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Sinais
Prof.ª Ma. Mariana Correia
2019
1 Edição
a
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Ma. Mariana Correia
C824i
Correia, Mariana
ISBN 978-85-515-0315-7
CDD 372.4
Impresso por:
Apresentação
Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Introdução
à Escrita de Sinais. Você alguma vez já se deu conta de como a escrita está
na base das relações sociais que estabelecemos? Quando queremos comprar
algo, seja pequeno como uma meia ou grande como uma casa, utilizamos
a escrita como modo de validar aquilo que havíamos combinado através
da fala, desse jeito, mesmo através de uma simples nota fiscal ou de um
complexo contrato de financiamento imobiliário, é por meio da escrita que
nossas relações se constituem. Também a nossa identidade é dada através de
um documento escrito como o RG, nossa formação acadêmica é comprovada
por certificados, diplomas e históricos, todos eles não passam de simples
papéis nos quais as informações foram escritas e certificadas através de
assinaturas, também escritas.
III
Na Unidade 2 veremos as questões específicas em relação à
linguagem e à surdez, iniciaremos com um tópico para discussões sobre
alfabetização e letramento, abordando tanto em uma visão mais geral quanto
em relação às características específicas dos surdos. Depois, estudaremos os
aspectos específicos sobre a relação dos surdos com a escrita, tais como o
histórico da educação de surdos, a relação entre a aprendizagem da escrita
de língua portuguesa como L2 e de língua de sinais como L1. Ao final desta
unidade trataremos dos aspectos sociais do uso de uma língua escrita para a
comunidade surda. Para encerrarmos esta unidade, estudaremos os aspectos
ligados à escrita, surdez e cidadania, com as discussões sobre direitos,
representação e educação linguística.
Desse jeito, o livro didático que temos em mãos tratará das bases para
o estudo da escrita de sinais de modo a fazer discussões que relacionem o
conhecimento linguístico sobre a escrita em um geral ao contexto de estudos
sobre a surdez e da escrita das línguas de sinais, passando pelos processos
de aquisição e registro de linguagem, bem como pelo estudo das questões
referentes à alfabetização e letramento em língua de sinais.
IV
NOTA
Sinal da autora
Apresentação
V
NOTA
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
VI
VII
VIII
Sumário
UNIDADE 1 – HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS....................................... 1
IX
2 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA DOS SURDOS................................................. 78
2.1 ORALISMO........................................................................................................................................ 82
2.2 BIMODALISMO/COMUNICAÇÃO TOTAL............................................................................... 86
2.3 BILINGUISMO.................................................................................................................................. 89
3 A RELAÇÃO HIERÁRQUICA ENTRE A LIBRAS (L1) E O PORTUGUÊS (L2) PARA OS
SURDOS.................................................................................................................................................. 95
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 100
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 102
X
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 190
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 191
XI
XII
UNIDADE 1
HISTÓRIA DO REGISTRO
ESCRITO DAS LÍNGUAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Você sabia que existem várias línguas com apenas o registro da memória
oral? Claro que menos do que já existiu, mas ainda persistem comunidades nas
quais a escrita não tem o mesmo valor, o mesmo peso e a mesma importância
que a nossa sociedade dá para ela. Ou seja, o desenvolvimento da escrita não é
obrigatoriamente atrelado à fala ou à sinalização das diferentes comunidades.
Inclusive, até pouco tempo, as línguas de sinais se desenvolveram plenamente,
mesmo sem um sistema de escrita que conseguisse abarcar suas peculiaridades
e tivesse o mesmo desempenho social dos sistemas fonéticos e ideográficos das
línguas orais.
3
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
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TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
FIGURA 1 – DESENHO DE COMO SERIA A PEDRA DE ROSETA COMPLETA COM A DIVISÃO DOS
IDIOMAS ESCRITOS NELA
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-iNB8KJVZius/VaXHopMH5oI/AAAAAAAACjo/E_
vNU9875QQ/s640/rosetta.jpg>. Acesso em: 17 jan. 2019.
TURO S
ESTUDOS FU
5
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
(1) *Rains.
(2) It rains.
(3) Chove.
3 LINGUAGEM E LÍNGUA
Antes de continuarmos com as discussões específicas sobre a escrita, é
importante termos em mente que ao relacionarmos aquilo que Saussure coloca
como matéria da Linguística e suas tarefas, podemos perceber que o autor utiliza as
expressões linguagem e língua. Desse modo, as duas palavras estão relacionadas à
Linguística e têm conceitos diferentes, sendo importante vermos brevemente quais
as características destas expressões e a que cada uma delas está relacionada.
Sobre a linguagem, Saussure coloca que:
6
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
De acordo com Petter (2010, p. 17): “uma pintura, uma dança, um gesto
podem expressar, mesmo que sob formas diversas, um mesmo conteúdo básico,
mas só a linguagem verbal é capaz de traduzir com maior eficiência qualquer
um destes sistemas semióticos [de sentido, de significado]”. Em outras palavras,
a compreensão e o sentido que atribuímos às diferentes linguagens necessita da
língua para ser traduzida de forma a explicar como compreendemos aquilo que
a linguagem, que temos contato, expressa, ou seja, é através da linguagem verbal
que damos sentido às demais linguagens.
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é
somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É,
ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir o exercício dessa faculdade [da linguagem] nos indivíduos
(SAUSSURE, 2012, p. 41, grifo nosso).
7
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
(2012, p. 51): “a língua existe na coletividade sob forma de uma soma de sinais
[regras] depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos
exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos”.
Talvez você já tenha escutado alguém falar que sabe usar, mas não sabe
qual a regra da gramática que se encaixa, por exemplo, a pontuação na língua
portuguesa funciona assim, algumas pessoas sabem utilizar, mas raras vezes
pensam na regra específica para tal situação. Esse é um exemplo de como a
língua é socialmente aprendida, porque as normas de uso não são a mesma coisa
que as regras da gramática. Quando falamos em língua, estamos nos referindo
àquilo que aprendemos através do contato com a língua de uma determinada
comunidade. Por isso, é socialmente constituída.
NOTA
8
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
DICAS
Neste sinal o movimento parece trazer algo que parte da boca em direção à mente
do sinalizador, ou seja, algo que foi enunciado e compreendido pela pessoa através da
interpretação feita na sua mente.
Na figura a seguir, temos a sinalização da palavra “língua”, que, de acordo com Capovilla
et al. (2017, p. 1683, grifo do original): “trata-se de um sinal formado pelo morfema Fala –
Comunicação Oral codificado pelo local de sinalização na região da boca [...]”. É um
movimento realizado para fora, lembra a característica de comunicação social que a língua
tem.
9
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
A partir disso, Dubois et al. (1973, p. 262, grifo do autor) concluem que,
para Saussure:
Desse modo, para Saussure (2012, p. 51) a língua e a fala estão “[...]
estreitamente ligados[as] e se implicam mutuamente; a língua é necessária para
que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta [fala] é necessária
para que a língua se estabeleça [...]”. Isso porque a língua está depositada no
cérebro do usuário da língua, e será através da realização da fala/sinalização que
estas regras da língua são utilizadas de modo a produzir sentido e estabelecer a
comunicação.
Você pode se perguntar: “onde a escrita entra nessa relação?”. Para Saussure
(2012), o objeto do estudo da Linguística é a língua e o objeto linguístico de estudo
é a fala. Ainda, segundo ele, a escrita tem como única razão a representação que
ela faz da língua, também coloca que a escrita é a imagem da fala. Ao tentarmos
observar a escrita é como se fizéssemos a observação de uma fotografia do rosto
de alguém e não o próprio rosto da pessoa.
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TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
De acordo com Leffa (1999 apud COSSON, 2016, p. 40-41, grifo nosso), a
leitura é realizada em três etapas:
Assim sendo, a leitura envolve três etapas, uma que avalia onde aquele
texto está inserido, se num jornal, num livro de receitas, num texto acadêmico
ou se é um bilhete familiar, porque cada uma dessas materialidades do texto
influencia no modo como a interpretação é feita. Depois, é a etapa da decifração,
ou seja, a parte em que analisamos os itens gráficos que compõem o texto, vemos
quais as palavras que formam o texto escrito e como elas se relacionam. Por fim,
a interpretação é o momento em que aquela pessoa que lê o texto estabelece as
relações entre o texto e o contexto, uma mesma palavra ou expressão pode ter
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
E
IMPORTANT
Vamos encerrar esta seção com um exemplo concreto envolvendo uma receita
de família para clarear um pouco mais essas distinções entre: língua, fala, escrita e leitura.
A famosa receita de pudim de ovos e leite faz parte de muitas famílias, vem passando de
gerações para gerações. E, justamente por este fato, muitas vezes os nossos avós não têm a
receita escrita e nem a quantidade certinha de cada ingrediente, apenas meio aproximada e
sem muitas medidas, tudo meio “no olho”. Alguns acham isso estranho, mas, mesmo assim
eles conseguem passar as medidas aproximadas e, desde então, os netos passam a fazer
pudim também, com isso, passam a perceber que as quantidades são no “olho” mesmo, pois
dependem da qualidade dos ingredientes, da força da chama do fogão, da nossa “mão” na
hora e etc. Neste momento, você, caro acadêmico, deve estar querendo saber como essa
história do pudim se relaciona com o nosso conteúdo, pois bem, o pudim (ou qualquer outra
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TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
• Receita de pudim na cabeça dos nossos avós é como se fosse a língua na nossa cabeça,
pois, sabemos usar, sabemos como funciona, mas não sabemos direito como explicar
as regras, normas e construções que estruturam ela. Além disso, o único jeito de tirar a
receita da nossa cabeça é explicar ela para alguém ou fazê-la, fora isso, a receita segue
guardadinha na cabeça da gente, sem se materializar no mundo concreto. Neste exemplo,
a língua é um pudim guardado apenas na cabeça de nossos avós.
• Uma foto do pudim (como a imagem a seguir, postada no Instagram): pode ser comparada
à escrita, porque apresenta a língua (receita na cabeça dos nossos avós), mas precisa da
fala (realização concreta do pudim) para ter a materialidade, ou seja, não teria como tirar
uma foto de um pudim que estivesse apenas na cabeça de alguém. Assim sendo, o pudim
só pode ser registrado (escrita) porque existiu fala e só existiu porque a receita estava na
cabeça de alguém (língua).
