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OS GÊNEROS DISCURSIVOS, NO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA, COM

ÊNFASE NO FOLDER, COMO INSTRUMENTO PARA A CIDADANIA

Cleomara Fernandes dos Anjos Mendonça1

Flávio Brandão Silva2

Resumo
As Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa, para o Ensino Fundamental e Médio, no
estado do Paraná (DCEs), orientam que o ensino de leitura e escrita esteja fundamentado nos
gêneros discursivos, ou seja, numa perspectiva discursiva baseada em um trabalho pedagógico com
a linguagem. Compreende-se que se configuram gêneros discursivos, à luz da teoria bakhtiniana, as
várias produções textuais circundantes na sociedade e que foram produzidas a partir de atividades
socioculturais e das inovações tecnológicas, cada uma na sua esfera específica de comunicação. O
presente trabalho, tem por objetivo propor uma abordagem da leitura e da escrita, a partir do gênero
discursivo folder. A escolha se deu pelo fato de que o folder é um gênero que atende as demandas
sociocomunicativas atuais devido a sua função social e sua forma estrutural, a qual alia a linguagem
verbal e não verbal para informar sem cansar o leitor. Além disso, a opção pelo folder está aliada à
proposta em questão, com uma temática voltada à problemática do destino final do lixo que
produzimos. A intervenção proposta seguiu os passos da Unidade Didática, conforme Morrisson
(2006). A Unidade Didática é um recurso metodológico que permite trabalhar conteúdos de forma
coerente, a fim de promover adaptações de aprendizagens e desenvolver experiências de uma forma
que isso atue na vida dos alunos. O trabalho foi realizado, com os alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental, do Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa, no município de Paranapoema.

Palavras-chave: Leitura; escrita; folder; gêneros discursivos

1- Introdução
Desenvolver o domínio da leitura e da escrita, por parte dos alunos è visto
como responsabilidade dos professores de Língua Portuguesa, o que se apresenta
como um grande desafio, para os professores dessa disciplina.
Por isso, há a necessidade, nas aulas de língua materna a contextualização
nas práticas de leitura, com textos significativos e uma prática de escrita que não

Graduada em Letras pela Aepreve de Presidente Venceslau-SP (2000). Graduada em Pedagogia


1

pela Falc de Carapicuíba-SP (2014). Especialista: Administração, Supervisão e Orientação


Educacional (2002), Docência na Educação Infantil e Anos Iniciais (2007).
2
Docente do curso de Letras da Universidade Estadual do Paraná-UNESPAR, Doutor em Estudos da
Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina-UEL (2017), Mestre em Linguística e Língua
Portuguesa pela UNESP. Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá-UEM.
seja mero exercício. Dessa forma, é necessário que o professor priorize práticas que
resultem em um ensino reflexivo e uma aprendizagem significativa.
Diante do exposto, optou-se por trabalhar com o gênero discursivo folder, pois
a integração de signos verbais e imagens na sua estrutura composicional
proporcionam o repasse de informações de forma rápida e concisa, contribuindo,
dessa forma, para a formação crítica e também para a reflexão dos usos da
linguagem.

