Você está na página 1de 8

OS SINAIS DA LIBRAS COM SEUS CONTEXTOS

Maria Nilza Oliveira Quixaba1

Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus


olhos são meus ouvidos..., olho do mesmo modo com que
poderia escutar..., escrevo do mesmo modo que me exprimo
por sinais. Minhas mãos são bilíngues. Ofereço-lhes minha
diferença. Meu coração, não é surdo a nada neste duplo
mundo. (LABORIT, 1994, p. 205).

Há sinais da Língua Brasileira de Sinais-Libras para expressar


diferenciadas situações, em contextos distintos. Quando as pessoas
assumem determinados comportamentos, se comunicam de acordo
com estes, por isto, quando uma pessoa se dispõe a aprender uma
língua, por consequência, acaba aprendendo, os hábitos culturais e os
contextos aos quais tais expressões são veiculadas.
No passar dos anos foram desenvolvidos vários estudos
linguísticos que comprovaram que a Libras é uma língua completa com
gramática e estrutura própria. Verificou-se por meio dessas pesquisas
que a Libras apresenta sinais icônicos e arbitrários.
De acordo com Streiechen (2013, p.51) “os sinais icônicos
apresentam uma forma que tenta imitar o referencial em suas
características visuais, fazendo alusão à imagem do seu significado”.
Já os sinais arbitrários “são aqueles que não mantêm nenhuma
semelhança com o referente ou o dado da realidade que o
representam”. As línguas têm propriedades básicas e uma delas é a
arbitrariedade existente entre significante e referente (STREIECHEN,
2013, p.52). As figuras 1 e 2 ilustram os sinais icônicos e arbitrários.

Figura 1: Sinais icônicos

2PRAIA BORRACHA

1
Profª do Curso de Licenciatura em Letras - Departamento de
Letras/DELER/CCH/UFMA.
2
Capovilla, Raphael, Mauricio (2012).
TELEFONE LOUSA/QUADRO

Figura 2: Sinais arbitrários

DESCULPA UNIVERSIDADE PAPEL ACREDITAR

O sistema pronominal da Libras é composto por pronomes:


pessoais, demonstrativos, possessivos, interrogativos e indefinidos. Os
sinais relacionados a pronomes pessoais podem representar a
primeira, segunda e terceira pessoa do discurso. A Figura 3 apresenta
sinais de pronomes pessoais.

a) Pronomes pessoais

Figura 3: Pronomes pessoais

EU VOC@ EL@

• Primeira pessoa
[singular (EU); dual (NÓS-2); trial (NÓS-3); quadrial (NÓS-4); e plural
(NÓS-GRUP@ - NÓS-TOD@)].
• Segunda pessoa
[singular (VOC@); dual (VOC@-2); trial (VOC@-3); quadrial (VOC@-
4); e plural (VOC@-GRUP@ - VOC@-TOD@)].

3
Fonte: Felipe (2004).
• Terceira pessoa
[singular (EL@); dual (EL@-2); trial (EL@-3); quadrial (EL@-4); e
plural (EL@-GRUP@ - EL@-TOD@)].
No singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo, a
configuração da mão predominante é em “D” (mão configurada em ‘D’
de acordo com o alfabeto manual da Libras), o que diferencia uma da
outra é a orientação da mão, por exemplo, EU aponta-se para o peito
do emissor, o sinal VOC@ aponta-se para o receptor, e o sinal EL@
aponta-se para uma pessoa que não está na conversa, ou pelo menos
diretamente, convenciona-se o lugar da terceira pessoa que está sendo
citada.
A mão fica na forma de 2 no dual, de 3 no trial e de 4 no
quadrial. No plural utiliza-se dois sinais o sinal da pessoa do discurso,
no singular, mais o sinal GRUP@ e o outro sinal de plural é realizado
com a mão configurada em ‘D’ com movimento de círculo.
Exemplo de frases com pronomes pessoais: SEXTA EU IR
CASAMENTO PRIM@.; VOC@ ESTUDAR LIBRAS!; EL@-2 CASAD@
VERDADE.