FONTE: <https://www.instagram.com/p/Br0WWlOBo0JahYGbVpx-f0ZBE9lNUKMkTSls4Y0/>.
Acesso em: 28 jan. 2019.
No momento em que você olhou a foto do pudim (escrita) você foi capaz de fazer a leitura
dela, ou seja, ao olhar percebeu, pelas suas experiências anteriores, que isso é um pudim
e, através da foto (escrita) pode ter acesso à materialidade (fala) daquela receita de pudim
da cabeça dos nossos avós (língua), ou seja, houve interação, mesmo que estivermos em
tempo-espaço diferentes.
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RESUMO DO TÓPICO 1
• A linguagem humana é tudo aquilo a que podemos atribuir sentido, por isso,
ela tem inúmeras facetas e manifestações, é uma faculdade, uma habilidade
humana, que só pode ser vista nas realizações concretas que a compõe, a língua
faz parte dela.
• A língua tem um caráter coletivo social, a fala tem um caráter individual, pois
é o modo como o indivíduo usa a língua de modo particular.
• A língua faz com que a fala possa ser entendida e a fala faz com que a língua
se estabeleça no mundo concreto.
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• A escrita e a leitura são intimamente ligadas, pois a realização da escrita
só se concretiza no momento da leitura, que, mais do que decodificação é a
compreensão da língua escrita utilizada em todas as suas características e um
diálogo entre os sujeitos históricos envolvidos por meio dela.
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AUTOATIVIDADE
2 A partir do que você estudou neste tópico, em sua opinião, por que a
sinalização das línguas de sinais pode ser equiparada ao conceito de fala
utilizado por Saussure para as línguas orais?
3 Após refletir sobre a famosa receita de pudim, qual outro exemplo você
poderia pensar que funcionasse também como uma forma concreta de
exemplificar os conceitos de língua, fala, escrita e leitura e as relações entre
eles?
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UNIDADE 1
TÓPICO 2
DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
1 INTRODUÇÃO
No último tópico, vimos as características da escrita na visão da linguística
de Saussure, a partir disso, estudamos a base teórica da ciência da linguagem e
vimos a relação entre os conceitos de linguagem, língua e escrita. Neste segundo
tópico, estudaremos alguns aspectos referentes à história e ao desenvolvimento
da escrita das línguas orais.
Fischer (2009), para fugir disso que chama de “[...] ‘armadilha’ de uma
definição inteiramente formal, porque a escrita tem sido, e é inúmeras coisas
distintas para inúmeros povos distintos em incontáveis épocas diferentes”
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
Para que a escrita seja completa, na visão de Fischer (2009) é necessário que
tenha como meta a comunicação, ou seja, um indivíduo que use a comunicação
para passar informação, comunicar algo para outra pessoa ou grupo de pessoas.
Também é necessário que o suporte dessas marcas artificiais, quer dizer, feitas
pelo homem, seja durável como argila, pedra, papel ou por meio eletrônico. Por
fim, o autor coloca que essas marcas precisam relacionar-se convencionalmente
com a finalidade de articular a fala, neste caso, a palavra convencionalmente faz
referência às regras ou convenções sociais a que a escrita obedece enquanto forma
de registro da fala, por isso, do arranjo sistemático, ou seja, dentro de sons vocais
significativos.
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
Vamos imaginar que na região em que estes animais vivem existem três
povos diferentes que até um dado momento não haviam percebido a existência
destes oito animais, ou seja, era como se estes animais não existissem para as
pessoas que fazem parte das três comunidades. Porém, um dia, durante um
momento de colheita povos percebem a existência destes bichos, assim sendo, os
animais passam a existir para as pessoas dos três povos.
O Povo 1 nota que os animais que têm o corpo menor comem cereais
e os grandes não comem. Após perceber isso o povo 1, ignorando as demais
características que diferenciam os bichos, dão o nome de gogos para os animais
A, B, C e D, já os animais E, F, G e H ganham o nome de gigis. Desse modo, “Faz-
se, então, abstração das demais diferenças entre eles [os animais] e produz-se
uma categorização [classificação] dessa realidade” (FIORIN, 2010, p.57).
Por fim, o Povo 3 tem uma experiência diferente com os animais, pois
percebe que os animais de cauda enrolada caçam serpentes e os de cauda reta
não fazem isso. Desse modo, organizam a realidade encontrada de um modo
completamente diferente daquele feito pelos Povos 1 e 2, logo, dão o nome de
busas para os animais A, B, E e F e busadas para os animais C, O, G e H.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
Logo, a escrita não apenas tem sua importância em nossa sociedade como
modo de organização da realidade, mas como registro dos diferentes modos de
percepção da realidade ao longo do tempo. Por isso, Fischer (2009, p. 13) coloca
que “As raízes desse sistema se encontram na necessidade fundamental dos seres
humanos de armazenar informação para comunicar, a si mesmos ou a outros,
distantes no tempo e no espaço”.
3 DO PICTÓRICO AO SIMBÓLICO
A história da escrita confunde-se com o desenvolvimento dos modos
através dos quais a humanidade se utilizou para registrar aquilo que era
importante para a vida cotidiana. Na compreensão apresentada por Barreto e
Barreto (2015, p. 54) a história da humanidade foi drasticamente afetada a partir
do desenvolvimento da escrita:
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
você precisa ter acesso ao conhecimento acumulado até então dentro da sua área
e isso pode ser feito de vários modos, mas todos eles serão mediados, de algum
modo pela escrita, seja via Livro Didático, objetos de aprendizagem, questões para
estudos ou, até mesmo, dos vídeos dos professores que também são permeados
pelo conhecimento acumulado através da escrita.
DICAS
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
• Registros com nós: muitos povos utilizam como modo de registro um sistema
de nós mais ou menos complexos que podiam ser simples e em uma corda
única ou complexos e coloridos com o uso de cordas que se ligavam. Dentre
os diferentes povos que utilizaram este modo de registro foi o Quipu inca que
chegou até nós com um grupo significativo de exemplos. O Quipu ou Guipu
era um complexo modo de contabilidade que representava não apenas as
quantidades numéricas, mas também, supõe-se, diversas mercadorias através
de cores diferentes.
Ainda de acordo com Fischer (2009, p. 16): “os incas do Peru antigo
usavam elementos mnemônicos quase exclusivamente para alcançar o que a
escrita alcançou em contextos iguais ou semelhantes em outras sociedades”.
Contudo, mesmo que os nós tenham como objetivo a comunicação, os fios não
preenchem os demais requisitos para serem classificados como escrita completa,
pois não são marcas gráficas artificiais feitas em suporte durável, nem têm uma
relação convencional com a articulação da fala.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-HuAUHI9UfU8/V3BE4Jt46AI/AAAAAAAAJZQ/
KNYp2l7GWjA-6IMKzdfQGfOulCGm_f9cACKgB/s1600/Osso%2Bde%2BIshango.PNG>. Acesso
em: 25 jan. 2019.
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
Isto posto, a pictografia é, de acordo com o autor citado, uma junção entre
o uso de marcas artificiais feitas para a comunicação e de elementos que servem
para registro ou memória dos acontecimentos. Ainda segundo Fischer (2009),
algumas pinturas rupestres aparentam ter como objetivo a comunicação através
de pictogramas, ou seja, desenhos que não evidenciam apenas uma forma de
registro de imagem, mas que aparentam ter como meta relatar algo através de
registro.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
Dito de outro modo, um símbolo retoma outra coisa a qual ele faz
referência, por exemplo, uma pomba branca é o símbolo da paz, ou seja, a pomba
significa “paz” para as pessoas que sabem a relação entre o animal e o sentimento.
Já um signo é algo que por convenção, ou seja, combinação social faz parte de um
sistema de escrita, e tem várias características específicas, por exemplo, o sinal
equivalente à “laranja” em Libras, quando feito na testa, tem o significado de
“aprender”, ou seja, por convenção da língua, quando realizado na testa, esse
sinal significa “aprender”, por isso, esse sinal é um signo da língua de sinais
brasileiros.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
5) Mudam ao longo do tempo através do uso que é feito e dos novos acordos
sociais, por exemplo, a mudança ocorrida ao longo do tempo com a expressão
Vossa Mercê>Vosmecê>você.
E
IMPORTANT
Não confunda a noção de sinal icônico com símbolo, pois os sinais fazem parte
de uma língua, logo, não são símbolos. E, os signos apresentam certa semelhança com seu
referente concreto, sendo característicos nas línguas de sinais.
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
Sobre a Figura 12, Fischer (2009, p. 28) coloca que: “embora isso [fichas
de argila e pictogramas] não seja ainda escrita completa, uma vez que deixa de
usar marcas que se relacionem convencionalmente à fala, é, no entanto, uma
transmissão bem-sucedida de ideias complexas pela arte gráfica”.
O autor também destaca que para a leitura atual, essa tabuleta não
é possível de se ler com clareza, pois mesmo que os pictogramas tenham se
tornado abstratos, padronizados e com seu valor fonético mantido, eles passam
a se tornar símbolos quando perdem a correspondência direta com o objeto que
representava.
Isso acontece porque, de acordo com Fischer (2009, p. 29): “os escribas
podiam facilmente ‘lê-los’ [aos símbolos] dentro de um sistema limitado.
No entanto, os símbolos ainda não conseguiam transmitir ‘qualquer ou todo
pensamento’ porque estavam ligados ao referente externo”. Dito de outro modo,
os símbolos ainda estavam ligados àquilo que faziam referência na realidade
concreta, como o pé desenhado na tabuleta da Figura 13, que tinha seus
significados ainda vinculados às possibilidades que este símbolo permitia.
30
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
4 SISTEMAS DE ESCRITA
A partir do momento em que a fonetização sistêmica dos sumérios se
expandiu e espalhou-se pelo Nilo, o planalto iraniano e o Vale do Indo, cada
um dos povos adaptou esse sistema as duas necessidades locais, em um sistema
misto que usava logomarcas, fonogramas e sinais que identificavam os signos
(FISCHER, 2009). É importante destacar que todas as escritas ou sistemas de escrita
são formados por empréstimos, por exemplo, a ideia da escrita, a orientação, o
sistema, a própria escrita, parte do sistema para enriquecer outro sistema e partes
dos caracteres.
