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02/03/2023, 18:32 UNINTER

PSICOLOGIA APLICADA
À ENFERMAGEM
AULA 4

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CONVERSA INICIAL

Na aula de hoje, teremos a oportunidade de pensar sobre o


Profª Giseli Cipriano Rodacoski
adoecimento nos diversos ciclos de vida: criança, adolescente, adulto e
idoso. O objetivo é instrumentalizar os alunos para que, em sua futura
atuação como enfermeiros, possam ampliar sua visão da doença para o ser
humano que adoece; a partir desse ponto de vista, espera-se que
consigam gerenciar processos de cuidado humanizados e significativos
para as pessoas.

TEMA 1 – ADOECIMENTO NOS DIVERSOS CICLOS


VITAIS

Assim como falamos em desenvolvimento humano, também é


importante considerar os ciclos vitais, que envolvem não apenas as
mudanças individuais ao longo da vida, mas também o modo de vida das
pessoas, considerando sua condição social, especialmente em relação ao

grupo com o qual convive, que costumamos chamar de família.

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Considerando os determinantes sociais da saúde – DSS, segundo o


modelo de Dahlgren e Whitehead (CNDSS, 2008), podemos entender que,
ao longo do desenvolvimento humano, os diversos ciclos vitais são
determinados por fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais,
psicológicos e comportamentais, que influenciam o processo saúde-
doença na população.

Figura 1 – Fatores de desenvolvimento

Fonte: CNDSS, 2008.

A Figura 1 apresenta quanto o modo e as condições de vida


influenciam a saúde das pessoas. Os fatores de risco que acometem uma
gestante, por exemplo, podem influenciar na melhora ou piorar da
condição de saúde, não só da mãe, como de seu bebê. Fatores de risco são
as situações-problema, típicas dos ciclos vitais, que podem dificultar o
processo de adaptação e resiliência.

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Rosset (2001) entende que os ciclos vitais caracterizam o processo de


desenvolvimento de uma família, de duas maneiras: previsíveis e especiais.

Os ciclos previsíveis começam com o nascimento e terminam com a


morte, sendo marcos que determinam novos aprendizados e novas
conformações no modo de ser, como: nascer, andar, falar, nascimento de
irmãos, entrada na escola, pré-adolescência, adolescência, juventude, ficar
adulto, sair de casa, casamento, nascimento de filhos, saída dos filhos de
casa, meia idade, menopausa, aposentadoria, velhice, morte, divórcio,
recasamento. Os ciclos acidentais são aqueles que podem ou não ocorrer,
como acidentes, doenças e perdas.

Para a construção de uma teoria de ciclo vital, Falicov (citado por


Cerveny, 2010, p. 25-26) aponta que é preciso considerar três critérios:

Mudanças no tamanho da família: saídas e entradas de novos


integrantes, por nascimento, casamento, morte, e outras situações

previsíveis na história familiar.


Mudanças na composição por idades: considera se a família é
constituída por pessoas com idades parecidas, se tiverem filhos,
considerando a idade do primeiro filho, se ambos os pais estão no
primeiro casamento ou união, ou se o casal tem filhos de diferentes
idades, o que exige adaptações a rotinas sociais diversas, em função
do interesse dos filhos.

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Mudanças na posição profissional da pessoa que sustenta a família:


pressupondo de que existem fases em que a demanda, em termos
funcionais, é maior ou menor.

Considerando tais contribuições, e as necessidades dos profissionais


de saúde de se aproximarem de um modo de relação assertivo no
processo de cuidado, é possível identificar estilos de comportamento
típicos em cada um dos ciclos vitais pelos quais os pacientes passam.

Para ampliar as competências sociais, enfermeiros e demais


profissionais da saúde precisam entender que os saberes necessários não
são apenas de ordem cognitiva (por exemplo: conhecer as etapas do
desenvolvimento humano), e nem apenas de ordem procedimental (por
exemplo: saber conduzir entrevistas), pois também é preciso ter atitudes
que favorecem as relações interpessoais, o vínculo e a confiança, de modo
que o enfermeiro possa ser um profissional de referência para o paciente,
ou seja, o elo entre o paciente e o sistema de saúde.

Merhy (2000) diferencia três tipos de tecnologias que os profissionais


de saúde precisam ter em suas “valises”:

Tecnologias duras: equipamentos, medicamentos recursos físicos.


