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UNIVERSIDADE PAULISTA

ERIKA E. SCHEEPMAKER DE ASSUMPÇÃO - RA: F087883


KAROLINE LOISE F. DE MORAES - RA: D9004J5
MELISSA CRUYER DOS SANTOS - RA: D934007
PAMELA THAÍS DE MELO - RA: T098300
PAULA SABA RODRIGUEZ - RA: F116514
SAMIRA RICARTE - RA: T8839G6
VIVIANE SILVA DIAS - RA: F116549

UM OLHAR AO CUIDADOR:
Uma pesquisa sob a ótica da vivência de mães pós diagnóstico do filho autista

SANTANA DE PARNAÍBA

2023
ERIKA E. SCHEEPMAKER DE ASSUMPÇÃO - RA: F087883
KAROLINE LOISE F. DE MORAES - RA: D9004J5
MELISSA CRUYER DOS SANTOS - RA: D934007
PAMELA THAÍS DE MELO - RA: T098300
PAULA SABA RODRIGUEZ - RA: F116514
SAMIRA RICARTE - RA: T8839G6
VIVIANE DIAS OLIVEIRA - RA: F116549

UM OLHAR AO CUIDADOR:
Uma pesquisa sob a ótica da vivência de mães pós diagnóstico do filho autista

Trabalho de revisão literária, apresentado à


disciplina de Pesquisa de Campo em
Psicologia, do Curso de Psicologia, da
Universidade Paulista.

Orientador: Prof. Hélio Braunstein

SANTANA DE PARNAÍBA

2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO TEMÁTICA .......................................................................


2 HIPÓTESE .....................................................................................................

3 JUSTIFICATIVA ..........................................................................................
4 OBJETIVOS ..................................................................................................
4.1 Objetivo geral .................................................................................................
4.2 Objetivos específicos ......................................................................................
5 RELEVÂNCIA ..............................................................................................

6 METODOLOGIA ..........................................................................................
6.1 Sujeitos beneficiários .....................................................................................
6.2 Instrumentos da coleta de dados ..................................................................
6.3 Procedimentos e estratégias de pesquisa .....................................................
6.4 Procedimentos éticos .....................................................................................
REFERÊNCIAS .............................................................................................
4

1 INTRODUÇÃO TEMÁTICA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classificado de acordo com o DSM V –


Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais como um transtorno do
neurodesenvolvimento. Neste manual, as características diagnósticas estão descritas como
segue:
As características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízo
persistente na comunicação social recíproca e na interação social e padrões restritos
e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sintomas estão
presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento
diário. O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo com
características do indivíduo e seu ambiente. Características diagnósticas nucleares
estão evidentes no período do desenvolvimento, mas intervenções, compensações e
apoio atual podem mascarar as dificuldades, pelo menos em alguns contextos.
Manifestações do transtorno também variam muito dependendo da gravidade da
condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica; daí o uso do
termo espectro. O transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados
de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto
funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra
especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger. (APA,
2014, p.97).

Com a prevalência de casos de autismo nos últimos anos, se faz necessário o estudo e
entendimento dos fatores que podem ter colaborado com o que apontam as estatísticas. Em
um curto período houve um aumento significativo de casos de autismo diagnosticados,
atingindo uma em cada 68 crianças. (ALMEIDA; NEVES, 2020).
De acordo com Almeida e Neves (2020) uma das razões que justificam esse aumento
são as diversas nomenclaturas e abrangentes classificações de transtornos que foram sofrendo
modificações no passar dos anos, conforme as atualizações do DSM:

Por meio de estudos, o ADDM (Autism and Developmental Disabilities Monitoring)


permite acompanhar a evolução dos diagnósticos da doença a cada biênio. Na
primeira investigação, realizada no ano 2000, havia um autista para cada 150
crianças examinadas (uma prevalência igual a 0,66%). Na segunda pesquisa, em
2002, o número se manteve. No entanto, a partir de 2004, os números se tornaram
consideravelmente maiores, de forma que a última estimativa apontou um autista
para cada 68 crianças, perfazendo a prevalência igual a 1,47%. De acordo com os
dados divulgados pelo CDC (2010), o valor de prevalência de TEA em 2010 foi
duas vezes maior que nos dois primeiros anos da pesquisa, 2000 e 2002
(ALMEIDA; NEVES, 2020, p. 3).

Fombonne (2003, apud ALMEIDA; NEVES, 2020, p.3) cita previsibilidade de


aumento até 2050, de diagnósticos no futuro, com a presciência de um aumento de 42,7%, isto
é, 76.000 crianças menores de 5 anos a mais com TEA nos EUA.
5

É importante levar em consideração que "grande parte dos estudos sobre prevalência
são realizados na Europa e Estados Unidos, sendo que muitos países não dispõem desses
dados tão bem documentados, incluindo o Brasil" (ALMEIDA; NEVES, 2020, p.4).
Desde as primeiras aparições, há 65 anos atrás, o conjunto de sintomas do autismo
vem se desdobrando e sofrendo modificações. Inicialmente considerada uma psicose infantil,
o transtorno já apontava prejuízos nas habilidades sociais, comportamentais e na
comunicação. No ano de 1952, o DSM reconhecia o quadro como esquizofrenia, sendo
posteriormente atualizado como esquizofrenia de tipo infantil. Após 12 anos, surgem novas
revisões com subcategorias até chegar à atualidade.