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
SUMÉRIA
Rébus
(logografia/fonografia)
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
FONTE: <https://i.pinimg.com/474x/09/97/56/099756659d7a9cf2ac234f9cb25b391b--luxor-
temple-luxor-egypt.jpg>. Acesso em: 30 jan. 2019.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
ESCRITA COMPLETA
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TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
DICAS
NOTA
37
RESUMO DO TÓPICO 2
• A nossa percepção da existência não apenas é perpassada pela língua, mas ela
se estrutura a partir da língua.
38
• Os pictogramas não fazem parte das escritas completas porque suas marcas
são icônicas e não convencionais.
• Todas as escritas ou sistemas de escrita são formados por empréstimos de, por
exemplo, a ideia da escrita, a orientação, o sistema, a própria escrita, parte do
sistema para enriquecer outro sistema e partes dos caracteres.
40
AUTOATIVIDADE
41
42
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores nos dedicamos ao estudo dos conceitos
linguísticos que estão envolvidos quando falamos sobre escrita. Vimos também
como ocorreu a evolução da escrita das línguas orais, estudos necessários para
entendermos em que tradição de estudos linguísticos e de histórico de evolução
da escrita que a escrita das línguas de sinais se insere.
Vale lembrar que os registros são aqueles que utilizam das línguas orais,
desenhos, vídeos e índices para a descrição dos sinais. Ou seja, aqueles anteriores
a uma escrita de sinais propriamente dita, os modos como se estudavam ou
registravam os sinais antes de ter uma escrita completa específica das línguas de
sinais, que fosse amplamente difundida como a SignWriting é na atualidade.
DICAS
No site a seguir podemos observar uma linha do tempo interativa sobre a história
dos surdos e da Língua Brasileira de Sinais. Disponível em: <https://conteudos.surdoparasurdo.
com.br/historia-surdos-libras-lingua-de-sinais-brasil>. Acesso em: 31 jan. 2019.
43
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
1 – Mão na configuração da letra “M”, com os dedos virados para cima, apoiados
no início da linha do sorriso, as pontas dos dedos deslizam pela covinha do
sorriso até o queixo.
FONTE: A autora
Além disso, os sinais das línguas de sinais são compostos não apenas por
altura, largura e profundidade, mas possuem ainda a necessidade do movimento
e/ou combinações de movimentos para acontecer. Logo, são extremamente
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TÓPICO 3 | REGISTRO PARA AS LÍNGUAS DE SINAIS
2 DESCRIÇÃO
A descrição como tipologia de escrita é um texto que tem como maior
objetivo o registro por escrito de uma “fotografia” da imagem, objeto, lugar,
pessoa, ou no caso da Libras, de um sinal. Esse registro não pretende que o mais
importante seja o que está escrito, mas como detalha de modo mais rico.
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UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
Por vezes, nem mesmo quem fez esse tipo de anotação consegue
lembrar depois como o sinal era feito. Sem contar no tempo que isso
demora e nas informações que são perdidas num ambiente de curso
de Libras, por exemplo. O professor geralmente apresenta uma
sequência de sinais e, por iniciativa própria, os alunos vão fazendo
anotações descritivas que os afastam da essência da Libras, que é
visoespacial, fadando-os ao esquecimento dos sinais por se apoiarem
pura e simplesmente na escrita da Língua Portuguesa (BARRETO;
BARRETO, 2015, p. 59-60).
46
TÓPICO 3 | REGISTRO PARA AS LÍNGUAS DE SINAIS
NOTA
3 DESENHOS/FOTOS
Outros modos de registro bastante utilizados são as fotos alteradas
digitalmente e os desenhos dos sinais. Estes registros em imagens visavam
facilitar a compreensão e a memorização dos sinais, tendo em vista que uma
imagem, mesmo que em duas dimensões, pode captar melhor um sinal realizado
no espaço.
NOTA
47
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
48
TÓPICO 3 | REGISTRO PARA AS LÍNGUAS DE SINAIS
4 REGISTROS EM VÍDEOS
Os registros em vídeo também são resultantes do desenvolvimento.
As TICs permitiram que o registro dos sinais tivesse mais detalhes, bem como
permitiu o registro das narrativas e histórias em Libras, além da elaboração e
distribuição de materiais didáticos acompanhados de CDs e DVDs contendo os
vídeos em Libras. Desse modo, temos um detalhamento ainda maior dos sinais
e dos movimentos, bem como a possibilidade de repetição quantas vezes for
necessário.
49
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
DICAS
Quando algo começa a ser motivo de piada é sinal de que está entrando
definitivamente para as discussões e vivências regulares da sociedade. Afinal de contas, só
podemos fazer piada daquilo que conhecemos e entendemos. No programa A Gente Riu
Assim, exibido em 28/12/2018 os humoristas fizeram aquilo que seria uma novela em Libras,
na qual a intérprete ocupa a tela toda e os atores aparecem no retângulo normalmente
reservado para a profissional. A novela é chamada de Sinais de uma Paixão. É muito
interessante observar os detalhes de interpretação e a abertura que aparece no final do
vídeo.
Disponível em: <https://globoplay.globo.com/v/7248559/>. Acesso em: 31 jan. 2019.
5 GLOSAS/ÍNDICES
As glosas são usadas em materiais referentes ao registro de pesquisas
acadêmicas que queiram detalhar ao máximo o modo de sinalização das sentenças.
Segundo Barreto e Barreto (2015), glosa e índice são modos diferentes de registro,
porém em pesquisas de línguas de sinais, o temo “glosas” abarca tanto a escrita
termo a termo, quando os modos de indexar as referências gramaticais, mesmo
assim, apresentam dificuldade em detalhar verdadeiramente as relações entre os
sinais.
50
RESUMO DO TÓPICO 3
• A descrição é uma forma de registro que pretende fazer uma fotografia por
escrito de algo, colocando em palavras a imagem de um sinal.
51
AUTOATIVIDADE
52
UNIDADE 1
TÓPICO 4
1 INTRODUÇÃO
O estudo da história da evolução da escrita das línguas de sinais se
insere na história da escrita das línguas orais, pois parte como escrita de uma
língua, de todo o arcabouço teórico, metodológico e estrutural delas, inclusive a
possibilidade datilológica de delimitação é um traço da escrita das línguas orais.
Ou seja, a escrita da língua de sinais se inscreve a partir da história de como as
línguas orais desenvolveram a sua escrita. Isso porque tudo que está em uso no
momento da elaboração de algo, seja uma ponte, uma forma de artesanato ou
a escrita de uma língua, apresenta marcas dos contatos com aquilo que existia
antes.
53
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
TURO S
ESTUDOS FU
54
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
55
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
56
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
57
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
58
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
Para Aguiar e Chaiube (2015), no Brasil ainda não temos uma escrita
oficial da Libras, porque, a ELIS e a SignWriting despontam em diferentes
contextos. Contudo, para Barreto e Barreto (2015), nenhum dos modelos acima é
tão completo e fácil de se utilizar como a SignWriting, pois:
3 DESENVOLVIMENTO DA SINGWRITING
Os sistemas de notação e escrita vistos até aqui partem também das noções
que caracterizam a escrita completa e foram criados a partir desse arcabouço já
delimitado historicamente na evolução das línguas orais. Desse modo, temos
um curioso desenvolvimento para as línguas de sinais, pois os pesquisadores
59
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
DICAS
60
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
FONTE: <https://escritadesinais.files.wordpress.com/2010/08/mapa-de-paises.gif?w=640>.
Acesso em: 1 fev. 2019.
DICAS
61
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
62
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
TURO S
ESTUDOS FU
63
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/71OjIAuZdNL._UX250_.jpg>.
Acesso em: 1 fev. 2019.
DICAS
• Cronologia SW:
1966: Início do desenvolvimento da DanceWriting.
1970-1972: mudança para Copenhague, melhorias no sistema da DanceWriting
para preservação dos passos de “as Escolas de Bournonville”.
Dez 1973: publicação do livro Taquigrafia de Movimento Sutton, A Chave do Balé
Clássico, Key One, em um ano estava desatualizado devido às modificações feitas
no sistema.
1974: Ensinou o DanceWriting ao balé real da Dinamarca.
64
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
FONTE: Sutton (1998 apud BARRETO; BARRETO, 2015, p. 71, tradução do original)
1975 a 1980: anos de transição em que o foco foi da DanceWriting para a SW,
várias publicações, trabalhos no conservatório de música de Boston e, depois,
no Instituto Nacional de Surdos em Rochester, primeiros grupos de surdos a
aprender a SW, muitas oficinas e workshops.
65
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
1981 a 1984: publicação trimestral do jornal em SW, todo escrito à mão por
jornalistas surdos, serviu como catalisador das discussões sobre alfabetização em
SW e influenciou historicamente o modo de escrita da SW até hoje.
1986: com a criação do programa de computador SignWriter por Richard Gleaves,
a SW poderia ser digitada.
1989: retomada da publicação do Boletim SignWriter (desde 1996, a Newsletter da
SignWriter é publicada e está disponível on-line).
1981 a 1989: série de publicações de livros para estudo e livro de literatura em SW
nos EUA.
1990 a 1997: primeira edição do livro Lições em SignWriting, inúmeras publicações
de dicionários e livros literários.
1994: a escrita passou a se organizar verticalmente.
1997: “Antonio Carlos da Rocha Costa foi o primeiro a publicar o SignWriting
escrito verticalmente no prefácio da história infantil brasileira Uma Menina
Chamada Kauana, de Karin Strobel, publicada em janeiro de 1997” (SUTTON, s.d.,
capítulo 7).
NOTA
66
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
TURO S
ESTUDOS FU
NOTA
FONTE: <https://kanto.legiaodosherois.com.br/w750-h393-gnw-cfill-q80/wp-content/
uploads/2018/11/legiao_TfUa0rKBIMAn9J4d8V7Ds1mbOq2ucp5EvwY3NxtPGi.jpg.jpeg>.
Acesso em: 18 jan. 2019.
67
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
LEITURA COMPLEMENTAR
Eion Colfer
Capítulo 2: A tradução
Agora você já deve ter adivinhado até onde Artemis Fowl estava decidido
a ir para alcançar seu objetivo. Mas qual era exatamente esse objetivo?
Conheça o inimigo, era o lema de Artemis, por isso mergulhou nas histórias
sobre o Povo até compilar um gigantesco banco de dados sobre as características
dele. Mas não bastava.