Tecnologias leve-duras: informações e saberes que compõem a
capacidade para fazer assistência à saúde.
Tecnologias leves: utilizadas para a construção das relações: incluem
a escuta, a atenção, o interesse, o vínculo, o respeito, a

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responsabilização.

Para a ampliação do ponto de vista da doença para o doente, o


profissional de saúde precisará ter em sua “valise” essas três tecnologias.
Por meio das tecnologias leves, conseguirá compreender a relação entre
ciclos vitais e adoecimento.

TEMA 2 – INFÂNCIA

Em relação aos aspectos psicossociais, as crianças vivem um período

que se caracteriza pela dependência com a mãe, ou com quem exerce a


função materna. Dessa forma, a estabilidade e a afetividade de um

cuidador, a depender de como ocorrem, pode ser para a criança um fator


de risco ou de proteção. Até que sejam dominadas as áreas da fala, a

criança conseguirá se comunicar apenas sensorialmente, ou seja, por meio


dos órgãos dos sentidos: olhar, audição, olfato, paladar e toque. Essas

características precisam ser consideradas pela equipe de enfermagem


quando a criança estiver em processo de tratamento. A criança reagirá de

acordo com o humor da mãe, pois há uma relação de dependência que é


normal para a idade.

A capacidade cognitiva das crianças, considerando os estudos de


Piaget, evoluir de uma fase mais concreta para uma mais abstrata. Até que

esse processo se complete na adolescência, é normal que haja entre as


crianças indiferenciação entre fantasia e realidade. Sendo assim, todas as

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ameaças que popularmente associam desobediência com castigo físico


podem assombrá-la. Por exemplo: “Se você não comer tudo o que está no

prato vou te levar no hospital para tomar injeção”; “Lobo mau pega criança
desobediente”. Será pouco produtivo querer ensinar a criança a diferenciar

fantasia e realidade, pois mesmo que ela “aprenda” no momento, haverá a


tendência de se deixar levar por fantasias, pois nesse período de vida esse

é o seu estado normal. A atenção e a preocupação das crianças recaem


sobre a vivência atual, o dia a dia do tratamento. Mesmo que tenha uma

doença grave, a criança não tem a mesma perspectiva de morte dos


adultos.

Durante esse ciclo de vida, a criança não domina a noção de tempo,


de demora, de antes e depois, de perspectiva de morte e outras

orientações temporais. As crianças têm um modo muito concreto de


compreender as coisas. Para elas, a morte é algo reversível, assim como

acontece nos desenhos animados, em que o personagem morre e vive de


novo na mesma história. Ficar sozinha e sentir dor são frequentemente os

temores das crianças.

Oliveira, Dantas e Fonseca (2004) estudaram os impactos da


hospitalização em crianças de 1 a 5 anos, demonstrando que o grupo de

crianças que tiveram acompanhantes durante a hospitalização apresentou


menor frequência de reações físicas (como choro, vômitos, diarreia,

taquicardia, inapetência, insônia, enurese noturna) e de reações emocionais


(por exemplo: indiferença, medo, apatia, agressividade e irritabilidade), em

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comparação ao grupo de crianças sem acompanhantes durante a

internação. Os autores também identificaram que os acompanhantes das


crianças se mostraram cooperativos com a equipe de saúde.

Há uma diferença entre os saberes médicos e os saberes maternos


sobre as crianças. Tal diferença leva a poucas trocas na comunicação entre

família e equipe. Algumas vezes, a mãe diz que não adianta perguntar,
porque não entende o que os médicos dizem. Essa distância entre

profissionais de saúde e família é indesejável, pois geralmente leva a erros


no seguimento terapêutico pós-alta, como no exemplo a seguir.

Antes da alta, a enfermeira orientou a mãe que acompanhava seu filho

na enfermaria: “Mãezinha, em casa você tem que infundir 50ml via sonda a
cada 3 horas”. Ao sair da enfermaria, a mãe comenta com a mãe da criança

ao lado: “Em casa vou bater uma sopinha bem batida no liquidificador e
ele vai melhorar mais rápido”.

Percebam que, para a mãe, o que vai “via sonda” é comida. Não faz
sentido para ela escolher a mesma comida do hospital se em casa ela tem

outras opções, que julga melhores. Não basta falar com as mães, é preciso
conversar!

Elas têm muito a dizer sobre a criança, sobre o que pensam do


tratamento, sobre como se sentem no papel de responsáveis pelo manejo

da medicação em casa. É bastante comum que as mães assumam a função

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materna, mas não raras vezes pai, avós ou irmãos exercem a mesma
função.