b) Pronomes demonstrativos

Na Libras os pronomes demonstrativos e os advérbios de


lugar tem o mesmo sinal para representá-los, o que os diferem são os
contextos em função do sentido apresentado na sentença associados à
expressão facial. Esses pronomes estão relacionados às pessoas do
discurso e representam na perspectiva do sinalizante, o que está
próximo dele, distante ou perto. Apresentam ainda a mesma
configuração de mão dos pronomes pessoais, ou seja, mão configurada
em letra D (alfabeto manual). No entanto, os pontos de articulação e
a orientação do olhar se diferem na segunda e terceira pessoa.
Para Felipe (2004), os pronomes demonstrativos e os
advérbios de lugar relacionados à primeira pessoa EST@/AQUI, são
representados por um apontar para o lugar perto e em enfrente do
sinalizante, acompanhado de um olhar para o ponto mencionado. O
sinal EST@ também obedece a mesma regra de articulação.
Para executar os sinais ESS@/AÍ aponta-se para o lugar perto
e em frente do receptor, acrescentando um olhar direcionado para o
ponto sinalizado da coisa ou pessoa próximo da segunda pessoa
envolvido no discurso. O que difere dos sinais AQUEL@/LÁ, é o lugar
que se refere a terceira pessoa do pronome pessoal e estende-se o
braço mais afastado do corpo, dando a ideia de maior distância entre
quem está sinalizando, o objeto, a pessoa ou lugar que está sendo
mencionado no discurso. As figuras 4 e 5 ilustram bem os pronomes
demonstrativos e advérbios de lugar.

Figura 4: Pronomes demonstrativos

EST@ ESS@ AQUEL@

Figura 5: Advérbios de lugar

AQUI AÍ LÁ

c) Pronomes possessivos

Os sinais de pronomes possessivos, bem como os pessoais e


demonstrativos, não apresentam marca para gênero masculino e
feminino, assim como número singular e plural. Por essa razão, utiliza-
se o símbolo @ para fazer essa marcação que aparentemente parece
não existir na Libras. Contudo, os sinais ME@, TE@ e SE@ estão
relacionados aos pronomes pessoais EU, VOC@ e EL@, às pessoas do
discurso e não a coisa possuída como ocorrem nas sentenças da Língua
Portuguesa. A figura 6 exemplifica sinais de pronomes possessivos.

Exemplos de sentenças em LIBRAS com pronomes possessivos:

EU - ME@ COMPANHEIR@.
VOC@ - TE@ AMIG@.
EL@ - SE@ PROFESSOR@.

Fonte: Felipe (2007, p.42).


4
Figura 6: Pronomes possessivos

ME@ TE@ SE@ PRÓPRIO

d) Pronomes interrogativos

Os pronomes interrogativos tem característica peculiar pelo


uso indispensável das expressões faciais conjugadas à execução dos
sinais, e, em alguns casos, requerem a incorporação de advérbios de
tempo. A figura 7 apresenta alguns exemplos de pronomes
interrogativos.

Figura 7: Pronomes interrogativos

QUAL?7 QUAL? QUAL DOS DOIS? COMO? PORQUE?

e) Pronomes indefinidos

Segundo Capovilla e Raphael (2005), são pronomes


indefinidos ALGUÉM, CADA, MUIT@, NADA, NINGUÉM, NENHUM
OUTR@, POUC@, QUAL?, QUALQUER, QUANT@, ALGUM, ALGUMA,
QUE?, QUEM?, TOD@, TUDO, VÁRIOS, VÁRIAS. A figura 8 ilustra
alguns pronomes indefinidos.

