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KATY LÍVIA BEZERRA DA SILVA

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA
GUARULHOS
2022
KATY LIVIA BEZERRA DA SILVA

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA

Trabalho de conclusão
de curso apresentado
como requisito parcial
à obtenção do título
especialista em
NEUROPSICOLOGIA.

ARUJÁ
2022
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro
também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo
sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma
fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do
trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim
realizadas para fins de produção deste trabalho.

Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis,
penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o
crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do
Contrato de Prestação de Serviços).

_________________________________

Katylivia2020@gmail.com
RESUMO

O Transtorno do Espectro Autista, que pode ser identificado pela sigla TEA, é
um dos Transtornos Globais do Desenvolvimento descritos no DSM-5 (2014).
Caracteriza-se pelo comprometimento severo de habilidades sociais, como a
comunicação, a interação e a aprendizagem de comportamentos. O paciente
diagnosticado com TEA geralmente apresenta, acumuladamente com as
dificuldades sociais, comportamento repetitivo e estereotipado. Suas características
e o impacto direto e indireto destas sobre os indivíduos e o convívio social estão
diretamente relacionadas aos estímulos advindos dos vínculos familiares e sociais.
Devido à consequência de o grau de comprometimento necessariamente estar
ligada aos estímulos percebidos pelo indivíduo, o melhor convívio social e
desenvolvimento do indivíduo diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista
passa pela otimização do convívio familiar e acompanhamento pelos profissionais da
saúde, ambos são possíveis quando ocorre diagnóstico preciso e o mais precoce
possível. A partir disto, este estudo se propõe, por meio de uma revisão bibliográfica,
apresentar a importância da avaliação neuropsicológica do autismo, bem como
quais instrumentos vêm sendo utilizados para avaliação do TEA. Como resultado,
nota-se que, entre os recursos disponíveis para avaliação neuropsicológica, ganha
destaque a Escala de Avaliação de Autismo na Infância (CARS), PDDBI e Bayley. A
avaliação neuropsicológica tem importante contribuição para identificar o autismo,
pois a avaliação conta com instrumentos diagnósticos precisos. Todavia, os estudos
acerca das nuances da aplicação da Avaliação Neuropsicológica, suas vantagens,
desvantagens, fatores facilitadores e complicadores, tem apresentado conclusões
diversas as quais indicam a necessidade de um maior aprimoramento destas
ferramentas bem como a necessidade da máxima acuidade dos profissionais de
saúde envoltos no diagnóstico e tratamento do indivíduo. O presente trabalho,
através de revisão de literatura, intenta ofertar singelas contribuições à discussão,
bem como refletir acerca dos trabalhos que versam sobre esta temática

PALAVRAS-CHAVES: Autismo, avaliação neuropsicológica, diagnóstico.


ABSTRACT

Autistic Spectrum Disorder (ASD) is characterized by persistent damage in


reciprocity of social communication and interaction, presenting restricted and
repetitive behaviors, interests or activities. These characteristics can be verified
before the age of three, and the earlier the parents 'diagnosis and the parents'
resignification to the pathology, the better the child's prognosis. Thus, this study
aimed to understand how the diagnosis of ASD affects the family and how
Psychology contributes in this context. For this, an exploratory bibliographical
research was carried out with a qualitative approach, whose collected data were
discussed through the Bardin content analysis. Throughout the study, we identified
the clinical characteristics of ASD, and the personal and collective difficulties that the
child with the family will experience, so the family experiences a bereavement after
receiving this diagnosis of the child. Parents experience feelings of pain, despair,
fear, and sometimes even revolt, experiencing mourning, linked to the idea of death
or loss of the healthy child. In the meantime, the care offered by professionals to the
family is relevant, as it ends up experiencing suffering, both psychological and social,
by the routine that will live from therapies for the child, as by prejudice; to accept it at
this moment of pain is fundamental for the re-signification of the diagnosis. A well-
targeted family since the discovery of the diagnosis will have a greater chance of a
healthy relationship with the child and will provide positive results in the treatment of
autism symptoms.

KEYWORDS: Autism. Diagnostic. Family. Mourning.


