Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Alunos e Professores da Pós relacionada com a dismorfia provocada pelas mídias sociais, que acabaram
Graduação em Comportamento sendo muito mais utilizadas na pandemia. Esse assunto é abordado em
Alimentar e Coaching Nutricional outro artigo desta edição.
Boa leitura.
ANSIEDADE E FOME:
o que existe em comum entre eles?
ARTIGO
RBCA | 4º ed. 05
ARTIGO
O uso de imagens filtradas e edição de fotos criados para eliminar qualquer tipo de
levaram a uma nova tendência de transtornos "imperfeição" no visual dos usuários. Assim, aquela
induzidos pelas mídias sociais, denominada do foto simples de antes passou a ser uma selfie com
inglês “snapchat dysmorphia” e “selfie dysmorphia”. orelhas de gatinho, com maquiagem pronta e até
RBCA | 4º ed. 06
ARTIGO
Justamente sobre esses problemas causados por Charles Darwin em seus pensamentos sobre a
esse aspecto da exposição aos filtros que trata o biologia evolutiva oferece uma diferente teoria da
estudo publicado pelo Journal of Cosmetic natureza da beleza. Intrigado com as
Dermatology em 2019. Segundo a pesquisa, a busca características físicas que pareciam agir como
por uma beleza próxima àquela fornecida pelos iscas abertas para predadores e, portanto,
filtros de aplicativos pode estar predispondo o interferem na sobrevivência atividades de
transtorno disfórmico em jovens, que pode levar a manutenção. Por exemplo, como poderia a
quadros de ansiedade, depressão, busca por plumagem brilhante de pavões evoluir? A resposta
procedimentos estéticos desnecessários, além de de Darwin foi a seleção sexual - que certas
poder impactar a forma que o indivíduo passa a características evoluíram por causa da vantagem
controlar sua alimentação na busca da imagem reprodutiva ao invés de vantagem de
“perfeita” observada nas imagens editadas o sobrevivência (5). Aproximando essa teoria à nossa
predispondo à quadros de transtornos alimentares realidade, conceitos humanos de beleza e seu
(4). interesse em melhorar sua aparência, também
estão atrelados a algum propósito maior do que a
Os filtros podem fornecer uma pele lisa de tons
reprodução?
uniformes, olhos maiores, lábios mais cheios,
maxilares mais angulados, dentes mais brancos e Para o International Mate Selection Project, qual
rostos mais magros. Além disso, os usuários estudou 10.047 pessoas em 37 culturas localizadas
podem cortar, sombrear e colorir. Estes filtros e em 6 continentes e 5 ilhas. Sem exceção,
recursos de edição mudaram significativamente a características físicas que aparentam juventude e
percepção de beleza no mundo. saúde foram vistas como atraentes. Em nenhuma
cultura conhecida, as pessoas enxergam pele
A TEORIA EVOLUTIVA DA BELEZA:
enrugada, lábios finos, músculos fracos, tom e
Quando falamos sobre beleza, cada um de nós
características faciais irregulares como atraentes
temos ideias próprias sobre o que é ou não é belo.
(6).
Isso se dá, pelo fato de que a beleza é uma
construção abstrata e muito íntima, como gostar
ou não de um gênero musical, uma obra de arte,
um homem ou mulher.
