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FAVENI

Faculdade Venda Nova do Imigrante

Fernanda Maria Barcella

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE COMO METODOLOGIA DE


ESTIMULAÇÃO NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Itajaí, Santa Catarina


2022
FAVENI
Faculdade Venda Nova do Imigrante

Fernanda Maria Barcella

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE COMO METODOLOGIA DE


ESTIMULAÇÃO NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito parcial
à obtenção do título especialista
em Psicomotricidade

Itajaí, Santa Catarina


2022
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE COMO METODOLOGIA DE
ESTIMULAÇÃO NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Fernanda Maria Barcella 1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO – O Transtorno do Espectro do Autismo – TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento,


multicausal e de etiologia desconhecida, que manifesta-se na infância por comprometimentos na
linguagem e comunicação social, e em manifestação de comportamentos restritos e repetitivos. O
transtorno não tem cura, porém existem diversas metodologias de intervenção precoce baseadas
em evidências que amenizam os sintomas e proporcionam maior qualidade de vida e autonomia
aos autistas. Dentre elas, a psicomotricidade vem ao encontro por ser uma ciência que compreende
estuda e o ser humano em movimento e a inter-relação entre os aspectos cognitivos, motores e
emocionais. O objetivo da pesquisa foi explorar os conceitos e características do autismo e os
conceitos e benefícios das práticas psicomotoras, com o viés da atuação na intervenção precoce
dos sintomas. Trata-se de uma revisão bibliográfica fundamentada em artigos publicados nos
últimos 15 anos. A partir da discussão explorada no artigo, evidenciou-se e relacionou-se a
importância da atuação com os conhecimentos e práticas da Psicomotricidade como metodologia
na intervenção de pacientes autistas, com o objetivo de potencializar habilidades já estabelecidas,
desenvolver novas habilidades psicomotoras e suavizar os sintomas do transtorno que afetam a
qualidade de vida e a autonomia dos autistas.

PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Transtorno do Espectro Autista. Psicomotricidade.

1 fernandabarcella@hotmail.com

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Introdução:

Atualmente o mundo vem acompanhando uma crescente significativa nos casos


de pacientes diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista. Cada vez mais os
casos vem aumentando sua proporção e o autismo vem se tornando um fator de
importante foco na saúde, na educação e na ciência. A proporção mais recente publicada
sobre a incidência foi realizada nos Estados Unidos por Maenner et al (2021) e traz a
estimativa de que uma a cada 44 crianças de 8 anos tenha o diagnóstico de Transtorno
do Espectro Autista.
Além do número significativo de diagnósticos atualmente estimado, ao debruçar-
se sobre esse número nas últimas décadas, podemos perceber o aumento nessa
incidência, o que justifica e alarma sobre a importância de que se busquem maiores
informações e de forma urgente, maiores possibilidades de intervenção que se apliquem
de forma assertiva nos tratamentos.
A importância desta pesquisa justifica-se então, pela crescente existência de
diagnósticos de pacientes com Transtorno do Espectro Autista, paralelo a inexistência
ainda de uma causa e cura para o transtorno que evoca a necessidade de enfoque
científico no que tange pesquisas, explorações acerca do transtorno. Outro fator que
também fundamenta a necessidade da realização desta pesquisa é a importância da
intervenção precoce dos pacientes diagnosticados com TEA em suas fragilidades do
neurodesenvolvimento, aplicando terapias que possuem fidedignidade e assertividade na
evolução das capacidades cognitivas, motoras e psicológicas do autista, dentre elas,
utilizando os conhecimentos da Psicomotricidade como metodologia terapêutica. Desta
forma, este artigo abordará a importância das práticas e conhecimentos da
Psicomotricidade como metodologia de intervenção e estimulação precoce, que assim
como outras existentes, precisam ter fidedignidade e assertividade para realmente
apresentar o que se propõe: melhora na qualidade de vida e na autonomia do autista.
Portanto, como supracitado e justificado, este estudo busca discutir através de
revisão bibliográfica, os impactos e benefícios na utilização de práticas de
psicomotricidade pelos profissionais que a utilizam como metodologia terapêutica para
intervenção com pacientes dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em suas
fragilidades de comunicação, motricidade, emocional e socialização.
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O objetivo geral é compreender a importância dos conhecimentos e práticas
psicoterapêuticas para intervenções com autistas, e como objetivos específicos:
• Compreender acerca do Transtorno do Espectro Autista - TEA;
• Discutir sobre a importância da intervenção precoce;
• Compreender acerca dos conceitos da Psicomotricidade e sua relação prática com
o desenvolvimento psicomotor no Transtorno do Espectro Autista - TEA.
O estudo foi elaborado através de pesquisa, que segundo Andrade (2010):
(...) é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o
primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de
laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica
preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não
dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas
exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no
desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões.
Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de
laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para
elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas
bibliográficas (ANDRADE, 2010, p. 25).