Na década de 1980, com a publicação do DSM-III (American Psychiatric


Association, 1980) e sua revisão, o autismo infantil aparece como uma subcategoria
da classe diagnóstica de Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID). Com a
chegada do DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994), integram-se aos
TID, juntamente ao autismo infantil, as subcate- gorias de Síndrome de Rett,
Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno
Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação. Na atualidade, todos esses
transtornos, exceto a síndrome de Rett, foram fundidos em um único denominado
TEA (American Psychiatric Association, 2013) (ALMEIDA; NEVES, 2020, p. 4).

Diante das modificações e abrangência de uma gama de sintomas e transtornos em sua


trajetória, consequentemente aumentou o número de casos. “Assim, em menos de quinze
anos, a noção de ‘Transtorno Invasivo do Desenvolvimento’ substituiu a noção de psicose
infantil, com um foco crescente no autismo” (BURSZTEJN, 2016 apud ALMEIDA; NEVES,
2020, p. 16).
Além das revisões do DSM ao longo do tempo, o rompimento com a psicanálise traz
uma nova visão e descrição para o transtorno. Ao contrário da psicopatologia, a psiquiatria
traz uma necessidade de que os critérios sejam observados e medidos dentro de classificações
com parâmetros, reduzindo, assim, espaço para observações teóricas que não são possíveis
serem medidas (DUNKER; KYRILLOS NETO, 2011, apud ALMEIDA; NEVES, 2020, p.5).
A necessidade dessa nova visão é justificada em função da dificuldade de um profissional ou
pesquisador não entender a linguagem do outro, sendo preciso neutralizar e operacionalizar o
manual. Entretanto, após modificações, tornando o manual mais organizado e padronizado,
entende-se que uma face do sujeito e do observador foram negligenciadas, “a abordagem da
terceira versão deste manual psiquiátrico nega que a escuta e o olhar são sempre
condicionados pela dimensão subjetiva daquele que olha e escuta um sujeito”
(PEREIRA,1996 apud ALMEIDA; NEVES, 2020, p.5).
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O termo transtorno adotado pelo DSM, que advém de disorder, resulta em um


entendimento da necessidade de querer colocar algo no lugar que está errado, em desordem,
sendo necessário discutir essa visão da cisão do que é patológico e o que é normal (LÓPEZ;
SARTRI,2013 apud ALMEIDA; NEVES, 2020).
Diante disso, Almeida e Neves (2020) buscam analisar em que campo ocorre o
aumento de crianças diagnosticadas com autismo, destacando o que acontece nos campos
psiquiátrico e social que contribuem para esse aumento. É importante considerar a
subjetividade do indivíduo, pois sem isso, há o risco de práticas baseadas em uma
normatização que podem levar à medicalização e exclusão do sujeito de seu próprio
sofrimento. Com isso, a patologização precoce do autismo pode levar a uma visão limitada da
criança, focada apenas na doença (JERUSALINSKY, 2015 apud ALMEIDA; NEVES, 2020).
Almeida e Neves (2020) dissertam sobre a precocidade do diagnóstico e sua
vinculação à patologia:
Por um lado, o diagnóstico feito a tempo pode beneficiar a intervenção precoce. Por
outro, há o risco de, se feito de modo fechado, beneficiar a colagem à patologia. Isso
pode induzir que se estabeleça a criança em uma posição estática, fixada a traços
patológicos, sem conceder espaço para a intervenção que analisa as possibilidades
da construção subjetiva (ALMEIDA; NEVES, 2020, p. 6).

Resumindo, são variados os fatores que podem estar contribuindo para o aumento da
prevalência do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entre eles, incluem-se mudanças nos
critérios de diagnóstico, uma maior conscientização dos pais e da sociedade em relação ao
autismo e suas manifestações clínicas.
No entanto, o diagnóstico do autismo pode levar meses e até anos por várias razões.
Primeiro, os sintomas do autismo podem variar amplamente entre as pessoas e podem se
manifestar de forma múltipla em crianças e adultos. Em segundo lugar, o processo de
diagnóstico pode incluir várias etapas, como uma avaliação do desenvolvimento e
comportamento da criança em diferentes ambientes, avaliação psicológica, avaliação médica,
muitas entrevistas com os pais e cuidadores. Essa avaliação completa pode levar tempo e
demanda uma equipe multidisciplinar, incluindo pediatras, neurologistas, psiquiatras,
psicólogos e fonoaudiólogos. Em terceiro lugar, alguns sintomas do autismo, como
dificuldades na comunicação e interação social, também podem ser fruto de outras condições
médicas. Isso pode levar, tanto os pais, como os profissionais de saúde a não reconhecerem os
sintomas do autismo ou subestimá-los como sendo simplesmente comportamentos
inadequados ou estranhos.
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Alguns dos aspectos que retardam o diagnóstico imediato do autismo remete-se,


possivelmente, a inexistência de exames específicos para a síndrome, sendo ele
baseado no histórico da criança. Somado a esta questão pontua-se a variabilidade
dos sintomas e ausência de treinamentos específicos de profissionais para lidar com
o distúrbio. (PINTO et al., 2016, p. 5).

Embora o diagnóstico preciso e o mais precoce possível seja essencial para garantir
que a criança autista receba o suporte adequado para maximizar seu potencial e melhorar sua
qualidade de vida, também é importante que o diagnóstico tenha uma abordagem cuidadosa e
individualizada.
O momento do diagnóstico pode ser um momento complexo, desafiador e delicado
para a família da criança autista. É comum que os pais de crianças diagnosticadas com TEA
experimentem “um conjunto de sensações e sentimentos diversos, a exemplo da frustração,
insegurança, culpa, luto, medo e desesperança” (PINTO et al., 2016, p. 3). Todos esses
sentimentos podem ser intensificados pela crença de que algo "deu errado" com o
desenvolvimento da criança e pela preocupação com o futuro dela.

