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Resumo
Médica ginecologista. Mestre em Antropologia Social pela UFRGS.
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Fato interessante entre as informantes é que metade delas casou para sair de
casa e/ou casou grávida2. Elas relatam pais rígidos ou alcoólatras ou problemas de
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O projeto de pesquisa também foi previamente analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba.
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O casar-se, aqui, não se refere necessariamente a uma união oficial, mas ao estabelecimento de
uma co-residência.
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Mas você não cuidava e não tinha medo de engravidar? Não usava
nem camisinha? “Não usava nada! Eu não sei por que, mas eu
achava que eu nem podia engravidar...” (A.F.S., 25 anos)
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O projeto Gravidez na Adolescência: Estudo Multicêntrico sobre Jovens, Sexualidade e Reprodução
no Brasil (Pesquisa GRAVAD) foi elaborado originalmente, por Maria Luiza Heilborn (IMS/UERJ),
Michel Bozon (INED, Paris), Estela Aquino (MUSA, UFBA) Daniela Knauth (NUPACS/UFRGS) e
Ondina Fachel Leal (NUPACS/UFRGS). A pesquisa está sendo realizada por três centros de
pesquisa: Programa de Gênero, Sexualidade e Saúde, do IMS/UERJ; Programa de Estudos em
Gênero e Saúde do ISC/UFBA; e o Núcleo de Pesquisa em Antropologia do Corpo e da Saúde, da
UFRGS. O grupo de pesquisadores compreende Maria Luiza Heilborn (coordenadora), Estela Aquino,
Daniela Knauth, Michel Bozon, Ceres G. Víctora, Fabíola Rohden, Cecília Mc Callum, Tânia Salem e
Elaine Reis Brandão. O consultor estatístico é Antonio José Ribeiro Dias (IBGE). A pesquisa é
financiada pela Fundação Ford e conta com o apoio do CNPq.
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O significado da maternidade
A maternidade, portanto, faz parte das fases da vida de uma mulher que
acontecem, segundo MacCormack e Draper (1987) e Victora (1991), na direção de
um status social mais elevado: a primeira menstruação, a primeira relação sexual e a
chegada do primeiro filho. Todo o processo é um misto de biologia e experiência
social: estas fases estão ligadas à reprodução e são traduzidas na maternidade
como uma condição social importante que complementa o sentimento de ser mulher.
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socialmente dominantes, mas isto não quer dizer que todos os homens sejam
patriarcas bem-sucedidos, nem todas as mulheres virginais e castas”.
Será que estas atitudes tradicionais são tão uniformes assim? Fonseca (2004)
nos chama a atenção para este fato: existem situações em que as mulheres detêm
considerável poder, apesar das relações entre cônjuges divergirem do que é
esperado. Existe a impressão de que os homens estabelecem as regras e as
mulheres se submetem tranquilamente, mas o que se vê em campo são mulheres
que podem ser menos resignadas e homens, menos dominadores.
entre as informantes desta pesquisa: a quase totalidade das informantes faz uso do
seu contraceptivo conforme a posologia, sendo que em apenas dois casos havia
uma pequena variação que não chegava a comprometer o uso, como a variação de
um dia para o início da medicação ou o uso de outro método concomitante.
E você quer ter mais filhos? “Deus me livre! Meu marido fica falando
que quer mais um, mas já pensou? Um pequeno, essa com quatro e
a outra com oito? Nem pensar! Mas eu sei o que é isso: meu marido
quer que eu tenha mais um filho pra eu ficar aqui presa dentro de
casa! Claro que não! A vida é minha e quem decide quantos filhos
eu vou ter sou eu! Às vezes eu fico pensando como a minha vida
podia ser diferente se eu não tivesse engravidado tão cedo.”
(V.M.A.P., 25 anos)
A maior parte das informantes já foi ao serviço de saúde decidida sobre qual
método contraceptivo gostaria de usar e este foi escolhido baseado no conselho de
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amigas ou familiares que tiveram experiência prévia com o método. Outro dado que
chama a atenção entre as informantes da minha pesquisa é que elas relataram não
discutir com o parceiro a escolha sobre o contraceptivo. Além disso poder
representar para elas uma forma de autonomia sobre seus corpos, também
corrobora para o fato de que as mulheres assumem para si a responsabilidade sobre
o controle da fertilidade. Na pesquisa realizada por MacCormack e Draper (1987) na
Jamaica, das mulheres entrevistadas que disseram não querer mais ter filhos, 40%
nunca discutiu contracepção com seu parceiro e muitas procuram aconselhamento
de planejamento familiar sem o conhecimento deles. Isto corrobora com a pesquisa
realizada por Fernandes (2003), em Pernambuco, na qual 40% das mulheres
decidiram sozinhas sobre o método contraceptivo que escolheram usar. Esta
omissão masculina reflete, portanto, uma estratégia de empoderamento por parte
das mulheres com respeito ao controle da fertilidade e seu empoderamento frente ao
mundo.
“uma camada que protege” ou “uma barreira que protege o óvulo”. Este efeito de
barreira está provavelmente associado à concepção de os medicamentos na forma
injetável são mais “fortes” e, portanto, mais eficientes – uma classificação que ocorre
baseada na rapidez e intensidade dos seus efeitos. Lefèvre (1991) afirma que a
morfologia do significante do medicamento – isto é, a forma de administração –
interfere no seu sentido. O que explica o fato de, popularmente, a injeção ter maior
poder de cura que o comprimido.
Considerações finais
Referências bibliográficas
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