RBCA | 4º ed. 07
ARTIGO
O argumento evolutivo postula que sinais físicos Além disso, Tiggermann e colaboradores
de juventude e saúde - lábios carnudos e macios, argumentam em sua pesquisa que, o ato de postar
olhos claros, cabelo brilhante, boa qualidade uma foto de si mesmo nas redes sociais
muscular, tom, expressão facial animada e boa precisamente para ser olhado e comentado é
disposição - estão no topo da lista de beleza de inerentemente auto-objetivante, que por
todas as culturas porque eles são os aspectos definição, envolve considerar a si mesmo da
físicos mais confiáveis, e tidos como marcadores perspectiva de um outro observador (10). Nesse
de fertilidade. Essas características são sentido, deve-se reconhecer que a postagem da
consideradas padrão de beleza porque, e somente selfie é o final de um longo processo e também
porque, caracterizariam uma vantagem evolutiva. considerado complexo. As mulheres e meninas
Características como ser bom companheiro, gastam um tempo maior de esforço tirando e
temperamento ou inteligência certamente fazem escolhendo seus selfies, por exemplo, encontrando
um potencial parceiro mais atraente, mas eles não a melhor iluminação e ângulo mais desejado, que
são componentes da beleza (7). são ainda mais aprimorados por filtros ou edição
de imagem (11). Mulheres relatam tirar 2-5 selfies
POSTANDO A SUA MELHOR SELFIE
antes de escolher qual postar e gastam
Uma pesquisa atual da hashtag #selfie no
aproximadamente 10 minutos por dia tirando as
Instagram, rende aproximadamente 438 milhões
fotos e que a utilização de filtros é a ferramenta
de postagens (Instagram, Inc., 2020). Pesquisas
mais popular de edição de fotos (12).
indicam que as mulheres postam mais selfies do
que homens sendo adultos jovens e adolescentes o Em um estudo realizado por Baker em 2019, foi
maior público comparado a adultos de meia idade identificado três temas no uso geral do Instagram
(8). Tirar e postar uma selfie foi associado a uma por mulheres jovens: postagem com esforço
série de características de personalidade, (incluindo tempo, esforço e edição); auto
especialmente o narcisismo (9). De modo geral, as promoção (a necessidade de apresentar o seu
selfies podem ser conceituadas como uma forma melhor); e busca de engajamento (necessidade de
de auto apresentação, assim, os usuários tendem a obter um número desejável de curtidas e/ou
enviar apenas suas “melhores” fotos. comentários) (13).
RBCA | 4º ed. 08
ARTIGO
dos seguidores na rede social vem alterando editar, sentiam-se mais ansiosas, menos
Nos estudos acima, as medidas de estudo foram As redes sociais estão disponíveis à grande parte
baseadas em autorrelatos. No entanto, apenas dois da população, trazendo cada vez mais uma
sobre a imagem corporal de mulheres jovens e ferramentas como os filtros e aplicativos de edição,
RBCA | 4º ed. 09
ARTIGO
REFERÊNCIAS
1. Pew Research Center. (2018) Social media use in 2018. www
.pewinternet.org/2018/03/01/social-media-use-in-2018/ (accessed Jul. 5,
2019).
4. Wang JV, Rieder EA, Schoenberg E, Zachary CB, Saedi N. Patient perception of
beauty on social media: Professional and bioethical obligations in esthetics. J
Cosmet Dermatol. 2019;00:1–2. https://doi.org/10.1111/ jocd.13118
5. Sarwer, David & Grossbart, Ted & Didie, Elizabeth. (2003). Beauty and Society.
Seminars in cutaneous medicine and surgery. 22. 79-92.
10.1053/sder.2003.50014.
9. Tiggemann, M., & Barbato, I. (2018). “You look great!”: The effect of viewing
appearance-related Instagram comments on women’s body image. Body Image,
27, 61–66. http://dx.doi.org/10.1016/j.bodyim.2018.08.009
10. Follow me and like my beautiful selfies: Singapore teenage girls’ engagement
in self-presentation and peer comparison on social media. Computers in
Human Behavior, 55, 190–197. http://dx.doi.org/ 10.1016/j.chb.2015.09.011
11. Bij de Vaate, A. J. D. N., Veldhuis, J., Alleva, J. M., Konijn, E. J., & van Hugten, C.
H. M. (2018). Show your best self(ie): An exploratory study on selfie-related
motivations and behavior in emerging adulthood. Telematics and Informatics,
35, 1392–1407. http://dx.doi.org/10.1016/j.tele.2018.03.010
12. Baker, N., Ferszt, G., & Breines, J. G. (2019). A qualitative study exploring
female college students’ Instagram use and body image. Cyberpsychology,
Behavior, and Social Networking, 22, 277–282.
http://dx.doi.org/10.1089/cyber.2018.0420
13. McLean, S. A., Paxton, S. J., Wertheim, E. H., & Masters, J. (2015).
Photoshopping the selfie: Self photo editing and photo investment are
associated with body dissatisfaction in adolescent girls. International Journal of
Eating Disorders, 48, 1132–1140. http://dx.doi.org/10.1002/eat.22449 McLean,
S. A., Wertheim, E. H., Masters, J., & Paxton, S. J
RBCA | 4º ed. 10
ARTIGO
14. Cohen, R., Newton-John, T., & Slater, A. (2018). ‘Selfie’-objectification: The role
of selfies in self-objectification and disordered eating in young women.