1 INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista, comumente referido como Autismo, é tipo de transtorno


inserido na categoria dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, que se caracterizam pelo
comprometimento severo em três áreas do desenvolvimento humano: habilidades de interação
social recíproca, habilidades de comunicação e presença de comportamentos, interesses e atividades
estereotipadas. Estas características podem constituir estressores em potencial para familiares e/ou
cuidadores (Assumpção Jr, 1997). É comum entre as famílias que possuem um membro com
diagnóstico de autismo, a ocorrência de estresse agudo. Isto ocorre, pois, as características clínicas
do transtorno afetam as condições físicas e mentais do indivíduo aumentando a demanda deste em
relação aos familiares, exigindo um alto nível de cuidado e dependência dos pais ou cuidadores. Tal
situação leva o contexto familiar a viver rupturas por interromper suas atividades sociais normais,
transformando o clima emocional no interior e no exterior, o que pode ser contornado e atenuado
com a adaptação dos membros da família para que estes cuidados sejam incluídos na dinâmica
familiar (Couto, Duarte & Delgado, 2008). Os estudos e o aumento da compreensão dos desafios
envoltos à convivência com o paciente diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista bem como
dos caminhos a serem trilhados para o desenvolvimento da criança autista e para a harmonia familiar
contribuem para a elevação da qualidade de vida do paciente autista e familiares, o que evita
sobrecarga sobre a saúde mental de todos os familiares e concomitantemente apoia o
desenvolvimento do paciente (Tamanaha & Perissinoto, 2008). O acompanhamento terapêutico do
paciente diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista por psicólogo o seu desenvolvimento e
redução de déficits de comportamento dependem significativamente do diagnóstico, de modo que a
precisão e antecipação deste é crucial para o desenvolvimento de potencialidades e a redução de
danos do transtorno. Assim, cumpre registrar o quanto antes e mais célere for elaborado o
diagnóstico mais correto e proveitoso será o tratamento e os estímulos aplicados ao paciente (Sousa,
Fraga, Oliveira, Buchara, Straliotto, Rosário & Rezende, 2004). Considerada a necessidade do
diagnóstico célere e preciso, essencial ao tratamento, o profissional da psicologia, bem como de
áreas da saúde que se relacionam com a questão, pode e deve se servir do máximo de instrumentos
e ferramentas (Vasques & Baptista, 2014).

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por um prejuízo


persistente na reciprocidade da comunicação social e interação, apresentando
restritos e repetitivos comportamentos, interesses ou atividades. Esses sintomas
tendem a aparecer desde do início da infância, comprometendo ou limitando o
desempenho de funções diárias na vida da pessoa (KAPLAN; SADOCK, 2017).

Receber um diagnóstico de autismo, significa receber a notícia sobre uma


deficiência no desenvolvimento de um filho e, isso, provoca na família uma
enxurrada de sentimentos e reações. A espera de uma criança pela família é
permeada de idealização, ansiedade e alegria, uma expectativa é criada para o bebê
que vai nascer, e se estende ao longo da sua vida. Os planos vão desde de um
simples doar de brinquedos, roupas e calçados até o melhor ensino, planos quanto
ao processo profissional do indivíduo, que se tornará adulto, viagens, entre outras
coisas (VENDRUSCULO, 2014).

Quando essa criança almejada acaba não interagindo com os pais e com
todos que a cercam, e o seu desenvolvimento frustra as expectativas de seus
cuidadores, ela, então, necessitará de uma avaliação com especialista para avaliar
seu andamento. Se na consulta é verificado que há um atraso que compromete o
neurodesenvolvimento da criança, e que ela está no espectro do autismo, a família
vivencia um impacto advindo desse diagnóstico. A partir desse resultado um
sentimento de frustração é experienciado pelos responsáveis, gerando um
sentimento de perda. Segundo estudos receber o diagnóstico de uma deficiência
representa uma perda significativa, que afeta o equilíbrio emocional da família e
dependendo de como cada familiar lidará com a situação, o luto vivenciado pode ser
ressignificado ou se tornar patológico.

Para Silva (2017) no luto patológico, complicado ou traumático, a pessoa


experimenta um desequilíbrio dos sentimentos, há uma dificuldade na aceitação da
perda e um alto grau de dependência emocional com o ‘ser perdido’, visto que o filho
ideal não nasceu, assim as reações de um luto complicado dificultam os cuidados
necessários para o bom prognóstico da criança. No processo da descoberta do
diagnóstico, os pais são afetados por vários sentimentos e emoções, e para que
alcancem o equilíbrio emocional, é relevante um apoio dos profissionais que irão
realizar o tratamento da criança, visto que a ressignificação da perda possibilita
maior eficácia nas terapias.