68
TÓPICO 4 | ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
Talvez Artemis fosse a única pessoa viva que poderia tirar plena vantagem
de sua recente aquisição. Ainda mantinha uma crença infantil na magia,
temperada por uma determinação adulta para explorá-la. Se houvesse alguém
capaz de conseguir um pouco do ouro mágico das fadas, era Artemis Fowl II.
[...]
O Livro estava se mostrando mais teimoso do que Artemis tinha previsto.
Era quase como se resistisse por vontade própria. Com qualquer programa que
usasse, o computador continuava sem solução.
Artemis imprimiu cada uma das páginas e colou nas paredes de seu
escritório. Algumas vezes era útil ter as coisas no papel. A escrita não se parecia
com nada que ele tivesse visto antes, mas ao mesmo tempo era estranhamente
familiar.
69
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
Cada segmento era cercado por uma linha contínua. Isso poderia representar
parágrafos ou capítulos. Mas não se destinavam a ser lidos no sentido comum, da
esquerda para a direita, de cima para baixo. Experimentou. Tentou o modo árabe, da
direita para a esquerda, e em colunas, à maneira chinesa. Nada funcionou.
O programa de computador não fora feito para lidar com uma coisa assim,
por isso Artemis teve de improvisar. Com um estilete e uma régua, dissecou a
primeira página do Livro e montou de novo na ordem das línguas tradicionais do
Ocidente — Da esquerda para a direita, de cima para baixo — Depois escaneou a
página outra vez e passou pelo tradutor de egípcio modificado.
Sim, havia erros, era necessário um ajuste mais fino, mas estava
perfeitamente legível e, mais importante, perfeitamente compreensível.
FONTE: COLFER, E. Artemis Fowl: o menino prodígio do crime. São Paulo: Galera Record, 2001.
Disponível em: http://lelivros.love/book/baixar-livro-o-menino-prodigio-do-crime-artemis-fow-
vol-1-eoin-colfer-em-pdf-mobi-e-epub/. Acesso em: 18 jan. 2019.
70
RESUMO DO TÓPICO 4
• Até pouco tempo as línguas de sinais eram percebidas como línguas agrafas
pelos linguistas e pelos surdos.
71
• A SW se desenvolve desde 1973, a partir do convite de pesquisadores da
Universidade de Copenhague para que Valerie Sutton auxiliasse nas pesquisas
sobre a LS dinamarquesa.
72
AUTOATIVIDADE
1 A partir do que você estudou neste tópico, em sua opinião, como é possível
localizar a escrita de sinais dentro da perspectiva linguística de empréstimos
da escrita das línguas orais?
1 2
3 4
73
74
UNIDADE 2
SURDEZ E LINGUAGEM
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
75
76
UNIDADE 2
TÓPICO 1
O SURDO E A ESCRITA
1 INTRODUÇÃO
Introdução
Assim sendo, caro acadêmico, a ideia central deste tópico é pensar quais
as fases que a educação linguística dos surdos teve no Brasil, isso porque, é
muito importante entendermos de onde viemos e para onde vamos, como já
dito anteriormente, tudo que foi vivenciado socialmente acaba influenciando o
modo como observamos, vivenciamos e, assim, participamos da evolução dos
fenômenos linguísticos.
77
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
E
IMPORTANT
É importante destacar que, nesses tempos, a escrita era algo que não fazia
parte da vida cotidiana das pessoas, sendo vinculada apenas aos templos e aos escribas que
detinham o poder do registro escrito.
Em outros lugares, o tratamento para com os surdos era bem mais duro, na
China e em outros lugares do mundo antigo, os deficientes eram sacrificados por
serem entendidos como seres incompletos. Segundo o INES (2018, s.p.): “o filósofo
Aristóteles acreditava que a linguagem era a função que nos tornava humanos
e, como, para ele, os surdos não tinham uma linguagem, então não poderiam
ser considerados humanos”. Desse modo, para o filósofo grego, os surdos eram
incapazes de realizar a organização da realidade através da linguagem, não
podiam participar da educação que era feita através das discussões e debates.
78
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
Desse modo, a visão de educação dos surdos ainda era voltada à possível
comunicação oral através da língua utilizada majoritariamente pela sociedade da
época, por isso, apenas os surdos que fossem capazes de falar recebiam heranças.
79
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
NOTA
80
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
Segundo Strobel (2009, p. 12, grifo nosso), a história recente dos surdos é
dividida em três grandes fases:
81
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
NOTA
DICAS
2.1 ORALISMO
Oralismo
82
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
NOTA
FONTE: O autor
83
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
FONTE: O autor
O que está por trás da abordagem oralista é a ideia de que a língua oral da
maioria das pessoas é aquela que é legítima e as línguas de sinais seriam apenas
gestos que diferenciam negativamente os surdos da comunidade ouvinte e isso
deveria ser evitado. Nesta perspectiva, Santana (2007, p. 121) destaca que:
Dito de outro modo, a teoria inatista apresenta a ideia de que o contato com
usuários proficiente da língua será responsável por fazer com que a língua seja
adquirida de modo natural, espontâneo e não sistemático a partir da capacidade
inata de aquisição dos seres humanos e do contato com as sentenças utilizadas
pelos usuários proficientes da língua.
84
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
Assim sendo, ao ser necessário que a língua falada seja apresentada aos
surdos de modo sistemático e formal, ou seja, não natural, ela não seria uma língua
natural para eles. Isso quer dizer, se tem que ser ensinado por profissionais e
depende de estudo sistemática, não é uma língua natural para o grupo de pessoas,
como Quadros (1997) chama atenção no final da citação reproduzida acima, o
oralismo proíbe exatamente o contato com as pessoas proficientes em línguas
de sinais mesmo num ambiente em que ela é a língua utilizada naturalmente na
família.
TURO S
ESTUDOS FU
85
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
UNI
DICAS
Comunicação total
86
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
Quadro (1997, p. 25) ainda menciona que “Ferreira Brito (1993) critica
o uso do português sinalizado, pois observa a impossibilidade de preservar
as estruturas das duas línguas ao mesmo tempo”, sendo improvável realizar
plenamente as falas em LP e a sinalização em Libras.
E
IMPORTANT
87
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
88
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
Desse modo, ao refletir sobre a sua experiência pessoal, ela nos apresenta
a mesma visão explicitada por Quadros (1997) e muitos outros pesquisadores, de
que, a abordagem bimodalista ainda não contemplava as necessidades linguísticas
dela, pois aquilo que era aprendido em Libras não se fazia claramente conectado
ao que estava posto em português nas avaliações.
2.3 BILINGUISMO
Bilinguismo
89
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
90
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
como têm contato com a comunidade ouvinte. Sendo assim, para a educação,
o bilinguismo é uma visão que procura respeitar as vivências linguísticas
do indivíduo e fazer com que as línguas em contato sirvam como forma de
integração e não de exclusão do indivíduo. Por isso, a autora também destaca
que:
91
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
• Os filhos surdos de pais ouvintes não são expostos desde o nascimento a uma
língua que atenda às características expressivas vinculadas à surdez, ou seja,
uma língua de sinais a partir da qual possam se comunicar. Desse modo, uma
educação bilíngue também precisa levar em conta que a inserção precoce de
surdos em contextos que utilizem a língua de sinais é necessária, bem como, o
estudo e a aquisição da língua de sinais se dará no contexto escolar.
TURO S
ESTUDOS FU
Ainda dentro das discussões sobre elementos que devem ser levados em
consideração na construção de uma proposta de educação bilíngue para os surdos,
Pires (2009b, p. 2-3) chama a atenção para os elementos culturais envolvidos:
93
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
94
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
95
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
Critério Definição
97
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
Como exposto acima, até bem pouco tempo, quando se referiam à escrita
na educação bilíngue, os autores faziam alusão à escrita da língua oral. Assim
sendo, quando Pires (2009b) destaca a importância do intermédio da língua de
sinais para a aprendizagem e acesso à escrita, ela está referindo-se ao uso da
escrita da Língua Portuguesa na educação de surdos.
98
TÓPICO 1 | O SURDO E A ESCRITA
99
RESUMO DO TÓPICO 1
Resumo
• Segundo Strobel (2009), a história recente dos surdos é dividida em três grandes
fases: Revelação Cultural, Isolamento Cultural e o Despertar Cultural.
• Quadros (2005) destaca sete aspectos que devem ser considerados para
a educação bilíngue de surdos: modalidades diferentes, surdos filhos de
pais ouvintes, contexto de aquisição da língua de sinais, LP como ameaça,
idealização do status bilíngue, a vontade dos surdos de aprender na LS e a
revisão do status da LP para os surdos.
• De acordo com três teses propostas por Skutnabb-Kangas (1988): uma mesma
pessoa pode ter diferentes língua maternas. A língua materna de uma pessoa pode
mudar durante a vida e as definições podem ser organizadas hierarquicamente de
acordo com o grau de consciência dos direitos linguísticos de uma sociedade.
Maria nasceu em uma família de surdos e teve contato com a língua de sinais
de seu país desde o nascimento, porém, na época que ela nasceu, as políticas
públicas não reconheciam a língua de sinais como uma das línguas oficiais
do país. Ela frequentou uma escola cuja educação era voltada ao oralismo e
não aprendeu os conteúdos a partir da língua de sinais. Maria não conseguiu
aprender de modo pleno a língua oral-auditiva e se expressa melhor em língua
de sinais, preferindo que as suas interações sejam, quando possível, através
dela. Contudo, em seu dia a dia, Maria acaba utilizando mais vezes táticas de
oralização e escrita da língua oral-auditiva, porque seus colegas de trabalho
não sabem a língua de sinais.
3 Como você entende o ensino de Libras nas escolas regulares para alunos
surdos e ouvintes dentro da perspectiva de educação bilíngue e respeito
linguístico às minorias linguísticas do país?
102
UNIDADE 2 TÓPICO 2
ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA
ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, até esse ponto da discussão já vimos uma breve história
das compreensões sobre a surdez e as línguas de sinais, também estudamos
alguns dos aspectos relevantes para a educação de surdos com o entendimento
de como o oralismo, o bimodalismo e o bilinguismo percebem e organizam a
relação entre as línguas de sinais e as línguas orais-auditivas. Além disso, vimos
quais os critérios e definições para delimitação das teses sobre língua materna e
como elas estruturam a relação hierárquica entre a Libras e a Língua Portuguesa
na perspectiva apresentada por Skutnabb-Kangas (1988), logo, em relação aos
estudos surdos como reconhecidos atualmente, a Libras é a primeira língua (L1)
e a Língua Portuguesa é a segunda língua (L2) e isso impacta diretamente no
modo como serão estudadas, pesquisadas e elaboradas metodologias de ensino
da Língua Portuguesa como L2.