Computers in Human Behavior, 79, 68–74.
http://dx.doi.org/10.1016/j.chb.2017.10.027
15. Lonergan, A. R., Bussey, K., Mond, J., Brown, O., Griffiths, S., Murray, S. B., &
Mitchison, D. (2019). Me, my selfie, and I: The relationship between editing and
posting selfies and body dissatisfaction in men and women. Body Image, 28, 39–
43. http://dx.doi.org/10.1016/j.bodyim.2018.12.001
16. Fardouly, J., & Rapee, R. M. (2019). The impact of no-makeup selfies on young
women’s body image. Body Image, 28, 128–134. http://dx.doi.org/10.1016/j.
bodyim.2019.01.006
17. Kleemans, M., Daalmans, S., Carbaat, I., & Anschütz, D. (2016). Picture perfect:
The direct effect of manipulated Instagram photos on body image in adolescent
girls. Media Psychology, 21, 93–110. http://dx.doi.org/10.1080/15213269.2016.
1257392
19. Mills, J. S., Musto, S., Williams, L., & Tiggemann, M. (2018). “Selfie” harm:
Effects on mood and body image in young women. Body Image, 27, 86–92.
http://dx.doi. org/10.1016/j.bodyim.2018.08.007
20. Tiggeman, Marika e Slater, Amy. NetGirls: The internet, facebook, and body
image concern in adolescent girls. International Journal of Eating Disorders, v.
46, n. 6, p. 630–633, 2013.
RBCA | 4º ed. 11
ARTIGO
RBCA | 4º ed. 12
ARTIGO
termo microbiota substituiu a palavra microflora, Cabe destacar que no contexto da inflamação, os
que caiu em desuso, e esse significa um conteúdo lipopolissacarídeos (LPS), componentes
de microrganismos presentes em determinado microbianos localizados na parede celular de
local do organismo. É importante ressaltar que bactérias Gram-negativas, desempenham papel-
existem várias microbiotas, localizadas em chave, visto que são responsáveis por iniciar
diferentes regiões do nosso organismo, como na respostas inflamatórias, através de interações com
boca, intestino, pele etc. Ainda, a microbiota não é receptores de superfície celular, em células do
sinônimo de microbioma, visto que o segundo se sistema imune. Adicionalmente, foi verificado que
refere aos genomas dos microrganismos de um o aumento de LPS é diretamente relacionado à
determinado local (1) (2) (3). permeabilidade intestinal devido a expressão
reduzida de proteínas que atuam na barreira
intestinal, como a zonulina ocludina (ZO)-1, a
Atualmente há um aumento significativo nos
claudina e a ocludina (O), provocando a quebra das
estudos acerca dos efeitos da microbiota intestinal
junções estreitas (4, 5).
e dos impactos que esta possui à nossa saúde em
nível sistêmico. No nosso trato gastrointestinal Nesse sentido, levando em conta que a microbiota
(TGI) residem trilhões de bactérias que estão intestinal tem impacto no SNC e vice-versa,
associadas, tanto a fatores essenciais para a saúde através de alterações e regulações neurais,
imunológica e metabólica, quanto ao hormonais e imunológicas, tem-se que o “eixo
desenvolvimento de doenças do sistema nervoso cérebro-intestino” é um sistema fundamental para
central (SNC) e entérico. Essas doenças a homeostase do nosso organismo, podendo
apresentam um componente em comum, que é a impactar tanto na saúde quanto na doença. O SNC
inflamação sistêmica crônica e de baixa atua regulando funções gastrointestinais, como a
intensidade, caracterizada pelo aumento de motilidade intestinal, secreção de mucina,
citocinas pró-infamatórias - como a interleucina produção hormonal e regulações imunológicas
(IL)-6, IL-10, IL-1 e o fator de necrose tumoral-alfa por meio da produção de citocinas (6).
