Você está na página 1de 12

Depressão: abordagem profissional e

abordagem bíblica
Aláuli da Silva Oliveira

INTRODUÇÃO
Os dados da depressão são alarmantes! Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), em 2030 a depressão atingirá mais pessoas que o câncer. Mais de 600
milhões de pessoas sofrem com depressão no mundo 1 . Ao contrário do que se
possa pensar, os jovens são os mais suscetíveis ao problema. O primeiro episódio
depressivo costuma acorrer entre os 18 e 20 anos de idade2. Crianças também são
afetadas. Estima-se que 8 milhões de crianças foram diagnosticadas com
depressão no Brasil3. Independentemente do que se pense sobre a depressão, o
fato é que pessoas no mundo inteiro estão sofrendo real e seriamente.
A depressão é um assunto que deve nos interessar também e do qual precisamos
tratar com seriedade e profundidade. Devemos ser sensíveis ao real sofrimento das
pessoas, especialmente o das que professam a mesma fé que nós. Assim como
Jesus se compadeceu 4 das multidões de aflitos, devemos nós também nos
compadecer dos que, em nosso tempo, estão passando pela tenebrosa noite da
alma5.

A ABORDAGEM PROFISSIONAL
Para falarmos da abordagem profissional da depressão, usaremos como
referência o Manual Estatístico Diagnóstico de Transtornos Mentais, na sua quinta
edição (DSM-5). Este manual da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e serve
de referência mundial no que se refere ao que tecnicamente é chamado de
doenças mentais.

O que depressão?
Segundo o DSM-5, depressão é um transtorno mental. Mais especificamente um
transtorno depressivo. Um transtorno mental é uma síndrome6 , ou seja, é uma
doença ou condição clínica que pode ser observada pelos sinais e sintomas que a
caracterizam. Assim, “transtorno mentais estão frequentemente associados a

1
(ONU, 16)
2
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014)
3
(REVISTA CRESCER, 2015)
4
Mateus 9.36
5
Subtítulo do livro de Ed Welch: “Depressão: a tenebrosa noite da alma”.
6
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 20)

1
sofrimento ou incapacidade”7. Um critério útil para o diagnóstico de um transtorno
mental é avaliar se “a perturbação causa sofrimento clínico significativo ou prejuízo
do funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo”8.
Desta forma, para uma pessoa ser diagnosticada como portadora de um transtorno
mental, ela precisa, além dos sintomas característicos de uma doença mental,
apresentar um quadro de sofrimento (dor mental) e/ou incapacidade para lidar
com seus relacionamentos e atividades.
Entre os transtornos mentais estão os chamados transtornos depressivos dos
quais a depressão faz parte. O que caracteriza este tipo de transtorno é “a presença
de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e
cognitivas que afetam significativamente o indivíduo”9.
Depressão [...] é uma doença médica comum e grave que afeta negativamente
como você se sente, a maneira como você pensa e como você age [...] Depressão
causa sentimento de tristeza e/ou a perda de interesse em atividades antes
prazerosas. Ela pode levar a uma variedade de problemas emocionais e físicos e
também diminuir a capacidade de a pessoa funcionar no trabalho e em casa. 10
Depressão ou humor depressivo é um estado emocional persistente que afeta o
modo como uma pessoa vê o mundo e que afeta negativamente seus
relacionamentos e atividades. Psiquiatras e psicólogos acreditam que a depressão
é uma doença real. Eles enfatizam a realidade médica da depressão a fim de
esclarecer que não se trata de uma fantasia do indivíduo e para salvaguardar os
aspectos científicos do diagnóstico e tratamento.

Fatores de Risco
O DSM não fala de causas para a depressão, mas de fatores de risco que tornam
um indivíduo mais vulnerável a um episódio depressivo do que outros. Os seguintes
fatores de risco são alistados:
1. Bioquímica: refere-se ao desequilíbrio químico cerebral.
2. Personalidade: pessoas nas quais as emoções negativas prevalecem (baixa
autoestima, pessimismo, raiva, ansiedade etc.) formam um grupo de risco.
3. Ambientais: dizem respeito às experiências adversas, sobretudo na
infância. Exposição à violência, miséria, negligência e abusos.
4. Genéticos: pessoas cujos familiares de primeiro grau sofreram depressão
são mais suscetíveis à depressão.

