Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
1
Psicóloga formada pela Faculdade Integral Diferencial – FACID. Especialista em Saúde Mental – Novafapi.
Especialista em Psicologia Clínica – FSA. Especializanda em Psicoterapia Corporal – CENSUPEG.
Especializanda em Psicanálise com crianças e adolescentes – IPOG. Mestra em Psicologia pela – UNIFOR.
Docente em Psicologia – UNINASSAU ALIANÇA (Campus Redenção/ Teresina - Pi). Psicoterapeuta corporal
de adolescentes.
2
De acordo com Jerusalinsky (2004), a adolescência não é definida somente pela idade,
é um estado de espírito, o que ele descreve como um estado juvenil, indeciso, não pacífico,
que ocorre quando se está na beira de se decidir algo, de uma instabilidade perceptível.
Considera ainda, esta passagem como um estado turbulento pela angústia do adolescente
sentir que sua vida está se decidindo a todo momento, o que o aproxima da neurose de
angústia, de ordem inconsciente.
Dessa maneira, este estudo problematiza as principais contribuições das Psicoterapias
Corporais às pesquisas e intervenções psicoterapêuticas com adolescentes. Tem como
objetivo geral a compreensão sobre a adolescência através da Psicanálise e das Psicoterapias
Corporais e suas contribuições teórico-técnicas no manejo de intervenções psicoterapêuticas
individuais e grupais com adolescentes. Em termos específicos, intencionamos: descrever
sobre o desenvolvimento biopsicossocial à luz de teorias da Psicanálise e das Psicoterapias
Corporais e, realizar uma análise acerca das iniciativas de pesquisa e intervenção
psicoterapêuticas em Psicoterapia Corporal com adolescentes.
3
METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Este tipo de estudo é aplicado para
construir ou reconstruir teorias voltadas para a fundamentação de novos conceitos ideológicos
em busca de ideais, aprimoramento das novas bases de conhecimento e propondo condições
para que se criem intervenções (FANTINATO, 2015).
Os descritores utilizados para este estudo foram consultados nos vocabulários da
Ciências da Saúde (DeCS), são eles: “adolescência”, “psicanálise e adolescência”,
“psicoterapia corporal e adolescência”, “psicoterapia corporal com adolescentes”,
“vegetoterapia e adolescência”, “bioenergética e adolescência”, “biodinâmica e adolescência”,
“biossíntese e adolescência”.
4
Para o levantamento de dados, iniciou-se uma busca nas seguintes bases indexadoras:
Centro Reichiano de Psicologia Corporal; Revista Latino-Americana de Psicologia Corporal;
SCIELO (Scientific Eletronic Library Online).
Os critérios de inclusão delimitados foram: estudos que apresentassem relações com o
tema proposto neste estudo, publicados no período de 2000 a 2020, na língua portuguesa
brasileira, além de estudos publicados na literatura psicológica e nas bases indexadoras já
citadas acima. Assim, foram excluídas as produções que não presentavam nenhuma relação
com a temática desenvolvida nesse estudo, artigos fora das bases indexadoras adotadas, sem a
datação já estabelecida, não pertencentes à língua já citada, e coerentes com outro tipo de
literatura, que não a fosse a literatura psicológica.
Após a coleta bibliográfica, seguindo os critérios já mencionados, o material passou
por uma seleção criteriosa com uma triagem primária da leitura de títulos e resumos e, em
seguida, os mesmos foram lidos na íntegra. A pesquisadora elaborou fichamentos para
facilitar a compreensão dos mesmos. Foram localizadas 30 produções através da realização
estratégia de busca nas bases de dados e elaborado um quadro (Quadro 01) contendo algumas
informações sobre os estudos analisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para dar início aos resultados e discussões foi elaborada um quadro (Quadro 01) com
as informações sobre os artigos selecionados, como: os nomes dos autores, o título do estudo,
o ano da publicação, local do estudo, especificação e, a base nos indexadora. Depois desta
etapa, os artigos foram agrupados de acordo com os temas em comuns e também temáticas
diferenciadas ou incomuns formando dois eixos de discussão.
5
Campinas.
