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Atenção à saúde
DE EDUCAÇÃO da pessoa privada
PERMANENTE de liberdade
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA
UNIDADE
Atenção integral à
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saúde da mulher
privada de liberdade
Caro cursista,
As prisões foram criadas a partir de uma racionalidade que via a periculosidade como uma
característica inerente aos homens, portanto, sendo projetada para esses (FOUCAULT, 1987).
Sendo assim, mesmo que o número de mulheres presas tenha aumentado com o advento
do século XX, as prisões femininas continuam sem estrutura para abrigar e disciplinar as
mulheres em situação de encarceramento, inclusive no Brasil (MAIA et al., 2009). Portanto,
o sistema penitenciário brasileiro, reconhecidamente deficiente no tocante à garantia dos
direitos a saúde, assistência social e jurídica dos indivíduos presos, torna-se ainda mais negli-
gente para os segmentos menos favorecidos dessa população, neles incluindo as mulheres
(VENTURA; SIMAS; LAROUZE, 2015). Você já havia pensado nisso?
Apesar de a participação feminina na população carcerária brasileira ser, em geral, pouco sig-
nificativa, correspondendo a aproximadamente 5,8% da população carcerária total, o ritmo
no crescimento da taxa de mulheres presas no país tem chamado atenção. Entre os anos de
2005 e 2014, essa taxa cresceu numa média de 10,7% ao ano. Em termos absolutos, o núme-
ro de mulheres presas saltou de 12.925 em 2005, para 33.793 em 2014 (BRASIL, 2014b).
Nesse contexto, o relatório do InfoPen de 2012 retrata as desigualdades sociais que marcam
o perfil das mulheres presas no Brasil: 47% tinham até 29 anos de idade, 63% eram negras
e 83% não completaram o ensino médio (BRASIL, 2012b), conforme observamos a seguir:
Ademais, estudos revelam que a maioria das mulheres foi presa por tráfico de drogas ou
associação ao tráfico, são reincidentes e não participam de atividades de ressocialização no
âmbito prisional, a saber: exercício de atividade laboral ou escolar, culminando com o pro-
longamento das penas e consequentemente maior exposição às condições insalubres das
prisões (CUNHA, 2010; OLIVEIRA et al., 2013).
Outra característica que merece destaque, pois certamente repercute nas condições de saú-
de da mulher presa é o abandono familiar vivenciado por essas após o aprisionamento,
ao contrário do que ocorre com os homens, que na maioria das vezes, recebem suporte
financeiro e afetivo durante todo o cumprimento da pena (JESUS et al., 2015). Acrescente-se
que o abandono familiar, associado ao descumprimento da garantia da visita íntima, impac-
tam negativamente na vivência da sexualidade das mulheres privadas de liberdade, e conse-
quentemente impactam em sua saúde e qualidade de vida (SOARES; FELIX-SILVA; FIGUEIRO,
2014). Agora que já conhecemos um pouco acerca do perfil socioeconômico das mulheres
privadas de liberdade em nosso país, vamos continuar nossos estudos sobre as condições
de saúde dessas mulheres?
A fim de sumarizar alguns indicadores de saúde das mulheres privadas de liberdade, segue
o quadro abaixo:
Após essa discussão, perceberam que também é importante a realização de ações de saúde
pública para esse grupo?
Ademais, são escassos estudos que abordem outros aspectos do adoecimento entre mulhe-
res privadas de liberdade, a saber: doenças cardiovasculares, respiratórias, dentre outras.
Porém, é consenso entre estudiosos da área, que são múltiplas as vulnerabilidades viven-
ciadas pelas mulheres, cabendo aos profissionais de saúde conhecer tais vulnerabilidades,
a fim de construir intersetorialmente, junto aos demais membros de sua equipe, ações
que promovam a saúde, previnam os agravos e as doenças e tratem as doenças, por meio
de uma abordagem integral (BARROS et al., 2016).
Entretanto, apesar do aparato legal vigente, são muitos os desafios para efetivação de uma
assistência integral à saúde das mulheres presas (DIUANA et al., 2016), dentre os quais elen-
ca-se: o desconhecimento dos profissionais das Redes de Atenção à Saúde (RAS) quanto
às suas atribuições no cuidado às pessoas privadas de liberdade, conforme apresentamos
na situação problema. Lembra?
Então, convidamos você a continuar conosco nesse aprendizado, visando superarmos jun-
tos esses desafios! Até a próxima aula!