7
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 20)
8
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 21)
9
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 156)
10
(PAREKH, 2015)

2
A fim de explicar as causas dos sintomas da depressão, os profissionais de saúde
mental lançam mão da teoria do “desequilíbrio químico do cérebro”, segundo a
qual acredita-se que os elementos químicos (serotonina, norepinefrina e
dopamina) envolvidos no funcionamento correto do cérebro encontram-se em
desequilíbrio. “Em tese a falta ou excesso deles são tidos como a causa de
desordens emocionais como a depressão”11.

Diagnóstico
O diagnóstico da depressão é feito por meio de exame clínico, sem a necessidade
de exames laboratoriais ou de imagem. Estes, quando solicitados, servem para
descartar causas orgânicas para os sintomas da depressão como disfunção da
tireoide e tumores cerebrais. O diagnóstico “depende primariamente do relato
subjetivo de um indivíduo com relação a experiência dos sintomas em conjunto
com a interpretação do clínico”12.
Para ser constatado um episódio depressivo, os seguintes sintomas devem estar
presentes:
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme
indicado por relato subjetivo ou observação de outros.
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas as
atividades na maior parte do dia, durante quase todo dia.
3. Perda ou ganho de peso sem estar fazendo dieta.
4. Falta de sono ou muito sono.
5. Agitação ou retardo psicomotor durante todo o dia, quase todos os dias
(certa lentidão é observada pelas pessoas em volta do paciente).
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada.
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão, quase
todos dias.
9. Pensamentos recorrentes de morte, ideia de suicídio.
O diagnóstico pode ser fechado ao serem observados os seguintes critérios: a)
além de humor deprimido ou perda de interesse ou prazer, mais quatro sintomas
devem estar presentes durante um período duas semanas e b) deve-se também
observar se o cliente não está de luto por causa de perdas.

Tratamento e cura
Existem vários métodos terapêuticos alternativos utilizados no tratamento da
depressão. Contudo, o modelo padrão é a associação de psicoterapia e/ou

11
(HODGES, 2015)
12
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 733)

3
medicamentos antidepressivo. Em casa mais severos nos quais não há resposta
ao tratamento convencional a terapia de eletrochoque pode ser prescrita.
A partir do ponto de vista que uma das causas da depressão é a alteração na
química cerebral, os medicamentos antidepressivos prescritos no tratamento têm
função de restaurar o equilíbrio químico do cérebro. Supostamente, após três
meses de tratamento o paciente poderá observar os benefícios do tratamento 13.
O termo cura não é usado no DSM. Remissão é o termo encontrado. Significa dizer
que após um episódio depressivo, com o tratamento, o paciente pode
experimentar melhora dos sintomas em até um ano. Contudo, não significa que
outros episódios não possam acontecer. Acredita-se que quanto maior o tempo de
remissão – desde a último episódio depressivo – quanto menor a probabilidade de
o paciente sofrer outro episódio depressivo.

Conclusão
A abordagem profissional está voltada para os sintomas da depressão. Isto se dá
pelo fato de a depressão não ser uma doença orgânica, portanto impossível de ser
observada através de exames laboratoriais ou de imagem. Resta apenas
diagnosticar de maneira subjetiva com base nos sintomas – relatados pelo
paciente e interpretados pelos médicos – tratá-los na medida em estes causam
sofrimento à pessoa e/ao a incapacitam social e funcionalmente.
Segundo o Dr. Hodges, o critério de diagnóstico usado pelo DSM na abordagem
profissional é inadequado 14 , por isso, incapaz de distinguir entre a tristeza
desordenada e a normal. Esta constatação expõe as falhas tanto no diagnóstico
como no tratamento.

ABORDAGEM BÍBLICA
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos
chamou para a sua própria glória e virtude (2Pe 1.3).
Conforme afirma o apóstolo Pedro, todas as coisas que conduzem à vida e à
piedade nos têm sido dadas por Deus. O que nos leva a conclusão de que somos
supridos por Deus para lidarmos com a vida. Saber isto é extremamente útil, uma
vez que nos dá certeza de que na Bíblia encontraremos respostas para o nosso
sofrimento. O que estou querendo dizer que a Palavra de Deus tem tudo o que
precisamos para lidarmos com a depressão, seja ela nossa ou a de outras pessoas.

