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O corpo nas redes sociais

Observe a imagem, leia os textos citados e analise os


dados do gráfico. Depois, reflita sobre as questões
Li sa Forste r/Pictu re Al lia nc e/Getty Imag es
propostas e converse com os colegas.

Menina tirando selfie


em frente a um
espelho

Sou gordinha e gosto sempre de parecer mais magra nas fotos. Por isso escolho o ângulo certo e depois
mexo nela. Se ainda assim não ficar boa, apago logo e tiro outra até ficar do jeito que eu quero. Se alguém
me achar bonita na foto, vai me achar bonita quando se lembrar de mim. Vai ficar com aquela imagem
gravada na mente. Ainda bem que todo mundo diz que sou fotogênica.
Entrevistada da pesquisa “Corpo para mostrar: o autorretrato nas redes sociais”. MIRANDA, Luciana Aparecida. III Encontro Baiano de Estudos em
Cultura, Bahia, 2012. p. 7. Disponível em: http://www3.ufrb.edu.br/ebecult/wp-content/uploads/2012/04/Corpo-para-mostrar-o-autorretrato-nas-
redes-sociais.pdf. Acesso em: 1o jul. 2020.

O vazamento de imagens íntimas sem consentimento tem conduzido Estados, corporações e organiza-
ções da sociedade civil a pensar em soluções para amparar as vítimas, geralmente mulheres e meninas,
e punir agressores. No Brasil, o tema começou a figurar com mais frequência nas páginas dos jornais em
2013, quando a jovem piauiense Júlia Rebeca, de 17 anos, cometeu suicídio após ter um vídeo íntimo
compartilhado na Internet sem o seu consentimento. Depois desse caso, foram divulgados diversos
acontecimentos relacionados ao vazamento de imagens íntimas.
GOULART, G. M.; SOUSA, J. Vazou e agora? Discutindo o vazamento de imagens íntimas sem consentimento: uma análise do projeto Caretas. In:
BRASIL. Comitê Gestor da Internet. TIC Kids Online Brasil: Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil, 2018. p. 29. Disponível
em: https://www.cgi.br/media/docs/publicacoes/216370220191105/tic_kids_online_2018_livro_eletronico.pdf. Acesso em: 20 jun. 2020.

Crianças e adolescentes, por conteúdos com os quais tiveram contato na internet nos
últimos 12 meses, por idade – auto dano e conteúdos sensíveis.

a. Você costuma compartilhar fotografias do próprio corpo em redes sociais na internet?


b. O que motiva você a compartilhar tais imagens nas redes sociais?
c. Você identifica problemas, questões e riscos na maneira como você e os colegas apresentam o corpo na
internet e nas redes sociais?
d. Observe no gráfico conteúdos sensíveis acessados por adolescentes. Qual tema tem a maior incidência?
Levante hipóteses sobre os motivos dessa incidência elevada.
e. Você já acessou conteúdo na internet e/ou segue perfis em redes sociais em busca de informações sobre
sua forma física, como dicas para ganhar massa muscular, ficar em forma, fazer dietas, entre outras?
A TIC Kids Online Brasil: Pesquisa sobre o uso da internet por crianças e adolescentes no Brasil,
publicada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil em 2018, estima que 82 milhões de crianças e
adolescentes possuem perfil em redes sociais na internet, totalizando aproximadamente 20 milhões
de usuários na faixa etária de 11 a 17 anos. Embora existam
diferenças relativas à classe social e ao lugar de moradia (urbana ou rural), os dados indicam que
grande parte dos adolescentes brasileiros utiliza as redes sociais. Segundo especialistas, o aumento
do uso da internet em dispositivos móveis ampliou as possibilidades de acesso dos adolescentes à
informação e de participação em diferentes esferas da
vida pública. A maior agilidade na comunicação e novos espaços de socialização, por outro lado
também ampliaram o impacto do uso excessivo das redes sociais na vulnerabilidade, na saúde e nas
relações sociais de adolescentes, o que tem preocupado estudiosos do mundo todo. A pesquisa My
Teen Life [Minha vida de adolescente], de 2019, que entrevistou 5 200 adolescentes entre 12 e 17
anos, em 32 países, identificou que os adolescentes brasileiros acessaram as redes sociais, em
média, 63 vezes por dia, número superior à média mundial, que registra 50
acessos diários, e inferior ao da Argentina, país no topo da lista, onde os jovens chegam a acessar
as redes sociais 90 vezes ao dia. A maioria dos adolescentes (64%) se sente pressionada a responder
às mensagens que recebe em até, no máximo, 30 minutos. O crescente número de vezes que os
adolescentes olham os números de curtidas e de visualizações para checar quem interagiu com suas
publicações mostra que as redes sociais aumentam a necessidade de ser notado, elevando, muitas
vezes, os níveis de estresse e ansiedade nos usuários.
O uso de redes sociais pelos jovens também aumenta o perigo causado pelo excesso de exposição.
Estudos revelam que a exibição da vida íntima de usuários de redes sociais pode levar a pressões
ainda maiores sobre a aparência física e distúrbios de autoimagem, em especial entre os
adolescentes, além de possibilitar o acesso a conteúdo impróprio e ampliar o risco de se tornar alvo
de crimes diversos (como pedofilia, cyberbullying e vazamento de fotos íntimas).