Os instrumentos escolhidos para comporem a discussão teórica foram artigos e


publicações com veracidade e fidedignidade confiáveis, disponíveis nas plataformas de
pesquisa de dados do Google Acadêmico, Lilacs, Pepsic e Scielo. Para a pesquisa, foram
utilizados os filtros de palavras chaves de autismo, psicomotricidade, estimulação no
autismo. Diversas publicações foram encontradas, porém utilizou-se por filtro, as
pesquisas mais recentes, em suma dos últimos 15 anos, para discorrer e fundamentar
sobre os temas supracitados. Portanto, a coleta de dados desta pesquisa trata-se de
uma pesquisa bibliográfica com seleção de leituras reflexivas e analíticas.
O desenvolvimento está estruturado em exploração acerca da história, conceitos
e realidade do Transtorno do Espectro Autista, na exploração da importância da
intervenção precoce já suspeita do diagnóstico, na exploração acerca dos conceitos,
benefícios e práticas da Psicomotricidade e a conclusão que se obteve a partir da
investigação. Esse modelo foi baseado na NBR 6022.

Transtorno do Espectro Autista – TEA

O TEA vem se tornando cada vez mais um assunto de saúde pública e


preocupação mundial. Os crescentes casos e diagnósticos vem ganhando cada vem
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mais espaço para pesquisas tanto de cunho investigatório acerca das causas e
prognósticos do autismo, quanto de tratamentos eficazes e assertivos no que tange a
estimulação e melhora na qualidade de vida e autonomia dos pacientes.
O Transtorno do Espectro Autista – TEA é definido como um Transtorno Complexo
do Neurodesenvolvimento, caracterizado pela dificuldade na comunicação, na interação
social e pela ocorrência de comportamentos repetitivos e/ou estereotipados (SBP, 2019).
De acordo com Oliveira (2009), “autos” significa “próprio” e “ismo” versa sobre estado ou
orientação, resultando no entendimento de uma pessoa fechada em seu próprio mundo,
reclusa em si.
Atualmente, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é embasado e
classificado pelo no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V)
(APA, 2014). As características dos pacientes classificados dentro do espectro autista
são prejuízos persistentes na comunicação e na interação social, bem como nos
comportamentos que podem incluir os interesses restritos e padrões de
atividades/comportamentos repetitivos e estereotipados, sintomas que estão presentes
desde a infância e causam prejuízos o funcionamento diário do indivíduo.
Os sintomas estão presentes no período do desenvolvimento da criança, entre 12
e 24 meses, sendo que alguns sintomas podem aparecer antes mesmo dos 12 meses
conforme a gravidade, ou após os 24 meses se forem sintomas mais sutis (APA, 2014).
O aparecimento dos sintomas não é uniforme, sendo que algumas crianças podem
apresentar já sintomas aparentes desde o seu nascimento, e outras – sendo maioria dos
casos, os sintomas só são consistentes entre 12 e 24 meses de idade (SBP, 2019).
Alguns marcadores potencialmente importantes no primeiro ano de vida incluem
anormalidades no controle motor, atraso no desenvolvimento motor,
sensibilidade diminuída a recompensas sociais, afeto negativo e dificuldade no
controle da atenção (SBP, 2019, p. 2).

Não existe uma cura para o TEA, e muito vem se estudando e pesquisando acerca
do transtorno. O termo autismo é datado de uso pela primeira vez em 1911, pelo
psiquiatra suíço Eugen Bleuler, para descrever sintomas de esquizofrenia infantil,
caracterizando sintomas de dissociação da criança e sua realidade de vida e
socialização. Porém, foi em 1943 que Leo Kanner, psiquiatra austríaco, realizou um
estudo com 11 crianças, quem descreveu clinicamente os sintomas apresentados por