É preciso redobrar a atenção com crianças desacompanhadas de


alguém com quem têm vínculo estável de confiança. Uma criança sem a

mãe (função materna) ao seu lado configura uma situação iatrogênica – ou


seja, está internada para tratar um problema orgânico, mas em decorrência

do problema instala-se um trauma emocional. Ter a companhia de alguém


de sua família é um direito garantido pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (Brasil, 1990).

TEMA 3 – ADOLESCÊNCIA

Segundo Rosseti (2001), os pré-adolescentes vivem a fase do “não

ser”. Não é adulto, nem criança. Os principais conflitos desse ciclo vital
estão ligados com identidade, com escolhas e com importantes alterações

do corpo físico. Entrando na adolescência, experimentarão a estabilidade


de algumas relações emocionais e amizades sem a mediação dos pais. A

ausência desses contextos, por necessidades de tratamento e


hospitalizações, costuma ser bastante traumática, pois as relações tendem

a ser instáveis, e assim há o temor pela perda de se sentir pertencente a


determinados grupos.

A instabilidade é uma marca desse ciclo vital. Os adolescentes já são

bastante independentes, mas não necessariamente responsáveis; estão em

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processo de diferenciação e individuação. Muito de sua personalidade já

está definida, mas ainda é muito difícil gerenciar as emoções. Por vezes,
parecem adultos; em outros momentos, uma criança.

Nessa fase de vida, é alcançada a maturidade dos órgãos


reprodutores. As características sexuais secundárias ficarão mais evidentes,

como crescimento dos seios, dos pelos e mudança na voz. O interesse


sexual estará aflorado, e o adolescente não tem experiência para lidar com

isso. O corpo do adolescente estará em rápido crescimento, e todas essas


alterações poderão provocar luto pela perda do corpo infantil,

especialmente quando as novas características causam constrangimento, e


ainda pior quando os adolescentes são vítimas de assédios, relações de

opressão e violência.

A sexualidade ainda é algo interditado ao adolescente. Ele buscará a

satisfação de seus desejos sexuais em jogos com seus colegas mais


próximos, com quem se sentirá mais à vontade para falar sobre isso. O

interesse sexual entre os adolescentes motiva a separação dos sexos em


enfermarias quando internados, como uma estratégia de controle de

práticas indesejadas pela instituição.

Os profissionais de saúde podem ter dificuldades para lidar com os

adolescentes, pois as condutas e comportamentos podem ser diferentes


daquelas desejadas pela equipe de saúde. Uma sugestão é julgar o

adolescente dentro de seu ciclo de vida, e não o comparar com um adulto.

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O enfermeiro pode imaginar como eram as percepções que ele próprio

tinha na idade em que era adolescente. Da mesma forma, os pais podem


ter dificuldade de compreender o adolescente, por não se colocarem no

lugar dele (empatia), e por não relembrarem como eram naquela mesma
idade. Colocar-se no lugar do outro é bastante importante para o

ampliamento das possibilidades de acolhimento, empatia, compreensão e


negociação.

É possível que os adolescentes não tenham muita habilidade para

iniciar, manter ou terminar uma conversa. O enfermeiro poderá ajudar para


que a comunicação aconteça por meio de perguntas mais tranquilas de
responder.

Quadro 1 – Perguntas fáceis e difíceis

Perguntas mais fáceis de responder Perguntas mais difíceis de responder

Qual? Por quê?


Quem? Como?

Quando? Para quê?

Onde? Explique.
O que você acha? O que podemos aprender?

TEMA 4 – ADULTO

Os adultos estão inseridos em uma rede de relações sociais e

profissionais, sendo geralmente provedores de outras pessoas, que deles


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dependem. O adoecimento e a hospitalização, nesse ciclo de vida,

especialmente quando não são previsíveis, tendem a desorganizar muito a

vida.

A representação social da doença também é determinante de

sofrimentos emocionais. Segundo Novaes (1975), os sintomas associados a

problemas mentais tendem a ser negados, enquanto sintomas associados

a problemas de saúde física tendem a ser reconhecidos e aceitos com

maior facilidade em todos os níveis. Portanto, há conotações sociais em


relação às doenças: algumas são vergonhosas, outras respeitáveis,

observando-se estigmas relacionados especialmente às doenças mentais,

incuráveis e transmissíveis.