13
(PAREKH, 2015)
14
(HODGES, 2015, p. 64-66)

4
Depois de observar a abordagem profissional, veremos a abordagem bíblica da
depressão. Uma nova visão sobre as coisas pode ser muito útil, libertadora e,
sobretudo, transformadora da vida. “Quando enxergamos de modo diferente,
interpretamos de maneira diferente. Temos uma reação diferente, temos uma
intenção diferente, agimos de modo diferente”15.
Os cristãos, sobretudo, devem desejar mais do que simplesmente olhar para
depressão como um problema médico. Ed Welch tem razão em dizer que se nos
precipitarmos em optarmos pela abordagem profissional (médica), “todas as
demais perspectivas parecerão superficiais e irrelevantes”16. Na prática a questão
é a que segue: se um comprimido pode fazer com que eu me sinta melhor, por que
eu deveria me preocupar com as razões do meu coração?
Acredito que enxergar a depressão de forma bíblica nos dará esperança, vitória
diante do sofrimento e promoverá mudança real e permanente em nossas vidas.

DEPRESSÃO: UMA ABORDAGEM BÍBLICA


O que é depressão
O termo depressão não é encontrado em nossas traduções da bíblia. Ela também
não aparece entre as muitas enfermidades relatadas nas Escrituras. Jesus e seus
apóstolos, ao que parece não curaram qualquer pessoa acometida por depressão
ou um equivalente antigo dela. Definitivamente depressão não um termo bíblico.
Entretanto, isto está longe de significar que a Bíblia não tenha nada a dizer sobre
este assunto.
Para termos esperança nesta área, precisaremos trocar de termos: do técnico
(depressão) para o bíblico (sofrimento). Ainda que a Bíblia não fale sobre depressão
- pelo menos não nestes termos – ela fala de sofrimento. E não há dúvida de que
depressão é sofrimento.
Sendo assim, se buscarmos nas Escrituras a experiência de homens e mulheres
com a “dor, sofrimentos, provas, desesperos, fardos, pavor, desesperança e uma
multidão de palavras e termos relatados, descobriremos que em quase toda página
da Escritura há algum direcionamento, entendimento e encorajamento”17 que se
aplica ao que se chama de depressão.

15
(POWLISON, 2010, p. 5)
16
(WELCH, 2011, p. 20)
17
(WELCH, 2011, p. 27)

5
Seria depressão uma doença?
Não há nesse material espaço suficiente para discutirmos com profundidade este
tópico. Creio que a bibliografia sugerida, especialmente o livro do Dr. Charles
Hodges18 oferecerão uma ampla abordagem deste tópico especificamente.
Pelo que vimos, a abordagem profissional aponta para depressão como uma
doença. Mas, conforme os critérios científicos que servem para determinar uma
patologia, não é possível afirmar que a depressão seja uma doença de fato. Exames
laboratoriais e de imagem não foram capazes de identificar a patologia (dano
celular) que causa a depressão. Doenças orgânicas como hipotireoidismo,
tumores cerebrais, câncer de pâncreas e algumas síndromes provocam de fato
alterações de humor. Nestes casos, o tratamento da doença irá acabar com
sintomas.
Contudo, o diagnóstico da depressão é feito de forma subjetiva baseando-se
apenas no comportamento – tristeza e falta de interesse – nos casos mais amenos.
A teoria do desequilíbrio químico do cérebro
Nas manifestações mais severas, lança-se mão da teoria do desequilíbrio químico
do cérebro. Qual o problema com esta teoria? É justamente isso: é só uma teoria.
O desequilíbrio químico do cérebro não pode ser observado em exames
laboratoriais, não se sabe qual o padrão, ou seja, qual é o equilíbrio químico do
cérebro a fim de servir como parâmetro para determinar um desequilíbrio. A
observação de Ed Welch é bem útil: “Ninguém poderá diagnosticar um
desequilíbrio químico convicto de estar totalmente certo [...] Ainda que existisse
um teste para isso (o que não há), esse não pode dizer se o desequilíbrio causou a
depressão ou resulta dela”19.
Segundo o Dr. Hodges, a teoria do desequilíbrio químico do cérebro tem sido
gradativamente abandonada pelos cientistas que a estudam, uma vez que não se
tem conseguido demonstrar a cientificidade dela.
A validade da teoria é de grande importância [...]. Uma teoria falha levará
certamente a um tratamento falho. Mas, ainda mais importante, quando uma
teoria é demonstrada ser verdadeira, ela nos orienta em como responder a um
problema. Saber que teoria do desequilíbrio químico não condiz aos fatos,
deve nos levar a uma busca por melhores respostas. 20
Uma vez que é muito difícil considerar a depressão como uma doença, sofrimento
é o que melhor define o estado daquele que está deprimido. Ao retirarmos a
depressão da categoria de doença e de sobre a pessoa um rótulo que limita a sua