Sabemos que o perfil das mulheres encarceradas é composto por jovens, imersas em um
contexto social que propicia o sexo desprotegido, de modo que a gravidez é uma situação
recorrente no ambiente prisional (SOARES; CENCI; OLIVEIRA, 2016). E, sendo a maternidade
desejada ou não, quando vivenciada na prisão, traz contornos distintos daqueles vivencia-
dos por mulheres em liberdade (FRANÇA; SILVA, 2015).
Um estudo desenvolvido por Oliveira, Miranda e Costa (2015a) concluiu que a maternidade
vivenciada no cárcere é permeada por sofrimentos e limitações. No entanto, a permanência
da criança junto à mãe gera consolo em meio à angústia e minimiza, mesmo que tempora-
riamente, as dificuldades no cárcere.
Então, sigamos nossos estudos discutindo acerca da atenção à mulher grávida e ao recém-
-nascido no ambiente prisional!
A Rede Cegonha é uma estratégia inovadora do Ministério da Saúde que visa implementar
uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reproduti-
vo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, e às crianças o direito ao
nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis. Tem como base os
princípios do SUS, de modo a garantir a universalidade, a equidade e a integralidade da
atenção à saúde. Dessa forma, a Rede Cegonha organiza-se de modo a assegurar o acesso,
o acolhimento e a resolutividade, por meio de um modelo de atenção voltado ao pré-natal,
É válido destacar que as mulheres que vivenciem a gestação, o parto e o puerpério privadas
de liberdade devem estar inseridas no Rede Cegonha, para isso, faz-se necessária a articula-
ção entre todos os profissionais de saúde responsáveis pelo cuidado dessas mulheres. Entre
esses profissionais, destacam-se os das equipes da atenção básica prisional, e na ausência
dessa equipe, a ação compete aos profissionais da ESF responsáveis pelo território onde
existam instituições prisionais.
A Estratégia Saúde da Família (ESF) visa à reorganização da atenção básica no País de acordo
com os preceitos do Sistema Único de Saúde, apresentando uma característica de atuação
inter/multidisciplinar e responsabilidade integral sobre a população que reside na área de
abrangência de suas unidades de saúde (BRASIL, 2012a). Entretanto, ainda que os profissio-
nais da ESF estejam cientes de tais responsabilidades, os estigmas e preconceitos que per-
meiam o cuidado à população privada de liberdade, reforçados pela carência de capacitação
específica sobre essa temática, contribuem para um cuidado fragmentado e pouco resolu-
tivo a essas populações (OLIVEIRA et al., 2016), tal qual elucidamos na situação problema.
Estão lembrados?
Um estudo desenvolvido por Costa et al. (2014) cujo objetivo foi descrever as ações de saú-
de realizadas para os presidiários e compreender a organização, planejamento e execução
desses serviços pelas equipes de saúde da família, identificou que as ações de saúde se
limitavam a campanhas de vacinação e consultas médicas esporádicas. Além disso, o aten-
dimento aos detentos ocorre sem planejamento ou identificação das reais necessidades
desse público, demonstrando que o presídio não é compreendido como sendo responsabi-
lidade da equipe da ESF.
Então, após o exposto, é possível que você esteja se perguntando: qual o papel da equipe da
ESF no acolhimento e cuidado as demandas das mulheres privadas de liberdade?
Você compreende que são múltiplas as dimensões que envolvem o acolhimento e cuidado
a mulheres privadas de liberdade na esfera da ESF? Porém, por fins didáticos e fundamen-
tando-nos no perfil epidemiológico desse público, elencamos as seguintes ações prioritárias:
Cabe também aos profissionais da ESF prestar assistência quanto ao planejamento familiar,
assim como realizar triagem/ diagnóstico e tratamento para doenças e agravos, com ênfase
para tuberculose, hanseníase, sífilis, hepatites B e C e HIV/ AIDS (SANTOS; BERMUDEZ, 2012).
Quanto às ações de promoção à saúde, faz-se necessário, por um lado identificar as ques-
tões trazidas pelo público-alvo, por outro traçar estratégias metodológicas compatíveis com
esse público (TAVARES et al., 2016). Sugerimos os seguintes temas a serem abordados com
as mulheres privadas de liberdade: higiene; álcool e/ ou outras drogas; prevenção à violên-
cia; gênero e sexualidade, dentre outros. Por fim, as demandas de saúde mental, tão presen-
tes entre mulheres encarceradas, serão abordadas na próxima unidade.
Dessa forma, a equipe de saúde precisa conhecer as legislações e os direitos desses indiví-
duos objetivando uma melhor assistência.