(TNF-α) -, que atuam no metabolismo de
determinados neurotransmissores, causando
plasticidade neuronal (3-5).
RBCA | 4º ed. 13
ARTIGO
nervoso entérico e é um imunomodulador (9-11). inflammation without inducing major changes of the gut microbiome: a
randomised cross-over trial. Gut. 2019;68(1):83-93.
RBCA | 4º ed. 14
ARTIGO
6. Cryan JF, O'Riordan KJ, Cowan CSM, Sandhu KV, Bastiaanssen TFS,
Boehme M, et al. The Microbiota-Gut-Brain Axis. Physiol Rev. 2019;99(4):1877-
2013.
7. Foster JA, McVey Neufeld KA. Gut-brain axis: how the microbiome
influences anxiety and depression. Trends Neurosci. 2013;36(5):305-12.
11. Yoo BB, Mazmanian SK. The Enteric Network: Interactions between the
Immune and Nervous Systems of the Gut. Immunity. 2017;46(6):910-26.
12. Rothhammer V, Borucki DM, Tjon EC, Takenaka MC, Chao CC, Ardura-
Fabregat A, et al. Microglial control of astrocytes in response to microbial
metabolites. Nature. 2018;557(7707):724-8.
13. Conlon MA, Bird AR. The impact of diet and lifestyle on gut microbiota and
human health. Nutrients. 2014;7(1):17-44.
RBCA | 4º ed. 15
ARTIGO
RBCA | 4º ed. 16
ARTIGO
indiscutível a necessidade e a importância da Mas de que forma a atividade física pode ter um
atividade física para nosso bem estar e o bom papel determinante no controle, combate e
funcionamento do nosso organismo. Todos os prevenção das doenças mentais como depressão,
anos, inúmeros incentivos, campanhas e eventos ansiedade e outros transtornos relacionados ao
são criados com o intuito de diminuir os níveis declínio de saúde mental?
preocupantes de sedentarismo que só crescem A prática de exercícios melhora o fluxo sanguíneo
em nosso país. Segundo a Associação Brasileira cerebral e consequente ativação e funcionamento
para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica, adequado do cérebro; promove algumas
ABESO, um estudo feito ao longo de 15 anos no alterações e regulações importantes na produção
Brasil, demonstrou que metade da população de neurotransmissores, como por exemplo GABA,
brasileira é sedentária. Dentre as consequências que é um neurotransmissor inibitório, ou seja, que
preocupantes que o sedentarismo pode trazer, controla a atividade excessiva dos neurônios,
este artigo vai ressaltar os problemas relacionados Norepinefrina, que influencia diretamente fatores
à saúde mental da população e os benefícios que a como humor e ansiedade, Dopamina, que é o
prática constante de atividade física pode trazer neurotransmissor da motivação, do humor e da
aos praticantes. atenção e Serotonina que é considerado o
hormônio da felicidade, do bem estar, além de
Em meio a um período conturbado, em que
estar relacionado a transtornos afetivos e de
estamos isolados, “trancados” em casa e em
humor. Dessa forma, mudanças de humor e
contínuo distanciamento social, a importância de
controle de emoções sofrem impacto da prática
uma boa saúde mental nunca foi tão relevante,
exercício físico, por todas as alterações relatadas
ficar isolado em casa tem levado ao aumento
em atividades neurotransmissoras, mas também
exponencial da depressão e da ansiedade na
pelo aumento observado na ativação do
população, e a prática de atividade física pode ser
Hipocampo no cérebro, área responsável pela
um dos caminhos possíveis para prevenir e tratar
regulação do humor e das emoções (Vorkapic-
esse problema (Filgueiras & Stults-Kolehmainen,
Ferreira et al., 2017); (da Silva Batista & Ornellas,
2020).
2013).