Embora o folder se apresente como um texto que traz formas rápidas de


comunicação, a sua produção exige pesquisas, leituras e aquisição de
conhecimento sobre o que será informado, sendo necessária a capacidade de
síntese e organização das ideias de quem o produz.
Ao trabalhar a leitura e a escrita com o gênero folder, deve-se levar em conta
o processo de inferências e de construção de sentido. Assim esse trabalho deve
possibilitar ao aluno perceber a linguagem verbal e também a não verbal,
estabelecer relação entre escrita e imagem, e, assim, entender que uma completa a
outra na formação do enunciado transmitido por este gênero discursivo específico.
Dessa forma, o trabalho com o gênero folder contribuirá para a formação
crítica do aluno e o conduzirá à reflexão dos usos da linguagem por meio de práticas
que levam ao letramento.
Assim, a implementação tomou como foco a leitura e a escrita do gênero
folder, a partir de um problema enfrentado pela comunidade na qual a escola está
inserida, ou seja, a destinação e o tratamento dados ao lixo produzido no município.
Trata-se de um tema relevante tendo em vista o disposto na Lei n° 12.305/10,
que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a qual determina a troca de
lixões por aterros sanitários. Como o município de Paranapoema não possui um
lugar adequado, de acordo com a lei, o município tem transportado todo o lixo
produzido para um aterro sanitário localizado no município de Maringá, no Norte do
Paraná, gerando um alto custo para a prefeitura e os seus munícipes.
Assim, a problemática a que buscou-se responder foi: será possível utilizar os
gêneros discursivos, com ênfase nos folders, para indicar caminhos possíveis de
sensibilização para um problema ambiental local, como a produção e o destino final
do lixo no município de Paranapoema?
Na prática, contextualizar um problema vivido pela comunidade local com os
conteúdos escolares, utilizar os saberes adquiridos na escola, através de leituras
realizadas sobre os problemas ambientais causados pelo lixo, a separação do lixo
reciclável, ainda em sua casa, sintetizar esses conhecimentos e organizá-los na
produção de um folder, a fim de levar à população informações necessárias sobre a
questão do lixo, no município, é o que se pretende com o presente trabalho.

2 - Fundamentação Teórica

2.1 Conceito de Leitura

A leitura é o meio mais eficiente para desenvolver o exercício da cidadania. É


na escola que será trabalhada a leitura com o objetivo de ampliar o conhecimento do
sujeito, para o mesmo conseguir ler as entrelinhas de um enunciado. Assim o sujeito
tornar-se-á mais independente no seu meio.
Segundo Solé (2009), “a aquisição da leitura é imprescindível para agir com
autonomia nas sociedades letradas, e ela provoca uma desvantagem profunda nas
pessoas que não conseguiram realizar essa aprendizagem”(SOLÉ, 2009, p.43).
Não existe, portanto, leitura fixa e imutável, nem uma só maneira de ler que é
a melhor em todos os casos. Para Barbosa (1991), existe uma variedade de leituras
multiformes, adaptadas á intencionalidades diversas, cada uma representando a
melhor resposta a uma determinada situação de leitura, para satisfazer a
curiosidade, responder questões que a vida lhe coloca, informar-se para decidir, ou
vaguear pelo imaginário.
Nas escolas públicas do Paraná, a prática da leitura é norteada pelas
Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa, Paraná (2008),

A leitura é vista como um ato dialógico, interlocutivo. O leitor, nesse


contexto, tem um papel ativo no processo da leitura, e para se efetivar como
co-produtor, procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou
rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento
linguístico, nas suas experiência e na sua vivência sócio-cultural ( PARANÁ,
2008, p.47).

Vale ressaltar que a escola torna-se fator indispensável na aquisição do


hábito da leitura e a formação do leitor consciente, pois, mesmo com suas
limitações, é o espaço destinado ao aprendizado da leitura. Tendo em vista que a
leitura não se restringe à “simples decodificação”, sendo preciso que o aluno, de
acordo com Menegassi (2010),

Associe, relacione, generalize e abstraia elementos do texto, evidenciando a


perspectiva de leitura do leitor. Nela, espera-se que o aluno relacione o
texto com o seu conhecimento de mundo, trazendo seu posicionamento
para aquilo que lê (MENEGASSI, 2010, p. 327).

Ao mencionar a necessidade da aquisição de leitura na esfera escolar, as


DCEs enfatizam a leitura, o posicionamento de cada leitor diante dos textos e, ainda,
a busca dos sentidos que eles encobrem:

Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas


sociais: jornalística, artística, científica, didático-pedagógica, cotidiana,
midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é
preciso considerar as linguagens não-verbais como: imagens, fotos,
cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com
intensidade crescente nosso universo cotidiano, que se denomina
multiletramentos e que possibilita a interação com outras formas de
linguagem. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica
que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar
uma atitude responsiva diante deles. Somente uma leitura aprofundada, em
que o aluno é capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda
as reais intenções que cada texto traz (PARANÁ, 2008, p.71).