O diagnóstico de uma doença crônica no âmbito familiar, especialmente em se


tratando de crianças, constitui uma situação de impacto, podendo repercutir na
mudança da rotina diária, na readaptação de papéis e ocasionando efeitos diversos
no âmbito ocupacional, financeiro e das relações familiares. Frente ao momento de
revelação da doença ou síndrome crônica, a exemplo do TEA, a família comumente
perpassa por uma sequência de estágios, a saber: impacto, negação, luto, enfoque
externo e encerramento, as quais estão associadas a sentimentos difíceis e
conflituosos (PINTO et al., 2016, p. 2).

Além disso, “o impacto de um diagnóstico de uma doença pode propiciar à família a


vivenciar as mesmas fases do luto, inclusive a negação, sendo estas uma adaptação pelas quais
perpassam as pessoas quando perdem algo almejado ou significativo” (PINTO et al., 2016, p.
4).
Segundo Pinto et al. (2016) a recusa dos familiares em aceitar que a criança possa ter
uma condição patológica pode ser explicada pelo receio do desconhecido, do afastamento
social e do preconceito da sociedade. Isso ocorre porque o estigma e a segregação associados
a uma criança com deficiência podem ter efeitos negativos, especialmente quando ocorrem
dentro do ambiente familiar. Essa negação também pode ser motivada pela ansiedade, falta de
conhecimento sobre o TEA, preocupações sobre futuro da criança, entre outros fatores.
A recusa pela família também é alimentada pela demora na obtenção do diagnóstico
clínico do TEA. Durante o período em que não há um diagnóstico conclusivo, os pais podem
nutrir a esperança de que o problema da criança seja simples e transitório, mesmo diante de
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evidências clínicas indicando o contrário. Essa esperança pode criar falsas expectativas e
dificultar a aceitação da realidade, quando o diagnóstico finalmente é estabelecido (PINTO et
al, 2016).
De acordo com Klinger et al. (2020) a negação do diagnóstico de autismo pelos pais
pode levá-los a uma busca incessante por avaliações e tratamentos que possam curar a
condição de seus filhos. Diante disso, para abordar efetivamente a criança autista, é
fundamental envolver toda a família no processo de intervenção, de modo a promover a
aceitação da condição e abandonar a culpa, favorecendo um posicionamento responsável
frente aos cuidados com os filhos.
Além disso, segundo Klinger et al. (2020) proporcionar um suporte acolhedor aos pais
que receberam o diagnóstico de TEA para seus filhos é crucial. Esse atendimento pode
facilitar a aceitação do diagnóstico e permitir que eles passem pelos estágios de luto com
maior fluidez, os quais seguem uma sequência previsível de fases.
O Transtorno do Espectro Autista afeta a maneira como uma pessoa interage
socialmente, processa informações sensoriais e se comunica. As pessoas com TEA podem ter
dificuldade em se comunicar verbalmente e não verbalmente, bem como em compreender e
responder às emoções e expressões faciais das outras pessoas. Também podem apresentar
sensibilidades sensoriais, como hipersensibilidade a sons ou texturas, além de
comportamentos repetitivos ou restritivos. O autismo é uma condição que se manifesta em
diferentes graus e de maneiras diferentes em cada pessoa, por isso se fala em espectro autista.

Depois de décadas de pesquisa sobre o desenvolvimento e intervenção precoce em


crianças com TEA, aprendemos bastante sobre o gênero de dificuldades que as
crianças pequenas com autismo sentem. Pode ser-lhes difícil prestar atenção às
pessoas à sua volta, incluindo a linguagem e as atividades dessas pessoas. É-lhes,
muitas vezes, difícil partilhar os sentimentos - felicidade, fúria, tristeza, frustração -
com as outras pessoas, enviando mensagens emocionais aos outros através das suas
expressões faciais, gestos e sons ou palavras. Experimentam uma gama completa de
emoções, mas podem não as partilhar de uma forma que seja fácil de entender
(ROGERS et al., 2015, p. 19).

As necessidades de uma criança autista podem variar de acordo com as características


individuais de cada criança. Segundo Rogers et al. (2015) cada criança com TEA tem um
conjunto de desafios e de dons especiais e particulares de cada uma. Assim como uma criança
com desenvolvimento típico, a criança autista terá sua própria personalidade, seus próprios
gostos, talentos e desafios, mas existem algumas necessidades comuns que são importantes de
serem atendidas.
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Uma dessas necessidades é a comunicação. Muitas crianças autistas têm dificuldades


