Este documento discute dois conceitos fundamentais em psicanálise: identificação e sublimação. A identificação é o processo pelo qual o sujeito assimila traços de outras pessoas durante o desenvolvimento. A sublimação é quando a energia das pulsões sexuais é deslocada para atividades não sexuais, como artes e intelecto. O documento explora as diferentes visões de Freud e Lacan sobre esses conceitos-chave.
Descrição original:
Um texto sobre sublimação e identificação na psicanálise.
Este documento discute dois conceitos fundamentais em psicanálise: identificação e sublimação. A identificação é o processo pelo qual o sujeito assimila traços de outras pessoas durante o desenvolvimento. A sublimação é quando a energia das pulsões sexuais é deslocada para atividades não sexuais, como artes e intelecto. O documento explora as diferentes visões de Freud e Lacan sobre esses conceitos-chave.
Este documento discute dois conceitos fundamentais em psicanálise: identificação e sublimação. A identificação é o processo pelo qual o sujeito assimila traços de outras pessoas durante o desenvolvimento. A sublimação é quando a energia das pulsões sexuais é deslocada para atividades não sexuais, como artes e intelecto. O documento explora as diferentes visões de Freud e Lacan sobre esses conceitos-chave.
Discente: Marcos Bruno Silva Especializao em teoria e tcnica psicanaltica.
IDENTIFICAO E SUBLIMAO: DOIS CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM
PSICANLISE.
A IDENTIFICAO
A identificao um termo que, na teoria psicanaltica, se refere ao
processo central pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando ou se apropriando, durante o perodo de desenvolvimento, de aspectos, traos, caractersticas das pessoas que o cercam. O conceito de identificao crucial para a compreenso do desenvolvimento psicossexual do sujeito. Contudo, um termo que no possui uma definio sistemtica, sendo elaborado por Freud tardiamente. O termo utilizado em dois momentos de sua comunicao com Wilhelm Fliess, numa carta de 17 de dezembro de 1896. De maneira muito descritiva Freud traa a identificao como o desejo recalcado de agir como, de ser como algum. (ROUDINESCO E PLON, 1998). Depois, em outro manuscrito enviado, retoma o conceito, ao tratar da pluralidade das personas psquicas e da dificuldade que estas oferecem na elaborao onrica. Freud acreditava que a problemtica dessa pluralidade se dava por conta do processo identificatrio. (ROUDINESCO E PLON, 1998). O desenvolvimento do conceito de identificao tem um comeo especulativo, contudo a partir da obra interpretao dos sonhos, o termo ir receber um tratamento terico, que ir ingress-lo na metapsicologia freudiana.
Freud, a partir da interpretao do sonho da bela aougueira, percebe um tipo
de identificao da bela com uma amiga, que lhe revela o desejo de engordar. A bela aougueira, em seu sonho, deseja que a vontade de engordar de sua amiga no se concretize, pois assim o aougueiro, seu marido, que tem desejo por pessoas fartas, no sucumbiria fartura da amiga. Contudo, h uma inverso no sonho, que lhe possibilita novo sentido: a bela aougueira sonha com a no realizao de um dos seus desejos. E essa inverso, talvez se explique, pelo fato real, que se recusa a realizar seu desejo de comer caviar. A anlise desse sonho d a Freud o incio da reflexo e o desenvolvimento da identificao histrica. Nos casos em que h este tipo de identificao, a histrica identifica-se com as pessoas com quem manteve relaes sexuais ou que mantm relaes sexuais com as mesmas pessoas que ela, um tipo de identificao que ocorre de inconsciente para inconsciente. O vislumbre deste mecanismo se d pela semelhana no sonho e tambm pela condensao. A semelhana ora se d pela aproximao, ora pela fuso. Na aproximao, que se refere pessoas, temos a identificao quando uma nica pessoa representa a totalidade do grupo, a qual a pessoa pertence. isso que Freud designou como a pluralidade de pessoas psquicas: uma terceira pessoa irreal, capaz de fugir da censura e que possui traos de outras duas pessoas, cujo aparecimento passvel do processo de recalcamento, comumente estas pessoas so figuras importantes para a pessoa. (ROUDINESCO E PLON, 1998). O conceito vai sendo enriquecido. No texto sobre o narcisismo, de 1914 a identificao relacionada a escolha de objetos que sejam um suporte, um apoio, que o sujeito se basear para se constituir. A base poder ser o modelo parental, ou naqueles que substituiro os pais. No ano de 1920, o conceito de identificao sofrer uma grande reformulao terica, dando os contornos de sua importncia para a teoria psicanaltica. No texto, Psicologia das massas e anlise do eu, em seu stimo captulo temos uma anlise dedicada a identificao. Freud a postula como uma expresso primria de uma ligao afetiva com outra pessoa.
Dando prosseguimento ao enriquecimento terico do conceito de
identificao Freud distinguiu trs tipos de identificao: em um primeiro momento ela diz respeito a uma pr-histria do complexo de dipo. Trata-se da fase oral, da incorporao do objeto segundo um modelo canibal; no segundo momento, a identificao, escreve Freud, apud, Roudinesco e Plon (1998) diz respeito a uma regresso que toma o lugar da escolha de objeto, a escolha de objeto regride para a identificao, h a tomada por emprstimo de um trao da pessoa identificada. Um exemplo a tosse do pai que Dora imita. Num terceiro momento a identificao pode ocorrer sem a presena de investimento sexual. um momento em que a pessoa se coloca no lugar da outra. Esse caso de identificao ocorre, em especial, no contexto das comunicaes
afetivas.
(ROUDINESCO
PLON,
1998).
