Você está na página 1de 12

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Fábio Pereira de Andrade


,

1 CONCEITOS E ASPECTOS GERAIS DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

1.1 Definição de Planejamento Tributário

Em uma abordagem inicial, é possível dizer que o conhecimento do Planejamento


Tributário é formado partir dos seguintes elementos constitutivos:

Fonte: Elaboração própria a partir de Castro et alii (2007)

Figura 1.1 – Elementos Constitutivos do Planejamento Tributário

Através dessa primeira aproximação, é possível afirmar que o Planejamento Tributário


é uma atividade relacionada à economia no pagamento de tributos.

Dessa forma, ele é estruturado através da combinação entre:

• Conhecimento sobre a legislação tributária vigente nas três esferas de governo


do Brasil;

• Conhecimento sobre as normas contábeis em vigência no país;

2
,

• Conhecimento acerca do planejamento financeiro específico da empresa


para a qual se presta serviço.

A área de sobreposição dos três temas expressa o Planejamento Tributário. Em termos


específicos, segundo Castro et al. (2007) costuma-se caracterizá-lo como a atividade
empresarial que, desenvolvendo-se de forma estritamente preventiva, projeta os atos
e fatos administrativos com o objetivo de informar quais os ônus tributários em cada
uma das opções legais.

SAIBA MAIS

Contabilidade tributária. O que faz o profissional da Área Tributária?

Disponível em: <https://bit.ly/35NyTDZ>

1.2 Finalidade do Planejamento Tributário

Segundo entendimento consolidado na literatura, o objeto central do Planejamento


Tributário é, em última análise, a economia tributária. Tendo em vista esse foco, o
conhecimento da legislação tributária é um dos principais elementos para se obter
economia tributária.

Em termos específicos, esse conhecimento pode:

• Evitar a obrigação tributária (necessidade de pagar imposto e/ou taxa);

• Reduzir o montante a ser pago de imposto, através da redução de alíquota ou


base de incidência;

• Adiar o pagamento de tributos.

A legislação tributária nacional é muito ampla, por isso, o conceito de “Fato Gerador” é
uma chave que permite identificar as possibilidades dentro da legislação.

Fato gerador é a obrigação tributária principal, que tem como objetivo o pagamento
do tributo; é a situação descrita em lei que, uma vez ocorrida, é concretamente

3
,

localizada no tempo e no espaço.

Fonte: Elaboração própria a partir de Castro et alii (2007)

Figura 1.2 – Elementos Constitutivos da Tributação

Os preceitos tributários afirmam que a vontade das partes não pode sofrer qualquer
tipo de modificação após o fato gerador ter ocorrido. No entanto, não será penalizado
o contribuinte que antecipar a ocorrência do fato gerador, começando a projetá-lo e a
dimensioná-lo, com o intuito de economizar nos impostos.

A alteração do fato gerador está relacionada com a organização societária da


corretora, por exemplo, em (micro)empresas individuais todo o custo recai sobre o
ganho do proprietário, enquanto em uma empresa o pagamento de imposto é mais
um custo variável diluído no faturamento. Em relação à redução do montante e ao
adiamento, as limitações são maiores, tendo em vista a existência de legislação
específicas, relativas aos diferentes tributos nacionais.

Segundo Castro et alii (2007), o conteúdo do lançamento fiscal é preenchido com a


constatação formal da ocorrência do fato jurídico, que se ajusta à normativa tributária
descrita em lei, com identificação de quem assume o passivo, qual seja o contribuinte
ou responsável, com a definição do montante a pagar, partindo da base de cálculo
igualmente prevista na legislação. Por fim, determinam-se os termos de exigibilidade
do tributo, isto é, prazo e condições de pagamento.

Ainda, seguindo esses autores, a execução fiscal, em sentido amplo, se refere à efetiva
atuação de cobrança. Acerca desse tema, cabe destacar que há princípios legais que

4
,

estabelecem limites ao poder de tributar. Esses limites falam sobre a capacidade


contributiva, definição de período de cobrança (destacando-se a não retroação da
cobrança), vedação e a utilização de impostos para expropriação de patrimônio.

Em termos específicos, é necessário conhecer as implicações relacionadas ao papel da


legislação tributária e seu desdobramento em esferas tributárias. Nesse sentido, a
figura 1.3 contribui para iniciar a abordagem desse assunto.

Constiuição
de 1988

Lei Complementar
(CTN)

Lei Ordinária

Medida Provisória

Tratados e Convenções
Internacionais

Resoluções do Senado Federal

Convênios (estaduais)

Atos Normativos

Fonte: Elaboração própria a partir de Castro et alii (2007)

Figura 1.3 – Esferas da Legislação Tributária

Dentro da legislação é importante conhecer as Esferas Tributárias:

• Federal (União): Produz leis com validade em todo território nacional, em


termos específicos é responsável pela produção de normas relativas ao
IRPF, INSS e PIS/PASEP, CSLL, COFINS.

• Estados (UF): Produzem leis válidas dentro do seu território, em termos


específicos são responsáveis pela produção de normas relativas ao ICMS.

5
,

• Municípios (Prefeituras): Produzem leis válidas dentro de seu território,


em termos específicos são responsáveis pela produção de normas relativas
ao ISS.

Observação: as normas produzidas nas esferas estaduais e municipais não podem se


sobrepor ou estar em conflito com a legislação tributária federal, assim, o alinhamento
das normas tributárias pode ser descrito pela pirâmide do arcabouço legislativo
tributário.

No que tange as normas contábeis é possível destacar como principais contribuições:

• Definição da estrutura societária;

• Zelo pelo adequado registro e lançamento fiscal;

• Correta interpretação da legislação tributária.

Segundo Gitman (2011), o Planejamento Financeiro incorpora os planos financeiros de


longo prazo (estratégico), os quais orientam a formulação de planos e orçamentos de
curto prazo (operacionais).

Tendo em vista o objetivo desta atividade, recuperando as definições do autor


supracitado, os Planos Financeiros de Curto Prazo especificam ações financeiras e os
impactos previstos para o período de um a dois anos. Assim, o Planejamento
Financeiro de curto prazo começa com a projeção de vendas. Partindo dela, as
empresas desenvolvem planos de vendas que levam em conta a carteira de clientes já
formada e o efeito esperado das prospecções a partir do plano de vendas e dos
diferentes custos entre eles, os operacionais, os fixos e os relativos ao pagamento de
impostos. A partir desses levantamentos é possível construir um orçamento de caixa,
instrumento para controle do fluxo de caixa.

1.3 Partilha Tributária

Em uma abordagem inicial, a Partilha Tributária indica a maneira que os direitos e


responsabilidades da arrecadação estão distribuídos em determinado país.
Considerando a realidade brasileira, Castro et alii (2007) esclarecem que toda

6
,

arrecadação efetuada pelo Estado é partilhada pelos três entes da República


Federativa do Brasil, que são: Governo Federal (União); Estados e Municípios. No que
tange a responsabilidade, esses autores apontam que a União possui controle sobre o
processo de arrecadação e, por consequência, o governo federal retém a maior
parte do total arrecadado.

Ainda seguindo os preceitos de Castro et alii (2007), a responsabilidade da União, em


termos específicos, implica em controle: exclusividade sobre sete impostos específicos,
os quais não são compartilhados com demais entes da federação; exclusividade na
imposição de taxas e demais espécies tributárias; e, por fim, compete apenas à União a
criação de novos impostos.

Além do controle da União, a Partilha Tributária implica considerar que os Três Níveis
da Federação podem utilizar quatro modalidades de arrecadação (espécies
tributárias): Impostos; Contribuições Especiais para categorias especiais e/ou
intervenção sobre domínio econômico; Taxa específicas com consequência de serviços
públicos específicos; e contribuições de melhoria.

1.4 Planejamento Tributário

O planejamento tributário é uma revisão dos processos internos da organização, por


meio da qual o empresário passa a identificar as melhores oportunidades, ele está
relacionado, portanto, à necessidade do contribuinte de melhorar a eficiência das
atividades econômicas de uma organização, com a expectativa de reduzir custos e
maximizar seus rendimentos. (HAUSER, 2018)

O planejamento tributário é uma atividade preventiva que estuda, prepara e orienta a


atividade empresarial de modo a obter, dentro dos parâmetros legais, maior economia
tributária e fiscal.