RBCA | 4º ed. 17
ARTIGO
A prática regular de exercício físico também está A patologia é causada por uma combinação de
relacionada com elevação da atividade dos fatores genéticos, ambientais, biológicos e
sistemas opióides e seus receptores de endorfinas psicológicos e, fisiologicamente, a depressão pode
e encefalinas, responsáveis, por exemplo, pela ser causada pela expressão de um metabólito
regulação de resposta à dor e ao sistema imune, produzido no fígado após a degradação do
além de estar associada ao aumento na síntese de aminoácido Triptofano. Esse metabólito em sua
fatores neurotróficos como o fator neurotrófico forma original de “Quinurenina” consegue
derivado do cérebro (BDNF), o aumento da atravessar a barreira hematoencefálica, gerando
angiogenese (formação de vasos sanguíneos), prejuízo ao cérebro e a saúde mental e levando a
sinaptogenese (formação de novas sinapses), doenças como depressão e esquizofrenia (Becker,
neurogenese (formação de novos neurônios) e a 2017).
gliogenese (novas células da GLIA, quem mantém a
Porém, nosso organismo conta com um defensor
ordem, a nutrição e a homeostase neural)
natural para evitar esse prejuízo ao nosso cérebro,
(Vorkapic-Ferreira et al., 2017).
nossos músculos. Sim, nossos músculos podem
De forma geral, é bem estabelecido na ser usados como agentes protetores para que a
comunidade científica essa relação da prática quinurenina, não atravesse a barreira
constante de exercício físico e os inúmeros hematoencefálica e chegue ao nosso cérebro.
benefícios ao cérebro e à vida das pessoas que os Quando os músculos são contraídos de forma
praticam, mas, e quando entramos em questões adequada, acontece a produção de uma enzima
mais específicas, como doenças mentais? chamada KAT, enzima quinurenina
aminotransferase, que transforma o metabólito
Segundo dados da OMS, a depressão acomete 1
Quinurenina em Ácido Quinurênico, essa nova
em cada 4 pessoas no mundo, é uma doença
forma de ácido quinurenico não consegue
silenciosa, que interfere diretamente na
atravessar a barreira hematoencefálica e chegar ao
funcionalidade, na capacidade de trabalhar,
cérebro.
estudar, se relacionar e, em maior serveridade,
pode levar a morte.
RBCA | 4º ed. 18
ARTIGO
Quando analisamos os artigos que avaliam a Um outro ponto a se discutir sobre os benefícios
prática de exercício físico como um possível da atividade física para saúde mental, é a utilização
adjuvante no combate a doenças mentais como de estratégias esportivas, na interação com
depressão e ansiedade, temos um número crianças com TDAH, estudos mostraram que o
considerável de resultados positivos e concluindo fato de os jogos esportivos possuírem regras,
que os benefícios são amplos. Estudos mostram o estratégias, e padrões de funcionamento, fazia
uso de exercícios como dança, tênis de mesa e com que as crianças apresentassem maior
caminhada melhoraram significativamente o entendimento, compreensão, atenção e
sentimento de fragilidade, depressão e funções principalmente adesão à prática. Outro ponto
cognitivas em mulheres idosas acometidas pela importante mostrado nos estudos é que crianças e
depressão (Jeoung, 2014). Estudos observacionais adolescentes que praticavam atividade física desde
nos mostram que o sedentarismo tem relação a infância, tornaram-se menos suscetíveis a
direta com quadros de ansiedade e que as pessoas desenvolver TDAH frente aqueles que começaram
sedentárias possuem até 4x mais chances de a prática tardia ou se tornaram sedentários
desenvolver sintomas de ansiedade e depressão (Christiansen et al., 2019).
(Schuch et al., 2018) (Schuch et al., 2019).
Cabe lembrar, que a prática de exercícios físicos
Em 2018, uma meta análise de estudos de coorte não deve substituir a prescrição médica, mas tem
trouxe evidencias substanciais e robustas sobre a valor fundamental como prevenção e intervenção
atividade física como um fator protetor na adjuvante no tratamento de doenças de mentais.
incidência da depressão e ansiedade, foram 49 Em conclusão, tornam-se indiscutíveis os
estudos analisados e uma população de mais de benefícios de uma vida ativa e da prática de
265 mil pessoas, e os resultados mostraram que exercícios físicos para melhora do funcionamento
estar fisicamente ativo reduzia em 17% o risco de do cérebro e para a saúde mental em geral, além
desenvolver depressão por qualquer motivo de todos os fatores mencionados, não podemos
(Schuch et al., 2018) (Schuch et al., 2019). esquecer dos benefícios psicológicos e sociais que
a prática da atividade física pode proporcionar,
como aumento da interação com outras pessoas,
melhora da percepção da imagem corporal, bem
estar físico e social, engajamento, aprendizado de
coletividade, melhora de fatores cognitivos e de
auto estima.