Ou seja, ler é identificar sinais gráficos, o som e o sentido. A leitura é a


decifração da escrita. Martins (2005),a define “como um gesto mecânico de decifrar
sinais” (MARTINS, 2005, p.9).
Kleiman (1997),apresenta a leitura como um conjunto de processamento de
três níveis de conhecimento: o conhecimento linguístico (quando o leitor
compreende e atribui significados ao texto), o conhecimento textual (quando
percebemos se o texto é coerente ou não) e o conhecimento prévio (é o que o leitor
tem sobre o mundo em geral). Esses três níveis são ativados de forma interligada
para que haja a compreensão global do texto. Para Schuts (2009), essas
concepções descritas esclarecem que a leitura é uma atividade interativa do ponto
de vista que se utiliza diferentes conhecimentos e sentidos para realizá-la (SCHUTZ,
2009, p.57).
Assim, o professor deve desenvolver o ensino de leitura baseado nos três
níveis de conhecimento, ainda de acordo com Schutz (2009), “não se detendo
apenas no conhecimento textual, aprofundando-se à gramática, nem apenas ao
conhecimento linguístico ou de mundo, mas num elo entre os três” (SCHUTZ, 2009,
p.58).

2.2 Relação Leitura e Produção Textual

A leitura e a escrita são duas atividades que assumem um papel importante


na vida de qualquer sujeito. Nesse sentido, a escola deve organizar-se por meio de
práticas sociais de leitura e de escrita pautadas nas diferentes situações de
comunicação e nas diferentes tarefas de interlocução em que os alunos possam
apropriar-se das características discursivas e linguísticas dos gêneros em situações
de comunicações reais.
Diante do exposto, ressalta- se aqui a importância de práticas de leitura e de
produção textual, pautadas no trabalho com os gêneros discursivos, pois é por meio
deles que acontece a interação social entre os sujeitos. Dessa forma, a leitura é
vista como produtora de sentidos. O leitor, nesse contexto, ganha o mesmo estatuto
do autor e do texto. Na escrita, deve- se levar em conta que um escritor competente
é aquele que sabe escolher um gênero apropriado aos seus objetivos para realizar
um discurso.
Nesse sentido, explica Marchuschi (2008):

Os gêneros têm uma identidade e eles são entidades poderosas e, na


produção textual, nos condicionam a escolhas que não podem ser
totalmente livres nem aleatórias, os gêneros limitam nossa ação na escrita
(MARCHUSCHI, 2008, p. 156).

Desse modo, é preciso focalizar a função do texto e disponibilizar o contato


com textos de diferentes gêneros discursivos e com diversos propósitos
comunicativos, para que ao longo do processo de ensino e aprendizagem, os
educandos sejam encaminhados a um melhor desenvolvimento em relação á leitura
e á escrita, tanto dentro quanto fora da escola.
Para Geraldi (1984), devem-se enfatizar,nas práticas de produção textual,
considerações sobre “ter o que dizer”, “razão para dizer” e “interlocutores para quem
dizer”. Desse modo, as produções de textos propostas no âmbito escolar terão uma
abordagem dialógica e carregada de sentido para o aluno, o qual se colocará como
locutor falando a um interlocutor.
Nesse sentido, o presente projeto consiste em planejamento que inclui prática
de leitura e de escrita de textos reais para destinatários reais com integração entre
diversas áreas de conhecimento.

