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UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE CAMPINAS
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
INTERAÇÃO COMUNITÁRIA II
PROFESSORAS: LIDIANA FLORA VIDÔTO DA COSTA
VALERIA APARECIDA MASSON

RESENHA

MUITO ALÉM DO PESO


Fernanda Prado Ferreira da Silva
Fernando Henrique Faria do Amaral
Flávia Mafra de Lima

Instituto Alana, Maria Farinha Filmes. Brasil, 2012. Muito Além do Peso. Biblioteca -
Portal do Consumo Responsável. Disponível em:
<https://biblioteca.consumoresponsavel.org.br/items/show/36>. Acesso em: 05 de
mar. de 2023.

"Muito Além do Peso" é um importante documentário dirigido por Estela Renner


que explora a epidemia global de obesidade infantil, tema este, presente em vários
debates, especialmente na área médica. O filme examina as causas profundas da
obesidade infantil e o impacto que ela tem sobre os indivíduos, as famílias e a
sociedade como um todo. Para se ter uma ideia, de acordo com os dados expostos,
o número de crianças e adolescentes que atingem o sobrepeso, ultrapassa 30% da
população brasileira, e, esta taxa só tende a aumentar no futuro. O quadro é
alarmante, de acordo com a Federação Mundial de Obesidade, sem uma mudança
nos hábitos, em menos de uma década, a obesidade poderá atingir 11,3 milhões de
crianças no Brasil.
De maneira global, a prevalência da obesidade apresenta um crescimento
exponencial, levando em consideração que, vários fatores contribuem para este
cenário. Todavia, os hábitos alimentares, somados ao estilo de vida adotados por
numerosas famílias e, consequentemente, por crianças e adolescentes nos últimos
tempos, onde o consumo excessivo de alimentos industrializados e multiprocessados
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caracterizam a base alimentar dessa população, assim como os altos níveis de açúcar
e sal nas refeições, implicam que o número de doenças relacionadas à obesidade e
distúrbios psicológicos, também disparem nessa lista.
O diferencial do filme é que, além de abordar a questão de saúde e falta de
educação alimentar para pais e crianças, contrasta a realidade de muitas famílias
brasileiras, com a opinião de diversos profissionais das mais variadas áreas, a
exemplo: marketing, administração, física quântica, publicidade, assim como
endocrinologistas, pediatras, nutricionistas, que trabalham no Brasil ou em alguma
instituição conceituada no exterior.
O filme tem um ponto de vista interessante, pois aborda o assunto de uma
maneira didática e clara, sendo acessível, não somente para profissionais da área da
saúde, mas para todos que possuem interesse neste tema. Tratando-se de um
assunto ainda atual e relevante, baseia-se de entrevistas e pontos marcantes nesta
temática, tal como, quando o Ministério da Saúde patrocinou uma campanha do
McDonald's1, condecorando a corporação, com o título de “Parceiro da Saúde”.
Similarmente, outro exemplo claro, é quando vinculam a marca de algum outro “junk
food”2 ou empresas fabricantes de refrigerantes, salgadinhos, frituras, etc. ao Esporte.
Isso, faz com que esta, “manipulação da mídia pela indústria alimentícia”, ganhe esta
disputa desleal, com especialistas, incluindo nutricionistas, médicos e educadores,
que ainda, de algum modo, possuem uma expectativa de que o governo, tal qual os
órgãos reguladores de alimentos, teriam boas intenções, além de se utilizarem de
critérios que fossem realmente benéficos para a saúde da população e não somente,
para favorecimento ou fortalecimento, de uma marca.
O que diferencia "Muito Além do Peso" de outros documentários sobre
obesidade infantil é seu foco nos fatores socioeconômicos que corroboram para a
continuidade do problema. Desse modo, Renner destaca como a publicidade e o
marketing de alimentos não saudáveis, principalmente para crianças, desempenham
um papel significativo na formação de preferências alimentares e na condução de
padrões de consumo. Ela também explora o impacto da pobreza e da desigualdade
no acesso a alimentos saudáveis e oportunidades de atividade física.