103
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
NOTA
104
FIGURA 4 – ESQUEMA DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: APRENDIZAGEM INICIAL DA ESCRITA
105
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
DICAS
2 ALFABETIZAÇÃO: CONCEITUAÇÃO
Como vimos brevemente na introdução, o conceito de alfabetização
envolve a assimilação das tecnologias vinculadas à escrita, não apenas o sistema
alfabético de escrita e de decodificação das letras em sons, mas também às
ferramentas utilizadas para feitura das marcações escritas, tais como a maneira
de segurar o instrumento utilizado (lápis, caneta etc.), pressão a ser exercida,
estrutura de escrita e leitura, em LP escrevemos e lemos da esquerda para
106
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
a direita e de cima para baixo. Sendo que essa assimilação tem como objetivo
atribuir significado às palavras, frases e aos textos de modo que a criança possa
se comunicar plenamente através da palavra escrita.
TURO S
ESTUDOS FU
NOTA
107
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
108
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
NOTA
Quirema é uma palavra formada a partir de “quiro” (origem grega mão, gesto)
mais “ema” (unidade mínima) usada por alguns pesquisadores das línguas de sinais para fazer
referência às unidades mínimas de uma língua, em LP, os fonemas são os “sons” das letras,
em Libras, são unidades mínimas de significado. De acordo com Quadros e Karnopp (2004)
são configurações de mão, locação de mão e movimento de mão. Na Unidade 3 veremos
com mais detalhes esse assunto.
KAZA
FONTE: O autor
FONTE: O autor
109
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
FONTE: O autor
Além de ser mais complexo esse modo de escrita, ele também não faria
com que as crianças pudessem realizar o raciocínio linguístico envolvido na
feitura dos quiremas/fonemas das línguas de sinais, os quais, na visão de Barreto
e Barreto (2015) permitiram o desenvolvimento de um raciocínio linguístico que
impactaria na aprendizagem da modalidade escrita da L1 e da L2, Libras e LP, no
caso do Brasil. Desse modo, auxiliando na alfabetização tanto na língua de sinais
quanto na língua oral-auditiva relacionada a ela.
110
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
111
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
112
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
113
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
Método multissensorial
Visão: ênfase na forma visual de letras e palavras, podendo usar cores
e tamanhos diferentes.
Cinestesia – traçado: ênfase no traçado da letra/palavra, por exemplo
usando letras com setas desenhadas que indicam a direção do
movimento correto para a grafia.
Tátil: ênfase na memória tátil da forma das letras/palavras, por
exemplo usando texturas diferentes.
Articulação: ênfase na memória articulatória das letras/palavras, de
forma consciente e intencional (SEBRA; DIAS, 2011, p. 10, grifo nosso).
Assim sendo, podem ser realizadas atividades que evidenciem modos não
auditivos ou orais de alfabetização, tais como os visuais (já citados anteriormente),
o tátil e o cinestésico. Logo, os métodos de alfabetização multissensoriais podem
ser de grande auxílio para a elaboração de atividades de alfabetização para
aprendizes surdos, porque permitem um uso mais amplo dos sentidos para a
aprendizagem da escrita, logo, permitem que o aprendiz surdo tenha acesso à
escrita da língua oral através de seus outros sentidos e, por isso, podem facilitar
a aprendizagem, pois não valorizam apenas o conhecimento fonético, inviável
para ele.
114
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
115
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
FONTE: <http://www.redecaminhodosaber.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/04/
pr%C3%A9-sil%C3%A1bico-ok.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2019.
FONTE: <http://www.redecaminhodosaber.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/04/silabico-
ok.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2019.
116
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
FONTE: <http://www.redecaminhodosaber.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/04/silabico-
alfabetico-ok.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2019.
FONTE: <http://www.redecaminhodosaber.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/04/
alfabetico-ok.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2019.
117
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
analfabetas seriam aquelas que não aprenderam a ler ou escrever, por isso, não
adquiriram o domínio sobre a tecnologia da escrita para codificação e decodificação
de palavras, textos e frases. E, as pessoas analfabetas ou não alfabetizadas são
aquelas não possuem essas habilidades em relação à escrita.
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-y8cT4SBpGdQ/UvvlpF8cV-I/AAAAAAAAJrM/RLxUp1TKuAw/
s400/313066_473361359355177_1594481690_n%5B1%5D.jpg>. Acesso em: 2 mar. 2019.
3 LETRAMENTO: CONCEITUAÇÃO
O termo “letramento” refere-se aos usos sociais que a alfabetização tem,
como vimos anteriormente, até meados de 1980, ele não era utilizado no Brasil,
pois o papel social da alfabetização estava colocado junto com a codificação e
decodificação da escrita. De acordo com Rocha (2010, p. 13):
119
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
120
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
FONTE: <http://porquegostamosdecinema.blogspot.com/2015/08/critica-familia-belier-la-
famille.html> Acesso em: 28 fev. 2019.
121
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
UNI
FONTE: ALEXANDRE, CÁTIA. Crítica: A Família Bélier (La Famille Bélier). 2014. Disponível em:
<http://porquegostamosdecinema.blogspot.com/2015/08/critica-familia-belier-la-famille.
html> Acesso em: 28 fev. 2019.
122
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
3.2 LETRAMENTOS
Além do uso da expressão “letramento” para os usos sociais da escrita,
ao serem agregadas características específicas aos letramentos possíveis de serem
delimitados, criam-se expressões que fazem referência aos usos sociais das mais
diversas aprendizagens. Por exemplo, o letramento matemático, que se refere
ao uso da matemática nas situações sociais, tipo calcular o troco do mercado; o
letramento literário, quando a literatura tem um papel de modificação da relação
social através da leitura, como um jovem que sai de sua comunidade pela primeira
vez para comprar um livro desejado; e, o letramento digital, que faz referência
ao uso em sociedade da tecnologia disponível de forma proficiente, como saber
utilizar o caixa eletrônico para o pagamento de contas.
Desse modo, a autora procura destacar que elas não são adequadas para a
alfabetização de estudantes surdos, pois acredita que “seja partindo de textos, de
palavras, de famílias silábicas ou de letras isoladas, o processo de alfabetização
baseia-se em relações entre fonemas e grafemas. Assim, não é possível ensinar os
surdos a ler e a escrever alfabetizando-os” (FERNANDES, 2006, p. 8).
123
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
124
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
125
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
126
TÓPICO 2 | ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS
Por fim, na última parte (5), é feita a (re)laboração escrita com vista à
sistematização, pois nenhuma proposta de escrita textual acontece sem estar
dentro de uma proposta de leitura, visto que ambas são interdependentes e a
autora sugere que:
DICAS
127
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
NOTA
128
RESUMO DO TÓPICO 2
Resumo
• É necessário que o aprendiz surdo tenha o domínio sobre sua língua materna
para a alfabetização da escrita da língua oral.
• Os fonemas não fazem sentido para a criança surda, por isso, a relação fonema-
grafema é esvaziada.
130
AUTOATIVIDADE
FONTE: <http://arb.org.br/site/wp-content/uploads/2016/10/alice_no_pais_das_maravilhas_
signatores_outubro_2016.jpg>. Acesso em: 4 mar. 2019.
131
Quais das afirmações estão corretas?
a) ( ) Apenas I, II, II, V.
b) ( ) Apenas I, II e III.
c) ( ) Apenas I, III e V.
d) ( ) Apenas III, IV e V.
e) ( ) Apenas II, IV e V.
132
UNIDADE 2 TÓPICO 3
ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA
1 INTRODUÇÃO
A língua representa poder de inserção social para os indivíduos, tendo
em vista que a sociedade em que estamos inseridos no Brasil estrutura-se a partir
e pela escrita. Os contratos sociais são realizados mediante instrumentos de
registro escrito, por exemplo, uma pessoa passa a “existir” no sentido de poder
participar das diferentes instâncias sociais apenas no momento em que o Registro
de Nascimento é realizado e é emitida a Certidão de Nascimento, antes disso,
ela pode ter existência física, mas não tem presença ou existência cidadã. Uma
pessoa que não tenha documentos de identificação como Certidão de Nascimento,
Documento de Identidade (RG) e Cadastro de Pessoa Física não pode realizar
nenhuma das atividades que estão relacionadas à existência social mais básica,
como estudar, trabalhar, votar, receber valores de modo oficial, aposentar-se ou
sequer ter uma conta bancário ou de telefonia fixa ou móvel.
133
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
2 DIREITOS LINGUÍSTICOS
Os direitos linguísticos estão relacionados com as bases para o
desenvolvimento das reflexões referentes à educação e à representação linguística
em uma perspectiva de ensino dos surdos. Em relação às crianças usuárias de
línguas minoritárias Skutnabb-Kangas (1988, p. 19) coloca que:
134
TÓPICO 3 | ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA
atenção para os surdos bilíngues e para a comunicação entre surdos, bem como
destacam a possibilidade de realização de palestras e conferência em língua de
sinais.
135
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
3 REPRESENTATIVIDADE LINGUÍSTICA
“Representatividade significa representar politicamente os interesses de
determinado grupo, classe social ou de um povo” (SIGNIFICADOS, 2014, s.p.). Dessa
maneira, a representatividade linguística é aquela em que o uso, divulgação e o
conhecimento de uma língua faz com que as representações, estereótipos e preconceitos
linguísticos vinculados a ela sejam modificados através de situações que permitem a
representação política de um povo através dela. Assim sendo, mexem com:
136
TÓPICO 3 | ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA
Para que exista uma mudança nesse ciclo em que perpetuam os preconceitos
linguísticos sobre a expressão dos surdos e a língua de sinais, é necessário que
as políticas públicas ampliem a representatividade linguística da Libras como
língua materna dos surdos. Pois, o reconhecimento social está relacionado à
presença da língua de sinais nas discussões sociais da comunidade, bem como
na difusão, divulgação e pesquisa sobre a Língua de Sinais que existem em maior
quantidade.
