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INTRODUÇÃO

A pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) pode ser descrita como


uma das maiores crises de saúde das ultimas décadas. Uma pandemia
ocasiona perturbações psicológicas e sociais de toda a sociedade, em variados
níveis de intensidade e propagação (Ministério da Saúde do Brasil, 2020a).

A COVID-19, nome da síndrome respiratória ocasionada pelo novo


coronavírus, foi inicialmente detectada em 2019 na cidade de Wuhan, capital
da província da China Central. Ela atingiu as pessoas em diferentes níveis de
complexidade, sendo os casos mais graves acometidos de uma insuficiência
respiratória aguda que requer cuidados hospitalares intensivos – incluindo o
uso de ventilação mecânica (Centers for Disease Control and Prevention
[CDC], 2020b).

A COVID-19 tem provocado sensação de insegurança em todos aspectos, do


coletivo ao individual, do dia a dia da sociedade até mudança nas relações
interpessoais (Lima et al., 2020; Ozili & Arun, 2020). Quanto à saúde mental, é
importante dizer que as sequelas de uma pandemia são maiores do que o
número de mortes. Os sistemas de saúde dos países entram em colapso, os
profissionais de saúde ficam exaustos com as longas horas de trabalho e, além
disso, o método de controle mais efetivo da doença, que é o distanciamento
social, impacta consideravelmente a saúde mental da população (Brooks et al.,
2020).

A quarentena é fundamental para conter o contágio, motivo de manter as


pessoas sem contato com outras pessoas é diminuir a contaminação, a procura
por serviços de saúde e o número de óbitos. É uma medida usada há muitos
anos, em pandemias passadas para evitar a disseminação de doenças
contagiosas (Brooks et al., 2020).

A Covid-19 "mudou” o modo de funcionamento das redes de atenção


psicossocial (RAPS) que, também é necessárias para o controle da pandemia,
enfrentam novos desafios para assegurar o cuidado a pessoas com sofrimento
mental grave. Na RAPS de Belo Horizonte, este cuidado é feito
primordialmente em nove Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), cinco
Centros de Atenção Psicossocial - Álcool e outras Drogas (CAPS AD), três
Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPS i) – denominados no
município de Centro de Referência em Saúde Mental (CERSAM), CERSAM AD
e CERSAMI, respectivamente – e, também, em dois Serviços de Urgência
Psiquiátrico Noturno (SUP). Na experiência da RAPS de Belo Horizonte, alguns
desafios têm se destacado, exigindo diferentes invenções. Dentre eles,
destacamos: A preservação da saúde dos trabalhadores e usuários nos
CERSAMs., falta de equipamentos de proteção individual e testes, entre outros.
Os usuários das redes de apoio a saúde mental estão enfrentando dificuldades
em ter acesso aos centros.

O isolamento social é uma medida necessária para evitar a rápida propagação


da doença, porém produz, dentre outros, efeitos positivos (atitudes individuais
em prol do grupo, solidárias e altruístas) e também negativos (desconfianças,
atitudes preconceituosas, medo, solidão) à saúde mental da população,
variando suas dimensões e implicações sociais, conforme especificidades
territoriais e socioculturais. No Brasil, por exemplo, um país de alta mobilidade
relacional, as medidas para não tocar, abraçar, reunir, ou seja, manter o
distanciamento físico entre as pessoas pode ser considerado também
distanciamento afetivo, um “dilema social” e fator desencadeante de sofrimento
(NOAL, 2020; SAYURI, 2020).

Para essa situação, como tem sido a epidemia de COVID-19, considera-se que
a população do país sofre um impacto psicossocial em diferentes níveis de
intensidade e gravidade. A maior parte das reações é esperada, mas o
agravamento da duração de sentimento de insegurança e falta de controle da
situação, medo, confusão, agitação e solidão, dentre outros, podem levar ao
adoecimento (SCHMIDT, 2020; BRASIL, 2020).

