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Tem-se como ponto de partida a ideia de que o labor literário possui uma
real importância no que concerne à comprovação da observação crítica e
reflexiva acerca da sociedade e o tempo na qual ela está inserida. Pode se
dizer que a fruição lírica concebe uma importância de cunho político e social,
segundo Candido (2006) a “criação literária corresponde a certas necessidades
de representação do mundo, às vezes como preâmbulo a uma práxis
socialmente condicionada”, também pontua que “tanto quanto sabemos, as
manifestações artísticas são inerentes à própria vida social” e ressalta que
essas criações são “socialmente necessárias, traduzindo impulsos e
necessidades de expressão”.
A Literatura é a arte da palavra, a arte literária que consiste no trabalho
de criar/recriar a realidade através da linguagem. Ferreira Gullar define arte
como “uma transfiguração simbólica do mundo. Quer dizer o artista cria um
outro – mais bonito ou mais intenso, mais significativo, ou mais ordenado – por
cima da realidade imediata.”. Por meio da palavra o artista engendra, constrói,
delata, cria e transforma a realidade. Apresenta paradigmas e molda uma
realidade de significação própria, produzindo no público e no criador um efeito
imediato. Transformando a concepção de mundo, e chega a modificar a
conduta do indivíduo.
Vemos nos recortes acima que o construir poético vem do labor da
criação/recriação de imagens, sons e significações; ademais é de grande
importância acrescentar aqui a fala de Eliot em O Uso da Poesia e o Uso da
Crítica em que o “prazer que sentimos com a poesia não pode estar isolado de
nossos outros interesses e paixões; afeta-os e afetado por eles, e deve ser
limitado, como nós próprios limitados.”.
Aqui, temos o primeiro poema a ser brevemente analisado, trata-se do
poema de Silva Freire (1971):
A estrada
a estrada inventa
canal de umidade
sintonia plumária
aflição do som, seco
ventilação de espaços.
FÍSSIL
-I-
Tá tudo tão difácil
Tá tudo tão difícil
Tudo seria mais fácil
Se não fosse
Assim tão físsil!
- II -
É tão cruel a espada
É tão monstruoso o míssil
Tudo seria mais fácil
Se não fosse assim
Tão físsil!
- III -
Ó! Doce manga dócil
Ó! Duro osso fóssil
Tudo seria mais fácil
Se não fosse assim
Tão físsil!
CAMPOS, Haroldo de. 1977. O arco-iris branco. Rio de Janeiro: Imago. 284p