2.3 Gêneros do Discurso e suas Implicações no Ensino

Considerando os conceitos teóricos de Bakhtin (2011)sobre a linguagem, o


ensino de língua materna deve ser pautado em uma perspectiva sociointeracionista,
pois o autor entende a linguagem como um fenômeno social de interação verbal,
realizada por meio dos enunciados e das enunciaçõesque vão constituir a realidade
fundamental da linguagem.
Nessa concepção, o homem utiliza a linguagem para interagir no contexto
social, sendo língua e linguagem concebidas como atividades interativas entre os
sujeitos. “A língua é deduzida da necessidade do homem de auto expressar-se, de
objetivar-se”. (BAKHTIN, 2011, p. 270).
A linguagem para Bakhtin é uma prática social que tem na língua a sua
realidade material. A língua é entendida não como um sistema abstrato de formas
linguísticas à parte da atividade do falante, mas como um processo de evolução
ininterrupto, constituído pelo fenômeno social da interação verbal, realizada por meio
da enunciação, que é a sua verdadeira substância.
Para Bakhtin, o fundamento de toda a linguagem é o dialogismo. Essa
interação com o outro que acontece por meio dos enunciados: interação verbal
entre as vozes sociais, que estão presentes na enunciação: momento de criação do
enunciado, o qual Bakhtin chama de momento de criação do diálogo, o ato de
comunicação entre os sujeitos.
Dessa forma, o enunciado é visto por Bakhtin como unidade da comunicação
verbal e “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denomina-
se gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2011, p.262).
Assim, para o autor, há uma riqueza e uma diversidade infinita de gêneros
discursivos, porque são inesgotáveis as possibilidades de interação entre os
sujeitos, nas diferentes esferas de comunicação e em diferentes contextos de
enunciados. O querer dizer do locutor se realiza, acima de tudo, na escolha de um
gênero do discurso. Nesse sentido, Marcuschi (2008) afirma que é impossível não
se comunicar verbalmente por algum gênero.
Em relação às práticas didático-pedagógicas de Língua Portuguesa, as DCEs
propõem um processo de ensino pautado nas teorias bakhtinianas de linguagem e
uma abordagem focada nos gêneros do discurso. “O trabalho com a disciplina
considerará os gêneros discursivos que circulam socialmente, com especial atenção
àqueles de maior exigência na sua elaboração formal” (PARANÁ, 2008, p.63).
Nesse sentido, uma abordagem pedagógica a partir dos diversos gêneros do
discurso favorece o desenvolvimento da percepção de que, no mundo das
linguagens, a produção de sentidos é apreendida por meio de um contexto, de uma
circunstância, em situações específicas de comunicação e carregada de intenções.
É necessário evidenciar que, nos textos e por meio deles, os indivíduos produzem,
reproduzem ou desafiam práticas sociais.
Para Bakhtin “quanto melhor dominamos os gêneros tanto mais livremente os
empregamos tanto mais plena e nitidamente descobrimos neles a nossa
individualidade (onde isso é possível e necessário)”. (BAKHTIN, 2011, p.284). Nesse
sentido, as DCEs ressaltam que:

O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com


maior propriedade se lhe for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita
e oralidade, o caráter dinâmico dos gêneros discursivos. (PARANÁ, 2008,
p.53).

Vale ressaltar que é preciso considerar que a linguagem se coloca como


sistema mediador de todos os discursos, e em todas as esferas de comunicação.
Por isso, segundo Carvalho (2014),ensinar por meio de gêneros discursivos
favorece o interesse dos alunos pela língua, uma vez que, nessa perspectiva, ela
existe porque há situações de comunicação efetivas entre as pessoas. Como as
comunicações ocorrem em áreas específicas de relacionamento humano, os
gêneros também ocorrem nessas áreas.
Sendo assim, quanto mais gêneros discursivos ensinar aos alunos, mais
oportunidades haverá de fazê-los praticar, na escola, situações de comunicação nas
quais estão ou estarão envolvidos. A ampliação do domínio de gêneros discursivos
pelos alunos, favorecem sua participação como cidadãos em sua comunidade.
2.3.1 O gênero discursivo folder