Outra característica importante desse ciclo vital, conforme destacado

por Rosseti (2001), é a autonomia. O adulto já estará acostumado com o

exercício da autonomia, e poderá ter problemas com a condição passiva no

tratamento.

Durante há um internamento por condição aguda, ou com

procedimentos invasivos, os adultos perdem a autonomia. Muitas vezes,

são até amarrados nas macas, uma das experiências mais desconfortáveis

de todas. A anestesia é outro exemplo de experiência de “perder o


controle”, quando o adulto se entrega ao poder dos outros, geralmente

desconhecidos, em ambientes impessoais. Pode ser um problema para o

adulto quando ele percebe que não tem o controle da situação, que não

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pode diminuir as incertezas, e que não é dele o poder de decisão sobre seu
próprio corpo.

4.1 PACIENTE CIRÚRGICO

Quanto mais consciente do processo pelo qual passa no tratamento,


mais afetado o paciente será pelas questões ligadas a diagnósticos e

procedimentos. Como não estava mais acostumado com a sensação de

dependência, poderá sentir-se ameaçado e ser presa de ansiedade, mais

ou menos intensa, o que é um sinal de alarme. A ansiedade comunica


conflito, medo do futuro.

Em se tratando de tratamento cirúrgico, é comum que a ansiedade

persista, em geral até o término do período pós-operatório, seguindo-se

em geral ao “susto” com que recebeu a informação de que deveria ser


operado. Observa-se que um bom número de doentes prefere apressar a

cirurgia. O paciente teme o procedimento cirúrgico e todos os seus

aspectos; tem medo da dor, da anestesia, de ficar desfigurado ou

incapacitado. Tem medo de mostrar medo, sobretudo tem medo de


morrer. Embora a imaginação sempre enriqueça a realidade, o medo da

cirurgia nunca é totalmente imaginário. Cirurgia representa:

ameaça à vida;
mutilação, deformação;

alteração no controle das funções do corpo, temporária ou definitiva;

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medo de dor;

imobilização;
medo do resultado;

medo do prognóstico;

sensação de impotência e de isolamento;

ansiedade provocada pelo ambiente estranho;


violação da intimidade, intromissão constante no centro da sua

própria existência: o corpo;

lembranças de outras situações de doenças e/ou perdas;

submissão que predispõe a fantasias ligadas a passividade;

imagem corporal (sensação de ser “oco”);


anestesia: associada com perda de controle, ausência, desligamento,

separação e morte.

A forma de controlar a ansiedade se dá de acordo com a estrutura de


personalidade:

Obsessivamente controlado, com firme controle da situação.

Incremento dos mecanismos de defesa, principalmente denegação e

intelectualização.
Fragilmente controlado, demonstrando labilidade afetiva, precisam

de reforço constante.

Pacientes podem concentrar-se em outros problemas, em outras

partes do corpo, para desviar-se do principal conflito. Desloca a

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ansiedade para outra região, como defesa. Exemplo: anuria,

desempenho sexual.

Apatia: inibição das funções mentais.

Será importante fazer um diagnóstico diferencial para saber se o

sintoma é uma reação emocional do paciente ou se é decorrente de algo

orgânico. Novamente, aqui fica evidente a indissociabilidade entre mente e

corpo.

Durante entrevistas de anamnese entre profissionais de saúde e

pacientes em processo pré-cirúrgico, é importante saber sobre o modo de

vida do paciente. Por exemplo: De que forma o paciente valoriza a função

da região afetada? Exemplo: operar as mãos para um cirurgião, operar o


joelho para um desportista. Quanto maior for o valor do órgão, maior será

a ansiedade e a reação à cirurgia.

Outro aspecto bastante frequente nos adultos é a agressividade.

Alguns silenciam, mas têm consciência e percebem pensamentos de


agressividade. Pode ser que revidem a agressividade sendo negativistas,

com inúmeras queixas quanto a hospedagem, alimentação, visitas.

Também podem estabelecer uma relação amigável, fazendo uma

“formação reativa”, ou seja, demonstrando exatamente o oposto daquilo


que queriam fazer – parecendo, por vezes, irônicos.

Um mecanismo de defesa bastante comum entre os idosos é a

intelectualização, com buscas na internet sobre a doença e tratamento. Em

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alguns pacientes de estrutura obsessiva, podem chegar a estudar sobre a


sua doença, discutindo estatísticas e resultados de laboratório; de certo

modo, identificam-se com o cirurgião.