No caso do Brasil, desde a legislação que garantiu a Libras como uma das
línguas oficiais do país, bem como as políticas de inclusão que foram colocadas
em prática, cada vez mais existem momentos em que a língua brasileira de sinais
tem ganho destaque na mídia nacional. Alguns exemplos não acadêmicos da
inserção da língua de sinais em expressões e situações culturais:
• Em 2006, Humberto, da Turma da Mônica, que até então fazia apenas o som
de “Hum-hum”, começa a aprender a se comunicar em Libras, o link para a
história completa está disponível no site da imagem a seguir.
137
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
FONTE: <https://culturasurda.files.wordpress.com/2016/01/turma-da-mc3b4nica-libras-2.jpg>.
Acesso em: 4 mar. 2019.
• “Um lugar silencioso”: filme de terror lançado em abril de 2018, no qual uma
família precisa manter silêncio absoluto para não ser atacada por uma entidade
que responde a partir do som, por isso, a família utiliza ASL para se comunicar.
138
TÓPICO 3 | ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA
NOTA
4 EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA
A educação linguística faz referência “[...] ao conjunto de fatores
socioculturais que, durante toda a existência de um indivíduo, possibilitam-lhe
adquirir, desenvolver e ampliar o conhecimento de/sobre sua língua materna, de/
sobre outras línguas, sobre a linguagem de um modo mais geral e sobre todos os
demais sistemas semióticos (BAGNO; RANGEL, 2012, p. 233).
139
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
LEITURA COMPLEMENTAR
RESUMO
[...]
3 RELATO DE EXPERIÊNCIA
Por fim, nas aulas de LP, uma das professoras regente da unidade escolar,
profa. Laureci Ferreira, juntamente com a especialista da SRM, profa. Letícia,
fizeram um trabalho que priorizava o ensino da leitura e da escrita considerando
as práticas de letramentos, cultura e conhecimentos prévios sobre a língua
portuguesa dos alunos. De início, foram trabalhadas a identidade (nome, local
onde mora, trabalho, o que gosta de fazer, o que gosta de comer). Foi escolhido
então trabalhar com as comidas preferidas, daí foram priorizados os seguintes
gêneros textuais escritos: receitas culinárias das comidas preferidas pelos alunos,
as embalagens dos ingredientes que compunha a receita, cardápios, lista de
141
UNIDADE 2 | SURDEZ E LINGUAGEM
4 CONCLUSÃO
Desenvolver esse desafiante trabalho fez com que vários caminhos fossem
apontados, assim como também várias outras questões surgiram. A partir dessa
experiência, a SRM e a gestão do Colégio Estadual Ruy Barbosa conseguiram
junto à SEC/BA a contratação de intérpretes para as salas com alunos surdos.
Passamos a oferecer Curso de Libras para toda a comunidade escolar e também
ao público em geral; realizamos um Fórum para discutir a Surdez e a inserção
social, com palestrantes importantes nessa área; contratamos um instrutor surdo
para ministrar cursos de Libras e também para realizar aconselhamento com os
alunos surdos dentro de áreas como saúde, relacionamento, convivência, direitos
etc.
142
TÓPICO 3 | ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA
FONTE: <http://www.uel.br/projetos/iccal/pages/arquivos/ANAIS/IDENTIDADE/
LETRAMENTO%20%20OS%20SURDOS%20A%20ESCOLA%20E%20O%20COTIDIANO.pdf>.
Acesso em: 26 fev. 2019.
143
RESUMO DO TÓPICO 3
Resumo
144
AUTOATIVIDADE
145
146
UNIDADE 3
AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E
ESCRITA DE SINAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
147
148
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, neste tópico discutiremos questões relevantes sobre os
aspectos de aquisição e desenvolvimento de linguagem. Esse estudo é importante
para que possamos entender a relevância da exposição precoce à Língua de
Sinais, os períodos e a idade crítica da aquisição da linguagem, as características
da aprendizagem de L1 e L2, em referência ao público surdo, e a relação entre
cognição e linguagem.
2 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM
Aquisição da linguagem
149
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FONTE: A autora
150
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
152
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Neste material, assim como adotado por Quadros (1997), serão utilizadas
como base as compreensões apresentadas pela abordagem linguística, porque este
livro didático parte da premissa de que a aquisição da linguagem é possível para
os seres humanos devido a “[...] uma capacidade linguística mental geneticamente
determinada” (QUADROS, 1997, p. 69). E a compreensão de que a gramática e a
estrutura da linguagem são independentes, em partes, do uso da linguagem. Ou
seja, o ambiente e a interação social não são determinantes sobre os processos
de aquisição das regras e normas da língua, ou seja, das questões sobre as quais
a linguística se debruça ao tentar compreender como se dá o conhecimento da
linguagem.
153
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
154
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
Quer dizer, apenas uma pequena parcela da população surda tem acesso
precoce à língua de sinais desde a primeira infância e, por consequência, ao
processo de aquisição da linguagem. Isso ocorre não apenas pelo fato de serem
parte de uma família ouvinte, mas também pelas demais questões transversais de
diagnóstico precoce, saúde pública, aceitação social e luto familiar que permeiam
a descoberta e compreensão da surdez por parte dos pais e da comunidade em
que essa criança está inserida.
155
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
DICAS
FONTE: <http://shopfacil.vteximg.com.br/arquivos/ids/790759/Livro---Lingua-de-Sinais--
Instrumentos-de-Avaliacao-Com-DVD_0.jpg?v=635466781186600000>. Acesso em: 23
maio 2019.
Ronice Quadros e Carina Cruz (2011) apresentam no livro Língua de Sinais: instrumentos de
avaliação diferentes atividades, exercícios e elementos que, segundo as autoras, procuram
preencher a necessidade de avaliação do desenvolvimento da linguagem (compreensão
expressiva) em Língua Brasileira de Sinais no Brasil. O livro não apenas apresenta as bases
teóricas da discussão, mas inclui na íntegra o Instrumento de Avaliação da Língua de Sinais
(IALS), descreve a pesquisa feita com surdos de diferentes idades e mostra reflexões sobre
os resultados encontrados. Recomendamos a aquisição e leitura deste livro na íntegra, pois
as atividades estão completas e são muito interessantes para os profissionais (professores e
bacharéis) que trabalharão diretamente com o desenvolvimento, aquisição e tradução da
Língua Brasileira de Sinais.
156
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
NOTA
Segundo Quadros e Cruz (2011, p. 18): “Input significa entrada, neste caso, a
língua à qual a criança está tendo acesso, vendo ou ouvindo. Ou seja, o input linguístico
refere-se a todo conjunto de formas de entrada de informações através das quais o indivíduo
é exposto aos usos da linguagem.
• Estágio de um sinal (14 meses a mais ou menos 2 anos): neste estágio, a criança
faz referência às coisas através da apontação e da experimentação através do
toque, além disso, estabelece comunicação com brinquedos, animais e demais
objetos, também usa estratégias não verbais para que suas necessidades
pessoais sejam atendidas e para reagir às situações. Também nessa fase são
utilizados gestos que indicam a vontade de ser pega no colo ou de obter algum
objeto que queira e isso acontece tanto entre as crianças ouvintes quanto surdas
(QUADROS; CRUZ, 2011). Também nessa fase aparecem as primeiras produções
em língua de sinais e, inicialmente, aparece o uso de sinais congelados, ou seja,
sinais que não têm flexão, como o sinal de MÃE em ASL (Língua de Sinais
Americana) e PAI e MÃE em Libras na variante utilizada no Rio Grande do Sul
(QUADROS, 1997).
157
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FONTE: A autora
FONTE: A autora
FONTE: A autora
158
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
TURO S
ESTUDOS FU
159
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FONTE: A autora
160
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
FONTE: A autora
FONTE: A autora
Quadros (1997) destaca que nessa sentença a criança, nomeada como “L”
pela autora, não identificou o sujeito nulo, ou seja, não estabeleceu a referência
pronominal no espaço, por isso, não é possível saber quem realizou a ação
definida pelo verbo. Através do uso de índices, podemos ver que o verbo “ir”
tem duas posições a serem ocupadas: (a) referente ao sujeito e (b) ao objeto. Na
transcrição da frase em Libras (1a), vê-se que apenas a posição (b) foi ocupada
pelo sinal de “casa”, mas a posição (a) não teve referente aparente, ou seja, não
teve um sujeito sinalizado. Na comparação entre as sentenças escritas em SW
(Figuras 7 e 8) fica evidente a não delimitação do pronome no espaço em (1a) e a
delimitação em (1b).
161
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
162
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
163
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
164
TÓPICO 1 | AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
6 AQUISIÇÃO DE L2
Os estudos sobre a L2, na perspectiva dos estudos sobre surdez, são
importantes devido à inserção da comunidade surda em uma sociedade ouvinte
em que a língua majoritária não é a língua de sinais, mas a língua oral-auditiva
mais utilizada no país. Não apenas os surdos estão neste contexto, também
existem comunidades de imigrantes que vivem situações semelhantes. Contudo,
fora em casos muito específicos e pouco comuns, os surdos sempre necessitarão
aprender mais de uma língua: a língua de sinais como L1 e a língua majoritária
como L2.
Em relação ao desenvolvimento dos estudos sobre aquisição de segunda
língua, Quadros (1997) destaca que eles desenvolveram-se motivados por três
fatores básicos:
UNI
Você sabia que existe uma cidade em que a maioria da população utiliza a
língua de sinais local para a comunicação?
Segundo Mark Eveleigh, jornalista da BBC travel, a cidade de Bengkala, um pequeno vilarejo
ao norte de Bali (uma das principais ilhas da Indonésia), teve durante muitos anos uma
taxa extremamente grande de nascimento de pessoas surdas e isso fez com que a maioria
das pessoas da cidade de três mil habitantes, atualmente, precisasse aprender a língua
Kata Kolok nome que significa, literalmente, “conversa de surdo”. Segundo Eveleigh (2019):
“se comparados aos surdos de outros lugares, os koloks de Bengkala são relativamente
privilegiados. Eles são capazes de se comunicar com grande parte das pessoas da vila
de 3 mil pessoas”. O artigo completo traz informações interessantes sobre o cotidiano da
comunidade e alguns aspectos sobre os sinais utilizados. De acordo com o autor e como é
esperado em relação às línguas que se desenvolvem de modo natural, “a kata kolok evoluiu
naturalmente e está constantemente recebendo novos sinais” (EVELEIGH, 2019, s.p.). Na foto
a seguir, é interessante notar os elementos de configuração de mão, expressão facial e ideia
de movimento que caracterizam as línguas de sinais.