2 Registre, no diário de bordo, suas reflexões sobre o uso das redes sociais. Quais são suas
experiências nelas? Que questões problemáticas você observa? Você já sentiu ansiedade
e/ou pressões sobre sua aparência no uso das redes sociais? Como você avalia o tempo que
dedica à interação on-line? Você já sofreu ou presenciou colegas, familiares ou amigos sofrerem
ataques ou vazamento de conteúdos pessoais em meios digitais?

Imagem corporal
A imagem corporal é a representação mental que um indivíduo faz do próprio corpo. Tal
imagem faz parte da visão mais ampla que se tem de si mesmo, de como alguém percebe
suas potencialidades e suas fragilidades. Ela é construída no decorrer da vida não apenas por
vivências individuais, mas também pelo contexto sociocultural e pelas relações que cada um
estabelece com os outros e consigo mesmo.
A imagem corporal abrange percepções dos processos fisiológicos, psicológicos e sociais
e depende, em grande parte, de padrões e expectativas que a sociedade impõe sobre a
aparência física. Alguns pesquisadores admitem que as mudanças no corpo durante a
puberdade tornam o adolescente mais suscetível à insatisfação com a imagem corporal. Assim,
a insegurança sobre a própria identidade, ainda em formação, parece tornar os jovens mais
propícios às pressões da mídia, da sociedade e do círculo de convívio social acerca de padrões
de estética corporal.

A chamada pressão estética, do corpo magro, forte e atlético, acaba tendo impactos mais
fortes na imagem corporal de jovens. Se antes da era digital os padrões de beleza circulavam
em revistas impressas e peças publicitárias, hoje circulam também em perfis das redes sociais,
nas quais blogueiros e celebridades divulgam treinos e dietas milagrosas para conquistar o
corpo perfeito.

A facilidade de acesso e o bombardeio de informações que circulam nesses veículos digitais