para se comunicar, tanto para compreender como para se expressar, o que pode levar ao
isolamento dessas crianças. Sendo assim, é importante que sejam oferecidos as ferramentas e
o suporte necessários para que elas possam se comunicar de forma eficaz. Segundo Rogers et
al. (2015, p. 19) as crianças autistas “muitas vezes não usam muitos gestos para comunicar e
parecem não compreender o gesto dos outros” e, além disso, é muito difícil o
desenvolvimento da fala e da resposta à fala de outras pessoas (ROGERS et al., 2015).
Outra necessidade importante é rotina e previsibilidade. Crianças com TEA tendem a
se sentir mais seguras e confortáveis em ambientes que são previsíveis e têm rotinas
estabelecidas. Sendo assim, oferecer uma rotina previsível e estruturada auxilia na redução do
estresse e da ansiedade das crianças com autismo.
A sensibilidade sensorial é outra necessidade bastante prevalente nas crianças com
TEA, as quais podem ser hiper ou hiposensíveis a estímulos sensoriais, como o som, o toque e
a luz. Por isso é fundamental estar atento às necessidades sensoriais da criança e fornecer um
ambiente que seja adaptado e adequado, ajudando a reduzir a sobrecarga sensorial.
Outra necessidade das crianças com TEA é a habilidade social. Elas têm dificuldade
para entender e se envolver em interações sociais. De acordo com Rogers et at. (2015, p. 19)
“muitas crianças com autismo gostam de brinquedos, mas, geralmente, brincam com eles de
um modo invulgar, e a sua forma de brincar pode ser muito repetitiva”. É, portanto,
fundamental oferecer oportunidades para a criança praticar habilidades sociais e interagir com
outras crianças, o que irá ajudá-la a desenvolver suas habilidades sociais.
Crianças com autismo muitas vezes enfrentam desafios emocionais, por isso o apoio
emocional é primordial. Elas podem apresentar ansiedade e dificuldades com regulação
emocional. É essencial fornecer apoio emocional para ajudar a criança a lidar com esses
desafios.
Também não é invulgar que as crianças com TEA tenham ‘comportamentos
desafiadores’. Estes comportamentos desafiadores também são observados nas
outras crianças, mas as crianças pequenas com autismo não respondem à forma
típica como os pais tentam ensinar-lhes a comportar-se. Podem fazer birras, bater
nas outras pessoas ou mesmo morder-lhes; destruir objetos e, por vezes, magoarem-
se a si mesmas (a isto dá-se o nome de comportamento de autolesão) (ROGERS et
al., 2015, p. 19).

Por fim, concluindo as necessidades comuns de crianças com TEA, elas precisam de
acesso a terapias e intervenções específicas para desenvolver suas habilidades e lidar com seus
desafios. É importante garantir que a criança tenha acesso a essas terapias e intervenções para
ajudá-la a alcançar todo o seu potencial. Para Rogers et al. (2015, p. 20) “muitos estudos, (...),
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mostraram que uma intervenção precoce pode ser tremendamente útil para as crianças com
TEA, resultando em ganhos significativos nas competências de aprendizagem, de
comunicação e sociais”.
Embora não exista cura para o TEA, as intervenções e terapias podem ajudar a
melhorar a qualidade de vida das pessoas com o transtorno. A terapia comportamental é uma
abordagem que ajuda as pessoas com TEA a desenvolver habilidades sociais e de
comunicação, além de lidar com comportamentos repetitivos e estereotipados. A terapia
comportamental mais comum é a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Já a terapia
ocupacional pode ajudar as pessoas com TEA a desenvolver habilidades sociais e emocionais,
bem como estimular a sua autonomia e independência, tanto em casa, como na escola. O
acompanhamento com fonoaudiólogo é um importante suporte que ajuda a melhorar as
habilidades de comunicação verbal e linguagem, além de ampliar o vocabulário e melhorar a
entonação de voz, já que a prosódia é algo desafiador para pessoas com o transtorno. A
fisioterapia ajuda a desenvolver e a melhorar toda coordenação motora grossa, como andar, se
sentar, ficar de pé, tocar objetos etc. Com isso, a pessoa com TEA consegue se envolver
socialmente com mais confiança e segurança. O tratamento médico também pode ser
necessário, uma vez que medicamentos podem ser prescritos para tratar sintomas específicos,
como ansiedade, hiperatividade ou agressividade.
Devido às necessidades da criança com TEA que podem exigir mais tempo, energia e
recursos do que as de uma criança típica, o autismo pode ter um impacto significativo na
família, afetando sua capacidade de participar de outras atividades, cuidar de outras crianças e
até mesmo trabalhar fora de casa. “Mesmo nos graus mais leves, existem implicações
familiares, mudanças na rotina dos envolvidos e necessidade de apoio social e profissional”
(KLINGER et al., 2020, p. 123). Portanto, as necessidades de acompanhamento da criança
com TEA para seu desenvolvimento acarretam muitas mudanças na dinâmica e rotina
familiar, especialmente na relação entre os familiares, levando todos a uma nova realidade.
Cuidar de uma criança com TEA pode ser muito estressante emocionalmente para a
família. A incerteza sobre o futuro da criança, a preocupação com o bem-estar dela e a luta
para encontrar tratamentos eficazes podem ser fontes de estresse significativo. De acordo com
Rogers et al. (2015, p. 36) “os pais de uma criança com autismo têm mais propensão do que
os outros pais em experimentar ansiedade e depressão, talvez devido às preocupações e às
incógnitas que resultam de cuidar de uma criança com este diagnóstico”.
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Segundo Meimes et al. (2015) a comunicação é um dos maiores desafios enfrentados


pelos pais ao lidar com seus filhos autistas. A ausência de compreensão por parte da criança
pode gerar intenso sofrimento e frustração para os pais.
As mães, ao receberem o diagnóstico de seus filhos, mesmo as que vão atrás de uma
resposta, ainda assim, são fortemente atingidas com a nova realidade que se apresenta.
Simbolicamente enterram seu filho típico para aceitar o atípico que acaba de nascer. O
processo do diagnóstico é um luto para os pais, os quais devem ressignificar o filho
anteriormente idealizado.
O casal constrói a imagem do seu filho durante a gestação e, às vezes, até
muito antes. Suas próprias identificações, aspirações e frustrações que
constroem essa imagem do filho esperado. Porém, nem sempre as
expectativas correspondem à realidade (SCHORN, 2002 apud
CONSTANTINIDIS et al., 2018, p. 50).

