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VANESSA MORENO ALVES DE OLIVEIRA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO I

Cidade

Divinópolis
2022
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INTRODUÇÃO

O atendimento clínico embasado na psicanálise foi realizado na Clínica


Escola da Faculdade Pitágoras o atendimento era individualizado e semanalmente,
conduzida de forma psicoterapeuta incluindo escutas e manejos terapêuticos de
intervenção que acolhem as demandas do processo terapêutico.
O paciente atendido de 42 anos apresenta traços fortes narcísicos, falas
fantasiosas e negação da realidade, depressão e crise de pânico, já faz atendimento
psiquiátrico e está sendo medicado. No começo deste ano perdeu a mãe que tinha
forte ligação com a perda da mãe, teve dificuldades para dormir onde o psiquiatra
aumentou a dose de clonazepam.
Paciente em suas falas apresenta ar de superioridade em questões de status
social e ao mesmo tempo traz a realidade atual do seu status, apresenta falas
desconexas, agressivas e ideações suicidas.
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REVISÃO TEÓRICA

Priszkulnikoi (2004), expõe que foi em um artigo sobre a organização genital


infantil em 1923, que Freud propôs pela primeira vez a ideia de recusa da realidade
com um mecanismo próprio de reconhecimento de uma realidade faltosa, que se
aproxima do processo da psicose que nega a realidade externa para reconstruir
uma realidade alucinatória. Conforme Santiago e Silva (2017), em 1927, Freud em
seu artigo sobre o fetichismo, define a recusa da realidade como um mecanismo
perverso através do qual o sujeito faz com que coexistem duas realidades
contraditórias, criando um parentesco entre a perversão e a psicose.
Na psicose a negação da realidade pode ser vista em dois estágios, no
primeiro
o EU é arrancado da realidade e no segundo estágio o dano é corrigido e dessa
forma restabelecendo uma relação com a realidade, à custa do EU. No segundo
estágio a perda da realidade é compensada por uma via soberana, que cria uma
nova realidade, que não cria objeção pela a realidade que foi abandonada.
A alucinação verbal que se apresenta no real, tem como característica
fundamental ser acompanhada de um sentimento de realidade vivido pelo
sujeito que fala literalmente com seu eu (SANTANA, 2010).

G.U expressou que “quando morava em outra cidade e cursava


administração, tinha muitos amigos, todos tinham condições de vida bem melhores
que eu, e mesmo assim me mantinha no grupo em todas as festas e encontros,
mesmo sem dinheiro, seus amigos sempre pagavam pra mim” (sic). O paciente
deixou bem claro que nunca deixou de demonstrar suas condições e sempre esteve
ciente que era o pobre da turma.
Quando fica sozinho afirma que se sente muito pior, que vem pensamentos
ruins, mas não tem muitos amigos para sair ou confiar em se abrir. Também relatou
que sozinho não gosta de sair, disse que as pessoas que dizem ser seus amigos
não gostam de escutar problemas e reclamações e que notou que todos se afastam
quando ele quer se abrir sobre algum problema.
A psicose é uma expressão de desobediência do Id contra o mundo externo e
sua dificuldade de se adequar a necessidade real. Na psicose a realidade é
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remodelada, ocorrendo uma negação e uma substituição da realidade. A negação é