fazem os jovens, muitas vezes, sentirem-se insatisfeitos com a imagem corporal, abalando sua
autoestima e levando--os à busca pelo corpo idealizado. A insatisfação corporal, no entanto,
pode levar a sintomas depressivos, ansiedade, estresse e distúrbios alimentares.
Essa insatisfação pode ocorrer, por um que não são profissionais da área e, ainda assim,
lado, devido à influência que aquilo que é postado incentivam e ensinam comportamentos
tem sobre as pessoas quanto à necessidade de se alimentares perigosos e sem acompanhamento
enquadrar em determinados padrões de beleza. especializado. Ademais, a maioria dos conteúdos
Logo, é preciso atentar àqueles conteúdos que sobre práticas de condicionamento físico
apresentam potenciais riscos, sobretudo quando divulgados nesses perfis não respeita princípios
se trata de práticas corporais, comportamentos básicos de treinamento físico, como a
alimentares e padrões de beleza. individualidade dos praticantes: certo exercício
pode funcionar bem para uma pessoa, mas não
Há inúmeros perfis que, pela força do grupo, para outra; a intensidade tem de ser regulada pela
acabam estimulando comportamentos que avaliação física individualizada; o tipo de exercício
oferecem riscos à saúde física e emocional das deve ser escolhido em razão dos limites e das
pessoas. Muitas vezes, são páginas de pessoas possibilidades de cada corpo; etc. Por isso, é
fundamental refletir sobre essas questões e ficar
atento à maneira como se lida com elas, a fim de Não diferente, nas redes sociais o ideal de
evitar o envolvimento em práticas que possam “perfeição” é cultivado e leva inúmeras mulheres,
oferecer riscos à saúde. principalmente, a seguir perfis de influenciadores
digitais. Nesses perfis, em geral, predominam
mulheres brancas, de classe média alta, que
As práticas de ginástica de condicionamento exibem sua rotina que inclui treinos e de
físico, como musculação, ginástica localizada, alimentação. Por não precisarem trabalhar em
corrida, caminhada, entre outras que entram e horário comercial nem terem uma rotina que inclui
saem de moda, são as mais associadas busca pelo cuidados com a casa ou o uso de transporte
corpo ideal. Elas têm em comum a realização de público, a realidade das influenciadoras em nada
exercícios criados para aumentar o metabolismo e se assemelha à da maioria das jovens e mulheres
estimular os sistemas cardiorrespiratório e que as seguem.
muscular, visando melhorar a condição física do
praticante.
O enaltecimento do corpo ideal, supostamente
conquistado apenas pelo esforço pessoal, faz
Fundamentadas nos estudos da fisiologia de muitas mulheres se sentirem culpadas por não
exercício, as práticas de ginástica de condicio- conseguirem alcançar o mesmo resultado, ge-
rando riscos à autoimagem e tornando-se um
namento físico surgiram no movimento ginástico
mecanismo que as oprime e as leva a não se
europeu, ainda no século XIX, logo após o valorizarem. Mas vale lembrar que muitas das
crescimento dos conhecimentos sobre anatomia e imagens compartilhadas passaram por recursos
fisiologia humanas, e se disseminaram pelo mundo de edição, o que artificializa ainda mais a busca
com o avanço das pesquisas sobre saúde e prática por um corpo ideal que não existe nem mesmo
para as celebridades e influenciadores que
de exercícios. Inicialmente, não se questionava a
promovem esses ideais.
reprodução de padrões de aparência corporal.
Hoje, as ginásticas de condicionamento físico
circulam em academias, clubes, espaços públicos As redes sociais também apresentam espaços
de lazer e redes sociais por meio de perfis públicos de combate aos padrões de beleza impostos
que divulgam e vendem programas ou de socialmente. Cresce o número de influenciadoras
praticantes que se tornam populares e passam a digitais que usam seus canais para promover e
influenciar a prática de seus seguidores. fortalecer a autoestima e a auto aceitação entre os
jovens que as seguem. Usando fotos naturais,
Na difusão de pressões estéticas, o corpo expondo o corpo sem preocupação com as
feminino tende a ser o principal alvo da mídia, em convenções e trazendo discursos contrários à
conteúdos que estabelecem padrões de beleza imposição de padrões de beleza, as protagonis-
associados à magreza e ao antienvelhecimento. A tas desses perfis se contrapõem ao modelo das
reprodução dessas imagens faz as mulheres “blogueiras fitness”.
sentirem-se insatisfeitas com o corpo, o que as
leva a consumir produtos e serviços da indústria
da beleza a fim de modificá-lo.

Conheça a seguir o questionário. Responda às questões abaixo em relação à sua aparência nas últimas
quatro semanas. Use a seguinte legenda:
1. Nunca 3. Às vezes 5. Muito frequentemente
2. Raramente 4. Frequentemente 6. Sempre

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