Você está na página 1de 14

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO

Fábio Pereira de Andrade


,

2 REGIMES TRIBUTÁRIOS

2.1 Regimes Fiscais

Segundo Castro et alii (2007), os regimes fiscais contemplam as diferentes formas de


tributar a renda das pessoas jurídicas. Esses autores buscam uma definição de renda
no Código Tributário Nacional (CTN), assim, a partir dessa referência, estabelecem que
renda é uma riqueza oriunda de fonte patrimonial que pertence ao titular, bem como,
a renda pode ser oriunda de atividade desenvolvida por esse titular.

Em termos específicos, Castro et alii (2007) afirmam que a legislação tributária


nacional prevê três regimes de tributação para pessoas jurídicas: Simples Nacional;
Lucro Real e Lucro Presumido.

O Simples Nacional é um Regime Tributário do governo federal que visa simplificar a


burocracia das empresas, nesse sentido, ele facilita as rotinas e obrigações mensais,
bem como, possibilita o acesso a uma tarifa unificada que incorpora ISS, IRRF, PIS,
COFINS, CSLL, INSS, ICMS, INSS (Patronal) e IPI.

Segundo Gaspar (1997) o conceito de serviço é o identificador de bens imateriais ou


incorpóreos, ou seja, bens que não têm existência palpáveis e tangíveis. São bens que
não podem ser vistos ou tocados, como por exemplo, o direito de usar uma marca, o
transporte de bens ou pessoas de um lugar para o outro ou o conserto de um veículo.

O conceito de serviço como de bem, mercadoria ou produto, é eminentemente


econômico.

• ISS (Imposto sobre Serviços): Segundo Raffaelli (2012), é um imposto


municipal, e a única exceção é o Distrito Federal, unidade da federação que
tem as mesmas atribuições dos Estados e dos Municípios. Seu fato gerador é a
prestação de serviços por empresa ou profissional autônomo, descritos na lista
de serviços da Lei Complementar nº 116 (de 31 de julho de 2003). Ainda
segundo Raffaelli (2012), os contribuintes são as empresas ou profissionais

2
,

autônomos que prestam o serviço tributável, mas os municípios e o Distrito


Federal podem atribuir às empresas ou indivíduos que tomam os serviços, a
responsabilidade pelo recolhimento do imposto. Já a alíquota utilizada é
variável de um município para outro. A União, através da lei complementar
citada, fixou alíquota máxima de 5% e mínima de 2% para todos os serviços. A
base de cálculo é o preço do serviço prestado.

• ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre


Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação, Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços):
Segundo art.155, II, da Constituição Federal de 1988, trata-se de um imposto
estadual, ou seja, somente os Governos dos Estados do Brasil e do Distrito
Federal têm competência para instituí-lo. Cada Estado institui o tributo por lei
ordinária, o chamado “Regulamento do ICMS” ou “RICMS“, que é uma
consolidação de toda a legislação sobre o ICMS vigente no Estado, aprovada
por Decreto do Governador. O principal fato gerador para a incidência do ICMS
é a circulação de mercadoria, mesmo que se inicie no exterior. Além disso, o
ICMS incide sobre serviços de telecomunicação, de transporte intermunicipal e
interestadual, importação e prestação de serviço com emprego de material,
não sujeita à incidência do ISS (exceto quando a lei complementar do ISS,
expressamente, designar a cobrança também do ICMS).

• IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): Segundo Fabretti (2013), o IPI é


um imposto federal que incide sobre produtos industrializados, estrangeiros e
nacionais. Suas disposições estão descritas através do Decreto nº 4.544, de
2002 (RIPI/2002). Para os efeitos do IPI, de acordo com o parágrafo único do
art. 51 do CTN, considera-se industrializado o produto que tenha sido
submetido a qualquer operação que lhe modifique a natureza ou finalidade, ou
o aperfeiçoe para consumo. O fato gerador ocorre em um dos seguintes
momentos:

→ Com o desembaraço aduaneiro do produto importado;

3
,

→ Com a saída do produto industrializado do estabelecimento do


importador, do industrial, do comerciante ou do arrematador;

→ Com a arrematação do produto apreendido ou abandonado, quando


este é levado a leilão.

Os contribuintes do imposto podem ser o importador, o industrial, o


comerciante, o arrematador ou a quem a lei os equiparar, a depender do caso.
As alíquotas utilizadas variam conforme o produto, estando dispostas na Tabela
de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI).