P. D; LEITE, T. S. Casa da estudante: 2004 Foz do Anais de Centro Reichiano de
GALVÃO, K. M; psicologia corporal em uma Iguaçu Congresso Psicologia Corporal
MACIEL, F. M. F. F. residência para estudantes
de ensino médio.
OLIVEIRA, L. G. de. Pós-modernidade e 2010 Curitiba Monografia do Centro Reichiano de
adolescência: uma reflexão Curso de Psicologia Corporal
acerca das relações do Especialização em
adolescente sob o enfoque Psicologia
da Psicologia Corporal. Corporal
REICH, W. Análise do Caráter. 2020 São Paulo Livro Editora Martins Fontes
REICH, W. Crianças do futuro: sobre a 2013 Curitiba Livro Editora São Paulo
prevenção da patologia
sexual.
ROCHA, B. Psicoterapia corporal com 2008a Curitiba Anais de Centro Reichiano em
crianças e adolescentes. Congresso Psicologia Corporal
ROCHA, B. O brinkar como 2008b Curitiba Anais de Centro Reichiano em
transformador da energia. Congresso Psicologia Corporal
ROCHA, B. Brinkando com o Corpo: 2014 São Paulo Livro Editora Arte & Ciência
técnicas de psicoterapia
corporal com crianças e
adolescentes.
PIZZI, L. M. A. O corpo adolescente na 2014 São Paulo Dissertação de Universidade Lusófona
educação: percepções Mestrado em de Humanidades e
relatadas por adolescentes a Ciências da Tecnologias - Instituto
respeito da interferência da Educação de Educação
aplicação de exercícios de
bioenergética na
aprendizagem escolar.
SACHET, A. L. D. A exigência cultural da 2004 Foz do Anais de Centro Reichiano em
sociedade aos jovens de se Iguaçu Congresso Psicologia Corporal
absterem do sexo.
SANTANA, M.; Perspectivas de atuação 2004 Foz do Anais de Centro Reichiano em
NASCIMENTO, P. D. psicossocial em psicoterapia Iguaçu Congresso Psicologia Corporal
corporal: relato de
experiência com crianças e
adolescentes.
SILVA, R. C. A. da.; Adolescência – Quando 2017 Recife Artigo Revista Latino-
LIRA, D. M. de B. surgiu e para onde vai? Um Americana de
recorte histórico e Psicologia Corporal
psicossocial.
SILVEIRA, C.C.; Somatopsicodinâmica da 2017 Curitiba Anais de Centro Reichiano em
SEVERIANO, M. I. R. ansiedade Congresso Psicologia Corporal
S. patológica: um estudo de
série de casos sobre as
contribuições da técnica
massoterápica Yoga Thay
com adolescentes
identificados com
transtorno de
ansiedade generalizada em
comorbidade com
transtorno do pânico.
VOLPI, S. M. A sexualidade e sua função 2008 Curitiba Anais de Centro Reichiano em
integradora do self: uma Congresso Psicologia Corporal
visão da análise
bioenergética.
VOLPI, S. M.; A vida sexual nos anos da 2009 Curitiba Anais de Centro Reichiano em
7
Segue-se agora para a discussão dos resultados encontrados nesta pesquisa após a
seleção dos dados que o compõe, tem-se, portanto, dois eixos temáticos encontrados:
“Aspectos teóricos sobre adolescência – da Psicanálise à Psicoterapia Corporal” e “Da teoria
ao campo – iniciativas de pesquisa e intervenção em psicoterapia corporal com adolescentes”.
proibição cultural do incesto, isto ocorre sem uma definição cronológica para a ocorrência
dessa manifestação.
Diversas teorias psicanalíticas, porém, especialmente a psicanálise freudiana,
entendem que a subjetividade seja constituída através de identificações, como operações
dinâmicas e imprevisíveis às quais passam por processos de construção e reconstrução
constantes. Pensar na construção da identidade na adolescência é pensar em uma identidade
não estática, pois se refere a um processo psicológico que opera em termos da constituição do
eu, porém o sujeito vivencia a ilusão identitária de possuir uma identidade integrada e estável,
ou seja, não se trabalha aqui com a ideia de manifestações naturais na adolescência,
encaixando-a nos padrões de normalidade ou patologia.