Ao abordar os desafios deste cuidado em tempos de pandemia de covid-19,


reafirma-se a Reforma Psiquiátrica como um ‘processo civilizatório’, como
definido por Sergio Arouca3, que abarca os modos de relações entre os
indivíduos e de uma sociedade lidar com o diferente. Importante ressaltar que o
campo da reforma psiquiátrica, em todas as suas dimensões, é reconhecido
por ser um campo criativo, seja em uma perspectiva epistemológica seja em
uma perspectiva sociocultural.
A perspectiva de um olhar para o sujeito em sua existência-sofrimento
pressupõe uma rede de cuidados que deve estar muito além da simples
reorganização de serviços.

As Redes de Atenção Psicossocial hoje existentes permitiram o exercício da


cidadania a uma parcela significativa de usuários em saúde mental com
sofrimento psíquico grave.

A construção de estratégias efetivas de cuidado em saúde mental enfrenta o


desafio de, através de uma perspectiva complexa, garantir uma oferta de
continuidade aos usuários das redes de atenção em saúde mental ao mesmo
tempo que exige ampliar um olhar sobre o sofrimento decorrente dos agravos
que a pandemia, com a precarização das condições de vida, as perdas de
vidas humanas em escala exponencial e a incerteza quanto ao futuro, impôs a
sociedade.

Os Centros de Atenção Psicossocial devido a condição de distanciamento


social implicou a necessidade de reorganização das dinâmicas de
funcionamento e reinvenção de modos de proximidade que garantissem a
manutenção da intensividade do cuidado bem como o suporte aos momentos
de crise.

A relação com movimentos sociais e culturais possibilitam a criação de outros


espaços de cuidado, voltados à cidade e aos contextos de vida. Assim, se
produz acolhimento para além da simplificação técnica. Complexifica-se ações
através do olhar para o sujeito, suas necessidades e não apenas com
intervenções sobre a ‘doença’.

Rede de Atenção Psicossocial e as possibilidades durante a pandemia


por Covid-19

A Rede de Atenção Psicossocial (Raps), que foi criada em 2011, com intuito de
ampliar os pontos de Atenção à Saúde para pessoas com sofrimento ou
transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de drogas, pode ser
potencial aliada no acolhimento aos profissionais de saúde. Deverão surgir
planos para monitorar e rastrear profissionais de saúde que apresentem sinais
de depressão, ideação suicida, ansiedade e estresse pós-traumático, além da
garantia de apoio emocional a esses profissionais por longos períodos, tendo
em mente que os impactos da pandemia podem reverberar durante meses ou
anos. São inúmeras as possibilidades de cuidado em Saúde Mental aos
profissionais de saúde diante do cenário vivido na pandemia por Covid-19.
Reflete-se, também, sobre o preparo dos profissionais da Saúde Mental que
vão acolher os profissionais da saúde no âmbito da Raps, sendo desafiador
cuidar da saúde de um trabalhador de saúde.

As pessoas com transtornos mentais anteriores à pandemia estão entre os


grupos vulneráveis para o agravamento de sintomas. Além de, um aumento da
incidência desses transtornos.

CARACTERIZAÇÃO DOS CAPS: feita através de uma pesquisa em Goiás

No Estado de Goiás, atualmente, existem 78 Centros de Atenção Psicossocial


e 50% deles relatam que seus atendimentos possuem abrangência regional.
Quanto à existência, no município, de Unidade de Acolhimento (UA), ponto de
atenção da Rede de Atenção Psicossocial que presta hospitalidade diurna e
noturna para pessoas que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas e
encontram-se em situação de risco e vulnerabilidade, apenas 21,8% dos
serviços tem a UA, enquanto 78,2% mencionaram que não ter.

Os CAPS manterem-se aberto/em funcionamento, 62% responderam que


mantiveram-se abertos desde o início da pandemia sem alteração no horário
de funcionamento; 36,4% estão funcionando parcialmente com equipes e
horários de atendimento reduzidos; 1,3% tiveram os atendimentos presenciais
suspensos por 30 dias por determinação do gestor local e por fim 1,3% não
respondeu a esta questão.

Também teve situações nos CAPS em que os próprios usuários deixaram de


procurar o serviço em função da pandemia de covid 19. Já sobre o acolhimento
80,3% dos CAPS relataram que continuam a receber novos casos para
atendimento, priorizando os mais graves e as situações de crise na rede;
19,7% não estão recebendo novos usuários e 2,6% não responderam.
No que se refere a composição da equipe, 73,1% dos CAPS declararam ter
equipe completa, 26,9% afirmaram que não contam com o número mínimo de
profissionais indicado pela legislação do Ministério da Saúde para
funcionamento adequado dos CAPS.

