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RESENHA
Instituto Alana, Maria Farinha Filmes. Brasil, 2012. Muito Além do Peso. Biblioteca -
Portal do Consumo Responsável. Disponível em:
<https://biblioteca.consumoresponsavel.org.br/items/show/36>. Acesso em: 05 de
mar. de 2023.
caracterizam a base alimentar dessa população, assim como os altos níveis de açúcar
e sal nas refeições, implicam que o número de doenças relacionadas à obesidade e
distúrbios psicológicos, também disparem nessa lista.
O diferencial do filme é que, além de abordar a questão de saúde e falta de
educação alimentar para pais e crianças, contrasta a realidade de muitas famílias
brasileiras, com a opinião de diversos profissionais das mais variadas áreas, a
exemplo: marketing, administração, física quântica, publicidade, assim como
endocrinologistas, pediatras, nutricionistas, que trabalham no Brasil ou em alguma
instituição conceituada no exterior.
O filme tem um ponto de vista interessante, pois aborda o assunto de uma
maneira didática e clara, sendo acessível, não somente para profissionais da área da
saúde, mas para todos que possuem interesse neste tema. Tratando-se de um
assunto ainda atual e relevante, baseia-se de entrevistas e pontos marcantes nesta
temática, tal como, quando o Ministério da Saúde patrocinou uma campanha do
McDonald's1, condecorando a corporação, com o título de “Parceiro da Saúde”.
Similarmente, outro exemplo claro, é quando vinculam a marca de algum outro “junk
food”2 ou empresas fabricantes de refrigerantes, salgadinhos, frituras, etc. ao Esporte.
Isso, faz com que esta, “manipulação da mídia pela indústria alimentícia”, ganhe esta
disputa desleal, com especialistas, incluindo nutricionistas, médicos e educadores,
que ainda, de algum modo, possuem uma expectativa de que o governo, tal qual os
órgãos reguladores de alimentos, teriam boas intenções, além de se utilizarem de
critérios que fossem realmente benéficos para a saúde da população e não somente,
para favorecimento ou fortalecimento, de uma marca.
O que diferencia "Muito Além do Peso" de outros documentários sobre
obesidade infantil é seu foco nos fatores socioeconômicos que corroboram para a
continuidade do problema. Desse modo, Renner destaca como a publicidade e o
marketing de alimentos não saudáveis, principalmente para crianças, desempenham
um papel significativo na formação de preferências alimentares e na condução de
padrões de consumo. Ela também explora o impacto da pobreza e da desigualdade
no acesso a alimentos saudáveis e oportunidades de atividade física.
1
Maior cadeia mundial de restaurantes de fast food de hambúrguer.
2
Termo em inglês para indicar comidas não saudáveis. Sua tradução literal é “comida porcaria” ou “comida
lixo”.
3
medo e impotência, em “não querer ser diferente”, “não querer sofrer bullying
novamente”, em suma, em não se sentir inferior à outra pessoa, e não pelo conceito
saúde, propriamente dito. Outro agravante, revela-se quando os pais destas crianças,
também não possuem consciência ou controle, em relação a saúde destas,
desencadeando em uma situação crítica e de difícil reversão.
Resta evidente, portanto, que “Muito além do Peso” é um documentário bem-
apresentado e instigante, o qual fornece informações valiosas sobre as causas e
consequências da obesidade infantil. As questões pertinentes a esse tema, estudadas
em sala de aula, também validam nossa conclusão.
Muito ainda precisa-se ser feito, para que a saúde e qualidade alimentar da
população brasileira, principalmente no que concerne às crianças e adolescentes,
mude drasticamente de perfil, de modo a diminuir os casos de obesidade e doenças
associadas. Contudo, além do esforço pessoal e uma busca por informações de
melhor qualidade de vida por parte da população, a questão principal cinge-se sobre
o papel do governo, da indústria e dos indivíduos na abordagem desse problema
crítico de saúde pública.
Indubitavelmente, as normas e leis que permitem o uso indiscriminado da
propaganda de “alimentos industrializados associados à saúde”, “alimentos de
qualidade”, “alimentos sem açúcar” – onde na verdade ele está em sua composição –
carecem de revisão. Um posicionamento governamental deve ser urgente e inadiável,
frente à essa mudança, concebendo, de fato, melhores condições de vida, sejam por
campanhas de conscientização, preventivas ou intervencionistas, mas que garantam,
decididamente, a mudança deste paradigma.