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Considerações Básicas sobre a Escrita Fiscal

A escrituração contábil e fiscal é de suma importância para as empresas, sejam


elas dos setores agropecuários, industriais, comerciais ou prestadores de serviços,
independente do tamanho e porte das empresas, visto que é por meio da escrituração
que as empresas conseguem demonstrar aos órgãos públicos como ocorre o
processo empresarial em seus negócios, além de apurar os resultados e recolher os
diversos impostos e contribuições que se fazem necessários como atendimento à
legislação ampla no país que regulamenta todos os aspectos contábeis e tributários.
Do mesmo modo, a escrituração contábil é de extrema importância e
abrangência para o alcance dos objetivos das empresas, visto que é esta escrituração
que serve de base para a distribuição dos lucros, para a compensação e apuração
dos resultados, dos prejuízos apurados e acumulados, além de poder demonstrar a
situação do patrimônio da empresa, com as diversas alterações que ocorrem em razão
das movimentações.
Outro aspecto importante para a escrituração é que a mesma é uma forte
ferramenta gerencial para os acionistas, diretores, sócios e proprietários de empresas,
ajudando-os a tomar as decisões que melhor resultado possam alcançar, além de
demonstrar a situação da empresa em termos financeiros, tributários, de
endividamento, de investimentos, entre outros aspectos.

HISTÓRICO DA CONTABILIDADE FISCAL

Em 1888, a Princesa Isabel, em nome do Imperador D. Pedro II, determinou a


implantação do decreto que regulamentava a cobrança de impostos, basicamente
sobre a atividade das indústrias e de profissões. Assim sendo, os comerciantes
desfrutavam de isenções. Esse decreto possuía algumas particularidades, como o
chamado “princípio da anualidade” e a “regra da anterioridade”, que fixavam o início
da cobrança do imposto para o dia 1º de janeiro e era referente ao ano anterior.
O decreto também expunha que o imposto era devido por todas as pessoas
que exercessem a atividade industrial ou alguma profissão, com algumas exceções:
trabalhadores de engenhos, tripulantes de navios, artistas, operários, proprietários de
oficinas que não possuíam aprendizes, Caixa Econômica, instituições de ajuda
humanitária, pescadores, mercearias, professores, tecelagens, fábricas de máquinas
e estaleiros, funcionários públicos, entre outros.
Os valores podiam ser fixos ou proporcionais. Os valores fixos tinham por base
a natureza dos negócios, sendo aplicados à atividade industrial, e era necessário que
as indústrias declarassem sobre suas máquinas, funcionários, utensílios, etc.
Os valores proporcionais consideravam os valores de locação onde era
exercida a atividade do contribuinte.
As empresas eram tributadas em 1,5% dos dividendos distribuídos. Se não
houvesse dividendos, fazia-se um cálculo do imposto sobre os dividendos de
indústrias correspondentes.
Já era necessária a escrituração contábil e fiscal, em livros comerciais
autenticados e o imposto era recolhido diretamente nas casas que recolhiam o tributo,
por meio dos agentes de recolhimento. O imposto era pago em parcela única, no mês
de fevereiro.

ESTRUTURA DO IMPOSTO

Os impostos são classificados de acordo com a esfera governamental que o


regulamenta e para a qual os recursos são destinados. Assim sendo, nas esfera do
Governo Federal, os principais tributos são:

a) I.R.P.J. (Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas): é o imposto


recolhido sobre a renda das empresas, principalmente, para a Receita Federal. As
informações pertinentes a esse tributo, como base de cálculo, por exemplo,
dependem do regime de tributação a qual a empresa optou. Sobre esse tema,
descreveremos mais adiante.
b) C.S.L.L. (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido): segue os formatos
para o IRPJ, sendo baseado na opção de tributação das empresas. É recolhido
pela Receita Federal. As alíquotas oscilam entre 9% para as empresas que optam
pelo lucro real a 12% para as empresas do lucro presumido.
c) P.I.S. (Programas de Integração Social): é apurado sobre o valor do
faturamento mensal de empresas, com alíquota variando entre 0,65% a 1,65%,
dependendo da forma de tributação das empresas.
d) C.O.F.I.N.S. (Contribuição para o Financiamento da Seguridade
Social): é um tributo que incide sobre o faturamento das empresas, com alíquota
de 3% a 7,6%.
e) I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social): são recolhidos sobre
a folha de pagamentos dos funcionários das empresas. As alíquotas chegam a
28,80%.
f) IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): é um tributo que incide
sobre a industrialização de bens, no qual a alíquota varia de acordo com o produto.