A base de cálculo depende da transação. No caso de venda em território


nacional, a base de cálculo é o preço de venda. No caso de importação, a base
de cálculo é o preço de venda da mercadoria, acrescido do II e demais taxas
exigidas (frete, seguro etc.). (RAFFAELLI, 2012)

• COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social): De acordo


com Hauser (2017), é uma contribuição federal, de natureza tributária,
incidente sobre a receita bruta das empresas em geral e destinada a financiar a
seguridade social, que abrange a PREVIDÊNCIA SOCIAL, a SAÚDE e a
ASSISTÊNCIA SOCIAL. São contribuintes da COFINS as pessoas jurídicas de
direito privado em geral, inclusive as pessoas a elas equiparadas pela legislação
do IR, exceto as microempresas e as empresas de pequeno porte submetidas
ao regime do Simples Nacional (Lei Complementar nº 123/2007). A alíquota é
de 7,6%, para as empresas tributadas pelo lucro real (sistemática da não
cumulatividade), e de 3%, para as demais. Tem por base de cálculo o
faturamento mensal. A incidência da COFINS é direta e não cumulativa, com
apuração mensal, com exceção das empresas que optam pelo Lucro Presumido,
que, no entanto, sofrem a incidência da COFINS pela sistemática cumulativa.
(RAFFAELLI, 2012)

• PIS (Programa de Integração Social): Segundo Hauser (2017), PIS é uma


contribuição social, decorrente das contribuições para o programa de
Integração social, criado pela lei complementar n° 8, de setembro de 1970.
4
,

Segundo Raffaelli (2012), também conhecido como PIS/PASEP, é uma


contribuição social de natureza tributária, devida pelas pessoas jurídicas,
incidente sobre a receita bruta das empresas, com o objetivo de financiar o
pagamento do seguro-desemprego e do abono para os trabalhadores que
ganham até dois salários-mínimos. Consiste em um programa de transferência
de renda, possibilitando melhor distribuição da renda nacional.

• CSLL - Contribuição Social sobre o Lucro Líquido: De acordo com Hauser


(2017), a CSLL é uma contribuição destinada ao financiamento da seguridade
social, instituída pela Lei n° 7.689, 15 de dezembro de 1988. Administrada pela
receita federal do Brasil, essa contribuição tem como base de cálculo o Lucro
líquido das empresas. Incide sobre as pessoas jurídicas e entidades equiparadas
pela legislação do IR e se destina ao financiamento da Seguridade Social,
estando disciplinada pela Lei n° 7.689/1988.

A CSLL é devida pelas pessoas jurídicas da seguinte forma:

→ Pessoas jurídicas optantes pelo SIMPLES: pagam IRPJ, COFINS, CSLL, PIS e
outros tributos unificados;

→ Pessoas jurídicas optantes pelo LUCRO REAL: a alíquota de 9% é aplicada


sobre o Lucro, antes do Imposto de Renda (LAIR);

→ Pessoas jurídicas optantes pelo LUCRO PRESUMIDO: a alíquota de 9% é


aplicada sobre o lucro do empreendimento. (RAFFAELLI, 2012)

• IRPJ - Imposto de Renda da Pessoa Jurídica: A constituição Federal dispõe a


respeito do Imposto sobre a renda (IR). Segundo o art. 153 da CF/1988, por sua
vez, determina a competência da União na instituição de imposto sobre a renda
e sobre proventos de qualquer natureza. Fica evidente que a União é a única
com competência tributária sobre o IRPJ. Segundo Machado (2004), o IRPJ
incide sobre o lucro líquido das empresas, e a base de cálculo é realizada de
acordo com o regime tributário adotado, que pode ser pelo Simples Nacional,
Lucro Presumido ou Lucro Real, e é uma fonte de grande importância para a

5
,

União, uma vez que figura como principal fonte de receita tributária do
governo, tendo nítida função fiscal.

As alíquotas do Simples Nacional são definidas por tipo de atividade e renda.

No que tange as atividades, em 2018 foram atualizadas as tabelas definidas pela Lei
Complementar 123 de 2013, tal atualização permitiu a incorporação de novas
atividades profissionais, além disso, as mudanças contemplaram ampliação do
faturamento limite, especificamente, R$ 4.800.000,00.

