CURSO DE NUTRIÇÃO

Julia Emili Kipper

TRANSTORNOS ALIMENTARES E INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA

CONSTRUÇÃO DA IMAGEM CORPORAL EM ADOLESCENTES DO SEXO FEMININO

Santa Cruz do Sul

2021
 Julia Emili Kipper

TRANSTORNOS ALIMENTARES E INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA

CONSTRUÇÃO DA IMAGEM CORPORAL EM ADOLESCENTES DO SEXO FEMININO

Artigo científico apresentado à disciplina de Trabalho

de Curso em Nutrição II da Universidade de Santa
Cruz do Sul – UNISC.

Orientadora: Ms. Bianca Inês Etges.

Santa Cruz do Sul

2021
Transtornos alimentares e influência da mídia na construção da imagem corporal em
adolescentes do sexo feminino

Eating disorders and the influence of the media on body image construction in female adolescents

Julia Emili Kipper¹, Bianca Inês Etges²

Resumo
Objetivo: realizar uma revisão de literatura sobre transtornos alimentares e a influência da mídia
na construção da imagem corporal de adolescentes do sexo feminino. Método: pesquisa
observacional exploratória bibliográfica com artigos buscados nas bases de dados do PubMed,
Google Acadêmico e Scielo, nos idiomas português, espanhol e inglês, publicados entre 2011 e
2021. Resultados: A amostra final desta revisão foi constituída por oito artigos científicos,
selecionados pelos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Os resultados mostraram que
diversos fatores são capazes de influenciar o desenvolvimento dos TA´s, sendo eles: socioculturais,
familiares, biológicos ou psicológicos. Existe uma associação positiva entre a exposição à mídia,
insatisfação corporal e desenvolvimento de transtornos alimentares, sendo que quanto maior a
pressão da mídia, maior a relação entre insatisfação corporal e patologia alimentar. Conclusão: Os
transtornos alimentares são patologias graves que apresentam graus significativos de morbidade e
mortalidade e atingem principalmente adolescentes do sexo feminino. A mídia representa um
papel fundamental, ao passo que se interliga aos outros fatores, ampliando ainda mais os
comportamentos de riscos para desenvolvimento de TA´s.

Palavras chave: Adolescentes. Imagem Corporal. Mídia.

Abstract
Objective: realize a literature review about eating disorders and the influence of the media on
building a body image of teenagers from the feminine sex. Method: bibliography exploratory
observational research on articles searched in the data bases of PubMed, Google Scholar and
Scielo, on portuguese language, spanish and english, published between 2011 and 2021. Results:
The final sample of this review was constituted by eight scientific articles, selected by the inclusion
criterias previously established. The results showed that several factors are capable of influence in
the TA’s development, knowing: sociocultural, relatives, biologicals or phycological. A positive
association exists between the media exposition, body dissatisfaction and development of eating
desorders, that being the bigger pressure of the media, the larger the relationship between body
dissatisfaction and eating pathology. Conclusion: Eating disorders are serious pathologies that
present significative morbidity and mortality degrees and primarily reach teenagers of the
feminine sex. The media representes a fundamental role, to a step that interconnects to the other
factors, expanding even more the behavioral risk to TA´s development.
Keywords: Teenagers. Body image. Media.

