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Título: Carolina Maria de Jesus em Quarto do Despejo: a narrativa periférica e o modo como seu
discurso impacta estudantes do EJA.
Tema: O tema gira em torno da produção literária da autora periférica Carolina Maria de Jesus o
modo como suas construções dialogam com alunos da periferia, sobretudo do EJA.
Objetivo geral: O modo como a literatura de Carolina Maria de Jesus impacta os alunos do EJA em
sala de aula.
Objetivos específicos: falar sobre como um recorte social pode ser positivo na identificação e no
processo de se entender dentro da literatura.
Justificativa: A relevância social abrange não somente os recortes sociais, como também como tal
obra contribue para o incentivo de indivíduos que se identificam com a literatura de Carolina Maria
de Jesus
MANTINS, Eliane Donizeti. A literatura periférica como impulsionadora de mudanças nos bairros
periféricos. Curitiba, 2015. 20 fls. Monografia. (Especialização em Ensino de Língua Portuguesa e
Literatura) – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Curitiba, 2015.
OLIVEIRA, Cleber José de. Literatura modernista e literatura periférica: engajamentos intelectuais
de representação e autorrepresentação. ArReDia, Dourados, v. 6, n. 10, p. 43 - 57, jun. 2017. ISSN
2316-6169. Disponível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/arredia/article/view/6121. Acesso em:
26 set. 2021.
https://revistatrip.uol.com.br/tpm/a-literatura-de-mulheres-perifericas
DAMMATA, Roberto. Carolina, Carolina, Carolina de Jesus. São Paulo: Jornal da Tarde, 11 de
novembro de 1996.
FELINTO, Mariliene. Clichês nascidos na favela. In: Caderno Mais. Folha de São Paulo. São Paulo:
29 de setembro de 1996. Arquivos Folha de São Paulo.
PERPÉTUA, Elzira Divina. Traços de Carolina Maria de Jesus: gênese, tradução e
recepção de ‘Quarto de despejo’. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2000. 336p. Tese.
SOUSA, Germana Henriques Pereira de. Carolina Maria de Jesus: o estranho diário da
escritora vira-lata. Brasília: Instituto de Letras. Departamento de Teoria Literária e
Literaturas/UnB, 2004. P. 262. Tese.
Nesse artigo, trataremos da narrativa periférica presente em Quarto de Despejo, diário de uma
favelada, autobiográfico, publicado no ano de 1960, o qual aborda a vivência da autora periférica
Carolina Maria de Jesus em sua trajetória como catadora de papel, mãe e moradora da favela. A
partir disso, buscaremos entender de que modo seu discurso impacta os estudantes do EJA,
baseando-nos na obra supracitada, além de textos de outros autores sobre a vida e obra dessa mulher
que revolucionou a literatura da periferia. O estudo encontra auxílio no modernismo que se originou
na Semana de Arte Moderna de 1922, a qual foi uma manifestação artístico-cultural cujo objetivo era
explorar a brasilidade e consolidar a identidade nacional, na re(existência) presente na produção
literária marginal e em como Carolina Maria de Jesus foi importante no processo de consolidação da
literatura periférica. As análises percorrem a escrita da autora, sua vivência enquanto mulher preta,
suburbana e mãe solo, e o modo como esse discurso pode vir a impactar estudantes que, como ela,
vivenciam a realidade da favela. Concluímos então que indivíduos com trajetórias semelhantes
podem impulsionar e engajar novas gerações que buscam, assim como Carolina, dar voz aqueles que
vivem às margens da sociedade brasileira.
A semana de arte moderna de 1922 foi uma revolução artística - cultural que durou do dia onze de
fevereiro ao dia dezoito. Contou com artistas e escritores como Tarsila do Amaral, Clarice
Lispector, Graciliano Ramos, Mário de Andrade, Cecília Meirelles, entre outros. O movimento
mudou a forma de ver a arte da elite brasileira, a qual se baseava no academicismo europeu, e dessa
forma, incentivou a liberdade de expressão, a valorização da identidade cultural do Brasil, e
propostas inovadoras para o mundo da arte.
Posteriormente, viria a literatura periférica, a qual teve como pioneira a escritora preta Carolina
Maria de Jesus, com sua obra Quarto de Despejo, diário de uma favelada. O presente trabalho tem
como objetivo pensar as produções literárias da autora periférica supracitada e desse modo,
compreender o impacto do discurso cunhado por ela em turmas de EJA.
2. O MODERNISMO E A SEMANA DE ARTE DE 1922
Como citado anteriormente, o modernismo no Brasil se deu muito antes da semana de arte
moderna de 1922, dando indícios da sua existência meio século antes do acontecimento
desse evento considerado o propulsor do modernismo no Brasil.
Para entendermos como ele de fato ocorreu, vamos empreender uma viagem retrospectiva no tempo e no espaço. Meio
século antes de acontecer, em São Paulo, a famosa Semana de Arte Moderna, já existia no Brasil um movimento literário
que foi denominado pelo crítico e historiador José Veríssimo de “modernismo”. Tobias Barreto, Sílvio Romero, Graça
Aranha, Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha destacaram-se como intelectuais que compunham esse grupo,
conhecido como a ‘geração de 1870’. Se conhecemos bem alguns desses nomes, geralmente não associamos as suas
figuras e produção literária ao nosso modernismo. Isso acontece justamente porque acostumamos a pensar o modernismo
como um movimento espaço- temporal definido: São Paulo, 1922. Geralmente não prestamos a devida atenção aos
‘sinais de modernidade’ que já vinham despontando, das mais distintas maneiras, em várias regiões e cidades.
(VELLOSO, 2016, APUD Abramchuki, 2019, p.6)
Logo, assim define-se o traço da nacionalidade brasileira, o ser antropófago. Em todos os níveis, nossa cultura teria sido
feita, certamente desde o Descobrimento, do deglutir a cultura alheia “Só me interessa o que é meu. Lei do homem. Lei
do antropofago” ( ANDRADE, Oswald de, 1995, p. 47)