Outro impacto importante nas famílias é a pressão financeira. As terapias e


intervenções necessárias para ajudar a criança com autismo podem ser caras e muitas vezes
não são cobertas por seguros de saúde ou sistemas públicos de saúde. É comum um dos pais
deixar de trabalhar para acompanhar a criança, o que traz vários impactos como financeiro,
nas relações familiares e sociais, bem como requer uma readaptação de papéis na família.
Embora o cuidado de uma criança com TEA seja uma responsabilidade que deve ser
compartilhada igualmente entre os pais, muitas vezes a sobrecarga do cuidado da criança com
TEA é da mãe, a qual fica mais propensa a quadros de ansiedade e depressão, o que representa
efeitos negativos não só para ela, mas também para a criança autista (KLINGER et al., 2020).
“É a mãe quem mais faz adaptações em sua rotina para dedicar seu tempo e cuidados à criança
autista. A mãe toma para si a maior carga de responsabilidade no cuidado do filho.” (PINTO;
CONSTANTINIDIS, 2020, p. 98).

A sobrecarga materna no processo do cuidado de crianças com doenças crônicas


ocorre devido ao próprio constructo histórico-cultural estabelecido pela sociedade
reservar a figura da mulher o papel de cuidadora primária. Somada a esta questão o
vínculo afetivo pode justificar também o protagonismo materno no ato de cuidar
(PINTO et al., 2016, p. 7).

Além de já fazer parte da expectativa social das mulheres exercerem com excelência o
papel estereotipado de mãe e do amor incondicional que esta deve para seu filho
(GUTIERREZ; MINAYO, 2009 apud CONSTANTINIDIS et al., 2018, p. 54), podemos
observar que o divórcio é algo que a mulher muitas vezes tem que enfrentar, pois ao tomar a
frente da situação e carregar para si a maior parte da responsabilidade, acaba deixando de lado
12

seu papel de esposa. Mesmo os maridos que tentam trazê-las de volta para a relação, se
frustram por elas estarem mergulhadas no universo de seus filhos. Além disso, as demandas
emocionais e físicas da criança com autismo podem fazer com que os pais ou cuidadores se
sintam exaustos e sobrecarregados, “além de intimidade marital menor do que as mães de
crianças com desenvolvimento típico” (BOSA, 2006, p. 51) o que pode levar a conflitos e
tensões no relacionamento.

[...] não abrindo espaço para outros prazeres, para a sexualidade. Nesse cotidiano
compartilhado com o filho com autismo, as mães perdem sua própria história e
passam a viver a história do filho e não veem sentido na tentativa de resgate de
outras possibilidades em ser mulher, realizadas por seus parceiros
(CONSTANTINIDIS et al., 2018, p. 55).

A centralização do cuidado da criança com TEA assumido pela mãe em função das
inúmeras necessidades impostas pelo autismo, provocam também a abdicação de sua carreira
profissional e a necessidade em dividir sua atenção entre os outros filhos, marido e tarefas
domésticas, o que pode gerar importantes consequências físicas e mentais e aumentar o
isolamento social (BOSA, 2006).

Essa dedicação traz sobrecarga física e emocional, tanto com os cuidados


gerais do filho com autismo como também com todas as outras tarefas do dia,
como os cuidados com a casa, atenção aos outros integrantes da família e,
ainda, o seu emprego (CONSTANTINIDIS et al., 2018, p. 53).

As mães de crianças com alguma condição crônica enfrentam várias dificuldades,


como a insegurança em lidar com as demandas do filho, a falta de apoio social e conjugal e a
possível limitação da rede de saúde. Esses fatores interdependentes podem levar ao
agravamento da condição tanto da família quanto da criança. Além disso, a falta de apoio do
pai pode aumentar os sentimentos de desamparo e de solidão da mãe que está sobrecarregada
com os cuidados do filho autista. Quando os pais não colaboram no cuidado com a criança, os
níveis de estresse parental tendem a aumentar, o que pode exacerbar os sintomas da criança e
dificultar a adaptação (PINTO; CONSTANTINIDIS, 2020).
A participação paterna nos cuidados da criança autista, muitas vezes está relacionada
ao sustento da criança e da família, “ficando o cuidado restrito para dias e horários
específicos” (PINTO et al., 2016, p. 8), o que o torna pouco participativo e presente nos
cuidados necessários dessa criança.
13

Por isso, a família extensa de uma criança com TEA pode ter um papel fundamental no
apoio à família nuclear. A família extensa inclui avós, tios, primos e outros parentes que
possam ser a rede de apoio para a criança, sua família e, principalmente para a mãe. Eles
podem ajudar a proporcionar um ambiente seguro e acolhedor para a criança com TEA, além
de fornecer uma ajuda prática, como auxílio com tarefas diárias e atividades rotineiras.
Podem, também, oferecer suporte emocional para os pais da criança, apoiando e ajudando a
lidar com o estresse e a incerteza que muitas vezes acompanham o diagnóstico de autismo.

Diante, da sensação de sobrecarga física e emocional vivenciada pelos pais de


crianças autistas, quanto maior o apoio da família extensa menos sobrecarregada fica
a família nuclear, pois existe um compartilhamento de responsabilidades que
aparece como solidariedade entre os membros. Nesse sentido, o suporte social dos
parentes tem sido apontado como importante fator de apoio às famílias de autistas
(KLINGER et al., 2020, p. 128).

No entanto, muitas famílias sofrem com o afastamento da família extensa em função


de diversos fatores como: falta de compreensão ou aceitação da condição de autismo da
criança, dificuldade de lidar com o comportamento da criança com autismo, diferenças
culturais, entre outros. Esse afastamento agrava ainda mais as consequências emocionais que
a família atravessa e traz uma sensação maior de desamparo, mas infelizmente é realidade
para muitas famílias com crianças com TEA.
O isolamento social pode ser também uma das dificuldades enfrentadas pelas famílias,
pois cuidar de uma criança com autismo pode tornar mais difícil o envolvimento em
atividades sociais, como ir a eventos ou visitar amigos e familiares. Falta de compreensão,
apoio da comunidade e o medo de julgamento e críticas estão entre os principais motivos do
isolamento social das famílias.

