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Direito Fiscal

Aula 4 - 02.03.23
Matéria da Aula:
- As contribuições especiais de melhoria

- As contribuições especiais de maior desgaste

- As contribuições financeiras a favor de entidades públicas

Contribuições especiais de melhoria

As contribuições especiais de melhoria são consideradas impostos, porém devido às suas


características distintas podem também ser tidas como um tributo autónomo.

De facto, nas contribuições especiais de melhoria está em causa atuação de uma entidade
publica a qual visa valorizar o património do contribuinte.

Exemplo: Com a realização da Expo de 1998, os proprietários dos imoveis situados naquela
zona de Lisboa viram o valor dos seus imoveis aumentar, uma vez que se registou uma
melhoria significativa nas infraestruturas e nos acessos locais. Portanto, naquela altura, os
proprietários foram chamados ao pagamento de uma contribuição especial de melhoria por
causa da atuação do Estado.

Mas qual a diferença entre imposto e Contribuição especial de melhoria?

Quanto ao fundamento, ou seja, quanto ao que dá origem à obrigação de pagamento:


-Na contribuição especial de melhoria não é o contribuinte que desencadeia um
comportamento que manifeste capacidade contributiva. É o Estado que desencadeia atuação
capaz de trazer esse efeito, ou seja, é a entidade pública que desencadeia a atuação que
fundamenta o pagamento. É uma Atividade Administrativa.
É atuação da entidade pública que vai justificar a exigência deste tipo de imposição.
-Nos impostos, pelo contrário, são os contribuintes quem manifesta capacidade
contributiva.

Recondução das contribuições especiais de melhoria ao conceito de imposto


Artigo 4º nº3 Lei Geral Tributária
 Não há bilateralidade
o Nas contribuições especiais de melhoria, tal como nos impostos não existe
uma contraprestação (vinculada). De facto, o que justifica o pagamento de tal
contribuição é o comportamento do Estado.
 Âmbito de aplicação mais circunscrito
o As contribuições especiais de melhoria aplicam-se apenas a determinado
sujeitos em determinada localidade, contrariamente aos impostos que possuem
uma atuação mais abrangente.
o Nota: existe, no entanto, impostos que possuem uma aplicação mais restritiva,
os quais são exigidos somente a determinados sujeitos passivos como é o caso
do IMI que pressupõe a detenção de património, uma vez que apenas incide
sobre quem exerce direito de propriedade sobre um imóvel.
 Não há consignação
o Nas contribuições especiais de melhoria tal como nos impostos não existe
consignação entre a receita arrecadada e a finalidade publica concreta a que se
destina.
Problema relativo a estas contribuições

Ao encararmos as contribuições especiais de melhoria como impostos temos sempre que


partir da existência de capacidade contributiva. Assim, temos que questionar qual a
capacidade contributiva manifestada que justifica tal contributo, e a resposta dá-se por via do
aumento do valor do património (o qual é meramente potencial).
Na verdade, em potência esse aumento existe uma vez que se gera uma manifestação da
capacidade contributiva potencial que se espera que derive do ato do qual efetivamente
resulta o aumento do património do sujeito passivo.
O acréscimo patrimonial em potência traduzir-se-á num efetivo aumento da capacidade
contributiva, mas apenas quando a mais-valia se realizar. [Só a partir desse momento é que o
sujeito passivo terá liquidez para pagar o respetivo imposto]
Exemplo: Berto possui um terreno na zona da Expo 1998 que, antes da execução das obras
valia 100.000€. Após a renovação e melhoria das infraestruturas por parte do Estado, o
terreno deste passou a valer 150.000€. Logo, o património de Berto aumentou em valor.
Contribuições especiais de maior desgaste
Tem em vista a oneração daqueles sujeitos passivos cujo comportamento provoca um
maior desgaste em bens de domínio publico ou que em consequência do seu comportamento
existe o aumento da despesa pública.
Exemplo: Imposto sobre a camionagem, o qual tem em vista incidir sobre os sujeitos passivos
que usam camiões. Este justifica-se pelo consequente desgaste provocado nas estradas, o qual
era reparado pelo Estado.
Exemplo: Imposto sobre o ambiente que em regra podem ser reconduzidos para esta figura
uma vez que estes se pontuam pela lógica de que se um sujeito adota um comportamento
contrário à proteção ambiental então deve ser o mesmo a suportar o desgaste que esse
comportamento refletirá nas contas do Estado.