Desse modo, nota-se que a descoberta deste diagnóstico se torna um


momento bastante delicado, tanto para família, como para os especialistas, que
adentram nesse processo, e é necessária intervenção constante dos profissionais, a
fim de contribuir para amenizar o sofrimento destes responsáveis. Nessas
circunstâncias, Pinto (2016) confirma que é necessário a equipe multiprofissional
propiciar aos responsáveis apoio emocional, dividir questionamentos, angústias e as
necessidades presentes nesse momento do diagnóstico e no decorrer do
tratamento.

Na equipe multiprofissional, que prestará cuidados à criança com autismo, o


psicólogo será um dos terapeutas, e é relevante que, no seu fazer, ele adote uma
postura acolhedora à família, e que oferte uma escuta para que os pais e a criança
expressem seus pensamentos e sentimentos, que carregam devido a situação que
convivem (DALPRÁ, 2016). Com isso, é de extrema importância compreender como
o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) afeta a família e de que
forma a Psicologia contribui para este contexto.

Este trabalho divide-se em três eixos temáticos: o primeiro corresponde aos


aspectos clínicos e sociais do TEA. O segundo, aborda os impactos que o
diagnóstico do TEA provoca na família, e o terceiro, enfatiza as contribuições da
Psicologia para a família diante do diagnóstico do autismo.

2 METODOLOGIA

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de caráter


exploratório, com abordagem qualitativa, pois apresenta de modo discursivo os
impactos que o diagnóstico de autismo provoca na família, apontando as
contribuições que a Psicologia oferece nesse processo. Para a coleta dos materiais
já publicados sobre a temática desta pesquisa, foram utilizados como descritores os
termos autismo-família, autismo-família-luto, autismo-família-diagnóstico-luto, e por
meio desta correlação foram estabelecidos os critérios de inclusão dos materiais
encontrados, para que os objetivos do trabalho fossem alcançados: (1) artigos em
língua portuguesa; (2) materiais que apresentassem, diretamente, a vivência da
família após receber o diagnóstico de autismo e (3) aqueles que apresentavam as
contribuições da Psicologia neste contexto. E delimitando um período de 10 anos
sobre as publicações. Os artigos foram encontrados nas plataformas Scientific
Electronic Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), e na Literatura
Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e aqueles que
respondiam, diretamente, aos objetivos deste estudo, foram utilizados para a análise
e discussão.

3 ASPECTOS CLÍNICOS E SOCIAIS DO TEA

Não havendo uma causa específica determinada até hoje, estudos realizados
atualmente, classificam o TEA como um transtorno do neurodesenvolvimento e de
várias etiologias, que vem sendo estudadas cada vez mais, manifestando-se desde
do início da infância. Algumas delas indicam que o transtorno tem uma contribuição
hereditária, tendo como bioindicadores a interação de genes e fatores ambientais.
Outros estudos apontam, de que a incompatibilidade imunológica resulta em
crianças com TEA; uma grande incidência é notada nas complicações pré-natais e
perinatais, como idade avançada dos pais, hemorragias, diabetes, desconforto fetal,
peso baixo do feto, distúrbios convulsivos, dentre outros problemas (KAPLAN;
SADOCK, 2017).

Por não existir marcadores biológicos específicos para o autismo, o


diagnóstico é realizado por análise clínica e baseia-se na observação de
comportamentos específicos do transtorno, como pouco contato visual,
comportamentos restritos e estereotipados, dificuldade de socialização, resistência
em sair da rotina, sensibilidade sensorial, entre outros aspectos. As características
clínicas referentes ao diagnóstico de TEA podem ser verificadas antes dos três anos
de idade, e quanto mais precocemente for diagnosticado, melhor o prognóstico da
criança, daí a importância para os tratamentos, que visam o desenvolvimento das
potencialidades da criança. A incidência do diagnóstico de TEA, é alta, e é relevante
salientar que não há cura para este transtorno, o que provoca na família angústia e a
experiência do luto. Reconhecendo que o quadro sintomático de TEA tem o atraso
na reciprocidade da comunicação social, como uma das principais características
clínicas, assim pode-se destacar que tanto os responsáveis, como a própria criança
é afetada no convívio social, em decorrência da diagnose.
Reconhecendo a escola como um contexto que a criança está inserida, além
de sua casa, é verificado o desafio vivenciado tanto pelos educadores,
responsáveis, como por ela própria; pois algumas apresentam um atraso no
processo de aprendizagem, algumas com vocabulário limitado, comportamentos
repetitivos e principalmente dificuldade na interação com colegas e professoras.
Devido a esses comportamentos o indivíduo isola-se, não estabelece amizades,
demonstrando uma indiferença social. Devido a essas dificuldades, alguns sujeitos
com TEA adquirem uma ansiedade, que resulta em mais comportamentos
estereotipados, o que é motivo de preocupações para os pais (BARROS, 2017).