Algumas indagações se apresentam sobre o folder ser considerado gênero


discursivo ou suporte. Nesse sentido, Marchuschi (2008),esclarece que alguns
consideram o folder como gênero, e outros, como suporte. Diante disso, “a questão
do folder não é clara e há pouco consenso sobre o caso” (MARCHUSCHI, 2008,
p.182). No entanto, as DCEs, em sua tabela de demonstração de gêneros, conforme
as esferas de circulação, classificam o folder como gênero pertencente à esfera
social de circulação publicitária. (PARANÁ, 2008, p.100).
A tecnologia e os recursos tecnológicos têm transformado a vida do homem
consideravelmente nas últimas décadas. Principalmente quando se trata da
comunicação entre as pessoas, tudo acontece muito rápido. Por isso, é comum nos
depararmos no dia a dia com textos que trazem informações de forma rápida e
concisa, atendendo à necessidade de comunicação da sociedade atual.
Para Bakhtin (2011), alguns gêneros são adaptados, transformados,
renovados, multiplicados ou até mesmo criados a partir da necessidade que o
homem tem de se comunicar com o outro, tendo em vista que todos os diversos
campos da atividade humana dependem do uso da linguagem.
Diante do exposto, optou-se, no presente projeto pelo trabalho com o gênero
discursivo folder, por ser um gênero que atende as demandas sóciocomunicativas
atuais devido a sua função social e sua forma estrutural, a qual alia a linguagem
verbal e não verbal para informar sem cansar o leitor.
Segundo Karwosk (2005),a utilização da linguagem em folders é interessante
e merece estudos em razão do funcionamento heterogêneo e dialógico que
apresenta. Por sua dinamicidade e potencial de linguagem, poderia ser utilizado
como material no ensino- aprendizagem de língua em sala de aula.
O folder segue o estilo americano de panfletos, com dobras que separam as
informações nele contidas. Há a constituição de diversas semioses, linguagem
verbal e não verbal e estética tipográfica, que chamam a atenção do leitor devido à
sua forma de apresentação.
Bakhtin (2011) classifica os gêneros em primários e secundários. O folder,
segundo Karwosk, pertence aos gêneros secundários, pois, em oposição aos
gêneros primários, como a carta familiar, por exemplo, aparece em circunstâncias
culturais mais complexas, evoluídas e, necessariamente, apresenta determinadas
características.
Ao realizar leituras de folders, analisam-se, segundo Marchuschi (2008),textos
concretos, pois o folder é produzido contextualmente, com intuito discursivo e
finalidades específicas. Para Karwosk (2005),devido à diversidade de formas, estilos
e finalidades, o folder representa um recurso midiático muito importante na
sociedade, pois, assim como outros textos, apresenta formas relativamente estáveis
de enunciados que circulam socialmente.
Assim, ao trabalhar a leitura e a escrita com o gênero folder, deve-se levar em
conta o processo de inferências e de construção de sentido e não apenas como
atividade de decodificação. Esse trabalho deve possibilitar ao aluno perceber a
linguagem verbal e também a não verbal, estabelecer relação entre escrita e
imagem, e, assim, entender que uma completa a outra na formação desse
enunciado específico.
Dessa forma, o trabalho com o gênero discursivo folder contribuirá para a
formação crítica do aluno e o conduzirá à reflexão dos usos da linguagem por meio
de práticas que levam ao letramento.

3- Informações metodológicas

O público alvo foram alunos do 8° Ano. O trabalho foi desenvolvido em cinco


momentos distribuídos em um período de 32 horas aula todas realizadas no período
vespertino, durante o período de aula regular.
Para o desenvolvimento do trabalho, adotou-se o esquema metodológico da
Unidade Didática. De acordo com Morrison (2006), a Unidade Didática, consiste em
uma sequência de cinco momentos que articulam a organização do ensino e da
aprendizagem. São eles:
a) Exploração: desenvolveu-se, nesse momento, uma sondagem dos
conhecimentos que os alunos possuíam a respeito do gênero discursivo
folder e sua função social, por meio de questionamentos e apresentação
de alguns folders que circulam socialmente.
b) Apresentação: foi apresentado aos alunos o gênero discursivo folder, por
meio de leituras de diferentes folders e atividades de estudo sobre
circulação, intenção do locutor, público alvo, contexto de produção e sua
estrutura integrando textos escritos e imagens. Nesse momento, também
foi apresentada a situação/problema que servirá como assunto para a
produção do folder posteriormente, a questão do lixo no município de
Paranapoema.
c) Assimilação: foram oportunizados aos alunos leituras de textos e vídeos
informativos, pesquisas sobre a Lei 12.305/10, pesquisa de campo,
entrevistas sobre o assunto que será o tema da criação do folder e
estudos sobre a estrutura composicional do gênero discursivo em estudo.
d) Organização: Nesse momento, os alunos realizaram a elaboração de
sínteses das informações obtidas. Selecionaram as principais
informações, tendo em vista o espaço restrito que demanda no folder e
escolha das imagens que foram complementos da escrita na elaboração
do folder informativo.
e) Exposição ou Culminância: nesse momento, foi realizada a elaboração
do folder pelos alunos e a distribuição para a população do município.