18
(HODGES, 2015, p. 37-53)
19
(WELCH, 2011, p. 22)
20
(HODGES, 2015, p. 47)

6
expectativa de melhora a medicamentos e ajuda profissional, podemos lançar
nova luz de esperança sobre o problema. Sofrimento real é o que temos de fato
naqueles que estão deprimidos – a experiência comum de muitos que tiveram suas
histórias registradas na Bíblia. Sob esta perspectiva, olhamos para Salmo 19.7a e
vemos que a Palavra de Deus é capaz de dar respostas ao sofrimento. “A lei do
Senhor é perfeita e restaura a alma”.

Por que estou sofrendo – qual a causa da depressão?


Por que isto está acontecendo comigo? Ou por que eu? São perguntas que habitam
os corações dos que estão em sofrimento agudo e prolongado. Saber a causa disso
tudo muitas vezes se torna uma busca angustiante que faz o sofrimento ainda pior.
A abordagem profissional não pode responder esta pergunta. Seus pressupostos a
impedem de ver além da experiência comportamental do indivíduo. Por isso, tudo
que oferece é um tratamento que alivia sintomas, regula comportamentos a fim de
tornar a pessoa funcional novamente, ou seja, capaz de desenvolver seu papel
social. Tanto o diagnóstico quanto o tratamento da abordagem médica têm seu
foco no comportamento (sintomas), sem, no entanto, se preocupar com as causas
de fato. Contudo, se não chegarmos as causas, as chances de cura tendem a zero.
Ed Welch chama a atenção para as perguntas “por quê?”. Estas perguntas são
religiosas, ou seja, elas se referem a Deus21. Esta observação é importante porque
nos leva para lugares mais profundos, o coração do homem e as razões que
habitam ali. O foco é colocado nas fontes da vida e não mais no comportamento
desagradável, que são os sintomas de um coração enfermo.
O rei Davi, conversando com sua própria alma sobre sua tristeza e sofrimento,
pergunta-lhe: “Porque estás abatida, minha alma?” 22 . Davi pergunta ao seu
coração. Ele sabe que ali está a razão do seu sofrimento e, mesmo sem
aparentemente receber resposta, o salmista aponta a solução: “espera em Deus”.
Isto é obvio. Se a causa da depressão está no coração, a solução está em Deus: “a
lei do Senhor restaura a alma”23.
Segundo Jay Adams, à luz da Bíblia, a origem de nossos problemas diários está em
três coisas: “a atividade dos demônios (sobretudo possessão), pecados pessoais
e as enfermidades físicas”. Veja que as enfermidades mentais não orgânicas, não
estão entre as cousas do sofrimento. Se descartamos que a causa da depressão é
uma enfermidade física (tumor cerebral, hipotireoidismo etc.), temos uma causa

21
(WELCH, 2011, p. 11)
22
Salmo 42.5,11; 43.5
23
Salmo 19.7

7
espiritual cujos cuidados não podem ser providos por um médico nem a cura virá
dos medicamentos.
Entre os conselheiros bíblicos, pode haver alguma divergência quanto a se o
pecado pessoal é ou não a causa da depressão 24 , mas todos concordam que a
depressão é um problema de causas espirituais, eu seja, as motivações,
percepções e reações do nosso coração.