RBCA | 4º ed. 19
ARTIGO
REFERÊNCIAS:
Agudelo, L. Z., Femenía, T., Orhan, F., Porsmyr-Palmertz, M., Goiny, M.,
Martinez-Redondo, V., … Ruas, J. L. (2014).
Christiansen, L., Beck, M. M., Bilenberg, N., Wienecke, J., & Astrup, A. (2019). E ff
Efeitos do exercício sobre o desempenho cognitivo em crianças e adolescentes
com TDAH : mecanismos potenciais e recomendações baseadas em evidências.
da Silva Batista, W., & Ornellas, F. (2013).
Elbe, A. M., Lyhne, S. N., Madsen, E. E., & Krustrup, P. (2019). Is regular physical
activity a key to mental health? Commentary on “Association between physical
exercise and mental health in 1.2 million individuals in the USA between 2011 and
2015: A cross-sectional study” by Chekroud et al., published in Lancet
Psychiatry. Journal of Sport and Health Science, 8(1), 6–7.
https://doi.org/10.1016/j.jshs.2018.11.005
Fortes, L. de S., Lira, H. A. A. da S., de Lima, R. C. R., Almeida, S. S., & Ferreira, M. E.
C. (2016). Mental training generates positive effect on competitive anxiety of
young swimmers? Rev. Bras. Cineantropom. Desempenho Hum, 18(3), 353–361.
https://doi.org/10.5007/1980-0037.2016v18n3p353
Fortes, L. S., Lima-Junior, D., Nascimento-Júnior, J. R. A., Costa, E. C., Matta, M. Tomasi, D., Gates, S., & Reyns, E. (2019). Positive Patient Response to a
O., & Ferreira, M. E. C. (2019). Effect of exposure time to smartphone apps on Structured Exercise Program Delivered in Inpatient Psychiatry. Global Advances
passing decision-making in male soccer athletes. Psychology of Sport and in Health and Medicine, 8, 216495611984865.
Exercise, 44(April), 35–41. https://doi.org/10.1016/j.psychsport.2019.05.001 https://doi.org/10.1177/2164956119848657
Hallgren, M., Nguyen, T. T. D., Owen, N., Vancampfort, D., Smith, L., Dunstan, D. Vorkapic-Ferreira, C., Góis, R. S., Gomes, L. P., Britto, A., Afrânio, B., & Dantas, E.
W., … Ekblom-Bak, E. (2020). Associations of interruptions to leisure-time H. M. (2017). Nascidos para correr: A importância do exercício para a saúde do
sedentary behaviour with symptoms of depression and anxiety. Translational cérebro. Revista Brasileira de Medicina Do Esporte, 23(6), 495–503.
Psychiatry, 10(1), 1–8. https://doi.org/10.1038/s41398-020-0810-1 https://doi.org/10.1590/1517-869220172306175209
Jeoung, B. J. (2014). Relationships of exercise with frailty, depression, and Zaman, R., Hankir, A., & Jemni, M. (2019). Lifestyle factors and mental health.
cognitive function in older women. Journal of Exercise Rehabilitation, 10(5), 291– Psychiatria Danubina, 31, 217–220.