uma marca declarada que é baseada na Linguística e na Psicanálise que altera a
função simbólica na psicose. Em decorrência dessa alteração o discurso psicótico
assume diferentes efeitos de sentido (SCHAFFER et al., 1999).
Na psicose a negação sobrepõem o ambito, que está na anulação no
desinvestimento das representações das coisas. Essa recusa extrema na qual
Freud denominou “recusa da realidade” (Verleugnung) (ROUDINESCO, PLON,
1997). Conforme Priszkulnikoi (2004), em Lacan essa recusa da realidade é o
reaparecimento na ordem puramente intelectual no qual o sujeito não está
ambientado, e de outro a alucinação que é o reaparecimento no real que é negado.
Essa alucinação é a história simbólica do sujeito. A falha na inclusão do sujeito na
ordem simbólica, o que mantém uma relação mais estreita com o real.
O que inclui o sujeito na linguagem e todo o processo secundário que está
comprometido, onde o psicótico se encontra “fora” do discurso. No qual o discurso
fica preso em diversas associações no qual se apresenta, podendo não recalcar as
ligações necessárias de sua estruturação. Dessa maneira, o significante que tem a
função de ser substituído, é fixado em uma significação tomando as palavras pelas
as coisas (SANTOS, 2009).
É condizente dizer que o psicótico altera o princípio da arbitrariedade do
símbolo linguístico. Na qual se percebe uma diferença semântica em seu discurso, a
fala do psicótico apresenta regras de sintaxe, trabalha em um deslocamento de um
duplo paradigma (SILVA, 2019). É a constituição do signo que é alterada se
apresentando sintomática na fala psicótica.
A remodelação da realidade ocorre em traços mnemônicos, nas crenças e
ideias que foram adquiridas nas quais são representadas na vida psíquica. Que é
implementada e transformada continuamente pela percepção do sujeito, nas quais
se tornam a simbolização da sua nova realidade. E com essa remodelação da
realidade o sujeito cria um mundo da fantasia que são as tentativas de substituir a
realidade por outra que atenda os seus desejos. G.U expôs que quando estudava
na Faculdade Pitágoras, frisando o medo que todos tinham por ele, segundo ele
pela sua agressividade em palavras todos deixaram ele fazer o que queria, até
mesmo os professores.
Segundo Silva (2019), separando o mundo externo real, quando essa
fantasia é introduzida no princípio da realidade, o novo mundo fantasioso da psicose
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é introduzido no lugar da realidade externa. Freud traduziu a fantasia como algo que
se faz necessário para o sujeito, com o qual se protege da realidade insatisfatória e
traumática. As fantasias são lógicas e que se mostram fundamentais e
determinantes para o sujeito. G.U relatou histórias bem desconexas e fora da
realidade sobre um dinheiro que tem guardado em uma conta em nome da falecida
mãe, e que seria escondido da receita federal, e que queria trocar seu carro e que
um carro de sua escolha seria um Porsche, e que ele tem dinheiro para isso. Contou
novamente uma história que a algum tempo atrás já havia contado sobre um relógio
que comprou, uma réplica de Rolex, hoje relatou uma história diferente, dizendo ser
um Rolex verdadeiro.
Em seus escritos pré - psicanalíticos Freud define a fantasia pouco a pouco,
onde se localiza como fachadas psíquicas construídas com a finalidade de barrar as
lembranças ( FREUD, 1996 citado por SILVA, 2019) onde se relaciona com as
coisas ouvidas, como sonhos que estão relacionados com as coisas vistas. Se
originando em uma condição inconsciente daquilo que se experimentou com a
finalidade de tornar inacessível a lembrança. Esses fragmentos juntos formam a
fantasia em lugar de lembrança, que permanece inconsciente não sujeita a defesa,
uma parte da lembrança será substituída pela fantasia e a outra é conduzida pelos
impulsos. Um fato que foi fantasiado pode ser lembrado como se estivesse ocorrido
realmente, o sujeito constroem essas lembranças inconscientemente.
As fantasias por terem uma dimensão sonial e imaginária, se constroem em
uma nova realidade se protegendo da realidade insatisfatória é dessa forma
realizando o desejo, afirma Freud. “Sonhei que estava com meus avô por três dias
consecutivos, iria até em um centro espírita por achar não ser normal” (sic). Disse
também que estava com seu avô e compraram algo que não se lembra e foram
levar para a sua mãe, que ele se mantinha escondida às vezes por imaginarem que
ela acharia ruim, chegando até a sua mãe e o avô disse que iriam embora, os três e
sua mãe disse que a sua hora não chegou.
Essa fantasia é mantida como um desacordo com a realidade objetiva, que
permite ao mesmo tempo não estar desligado da realidade e dessa forma o sujeito
tem uma relação entre a fantasia e a realidade psíquica (SILVA, 2019).
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REFERÊNCIAS

PRISZKULNIKOI, Léia. A criança sob a ótica da Psicanálise: algumas


Considerações. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, Vol. 5, nº.1, 2004,
pp. 72-77.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. 2. ed. Rio de


Janeiro: Zahar, 1997.

SANTANA, Vera Lúcia. A psicose e sua relação com a loucura da mulher. Opção
Lacaniana online nova série Ano 1 - Número 2. Julho 2010.

SANTOS, Eliziane Jacqueline dos. O discurso do capitalista e a posição do


sujeito no laço social. Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa
de pós-graduação em Psicologia. Belo Horizonte, 2019.

SCHAFFER, Margareth et. al. Constituição da Subjetividade: um estudo da


negação no discurso do neurótico e do psicótico. Cadernos de Trabalho do
DLE, 1999.

SILVA, Jefferson Santos da. Ideologia e fantasia na obra de Slavoj Zizek. VII
Encontro de pesquisadores iniciantes das humanidades. Universidade Federal de
Sergipe. 2019.

SILVA, Virgínia Célia Carvalho; SANTIAGO, Jésus. Do "Embelezamento dos


fatos" à "Cicatriz": Uma Investigação sobre a Fantasia em Freud. 33. ed,
Psicologia Clínica e Cultura, 2017.

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