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ESTUDO DIRIGIDO PARA A2 DE NEUROSE, PSICOSE E PERVERSÃO

1) Freud argumenta que a neurose se desenvolve a partir de conflitos intrapsíquicos, enquanto


a psicose surge como uma resposta à ruptura da realidade externa. Explique essa distinção
proposta por Freud, discutindo como as relações entre o mundo interno e o mundo externo
diferem entre neurose e psicose e como essas diferenças contribuem para as características
clínicas observadas em cada uma dessas condições.
Segundo Freud, a neurose se desenvolve a partir de conflitos intrapsíquicos, enquanto a
psicose surge como uma resposta à ruptura da realidade externa.
Na neurose, os conflitos intrapsíquicos se referem a tensões e conflitos emocionais não
resolvidos que ocorrem no mundo interno do indivíduo. Na neurose, a relação entre o mundo
interno e o mundo externo geralmente permanece intacta, embora haja uma tensão e um
desequilíbrio entre eles. O indivíduo neurótico está ciente da realidade externa, embora possa ter
dificuldades em lidar com ela devido aos conflitos internos. Os sintomas neuróticos, como
ansiedade, fobias, compulsões ou obsessões, são considerados tentativas de lidar com os conflitos
e reduzir a ansiedade.
Por outro lado, na psicose, Freud postulou que há uma ruptura mais acentuada na relação
entre o mundo interno e o mundo externo. Na psicose, o indivíduo experimenta uma perda de
contato com a realidade externa e pode desenvolver alucinações, delírios e distorções perceptivas.
Essas manifestações psicóticas são interpretadas como tentativas de lidar com conflitos internos
intensos e inaceitáveis, resultando em uma fuga para uma realidade interna alternativa.
Diferentemente da neurose, na psicose, os mecanismos de defesa falham em manter a
integração entre o mundo interno e o mundo externo. O indivíduo psicótico não consegue
distinguir claramente entre suas fantasias internas e a realidade externa. Isso leva a uma
desconexão com a realidade compartilhada e pode resultar em comportamentos desorganizados,
isolamento social e dificuldades de funcionamento geral.

2) Explique a diferença entre a perda da realidade na neurose e na psicose de acordo com a


teoria de Freud e discuta como esse conceito influencia o tratamento psicanalítico.
De acordo com a teoria de Freud, a perda da realidade na neurose e na psicose tem
diferenças significativas. Na neurose, embora o indivíduo possa experimentar sintomas que afetam
sua percepção da realidade, como ansiedade ou medo irracional, há uma capacidade geral de
manter contato com a realidade externa. A perda da realidade na neurose é parcial e limitada a
certos aspectos da vida do indivíduo, geralmente relacionados aos conflitos intrapsíquicos não
resolvidos.
Já na psicose, a perda da realidade é mais pronunciada e abrangente. O indivíduo pode
apresentar alucinações, delírios e distorções perceptivas que o levam a uma desconexão
significativa com a realidade externa compartilhada.
No tratamento psicanalítico, a compreensão dessas diferenças na perda da realidade é
fundamental para orientar a abordagem terapêutica. Na neurose, o objetivo é explorar e resolver
os conflitos intrapsíquicos subjacentes que causam ansiedade e sintomas neuróticos. O terapeuta
trabalha com o paciente para trazer à consciência os conteúdos inconscientes reprimidos,
permitindo que eles sejam processados e integrados. Ao aumentar a compreensão e a consciência
dos conflitos internos, a neurose pode ser tratada através da resolução dos seus dilemas
emocionais.
Na psicose, o foco do tratamento psicanalítico é mais complexo. Embora a psicanálise não
seja a abordagem principal para o tratamento da psicose, alguns psicanalistas a utilizam como um
complemento a outras abordagens terapêuticas. Nesses casos, o objetivo é estabelecer um vínculo
terapêutico seguro e estável com o paciente psicótico, buscando ajudá-lo a reconstruir uma
conexão com a realidade externa e a lidar com seus conflitos internos intensos. A psicanálise pode
ajudar na compreensão simbólica das experiências psicóticas e no fortalecimento do eu do
paciente.

3) Qual é a visão de Freud sobre a paranoia no "Rascunho H" e como ele a relaciona com a
estrutura psíquica do paciente?
Freud descreve a paranoia como uma forma específica de psicose, na qual o indivíduo
desenvolve delírios e crenças persecutórias. Segundo Freud, na paranoia, o paciente experimenta
uma ruptura na relação com a realidade externa e desenvolve um sistema delirante complexo como
uma tentativa de proteger seu eu contra a ansiedade e a fragmentação.
No caso de Schreber, Freud observou que o paciente tinha uma relação complexa com seu
pai e uma intensa ambivalência em relação a ele. Ele sugeriu que o delírio persecutório de Schreber
tinha origem nessas relações conflituosas e que a paranoia era uma forma de defesa psíquica para
lidar com a ansiedade gerada pelos sentimentos ambivalentes em relação ao pai.
Freud também destacou a importância da sexualidade na paranoia. Ele argumentou que os
delírios persecutórios de Schreber eram, em parte, uma tentativa de lidar com desejos
homoeróticos reprimidos. Freud considerou que a paranoia poderia ser entendida como uma forma
de recusa da homossexualidade inconsciente, na qual o paciente projeta esses desejos nos outros e
os interpreta como uma ameaça.