294. https://doi.org/10.12965/jer.140128
Kleemann, E., Bracht, C. G., Stanton, R., & Schuch, F. B. (2020). Exercise
prescription for people with mental illness: An evaluation of mental health
professionals’ knowledge, beliefs, barriers, and behaviors. Brazilian Journal of
Psychiatry, 42(3), 271–277. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2019-0547
Lederman, O., Suetani, S., Stanton, R., Chapman, J., Korman, N., Rosenbaum, S.,
… Siskind, D. (2017). Embedding exercise interventions as routine mental health
care: implementation strategies in residential, inpatient and community
settings. Australasian Psychiatry, 25(5), 451–455.
https://doi.org/10.1177/1039856217711054
Schuch, F. B., Stubbs, B., Meyer, J., Heissel, A., Zech, P., Vancampfort, D., … Hiles,
S. A. (2019). Physical activity protects from incident anxiety: A meta-analysis of
prospective cohort studies. Depression and Anxiety, 36(9), 846–858.
https://doi.org/10.1002/da.22915
Schuch, F. B., Vancampfort, D., Firth, J., Rosenbaum, S., Ward, P. B., Silva, E. S., …
Stubbs, B. (2018). Physical activity and incident depression: A meta-analysis of
prospective cohort studies. American Journal of Psychiatry, 175(7), 631–648.
https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2018.17111194
Terry, P. C., Karageorghis, C. I., Curran, M. L., Martin, O. V., & Parsons-Smith, R.
L. (2019). Effects of Music in Exercise and Sport: A Meta-Analytic Review.
Psychological Bulletin, (December). https://doi.org/10.1037/bul0000216
RBCA | 4º ed. 21
ARTIGO
RBCA | 4º ed. 22
ARTIGO
RBCA | 4º ed. 23
ARTIGO
regiões límbicas onde influenciam circuitos ligados estimuladores de respostas vagais. Esse conjunto,
de alimentos na mesma região anatômica, o das manobras de vomito por ação vagal.
RBCA | 4º ed. 24
ARTIGO
Esse fenômeno de recuperação da autoestima foi Por outro lado, elevadas concentrações de CCK
descrito como intimamente ligado às estão associados à depressão. Pacientes com
concentrações de glicose circulante. Assim, temos tentativas repetidas de suicídio apresentaram
que o estado alimentado propicia ambiente elevadas concentrações de CCK no líquido
favorável para a mudança de comportamento que, cérebro espinhal. Encontramos então a associação
será alcançado, com a obtenção da nova descrita acima, a ansiedade associada ao consumo
recompensa. de alimentos e estados depressivos associados à
redução desse consumo.
Neuropeptídeos com ligações particularmente
fortes com a fisiologia do controle da ingestão de A Galanina, intimamente associada à ansiedade,
alimentos e estados emocionais incluem possui ação direta sobre a estimulação do
colecistocinina (CCK), galanina, neuropeptídeo Y consumo de alimentos. A elevação das
(NPY), entre outros. concentrações de Galanina no hipotálamo
promove a secreção de NPY e ambos, em
Conhecidamente a CCK está associada a efeitos
conjunto, promovem a ingestão de alimentos.
anorexígenos e sua secreção é ligada diretamente
Particularmente, estimulam a busca por alimentos
à ingestão de alimentos contendo lipídios em sua
mais ricos em gordura privilegiando essa ingestão
composição. Sua secreção é diretamente
no período noturno. Esse fato, em tese, explica a
proporcional à concentração de lipídios no
busca por alimentos mais gordurosos e ricos nas
alimento. Além de sua ação sobre o controle da
propriedades organolépticas ao final do dia. Seria a
ingestão de alimentos, a CCK reduz a motilidade
manifestação da ansiedade com disparos centrais
intestinal lentificando o processo
de Galanina associada ao NPY dirigindo a busca
digestivo/absortivo. Dessa forma, a ingestão de
por alimentos com essa característica nutricional.
alimentos, com maior concentração de lipídios em
sua composição, promove maior secreção de CCK.
Essa, por sua vez, inibe a fome e reduz a velocidade
de esvaziamento gastro/intestinal.
RBCA | 4º ed. 25
ARTIGO
Esse fenômeno de recuperação da autoestima foi Por outro lado, elevadas concentrações de CCK
descrito como intimamente ligado às estão associados à depressão. Pacientes com
concentrações de glicose circulante. Assim, temos tentativas repetidas de suicídio apresentaram
que o estado alimentado propicia ambiente elevadas concentrações de CCK no líquido
favorável para a mudança de comportamento que, cérebro espinhal. Encontramos então a associação
será alcançado, com a obtenção da nova descrita acima, a ansiedade associada ao consumo
recompensa. de alimentos e estados depressivos associados à
redução desse consumo.