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elas, nomeando de “autismo infantil precoce”, caracterizado por apresentação de
sintomas como ideias obsessivas, estereotipias, ecolalia e uma total falta de interação
com o meio – “fechamento em si” (CORDEIRO; DA SILVA, 2018).
Concomitante, Hans Asperger descreveu sintomas de ausência de empatia,
hiperfoco, poucas habilidades de socialização, e interesses direcionados e específicos, e
movimentos não coordenados (CORDEIRO; DA SILVA, 2018). Porém, foi somente a
partir da década de 80 que o autismo passou a ser compreendido e dissociado da
esquizofrenia infantil, sendo incluído na 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Doenças Mentais (DSM-III) e na quinta e atual edição do manual (DSM-V), neste sendo
ampliado para Transtorno do Espectro Autista (TEA), vinculado dentro dos transtornos
do neurodesenvolvimento.
Atualmente o TEA vem sendo foco de estudos científicos a fim de buscar respostas
e possibilidades. Mota et al. (2011, p. 375) afirma que:
(...) questionamentos sobre definições diagnósticas, possíveis causas,
comorbidades, características psicológicas, funcionamento cerebral e
possibilidades de intervenção vêm até os dias atuais inquietando pesquisadores,
profissionais e a população em geral.

Por não existir um fator e sim vários fatores que afetam o aparecimento do
transtorno, entende-se por uma condição multicausal, porém a certeza é que o autismo
é um assunto que merece espaço, visibilidade e atenção.

Intervenções precoces e sua importância

Atualmente existem diversas fontes e grupos envolvidos com o mundo do TEA,


além de surgirem cada vez mais cursos, especializações e certificações que envolvem a
intervenção em pacientes com atraso no neurodesenvolvimento. São métodos
terapêuticos que melhoram a qualidade de vida e a autonomia dos autistas,
proporcionando a estimulação das vulnerabilidades e fragilidades que estão acometidas.
Salgado (2022), retoma que o relatório clínico da American Academy of Pediatrics
(AAP) recomenda que todas as crianças que tenham resultados de triagem positivos para
os sintomas presentes no espectro sejam encaminhadas para avaliação abrangente e já
inicie a intervenção precoce, com atenção especial para pacientes entre 18 e 24 meses,
a fim de que as características com maior atraso ou vulnerabilidade já ganhem atenção
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na intervenção e possibilitem melhoras na qualidade de vida dos pacientes e cuidadores.
Segundo a SBP, a intervenção precoce consiste em:
(...) conjunto de modalidades terapêuticas que visam aumentar o potencial do
desenvolvimento social e de comunicação da criança, proteger o funcionamento
intelectual reduzindo danos, melhorar a qualidade de vida e dirigir competências
para autonomia, além de diminuir as angústias da família e os gastos com
terapias sem bases de evidência científicas (SBP, 2019, p. 16).

A Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP, 2019) versa sobre a importância da


intervenção precoce e intensiva, inclusive como potencial fator para frear a manifestação
completa do transtorno. Ao pensar sobre intervenção, é fundamental a compreensão de
cada criança com TEA é singular, o que resulta na importância de uma avaliação
completa de quais são os comprometimentos de cada criança, sendo que cada uma terá
as suas potencialidades e suas necessidades. Tendo isso como base, a elaboração do
plano de intervenção terapêutica precoce e de forma singular terá mais condições de
atingir o seu objetivo de fato: aumentar o potencial do paciente, proteger o funcionamento
intelectual, reduzir danos e melhorar a qualidade de vida e autonomia, ou seja uma
intervenção específica e assertiva.
Existem diversas modalidades de intervenção terapêuticas, porém é fundamental
que elas possuam evidências científicas sobre sua aplicabilidade e resultados. Podemos
citar aqui o modelo comportamental de intervenção precoce Denver, a Análise do
Comportamento Aplicada – ABA, modelos de comunicação alternativa como PECs®,
terapia de Integração Sensorial, técnicas de intervenções clínicas Psicopedagógicas e
Neuropsicopedagógicas e a Psicomotricidade, dentre outras que deverão ser aplicadas
por profissionais que sejam habilitados e certificados na modalidade a que se propõe.

Psicomotricidade e o TEA

Uma das intervenções metodológicas mais importantes quando se trata de


intervenção no neurodesenvovimento psicomotor são os conceitos e métodos da
Psicomotricidade. Para a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade:
Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do
seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está
relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas. Psicomotricidade, portanto, é um termo
empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função
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das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade,
sua linguagem e sua socialização (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
PSICOMOTRICIDADE, 2022).