4- Apresentação e discussão dos resultados obtidos

As atividades relativas a proposta do ensino de leitura e escrita do gênero


discursivo folder foram desenvolvidas no Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da
Costa, de Paranapoema, Paraná. As aulas foram desenvolvidas no oitavo ano
fundamental vespertino, no qual constam 34 alunos inscritos.
No período de maio a junho, foi realizada a implementação do projeto, por
meio do material didático produzido, a fim de incentivar os alunos a desenvolverem a
leitura e a capacidade de síntese e ainda, colaborar para a sensibilização sobre a
questão do lixo em Paranapoema, por meio do exercício de leitura, síntese, escrita e
divulgação do gênero discursivo folder.
A ideia foi promover interatividade, responsabilidade e reflexão, a partir do
gênero discursivo folder e a temática ambiental.
Sob esta perspectiva, fez-se necessário intensificar estudos sobre a temática
proposta, enfatizando a importância de práticas de leitura e de produção textual,
pautadas no trabalho com os gêneros discursivos. O trabalho foi desenvolvido, de
acordo com os momentos da Unidade Didática.
No primeiro momento (exploração), as atividades propostas, tiveram como
propósito realizar uma sondagem dos conhecimentos que os alunos têm a respeito
do gênero discursivo folder e sua função social. Para a realização dessa atividade,
foi utilizado o datashow para visualização do folder. Foram levados também alguns
folders para os alunos manusear. A aula iniciou de forma oral e expositiva
conversando sobre o gênero folder. A conversa foi orientada pelas questões
propostas para este momento.
Nesse momento, observou-se que alguns alunos não conheciam o gênero
folder, outros já tinham visto, mas não sabiam o nome e a maioria não tinham
conhecimento da sua função social. A partir dessas constatações, verificou-se ser
positiva a escolha do gênero.
No segundo momento (Apresentação), as atividades propostas tiveram como
objetivo apresentar aos alunos o gênero discursivo folder, por meio de leitura e
atividades de estudo sobre circulação, intenção do locutor, público alvo, contexto de
produção e sua estrutura integrando textos escritos e imagem.
Nesse momento, também foi apresentada a situação/problema que serviu
como tema para a produção do folder posteriormente, a questão do lixo no município
de Paranapoema. O assunto do folder de leitura já introduziu o tema que foi
aprofundado posteriormente.
Ainda na apresentação, trabalhamos com o filme, Wall-e, o qual reforça a
preocupação das pessoas sobre a questão do lixo e o seu destino final. O filme abriu
espaço para diversas discussões e ainda para o preenchimento do questionário
sobre o que cada um faz com o lixo produzido em sua casa. Após o preenchimento
da ficha cada um falou suas respostas aos demais, em uma roda de conversa.
A recepção dos alunos nesse momento foi muito boa, pois o assunto fazia
parte da realidade escolar deles e chamava a atenção para um problema, o que
pode melhorar com a participação e ajuda de todos. Foi o começo da reflexão da
responsabilidade de cada um com o lixo que produz e dar o destino correto a ele. Os
alunos disseram que nunca tinham prestado atenção na quantidade de lixo que
produziam em casa e nem para onde era levado.
No terceiro momento (Assimilação), as atividades oportunizadas aos alunos,
tiveram como propósito aprofundar o conhecimento, por meio de leituras de textos e
vídeos informativos, pesquisas sobre a Lei 12.305/10, que dispõe sobre tratamento e
disposição dos resíduos sólidos, visita de campo, entrevistas sobre o assunto que
será o tema da criação do folder e estudos sobre a estrutura composicional do
gênero. Também foram propostas pesquisas sobre as diferenças entre lixão e
aterro sanitário.
Após as pesquisas no computador e os vídeos ocorreu uma roda de
conversa. Neste momento também, houve a visita até o lixão, onde o lixo é
armazenado antes de ser levado para o aterro. Foi entregue uma autorização aos
pais dos alunos para que os mesmos assinassem e autorizassem a saída dos
alunos do colégio.
Ainda neste momento, houve a palestra com uma técnica em meio ambiente,
sobre a reciclagem de lixo e orientações de como separar corretamente o lixo em
nossa casa, para a coleta seletiva do lixo.
Na sequência das atividades, ocorreu, a leitura de outro folder e as
características do gênero foram reforçadas. A abordagem dos verbos no imperativo
também foi necessária, pois o folder é um texto persuasivo.
Nesse ponto da implementação do projeto, os alunos mostraram maior