Tratando a depressão no aconselhamento bíblico25


Muitos do que buscam aconselhamento bíblico por não conseguirem lidar
corretamente com seus sentimentos negativos, chegam com um diagnóstico
prévio de depressão. Este diagnóstico – o rótulo posto sobre a pessoa – traz
algumas sérias dificuldades para o aconselhamento, uma vez que carrega consigo
pressupostos conflitantes com os da Escritura. O tratamento depende de como
definimos o que é depressão e o que a causa. Segue, então, que o primeiro passo
do conselheiro bíblico é a redefinição dos termos, ou seja, trocar temos médicos
por categorias bíblicas. Por exemplo, tirar a depressão da categoria de doença e
colocá-la na de sofrimento.
É imprescindível que sejamos sensíveis. O fato de não acreditarmos que a
depressão seja uma doença não significa que acreditamos que a pessoa não esteja
sofrendo realmente. Precisamos ser sensíveis a tal sofrimento.
Outro cuidado a ser tomado diz respeito ao uso de antidepressivos. Remédios são
de reponsabilidade dos médicos. Portanto, não é competência do conselheiro
indicar a descontinuidade do uso de medicamentos. Só o médico deve fazê-lo. O
objetivo do aconselhamento não é tirar a medicação do aconselhado, mas
conduzi-lo a Cristo.
Depois desses cuidados iniciais, é hora de lançar luz sobre o coração daquele que
está sofrendo com a depressão. Por meio da Palavra de Deus avaliamos os
pensamentos, desejos e ações e confrontamos as repostas pecaminosas diante
do sofrimento. O objetivo é conduzir o deprimido à esperança da redenção em
Cristo, à suficiência de sua cruz e ajudá-lo a responder ao sofrimento de maneira
agradável a Deus.

24
Adams e Welch discordam neste ponto. Para Adams o indivíduo causa sua própria depressão
quando reage pecaminosamente aos problemas da vida. Welch, por sua vez, acredita que há mais
causas possíveis como: pecado, outras pessoas, nossos corpos, Satanás e Deus.
25
(ABCB & FAITH, 2013)

8
ESPERANÇA AFINAL
A vida precisa de significado e esperança. Certamente a falta destas duas coisas
deprimem o coração. A lida com a depressão é uma caminhada que implica
transformação. A esperança é imprescindível para que as pessoas prossigam
nesta caminhada26.
Jay Adams 27 em um livreto escrito para dar esperança para seus aconselhados,
mostra a partir de 1 Coríntios 10.13 como nossos problemas não são maiores do
que nós mesmos.
Seus problemas não são grandes demais para você
Você já deve ter ouvido a frase encorajadora: “seus problemas não maiores do que
o seu Deus”, nada mais verdadeiro! Deus e a sua graça são suficientes para nossas
provas e momentâneas tribulações da vida. Contudo, o que muitos crentes fiéis
desconhecem é que a Bíblia também afirma que seus problemas não são maiores
do que você.
Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é
fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar.
Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para
que o possam suportar. (1Co 10.13)
Posso afirmar que os seus problemas não são grandes demais para você, pois é o
Espírito Santo quem o diz em sua Palavra. Olhe mais uma vez para o que está
escrito em 1Coríntios 10.13. Segundo o apóstolo Paulo, provas e tentações são
coisas comuns a todos os homens e a fidelidade de Deus não permitirá que elas
sejam mais do que podemos suportar.
Os problemas pelos quais passamos são humanos. Significa dizer que você não
tem que ser um super-homem ou uma supermulher, ou ainda, um ser angelical ou
um deus, ou o Messias, para enfrentar qualquer de seus problemas. É
humanamente possível lidar com eles. Paulo não quer dizer que seja fácil ou livre
de sofrimento, mas que é plenamente possível para você passar pelos problemas
que lhe sobrevierem. Pode até parecer que são insuportáveis, mas não são.
Podemos até nos desesperar algumas vezes – Paulo certa vez sentiu este
desespero (2Co 1.8), mas isso se dá porque nós, e não Deus, dimensionamos mal
nosso problema. Assim, ele nos parece maior do que realmente é.
Outra coisa importante é que os nossos problemas são comuns aos homens. Ou
seja, outros já passaram por problemas como os seus e suportaram e até
superaram. Muitos de nós, crentes, acreditamos que nossos problemas são

26
(ADAMS, 1982, p. 43-56)
27
(ADAMS, 1979)