Silva e Souza (2018) versam sobre a compreensão histórica da psicomotricidade,


relatando que o termo foi utilizado pela primeira vez em 1870 por Jean Le com o objetivo
de explicar as disfunções que não possuíam uma área orgânica lesionada localizada no
cérebro. A partir da compreensão de que o estudo de dimensões neurológicas já não
dava respostas suficientes, surgiu a necessidade de ter uma área que contemplasse
questões não respondidas pela área médica.
Na atualidade, a psicomotricidade é uma área de atuação multidisciplinar que
engloba os conhecimentos de cognição, motricidade e emoção, olhando de forma
integrativa e relacional destes e entre esses conceitos, compreendendo que as questões
afetivas, cognitivas e motoras possuem inter-relação direta no funcionamento dos
indivíduos, pois o ser humano se conhece e se expressa a partir do movimento e sua
interação com o ambiente e com as questões emocionais e cognitivas, compreendendo
a psicomotricidade vinculada a comunicação do corpo (SILVA; SOUZA, 2018).
Pensando na infância, as atividades psicomotoras possibilitam que a criança
tenha conhecimento de seu próprio corpo, compreendendo sua relação com o meio. As
práticas psicomotoras auxiliam na execução de atividades generalistas e específicas,
assim como também na execução de tarefas do dia a dia, resultando em maior índice de
autonomia da criança. Para Pinheiro et al (2022) ao se atuar com o corpo da criança de
forma integral, também as funções cognitivas e executivas estão sendo estimuladas,
fortalecendo a capacidade de autodomínio e autonomia.
A criança precisa se conhecer e se entender para integrar em diferentes
ambientes, precisa de estímulos para que suas carências sejam preenchidas de
maneira significativa. Cada aspecto que evolui nessa criança faz com que o
progresso seja ainda mais relevante (PINHEIRO et al, 2022, p. 6)

Pensando na realidade do autismo, a psicomotricidade tem um papel importante


por possibilitar que os aspectos motores, de comunicação, sociabilidade e
comportamentais possam ter progressões em seu funcionamento – áreas afetadas pelo
transtorno nos pacientes, a partir de que o paciente com TEA passe a reconhecer melhor
o seu corpo e ter mais autonomia e autodomínio nas atividades do dia a dia e de

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aprendizagem. Assim como versado por Pinheiro et al (2022) e por Silva e Souza (2018)
a psicomotricidade compreende a capacidade do corpo em relação a:
 Tonacidade: tônus muscular permitindo os movimentos;
 Equilíbrio: dinamismo, deslocamento e estaticidade do corpo;
 Esquema corporal/imagem corporal: consciência do próprio corpo e suas
possibilidades e expressões. Sentimentos e emoções acerca do seu próprio corpo;
 Lateralidade: domínio de um lado do corpo na execução de tarefas;
 Orientação espaço-temporal: movimentação e entendimento do corpo em relação
ao meio em que está;
 Coordenação motora grossa e fina: movimentos complexos, de grande amplitude,
movimentos de manipulação.
A partir da compreensão dos conceitos supracitados, é visível a importância de
que a criança seja estimulada compreendendo as suas potencialidade em cada conceito
e suas fragilidades da mesma forma, e sua relação com o seu desenvolvimento
psicomotor, visto que os conceitos se inter-relacionam, se completam e complementam.
O psicomotricista deve compreender a multiplicidade de conceitos envolvidos em cada
uma das ações psicomotoras (SILVA; SOUZA, 2018). Além disso, é importante que as
atividades de intervenção possam proporcionar momentos positivos, prazerosos no
desenvolvimento da criança, corroborando para o seu desenvolvimento social.
Na intervenção com práticas psicomotoras, o profissional poderá atuar
promovendo o desenvolvimento de áreas acometidas pelo transtorno, atuando nos
sintomas particulares de cada caso.
A criança autista é capaz de evoluir algumas habilidades de modo intenso quando
possui acompanhamento psicomotor, do que quando não auxiliada. Embora não
há cura para o autismo, a psicomotricidade promove nessas crianças ganho nas
áreas psicomotoras como na coordenação motora grossa e fina, lateralidade e
organização temporal e espacial (DA SILVA et al, 2020, p. 30)