Da mesma maneira que os tributos federais, existem os tributos estaduais.


Merecem destaque:
a) ICMS (Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e
Serviços): é o principal imposto estadual e o de maior arrecadação. Incide sobre
operações relacionadas à circulação de mercadorias, de serviços de transporte e de
comunicações. As alíquotas variam de estado para estado, por exemplo, no estado
de São Paulo a alíquota é de 18% e no Rio Grande do Sul é de 12%. Parte da
arrecadação com esse tributo é destinada aos municípios.
Do mesmo modo, existem os impostos municipais, com destaque para o ISS
(Imposto Sobre Serviços).
Assim sendo, para que aconteça o recolhimento dos impostos e outros tributos,
é necessário que se exija a devida legislação correspondente, além da obrigação
tributária e o fato gerador que o constitui. Dessa forma, como exemplo, citamos o
ICMS, que é um imposto estadual que possui legislação própria, tendo como
obrigação tributária a legislação sobre a circulação de mercadorias e serviços, e como
fato gerador a emissão da nota fiscal de venda, ou a execução da função faturamento.

CONCEITO DE TRIBUTO

De acordo com o Código Tributário Nacional (2005), “tributo é toda contribuição


pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada”.
Dessa forma, tributo é todo valor pago ao Estado pelos contribuintes, que
podem ser pessoas físicas, ou empresas, tanto no âmbito federal, estadual ou
municipal, por meio de legislação própria que o regulamente. Com esses recursos, os
Governos Federal, Estaduais e Municipais tentam cumprir a sua função em relação à
sociedade. Os tributos podem ser classificados de diversas maneiras:

g) Impostos: é um tributo cobrado de forma geral, a todos os


contribuintes, onde os recursos são destinados a toda a sociedade. Os impostos
de maior relevância são: ICMS, IPI, PIS, COFINS, IRPF, IRPJ, ISS, entre outros.
h) Taxas: são tributos cobrados pelo Estado em troca de algum serviço
ou benefício prestado ao contribuinte, como as taxas de coleta de lixo, taxa de
iluminação pública, entre outras.
i) Contribuições de melhoria: são aquelas usadas pelo governo para
a realização de alguma obra específica.

De acordo com Veloso (2003), o governo pode cobrar tributos por meio de
algumas formas principais:

a. Tributos sobre o Consumo: são aqueles que são cobrados por meio
das compras de mercadorias pelos consumidores, onde incidem: o ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o I.P.I. (Imposto sobre Produtos
Industrializados), o I.S.S.Q.N. (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza), o
I.I. (Imposto sobre Importação), além de COFINS, P.I.S. entre outros.
b. Tributos sobre a Propriedade: são aqueles que existem em função
do patrimônio. Os principais são I.P.T.U. (Imposto Predial Territorial e Urbano),
I.T.R. (Imposto sobre a Propriedade Rural), I.T.B.I. (Imposto sobre Transmissão
Inter Vivos), I.P.V.A. (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores) e o
I.T.C.M.D. (Imposto sobre Transmissão de Heranças e Doações).
c. Tributos sobre a Renda: são todos aqueles que incidem sobre a renda
gerada pelos contribuintes. Entre eles estão IR (Imposto de Renda) e C.S.L.L.
(Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
d. Contribuições sobre a mão de obra: além dos citados acima, ainda
existem os tributos que são incidentes sobre o trabalho das pessoas, como o
I.N.S.S. (Instituto Nacional de Seguridade Social).
Dessa forma, toda vez que ocorrer o faturamento, com a emissão de nota fiscal,
na mesma nota fiscal haverá especificado o valor correspondente ao ICMS, que deve
ser recolhido ao governo, em datas estabelecidas. Um fato que ocorre é a chamada
não cumulatividade dos impostos, em que o pagamento do ICMS na compra com o
fornecedor não acumula com o recolhimento na venda, onde a empresa recolhe
apenas o valor a que se refere a não cumulatividade. De acordo com (MARTINS,
2011a, p.12): [...] entre o fato gerador e a declaração do sujeito passivo, estão
compreendidas as obrigações acessórias, tais como emissão de documentos fiscais,
escrituração de livros, elaboração de arquivos magnéticos, sendo justamente sobre
os documentos produzidos em cumprimento às obrigações acessórias que recai a
atividade fiscalizadora do Estado.
Dessa forma, além do contribuinte, seja pessoa física ou empresa, ter que
recolher os impostos ao governo, ainda necessita arcar com os custos relacionados
aos procedimentos para esse fim, como o preenchimento de guias, carnês,
declarações, entre outros, que também oneram o processo empresarial.