Neuropeptídeos com ligações particularmente
fortes com a fisiologia do controle da ingestão de A Galanina, intimamente associada à ansiedade,
alimentos e estados emocionais incluem possui ação direta sobre a estimulação do
colecistocinina (CCK), galanina, neuropeptídeo Y consumo de alimentos. A elevação das
(NPY), entre outros. concentrações de Galanina no hipotálamo
promove a secreção de NPY e ambos, em
Conhecidamente a CCK está associada a efeitos
conjunto, promovem a ingestão de alimentos.
anorexígenos e sua secreção é ligada diretamente
Particularmente, estimulam a busca por alimentos
à ingestão de alimentos contendo lipídios em sua
mais ricos em gordura privilegiando essa ingestão
composição. Sua secreção é diretamente
no período noturno. Esse fato, em tese, explica a
proporcional à concentração de lipídios no
busca por alimentos mais gordurosos e ricos nas
alimento. Além de sua ação sobre o controle da
propriedades organolépticas ao final do dia. Seria a
ingestão de alimentos, a CCK reduz a motilidade
manifestação da ansiedade com disparos centrais
intestinal lentificando o processo
de Galanina associada ao NPY dirigindo a busca
digestivo/absortivo. Dessa forma, a ingestão de
por alimentos com essa característica nutricional.
alimentos, com maior concentração de lipídios em
sua composição, promove maior secreção de CCK. A CCK é secretada no sistema digestório pelo
Essa, por sua vez, inibe a fome e reduz a velocidade intestino agindo no nervo vago, e em várias regiões
de esvaziamento gastro/intestinal. límbicas. Galanina é co-localizada com
monomanias nos núcleos do tronco cerebral.
RBCA | 4º ed. 26
ARTIGO
inversamente relacionadas à ansiedade e, Cugini P, Cilli M, Salandri A, Ceccotti P, Di Marzo A, Rodio A, Fontana S,
consequentemente, ao maior consumo de Pellegrino AM, De Francesco GP, Coda S, De Vito F, Colosi L, Petrangeli CM,
Giovannini C. Anxiety, depression, hunger and body composition: III. Their
alimentos. Entretanto, estudos demonstraram que relationships in obese patients. Eat Weight Disord. 1999 Sep;4(3):115-20.
pacientes psiquiátricos). Dessa forma podemos Forbes, J. M,The multifactorial nature of food intake control Journal of Animal
Science, Volume 81, Issue 14_suppl_2, February 2003, Pages E139–E144
concluir que a baixa concentração de NPY atua
como promotor da ansiedade quando associada ao Holmes A, Heilig M, Rupniak NM, Steckler T, Griebel G. Neuropeptide systems
as novel therapeutic targets for depression and anxiety disorders. Trends
estresse.
Pharmacol Sci. 2003 Nov;24(11):580-8.
Em suma podemos concluir que o fenômeno da Jessica J. Fulton, Jason M. Lavender, Matthew T. Tull, Angela S. Klein, Jennifer J.
ansiedade está intimamente relacionado ao Muehlenkamp, Kim L. Gratz, The relationship between anxiety sensitivity and
disordered eating: The mediating role of experiential avoidance, Eating
consumo alimentar compulsivo. Behaviors, Volume 13, Issue 2, 2012, Pages 166-169.
RBCA | 4º ed. 27
ARTIGO
Martin EI, Ressler KJ, Binder E, Nemeroff CB. The neurobiology of anxiety
disorders: brain imaging, genetics, and psychoneuroendocrinology. Clin Lab
Med. 2010 Dec;30(4):865-91.
Mercer RE, Chee MJ, Colmers WF. The role of NPY in hypothalamic mediated
food intake. Front Neuroendocrinol. 2011 Oct;32(4):398-415.
Rossi PJ, Gunduz A, Okun MS. The Subthalamic Nucleus, Limbic Function, and
Impulse Control. Neuropsychol Rev. 2015 Dec;25(4):398-410
RBCA | 4º ed. 28
Vendas disponíveis em: