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https://novaescola.org.br/conteudo/18141/saude-emocional-e-redes-sociais-como-o-limite-ao-
uso-pode-diminuir-a-solidao
Saúde do Professor
Muito tem se discutido sobre o impacto do uso das mídias sociais na saúde emocional da população. Dentre as
principais preocupações estão o aumento da solidão, já que as interações passam a acontecer com maior
frequência pela internet, e o aumento do índice de depressão, pois, supostamente, há o aumento da sensação de
isolamento e os indivíduos passam a comparar as suas vidas com as de outras pessoas com base, muitas vezes, em
imagens enganosas e que transmitem uma felicidade constante em que não há espaço para a tristeza.
Em 2018, foi conduzida pela BBC a maior pesquisa já feita sobre solidão, na qual participaram mais de 55 mil
pessoas ao redor do mundo. Claudia Hammond, a pesquisadora responsável por esse estudo, aponta que,
contrariando o estereótipo que a solidão atingiria majoritariamente às pessoas mais velhas, os resultados indicam
que indivíduos entre 16 e 24 anos de idade são aqueles que apresentam os índices mais altos dessa sensação,
chegando a quase 40% dos entrevistados. Para ela, o que pode explicar a solidão entre pessoas dentro dessa faixa
etária é que geralmente as pessoas nessa fase da vida costumam enfrentar maiores crises de identidade e a
habilidade regular as próprias emoções ainda é mais frágil, o que pode intensificar esse sentimento.
Mesmo com esses resultados, o estudo indica também que a solidão é um tema importante independentemente
da idade. Quando a solidão se torna crônica pode trazer consequências preocupantes para a saúde emocional e
para o estado geral de bem-estar. Frente a esses dados, será que de fato a internet e o uso das mídias sociais
contribuem para sentimentos e emoções mais difíceis de lidar?
No Brasil, as mídias sociais mais utilizadas pela população são o Youtube, com 95% do acesso, o Facebook, com
90%, seguido pelo WhatsApp com 89% e pelo Instagram, com 71%. Já a pesquisa feita pela TIC Kids Online Brasil
aponta que crianças de 6 anos já começam a criar perfis nas mídias sociais e que 90% dos jovens entre 9 e 17 anos
de idade possuem, ao menos, um perfil em rede social.
Pesquisas como Limitar o uso das mídias sociais diminui a solidão e a depressão (Hunt, Marx, Lipson e Jordan,
2018) indicam que reduzir o tempo de uso nas mídias sociais para até 30 minutos diários é um fator protetor e
eficaz para a redução de depressão e para a sensação de solidão.
De maneira similar, uma pesquisa divulgada pela empresa Cigna apontou que o problema da solidão não está no
uso das mídias sociais, pois elas nos permitem manter o contato com amigos e criar comunidades. O problema
está na quantidade de horas que são dedicadas a essa interação e na forma como é feito esse uso, pois se as
mídias sociais chegam a substituir as conexões reais, então o sentimento de solidão e outras implicações na saúde
emocional provavelmente irão piorar.
Em parceria com o Google, o Unicef Brasil lançou a campanha Internet sem vacilo, incentivando uma atitude
positiva dos adolescentes e jovens no uso da web. Em parceria com os youtubers Jout Jout e Pyong Lee, foram
produzidos conteúdos para auxiliar essa geração a tomar decisões responsáveis e a avaliarem o próprio
comportamento online. Além dessa ação, o Google, por meio do projeto Seja incrível na internet tornou possível
acessar um Guia de Segurança Digital gratuito para professores, além de material que pode ser utilizado na escola.
Já o Facebook disponibiliza um guia para a prevenção de bullying produzido em diferentes linguagens para
educadores, pais, vítimas e testemunhas. Essa mídia social fornece também ferramentas para a prevenção de
suicídio, tanto no bloqueio de conteúdos de incentivo ao comportamento suicida, como na possibilidade de obter
ajuda online com um voluntário ou entrar em contato com um amigo. A SaferNet, além de prover informações
relacionadas ao universo das mídias sociais, oferece uma linha de orientação e ajuda gratuitas para quem foi
vítima de algum crime digital, como por exemplo o vazamento online de imagens íntimas. A empresa trabalha
também com a denúncia de crimes na web via plataforma.
Sem dúvidas o advento da internet e o uso das mídias sociais afetam as nossas relações pessoais, a lidar consigo
mesmo e o acesso a informação, propondo novas formas de interação, de expressão e de conhecimento. O uso
excessivo das mídias sociais pode sim aumentar o sentimento de solidão e trazer outros comprometimentos para
a saúde emocional. Entretanto colocar a culpa exclusiva nesse meio seria simplificar questões muito mais
complexas e outras construções culturais que impactam o nosso bem-estar.
Seria uma inocência querer negar o uso das mídias sociais na atualidade e propor que voltemos aos tempos em
que esse tipo de tecnologia não existia. Frente a essa realidade, o que podemos fazer como educadores é
promover debates e fornecer informações para que haja uso consciente e responsável nesse meio. Pois, conforme
vimos, há diversas ferramentas disponíveis que podem nos auxiliar a interagir com as mídias sociais de maneira
mais saudável e, até mesmo, ampliar o debate e formas de auxílio em saúde mental.
Ana Carolina C D'Agostini é psicóloga e pedagoga com formação pela PUC-SP, especialização em psicologia
pela Universidade Federal de São Paulo e mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University.
Trabalha com projetos em competências socioemocionais e é consultora do projeto de Saúde Emocional da
Nova Escola.
Referências bibliográficas
Estudo sobre solidão conduzido pela BBC: https://www.bbc.com/news/stories-45561334
No more fomo: Limiting Social Media Decreases Loneliness and Depression (2018). Mellisa G. Hunt et.al.
Journal of Social and Clinical Psychology, Volume 37, pp.751-768
Social Media Use and Perceived Social Isolation Among Young Adults in the U.S. (2018) Primack, Brian A. et al.
American Journal of Preventive Medicine, Volume 53, Issue 1, 1 - 8