PRINCÍPIOS

A tributação é regida pelas leis e outros componentes da legislação que a


regimenta. Dessa forma, existem alguns princípios que são pertinentes aos tributos.
De acordo com a Constituição Federal 1988, nos artigos 145, 150 e 152, os
princípios são:

A. Princípio da Legalidade: É vedado à União, aos Estados, ao Distrito


Federal e aos municípios:
• Exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça,
ou seja, o tributo não pode ser criado ou aumentado sem que seja
amparado por lei (Art. 150).

B. Princípio da Isonomia ou igualdade tributária: instituir tratamento


desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida,
independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos
(Art. 150).
C. Princípio da irretroatividade: Cobrar tributos:
• Em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da
vigência da lei que os houver instituído ou aumentados;
• Princípio da anterioridade simples: cobrar tributos no
mesmo exercício financeiro que tenha sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou.
• Princípio da anterioridade nonagesimal ou
noventena: antes de decorridos noventa dias da data em que tenha sido
publicada a lei que os instituiu ou aumentou (Art. 150).

D. Princípio da competência: a União, o Estado ou o Município


exercitarão as competências tributárias, não lhes sendo permitidas, porém,
qualquer delegação ou prorrogação desta competência para outro ente que não
seja aquele expressamente previsto na Constituição (Art. 150).

E. Princípio da não discriminação tributária: visando à procedência e


ao destino dos bens, o artigo 152 da Constituição Federal proíbe a manipulação
de alíquotas, bases de cálculo ou qualquer outra fórmula tributária em benefício
ou prejuízo da economia da União, dos Estados ou dos Municípios (Art. 150).

F. Princípio da capacidade contributiva: segundo o art. 145 § 1º,


“sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração
tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar,
respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os
rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”.

G. Princípio da vedação de tributo confiscatório: fica vedado à União,


aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
• Utilizar tributo com efeito de confisco (Art. 150).

H. Princípio da liberdade de tráfego: É vedado à União, Estados, Distrito


Federal e Municípios:
• Estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por
meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvado a
cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder
Público (Art. 150).

ELEMENTOS DO TRIBUTO

Os tributos podem ser classificados de diversas maneiras:

j) Impostos: é um tributo cobrado de forma geral, a todos os


contribuintes, onde os recursos são destinados a toda a sociedade. Os impostos
de maior relevância são: ICMS, IPI, PIS, COFINS, IRPF, IRPJ, ISS entre outros.
k) Taxas: são tributos cobrados pelo Estado em troca de algum serviço
ou benefício prestado ao contribuinte, como as taxas de coleta de lixo, taxa de
iluminação pública, entre outras.
l) Contribuições de melhoria: são aquelas usadas pelo governo para a
realização de alguma obra em específico.

Assim sendo, de acordo com Martins (2011a), existem alguns elementos que
fazem parte do processo de tributação:

i. Obrigação Tributária: é por meio dessa relação jurídica


que o Estado tem o direito de exigir do contribuinte o pagamento de
determinado tributo.
ii. Legislação Tributária: Compreende todas as leis que
determinam o processo de coleta, recolhimento e cobrança de tributos.
iii. Fato Gerador: é o fato, ou ocorrência, que torna
necessário o seu acontecimento para que gere o recolhimento de
determinado tributo. Como exemplo, o ICMS tem como fato gerador a
emissão da nota fiscal de venda ao consumidor. O CTN o define nos
artigos 114 e 115:

Art.114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como


necessária e suficiente à sua ocorrência.
Art.115. Fato gerador da obrigação acessório é qualquer situação que, na
forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configura
obrigação principal.

O fato gerador pode ser:

A. Fato gerador instantâneo: é aquele fato que se concretiza


sempre na ocorrência de um ato. Por exemplo, com a venda de um imóvel,
o pagamento feito pelo comprador é fato gerador do ITBI.
B. Fato gerador periódico: é o que a lei determina que o tributo seja
apurado em determinado período. Por exemplo, a ocorrência do ICMS deve
ser apurada mensalmente.
C. Fato gerador complexivo: é o fato gerador que necessita que
sejam construídas várias operações para se apurar a base de cálculo e o
tributo devido. Por exemplo, para se calcular o Imposto de Renda da
Pessoa Física, são necessários diversos cálculos que irão determinar a
diferença entre as receitas e despesas por ele apreciadas durante o período
de determinado ano.
iv. Sujeito Ativo: é a personalidade que tem o direito de exigir
a execução da obrigação tributária.
v. Sujeito Passivo: é o contribuinte que tem o dever de pagar
os tributos.

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