FONTE: EVELEIGH, M. A cidade onde a maioria da população usa linguagem de sinais. 2019.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/revista-47615587. Acesso em: 24 maio
2019.
167
RESUMO DO TÓPICO 1
RESUMO
FONTE: A autora
• Apenas uma pequena parcela da população surda tem acesso precoce à língua
de sinais desde a primeira infância.
168
• Input linguístico refere-se a todo conjunto de formas de entrada de informações
às quais o indivíduo é exposto.
• Os estudos sobre L2, na perspectiva dos estudos sobre surdez, são importantes
devido à inserção da comunidade surda em uma sociedade ouvinte em que
a língua majoritária não é a língua de sinais, mas a língua oral-auditiva mais
utilizada no país.
169
AUTOATIVIDADE
COLUNA I COLUNA II
(1) Comportamentalista. ( ) Piaget.
(2) Linguística. ( ) Skinner.
(3) Interacionista. ( ) Vygotsky.
(4) Cognitivista. ( ) Chomsky.
(5) Sociointeracionista. ( ) Piaget e Vygotsky.
2 Quadros (1997), baseada nos estudos realizados por Bellugi e Petitto (1988),
destaca que com a análise das descobertas sobre a aquisição da linguagem,
são delimitados os seguintes aspectos sobre aquilo que o uso do espaço de
uso linguístico deve incluir:
4 Tendo em vista que apenas uma pequena parcela da população surda tem
acesso precoce à língua de sinais desde a infânica, explique o que você
entendeu sobre input linguístico e sua relação com a fase mais sensível para
aquisição da linguagem.
170
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
As pesquisas dentro dos estudos linguísticos são divididas em cinco
áreas básicas de análise do fenômeno da língua, são elas: a fonética/fonologia,
a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática. Cada uma dessas áreas
estuda uma parte do fenômeno linguístico envolvido no uso das línguas, dessa
maneira as questões discutidas são muito importantes também na compreensão
de como as línguas são diferentes e, ao mesmo tempo, tem semelhanças que
estão relacionadas aos aspectos linguísticos e aos “Princípios ou ‘Leis’, que são
constantes usadas em todas as línguas, contendo os Parâmetros ou ‘Leis’ que tem
representações nas línguas em que se encontrem, ocasionando divergências entre
as línguas e a transformação dentro de uma mesma língua” (SOUSA; PAIVA,
2019, p. 1).
Neste tópico são abordadas as características de cada uma das áreas dos
estudos linguísticos e algumas das sistematizações utilizadas pelo SignWriting
para a representação de aspectos relacionados a essas diferentes áreas de estudo
nas quais a linguística é dividida. Desta forma, o objetivo deste tópico é delimitar
conceitualmente cada uma dessas áreas de estudo e exemplificar como o sistema
SignWriting é utilizado para a escrita a partir da visão dessas diferentes áreas.
O estudo das áreas de análise linguística está organizado de modo crescente
com relação a sua contribuição para a construção de sentido e de uso da língua,
por isso, é iniciado com a fonética/fonologia, a menor parte de constituição do
sinal; e termina com a pragmática, o uso da língua de sinais escrita em situações
concretas de uso da língua.
171
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
DICAS
FONTE: <https://images.livrariasaraiva.com.br/imagemnet/imagem.aspx/?pro_
id=9416664&qld=90&l=430&a=-1=1003585593>. Acesso em: 24 maio 2019.
2 FONÉTICA/FONOLOGIA
Segundo Quadros e Karnopp (2004), a fonética é a área da linguística que
estuda os sons em sua dimensão física de articulação com o objetivo de perceber
quais os traços ou os grupos de traçis que compõem a língua. Já a fonologia
dedica-se ao estudo da função dos sons dentro de cada sistema linguístico,
enfatizando: “[...] as diferenças fônicas intencionais, distintivas, que se vinculam
a diferenças de significação e, além disso, estabelecer como se relacionam entre
si os elementos de diferenciação e as condições em que se combinam uns com os
outros para formar morfemas, palavras e frases” (CALLOU; LEITE, 1990 apud
QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 17).
172
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
Dito de outro modo, a fonética estuda como são produzidos os sons pelo
aparelho fonador e a fonologia estuda como os sons se organizam para formarem
os morfemas, as palavras e as frases. Essa característica da fonologia está ligada à
representação mínima de articulação que não tem significação fora do uso em que
é feita, mas que também é composto por um conjunto de características que se
realizam ao mesmo tempo. Para exemplificar o que cada uma destas áreas estuda,
uma pesquisa fonológica se dedica a perceber quais os pontos articulatórios para
a emissão das vogais; na visão da fonologia, a investigação procura saber como
um número finito de sons pode ser combinado para formar um número infinito
de combinações que dão origem a infinitas possibilidades, como a diferença entre
as palavras casa e caça em que os grafemas (representações dentro do sistema
gráfico) [s] e [ç] representam os fonemas /z/ e /s/, respectivamente.
173
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
174
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
c) Movimento de mão (M): indica qual ou quais os movimentos são feitos para
a realização plena do sinal, podem ser dos mais variados tipos e envolverem
apenas as mãos ou diferentes partes do corpo dentro do espaço de sinalização/
articulação, por exemplo, tocar, arrasar, balançar, ir para frente/trás/lados etc.
TURO S
ESTUDOS FU
Para a escrita destes fonemas constituintes dos sinais, de acordo com Barreto
e Barreto (2015, p. 76, grifo nosso): “O SignWriting é uma escrita visual direta e uma
solução completa para escrever as Línguas de Sinais. Cada grafema dessa escrita
representa diretamente um fonema das Línguas de Sinais e nos mostra como ele
é realizado”. Para observar a comparação entre os morfemas que constituem as
palavras/sinais, a seguir estão inseridas linearmente a escrita da mesma palavra em
língua portuguesa, a separação do sinal em fonemas sequenciais através de fotos e
a escrita da mesma divisão do sinal em escrita de sinais para fins de exemplificação
da diferença entre uma língua oral e uma de sinais e a relação entre o registro da
sinalização através de fotos digitalmente alteradas para demonstrar o movimento de
mão e a escrita de sinais dos mesmos fonemas:
A. Língua Portuguesa:
175
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
L
FONTE: A autora
FONTE: A autora
FONTE: A autora
176
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
FONTE: A autora
FAMÍLIA REUNIÃO
APRENDER SÁBADO
178
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
TRABALHAR VIDEOCASSSETE
Esta seção tratou da fonologia das línguas de sinais e de como são feitos
os registros através da escrita de sinais. É muito importante que os sinais sejam
compreendidos a partir da perspectiva fonológica de que são formados a partir
da junção de diferentes parâmetros fonológicos. Isso porque a escrita de sinais
através do sistema SignWriting depende da compreensão e registro de cada um dos
fonemas que formam o sinal para que este seja escrito de modo correto, pois uma
escrita inadequada pode alterar o sinal a ser feito ou até impossibilitar a leitura.
3 MORFOLOGIA
Os estudos sobre a área da morfologia das línguas de sinais se dedicam
ao estudo dos morfemas da língua, ou seja, é a área da linguística que se dedica
às menores partes da língua que têm significado, e pesquisa como essas partes se
estruturam no interior dos sinais para a formação de novos sinais. Os morfemas
podem existir sozinhos ou apenas em conjunto com outros sinais, por exemplo,
os prefixos e sufixos.
179
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FIGURA 22 – ADJETIVAÇÃO
(a) CÃO ESPERTO (b) PASTOR-ALEMÃO INTELIGENTE
FONTE: A autora
180
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
FIGURA 23 – AZUL
181
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
E
IMPORTANT
Por ser uma língua natural, a língua de sinais brasileira evolui de modo orgânico
e tem diferentes modos de realizar os sinais de acordo com a região do Brasil a que está
vinculado o sinal específico. Sendo este um movimento dialetal normal em que cada região
desenvolve seu modo de registro das palavras/sinais. Inclusive, uma das consequências do
uso de uma escrita de sinais é o estabelecimento de bases lexicais da Libras, pois a escrita
não apenas é uma forma de registro, mas também é um modo de solidificar as palavras/
sinais através da divulgação de material escrito.
FIGURA 25 – CLASSIFICADORES
FONTE: A autora
182
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
SENTAR CADEIRA
FONTE: A autora
183
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
02 →
+ = 01
184
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
ONTEM ANTEONTEM
FONTE: A autora
FONTE: A autora
FONTE: A autora
Na Figura 32, pode ser observada a derivação feita a partir do verbo “ter”
feito com a palma para baixo e dois toques no peito de sinalizante; já o sinal de “não
ter” tem acrescido os movimentos de cabeça e antebraços, com o afastamento da
mão em relação ao sinalizante. Então, ao mesmo tempo em que apresenta relação
com o sinal de “ter”, o sinal de “não ter” é formado pelo acréscimo e modificação
do movimento do sinal que dá origem a ele.
185
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FIGURA 33 – DIZER/DIGO PARA VOCÊ, VOCÊ DIZ PARA MIM – DIZER PARA TODOS
FONTE: A autora
4 SINTAXE
A sintaxe estuda os modos como as palavras/sinais se organizam nas
sentenças para a formação de sentido tanto no interior delas como em relação
aos textos num todo. Dentro dos estudos sintáticos estão as funções de cada uma
das palavras ou sinais que recebem a partir do uso que é feito deles no interior
das sentenças. Além disso, também fazem parte dos estudos sintáticos o estudo
dos tipos de sentenças e como elas são sinalizadas, os modos como o registro das
funções sintáticas são feitos pela direção do olhar e a apontação, bem como as
expressões “não manuais” gramaticais, ou seja, aquelas que têm valor gramatical.
O quê?
Qual o seu nome?
186
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
ENM - FOCO
DOIS
ANOS - DURAÇÃO
PASSADO
MÃE
COMPRAR
PASTOR ALEMÃO
DAR
AVÔ
5 SEMÂNTICA
Os estudos da semântica são aqueles que observam o significado das
palavras tanto dentro das sentenças e textos quanto em contrastes de significado,
dentro das pesquisas desta área estão os sinônimos e antônimos, as noções de
polissemia e de compreensão e entendimento de textos.