INTRODUÇÃO
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define os limites da adolescência entre as idades de
10 e 19 anos, onde ocorre a transição da infância para a vida adulta 1. Também caracterizada pela
fase de desenvolvimento, como a maturação sexual e o crescimento acelerado2.
 Os Transtornos Alimentares (TA’s) são patologias que apresentam graus significativos de
morbidade e mortalidade, e podem ocorrer em qualquer faixa etária da vida, no entanto, atingem
principalmente adolescentes do sexo feminino1. Essas patologias afetam os hábitos e o
comportamento alimentar do indivíduo, que na busca pelo peso e imagem corporal ideal, acaba
restringindo a alimentação, e muitas vezes, auto induz vômitos, faz uso de medicamentos e
laxantes, realiza atividades físicas em excesso e/ou jejuns muito prolongados3.
Os TA´s mais comuns são a Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN) fortemente
relacionados a um somatório de fatores biológicos, psíquicos, sociais, familiares e ambientais4.
A AN é caracterizada pela perda de peso intensa e intencional em que o indivíduo impõe-se
uma restrição alimentar, em alguns casos, realiza exercícios físicos excessivos, jejuns muito
prolongados e uso de laxantes ou diuréticos excessivamente5. Pode ser classificada como restritiva
ou purgativa, dependendo do comportamento do indivíduo. Na AN restritiva o paciente faz uso de
dietas, jejuns e exercícios para perda de peso. Na purgativa o paciente realiza autoindução de
vômitos, uso de diuréticos e laxantes de forma irregular, podendo ou não ter episódios de ingestão
alimentar compulsiva2.
A BN caracteriza-se por períodos de compulsão alimentar, quando é ingerido uma grande
quantidade de alimentos, seguidos de métodos compensatórios inadequados para controle do
peso corporal, como vômitos autoinduzidos, uso de diuréticos, laxantes e dietas e exercícios físicos
em excesso6. Pacientes com BN apresentam uma série de oscilações de pensamentos e emoções,
na maioria das vezes, procuram “reparar” um problema emocional adotando estratégias de
emagrecimento5.
Esses transtornos alimentares podem ser desencadeados por diversos fatores, tais como:
insatisfação com a imagem corporal, padrões de beleza impostos pela mídia, baixa autoestima,
autocrítica, depressão, entre outros7.
O objetivo do presente estudo foi, portanto, realizar uma revisão de literatura sobre
transtornos alimentares e a influência da mídia na construção da imagem corporal de adolescentes
do sexo feminino.

MÉTODO
Este estudo consiste em uma pesquisa observacional exploratória bibliográfica, com artigos
buscados nas bases de dados do PubMed, Google Acadêmico e Scielo sobre os principais
transtornos alimentares e a influência da mídia na construção da imagem corporal de adolescentes
do sexo feminino. Foram utilizados termos como: transtornos alimentares, anorexia nervosa,
bulimia nervosa, mídia e distorção de imagem, nos idiomas português, inglês e espanhol,
publicados entre 2011 e 2021.

RESULTADOS
A amostra final desta revisão foi constituída por oito artigos científicos, selecionados pelos
critérios de inclusão previamente estabelecidos.
 Quadro 1 – Aspectos metodológicos, objetivo e resultados dos principais estudos selecionados.

Autor, ano Título do artigo Objetivo Método Amostra Principais Resultados

Gonçalves Imagem corporal de
& Martínez adolescentes: um estudo
(2014)11 sobre as relações de
gênero e influência da
mídia.
Fortes et al. A autoestima afeta a
(2014)7 insatisfação corporal em
adolescentes do sexo
feminino?.
Lira et al. Uso de redes sociais,
(2017)12 influência da mídia e
insatisfação com a uso de redes sociais na
imagem corporal de
adolescentes brasileiras.
Conhecer as diferenças Pesquisa 237 adolescentes As adolescentes percebem que a
de gênero em uma quanti- (50,2% de mulheres e beleza feminina é altamente
amostra de adolescentes qualitativa. 49,8% de homens) valorizada pela
em relação à de 14 a 18 anos, de sociedade e a mídia, e que mulheres
percepção da imagem distintos centros bonitas parecem ter mais
corporal e percepção da educativos de Toledo oportunidades, o que auxilia na
influência da mídia, (Espanha). insatisfação corporal das mesmas.
através de uma
abordagem
quantiqualitativa.
Avaliar a influência da Estudo 397 adolescentes do Aproximadamente 30% das
autoestima na transversal. sexo feminino com adolescentes avaliadas
insatisfação corporal de idade entre 12 e 17 demonstraram insatisfação corporal,
adolescentes do sexo anos matriculada nas sendo a mídia a principal
feminino. escolas na cidade de responsável, pois transmite imagens
Juiz de Fora/MG. de corpos magros como padrão de
beleza ideal.
Avaliar relações entre a Estudo 212 adolescentes do A mídia atua como fonte de
influência da mídia e o transversal. sexo feminino entre 10 informação rápida sobre beleza,
e 18 anos, estudantes emagrecimento e forma física que
imagem corporal de de escola pública da pode exercer um papel influenciador,
adolescentes do sexo capital e do interior de destacando as redes sociais, que
feminino. São Paulo. mesmo indiretamente, podem
influenciar na baixa autoestima e