O administrador procura evitar a utilização de métodos que demandem mais gastos,


sempre comparando as opções legais, tendo em vista que o objetivo do planejamento
tributário é a economia tributária. O planejamento tributário é também denominado
elisão fiscal.

7
,

Hauser (2018), cita a diferença entre Elisão Fiscal e Evasão Fiscal:

Elisão Fiscal é entendida como o planejamento tributário realizado antes da


ocorrência do fato gerador, sendo assim, uma atividade lícita de buscar e
identificar alternativas que reduzam a carga tributária. Evasão Fiscal,
também denominada Sonegação Fiscal, é a forma ilícita, ou ilegal, de
redução tributária, como a fraude e a sonegação, por exemplo. (HAUSER,
2018)

1.4.1 Direito Tributário

O Direito Tributário, também denominado Direito Fiscal, se fundamenta nos art. 145 a
162 da Constituição federal (1988), e a outros conexos a eles. Tais dispositivos
compõem o “Sistema Tributário Nacional”.

Segundo Carota (2016):

O Direito Tributário é o ramo do direito público que estuda as relações


jurídicas entre o Estado (fisco) e os contribuintes, como também a criação, a
limitação, a fiscalização, a cobrança e a arrecadação dos tributos pelo
Estado, com a finalidade de custear suas despesas, realizar investimentos e
cumprir sua função social.

Ao conjunto de normas que compõem e regem o Direito Tributário, a doutrina dá a


qualificação de “fontes” do Direito Tributário. Essas fontes podem ser divididas em:

• Fontes Principais: inovam a ordem jurídica, como, por exemplo, as seguintes


Leis: a Constituição Federal, a Lei Complementar, Medias Provisórias, Emenda
Constitucional etc.

• Fontes Secundárias: não inovam a ordem jurídica, apenas explicam como a


mesma deve ser executada, ou seja, versam sobre a aplicação dos dispositivos,
como, por exemplo: Portaria, Circular, Instrução Normativa, avisos etc.

8
,

1.4.2 Sistema Tributário Nacional

O Sistema tributário é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam o exercício de


impor, fiscalizar e arrecadar todos os tributos do país, pelos entes políticos e órgãos
públicos, aos quais a constituição atribuí competência tributária.

Segundo Bazzi (2016), o Sistema Tributário Nacional busca disciplinar as formas de


arrecadação do governo e seus direcionamentos que se fundamentam nos artigos 145
a 162 da Constituição Federal (1988).

1.4.3 Legislação Tributária

A legislação tributária compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais,


assim como os decretos e as normas complementares que versem, em todo ou em
parte, sobre os tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. (BAZZI, 2016)

1.5 Tributos

De acordo com art. 3º do Código Tributário Nacional (CTN):

Tributo é toda a prestação pecuniária compulsória em moeda ou cujo valor


nela possa exprimir que não constitua sanção de ato ilícito e instituída em
lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
(BRASIL, 1966)

1.5.1 Espécies Tributárias


O art. 5º do CTN diz que as espécies dos tributos são: impostos, taxas e contribuições
de melhorias. (BRASIL, 1966)

O Imposto, de acordo com o art. 16 do CTN (BRASIL, 1966), é o tributo cujo fato
gerador possui uma situação, independente de qualquer atividade estatal específica,
relativa ao contribuinte, ou seja, para exigir imposto de certo indivíduo, não é preciso
que o Governo (Federal, Estadual ou Municipal) lhe preste algo determinado. Por
exemplo: o Imposto de Renda (IR), Imposto sobre a Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA), Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU),
Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) etc.

9
,

A Taxa é uma espécie de tributo vinculado a uma prestação de serviço estatal. Assim, o
fato gerador da taxa não é do contribuinte e sim do Estado, pois ele exerce a atividade
e, por isso, cobra a taxa de quem possa se beneficiar dessa atividade.

O valor da taxa não poderá ser calculado em função do capital das empresas, pois o
parágrafo único do art. 77 do CTN declara que a taxa não pode ter a mesma base de
cálculo ou fato gerador que correspondam a imposto (BRASIL, 1966). Por exemplo:
taxas de serviços, taxa de fiscalização de estabelecimentos (TFE).