Além das dificuldades apresentadas, os cuidados com a criança autista e seus


comportamentos geram um problema de cunho maior para as famílias – o
isolamento social –, pois, em uma tentativa de poupar os filhos dos olhares
discriminatórios ou mesmo da falta da compreensão por parte das outras pessoas,
acabam por restringir-se a ficar em casa (ZANATTA et al., 2014, p. 276).

Infelizmente, as pessoas com TEA podem enfrentar vários tipos de preconceitos e


discriminações o que dificulta ainda mais sua inclusão social. Alguns dos preconceitos mais
comuns que os autistas enfrentam incluem: preconceito social, discriminação escolar e
estigma de saúde mental.
14

Uma vez que as pessoas com autismo muitas vezes têm dificuldades em se relacionar
com os outros, isso pode levar a estereótipos e preconceitos sociais. Elas podem ser rotuladas
como estranhas ou distantes e podem ter dificuldades em fazer amigos e em se envolver em
atividades sociais. “É muito difícil para os pais, especialmente para as mães, vivenciarem
essas diferenças. Para elas, perceber que as pessoas se sentem incomodadas pela presença da
criança autista constitui um gesto de preconceito” (PINTO et al., 2016, p. 5).
Os sofrimentos subjacentes das dificuldades dos pais por não saberem lidar com
comportamentos disfuncionais e estereotipados da criança no meio social, enfrentando
preconceito desencadeado por tais comportamentos, impactam em uma vida cotidiana solitária
para a mãe (PINTO; CONSTANTINIDIS, 2020).
A discriminação escolar também pode acontecer, já que as crianças com TEA podem
ser excluídas ou ignoradas por seus colegas ou professores, o que pode prejudicar seu
desempenho acadêmico, além de sua autoestima. Crianças autistas muitas vezes precisam de
suporte adicional na escola para ajudá-las a lidar com as dificuldades acadêmicas e sociais. No
entanto, no Brasil ainda há muitos desafios para a inclusão de crianças autistas nas escolas,
seja pela falta de capacitação de profissionais, seja pela falta de infraestrutura adequada.
Além disso, como o TEA é uma condição de saúde mental, as pessoas autistas muitas
vezes enfrentam preconceito e o estigma relacionados à saúde mental. Elas podem ser vistas
como anormais, esquisitas ou loucas, o que pode prejudicar ainda mais sua inclusão social.
O tema sobre autismo já foi pesquisado por alguns autores, inclusive, de acordo com
Goulart e Assis (2002), houve um aumento significativo nas pesquisas científicas relacionadas
ao autismo em suas diferentes áreas, tanto em busca de como o autismo se manifesta e
estratégias para o tratamento. Contudo, além do avanço das pesquisas sobre o transtorno e
possíveis aprimoramentos de tratamentos e acompanhamentos, ainda se faz necessário o
acolhimento dos cuidadores.
De acordo com Klinger et al (2020), o suporte profissional durante e após o
diagnóstico, é necessário para a família, em especial para a mãe, explicando parâmetros de
buscas de apoio, bem como direitos, oferecendo, consequentemente, a sensação de
acolhimento. Pinto e Constantinidis (2020) concordam com tal afirmação e ainda
complementam dizendo que muitas vezes os profissionais se omitem de tal responsabilidade.
O próprio Ministério da Saúde, Brasil (2000) expõe sobre a importância do olhar
profissional direcionado à família dos autistas, que necessitam de escuta e fortalecimento
psicológico, já que pouco se sabe sobre as necessidades e conflitos que eles vivem, por sua
singularidade no mundo. De acordo com os estudos de Pinto et al. (2016), se faz necessário
15

para o processo como um todo, oferecer acolhimento e informação por parte dos profissionais,
trazendo, assim, a possibilidade de transformar as informações que podem reverberar
negativas, soarem de uma forma mais natural e positiva, possibilitando assim um senso de
esperança e coragem nas tomadas de decisões para o tratamento e enfrentamento dos
problemas que poderão vir a surgir com o diagnóstico. É preciso ainda que tais profissionais
possuam o conhecimento quanto à sobrecarga e sofrimento dos pais, e estarem preparados
para auxiliar e reconhecer não somente o sofrimento da criança, como o sofrimento e desafios
da família.
 
Foi percebido que o acolhimento de cuidadores de crianças com TEA é fundamental
para a formação de vínculos e responsabilização do diagnóstico precoce e
intervenção imediata por parte da família e profissionais de saúde/equipe. É também
uma forma de agrupar diferentes conhecimentos, facilitando a percepção das reais
necessidades da criança. A sensibilidade do acolhimento deve ser evidenciada, pois
são nesses espaços que os responsáveis se encontram mais fragilizados diante do
estresse físico e emocional da fase de adaptação ao diagnóstico, que oscila entre a
rejeição e aceitação (OLIVEIRA, et al., 2020, p. 191).

Segundo Bosa (2006), a falta de suporte aos pais fomenta preocupações que
repercutem no desenvolvimento da criança. Mesmo quando há mais de um autista na família,
existe a necessidade de um auxílio personalizado para cada tipo de cuidador, pois cada caso
pode apresentar peculiaridades no que diz respeito às necessidades e expectativas. Além
disso, Bosa (2006) aborda também a importância de esclarecer o tipo de tratamento, bem
como suas vantagens e desvantagens, visto que um dos fatores que mais causam estresse à
família é o diagnóstico demorado e muitas vezes incerto.