Nos contatos com o paciente, o profissional enfermeiro, assim como


os demais colegas, precisam fazer com que o doente fique mais em

evidência do que a doença.

Já falamos nesta aula sobre a ansiedade por causa do desconhecido e

da imprevisibilidade. Em se tratando de cirurgia, é especialmente


importante considerar o quanto o paciente adulto vai demandar

informações. Os pacientes desconhecem tanta coisa sobre a cirurgia, que é

impossível informá-los de tudo. Se um paciente é levado a compreender a

normalidade das mudanças de última hora, estará preparado para uma


certa quantidade de irregularidades, e assim os detalhes não precisam ser

citados minunciosamente. É principalmente importante falar sobre o que o

paciente verá no pós-operatório: sondas (nasal, vesical), drenos, curativos,

esfigno, oxímetro e outros, de acordo com a cirurgia.

O pós-operatório imediato é o momento de elaboração das limitações

impostas pelo ato cirúrgico, concretas e imaginárias. O pós-operatório

tardio será o momento de recuperação da autonomia de forma gradativa,

com reabilitação e reintegração sociofamiliar, considerando as limitações


com as quais é preciso conviver.

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TEMA 5 – IDOSO

O paciente precisa ser objeto do desejo de alguém. Ele vai “ficar bom”

para alguém. Mas quando não encontra este vínculo na família, pode
“oferecer-se” ao interesse da equipe de saúde, que lhe dá atenção,

tornando-se poliqueixoso. Trata-se de uma reação emocional motivada

pela busca de vínculo, de relações sociais e afetivas, bastante comum entre

idosos que vivem sozinhos.

Mendes (2011), ao estudar e descrever a utilização dos serviços de

saúde no Brasil, identificou que, ao longo da vida adulta, o indivíduo

passará a conviver com condições crônicas de saúde, que o levarão à fase

idosa com uma tripla carga de doenças.

O autocuidado apoiado é a principal estratégia de cuidado na Política

Nacional do Idoso (Brasil, 1994), que assegura direitos sociais à pessoa

idosa, criando condições para promover sua autonomia, integração e


participação efetiva na sociedade, reafirmando assim o direito à saúde.

Preparar o idoso e sua família para o autocuidado é importante para

evitar o fenômeno da porta giratória (ou revolving door), comum em

hospitais psiquiátricos, quando a descontinuidade do tratamento no pós-


alta leva a nova descompensação ou crise, e a nova internação (Parente,

2007).

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Os idosos estão em um ciclo de vida que é, por um lado, marcado pela

fragilidade física, mas por outro marcado por uma potência para a

autoaceitação, para a espiritualidade e para a percepção de suas próprias


emoções. O idoso é sensível, se sabe merecedor de respeito; também sabe

identificar quem não o trata com respeito. Sabe de sua fragilidade e da

relação de poder desigual, por isso não luta, não ameaça, não se impõe.

Sua reação tende a ser a resistência: ele insiste em fazer do seu jeito e o faz
escondido (teimosia), pois sabe que será repreendido e impedido se

alguém souber. A liberdade só poderá ser experimentada nas pequenas

coisas, pois na maioria das outras, a decisão é dos filhos.

Será possível minimizar os conflitos com os idosos se os profissionais


de saúde puderem negociar com eles possibilidades de manter a desejada

autonomia e liberdade em algumas coisas, especialmente em contexto

hospitalar, por exemplo: período do dia em que preferem tomar banho, se

vestir, comer sozinhos, deambular, escolher o que assistir na televisão,


dentre outras possibilidades. Assim, as suas necessidades serão

parcialmente atendidas e eles serão mais colaborativos no tratamento.

NA PRÁTICA

No modelo de atenção biopsicossocial, é preciso ter o paciente como

centro do tratamento, e não a doença. Assim, consideramos que o paciente


é um ser social, inserido em uma cultura, com determinadas crenças; ele

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chega para o tratamento com toda essa bagagem. Todos nós, profissionais

de saúde, também somo usuários; da mesma forma, nos apresentamos

com nosso modo de ser cada vez que precisamos de cuidados em saúde.

Exemplo prático de vida: uma enfermeira, durante o plantão em uma


Unidade Básica de Saúde, chamou uma colega para tomar vacina da gripe,

se oferecendo para aplicá-las. A colega de imediato respondeu: hoje de

tarde eu vou trabalhar no hospital e deixar para tomar a minha dose lá,

eles também aplicam e eu acho que a do hospital é mais forte.