Recorrendo a essa abordagem, Matheus (2008) afirma que o olhar do outro se insere
no psiquismo do adolescente e no seu processo de encontro consigo mesmo, no seu processo
de construção identitária, pois o outro faz parte do seu campo social, assim ele destaca:
Esse olhar e essa imagem não estão presos à concretude da realidade, uma vez que
esta é sustentada pelo campo simbólico que a fundamenta e acompanha. Da
realidade, busca-se ao menos um grão que sirva de suporte para o real a ser
confrontado, disparado pela estranheza do olhar do outro. São as imagens de um
corpo transformado, produzidas em meio a esse ou a tantos outros, que instigam o
retorno do recalcado, inaugurando o segundo momento da sexualidade. É por esse
motivo que o momento adolescente independe imediatamente da puberdade, pois
está atrelado aos sentidos que aquele corpo conquista nos laços nos quais se inscreve
(MATHEUS, 2008, p. 622).
Muitos jovens, por terem tido um sustento artificial, são forçados a desenvolver um
movimento moralmente defensivo contra o desejo inconsciente de sua sexualidade, e
também contra o saber que lhe é bombardeado pelo externo. Não arriscam
compreender a sua sexualidade e permanecem de olhos fechados àquilo que lhe
tortura, ao seu mau-humor, à excitação e a outras preocupações. Arriscam sim a
raciocinar sob a pressão de uma vontade estranha que lhe veta de alcançar a
consciência sexual. Esta vontade estranha surge da educação e é tornada parte
integrante de seu caráter que entra em contradição com suas necessidades físicas
naturais. Devemos interpretar muito claramente o quanto o problema sexual do
jovem não só é difícil, mas em muitos casos, realmente explosivo. A decisão da
direção sexual do jovem deveria ser tomada por ele próprio, segundo Reich (2013).
Dito de outra forma, a maneira de o sujeito pensar e agir é semelhante à forma que
ocorre a formação de couraças musculares. A rigidez e as tensões no corpo estão concernentes
ao jeito de ser rígido, inflexível, mais automático, o contrário também ocorre, espontaneidade,
liberdade, graciosidade, harmonia, leveza e prazer no corpo estão coerentes com flexibilidade
e criatividade na vida. Quanto mais energia bloqueada no corpo, maior a chance de se
construir doenças (PIZZI, 2018).
Uma possível organização e resolução mais saudável podem advir ao final da
adolescência mediante elaborações psíquicas e corporais das experiências anteriores e o
investimento de energia voltadas para interesses do adolescente como estudos, esporte, lazer,
pares afetivos, sexualidade, grupos, em atividades positivas, além de encontrar um projeto de
vida adulta coerente com sua identidade podemos falar em superação ou resolução não
conflituosa. O que se entende por reorganização positiva das travessias relacionadas à
adolescência vão se estruturar entre 18 e 21 anos, quando a estrutura do caráter se torna mais
estável, mais próxima da estrutura de caráter adulto (REICH, 2020).
O desafio contemporâneo é o de oferecer tempos e espaços para que os adolescentes se
sintam seguros e expressem sua sexualidade, sua espontaneidade, da forma que lhes cabe e no
seu ritmo (VOLPI, 2008). Complementando essa ideia, que sejam possíveis momentos aos
adolescentes que facilitem a elaboração da sua história de vida, o acolhimento de suas
angústias e de suas emoções (das mais primitivas e difíceis até as emoções mais potentes e
vibrantes) e a possibilidade de reparação de marcas psíquicas e corporais pela expressão livre
desses afetos. Pensa-se que, existem possibilidades de trabalho a partir de seus recursos
internos, de poder integrar seu passado com seu futuro e amplie as chances da vivência de
uma adultez mais saudável. Como cita Reich (2013):
A juventude não só tem todo o direito de ser “iluminada”, mas também o direito à
saúde psíquica e a uma saudável vida sexual. Este direito é devido a todos os jovens.