Os grupos terapêuticos possuem suma importância dentro das famílias, como ressalta
Verdi (2003) quando explana sobre ser uma tentativa de ampliar o pensamento, visando uma
recomposição de estruturas do vínculo familiar, ajudando no desenvolvimento mental dos pais
e dos filhos. Falar de suas vivências com seus filhos dava aos pais sentido de realidade e a
troca auxiliava-os acerca do reconhecimento de si mesmos e de outros como pais, bem como
trazer o inusitado das situações em palavras aliviava a tensão, trazendo até mesmo o riso ao
grupo.

Contudo, o suporte não deve advir apenas dos grupos terapêuticos, mas devem ser
incluídos nas entidades públicas, aumentando a quantidade locais que apoiam as famílias e os
autistas. Além de encontrar suporte nas instituições, Zanatta et al (2014) evidencia que
grupos como a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) proporcionam que os
pais consigam dividir suas experiências e perceber que compartilham problemas similares.
16

Tais grupos permitem que eles exponham seus sentimentos, anseios, frustrações e que
encontrem apoio junto aos profissionais que atendem lá. Muitas vezes, esse é o único espaço
onde os pais podem compartilhar suas vivências, pois é difícil realizar esse tipo de partilha
com outros familiares ou amigos.

Pesquisas como a realizada pela UESPI, evidencia o acolhimento das famílias de


autistas através de um projeto em que:

A descrição das atividades é feita através de um relato de experiência


reflexivo, redigido de acordo com as práticas de acolhimento vivenciadas em
um projeto de extensão universitária de orientações a cuidadores de pessoas
com Transtorno do Espectro Autista. A experimentação e a sustentação do
acolhimento como prática de educação em saúde revelam-se exitosa,
consolidando o conhecimento da academia em práticas extramuros. Diante
do exposto, conclui-se que a utilização de metodologias sensíveis e criativas
de acolhimento, com base na educação popular em saúde e expressões
artísticas, é de grande valia (OLIVEIRA, et al., 2020, p. 188).

Segundo Oliveira et al. (2020), este projeto acontece uma vez por mês, tendo sua
divulgação através das redes sociais e imprensa local (rádio e TV), onde os encontros que
consiste em um roteiro que contempla: acolhimento, roda de conversa e encerramento. Há um
espaço de diálogo onde os cuidadores de crianças com TEA são orientadas por profissionais
competentes. Além disso, no intuito de promover a educação popular em saúde, o projeto se
utiliza da música, dança, teatro e cenopoesia.
Além disso, é perceptível que tal acolhimento ocorrido no projeto, influencia no papel
que os cuidadores adotam no processo:

(...) nota-se que acolher vai muito além de boas-vindas; trata-se de


demonstrar afeto e cuidado com o outro, tornando o ambiente mais leve e
sereno de modo que as pessoas se sintam à vontade para participar e
compartilhar suas vivências, interagindo dinamicamente com o grupo e
tornando-se usuários ativos no processo de recepção (OLIVEIRA, et al.,
2020, p. 192).

Almeida e Neves (2020) ainda discutem a relação entre deficiência e transtorno mental
no âmbito das políticas públicas. De acordo com Batista (2013 apud ALMEIDA; NEVES,
2020, p.7), durante muito tempo, deficiência e loucura foram consideradas a mesma coisa,
seguindo as teorias de Pinel e Itard. Somente com Esquirol essa tradição foi quebrada, ao
separar idiotia e loucura. A primeira considerada como incurável, enquanto a segunda poderia
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ser curada. A autora ainda destaca que a forma como a sociedade encara o louco e o deficiente
é muito diferente, com o louco sendo visto como predestinado e o deficiente como
monstruoso (BATISTA, 2013 apud ALMEIDA; NEVES, 2020, p.7). Esse estigma ainda
persiste, especialmente em relação à deficiência, que é vista como orgânica e incurável. No
entanto, muitos pais preferem entender seus filhos autistas como deficientes em vez de
associá-los a psicoses infantis. Isso gera um debate epistemológico sobre se o autismo
pertence ao campo da deficiência ou transtorno mental. Essas posições têm efeitos
significativos nas políticas públicas, como é o caso do Brasil.
Em termo de políticas públicas, o Ministério da Saúde lançou em 2013 duas cartilhas
para assistência ao autismo. Documentos que trouxeram desconformidade a atenção à pessoa
autista, visto que eles foram lançados pelo mesmo órgão.

O primeiro, intitulado de Diretrizes, está inserido na Rede de Cuidados da Pessoa


com Deficiência, para o qual o tratamento adequado é a reabilitação. O segundo,
intitulado como a Linha de Cuidado, situa o autismo na atenção psicossocial no
campo dos transtornos mentais e sugere que o atendimento aos autistas seja
realizado na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS (Oliveira, 2015 apud
ALMEIDA; NEVES, 2020, p. 8).

A população de TEA no século passado estava excluída dos cuidados relacionados à


saúde, formando-se um campo de deficiência ou transtorno, com isso os próprios familiares
precisaram montar os primeiros serviços de assistência através de ONG’s (ALMEIDA;
NEVES, 2020).
Segundo Almeida e Neves (2020), a inclusão do autismo como deficiência, trouxe para
as famílias alguma segurança, pois podem contar com o apoio da Lei orgânica de Assistência
Social (LOAS), que lhes garante o benefício de um salário-mínimo. “Esse benefício pode ser
um elemento externo que caracteriza para a família um lugar seguro e estável diante da
instabilidade na convivência com um filho, muitas vezes, qualificado como estranho"
(ALMEIDA; NEVES, 2020, p.8).