Perceber que seu filho sofre preconceitos por conta das suas características
pessoais provoca em alguns responsáveis uma angústia, pois estes acabam
assumindo para si o julgamento ou ofensa direcionada à sua criança. Segundo Pinto
(2016) essa situação provoca em algumas mães uma atitude superprotetora em
relação ao filho, tipificando-o como alguém indefeso e incapaz. Daí a importância
das intervenções se ampliarem para além da criança, mas para a família, também,
pois a forma como ela compreende e trata o TEA implica, diretamente, no seu
desenvolvimento.

4 IMPACTOS QUE O DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA PROVOCA NA FAMÍLIA

A família constitui o primeiro universo de todas as experiências primárias de


uma criança e sua influência é direta sobre a construção da personalidade da
pessoa (SILVA, 2014). É no contexto familiar que o indivíduo constrói suas primeiras
relações, o que contribui para o estabelecimento de novos laços, é na relação
familiar que são compartilhados valores e normas sociais, que permeiam a conduta
dos sujeitos, desde o seu nascimento até a morte (MADEIRA, 2014).

A chegada de um filho para uma família é vivenciada por expectativas em


relação do fruto que nascerá, e esses planos, muitas vezes, são embasados na
idealização de um bebê saudável, que responda aos ideais dos parentes. No
entanto, quando os familiares observam que a criança apresenta um atraso no seu
desenvolvimento, em sua linguagem e/ou comunicação, os responsáveis sentem-se
frustrados e acabam especulando se há algo ‘errado’, daí buscam profissionais para
avaliar aquilo que percebem, e quando o diagnóstico de Transtorno do Espectro do
Autismo é confirmado, então um processo de luto é vivenciado (SILVA, 2018).

Nesse sentindo, toda a família se prepara para a chegada do bebê, para a


troca de afeto, de carinho, visam se comunicar através do toque, do olhar. Porém,
em famílias com crianças autistas isto nem sempre acontece de forma esperada. Ao
se depararem com o diagnóstico os pais se frustram por terem perdido o filho
sonhado e esta descoberta acaba tornando-se um momento muito delicado e
desafiador, provocando um desequilíbrio emocional e estrutural. Vivenciando
sentimentos como frustação, desesperança e luto, os familiares deparam-se com
uma nova realidade, que antes não era a idealizada, e adentram um território de
incertezas e dúvidas; experienciam um processo de enlutamento pela morte do filho
idealizado, que nem sempre é ressignificado (MADEIRA, 2014).

A família, ao receber o laudo médico com o diagnóstico para o seu filho, é


tomada por dor, desespero, medo, e às vezes até revolta, assim a vivência do luto
está ligado à ideia de morte ou perda, uma referência à morte simbólica do filho
saudável. Vendrusculo (2014) acrescenta que o processo de luto acontece não pela
ausência de vida, mas pela morte do filho idealizado, bem como pela convivência
com uma criança, que apresenta características que não foram projetadas no sonho
da família e que requerem cuidados dos responsáveis como de profissionais
especialistas, o que, também, faz surgir uma rotina que não estava nos planos. Com
essas mudanças observadas, acabam experimentando um sofrimento tanto
psicológico como social.

Há uma estranheza quanto às características do transtorno, o que gera


insegurança e medo do mundo atual, podendo inclusive incidir em adoecimento na
família. Vendrusculo (2014) menciona que a descoberta do diagnóstico traz uma
morte dos planos e dos sonhos, que os pais desejavam para esta criança, pode
resultar em uma superproteção ou até mesmo um afastamento dos genitores em
relação ao filho. O luto existe pela perda do filho idealizado, a forma como o
diagnóstico chega é difícil de internalização, e é um processo que os familiares
vivenciam até se chegar a um possível equilíbrio, onde perpassam por sentimentos
de negação e por períodos de isolamento, na qual vivenciam a maior parte do tempo
“negando a realidade” (RIBEIRO, 2011).

