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INSTITUTO DE PSICANÁLISE DO RECIFE

CURSO: CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE CLINICA FREUDIANA


PROF. MARISE MORAES

CLÍNICA DO VAZIO

Por:

ELISÂNGELA BARBOSA DA SILVA

-2022-
CLÍNICA DO VAZIO

Considerado como um transtorno psíquico mais comum da


atualidade a depressão tem afetado a vida de muitas pessoas
inabilitando-as para o desempenho ocupacional em várias áreas de
suas vidas. 

Freud não desenvolveu uma teoria sobre a depressão, mas


referiu-se a esse tema no seu texto Luto e Melancolia
(1915). Pontuou que a melancolia estaria relacionada a um afeto,
um sintoma diferente do que a medicina clássica categoriza como
uma patologia.

Ele diz que:

No luto, porque o objeto desapareceu, “[...] o mundo se torna


pobre e vazio; na melancolia, é o
próprio eu” (FREUD, [1917] 1996, p. 251).

Através do texto de Freud "Luto e Melancolia" depreendemos


que Freud trata a melancolia de forma diferente como consagrava a
medicina do século XIX. Ele rompeu com a tradição de que a
melancolia seria uma patologia. Mas, viu o indivíduo em sua
singularidade, cujo sintomas relaciona-se com sua história que se
fundamenta em perdas e separações e como lida com tais
mudanças.

Falando sobre o LUTO Freud o definiu como a perda de um


objeto em que sentimos um pesar por quem morreu e na melancolia
morremos com o objeto perdido. A separação no luto é dolorosa, e
separar essas lembranças em relação aos mortos é um trabalho
longo que envolve muitas etapas. O mundo passa a ser vazio.

Porém, com o tempo passamos a perceber que a vida ainda


tem algo a nos oferecer e a ausência do outro vai gradualmente se
dissipando. Pois, o que fazemos com nossos pensamentos em
relação ao que perdemos é o que nos levará a superação no luto.

É como o próprio Freud diz que o objeto perdido deve ser


acessado em todas as suas variadas representações, ou seja, o
que perdemos deve ser trazido e observado e analisado em
ângulos e formas diferentes como estivéssemos olhando um
diamante. Isso ajudará na superação do objeto perdido.

Os sintomas de um paciente depressivo são citados na obra


Mentes Depressivas da Drª Ana Beatriz, a autora relaciona a
desesperança, infelicidade, redução da autoestima, autoconfiança,
irritabilidade, desinteresse pela vida familiar, profissional e afetiva
são sintomas comuns no cotidiano de um paciente com sintomas
depressivos.

Darian Leader,2011 traz a depressão como um mecanismo


protetor que se retirado pode levar a ações desesperadas, e que
estudos alegam que depressões moderadas podem proteger o
sujeito contra o suicídio.

Analisemos o caso do paciente Luan:

Luan paciente de 35 anos, chega ao consultório se queixando de seu


fracasso como filho, não tem independência financeira, não tem trabalho,
nenhum relacionamento afetivo, não tem amigos,não consegue tomar suas
decisões, faz uso de medicamentos antidepressivos, passa a maior parte do
dia dormindo, não sente prazer em ir em qualquer tipo de festas ou mesmo em
sair de casa. Como a psicanálise trata pacientes como Luan?

No mundo imediatista em que vivemos tem se buscado a


medicalização no tratamento da depressão, tratamentos
prolongados não são bem vistos. O sujeito busca a cura rápida e a
medicação como saída de seus problemas. A clínica psiquiátrica
acaba não considerando a subjetividade do indivíduo.

É nesse contexto que a psicanálise tem sua contribuição no


tratamento da depressão, ou seja, o sujeito não é classificado de
acordo com manuais de diagnósticos, nem se estrutura através de
medicamentos que prometem a cura.

O sujeito como um ser singular, é visto na sua


individualidade, seu discurso, suas emoções, suas lamentações são
distintas. Freud não descarta a biologia na explicação do fenômeno
da depressão, mas não concorda com esse reducionismo simplista,
mas traz uma nova maneira de pensar que interroga como a
depressão deve ser trabalhada no setting analítico.

Não devemos descartar a medicalização em certos casos,


visto que tende a auxiliar ou melhorar sintomas, entretanto, o
diagnóstico e medicalização são apenas auxiliares no tratamento
psicanalítico, mas a base do tratamento é a associação livre,
considerando toda a singularidade do sujeito e como esse se
constitui.

Dessa forma, a contribuição que a psicanálise dá ao


tratamento da depressão é de suma importância, visto que o
entendimento da clínica dos transtornos mentais, especificamente
da depressão tem sido melhor entendidos, objetivando a melhoraria
na qualidade de vida do sujeito, nela incluída suas relações
interpessoais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Luto e Melancolia. Edição Standard Brasileiras


das Obras Completas de Sigmund Freud, v. XIV. Rio de Janeiro:
Imago, 1917 [1915]/1974.
FREUD, Sigmund. “O método psicanalítico de Freud (1904) ”.
FREUD, Sigmund. “Psicoterapia (1905) ”.
FREUD, Sigmund. “Recomendações ao médico que pratica a
psicanálise (1912) ”.
FREUD, Sigmund. O início do Tratamento (1913). Zimmermann,
David E. Manual de técnica psicanalítica Porto Alegre. Artmed,
2008.

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