Mas será que se trata de um imposto?


 O legislador autonomizou-o do ponto de vista conceptual como um tributo autónomo.
 Porém, para efeitos de regime em matéria de reserva de lei aproxima-se do conceito
de imposto.
o Não há bilateralidade
o Não se identifica sinalagmaticidade
o Possui um âmbito de aplicação mais restrito
Consequências da aproximação a imposto:
 Aplica-se o Regime Constitucional previsto para os impostos, tendo sempre por base
o princípio da legalidade fiscal e os Artigos 103º nº2 e 165º nº1 al.i) da CRP.

Contribuições financeiras a favor de entidades públicas

São introduzidas em 1997 em sede de Revisão Constitucional por ser nesta altura que se
começou a determinar o conceito de imposto e de taxa como conceitos rígidos e inflexíveis.
De facto, foram inúmeras as dúvidas que surgiram quanto à classificação desta contribuição,
porém de modo a proteger o contribuinte e tendo por base opo princípio da legalidade seria
mais protetor do contribuinte classificá-la como um imposto. Na verdade, as exigências de
legalidade relativas aos impostos são superiores, uma vez que a intervenção da Assembleia da
República é obrigatória quando se trata de todo o processo inerente à criação ou alteração dos
impostos.
Assim, reconduziram-se as contribuições financeiras a favor de entidades publicas aos
impostos, no entanto as exigências de legalidade que de tal classificação derivam pressupõe
um processo de criação normativa que pode ser demorado e exigente.
No entanto, por haver uma necessidade de facilitar a criação de determinadas imposições,
facilitou-se o processo de criação das mesmas, não as sujeitando ao processo legislativo
rígido dos impostos (exigido constitucionalmente), mas sim aplicando-lhe o regime das taxas.
ATENÇÃO: Não se aplicam as exigências de legalidade do Artigo 165 nº1 al.i) da CRP.
Existe, no entanto, uma certa controvérsia doutrinária:
 Sérgio Vasques: não adota a posição maioritária seguida pelo Tribunal Constitucional,
afirmando que parece ser mais protetor do contribuinte, até que se crie o regime geral
de contribuições financeiras, as contribuições financeiras a favor de entidades
publicas sujeitarem-se, de forma isolada, ao princípio da legalidade.
 Consensualmente, a doutrina concorda com o facto de estas contribuições não serem
taxas, e apresentarem simultaneamente unilateralidade e bilateralidade.
Nota: A suavização da rigidez dos conceitos de imposto e taxa permitiria reconduzir estas
contribuições à figura de imposto.

Tipos de contribuições financeiras a favor de entidades públicas

 Tributos associativos
o Pagamento de quotas a ordens profissionais
o Bilateralidade: justifica-se o pagamento pela representação e proteção de
interesses por parte da Ordem (aproximação ao conceito de taxa).
o Relevante interesse público: a Ordem disciplina o modo como a profissão é
exercida garantindo à comunidade que o exercício dessa profissão é
controlado (aproximação ao conceito de imposto).
 Contribuições para a Segurança Social pagas pelos Trabalhadores
o Bilateralidade: são pagas tendo em vista a garantia do Estado apoiar situações
de maior vulnerabilidade, ou seja, existe uma contraprestação do Estado.
o Unilateralidade: pode existir a contribuição sem que haja a contraprestação, ou
seja, nada garante que o contribuinte beneficiará de apoio estadual (na
verdade, existem trabalhadores que contribuem a vida toda para a Segurança
Social sem nunca necessitarem do apoio do Estado)
 Taxas reguladoras
o São pagas com o propósito de regular determinada atividade
o São imposições que são devidas a entes públicos menores integrados na
administração indireta ou então entidades que contam com um estatuto
independente e que se justificam pela atividade de regulação de um
determinado setor económico.
o Bilateralidade: entre a entidade regulada e reguladora (aproximação ao
conceito de taxa)
o Podem ser entendidas como forma de limitar a atuação (aproximação ao
conceito de imposto)

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