A Contribuição de Melhoria foi a terceira espécie de tributo admitida no Brasil. Seu


fato gerador é uma situação que representa um benefício especial auferido pelo
contribuinte, como, por exemplo, a construção civil de uma obra pública que acarrete
a valorização imobiliária do patrimônio do contribuinte. Não é qualquer obra pública
que viabiliza a sua cobrança, sendo necessária a real valorização do imóvel em razão
dela, e, para tanto, só será possível a cobrança da contribuição de melhoria após o
término da obra. O contribuinte não poderá ser obrigado a pagar quantia superior à
valorização do seu imóvel ou o total arrecadado não poderá ser superior ao custo da
obra. Um bom exemplo são as obras de pavimentação pública.

1.5.2 Classificação Tributária

Segundo Rafaelli (2012), um tributo pode ser classificado em: Direto, Indireto, Real,
Pessoal, Proporcional, Progressivo, Fixo, Fiscal, Parafiscal e Extrafiscal. As respectivas
descrições estão a seguir:

• Direto: é quando, em uma só pessoa, reúnem-se as condições de contribuinte.


Exemplo: IR por declaração;

• Indireto: é quando o valor do tributo pago pelo contribuinte é repassado e


cobrado por outro contribuinte, através de sua inclusão no preço de um
produto ou mercadoria. Exemplos: Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) e Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre
Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação (ICMS);

10
,

• Real: é dado quando não se levam em consideração as condições do


contribuinte, incidindo, igualmente, a todas as pessoas. Exemplo: IPTU;

• Pessoal: é definido quando se estabelecem diferenças tributárias em função


das condições próprias do contribuinte. Exemplo: regulamentações específicas
e diferenciadas para os cálculos do Imposto de Renda para as Pessoas Físicas e
Pessoas Jurídicas;

• Proporcional: é caracterizado quando se estabelece porcentagem única


incidente sobre o valor do produto tributável. Exemplo: Imposto sobre a
Transmissão de Bens Imóveis e de direitos a eles relativos (ITBI);

• Progressivo: é aquele cujas alíquotas são fixadas em porcentagens variáveis e


crescentes, acarretando alterações do seu valor, com base no valor do fato
gerador. Exemplo: IR Pessoa Física;

• Fixo: é quando o valor do imposto é determinado em garantia certa,


independendo de cálculo. Exemplo: ISS;

• Fiscal: foi criado para arrecadar recursos para a pessoa jurídica de direito
público interno, de maneira que possa cobrir seus gastos. Exemplo: IR;

• Parafiscal: é a contribuição cobrada por autarquia, órgãos paraestatais,


profissionais ou sociais, para custear seu financiamento autônomo. Exemplo:
taxa anual do Conselho Regional de Contabilidade (CRC), Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) etc.;

• Extrafiscal: se estabelece quando visa não só à arrecadação, mas também, e,


principalmente, a corrigir anomalias. Exemplo: Imposto de Exportação (IE). Os
impostos podem ter mais de uma classificação; por exemplo, o IR é um imposto
que é classificado em indireto, pessoal, progressivo e fiscal.

11
,

REFERÊNCIAS

BAZZI, S. Gestão Tributária. São Paulo: Pearson, 2016.

BRASIL. Código de Tributário Nacional. Lei nº 5. 172, de 25 de Outubro de 1966.


Disponível em: < https://bit.ly/3Hs4CZo>. Acesso em: 02 fev. 2022

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF. Disponível em: < https://bit.ly/3L2WPDD>. Acesso em: 02 fev. 2022.

BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis a União, Estados e
Municípios. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966.

CASTRO, F. A. V.; OLIVEIRA NETO, A. M.; SOUZA JUNIOR, A. A. L; SOUSA FILHO, R. C.

Gestão e Planejamento de Tributos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

CAROTA, J.C. Manual de Direito Tributário Aplicável. São Paulo: Pearson, 2016.

COSTA, A. R. Contabilidade Empresarial. São Paulo: UNISA.

GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson


Education, 2011.

HAUSER, P. Contabilidade Tributária. São Paulo: Pearson, 2018.

RAFFAELLI, R. R. P. Planejamento Tributário. São Paulo: UNISA, 2012.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

LATORRACA, Nilton. Direito Tributário: imposto de renda das empresas. 15. ed. São
Paulo: Atlas, 2000.

12

Você também pode gostar