Nesse contexto, pode-se relacionar às vivências da família às fases do luto


propostas por Kübler-Ross (1996), a qual define a negação como um estágio de
defesa temporária, sendo substituída por uma aceitação parcial e logo que firme é
substituída pelo segundo estágio, a raiva, onde surge os questionamentos: “Por que
eu”? Nota-se que quando a família permanece no estágio da negação há uma
tendência a atrasar e comprometer o desenvolvimento da criança, devido a passar
maior parte do tempo negando este diagnóstico e sem os devidos cuidados
familiares e profissionais, o que pode comprometer um bom prognóstico.

No segundo estágio, é vivenciado a raiva, ainda é difícil a assimilação do


diagnóstico para a família, esta pode apresentar certezas que nem sempre são
verídicas, mas se propagam em todas as direções e são projetadas a todos que
rodeiam este processo, tanto ao restante dos responsáveis pela a criança quanto
aos profissionais envolvidos, sendo uma forma de descarregar todas as angústias e
dúvidas que se acarretou com o diagnóstico (KÜBLER-ROSS, 1996).

Serra (2010) coloca que os sentimentos dos familiares sobre o diagnóstico


dos filhos oscilam entre a aceitação e a negação, tendo, como exemplo, quando os
pais começam a comparar o desenvolvimento de seus filhos com outros, o que
chega a ser uma comparação negativa, pois desconsidera a evolução que seu filho
teve.

De acordo com Kübler-Ross (1996), o terceiro estágio vivenciado no processo


de luto é a barganha, os pais começam a clamar por Deus, a realizar juramentos e
promessas para alcançar seus pedidos. A raiva e a barganha costumam andar
juntas, mas no decorrer do processo há uma modificação na maneira como ela é
abordada. Pois, ao chegar próximo do processo de aceitação, os responsáveis
tendem a amenizar suas palavras e barganhar para Deus, que o processo seja
menos dolorido e positivo.

O quarto estágio é a depressão. Cabe lembrar que esta depressão, não é um


estado patológico quanto a necessidade de intervenções de psicofármacos, mas sim
compreendida como um estado normal e esperado, onde os pais, passam mais uma
vez a experimentarem sentimentos advindo do diagnóstico e a internalizarem o que
está acontecendo, não existindo mais fantasia e sim realidade, e que nem todas as
famílias, necessariamente, vivenciam o luto da mesma forma, pois é uma
experiência tão individual como a vida de cada pessoa (KUBLER-ROSS, 1996).

Ao vivenciar o processo de dor, a forma como a família se dispõe ao TEA é


determinante para o desenvolvimento do filho. Pois, se o veem como incapazes, os
pais deixam de lhes ensinar coisas essenciais para a independência da criança;
como não conseguem reconhecer as potencialidades que seus filhos possuem. É
notório algumas vezes, pais isolando seus filhos do social ou infantilizando-os e
superprotegendo, o que os deixam dependentes e inseguros (SERRA, 2010).

Após o período de desequilíbrio, a família adentra a um momento de


aceitação e calmaria, na qual passa a ser benéfico para o gerenciamento de
conflitos surgidos desde da descoberta do diagnóstico. Como já mencionado, a
trajetória depois da descoberta, torna-se dolorida, mas o processo terapêutico acaba
auxiliando, deixando-a menos conturbada, ajudando na busca de novos caminhos e
favorecendo atitudes construtivas no desenvolvimento da criança e da família
(RIBEIRO, 2011).

5 O PAPEL DO PSICÓLOGO NO ACOLHIMENTO À FAMÍLIA

O apoio psicológico é muito importante ao receber um diagnóstico de autismo,


tendo em conta que essa notícia pode causar diversas reações e sentimentos nos
pais dessas crianças portadoras do TEA. Quando essa família ou essa mãe chegam
na clínica em busca de tratamento, já estão nesse processo de luto, sendo
primeiramente papel do psicólogo o de acolher essa família ou essa mãe em
sofrimento, para que possa encontrar um lugar sem julgamento, uma escuta
qualificada, que a permita sentir e expressar tudo o que deseja falar ou silenciar.