4) Explique a importância da relação entre a paranoia e o narcisismo no entendimento


proposto por Freud no texto "Rascunho H".
No "Rascunho H", Sigmund Freud discute a relação entre paranoia e narcisismo primário
como parte de sua compreensão do caso de Daniel Paul Schreber. O narcisismo primário refere-se
a uma fase inicial do desenvolvimento psicossexual, em que o bebê experimenta uma fusão
indiferenciada entre o eu e o mundo externo. Freud destaca a importância dessa fase para entender
a paranoia.
Freud argumenta que a paranoia de Schreber está ligada a um distúrbio no narcisismo
primário. Ele sugere que Schreber tinha uma tendência a retornar a uma forma regressiva de
narcisismo, na qual ele buscava a fusão indiferenciada com o mundo externo, sem distinção clara
entre o eu e o outro.
Essa tendência regressiva ao narcisismo primário levou a uma vulnerabilidade particular
em relação às ameaças à integridade do eu. Freud descreve como, no caso de Schreber, o ego se
fragilizou e foi invadido por fantasias persecutórias, fazendo com que ele desenvolvesse delírios
de perseguição e grandiosidade como mecanismos de defesa contra a ansiedade resultante.

5) Segundo Freud em "Luto e Melancolia", quais são as principais características clínicas e


psicológicas que diferenciam o luto da melancolia? Discuta como essas diferenças podem
ser compreendidas a partir da dinâmica psíquica envolvida em cada uma dessas condições.
A dinâmica psíquica envolvida no luto e na melancolia também difere. No luto, a tristeza
e o sofrimento são direcionados para a perda externa e a pessoa é capaz de se separar
emocionalmente do ente querido falecido ao longo do tempo, mantendo as lembranças e afetos
positivos. O luto é um processo natural de ajuste à perda, no qual o indivíduo gradualmente se
adapta à nova realidade.
Na melancolia, porém, a dinâmica psíquica é mais complexa. Freud descreve como na
melancolia o indivíduo introjeta o objeto perdido ou o ideal internalizado, transformando-o em um
objeto internalizado negativo. O indivíduo melancólico identifica-se com esse objeto negativo e
dirige a hostilidade e a autodepreciação para si mesmo. Há uma perda do amor próprio e uma
sensação de desvalorização do eu.

6) Freud afirma que, durante o processo de luto, ocorre uma introjeção do objeto perdido.
Explique o que significa essa introjeção e como ela contribui para o trabalho de elaboração
do luto. Além disso, discuta como esse processo difere da identificação melancólica.
A introjeção, de acordo com a teoria psicanalítica de Freud, é um processo psicológico pelo
qual o indivíduo internaliza representações do objeto externo. No contexto do luto, a introjeção
refere-se à internalização simbólica do objeto perdido, ou seja, o indivíduo mantém uma conexão
com o objeto ausente através de representações mentais.
Durante o processo de luto, a introjeção permite que o indivíduo preserve uma relação
afetiva com o objeto perdido, mesmo que ele não esteja mais presente fisicamente. Essa
internalização do objeto perdido ajuda no trabalho de elaboração do luto, pois permite que o
enlutado mantenha uma conexão emocional com a pessoa falecida ou com o objeto de perda.
Por outro lado, a identificação melancólica difere da introjeção no luto. Na melancolia, em
vez de introjetar um objeto perdido, o indivíduo identifica-se com o objeto negativamente
internalizado. Essa identificação melancólica envolve uma assimilação do objeto negativo ao eu,
resultando em sentimentos de culpa, autodepreciação e desvalorização.
Enquanto a introjeção no luto permite a manutenção de uma relação simbólica com o objeto
perdido, a identificação melancólica envolve uma internalização negativa e uma sensação de fusão
com o objeto negativo internalizado. A identificação melancólica contribui para o sentimento de
vazio e desvalorização característicos da melancolia.
Em resumo, a introjeção no luto envolve a internalização simbólica do objeto perdido,
permitindo que o enlutado mantenha uma conexão emocional com ele e trabalhe na elaboração do
luto. Por outro lado, a identificação melancólica implica na assimilação do objeto negativo ao eu,
resultando em sentimentos autodepreciativos e de desvalorização.

7) Segundo Freud em "Fetichismo", qual é a relação entre o fetichismo e a escolha de objeto


na sexualidade humana?
Para Freud, a escolha de objeto sexual envolve a atração e o desejo sexual direcionados a
determinadas características ou partes do corpo de outra pessoa. Normalmente, a escolha de objeto
está relacionada às características sexuais primárias, como os genitais, que estão associadas à
reprodução e à sexualidade adulta.
Freud sugere que o fetichismo surge como uma forma de superar a ansiedade e a ambivalência
sexual. Ele argumenta que o fetiche funciona como um substituto simbólico para a falta ou
ausência de um órgão genital idealizado. O fetiche representa uma tentativa de desviar o foco da
ansiedade em relação à castração ou à falta, proporcionando uma sensação de completude e
segurança.
8) Freud argumenta que o fetichismo está relacionado ao complexo de castração. Explique
como essa teoria se aplica ao fetichismo, considerando a função do fetiche na manutenção
do desejo e na redução da ansiedade em relação à castração.
Freud propôs que o fetichismo está relacionado ao complexo de castração e à ansiedade
castratória. O fetiche atua como um mecanismo de defesa que substitui a falta ou a ausência
percebida do órgão genital feminino idealizado. Ele permite ao fetichista redirecionar o desejo
sexual para o fetiche, evitando a confrontação direta com a ansiedade castratória. No entanto, o
fetiche não resolve completamente a ansiedade, apenas a reduz temporariamente.

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