9
únicos. É verdade que eles podem até se apresentar de uma forma única, mas a
natureza básica deles encontrará semelhança com os que outras pessoas
passaram ou estão passando. Ou seja, não foi criado um problema especial para
você, o qual nunca alguém experimentou e para o qual você terá que encontrar uma
solução única e completamente nova.
Esta verdade é importante porque nos ajuda a entender que há outros irmãos e
irmãs que podem nos ajudar, por terem justamente passado pelo que estamos
passando. Isso também nos ajuda a perceber que os nossos problemas nos
treinam para que possamos ajudar outros a lidarem com problemas semelhantes.
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias
e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações,
para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os
que estão passando por tribulações. (2Co 1.3-4)
Esta segunda afirmação de Paulo nos ajuda a fugir do pensamento: “bem, mas
fulano é mais forte, ou mais espiritual ou tem mais recursos do que eu, por isso ele
suportou”. Você pode pensar, “porque outros passaram, não quer dizer que eu
consiga”.
Então temos esta afirmação encorajadora e cheia de esperança. Além de meus
problemas serem humanos, eles também são perfeitamente dimensionados para
minhas forças
Não é verdade que você tenha problemas grandes demais para você. Segundo a
Bíblia, a soberania, a sabedoria e a fidelidade de Deus não permitem que seus
problemas sejam mais fortes do que você.
Então veja: seus problemas são humanos, comuns a todos os homens e
proporcionais às suas forças. O que extraímos daqui é esperança. Numa
perspectiva bíblica todos os problemas estão acompanhados de esperança. Esta
esperança nos dá a certeza de podemos superar até os problemas que nos
pareçam insolúveis.
A segunda parte de 1Co 10.13 é ainda mais cheia de esperança. “Mas, quando
forem tentados, ele (Deus) mesmo lhes providenciará um escape, para que o
possam suportar”.
Deus não está apenas passivamente ordenando nossos problemas para que eles
sejam adequados à nossa capacidade. Mas Ele também está ativamente envolvido
e comprometido em providenciar uma solução.
Sob está ótica bíblica, quando somos afligidos por um problema, entramos nele
com a certeza de que há uma solução providenciada por Deus. Não sabemos como
e quando o nosso problema será solucionado, mas estamos certos de que serão.

10
Quero que você esteja firmado nessa verdade. Ela lhe ajudará a enfrentar o que
você está passando agora, mas além disso ela lhe ajudará a enfrentar problemas
que você tem evitado. Confissões não feitas, dívidas não pagas, exames de saúde
dos quais você tem fugido, relacionamentos pendentes, medos etc.
Quando temos uma perspectiva bíblica acerca dos nossos problemas, não apenas
enfrentamos com esperança os problemas atuais, mas até nos dispomos a ir ao
encontro de problemas que a maioria das pessoas gostaria de evitar.
Esperança real só é possível quando temos uma ótica bíblica das coisas. Não
enxergar os problemas biblicamente pode nos levar à ansiedade, medo, ira,
revolta, mágoa e depressão.
Creia que a Bíblia tem reposta para tudo, inclusive para este problema que você
está enfrentando. Creia nas promessas de Deus. Ele garante que todos os seus
problemas são humanos, são comuns a todos os homens e são proporcionais às
suas forças.
Seu problema não é grande demais para você. Seu problema não insolúvel.
Confiando na fidelidade de Deus, você estará pronto para enfrentá-los e vencê-los.

11
BIBLIOGRAFIA
ABCB & FAITH. Aconselhando pessoas com diagnóstico psicológico. [S.l.]:
[s.n.], 2013.
ADAMS, J. E. Manual do conselheiro capaz. São José dos Campos: Fiel, 1982.
431 p.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico Estatístico de
Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
HODGES, C. D. Depressão e transtorno bipolar. Ajuda e esperança para
enfrentamento eficaz. Eusébio: Peregrinos, 2015. 192 p.
ONU. Depressão e ansiedade custam US$1 tri por ano à economia global. ONU
BR, 13 abril 16. Disponivel em: <https://nacoesunidas.org/depressao-e-
ansiedade-custam-us1-tri-por-ano-a-economia-global-diz-oms/>. Acesso em: 30
Setembro 2016.
PAREKH, R. What Is Depression? [S.l.]: [s.n.], 2015. Disponivel em:
<https://www.psychiatry.org/patients-families/depression/what-is-depression>.
Acesso em: 29 Setembro 2016.
POWLISON, D. Uma nova visão. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
REVISTA CRESCER. Depressão infantil: ela existe e está aumentando em todo o
mundo. Revista Crescer, 2015. Disponivel em:
<http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2014/09/depressao-
infantil-ela-existe-e-esta-aumentando-em-todo-o-mundo.html>. Acesso em: 30
setembro 2016.
WELCH, E. T. Depressão. A tenebrosa noite da alma. São Paulo: Cultura Cristã,
2011. 208 p.

12

Você também pode gostar