Após o exame das tabelas, a determinação da alíquota é realizada partir da soma do


faturamento dos 12 (doze) meses precedentes. Por exemplo, os escritórios de
contabilidade cujo faturamento anual é inferior a R$ 4.800.000,00 se enquadram no
Anexo III (a seguir) do Simples Nacional, assim, suponha um escritório que na apuração
de março de 2018 (março de 2017 a fevereiro de 2018) registrou faturamento de R$
300.000,00, enquanto na apuração de abril de 2018 (abril de 2017 a março de 2018)
registrou faturamento de R$ 400.000,00. No exemplo em questão, o escritório
recolherá, seguindo a alíquota de 11,2% no mês de março, com R$ 9.360,00
dedutíveis; já no mês de abril a alíquota será 13,5%, com direito a deduzir R$
17.640,00 da base de cálculo.

Fonte: Site da Receita Federal

Figura 2.1 – Anexo III do Simples Nacional

6
,

O Regime tributário do Lucro Presumido possui como objetivo principal a apuração do


tributo devido (IRPJ e CSLL), a partir de uma presunção do lucro. A presunção citada é
estabelecida pela Receita Federal do Brasil, de acordo com cada ramo de atividade do
contribuinte.

O cálculo do Lucro Presumido é realizado a partir de uma tabela em que as alíquotas


estão associadas às atividades, conforme a tabela 2.1 a seguir:

Tabela 2.1 – Alíquotas e atividades do Lucro Presumido

Descrição das Receitas % para base da cálculo do IRPJ

Atividades em geral 8,0

Revenda de Combustível 1,6

Serviço de Transporte (exceto cargas) 16,0

Serviço de Transporte de Cargas 8,0

Prestação de Serviços em Geral 32,0

Prestação de Serviços Hospitalares, 8,0


serviços imobiliários, construção e
incorporação

Atividades financeiras 16,0

Prestação de Serviços regulamentados 32,0

Serviços financeiros e factoring 32,0

Fonte: Site da Receita Federal

Além das limitações por atividade, há a exclusão das Pessoas Jurídicas da opção pelo
Lucro Presumido, em virtude do faturamento, especificamente: a pessoa jurídica
cuja receita bruta total no ano do calendário anterior tenha sido igual ou inferior a
R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais) ou a R$ 6.500.000,00 (seis
7
,

milhões e quinhentos mil reais), multiplicados pelo número de meses de atividade


do ano calendário anterior, quando inferior a 12 meses, poderá optar pelo regime
de tributação com base no lucro presumido.

O Lucro Real é um Regime tributário em que a tributação incide sobre o lucro líquido
do período de apuração (apurado contabilmente), ajustado pelas adições, exclusões
e compensações, quando houver, prescritas na legislação, para fins de determinar o
chamado “Lucro Real”.

O regime de Lucro Real estrutura-se a partir da Tabela de Imposto de Renda, cuja


alíquotas estão discriminadas na figura 2.2 a seguir.

Fonte: Site da Receita Federal

Figura 2.2 – Tabela do Imposto de Renda

A partir de 1999 estão abrigadas à apuração do Lucro Real, e, portanto, não


podem optar pelo Lucro Presumido as pessoas jurídicas (Lei no. 9.718/98, art. 14):

I Cuja receita bruta total, no ano-calendário anterior, seja superior a R$


78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais), ou a R$ 6.500.000,00 (seis
milhões e quinhentos mil reais), multiplicados pelo número de meses de
atividade do ano-calendário anterior, quando inferior a 12 (doze) meses
(limite fixado pela Lei 10.637/2002).

8
,

II Cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos,


bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedade de crédito,
financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades
corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidora de títulos e
valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de
crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de
previdência privada aberta;

III que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do


exterior.

2.2 Interpretação dos Regimes Fiscais

Como fora definido previamente, o objetivo do Planejamento Tributário é a economia


de tributo, através de opções que não coloquem em risco a empresa e diminuam a
base de cálculo para arrecadação. A partir dessa definição, a questão que se
estabelece diz respeito ao Regime Fiscal que possibilita maiores possibilidades de
economia de tributos.