1
Maior cadeia mundial de restaurantes de fast food de hambúrguer.
2
Termo em inglês para indicar comidas não saudáveis. Sua tradução literal é “comida porcaria” ou “comida
lixo”.
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A mensagem do filme é clara: a epidemia de obesidade é um problema


complexo que requer uma solução multifacetada. Nesta condição, para que haja uma
mudança significativa de panorama, faz-se necessário a defesa de regulamentações
governamentais mais rígidas sobre o marketing de alimentos para crianças e a
promoção de ambientes escolares mais saudáveis, com a implementação de ações
voltadas para a educação alimentar e nutricional dos estudantes de todas as etapas
da educação no Brasil, objetivando a adoção voluntária de práticas e escolhas
alimentares saudáveis que colaborem para a aprendizagem, a boa saúde do escolar
e a qualidade de vida do indivíduo, como também, em seu contexto familiar.
Grande parte das entrevistas são impactantes, independentemente do ponto
de vista que fora abordado, pois somam aspectos fundamentais, como a
desinformação extrema da população quanto aos hábitos de vida saudáveis, aliada à
ausência ou diminuição de condições financeiras, logísticas (a depender da região
geográfica em que este indivíduo reside), ao consumo de “alimentos que beneficiam”
a saúde do indivíduo, assim como de sua família. A película nos mostra famílias que
moram no extremo do país, regiões ribeirinhas ou moradores de pequenas cidades e
regiões rurais, as quais não tem acesso a alimentação saudável, como verduras,
legumes e frutas, semanalmente. Apesar disso, obtém com facilidade, alimentos não
saudáveis, como salgadinhos, refrigerantes, sucos industrializados e doces.
Uma paridade entre todas as entrevistas e histórias, nutre-se de que a infância
e juventude, nos dias que correm, nunca se desvinculam de atividades das quais, não
se exigem qualquer tipo de exercício físico ou gasto calórico, exemplificativamente,
jogos eletrônicos, TVs e computadores.
Somado a isso, temos a manipulação das crianças e adolescentes, por estas
grandes indústrias alimentícias. Literalmente, são “lobos em pele de cordeiros". O
marketing destas empresas, nutre nas pessoas um falso “mundo mágico”, de
brinquedos, repleto de personagens infantis, super-heróis e grandes atletas.
Consequentemente, as crianças, alienadas, imergem em um consumismo
exacerbado, apoiado na dificuldade dos pais em dizer “não”, aos pedidos dos filhos.
Frequentemente, os genitores interpretam o "dizer não" como um ato de apatia ou
desamor, para com seus filhos.
Um ponto crucial é quando crianças pedem para “serem magras”, por não se
sentirem encaixadas em um perfil ideal da população, que nada mais é, que uma
classificação puramente “estética”, assoladas, constantemente, por um sentimento de
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medo e impotência, em “não querer ser diferente”, “não querer sofrer bullying
novamente”, em suma, em não se sentir inferior à outra pessoa, e não pelo conceito
saúde, propriamente dito. Outro agravante, revela-se quando os pais destas crianças,
também não possuem consciência ou controle, em relação a saúde destas,
desencadeando em uma situação crítica e de difícil reversão.
Resta evidente, portanto, que “Muito além do Peso” é um documentário bem-
apresentado e instigante, o qual fornece informações valiosas sobre as causas e
consequências da obesidade infantil. As questões pertinentes a esse tema, estudadas
em sala de aula, também validam nossa conclusão.
Muito ainda precisa-se ser feito, para que a saúde e qualidade alimentar da
população brasileira, principalmente no que concerne às crianças e adolescentes,
mude drasticamente de perfil, de modo a diminuir os casos de obesidade e doenças
associadas. Contudo, além do esforço pessoal e uma busca por informações de
melhor qualidade de vida por parte da população, a questão principal cinge-se sobre
o papel do governo, da indústria e dos indivíduos na abordagem desse problema
crítico de saúde pública.
Indubitavelmente, as normas e leis que permitem o uso indiscriminado da
propaganda de “alimentos industrializados associados à saúde”, “alimentos de
qualidade”, “alimentos sem açúcar” – onde na verdade ele está em sua composição –
carecem de revisão. Um posicionamento governamental deve ser urgente e inadiável,
frente à essa mudança, concebendo, de fato, melhores condições de vida, sejam por
campanhas de conscientização, preventivas ou intervencionistas, mas que garantam,
decididamente, a mudança deste paradigma.

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