Ferreira (2019), discorre que a Psicomotricidade é uma metodologia de


intervenção importantíssima no desenvolvimento psicomotor de crianças autistas, visto
que pode auxiliar com os acometimentos de movimentos repetitivos/estereotipias, a nível
social, a nível de comunicação e a nível de motricidade e na hipersensibilidade.
O objetivo da Psicomotricidade é oferecer estimulação ao desenvolvimento do
corpo, beneficiando sua interação com a família e o meio social, e para que a
finalidade da Psicomotricidade perante a criança com TEA seja alcançada, é

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necessário promover um trabalho, no qual, a criança possa sentir e viver seu
corpo, tirando-a dos estereótipos e incentivando-a a descobrir seu próprio
movimento na tentativa de possibilitar uma melhor qualidade de vida (FERREIRA,
2019, p.11)

Silva e Souza (2018) também ressaltam que a Psicomotricidade possui como


proposta que a criança autista tenha compreensão de seu próprio corpo e sua
significação, possibilitando que a criança sinta e vivencie seu próprio corpo. Nesta
proposta, é fundamental que o psicomotricista não se coloque como protagonista das
ações, e sim como parceiro na realização destas, proporcionando o autodomínio.
Como passo inicial para a intervenção é fundamental que o profissional faça uma
avaliação dos marcos históricos da criança, tenha acesso a laudos se existentes, realize
uma avaliação das preferências, potencialidades e acometimentos da criança, a partir de
coleta indireta com os cuidadores e observação direta da criança no seu meio ou em set
terapêutico.
O vínculo é fundamental para qualquer intervenção, visto que os comportamentos
sociais estão acometidos no autismo, é importante que o profissional se dedique para
que esse vínculo seja estabelecido da melhor maneira possível a partir do mundo da
criança. Silva e Souza (2018) relatam que o psicomotricista deve inicialmente imitar os
comportamentos que a criança manifesta, mesmo que sejam desadaptativos, de
estereotipia ou repetição pois esta estratégia do profissional resultará na conexão da
criança com o profissional, e no estabelecimento da forma de comunicar o que deseja,
principalmente em crianças com comportamento verbal não vocal.
Atualmente, existem sites, livros, revistas e blogs que fornecem materiais e jogos
para o psicomotricista, independente do contexto de atuação – clínica ou escolar, aplique
com a criança para desenvolvimento de suas fragilidades psicomotoras. É importante
ressaltar que o tempo de desenvolvimento de cada habilidade pode ser de curto, médio
ou longo prazo, o que exige do profissional planejamento, avaliação dos resultados, e
adaptação da intervenção caso não esteja atingindo os objetivos almejados.

Conclusão

O presente artigo teve como objetivo investigar acerca do transtorno do espectro


autista, suas particularidades, a importância do diagnóstico e intervenção precoce, e
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concomitante explorar os benefícios apresentados pela literatura da psicomotricidade
como elemento de desenvolvimento de fatores acometidos no diagnóstico. Ao se
debruçar sobre estudos científicos acerca do autismo, é visível o enfoque que este tem,
tanto no que tange exploração quanto em intervenção. Em suma, a atenção a sintomas
já nos meses iniciais, a avaliação e intervenção precoce é o caminho mais eficaz para
que os sintomas sejam amenizados, independente do grau de suporte, visto que é neste
período que a criança está em seu período de maior neuroplasticidade no
desenvolvimento de habilidades.
Através do exposto, é notória a importância de que a psicomotricidade, seus
conceitos e estratégias sejam parte ativa no desenvolvimento de habilidade em pacientes
com TEA, visto sua contribuição na motricidade, na cognição, nas emoções e nas
questões socioafetivas. Vale aqui ressaltar que a Psicomotricidade é uma ciência ampla,
em desenvolvimento constante, e que os profissionais da saúde e educação que
possuem contato com pacientes TEA necessitam adentrar.
Outro fator importante e que vale ressaltar é que existem avaliações e ações
específicas do psicomotricista – profissional especializado latu sensu em
Psicomotricidade, sendo a Psicomotricidade uma profissão. Muito se versa nos
conselhos de Psicologia e na sociedade Brasileira de Psicomotricidade, órgãos
responsáveis por nortear a profissão.
Portanto, visto a importância desta ciência no desenvolvimento da criança com
TEA, concomitante a complexidade, amplitude e importância da atuação do
psicomotricista é necessário que as estratégias elencadas para atuar com a criança
possuam objetivos, comprovação de eficiência e eficácia, assertividade, que sejam
pensadas considerando e respeitando a singularidade de cada criança e que
proporcionem além do desenvolvimento dos aspectos psicomotores, um momento
agradável e satisfatório para a criança autista.

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