187
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
FIGURA 36 – SÁBADO/LARANJA
FONTE: A autora
6 PRAGMÁTICA
A área de estudos da pragmática envolve, de acordo com Quadros e
Karnopp (2004, p. 22 e 23):
188
TÓPICO 2 | AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO
FIGURA 37 – SENTENÇA 3
OLÁ
AQUI
SÁVIO
S-Á-V-I-O
DICAS
ANANTER, G. I. P.; PASSOS, G. dos. Mecanismos de coesão textual visual em uma narrativa
sinalizada: Língua de Sinais Brasileira em foco (p. 49-76) In: QUADROS, R. M. de; STUMPF, M.
R. (orgs.). Estudos Surdos IV. Série Pesquisas. Petrópolis: Editora Arara Azul, 2009. Disponível
em https://www.librasgerais.com.br/materiais-inclusivos/downloads/Estudo-Surdos-IV-SITE.
pdf. Acesso em: 14 abr. 2019.
189
RESUMO DO TÓPICO 2
• A fonética é a área de linguística que estuda como são produzidos os sons pelo
aparelho fonador.
• O SignWriting é uma escrita visual direta e uma solução completa para escrever
as Línguas de Sinais.
COLUNA I COLUNA II
(1) Morfologia ( ) Estuda as formas como a linguagem é utilizada pelos
(2) Semântica indivíduos e de como esses entendem os diferentes acordos
(3) Pragmática sociais feitos através e a partir da linguagem.
(4) Sintaxe ( ) Estuda as menores partes da língua que têm significado
(5) Fonética e pesquisa como essas partes se estruturam no interior dos
sinais para a formação de novos sinais.
( ) Estuda os modos como as palavras/sinais se organizam
nas sentenças para a formação de sentido tanto no interior
delas como em relação aos textos como um todo.
( ) Estuda os sons em sua dimensão física de articulação
com o objetivo de perceber quais os traços ou grupos de
traços que compõem a língua.
( ) Estuda o significado das palavras tanto dentro das
sentenças e textos quanto em contrastes de significado.
191
Dentre estas afirmações, quais estão corretas?
a) Apenas I, II, III e IV.
b) Apenas I, II, III e V.
c) Apenas II, III, IV e V.
d) Apenas I, III, IV e V.
e) Apenas I, II, IV e V.
192
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico serão discutidas, inicialmente, as questões sobre as vantagens
do uso da escrita de sinais para o processo de alfabetização e letramento das
crianças surdas. Para isso, veremos de que modo a possibilidade de escrita em
uma modalidade em que os parâmetros e as características tridimensionais da
Libras, isso porque a ES a partir do sistema SignWriting é um modo de registro
que respeita as peculiaridades fonológicas (Configuração de Mão, Orientação de
Palma, Ponto de Articulação, Movimento de Mão e Expressões Não Manuais),
bem como os parâmetros sintáticos quanto ao uso do espaço de sinalização e
referentes do discurso.
Por fim, serão apresentadas algumas das bases estruturais para leitura da
Escrita de Sinais, tais como direção, organização textual e orientação de leitura.
Essas bases já foram introduzidas brevemente ao longo desta unidade. Logo,
esta seção tem por objetivo sistematizar aquilo que foi apresentado ao longo das
seções anteriores e apresentar as bases para a leitura de textos em ES.
193
UNIDADE 3 | AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS
Por isso, a Escrita de Sinais para a alfabetização dos alunos surdos não é
apenas uma forma de registrar corretamente os fonemas que compõem os sinais das
línguas de sinais, mas uma forma de proporcionar um modo de desenvolvimento
linguístico adequado à modalidade da língua utilizada pelo aprendiz. E, a escrita
a partir da ES “[...] permite que as suas funções [da Libras] sejam socialmente
mediadas e constituídas, propiciando o conhecimento das representações sociais
através do reconhecimento das relações pensamento/linguagem/construção de
conhecimento” (BARTH; ANTUNES; SANTARROSA, 2007, p. 2).
Quanto aos usos da Escrita de Sinais pelo sistema SW, Stumpf (s.d., p. 6)
coloca que: “a escrita da língua de sinais torna possível publicações na língua de
sinais: livros, revistas, dicionários e literatura. Pode ser usada para ensinar sinais
e a gramática da língua de sinais para iniciantes na língua de sinais, também
pode ser aplicada ao ensino de modo geral”. Logo, é também uma forma de
proporcionar aos aprendizes da Libras os recursos materiais para o letramento
em língua de sinais, bem como um instrumento de registro para que sejam feitos
estudos e pesquisa não apenas sobre a língua de sinais, mas em línguas de sinais.
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alerta (sinal usado em: SP, CE, RS) (inglês: alert): adv. modo. Em atitude de quem vigia.
Vigilantemente. De sobreaviso. Ex.: O guarda-noturno deve percorrer as ruas alerta. adj. m. e f. Atento. Alertado.
Vigilante. Ex.: O vigia alerta soou o alarme, para que todos fossem alertados acerca do perigo. Ex.: Esteja alerta ao
andar à noite pelas ruas. Há muitos perigos por aí. (Fazer este sinal ABRIR OS OLHOS (gíria): Mãos em A,
palmas para frente a cada lado dos olhos. Abri-las em L, arregalando os olhos.)
ESCRITA (Português/ Inglês)
Desenho da Datilologia (Fonte gráfica)
FONTE: Capovilla, Raphael e Maurício (2012, p. 321 Adaptado por BARRETO; BARRETO, 2015, p. 78)
DICAS
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FIGURA 45 – MESA EM ES
FONTE: A autora
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FONTE: A autora
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LEITURA COMPLEMENTAR
FICHA TÉCNICA
NELL. Direção: Michael Apted. Produção: Renee Missel e Jodie Foster.
Protagonistas: Jodie Foster, Liam Neeson e Natasha Richardson. FoxVideo, 1995.
115 min.
SINOPSE
O filme Nell trata da história de uma pessoa que viveu isolada junto com
sua mãe em uma floresta, distante da cidade e do contato com a zona urbana.
Após a morte de sua mãe, a personagem Nell passa a viver sozinha. O enredo do
filme mostra a tentativa de civilizar Nell, nas ações do médico e da psicóloga. Na
sinopse do filme, encontra-se a seguinte questão: será certo civilizar uma pessoa
selvagem, sem que ela deseje realmente isso? Conforme a perspectiva adotada
para conceituar cultura, pode-se afirmar que Nell não tinha cultura. Isso seria
possível, desde que a base fosse etnocêntrica. Em paralelo, observando-se o
conceito de cultura sob o viés relativista, pode-se confirmar a cultura de Nell.
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Nell como uma selvagem, mas sim, como uma pessoa que vive uma outra cultura,
bastante distinta da nossa, nem por isso melhor ou pior. Além disso, seria bastante
hipotético, a priori, tecer qualquer tipo de consideração acerca dos desejos dela,
tanto que a convivência dos três os fez adaptar seus comportamentos no sentido
de entender melhor uns aos outros. Portanto, pelo menos no filme, constata-
se uma convivência pacífica entre Nell e os outros, mostrada na cena final, em
que as culturas são respeitadas e não há a imposição de uma das culturas. No
entanto, pode-se inferir que Nell sofreu mais adaptações à cultura da cidade que
o contrário.
LEITE, T. Análise sobre o filme Nell: A selvagem e a linguagem. 2009. Disponível em: http://
tecioleite.blogspot.com/2009/06/analise-sobre-o-filme-nell-selvagem-e.html. Acesso em: 27
maio 2019.
205
RESUMO DO TÓPICO 3
• A Escrita de Sinais para a alfabetização dos alunos surdos não é apenas uma
forma de registrar corretamente os fonemas que compõem os sinais das línguas
de sinais, mas uma forma de proporcionar um modo de desenvolvimento
linguístico adequado à modalidade da língua utilizada pelo aprendiz.
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AUTOATIVIDADE
2 Neste livro didático já foi mostrado o sinal a seguir, ele é a escrita do sinal
pessoal da autora deste material, a professora Mariana Correia. De acordo
com o que foi estudado nesse tópico, como deve ser feita a leitura e a
identificação dos fonemas que compõem este sinal?
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REFERÊNCIAS
209
BENVENUTI, J. Letramento, leitura e literatura no ensino médio da
modalidade de educação de jovens e adultos: uma proposta curricular. 2011.
Tese (Doutorado em Letras) – Instituto em Letras, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/
URGS_64a7db12edc48f53fd8a83136ea1b06b. Acesso em: 27 fev. 2019.
210
SUTTON, Valerie. Um sistema de escrita para língua de sinais. 210 p.
Disponível em: http://www.signwriting.org/archive/docs5/sw0472-BR-Licoes-
SignWriting.pdf. Acesso em: 18 abr. 2019.
DUBOIT, J. et al. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 1973 (1ª ed.
Francesa).
INES. Vida em libras: história do surdo. 2018. (14 min.), son., color. Legendado.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ARnqw9U1TDc. Acesso em:
14 fev. 2019.
211
NASCIMENTO, Raquel de Oliveira. Análise de atividades de alfabetização de
estudantes surdos. 2015. Dissertação. (Mestrado em Educação) – Universidade
do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre. Disponível em: http://www.univas.edu.br/
me/docs/dissertacoes2/21.pdf. Acesso em: 4 mar. 2019.
SAUSSURE, F. de. (Org. de BALLY, C.; SECHEHAYE, A.) 18. ed. Curso de
linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2012.
SILVA, I. R. Quando ele fica bravo, o português sai direitinho; fora disso a gente
não entende nada: o contexto multilíngue da surdez e o (re)conhecimento das
línguas no seu entorno. Trabalhos em linguística aplicada, Campinas, v. 47, n.
2, p. 393-407, dez. 2011. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/
index.php/tla/article/view/8645171/0. Acesso em: 24 fev. 2019.
213
SOUSA, A. R. B. de; PAIVA, R. F. Aquisição da linguagem à luz do modelo
gerativista. Disponível em: http://www.profala.com/artpsico67.htm. Acesso em:
27 maio 2019.
214
TRADUÇÃO DE ESCRITA DE SINAIS PARA PORTUGUÊS: RECRIAÇÃO
DO TEXTO?, 3., 2012, Florianópolis. Congresso Nacional de Tradução e
Interpretação de Libras e Língua Portuguesa. Florianópolis: Ufsc, 2012. 7 p.
Disponível em: http://www.congressotils.com.br/anais/anais/anaistils2012_
traducao_escrita_ampessan.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019.
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