Percebam que a crença da colega é bastante irracional, uma vez que

as vacinas são iguais. Porém, para a pessoa que apresenta a crença, faz

sentido pensar assim, pois para ela tudo o que se faz no hospital é melhor

do que aquilo que tem nas Unidades de Saúde.

O modo que as pessoas percebem tem a ver com sua história de vida,

com suas crenças, com suas referências. Infelizmente, não conseguiremos

saber todas as especificidades e diversidades dos seres humanos. Mas


podemos sim compreender o que esperar de um comportamento típico

nos diversos ciclos vitais.

Ao trabalhar com pessoas doentes, é necessário saber que o

adoecimento é um processo subjetivo, que produz sentidos, crenças e


pensamentos capazes de interferir no tratamento e na qualidade da

relação com a equipe. A proposta é que o profissional de saúde, em

especial o enfermeiro, tenha empatia para se colocar no lugar da pessoa, e

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a partir do ponto de vista dele perceber o que está acontecendo. Em

grande parte dos casos, o conflito acontece por conta da desqualificação


do ponto de vista do outro, quando poderia ser respeitado, sem

necessariamente haver concordância. A empatia com o acolhimento pode

ajudar a resolver muitas situações complicadas. Acolher não é o mesmo

que atender. Mesmo que não se possa gratificar a vontade do paciente,


será possível acolhê-lo, reconhecendo-a como uma necessidade. Um

exemplo seria a atitude carinhosa de umedecer os lábios com água

quando o paciente não pode ingerir nenhum líquido. Garantir esse

conforto em um momento assim é algo precioso para os pacientes.

O desafio é construir um modo de relação saudável entre paciente,

equipe e família; uma relação menos punitiva e mais solidária, respeitando

o modo de vida em cada um dos ciclos vitais.

FINALIZANDO

Ao compreender que o corpo humano não é um objeto de

intervenção, e que o ser humano não é um ser isolado do social, podemos

planejar o cuidado assistencial para um dado contexto social, cultural e

político, entendendo que, para cuidar da pessoa, é preciso olhar para o seu
momento de vida.

Criança: Não afastar a criança de sua mãe (função materna) em

nenhum momento de seu processo de tratamento. Nesse ciclo vital, a

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criança é muito dependente da mãe. Qualificar a família para o

tratamento da doença. Incentivar o rodízio em hospitalizações para

evitar o desgaste de apenas um cuidador. Comum em doenças


crônicas.

Adolescente: Rápidas mudanças no esquema corporal, maturidade

dos órgãos reprodutores, intensa socialização. As necessidades deste

ciclo vital podem conflitar com as necessidades do tratamento, que


muitas vezes impõe isolamento social, cicatrizes e efeitos colaterais

indesejados.

Adultos: por conta da plena consciência de sua situação, da

responsabilidade com diversos compromissos e com pessoas que


dependem de si, o adulto acaba vendo o tratamento de saúde como

algo estressante. Em situação de tratamento cirúrgico, o adulto

experimentará a perda da autonomia, o que traz ansiedade.

Idoso: fragilidade física, mas ampliação da autopercepção,


interioridade e autoaceitação. Tendência a manter sua autonomia e

liberdade no que for possível.

O profissional de saúde precisa usar diversas tecnologias:

Tecnologias duras: equipamentos, medicamentos recursos físicos.

Tecnologias leve-duras: informações e saberes que compõem a

capacidade para fazer assistência à saúde.

Tecnologias leves: utilizadas para a construção das relações: incluem

a escuta, a atenção, o interesse, o vínculo, o respeito, a

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responsabilização.

Uma oportunidade para desenvolver competências sociais e

habilidades de comunicação é a prática deliberada e repetida em situações

e oportunidades que podem ser criadas para atender esse objetivo.

Trabalhos em grupos, convivência com diversidade, participação nas aulas

e interação com professores são exemplos de oportunidades que atendem


esse propósito.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Planalto. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial

da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 27 set. 1990.

BRASIL. Lei n. 8.842, de 4 de janeiro de 1994. Diário Oficial da União,

Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 jan. 1994.

CERNEVY, C. M. de O. et al. Família e ciclo vital: nossa realidade em

pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.

CNDSS - Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da

Saúde. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Rio de

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