Copetti & A influência da mídia nos Discutir como a mídia, Revisão
Quiroga transtornos alimentares e com foco na internet, e o narrativa
(2018)4 na autoimagem em padrão estético vigente literatura.
adolescentes. podem influenciar no
desenvolvimento de TAs
nas mulheres
adolescentes atualmente.
Rosewallr & Um exame dos fatores de Explorar a patologia Estudo
Latner risco que moderam a alimentar entre uma transversal.
10
(2018) relação entre a amostra de meninas
insatisfação corporal e a adolescentes da Nova
patologia alimentar entre Zelândia e examinar uma
meninas adoles entes da variedade de fatores de
Nova Zelânda. risco estabelecidos que
podem moderar a relação
entre a insatisfação
corporal (TB) e a
patologia alimentar.
Santos et al. Transtornos alimentares Discutir e investigar, Revisão
(2019)8 em adolescentes do sexo como se configura a sistemática
feminino: um estudo de multifatorialidade que literatura.
revisão. influência e propicia o
desenvolvimento dos
quadros de TA,
compreendendo aspectos
necessidade de adequação ao padrão
de beleza.
Artigos buscados nas A insatisfação das adolescentes com
da bases de dados Scielo, sua imagem é possivelmente
Scopus e Google desenvolvida pelo corpo idealizado e
Acadêmico, publicados perfeito que a sociedade cria e que é
entre 2012 e 2017. divulgado pela mídia.
231 meninas A interação entre insatisfação
adolescentes com corporal, pressão da mídia e previsão
idades entre 14 e 18 de patologia alimentar, é significativa.
anos, recrutadas em Ou seja, quanto maior a pressão da
três escolas de ensino mídia, maior a relação entre
médio estaduais em insatisfação corporal e transtornos
Christchurch, Nova alimentares.
Zelândia.
9 artigos e uma tese É estimado que 70 milhões de
de buscados nas bases de pessoas no mundo inteiro sofrem
dados Biblioteca Virtual com algum tipo de transtorno
de Saúde (BVS) e alimentar, sendo o índice de morte
Google Acadêmico, entre 18% e 20%.
publicados entre 2007 a A depressão é um comportamento de
2019. risco para TA´s, podendo afetar 25-
 socioculturais, familiares, 52% das pessoas com BN e AN.
biológicos e A mídia representa um papel
principalmente, fundamental, ao passo que se
psicológicos. interliga aos outros fatores,
ampliando ainda mais os
comportamentos de riscos ao
desenvolvimento de TA.
Passos et al. Influência dos Analisar evidências na Revisão 12 artigos buscados nas Existe uma associação positiva entre
9
(2020) transtornos alimentares literatura em relação aos integrativa de bases de dados a exposição à mídia e a insatisfação
em jovens do sexo fatores psicológicos, literatura. Pubmed, Lilacs, Scopus corporal. As adolescentes, na
feminino. sociais e econômicos no e Scielo, publicados tentativa de adequar-se aos padrões
desenvolvimento de TA entre 2019 a 2020. de beleza vigentes, acabam aderindo
em jovens do sexo a práticas severas para redução do
feminino. peso corporal, o que pode gerar o
desenvolvimento de TA´s.