2 HIPÓTESE
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• As mães de alta renda podem terceirizar os cuidados de seus filhos a equipes


multidisciplinares, observando de fora a situação vivida por seus filhos como meras
expectadoras, fugindo do sofrimento direto e absorvendo um sofrimento indireto de culpa.
• As mães de baixa renda, muitas vezes trabalham o dia inteiro em busca de um salário-
mínimo, tem de abandonar seus empregos e viver uma dedicação diária a seus filhos até o
limite da exaustão, em busca de melhoras na qualidade de vida deles.
• Outros fatores podem representar algumas relevâncias para essa pesquisa, como a não
aceitação dos pais por vergonha em terem filhos autistas e a necessidade do acolhimento por
parte do profissional.

3 JUSTIFICATIVA
Devido aos crescentes casos de TEA e dadas as inúmeras consequências e desafios
que trazem para as famílias, resolvemos direcionar esta pesquisa para ampliar o entendimento
dessas mães e de suas necessidades, pois são elas que sofrem os principais impactos desses
cuidados à criança autista em suas vidas.
Como estudantes de psicologia e visando manter nossos estudos voltados para o
acolhimento de pais e cuidadores, consideramos relevante compreender as questões que
envolvem o diagnóstico de TEA. Além disso, como um dos fatores é o despreparo das equipes
de saúde, entendemos ser nossa responsabilidade estarmos preparadas para colaborar tanto no
acolhimento adequado dos cuidadores, como no auxílio para um diagnóstico mais rápido.

4 OBJETIVOS DA PESQUISA

4.1 Objetivo geral

O objetivo geral dessa pesquisa é buscar entender melhor o universo das mães de
filhos diagnosticados com TEA a partir de relatos reais e espontâneos, em perfis de redes
sociais abertas período xxxx / ou a partir do ano tal/ que mães? Mesmo da metodologia e
releitura de bibliografias.
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4.2 Objetivos específicos

A partir do objetivo geral, percebemos a necessidade em compreender melhor a


amplitude das dificuldades que passam as mães após o diagnostico de seus filhos, a árdua
busca pelo diagnostico, que não é algo simples de se obter pois existem muitas duvidas
durante todo o processo, os impactos gerados na família que tem um filho autista, os
transtornos na vida pessoal, mental e financeira, os preconceitos sofridos, começando pela
própria família, que é de quem ela mais espera receber apoio, a grande necessidade de
cuidadores mais bem preparados para enfrentar o dia a dia e principalmente levantar dados e
informações especificas sobre a importância do cuidado a esta mãe.

5 RELEVÂNCIA

Pudemos observar que muitas famílias se desfazem após o diagnóstico positivo para
autismo. Mães que são abandonadas por seus parceiros, que não suportam a sobrecarga, e
ficam responsáveis, na maioria das vezes, por tudo, inclusive pela renda familiar, afetando
todos os âmbitos de sua vida. As dores e fardos que muitas delas carregam, acarretam
doenças como ansiedade e depressão. É de suma importância cooperar para que os cuidadores
tenham qualidade de vida, desde a aceitação e adaptação a essa nova realidade que os cerca.
Ampliar o campo de possibilidades dessas mães se faz não somente necessário quanto uma
obrigação por parte de nossa sociedade.
Outro fator que representa extrema relevância e que permeia a pergunta da nossa
pesquisa é em relação aos efeitos decorrentes do momento do diagnóstico e como se dá a
acolhida dessas mães pelos profissionais responsáveis, muitas vezes despreparados para a
função.

Por fim, como estudantes e futuros profissionais da área de Psicologia, o presente


trabalho constitui-se uma oportunidade no âmbito acadêmico e de pesquisa. Além disso,
ansiamos, que os aprendizados decorrentes deste esforço coletivo, sejam frutíferos na
formação acadêmica de cada membro do grupo e, também, que sejam úteis em futuros
trabalhos de pesquisa, que visem a contribuir com o constante processo de construção e
compartilhamento de saberes entre as mais variadas áreas da ciência.
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6 METODOLOGIA
Utilizamos, através do modelo meta-pesquisa, a análise do conteúdo de relatos
espontâneos de mães de crianças autistas, com o objetivo de compreender fenômenos que
trazem sofrimento psíquico a essas mães.
6.1 Sujeitos beneficiários

São beneficiados, através desta pesquisa as mães de autistas, seus filhos e


profissionais: psicólogos, neuropsicólogos, psiquiatras, neurologistas, neuropediatras e
fonoaudiólogos, que atuam no diagnóstico, tratamento e acompanhamento das crianças
autistas.

6.2 Instrumentos da coleta de dados

Buscamos dados através de meta-pesquisa, depoimentos de mães brasileiras, que usam


suas redes sociais, sites e blogs, como ferramenta de comunicação e desabafo sobre as
dificuldades que abrangem desafios do cotidiano pós diagnóstico e fases do desenvolvimento
do filho autista.

6.3 Procedimentos e estratégias de pesquisa

Selecionamos 5 relatos de mães para compor nossa pesquisa tendo como foco, além
dos relatos espontâneos, conteúdos e experiências que informam como foi para estas mães
receberem o diagnóstico de autismo e as transformações de suas vidas e cotidianos.
As palavras chaves e frases usadas para a busca no navegador e Instagram (perfis
públicos), foram: “desabafo", “mãe com filho autista", "relato de mães com filhos autistas",
"diagnóstico filho autista" e "cotidiano de mães com filhos autistas".
Os relatos foram acessados no dia 03/05/2023, e o período de publicação deles são de
2017 a 2022.

6.4 Procedimentos éticos


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Utilizamos como base, as regras e diretrizes da resolução no 510, de 07 de abril de


2016. Essa pesquisa não foi desenvolvida através de coleta de dados junto a sujeitos, sendo
assim, não houve necessidade de aprovação do CONEP.
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REFERÊNCIAS

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