interesse pelo assunto. Por meio do estudo da Lei, eles entenderam o motivo do lixo
ser levado para um aterro sanitário em outro município. Houve nesse momento uma
pesquisa sobre o que é um aterro sanitário, pois nunca tinham ouvido falar sobre
isso.
Com a visita ao lixão, muitos alunos ficaram chocados com o que viram e
começaram a perceber o quanto o descarte do lixo, de forma irresponsável prejudica
o meio ambiente e afeta o ser humano.
A palestra com a técnica em meio ambiente, também foi muito importante,
pois enriqueceu o trabalho com informações sobre reciclagem e tirou dúvidas que os
alunos tinham sobre o assunto, levando-os a entenderem que só terá sucesso a
coleta seletiva do lixo, se cada munícipe separar seu lixo corretamente em casa.
No quarto momento (Organização), os alunos realizaram, em grupo, a
elaboração de sínteses das informações obtidas. Selecionaram as principais
informações, tendo em vista o espaço restrito que demanda no folder e escolha das
imagens que foram complementos da escrita na elaboração do folder informativo.
Utilizando o computador foram selecionadas as imagens e a criação do
esboço do folder.
Nesse momento da implementação observou-se a dificuldade dos alunos a
respeito do uso de programas como o PowerPoint no computador, fazendo-se
necessário, ensiná-los a utilização correta da ferramenta, para que fizessem a
produção do folder. Neste momento também houve a necessidade de explicar aos
alunos a respeito da Lei dos direitos autorais sobre as imagens. Os estudantes
foram orientados de que, só podiam utilizar aquelas imagens que faziam parte do
domínio público.
De acordo com as atividades propostas, para o quarto momento, os alunos
foram instigados a realizarem a síntese de todas as informações que obtiveram, por
meio de todas as atividades desenvolvidas durante a implementação, para a criação
do folder. O resultado foi bastante positivo, pois os alunos contemplaram no texto
produzido, todas as informações necessárias à produção do folder.
No quinto momento (Culminância), os alunos realizaram uma avaliação do
esboço do folder e corrigiram onde houve necessidade. Depois da correção do folder
foi a hora da produção final e da impressão do mesmo, a qual ocorreu na
impressora do colégio.
Como atividade final foi proposto um registro dos conhecimentos adquiridos
durante o projeto e suas atitudes após a aquisição desses conhecimentos. Ao
realizar o registro sobre a aquisição dos conhecimentos adquiridos durante o projeto,
as respostas foram positivas, todos falaram sobre a importância e contribuição para
a aprendizagem que levarão para a vida inteira.
A finalização do folder aconteceu de maneira positiva, houve a realização da
síntese de todas as informações obtidas e empregadas aquelas de maior
necessidade para a população. Foram contemplados, na produção do folder, os
esclarecimentos sobre a Lei 12.305/10 e a obrigação de todos os segmentos da
sociedade relativas ao destino dos resíduos sólidos produzidos no município, além
de informar sobre a maneira correta de separar o lixo residencial, para a coleta
seletiva do lixo.
Ao pôr em prática a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na
Escola, observou-se a necessidade de adequações na Produção Didático-
pedagógica, pois ao realizá-la, a ideia era de fazer a implementação em período
contrário, mas houve a necessidade de ser durante o período normal de aula.
Também foi necessário fazer algumas adequações, como acrescentar mais
atividades, para que os alunos fossem avaliados e atribuídas notas bimestrais. Foi
proposto um trabalho extraclasse sobre aterro sanitário. O trabalho foi realizado em
grupos de quatro alunos, com apresentação de slides e explicação oral, valendo
nota de oralidade.
Os resultados obtidos com as práticas de leitura e de escrita, por meio do
trabalho com o gênero discursivo folder foi satisfatória, uma vez que os alunos
conseguiram contextualizar um problema vivido pela comunidade local com os
conteúdos escolares.
Além disso, empregaram as características que envolvem o gênero discursivo
folder na escrita; aprenderam como fazer a separação do lixo reciclável, ainda em
sua casa; sintetizaram esses conhecimentos e os organizaram na produção do
folder, a fim de levar à população informações necessárias sobre a questão do lixo,
no município.
O relato dos alunos, na finalização do projeto, mostrou que houve boa
aprendizagem com as atividades trabalhadas. A criação do folder, como trabalho
final, também foi positiva e condizente com os objetivos propostos.