Polesso & Mídia social e internet Analisar as mídias digitais Revisão Artigos buscados nas As questões que apresentam maior
Aparecida predispõem a ansiedade, e a internet e sua narrativa de bases de dados Pubmed influência no desenvolvimento de
(2020)13 depressão, bulimia e potencial influência na literatura. e Scielo, publicados nos TA´s, são insatisfação corporal e a
anorexia em ansiedade, depressão, últimos 10 anos. presença de fatores psicológicos, que
adolescentes e adultos bulimia e anorexia em podem aumentar com o uso da
jovens: uma revisão de adolescentes e adultos mídia.
literatura. jovens.
DISCUSSÃO
A adolescência é um período crítico para o desenvolvimento da imagem corporal. Essa época
está associada a modificações físicas, alterações hormonais e necessidade de aprovações
familiares e sociais9. Nessa fase muitos fatores podem influenciar o surgimento e agravo de
transtornos alimentares, tendo como destaque, a mídia, insatisfação corporal, influência da família
e amigos e fatores psicológicos, como baixa autoestima, depressão e ansiedade7.
A insatisfação das adolescentes com sua imagem é possivelmente desenvolvida pelo corpo
idealizado e perfeito que a sociedade cria e que é divulgado pela mídia4. Elas percebem que a
beleza feminina é altamente valorizada, e que mulheres bonitas parecem ter mais oportunidades11.
A insatisfação corporal e a idealização de magreza têm relação direta com o desenvolvimento de
TA´s9, e acomete cerca de 1/3 da população brasileira do sexo feminino 7. As mulheres apresentam
maior insatisfação com a aparência do corpo em relação aos homens, pois percebem que a beleza
feminina é bastante valorizada pela sociedade11. Na tentativa de conseguir se adequar aos padrões
vigentes, os TA´s se desenvolvem fazendo com que as adolescentes acabem aderindo a práticas
bastante severas para redução do peso corporal, como por exemplo, uso de laxantes, chás
diuréticos, medicamentos, dietas da moda e restrição alimentar9.
O ambiente familiar e círculos de amizade, muitas vezes, podem ser fatores de risco para o
desenvolvimento dos TA´s, pois afetam o estado de humor das adolescentes com sentimentos de
raiva, tensão e ansiedade. O humor pode sofrer alterações positivas ou negativas de acordo com as
situações do dia a dia, como por exemplo, discussões com amigos, brigas familiares, bullying, baixo
rendimento escolar, entre outros7.
Existe um grande risco do desenvolvimento de depressão em conjunto com TA´s,
principalmente em casos de BN, que após episódios de compulsão alimentar ocorre um acumulo
de sentimentos negativos, como, ansiedade, frustração, tristeza e solidão. Já na AN, a depressão
estaria relacionada a comportamentos obsessivos, pois pacientes com esse quadro normalmente
apresentam características de perfeccionismo, introspecção e inibição de sentimentos 8.
Adolescentes do sexo feminino com TA, em relação as que não possuem essa patologia, são mais
propensas à baixa autoestima, depressão, ansiedade e suicídio, que podem aumentar com o uso
da mídia social13.
Segundo Lira et al. (2017)12, a mídia atua como fonte de informação rápida sobre beleza,
emagrecimento e forma física, destacando as redes sociais, que mesmo indiretamente, podem
influenciar na baixa autoestima e necessidade de adequação ao padrão de beleza. Essas redes
normalmente divulgam imagens de mulheres felizes, elegantes e com o corpo de acordo com os
padrões impostos pela sociedade4. Essas imagens, na maioria das vezes, se diferem da realidade
das adolescentes, gerando desagrado com seu peso e aparência corporal 7. Já Gonçalves &
Martínez (2014)11, traz como destaque, a televisão e as revistas, que apresentam mulheres com
corpos magros como padrão de beleza ideal, tornando inevitável a comparação das mulheres com
os padrões de beleza divulgados e gerando baixa autoestima sobre as mesmas. De acordo com
Fortes et al. (2014)7, a autoestima positiva reduz a suscetibilidade dessas adolescentes para a
insatisfação com o corpo, que por sua vez diminui a possibilidade de desenvolvimento de algum
tipo de TA.

CONCLUSÃO
Os transtornos alimentares são patologias graves que apresentam graus significativos de
morbidade e mortalidade e atingem principalmente adolescentes do sexo feminino. Os TA´s mais
comuns são a anorexia e bulimia nervosas que podem estar relacionados a fatores biológicos,
psicológicos, familiares e socioculturais.
Existe uma associação significativa entre a influência da mídia no desenvolvimento da
insatisfação corporal e transtornos alimentares, ao exibir um modelo padrão de corpo magro que,
na maioria das vezes, se difere da realidade das adolescentes, gerando descontentamento com seu
próprio corpo.
É possível concluir que a mídia representa um papel fundamental, ao passo que se interliga
aos outros fatores, ampliando ainda mais os comportamentos de riscos para desenvolvimento de
TA´s.
Por fim, sugere-se a realização de mais pesquisas, do nutricionista junto a profissionais da
saúde, que permitam maiores esclarecimentos sobre a temática proposta.

REFERÊNCIAS
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0e%20internet%20predisp%c3%b5em%20a%20ansiedade%2c%20depress%c3%a3o%2c%20bulimi
a%20e%20anorexia%20em%20adolescentes%20e%20adultos%20jovens_uma%20revis%c3%a3o%
20de%20literatura.pdf.
Agradecimento
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por me permitir alcançar todos os meus objetivos ao
longo da realização desta pesquisa. Aos meus familiares e amigos, que no decorrer desta jornada,
estiveram ao meu lado me apoiando e me incentivando. A professora Bianca Inês Etges, por ter
sido minha orientadora e pelas correções e ensinamentos que me permitiram desenvolver esta
pesquisa.