Nesse sentido, como fica ilustrado pelas referências das tabelas e anexos de cada
regime, não é possível definir de maneira apriorística um modelo de incidência mais
adequado para todos os tipos de atuação, bem como, para as diferentes faixas de
faturamento. Ainda assim, uma observação geral é necessária: o Simples Nacional
reúne diferentes tipos de imposto, de forma que a simples diminuição de processos
para lançamento e recolhimento é fator que deve ser seriamente considerado por
empresas cujo faturamento se adapte a tal Regime Fiscal.

Em uma análise mais específica, Castro et alii (2007) comparam a base de cálculo para
empresas do segmento industrial com diferentes faturamentos1, nesse quesito a
modalidade Simples Nacional se mostrou vantajosa em relação à opção pelo Lucro
Presumido.

1
Os autores trabalham com empresas cujo faturamento se encontrava na faixa entre R$ 300.000,00 e
R$ 3.600.000,0.

9
,

No entanto, esses mesmo autores demonstram que o quadro se inverte em situações


em que a empresa opera no setor de serviços. Especificamente, para os casos de
empresas cujas atividades se enquadram nos Anexos IV e V, o Simples Nacional se
mostra como uma opção mais onerosa em relação ao Lucro Presumido.

SAIBA MAIS

Simulação e comparação entre Lucro Presumido, Lucro Real e Lucro Simples:

Disponível em: <https://bit.ly/3La5pQI>

2.3 Anexos do Simples Nacional

Fonte: https://bit.ly/3L7zb8P

Figura 2.3 – Anexo I

10
,

Fonte: https://bit.ly/3L7zb8P

Figura 2.4 – Anexo II

Fonte: https://bit.ly/3L7zb8P

Figura 2.5 – Anexo III

11
,

Fonte: https://bit.ly/3L7zb8P

Figura 2.6 – Anexo IV

Fonte: https://bit.ly/3L7zb8P

Figura 2.7 – Anexo V

12
,

REFERÊNCIAS

ANDRADE, F. P. Planejamento Tributário. São Paulo: UNISA.

BRASIL. Código de Tributário Nacional. Lei nº 5. 172, de 25 de Outubro de 1966.


Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/lei5172-1966-codigo-
tributario-nacional-ctn.htm>. Acesso em: 02 fev. 2022

______. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.


Brasília, DF. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 02
fev. 2022.

______. Decreto nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. Altera a legislação do imposto


sobre a renda. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 27 dez. 1977.

______. Decreto nº 4.544, de 26 de dezembro de 2002. Regulamenta a tributação,


fiscalização, arrecadação e administração do Imposto sobre Produtos Industrializados
– IPI. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 26 dez. 2002

______. Lei complementar nº8, de 3 de dezembro de 1970. Institui o Programa de


Formação do Patrimônio do Servidor Público, e dá outras providências. Diário Oficial
da União: Brasília, DF, 3 dez. 1970.

______. Lei complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Dispões sobre o Imposto


Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito
Federal. E dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 31 jul. 2003.

______. Lei complementar nº123, de 17 de outubro de 2007. Permite às


microempresas e empresas de pequeno porte transferirem créditos presumidos da
contribuição do PIS e da Cofins para as empresas optantes pelo Simples Nacional que
delas adquirirem produtos. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 17 out. 2007.

______. Lei nº7.689, de 15 de dezembro de 1988. Institui contribuição social sobre o


lucro das pessoas jurídicas e dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília,
DF, 15 dez. 1988.

13
,

______. Lei nº 9.718, de 27 de Novembro de 1998. Altera a Legislação Tributária


Federal. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 27 nov. 1998

CASTRO, F. A. V.; OLIVEIRA NETO, A. M.; SOUZA JUNIOR, A. A. L; SOUSA FILHO, R. C.


Gestão e Planejamento de Tributos. Rio de Janeiro: FGV, 2007.

COSTA, A. R. Contabilidade Empresarial. São Paulo: UNISA.

GASPAR, W. ISS Teoria e Pratica. 2° ed. Lumen Juris, 1997.

HAUSER P. Contabilidade tributária do conceito à aplicação. 15º ed. Intersaberes,


2017.

FABRETTI, L.C. Contabilidade Tributária. 13° ed. Saraiva, 2013.

MACHADO, H. B. Curso de Direito Tributário. 24ª Ed., SP, Malheiros Editora, 2004.

RAFFAELLI, R. R. P. Planejamento Tributário. São Paulo: UNISA, 2012.

14

Você também pode gostar