5
Fonte: Felipe (2007, p. 43).
6
Fonte: Felipe (2004).
7
Comparação.
Figura 8: Pronomes indefinidos

8 9

NENHUM NADA NINGUÉM TOD@

Outra classe de sinais igualmente relevante aos demais


citados são os verbos. Existem basicamente dois tipos de verbos:
verbos que não possuem marca de concordância, e aqueles que
possuem marca de concordância. Esses dois tipos de verbos podem se
subdividir em grupos ou subgrupos, dependendo do modo como são
empregados, por exemplo: os verbos de movimentos e locomoção. IR;
CHEGAR; VOLTAR; PASSEAR e VIAJAR, são verbos que não possuem
marca de concordância, ficam na forma neutra. Com relação aos
verbos que possuem concordância número-pessoal, a orientação
marca as pessoas do discurso na execução do sinal, nessa sinalização
o ponto inicial concorda com o sujeito e o final com o objeto.
Nos verbos considerados classificadores ou de concordância,
a configuração de mão é uma marca de concordância de gênero que
pode ser pessoa, animal ou coisa. Esses verbos concordam com o
sujeito ou o objeto contido na frase. Os verbos classificadores também
possuem concordância com a localização, começam ou terminam em
um determinado ponto ou se referem ao lugar de uma pessoa, animal
ou veículo que na execução do sinal emite ideia que estes: pessoa,
animal ou objeto estão sendo carregado ou colocado de um ponto a
outro. As figuras 9 e 10 evidenciam verbos sem e com concordância:

Figuras 9: Verbos sem concordância

10 11

ESTUDAR COMEÇAR ESPERAR

Figuras 10: Verbos com concordância

8
Capovilla, Raphael, Mauricio (2012).
9
Fonte: Felipe (2004).
10
Capovilla, Raphael, Mauricio (2012)
11
Fonte: Felipe (2004).
12

PASSAR-FERRO PASSAR PASSAR PASSAR-FAX


(objeto longo) (pessoa)

Dessa maneira, mediante o descrito, acredita-se que a Libras


é uma língua completa, que permite expressar fatos, ideias, recitar
poesias, cantar músicas, proferir discursos, manifestar
descontentamento, satisfação em diferentes espaços e contextos.
Sendo assim, a Libras deve circular livremente para que surdos e não
surdos tenham contato e possam interagir de maneira natural.

Referências

CAPOVILLA, Fernando César. RAPHAEL, Walquiria Duarte.


Enciclopédia da Língua de Sinais Brasileira: o mundo do surdo em
Libras. V. 8 – Palavras de Função Gramatical. São Paulo. [Fundação]
Vitae: Fapesp: Capes. Editora da Universidade de São Paulo. 2005.

CAPOVILLA, Fenando César. RAPHAEL, Walquiria Duarte. MAURICIO,


Aline Cristina L. Novo Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado
Trilíngue da Lingua de Sinais Brasileira. Vol. 1. Sinais de A a H. 2 ed.
rev. e ampl. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo:
Inep: CNPq: Capes: Obeduc, 2012.
__________. Novo Deit-Libras: Dicionário Enciclopédico Ilustrado
Trilíngue da Lingua de Sinais Brasileira. Vol. 2. Sinais de I a Z. 2 ed.
rev. e ampl. – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo:
Inep: CNPq: Capes: Obeduc, 2012.

FELIPE, Tanya A. Libras em Contexto: Curso Básico – Livro do


Estudante. 8ª edição – Rio de Janeiro. Walprint Gráfica e Editora.
2007.
__________ . Libras em Contexto: Curso Básico – Livro do
Estudante. 4ª edição – Brasília. Ministério da Educação – SEESP.
2004.

12
Fonte: Felipe (2007, p. 101)
LABORIT, Emmanuelle. O Voo da Gaivota. Trad. Lelita Oliveira. São
Paulo. Best Seller, 1994.

STREIECHEN, Eliziane Manosso. Libras:aprender está em suas mãos.


1 ed. – Curitiba, PR:CRV, 2013.

Você também pode gostar