Smeha e Cezar (2011) afirma que a vivência da maternidade é afetada


quando o filho apresenta alguma limitação significativa, pois a mãe percebe a
diferença existente entre a criança esperada e a criança real. Ela sente esse filho
como um desconhecido, surgindo-lhe então muitas dúvidas em relação a como
cuidar dessa criança. De acordo com Maia (2016), é nessa fase que os pais entram
em um processo de adaptação, em que se observa uma instabilidade emocional,
apresentada por meio de oscilações entre aceitação e rejeição, até se sentirem mais
seguros para lidar melhor com a criança e aproximarem-se afetivamente dela. Os
pais que cuidam de crianças com o TEA geralmente relatam níveis aumentados de
estresse, depressão e ansiedade. Por isso, é muito importante que os pais e mães
de autistas recebam um apoio psicológico durante todas as fases da criança ou do
adolescente com o TEA. Independentemente da condição de saúde da criança,
diante do papel de cuidadora, a rotina de cuidados diários, adaptações e mudanças
geram nas mães grande cansaço físico e desgaste emocional, tornando essa
população um grande alvo, com nível elevado de estresse.

Sendo assim, o psicólogo com uma formação especifica deve ser inserido no
contexto familiar, usando de sensibilidade e escuta qualificada para contribuir com a
elaboração das questões trazidas pela família, caracterizando-se enquanto um
profissional capacitado para lidar com os sentimentos, emoções, expectativas e
muitas vezes, as frustações dos sujeitos quem vivenciam esse contexto. Pois, o
espaço de cuidado psicológico ofertado ajuda os responsáveis a ressignificar o
diagnóstico, assim os pais tendem a se sentir seguros, obtendo um equilíbrio nas
relações internas e externas, e no resgate da vida com uma maior possibilidade de
uma relação saudável com a criança e podendo recuperar a autoestima, a confiança
e acreditar que a criança quanto mais estimulada e acompanhada for, mais
resultado no seu desenvolvimento terá.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos realizados, foi possível identificar que o autismo é um
transtorno do neurodesenvolvimento, que possui implicações severas na
comunicação social, nos comportamentos e interesses restritos e estereotipados. É
devido a esses sintomas que comprometem o desenvolvimento da criança, que ao
saber do diagnóstico os genitores o recebem como um desafio e o enfrentam em um
processo de luto. Pois, estigmas e preconceitos são direcionados às pessoas com
TEA. E após o diagnóstico, há uma adaptação no núcleo familiar, na vida
profissional e social do casal. Os pais das crianças com este transtorno costumam
apresentar elevados níveis de estresse, ocasionando uma sobrecarga física e
mental, mediante os cuidados com os filhos.

Percebeu-se através desta pesquisa, que após a confirmação do diagnóstico,


ocorre uma mudança significativa na relação familiar, social e profissional, fazendo
com que sentimentos negativos, como a culpa, medo, revolta, insegurança, sejam
vivenciados pelos envolvidos. A fase de aceitação é de extrema importância nesse
processo, pois possibilitara que o diagnóstico precoce seja realizado, fazendo com
que a assistência inicial a criança com TEA impacte positivamente ao seu
desenvolvimento. O estudo revelou que os pais, na maioria dos casos, são os
principais responsáveis em administrar uma rotina intensa e exaustiva, requerendo
um tempo de cuidados e dedicação integrais a criança, o que de certo modo exige
danos ligados a vida profissional e social dos mesmos, o que pode trazer prejuízos
em sua qualidade de vida.

O processo é doloroso e angustiante, e muitas vezes é complicado de ser


enfrentado sozinho, necessitando, portanto, de acompanhamento psicológico, não
só para a criança, mas como também para a família. O profissional de Psicologia
nesse processo, servirá como apoio, capaz de compreender e auxiliar os familiares
nesse momento delicado e desafiador, propiciando uma possível ressignificação de
forma gradual diante do TEA. Sendo assim, importante o acompanhamento
psicológico para os pais, afim de acolhê-los, possibilitando o processo de
ressignificação do diagnóstico, para um cuidado eficaz consigo mesmo e com o filho.
Não somente durante o recebimento do diagnóstico, e sim durante todo o processo
que essa criança realizará.

Diante do estudo realizado, pode-se perceber que são inúmeras as


implicações que a família vivencia diante do diagnóstico. Assim, almeja-se que esta
pesquisa proporcione novos estudos e que tragam dados que determinem um
cuidado maior sobre os pais de crianças diagnosticadas com TEA, para permitir um
atendimento mais adequado às suas necessidades para enfrentar o diagnóstico.
Busca-se também promover reflexões para o desenvolvimento de políticas de
prevenção em saúde mental, especificamente nessa fase tão delicada que é a de
descoberta do diagnóstico do TEA, diminuindo dessa forma os sentimentos de
culpa, insegurança, frustração, nos dos pais/familiares.
REFERÊNCIAS

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https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/2665/tcc
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