Inúmeros jovens têm perdido a consciência de sua própria sexualidade, pagando
com graves distúrbios do equilíbrio psíquico na adolescência. Por isto, não
queremos dar conselhos “do alto”, não queremos “iluminar”, mas queremos
11
invasivas, resgatando sua força vital do adolescente. O método da parteira diz respeito à
sensibilidade do psicoterapeuta de permitir que o paciente passe a conduzir a análise no
momento do atendimento, o adolescente experimenta autonomia em seu processo
psicoterapêutico. A circulação libidinal visa trabalhar com o toque com intenção em
psicoterapia, este manejo pode contribuir para a liberação das emoções recalcadas ao longo da
vida do adolescente, viabilizando a autorregulação no ciclo de carga-descarga. E, por último,
o toque da massagem biodinâmica levará o adolescente a conhecer seu corpo, passando a
adquirir consciência corporal.
Para França (2004), os trabalhos corporais e as vivências em workshops com
adolescentes podem ser de grande auxílio na expressão emocional e no trabalho de questões
internas ou conflitos ligados à esta fase. As atividades precisam ser construídas de forma
dinâmica e ativa, não monótona ou repetitiva, visto que a adolescência é uma fase de muita
excitação podendo perder a concentração na atividade. Segundo Silva e Lira (2017), os grupos
de movimento em Bioenergética são, também, recomendáveis para os pais de adolescentes,
pois estes podem aprender a lidar com as dificuldades com temas da adolescência ou
enfrentamentos de conflitos na relação com os filhos.
No trabalho grupal com adolescentes na Análise Bioenergética é fundamental que o
psicoterapeuta ofereça contenção ou canalização da emoção por meio das intervenções
psicocorporais, ou seja, é necessário oferecer apoio para que os adolescentes se percebam
enquanto seres sexuados, apropriados de seus corpos e de sua subjetividade. A intenção do
trabalho seria dar a eles a oportunidade do autoconhecimento e da possibilidade de
desbloqueio de energias retidas no corpo para que eles tenham chance de tornarem-se adultos
mais saudáveis emocionalmente como acreditam Silva e Lira (2017). Segundo Weigand
(2006), o trabalho com grupo de adolescentes pode funcionar como suporte social, alívio de
estresse, solidariedade, espontaneidade na comunicação, trocas afetivas, cuidados uns com os
outros, o que contribui para um sentimento de coesão e apoio para o enfrentamento da
realidade.
Toma-se como exemplo o workshop com um grupo de adolescentes relatado por
França (2004) angústia com a escolha profissional e das possibilidades de realização e prazer
através da profissão. O autor descreve o trabalho com o grupo da seguinte forma: no primeiro
momento, se propõe a aula do “Professor Prometeu” onde eles deverão ter atenção e fazer
silêncio, em um segundo momento, vão para o salão de atividades e encontram o lugar escuro
e silencioso e, em seguida, acendem-se luzes de discoteca com muito som para que possam
dançar e soltar o corpo, em um terceiro momento, com as luzes acesas, o grupo tirar os
14
sapatos e experimentam grounding, respiração e uma aula sobre a lenda de Prometeu para o
trabalho com o tema da escolha profissional ligada ao prazer e à satisfação pessoal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALCICI, R. D. S.; VILHENA, J. de. Ainda há tempo para a dor? Um estudo sobre
automutilação na adolescência e sofrimento psíquico na contemporaneidade. Departamento
de Psicologia. Disponível em:
http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2017/relatorios_pdf/ctch/PSI/. 2017. Acesso em:
27/01/2019.
MARMOR, C. Hora do Blá: dois anos de bioenergética com adolescentes da rede pública
municipal São Paulo. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE
PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XVI, XI. Anais. Centro Reichiano de Psicoterapia
Corporal, Curitiba, 2011. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos.html. Acesso
em: 04/01/2020.
______. Crianças do Futuro: sobre a prevenção da patologia sexual. New York: Farrar,
Straus and Giroux, 1987. Tradução independente: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. Curitiba: Centro
Reichiano de Psicoterapia Corporal, 2013.
______. O brinkar como transformador da energia. In: VOLPI, José Henrique; VOLPI,
Sandra Mara (Org.). Anais. 13º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS
CORPORAIS. Curitiba/PR. Centro Reichiano, 2008b. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm. Acesso em: 04/01/2020.