Quanto às formas de atendimento e procedimentos realizados observa-se que:

1. 97,4% realizam o atendimento telefônico;

2. 44,2% fazem atendimento online;

3. 87 % permanecem atendendo presencialmente de forma individual;

4. 2,6% continuaram atendendo em grupo de forma presencial;

5. 37,7% contam atenderem familiares,

36,4% efetuam atendimento domiciliar;

6. 85,7% permanecem ofertando atenção em situações de crise;

7. 29,9% manteriam a Atenção Básica;

8. 28,6% manteriam outros pontos da urgência, emergência e serviços


hospitalares;

9. 49,3% efetivam articulação Inter setorial;

10. 11,7% responderam outros.

SANTANA, Luciana Aparecida Martins; PAULA, Lucilene Santana Fernandes de;


NUNES, Fernanda Costa. ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM TEMPOS DE COVID 19
NO ESTADO DE GOIÀS. 2020. Disponível em:
https://www.saude.go.gov.br/files/boletins/informativos/atencaopsicossocial-
covid19/boletimatencaopsicossocial-covid19n-1.pdf. Acesso em: 21 mar. 2021.

CRUZ, Náira Menezes Luz Vasconcelos et al. Apoio psicossocial em tempos


de COVID-19: experiências de novas estratégias de gestão e ajuda mútua
no sul da Bahia, Brasil. 2020. Disponível em:
https://apsemrevista.org/aps/article/view/94/58. Acesso em: 21 mar. 2021.

Citação com autor incluído no texto: Cruz et al. (2020)


CAROL

RESUMO TEXTO 1

A pandemia de Covid-19 tem apresentado de forma impactante ao Brasil e ao


mundo a dependência entre a precariedade das condições de vida e o
sofrimento psíquico. A construção de estratégias efetivas de cuidado em saúde
mental enfrenta o desafio de garantir uma oferta de continuidade aos usuários
das redes de atenção em saúde mental ao mesmo tempo que exige ampliar um
olhar sobre o sofrimento decorrente dos agravos que a pandemia, com a
precarização das condições de vida, as perdas de vidas humanas e a incerteza
quanto ao futuro, impôs a sociedade.

Os desafios do cuidado em tempos de pandemia de covid-19, reafirma-se a


Reforma Psiquiátrica como um ‘processo civilizatório’, que abarca os modos de
relações entre os, que abarca os modos de relações entre os indivíduos e de
uma sociedade lidar com o diferente. A solidariedade, a equidade, integralidade
e a garantia de direitos são conceitos fundamentais neste processo.

As Redes de Atenção Psicossocial hoje existentes permitiram o exercício da


cidadania a uma parcela significativa de usuários em saúde mental com
sofrimento psíquico grave.

O acolhimento cotidiano ajudou no fortalecimento de vínculos, também mediou


a articulação de redes territoriais e o desenvolvimento do sentimento de
pertencimento a um grupo, a um coletivo ou a uma cidade e, em última
instância, à inclusão social.

A produção de subjetividades se dá através do acesso à moradia, à renda


básica, ao lazer, ao trabalho e à educação, do mesmo modo em que também
aos serviços de saúde mental com suas equipes multiprofissionais.

Complexifica-se ações através do olhar para o sujeito, suas necessidades e


não apenas com intervenções sobre a ‘doença’. A relação com movimentos
sociais e culturais possibilitam a criação de outros espaços de cuidado,
voltados à cidade e aos contextos de vida. Assim, se produz acolhimento para
além da simplificação técnica.

Na perspectiva dos dispositivos das Rede de Atenção Psicossocial,


principalmente os Centros de Atenção Psicossocial, a condição de
distanciamento social implicou a necessidade de reorganização das dinâmicas
de funcionamento e reinvenção de modos de proximidade que garantissem a
manutenção da intensividade do cuidado bem como o suporte aos momentos
de crise, para uma clientela que em grande parte possui histórias que, além do
sofrimento psíquico grave, agregam experiências de violência.