Graas
identificaes desta natureza que torna possvel a aderncia dos indivduos a
uma comunidade, coletividade. Os valores desta sero incorporados ao ideal de eu de cada um, que se comunicaro e aglutinaro para formar as sociedades. No artigo, a dissoluo do complexo de dipo, de 1925, Freud diferenciou identificao de investimento. O complexo de dipo oferece duas maneiras de satisfao libidinal, uma ativa e outra passiva. A primeira consiste no pensamento da criana em estar no lugar do pai para manter relaes sexuais com a me, j a segunda consiste em tomar o lugar da me. Para que estes investimentos tenham eficincia necessrio a criana passar pela realizao da castrao, a perda do pnis como castigo ou a constatao de sua ausncia, na posio feminina, os investimentos so substitudos ( a sada do dipo) por uma identificao. (ROUDINESCO E PLON, 1998). Freud, apud, Roudinesco e Plon (1998) se referindo ao processo pscastrao diz que a autoridade paterna ou parental introjetada no eu forma ali o ncleo do supereu e do incio a uma inibio das tendncias libidinais quanto aos seus objetivos, ou seja, so dessexualizadas e sublimadas, o que permite a transposio para uma identificao. Para finalizar, Freud aponta para a dificuldade do processo de identificao, base da transformao na relao com os pais no supereu. Apesar disso, sente-se satisfeito por ter
compreendido melhor, por meio da identificao, a instituio do supereu, um
exemplo de identificao bem sucedida com o modelo parental. Para ser bem sucedida, a identificao no precisa ter uma correspondncia total com a pessoa tomada como modelo, ela poder se dar com a assimilao de um ou mais traos pelo sujeito da pessoa escolhida. Resumindo,
ento,
identificao
pode
ganhar
diferentes contornos
dependendo de como as situaes so vivenciadas: podendo ser ela resultado
de um vnculo afetivo, substituta de um vnculo sexual, ou caracterizando-se como uma dramatizao (LEMOS, 2014). Lacan foi outro psicanalista que situou a identificao como um dos cernes para sua teoria. Para ele, a identificao designa o nascimento de uma nova instncia psquica, a produo de um novo sujeito, em que seu agente o objeto, e no mais o eu. Aqui h uma mudana em relao a Freud: Lacan diz que a funo preponderante a identificao se destina ao objeto e no ao ego. (LEMOS, 2014). Nsio, apud, Lemos (2014) afirma que temos trs tipos de identificao, em Lacan: a identificao simblica do sujeito com um significante, que originaria o sujeito do inconsciente; a identificao imaginria do eu, com a imagem do outro; e a identificao fantasmtica do sujeito com o objeto, enquanto emoo, diretamente relacionada produo de uma fantasia. Na primeira identificao temos a ligao do sujeito com o significante, que um fato concreto de um equvoco de uma relao com o outro. O sujeito do inconsciente se formar deste engano, que o tornar um sujeito a menos na vida do outro, em que o trao ausente o marcar para sempre. No segundo tipo de identificao, tem-se origem no estdio do espelho, onde a criana ser captada por uma viso global, estabelecendo uma imagem nica de si, dando origem ao eu imaginrio. A imagem de si o resultado das relaes das imagens do mundo com o imaginrio da criana, assim o eu se figuraria, aparentemente, na imagem externa. As imagens que o eu ir se identificar sero aquelas que ele se reconhece, imagens do outro, do ser humano a que ele se assemelha. A identificao se prender parte sexual deste outro, diz Nsio, apud, Moiss (2014).
Na terceira forma de identificao temos uma operao com o objeto,
representada pela frmula: sa. Neste caso a fantasia pode manifestar-se por palavras ou ao, cabendo distinguir o afeto e a tenso dominante na origem de cada fantasia. Ento, no momento da identificao fantasmtica, h uma identificao do sujeito com o objeto, esta relao entre o sujeito e o objeto impedir a descarga completa da pulso. Parte da energia sexual da tenso presente ser investida na fantasia e investida em fantasias futuras.
A SUBLIMAO
O termo sublimao deriva das belas-artes (sublime), da qumica
(sublimar) e da psicologia (subliminar), para designar, respectivamente, uma elevao do senso esttico, passagem do estado slido para gasoso, e, um mais- alm da conscincia. (ROUDINESCO E PLON, 1998). Freud conceituou a sublimao, em 1905, dizendo que uma atividade humana que no tem relao, aparente, com a sexualidade, mas que obtm sua energia, sua fora, das pulses sexuais. A obteno desta fora se d pelo deslocamento do alvo originrio da pulso para um alvo dessexualizado e valorizado sexualmente. A sublimao diz respeito a uma tentativa de controle das pulses. Freud dizia ser graas a ela que conseguimos atingir realizaes artsticas, intelectuais e culturais. Este processo por estar relacionado ao narcisismo e ao eu deve oferecer satisfao, ou uma iluso de satisfao, para tentar aplacar as tenses emanadas pela pulsionalidade, que atravessa o sujeito. As pulses ao estarem ligadas ao princpio do prazer precisam ser desinvestidas de energia. Esta ser direcionada ao mundo externo, e tentar atender o princpio da realidade ou secundrio. Assim, a questo da sublimao diz respeito a constituio do psiquismo regido pelo princpio do prazer-desprazer, ou processo primrio, evolui, para atender as exigncias do princpio da realidade, ou processo secundrio, onde esto as demandas exigidas pela sociedade ao indivduo, concorrendo, nas
palavras de Lemos (2014), para a busca do difcil equilbrio entre as
inegociveis demandas do isso e os imperativos do supereu.