incidia sobre todas as mercadorias,
contudo, continuava sem incidir sobre as prestações de serviços e deixava intocados
um grande número de tributos indiretos, o que limitou o desenvolvimento do setor
terciário.
è Depois da revolução de 1974 e da Constituição de 1976 ainda se mantinha a
preocupação com a redistribuição da riqueza com a presença forte da
progressividade. O segundo Governo Provisório elevou os mínimos de
subsistência de vários impostos e agravou as taxas do imposto complementar
até aos 80%, penalizavam-se terrenos incultos com as contribuições prediais,

Rebeca Louro - 2018 75


reintroduziu-se o imposto sobre a indústria agrícola com grandes explorações em
vista e agravou-se a tributação e as taxas sobre produtos supérfluos e bens de luxo.
è Mais tarde, em 1979, criou-se o imposto de transações sobre a prestação de
serviços, que trouxe as prestações de serviços para dentro do sistema fiscal e
acolheu o modelo europeu do IVA.
è Surgiram também os impostos da crise acompanhados por uma eficácia
retroativa.
è A Reforma de 1980 trouxe figuras para Portugal características de um sistema fiscal
moderno, como o IVA, em 1986, o IRS e o IRC, em 1989. O legislador começa a
tomar como referência o direito europeu e não o direito constitucional para a
construção do sistema do imposto. A base de incidência do IVA era alargada a bens
e serviços que, até então, eram livres de imposto, mas havia diversas taxas, sendo
que se aplicava uma taxa de 0 aos bens alimentares mais essenciais e onerava-se
especialmente o consumo de bens de luxo. O IRS seria um imposto único e
progressivo, consagraram-se taxas que iam progredindo em cinco escalões até aos
40%. Em sede de IRC visou-se estimular a produção e investimento através de
pequenas soluções, sempre com a preocupação de elevar o grau de abertura da
economia portuguesa e a necessidade de estabelecer um ambiente tributário que
se comparasse favoravelmente aos dos parceiros e concorrentes. Aprovou-se,
entretanto, em 1989, o Estatuto dos Benefícios Fiscais, complementando o regime
do IRS e do IRC a favor de um mercado de capitais.

Rebeca Louro - 2018 76

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