Na trajetória recente das estratégias de cuidado psicossociais é possível


identificar experiências, muitas construídas através de recursos comunitários e
respeitando as origens e peculiaridades de suas culturas.

Saúde mental, é promoção de vínculos, proximidade e projetos de vida. As


diretrizes da Reforma Psiquiátrica apontam para valores fundamentais como a
integralidade, a equidade e a liberdade. No entanto, seus projetos estão
sempre em construção, provisórios e inacabados como as histórias de vida de
cada sujeito em sofrimento.

Katy

RESUMO TEXTO 2

A força das articulações dos Centros de Atenção Psicossocial no território em tempos de Covid-
19, mapeada na ação de extensão universitária.

Nesse contexto da Pandemia, o Projeto de Ensino, Pesquisa e Extensão Saúde Mental,


Articulações Intersetoriais e o Apoio da Universidade em Tempos de Covid-19, da Universidade
Federal Fluminense (UFF), aponta para desenvolver estratégias educativas e de processos
grupais que promovam a visibilidade, tanto externa quanto internamente, da articulação do
Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) no território de forma mais ampliada nesse momento,
através de recortes de cenas de situações cotidianas. Todas as unidades de base do SUS estão
sendo acionadas no enfrentamento da pandemia da Covid-19 e as políticas públicas em saúde
emergem como imprescindíveis, como estratégias de planejamento e ação. O mesmo se deu
com os dispositivos em saúde mental, como os Centros de Atenção Psicossocial que, como
todas as outras estratégias de cuidado em saúde, tornou-se importante protagonista do
cenário atual.

A costura de uma rede de saúde que se fundamenta em um trabalho baseado nos


“especialismos” demonstra-se extremamente fragmentada e é um desafio para os
trabalhadores dos CAPS. Apresentamos a função apoio na Saúde como um dispositivo
dinamizador de uma formação, com a ampliação da extensão dialógica como proposta
metodológica, ética e política. Tal proposta não tem sido tarefa fácil, pois a descrença nas
políticas governamentais e o avanço de medidas neoliberais têm produzido profundo
descrédito e desânimo entre os trabalhadores de saúde mental dos municípios visitados. Neste
sentido, é importante situar o momento de retrocesso pelo qual passamos no que se refere às
políticas públicas no estado do Rio de Janeiro e a nível federal. Santos2 aborda que a
pandemia se mostra como um analista cruel de como o capitalismo neoliberal incapacita o
Estado para responder com eficácia às emergências.

O foco das ações do apoio institucional pela universidade enfatiza dar potência aos espaços
coletivos para cogestão e operacionalização de diretrizes da política pública de saúde mental
implementada no município, além da análise e revisão do espaço instituído, seus objetivos
com definição de nova formatação e atribuições a partir das diretrizes apresentadas pelos
grupos3

A tática das reuniões aparece como disparador de reflexões para a equipe do CAPS de
Miracema, onde na discussão sobre a criação de um comum e a corresponsabilização dos
casos, a estratégia de acolhimento compartilhado foi ressaltada e trazida para o cotidiano do
serviço, nesses tempos de pandemia. As relações com o corpo, com a subjetividade, com a
arte e a produção de vida se revelaram nos singulares relatos dos trabalhadores com os
usuários no CAPS. No campo da saúde mental, é comum a grande ênfase dada aos discursos e
saberes psiquiátricos e psicológicos como prescritores e direcionadores das práticas a nortear
os processos terapêuticos. Tais elementos nos fazem pensar em ações de resistência e, ainda,
remetenos à importância de dar voz às ações, transpor os limites dos dados epidemiológicos e
a restrição dos indicadores numéricos, sem desmerecer sua importância, promover a
transformação a partir das vivências e experienciação, registrando, contando as histórias,
realçando a visibilidade do fazer desses serviços e suas articulações com a Atenção Primária à
Saúde (APS)
A riqueza das estratégias de não tomar os moradores de rua como “doentes mentais”, que
poderiam ser medicalizados num primeiro momento, mas esse não é o caminho proposto.
Estes moradores estão sendo vistos como sujeitos, articulados às ESFs, com exames para
tuberculose, vacinação, entre outros cuidados3 .

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