5- Considerações finais

Tendo em vista a dificuldade que os educandos apresentam para escrever


um texto e a falta de conhecimento em diferenciar os gêneros discursivos, bem
como utilizá-los adequadamente em diferentes situações de comunicação, faz-se
necessário um ensino fundamentado nos gêneros discursivos.
Assim sendo, a realização do projeto “O gênero discursivo folder como
instrumento para a cidadania”, foi importante porque proporcionou reflexões acerca
dos gêneros discursivos dando ênfase ao folder. Por meio das atividades propostas,
foram discutidas algumas características que particularizam os gêneros discursivos,
assim como a função social e como utilizá-los em diferentes situações de
comunicação.
O referido trabalho abordou práticas de leitura que oportunizaram ao
conhecimento da Lei 12.305/10, a qual especifica a responsabilidade do poder
público e do cidadão em relação aos resíduos sólidos, a fim de dar um destino para
eles sem prejudicar o meio ambiente, e, assim, sensibilizar o aluno a mudar seu
comportamento com relação ao lixo que produz.
Com base no trabalho realizado, pudemos verificar que trabalhar com uma
proposta voltada aos gêneros discursivos, dando ênfase ao folder e com temas
voltados à realidade, na qual os alunos estão inseridos é mais atraente e
significativo.
Dessa forma, pudemos concluir que o projeto proposto atendeu às
expectativas esperadas, porém, foi possível perceber que outras intervenções com
relação ao conhecimento dos gêneros discursivos, bem como utilizá-los
adequadamente em diferentes situações de comunicação, deverão ter uma
continuidade para que isto não se torne apenas um material isolado.
Constatamos também que apresentar um material seguindo os momentos da
Unidade Didática, faz com que os alunos tenham maior interesse em desenvolver as
atividades que são propostas a eles, pois o esquema possibilita a exposição do
conteúdo, promove adaptações de aprendizagens e desenvolve experiências de
uma forma que isso atue na vida do aluno.
É importante destacar também que o trabalho realizado, contribuiu para o
aprimoramento das habilidades de síntese, além de melhorar a leitura e a escrita.
Além disso, favoreceu para desenvolver nos alunos a consciência ambiental
necessária para que estes passassem a gerenciar adequadamente os resíduos
sólidos, produzidos diariamente em sua residência.

6- Referências

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